O USO DO CANABIDIOL NA TERAPÊUTICA DE EPILEPSIA EM CÃES E GATOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409252003


Cristiane dos Santos¹; Júlio César Gomes da Silva2; Karina Vallejo Murulo3; Pietra de Oliveira Valente4.


RESUMO 

O presente artigo aborda o uso do canabidiol (CBD) como alternativa terapêutica no tratamento da epilepsia em cães e gatos. A epilepsia, condição neurológica crônica que se manifesta por convulsões recorrentes, é difícil de controlar em muitos casos, especialmente quando os tratamentos eficazes falham. O CBD, composto não psicoativo derivado da Cannabis sativa, tem demonstrado eficácia na redução da frequência e intensidade das crises epilépticas. O sistema endocanabinoide (SEC), por meio dos receptores CB1 e CB2, desempenha papel vital na regulação da atividade elétrica no cérebro. O CBD, ao inibir a manipulação de endocanabinoides como a anandamida, estabiliza a excitabilidade neuronal, prevenindo descargas elétricas anormais. Além disso, sua ação em outros receptores, como GPR55, 5HT1A (serotonina) e TRPV1, reforça seu efeito neuroprotetor e ansiolítico, o que é crucial para melhorar a qualidade de vida de animais epilépticos. O artigo explora ainda os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios do CBD, que são importantes para a proteção dos neurônios contra danos adicionais, fazendo dele opção promissória para o manejo da epilepsia, particularmente em casos refratários.

Palavras-chave: Canabidiol. Epilepsia. Sistema Endocanabinoide.

ABSTRACT 

This article addresses the use of cannabidiol (CBD) as a therapeutic alternative in the treatment of epilepsy in dogs and cats. Epilepsy, a chronic neurological condition manifested by recurrent seizures, is difficult to control in many cases, especially when treatments fail. CBD, a nonpsychoactive compound derived from Cannabis sativa, has demonstrated effectiveness in reducing the frequency and intensity of epileptic seizures. The endocannabinoid system (ECS), through CB1 and CB2 receptors, plays a vital role in regulating electrical activity in the brain. CBD, by inhibiting the manipulation of endocannabinoids such as anandamide, stabilizes neuronal excitability, preventing abnormal electrical discharges. Furthermore, its action on other receptors, such as GPR55, 5-HT1A (serotonin) and TRPV1, reinforces its neuroprotective and anxiolytic effect, which is crucial for improving the quality of life of epileptic animals. The article also explores the antioxidant and anti-inflammatory effects of CBD, which are important for protecting neurons against further damage, making it a promising option for managing epilepsy, especially in refractory cases.

Keywords: Cannabidiol. Epilepsy. Endocannabinoid System. .

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a medicina veterinária tem experimentado avanços significativos, que abriram portas para novas abordagens no tratamento de doenças crônicas em animais de estimação. Uma dessas abordagens é o uso do canabidiol (CBD), que emergiu como alternativa terapêutica promissora no tratamento da epilepsia em cães e gatos. 

A epilepsia é uma condição neurológica complexa e crônica, que se manifesta através de convulsões recorrentes, e seu manejo eficaz é fundamental para garantir a qualidade de vida dos animais afetados. O surgimento de novas terapias, como o uso de CBD, representa avanço importante na medicina veterinária, no entanto, ainda existem desafios a serem superados para que se possa definir as melhores práticas para seu uso.

A convulsão é a manifestação clínica decorrente da atividade elétrica anormal no cérebro, caracterizada por ser evento súbito, paroxístico e transitório, sem especificidade quanto à causa. Já a epilepsia refere-se à condição crônica, marcada pela ocorrência de múltiplas convulsões ao longo do tempo (SCHAFER, 2021). O diagnóstico de epilepsia é geralmente confirmado quando ocorrem pelo menos dois episódios convulsivos, o que indica alta probabilidade de recorrência (AIELLO, 2017).

