Dra. Agnes Flórida Santos da Cunha (MG)
Mestre em Ciências da Reabilitação – UFMG
Fisioterapeuta Intensivista – Hospital Risoleta Tolentino Neves.
Dra. Ana Cristina Resende Camargos (MG)
Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
CONTEXTUALIZAÇÃO: O GAME (Goals – Activity – Motor Enrichment) refere-se a um programa de intervenção precoce baseado nos princípios da prática centrada na família, treino motor intensivo orientado ao objetivo e enriquecimento ambiental, indicado para bebês com diagnóstico e/ou alto risco de paralisia cerebral (PC) (MORGAN et al., 2014, MORGAN et al., 2015). A detecção precoce de bebês com alto risco de PC tem permitido o encaminhamento para intervenção em tempo hábil com a finalidade de otimizar os mecanismos que induzem a neuroplasticidade (NOVAK et al., 2020). Nesse sentido, o GAME tem se mostrado uma intervenção promissora e viável para esse público (MORGAN et al., 2015; MORGAN et al., 2016).
DESENVOLVIMENTO: Essa modalidade de intervenção utiliza os princípios de aprendizagem motora direcionada, que inclui o treino específico de tarefa para atingir as metas do desenvolvimento infantil estabelecidas pela família, a educação dos pais e o enriquecimento do ambiente domiciliar (MORGAN et al., 2014; NOVAK, MORGAN, 2019). Esses componentes, considerados os “ingredientes ativos” dessa intervenção, são organizados de forma integrada em cada uma das sessões (MORGAN et al., 2014). Os terapeutas realizam visitas domiciliares semanais no início da intervenção e, em seguida, a frequência da intervenção é negociada com cada família de acordo com suas preferências, disponibilidade e recursos necessários para realizar a intervenção (MORGAN et al., 2014).
Após a definição das metas em parceria com as famílias, as intervenções são planejadas no ambiente domiciliar. Os pais são incentivados a utilizar seus próprios conhecimentos para propiciar atividades motoras ativas ao seu bebê e são treinados para, em conjunto com o terapeuta, identificar formas de simplificar a tarefa e aumentar de forma progressiva os desafios motores à medida que a criança adquire novas habilidades, permitindo variabilidade de prática. A família é ensinada a otimizar as oportunidades naturais de aprendizagem no dia a dia criando repetições e oportunidades para brincadeiras independentes do bebê (MORGAN et al., 2014; MORGAN et al., 2015). O enriquecimento do ambiente domiciliar é utilizado com o objetivo de proporcionar oportunidades motoras e permitir a prática intensiva de atividades motoras e cognitivas (NOVAK, MORGAN, 2019).
Em 2016, foi publicado um ensaio clínico aleatorizado com o objetivo de verificar a efetividade do GAME para melhorar as habilidades motoras de bebês entre 3 e 6 meses de idade corrigida com alto risco de PC quando comparado à intervenção convencional (isto é, acompanhamento e/ou intervenções terapêuticas comumente utilizadas após a alta hospitalar). O grupo GAME apresentou melhores desfechos motores e cognitivos em curto e médio prazo quando comparado ao grupo de intervenção convencional. Foi identificado ainda que bebês com lesões cerebrais leves responderam melhor à intervenção do que aqueles com lesão cerebral grave (MORGAN et al., 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Uma revisão sistemática recente documentou os efeitos promissores de intervenções direcionadas ao treinamento e adaptadas para serem aplicadas de forma amigável ao bebê com alto risco ou diagnóstico de PC (NOVAK et al., 2020). Os resultados de um ensaio clínico realizado até o momento evidenciaram que a intervenção precoce GAME mostrou-se efetiva para melhora das habilidades motoras e cognitivas de bebês com alto risco de PC (MORGAN et al., 2016), porém, ainda são necessários novos estudos para confirmar o efeito dessa intervenção.
REFERÊNCIAS:
Morgan C, Novak I, Dale RC, Guzzetta A, Badawi N. GAME (Goals – Activity – Motor Enrichment): protocol of a single blind randomised controlled trial of motor training, parent education and environmental enrichment for infants at high risk of cerebral palsy. BMC Neurol. 2014 Oct 7;14:203. doi: 10.1186/s12883-014-0203-2.
Morgan C, Novak I, Dale RC, Badawi N. Optimising motor learning in infants at high risk of cerebral palsy: a pilot study. BMC Pediatr. 2015 Apr 1;15:30. doi: 10.1186/s12887-015-0347-2.
Morgan C, Novak I, Dale RC, Guzzetta A, Badawi N. Single blind randomised controlled trial of GAME (Goals – Activity – Motor Enrichment) in infants at high risk of cerebral palsy. Res Dev Disabil. 2016;55:256-267. doi:10.1016/j.ridd.2016.04.005.
Novak I, Morgan C. High-risk follow-up: Early intervention and rehabilitation. Handb Clin Neurol. 2019;162:483-510. doi: 10.1016/B978-0-444-64029-1.00023-0.
Novak I, Morgan C, Fahey M, et al. State of the Evidence Traffic Lights 2019: Systematic Review of Interventions for Preventing and Treating Children with Cerebral Palsy. Curr Neurol Neurosci Rep. 2020:21;20(2):3. doi: 10.1007/s11910-020-1022-z.