O USO DO CANABIDIOL NO TRATAMENTO DA EPILEPSIA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

THE USE OF CANNABIDIOL IN THE TREATMENT OF EPILEPSY: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410131448


Ana Beatriz Gonçalves Parente Pinheiro Teles1; Bianca Carvalho Souza1; Eloíse dos Santos Oliveira1; Jade Nascimento Araújo1; José Welton de Arruda Filho1; Vinícius Leite de Oliveira Furtado Alves1; Herta Gonçalves Parente Pinheiro Teles2; Emanuella Alves Gonçalves2; Luana Machado Macêdo2; Tâmara Trindade de Carvalho Santos (Prof.ª Dr.ª Faculdade Ages de Medicina)3


Resumo

Objetivo: Este artigo de revisão sistemática busca evidenciar a relevância da utilização do canabidiol no combate à epilepsia, com embasamento em dados recentes que auxiliam na expansão dos debates e nas pesquisas científicas. Metodologia: o método utilizado foi a de revisão sistemática de 11 artigos indexados nas bases de dados, SciELO, LILACS e MEDLINE nos últimos 10 anos, utilizando os seguintes descritores: canabidiol AND epilepsia; tratamento de epilepsia com canabidiol. Resultados: baseado na síntese dos estudos incluídos, foram observados efeitos terapêuticos positivos do uso do Canabidiol em pacientes portadores de epilepsia, dentre as melhorias, a redução na frequência de crises epiléticas, tendo em vista que o Canabidiol tem baixa toxicidade e alta tolerabilidade em organismos humanos e animais. Conclusão: Apesar de ainda existirem lacunas acerca do seu funcionamento, os resultados, até o presente momento, se mostram favoráveis ao seu uso, já que não possui os efeitos psicotrópicos de outros canabinoides.

Palavras-chave: Tratamento terapêutico; Canabidiol; Epilepsia.

INTRODUÇÃO

A Cannabis sativa, comumente conhecida como Maconha, é uma das subespécies da Cannabis, planta trazida para o Brasil pelos negros escravizados da Angola, por esse motivo passou a ser conhecida também com fumo-de-Angola. Apesar de ser uma espécie exótica, a Cannabis sativa predominou no Brasil devido à boa adaptação ao clima tropical do país e rapidamente se popularizou entre os indígenas e outros negros escravizados. (EISALDO ARAÚJO CARLINI, 2007)

No Brasil, transformações históricas e culturais fizeram com que a Cannabis sativa fosse interpretada de diferentes maneiras. O lucrativo comércio da fibra obtida do cânhamo, uma variedade da Cannabis, fez com que Portugal estimulasse o cultivo dessa variedade. Na primeira metade do século 19, a primeira lei de criminalização foi criada no Brasil pela Câmara municipal do Rio de Janeiro em 1830, conhecida como Lei do pito de pango que punia pessoas escravizadas com três dias de detenção ou chibatadas. Mesmo com a criminalização, a maconha continuou sendo utilizada de forma medicinal para o tratamento de bronquite asma até 1905, pois acreditava-se no seu efeito expectorante. (ELISALDO ARAÚJO CARLINI, 2007)

A II Conferência Internacional do Ópio, momento em que a maconha foi descrita com mais perigosa que o Ópio, junto da influência estadunidense, foram relevantes para que a demonização dessa substância ocorresse. o Brasil passa a reprimir uso da Cannabis e a associar a planta aos negros. A proibição total do cultivo, colheita e uso pessoal de maconha, em todo o território brasileiro, ocorreu em 25/11/1938 pelo Decreto-Lei nº 891 do Governo Federal.

Em 2015, o Brasil legalizou a utilização de canabidiol (CBD) para o tratamento de determinadas epilepsias, incluindo a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut, ambas caracterizadas por serem formas raras e rigorosas da doença. Essas condições representam formas severas de epilepsia, uma patologia que conta com um Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) aprovado pelo Ministério da Saúde (MS), conforme estabelecido na Portaria n.º 17, com a data de 21 de junho de 2018.