Nos últimos anos, o sistema endocanabinóide (SEC) tem sido amplamente estudado em várias áreas, incluindo a medicina veterinária. O sistema em questão desempenha papel fundamental na manutenção da homeostase corporal e é ativado por canabinoides, que podem ser endógenos (produzidos pelo próprio corpo) ou exógenos (derivados da planta Cannabis sativa). 

O SEC é composto por dois tipos principais de receptores canabinoides: o CB1, localizado predominantemente no cérebro e no sistema nervoso central, e o CB2, encontrado principalmente em células imunológicas e no sistema nervoso periférico. A ativação desses receptores pelos endocanabinoides, como a anandamida e o 2-AG, influencia em uma variedade de processos fisiológicos, incluindo a percepção da dor, a regulação do apetite e a modulação de crises epilépticas (ELIAM, 2022)

Com a crescente popularidade do uso de produtos derivados da cannabis, como o CBD, entre os tutores de animais de estimação, os veterinários têm sido cada vez mais procurados para fornecer orientações sobre a segurança, a eficácia e as aplicações clínicas desses produtos (HAZZAH, 2022). 

O CBD tem recebido atenção especial devido à sua ausência de efeitos psicoativos, o que o torna a opção atraente para o tratamento de condições crônicas como a epilepsia. Estudos indicam que o CBD é eficaz na redução da frequência e intensidade das crises epilépticas em cães e gatos, funcionando como coadjuvante ao tratamento convencional (MENDES, 2024).

2 OBJETIVOS 

O presente trabalho possui como objetivo reunir informações a respeito da eficácia do CBD no tratamento da epilepsia em cães e gatos, com a análise detalhada sobre o sistema endocanabinoide e suas implicações para a medicina veterinária. 

3 METODOLOGIA 

O trabalho foi elaborado através de pesquisas bibliográficas e pesquisas explicativas. A pesquisa bibliográfica consiste na busca e coleta de dados através de artigos científicos de alguma área específica da ciência. 

As pesquisas foram realizadas por meio das palavras-chave: Canabidiol, Epilepsia e Sistema Endocanabinoide. Foram utilizados como meios de pesquisa artigos publicados nos últimos anos através das plataformas Google Acadêmico e Scielo. Os livros utilizados foram os específicos da área de Medicina Veterinária.

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 ETIOLOGIA DA EPILEPSIA

A história da epilepsia é longa e complexa, remontando a tempos antigos, quando a condição era cercada por mitos e superstições. Durante séculos, a epilepsia foi conhecida como a “doença sagrada”, pois acreditava-se que as crises eram causadas por possessões demoníacas ou intervenções divinas. (BYNUM, 2011) Os primeiros registros de epilepsia datam de civilizações como a suméria e a babilônica, onde textos médicos descreviam os sintomas das crises epilépticas, mas sem a compreensão clara da sua origem ou tratamento. 

No entanto, foi na Grécia Antiga que a epilepsia começou a ser estudada sob uma perspectiva mais científica. Hipócrates, considerado o pai da medicina, foi um dos primeiros a desmistificar a condição, argumentando que a epilepsia era uma doença do cérebro e não uma manifestação sobrenatural. (CARNEVALE, 2018)

Com o passar do tempo e o avanço da medicina, a compreensão sobre a epilepsia começou a se expandir e foi no século XIX, que o neurologista britânico John Hughlings Jackson fez contribuições importantes para o estudo da epilepsia, descrevendo as crises epilépticas como resultado de descargas elétricas anormais no cérebro. 

Assim, as observações de John Hughlings Jackson foram fundamentais para o desenvolvimento do conceito moderno de epilepsia e para a identificação das diferentes formas de crises. (GOMES, 2006)

4.2 EPILEPSIA EM CÃES E GATOS 

A epilepsia em cães e gatos é uma condição neurológica que afeta muitos animais de estimação, e seu impacto vai muito além das crises que presenciamos. Para os tutores, a experiência de ver seu animal passar por uma crise epiléptica é assustadora e emocionalmente desgastante. O animal, por sua vez, pode sofrer com os efeitos das crises e dos tratamentos, o que torna a gestão dessa condição um verdadeiro desafio tanto para os donos quanto para os veterinários.