 Atualmente, o uso do canabidiol é permitido mediante prescrição médica e é muitas vezes avaliado quando outras opções de tratamento não apresentam resultados satisfatórios, visto que a utilização desse substrato de maneira farmacológica tem demonstrado potencial eficácia na redução da frequência de crises convulsivas e na melhoria da qualidade de vida, tanto de indivíduos com epilepsia quanto daqueles que sofrem de outras condições neurológicas (HAY, L., 2020; KÜHNE, F. et al., 2023; ANCIONES, C.; GIL‐NAGEL, A., 2020). Com o avanço das tecnologias e das pesquisas em torno da Cannabis, uma parcela da sociedade passou a enxergar essas substâncias de uma outra forma e o uso medicinal da Cannabis pode ser uma alternativa no tratamento de doenças, como a epilepsia.

A epilepsia é uma condição neurológica que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo (FARRELLY, A. M., 2021) e cerca de 3 milhões de brasileiros, o que representa entre 1% e 2% da população, tendo como sintoma mais característico a presença de crises convulsivas. Essas crises resultam de descargas elétricas irregulares e intensas no cérebro, não provocadas por nenhum fator etiológico conhecido (LIMA, L; FILHO, F; MEDEIROS, M; NUNES, G; FARIAS, M., 2020), afetando várias funções cerebrais. Elas podem se apresentar de diversas maneiras, como uma atividade elétrica anômala em uma determinada região do cérebro ou na forma de crises generalizadas, que englobam ambos os hemisférios cerebrais desde o início. Isso gera movimentos involuntários, alterações sensoriais e modificação na percepção ou na consciência (CARVALHO, C; HOELLER, A; FRANCO, P; EIDT, I; WALZ, R.).

Em razão disso, muitos pacientes que utilizam medicamentos antiepilépticos são aconselhados a buscar outras opções terapêuticas, seja porque os medicamentos já não apresentam resultados satisfatórios ou porque as crises persistem de maneira refratária, onde outras terapias não foram eficazes.

Nos últimos 10 anos, o número de pessoas diagnosticadas com epilepsia no Brasil tem se mantido relativamente estável, em torno de 3 milhões, de acordo com dados epidemiológicos e relatório de saúde pública. Uma das alternativas terapêuticas que vem sendo muito estudada e é foco de bastante pesquisas é o canabidiol (CBD), que é uma substância química correspondente a 40% da planta Cannabis sativa, que possui potencial terapêutico para determinadas doenças, como a epilepsia.

A Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, é a droga ilegal e de abuso mais utilizada no mundo. Porém, pode trazer benefícios quando a substância CBD é extraída e utilizada na formulação de produtos farmacêuticos, visto que o canabidiol (CBD) atua no sistema endocanabinóide, que exerce funções reguladoras no sistema nervoso central (SNC).

O canabidiol pode afetar de forma direta o sistema endocanabinóide, modulando os receptores GABA-A, que são neurotransmissores inibitórios. Esse processo ajuda a diminuir a excitabilidade dos neurônios e, portanto, reduz a frequência das crises. Além disso, o canabidiol atua inibindo a enzima que reabsorve a anandamina, um endocanabinóide com propriedades convulsivantes. Outro aspecto importante é seu efeito antioxidante e anti-inflamatório, que proporciona proteção ao cérebro contra lesões e inflamações, fatores esses que podem desencadear crises epilépticas.

Na epilepsia, embora o mecanismo preciso ainda seja desconhecido, algumas hipóteses apontam que ele pode atuar como um antagonista ou como um agonista inverso dos receptores, intensificando a atividade dos endocanabinóides por meio da inibição da anandamida (BASÍLIO et al., 2019).

O canabidiol (CBD) tem ganhado relevância como uma alternativa eficaz no manejo da epilepsia, especialmente em casos de difícil tratamento. Sua administração é geralmente realizada por via oral, utilizando óleos, cápsulas ou soluções. O CBD regula a idade do sistema endocanabinoide, que desempenha um papel crucial na modulação da atividade neuronal. A dosagem é um fator essencial, iniciando-se com quantidades baixas e sendo ajustada gradualmente conforme a necessidade e tolerância do paciente.