A epilepsia é caracterizada por crises recorrentes de atividade elétrica anormal no cérebro, que se manifestam de diversas formas. Essas manifestações podem variar desde convulsões generalizadas, onde o animal perde a consciência e tem movimentos descontrolados dos membros, até crises parciais, que podem ser mais sutis e envolver apenas uma parte do corpo, como tremores faciais ou movimentos repetitivos. Em cães e gatos, a epilepsia pode se apresentar em qualquer fase da vida, embora seja mais comum em cães jovens a adultos e em gatos de idade avançada. (TEIXEIRA, 2014)

A condição é amplamente dividida em dois grandes grupos: a epilepsia idiopática e a epilepsia sintomática. A epilepsia idiopática, que também é conhecida como epilepsia primária, é a forma hereditária da doença, onde não se encontra a causa subjacente evidente após exames clínicos e neurológicos. 

A epilepsia idiopática é mais comum em certas raças de cães, como o Pastor alemão, Labrador Retriever, e Beagle, o que sugere componente genético significativo. Em gatos, a epilepsia idiopática é menos frequente, mas ainda assim é uma possibilidade, especialmente em felinos onde não há nenhuma causa identificável para as crises. (LACERDA, 2009)

A epilepsia sintomática (secundária) ocorre como resultado de condição subjacente que afeta o cérebro, podendo ser desencadeada por uma variedade de fatores, incluindo traumas na cabeça, tumores cerebrais, infecções como encefalite, e distúrbios metabólicos, como hipoglicemia ou insuficiência hepática. Em gatos, a causa comum de epilepsia sintomática é a exposição a toxinas, como pesticidas ou produtos químicos domésticos, que podem provocar crises se ingeridos ou inalados. (MICHELIM, et al 2022)

O diagnóstico da epilepsia em cães e gatos é um processo complexo, assim, o veterinário precisa realizar a avaliação clínica completa, que inclui a história médica detalhada do animal, a descrição das crises fornecida pelos tutores, exame físico e neurológico minucioso. 

Em muitos casos, exames adicionais são realizados, como análises de sangue, exames de imagem (tomografia computadorizada/ ressonância magnética), e até mesmo eletroencefalograma (EEG), para ajudar a identificar a causa das crises. 

Para a epilepsia idiopática, o tratamento geralmente é direcionado ao controle das crises por meio de medicamentos anticonvulsivantes, que podem incluir fenobarbital, brometo de potássio, e mais recentemente, o canabidiol (CBD). O objetivo é minimizar a frequência e a gravidade das crises, permitindo que o animal tenha uma vida relativamente normal. No entanto, o manejo dos efeitos colaterais desses medicamentos, como sedação, ganho de peso e, em alguns casos, toxicidade hepática, é um aspecto importante do tratamento. (SOUZA, 2024) Para a epilepsia sintomática, o tratamento é duplo: controlar as crises e abordar a causa subjacente, se possível. Por exemplo, se a epilepsia é causada por tumor cerebral, o tratamento pode incluir cirurgia, radioterapia, ou quimioterapia, além do uso de anticonvulsivantes. Se a causa é infecção, o tratamento pode envolver o uso de antibióticos ou antivirais, dependendo do agente infeccioso.

Viver com um animal epiléptico exige compromisso significativo por parte dos tutores. Além do manejo dos medicamentos e da vigilância constante para detectar sinais de crises iminentes, há o desafio emocional de lidar com a imprevisibilidade da condição. 

Muitos tutores se sentem impotentes e angustiados ao ver seus animais sofrerem com crises repetidas, e essa experiência pode gerar estresse considerável para toda a família. Contudo, com o plano de tratamento adequado e apoio veterinário contínuo, muitos cães e gatos com epilepsia podem viver vidas longas e felizes, desfrutando de boa qualidade de vida.

O avanço das opções de tratamento, como o uso do CBD e outras terapias, oferece esperança para muitos animais que anteriormente tinham poucas opções. Enquanto a jornada de um animal epiléptico pode ser desafiadora, tanto para ele quanto para seus tutores, é importante lembrar que, com o cuidado adequado, esses animais podem continuar a trazer alegria e companheirismo para suas famílias por muitos anos.

4.3 MECANISMOS NEUROLÓGICOS DA EPILEPSIA

A epilepsia em cães e gatos, assim como em humanos, é condição neurológica complexa caracterizada por crises convulsivas recorrentes que resultam de descargas elétricas anormais no cérebro. 

A hiperexcitabilidade cerebral pode ser desencadeada por uma variedade de fatores, incluindo predisposições genéticas, traumas cerebrais, infecções, tumores, ou distúrbios metabólicos. Assim, as crises epilépticas ocorrem devido a desregulação nos circuitos neurais, particularmente nos sistemas que envolvem os neurotransmissores GABA e glutamato.  O ácido gama-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central de cães e gatos pois, desempenha papel crucial em prevenir a atividade excessiva dos neurônios, atuando como freio natural que mantém a excitação neural sob controle. (CASTRO, 2008)

Quando o GABA está funcionando corretamente, ele inibe a transmissão de sinais excessivos entre os neurônios, evitando que as descargas elétricas anormais se espalhem e resultem em crises. Por outro lado, o glutamato, que é o principal neurotransmissor excitatório, atua para promover a atividade neural, facilitando a comunicação entre os neurônios. Em condições normais, há equilíbrio delicado entre o GABA e o glutamato, o que garante a atividade elétrica cerebral estável. (CASTRO, 2008)

Nos animais epilépticos, esse equilíbrio entre excitação e inibição é perturbado, ou seja, há um aumento da excitação neuronal devido à redução na atividade inibitória do GABA ou o aumento da atividade excitatória do glutamato.

Alterações nos receptores de GABA podem reduzir a capacidade do cérebro de inibir as descargas elétricas excessivas, enquanto mudanças nos receptores de glutamato, como os receptores NMDA e AMPA, podem aumentar a excitação neural. Isso cria ambiente cerebral propensa à ocorrência de crises epilépticas, onde as descargas elétricas anormais se propagam de maneira incontrolável. (CASTRO, 2008)

Além dos neurotransmissores, os canais iônicos desempenham papel vital na manutenção da estabilidade elétrica no cérebro de cães e gatos. Esses canais controlam o fluxo de íons como sódio, potássio e cálcio, que são essenciais para a condução dos impulsos nervosos. Quando há a disfunção nesses canais, seja por mutações genéticas ou por lesões cerebrais, os neurônios podem se tornar hiperexcitáveis, desencadeando crises epilépticas.

Outro fator importante na epilepsia em animais é a neuroinflamação, isso porque a inflamação cerebral, que pode ser resultado de lesões, infecções ou condições autoimunes, pode agravar a epilepsia ao aumentar a excitabilidade dos neurônios. 

A liberação de citocinas pró-inflamatórias no cérebro altera a função normal dos neurotransmissores e dos receptores, tornando o cérebro mais suscetível a crises epilépticas. Nos gatos, a exposição a toxinas ou produtos químicos pode induzir neuroinflamação e, consequentemente, crises epilépticas. (PRESADO, 2018)

Portanto, a disfunção desses sistemas, aliada a fatores genéticos, lesões perigosas, infecções ou distúrbios metabólicos, cria um ambiente cerebral propenso à ocorrência de crises epilépticas.

4.4 O PAPEL DO CBD NO CONTROLE DE CRISES EPILÉPTICAS: MECANISMOS E BENEFÍCIOS TERAPÊUTICOS

Embora o CBD não tenha afinidade direta significativa com os receptores canabinoides CB1 e CB2, que são os principais componentes do sistema endocanabinoide, ele modula indiretamente a atividade desses receptores, desempenhando papel essencial na estabilização da atividade elétrica cerebral.  