Pesquisas sugerem que a dose ideal geralmente varia entre 10 a 20 mg/kg por dia. As evidências clínicas disponíveis demonstram a segurança e a efetividade do uso do CBD no tratamento da epilepsia, porém o acompanhamento médico é fundamental para ajustar a dosagem (Devinsky et al., 2017).

Esse composto se firmou, ao redor do mundo, no tratamento da epilepsia nos anos de 1800 e, a partir da década de 1960 diversas pesquisas foram conduzidas no Canadá, na Inglaterra e nos Estados Unidos, alterando a visão de alguns países, que ainda enxergavam o uso do canabidiol como um tabu em decorrência do estigma social associado ao consumo da maconha de forma recreativa, começando a permitir o uso medicinal da Cannabis sativa, que anteriormente era proibido.

A incorporação do canabidiol (CBD) como forma de tratamento ocorreu após a obtenção de evidências científicas e pesquisas clínicas que demonstraram que o CBD pode diminuir tanto a frequência quanto a gravidade das crises em determinados pacientes.

O uso do canabidiol é permitido mediante prescrição médica e é muitas vezes avaliado quando outras opções de tratamento não apresentam resultados satisfatórios, visto que a utilização desse substrato de maneira farmacológica tem demonstrado potencial eficácia na redução da frequência de crises convulsivas e na melhoria da qualidade de vida, tanto de indivíduos com epilepsia quanto daqueles que sofrem de outras condições neurológicas (HAY, L., 2020; KÜHNE, F. et al., 2023; ANCIONES, C.; GIL‐NAGEL, A., 2020).

Pacientes em tratamento com medicamentos antiepilépticos procuram alternativas terapêuticas a partir da Cannabis sativa, devido aos seus compostos ativos, em particular o canabidiol (CBD), que tem demonstrado o seu potencial para reduzir convulsões, aliviar os sintomas da epilepsia e melhorar a qualidade de vida. Apesar de já haver um consenso sobre a utilização segura e efetiva do CBD no tratamento de certos distúrbios convulsivos, demonstrando boa tolerância e um número relativamente baixo de efeitos adversos graves, ainda é necessário realizar uma monitorização cuidadosa através de estudos que avaliem os potenciais efeitos colaterais, que forneçam dados adicionais de segurança e que analisem as interações com outros medicamentos.

Cabe abordar acerca dos metabólitos secundários da Cannabis sativa que têm fundamental importância nas suas propriedades terapêuticas. Os principais compostos são os canabinoides, os terpenos e os flavonoides que atuam tanto na defesa da planta no meio ambiente quanto no organismo humano, oferecendo uma vasta gama de benefícios terapêuticos.

O metabólito secundário foco dessa revisão sistemática é o canabidiol (CBD), já que tal substância não apresenta efeitos psicoativos e é amplamente valorizada por suas propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas, anticonvulsivantes e neuroprotetoras, interagindo com os receptores do sistema endocanabinoide, que regula diversas funções biológicas, como dor, inflamação, sono e apetite (ISIDORE, E., KARIM, H., IOANNOU, I., 2021) e influenciando, assim, outros sistemas corporais. O CBD é foco de inúmeros estudos por ser utilizado como uma alternativa terapêutica para minimizar crises epilépticas de pacientes que se apresentam resistentes a tratamentos convencionais.

A obtenção de metabólitos secundários da Cannabis sativa (ISIDORE, E., KARIM, H., IOANNOU, I., 2021) pode ser realizada através de várias técnicas, dependendo do resultado desejado e da qualidade do produto final. A extração pode ser feita com solventes, como butano, propano ou etanol, que dissolvem os compostos da planta, e em seguida, o solvente é evaporado, resultando em concentrados.

A extração por dióxido de carbono supercrítico é uma abordagem moderna e segura que utiliza dióxido de carbono em alta pressão e temperatura para extrair canabinoides e terpenos, sem gerar resíduos tóxicos. A extração a frio, conhecida como rosin, combina calor e pressão para extrair o óleo diretamente da planta, enquanto a extração com água utiliza água gelada para separar os tricomas. (ISIDORE, E., KARIM, H., IOANNOU, I., 2021)

Com isso, o presente estudo de revisão sistemática tem como objetivo analisar os benefícios e propriedades terapêuticas do canabidiol (CBD) e a segura recomendação de medicamentos compostos por canabinoides para o tratamento de epilepsia.

METODOLOGIA

O método utilizado foi a de revisão sistemática. Para atingir o objetivo da pesquisa foram utilizados os seguintes critérios de inclusão na seleção da literatura utilizada para a construção do artigo: foram selecionados estudos nacionais e internacionais publicados nos últimos 10 anos (2014-2024) indexados nas bases de dados, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana em ciências da saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) ; existência de referências ao canabidiol e epilepsia em seu resumo; se tratar de publicação científica oriunda de estudos primários; a seleção dos artigos foi realizada em setembro de 2024. A seleção do material utilizado se deu através das leituras do título, resumos, metodologia e a leitura na íntegra do estudo.

Para realizar a primeira busca dos artigos, foram utilizadas as seguintes combinações de descritores: “canabidiol AND epilepsia”; “tratamento de epilepsia com canabidiol”. O total dos estudos listados a partir dos descritores utilizados foram 481 artigos, dos quais 11 foram selecionados para fazer parte deste trabalho. Foram incluídos neste trabalho os artigos que atenderam completamente aos critérios de elegibilidade. Foram excluídas dissertações, teses e monografias, e artigos envolvendo crises epiléticas em síndromes e outros tipos de doenças, e artigos que tinham mais de 10 anos de publicação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No quadro 1 são apresentados os seguintes dados: título, o ano em que os artigos foram publicados, autoria, país de origem de cada pesquisa e os seus principais resultados. A maior parte das publicações foram brasileiras, nos anos de 2017 e de 2020 e dizem a respeito do uso do canabidiol para tratamento da doença de Epilepsia, percebe-se, portanto que, dos escolhidos para os resultados do presente estudo, a maioria foi a favor da utilização dessa substância para minimizar os efeitos dessa patologia.

Quadro1 – Síntese das publicações acadêmicas

TítuloAnoAutorPaísBreve descrição do conteúdo
Atualização em epilepsia: revisão de literatura2020COSTALLO. et al.BrasilDispõe sobre atualização das definições, tipos, classificações etiológicas, diagnóstico, principais tratamentos farmacológicos e alternativos para epilepsia. Trata-se, metodologicamente, de uma revisão integrativa da literatura com caráter descritivo.
CANABIDIOL (CANNABIS SATIVA): ASSOCIADA NO TRATAMENTO DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS E SUA LEGALIZAÇÃO2017RBMC. et al.BrasilO principal objetivo foi levantar evidências científicas sobre a utilização da maconha (Cannabis sativa) para fins medicinais. Os dados constataram que a Cannabis sativa é eficiente na colaboração do tratamento de epilepsia e que o Brasil necessita de avanços relacionados ao tema.
Uso do canabidiol em epilepsia refratária: Um relato de caso2019SOUZA, Maria Alice Alves Fernandes. et al.BrasilO propósito deste estudo foi apresentar o caso de um paciente com epilepsia refratária de difícil controle que se beneficiou da terapia com CBD para controlar crises epilépticas refratárias.
Efeitos adversos do uso dos canabinoides: qual o paradigma de segurança?2023GARCIA, João            Batista Santos. et al.BrasilO intuito desta pesquisa foi analisar e condensar as evidências acerca dos efeitos colaterais causados pelos canabinoides extraídos da planta, bem como as consequências para a segurança do uso desses compostos em pacientes que sofrem de dor.
Efeitos adversos do uso terapêutico de Canabidiol no tratamento da epilepsia: um estudo de revisão integrativa.2024GARCIA, Alícia Victória de Oliveira; et al.BrasilEsse estudo tem como objetivo principal avaliar os efeitos adversos do uso de medicamentos à base de canabidiol (CBD) no tratamento de epilepsia. Entre os principais efeitos colaterais, estão sonolência, diminuição do apetite, diarreia e tontura. Embora haja reações adversas, a pesquisa destaca que o CBD é seguro e eficaz na redução de crises convulsivas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Uso de Canabidiol no tratamento de síndromes epilépticas resistentes à terapia convencional.2017
SEIBEL, Dionei Ricardo. et al.
BrasilEsse estudo tem como objetivo principal abordar o potencial do canabidiol (CBD) como uma opção para o tratamento de epilepsia, especialmente em casos de epilepsia refratária. O estudo explora a eficácia do CBD em reduzir a frequência de crises convulsivas, ressaltando seus benefícios quando comparado a tratamentos convencionais. Além disso, são discutidos os possíveis efeitos colaterais e as limitações dos estudos, como a necessidade de mais pesquisas para entender completamente o impacto do CBD na saúde dos pacientes.
O emprego da cannabis medicinal no enfrentamento a doenças.202SPEZZIA S. et al.BrasilOs resultados obtidos indicam que o CBD pode representar um recurso válido para o tratamento e para o controle da epilepsia, já que diminui, quase que por completo, episódios e problemas acarretados pela recorrência e pela manifestação de crises convulsivas.
Understanding the basics of cannabidiol from cannabis to apply to therapeutics in epilepsy.2020HAY, L. África do SulDescreve os fundamentos do canabidiol (CBD) derivado da cannabis e suas aplicações terapêuticas no tratamento da epilepsia. Analisa o mecanismo de ação do CBD, que inclui a modulação de neurotransmissores e a interação com o sistema endocanabinoide. Destaca evidências clínicas que mostram a eficácia do CBD, especialmente em síndromes como a de Dravet e Lennox-Gastaut. Também, aborda a segurança do uso do CBD e as considerações regulatórias sobre sua legalidade e disponibilidade.
A importância do uso do canabidiol em pacientes com epilepsia.2019BASILIO, Pamela Velera, et al.BrasilRelata o uso do canabidiol em uma criança que tinha cerca de 80 crises epiléticas semanais e após o uso passou para nenhuma crise. A substância se mostrou eficaz na diminuição ou no bloqueio das convulsões, promovendo melhor qualidade de vida. Constata que a Cannabis sativa também promove efeitos ambíguos, inibindo ou induzindo convulsões dependendo da dose e do modelo utilizado.
CANABINOIDES E EPILEPSIA: POTENCIAL TERAPÊUTICO DO CANABIDIOL
2017
DE CARVALHO, Cristiane Ribeiro. et al.BrasilOs principais efeitos fisiológicos do Canabidiol estão relacionados ao sistema nervoso central (SNC), tornando-o alvo terapêutico potencial para vários distúrbios, incluindo a epilepsia, os ligantes a exógenos são ativados pelos receptores CB1 e CB2 expressos em sinais pré-sinápticos de neurônios. O principal efeito do canabidiol em pacientes epilépticos foi a redução das crises convulsivas, o estudo foi conduzido pelo Dr. Elisaldo Carlini o estudo foi realizado com 15 pacientes, onde 8 receberam entre 200-300 mg de CBD diárias, e apenas um não apresentou melhoras clínicas.
EPIDEMIOLOGIA DA EPILEPSIA: DISTRIBUIÇÃO BRASILEIRA E GLOBAL.
2020
DE LIMA, et al.BrasilA finalidade desta pesquisa foi detalhar os elementos epidemiológicos da epilepsia no Brasil, globalmente e na população infantil. Durante o desenvolvimento, elaborou-se o histórico das investigações epidemiológicas sobre epilepsia no país, bem como suas taxas cumulativas de incidência e prevalência. Chegou-se à conclusão de que a distribuição da epilepsia é afetada na estrutura epidemiológica pelos fatores sociais que influenciam o processo saúde-doença.

Entre os compostos da Cannabis sativa, os que mais se destacam são o Delta 9tetraidrocanabinol (∆9-THC), conhecido como THC, ao qual se atribuem efeitos alucinógenos e terapêuticos e o canabidiol (CBD), responsável apenas por efeitos terapêuticos (NUNES et al., 2017).

Tanto o THC como o CBD são destacados por conter propriedades terapêuticas, porém, o THC possui efeitos psicotrópicos. Quando inalado, o THC é rapidamente absorvido pelos pulmões, porém, ao ser fumado, a combustão da planta libera substâncias tóxicas semelhantes às descobertas no tabaco, como alcatrão, monóxido de carbono e compostos cancerígenos. Essas substâncias estão associadas à intensificação das crises epilépticas.

O fumo da Cannabis sativa não só potencializa os efeitos psicoativos do THC, como também intensifica os malefícios à saúde e aumenta o risco de dependência a longo prazo. Por isso, a utilização do canabidiol, isolado do THC, por não possuir efeitos psicotrópicos e por não causar dependência, tem conquistado a preferência dos prescritores, pacientes e seus familiares para o tratamento de doenças neurológicas, como a epilepsia. (GARCIA, Alícia, 2024)

O canabidiol pode ser visto como uma terapia adicional para pacientes com epilepsia refratária, o qual pode ser administrado por via oral em forma de óleo ou cápsulas. O fármaco demonstra eficácia na diminuição da frequência, extensão e severidade das crises convulsivas. Além disso, diversos estudos indicam que o medicamento contribui para aprimorar a qualidade de vida dos indivíduos com essa doença em termos de aspectos emocionais, cognitivos, padrões de sono, entre outros. (HUSSAIN et al. 2015; AGUIRRE-VELÁZQUEZ, 2017; HESS et al., 2016; SANDS et al., 2019; GASTON et al., 2021).

Os resultados obtidos a partir da síntese dos estudos e, segundo Ríos et al. (2021), acerca do uso medicinal dos princípios ativos da Cannabis Sativa, indicam a possibilidade da utilização do canabidiol por pacientes portadores de epilepsia, apresentando resultados positivos na minimização quase por completo do número de crises convulsivas.

CONCLUSÃO

Várias pesquisas estão sendo desenvolvidas com os canabinoides isolados, principalmente o canabidiol. Apesar de ainda existirem lacunas acerca do seu funcionamento, os resultados, até o presente momento, se mostram favoráveis ao seu uso, já que não possui os efeitos psicotrópicos de outros canabinoides. A maioria dos estudos analisados demonstraram efeitos terapêuticos positivos, entre outras melhorias, a redução na frequência de crises epilépticas, possibilitando uma melhor qualidade de vida para o paciente.

Possivelmente a melhor compreensão do mecanismo de ação, farmacocinética e efeitos a longo prazo sejam as principais carências atuais do canabidiol para introdução definitiva como tratamento médico num cenário mundial. A proibição do cultivo controlado da Cannabis sativa para fins medicinais em território brasileiro dificulta tanto a fabricação dos medicamentos à base de canabidiol, como a realização de pesquisas científicas cujo objetivo é descobrir o que ainda não sabemos sobre o composto.

É necessário esclarecer a população e o poder público sobre os reais efeitos do canabidiol e sua importância terapêutica para portadores de epilepsia, para viabilizar a realização de estudos em território nacional, que ainda são escassos. Além disso, o que encarece a compra final do produto é o fato de que sua matéria prima precisa ser importada. O produto poderia ser disponibilizado para a população a preços mais acessíveis, caso fosse legalizada a plantação no país para fins de tratamento.

É essencial a realização de mais pesquisas sobre o composto, possibilitando-se resultados de eficácia, segurança, farmacocinética e tolerabilidade do fármaco na população estudada.

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1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade AGES Campus Jacobina. e-mail: anabeatrizgoncalves2014@hotmail.com

2Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Medicina Estácio IDOMED de Juazeiro do Norte Campus Juazeiro do Norte. e-mail: hertapinheiro@hotmail.com

3Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade AGES Campus Jacobina
e-mail: tamara.carvalho@ages.edu.br