No sistema endocanabinoide, o CBD atua inibindo a enzima que degrada a anandamida, um endocanabinoide produzido naturalmente pelo corpo. A anandamida se liga aos receptores CB1 no cérebro e ajuda a regular várias funções, incluindo a modulação da excitabilidade neuronal. (MACDOWELL, 2023)

Ao inibir a degradação da anandamida, o CBD aumenta os níveis dessa substância no cérebro, prolongando sua ação e ajudando a manter o controle sobre a atividade elétrica dos neurônios, sendo crucial para prevenir a ocorrência de descargas elétricas anormais, que são a principal causa das crises epilépticas.

Além de seu efeito sobre o sistema endocanabinoide, o CBD também interage com outros sistemas neuronais que estão diretamente relacionados ao controle da excitabilidade do cérebro. 

Um desses sistemas é o receptor GPR55, que tem sido implicado na promoção de crises epilépticas. Estudos sugerem que o CBD atua como antagonista do GPR55, o que significa que ele bloqueia a ativação desse receptor, e ao inibir o GPR55, o CBD ajuda a reduzir a excitabilidade dos neurônios e a limitar a propagação das descargas elétricas descontroladas que ocorrem durante a crise epiléptica. (MACDOWELL, 2023)

Outro mecanismo importante através do qual o CBD reduz as crises epilépticas envolve sua interação com os receptores de serotonina, especificamente o receptor 5-HT1A. A serotonina é um neurotransmissor envolvido na regulação do humor, da ansiedade e do estresse, e sua disfunção pode estar associada ao aumento da excitabilidade cerebral. 

Além de sua interação com os receptores de serotonina, o CBD também modula a atividade dos receptores TRPV1, que são envolvidos na percepção da dor e na regulação da excitabilidade dos neurônios. Ao regular os receptores TRPV1, o CBD ajuda a diminuir a hiperexcitabilidade dos neurônios, o que contribui para a redução da frequência das crises epilépticas. A capacidade de modular múltiplos sistemas simultaneamente é uma das razões pelas quais o CBD tem se mostrado tão eficaz no controle de crises epilépticas, especialmente em casos de epilepsia refratária, onde os tratamentos convencionais falham. (MACDOWELL, 2023)

Além das interações com receptores neuronais, o CBD também possui fortes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que desempenham um papel crucial na proteção do cérebro contra danos. 

A inflamação cerebral crônica é frequentemente observada em pacientes com epilepsia e pode exacerbar a ocorrência de crises. Ao reduzir a inflamação, o CBD protege os neurônios de danos adicionais que poderiam piorar a condição epiléptica. Da mesma forma, suas propriedades antioxidantes ajudam a neutralizar os radicais livres, que podem causar danos oxidativos às células cerebrais. 

Portanto, o CBD atua no cérebro de forma abrangente, modulando vários sistemas neuroquímicos para reduzir a ocorrência de crises epilépticas. Sua capacidade de interagir com o sistema endocanabinoide, regular os receptores GPR55, TRPV1 e de serotonina, além de estabilizar os canais iônicos e inibir a liberação excessiva de glutamato, fazem dele uma opção terapêutica promissora.

4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE DOSAGEM E ADMINISTRAÇÃO

Ao considerar o uso do CBD para tratar condições como epilepsia, dor crônica ou ansiedade em animais de estimação, é fundamental que os tutores e veterinários abordem o tratamento com cautela, levando em conta as variações individuais e as limitações dos dados disponíveis.

A dosagem ideal de CBD para animais de estimação ainda não está completamente estabelecida, o que significa que as recomendações podem variar significativamente dependendo do produto utilizado, da condição tratada e das características individuais do animal. 

Estudos preliminares sugerem que doses baixas a moderadas de CBD podem ser eficazes para muitas condições, mas a resposta ao tratamento pode variar amplamente entre os animais. Por exemplo, um estudo descobriu que uma dose de 2 mg/kg de CBD duas vezes ao dia foi eficaz para reduzir a frequência de crises epilépticas em cães, enquanto outros estudos sugerem que doses diferentes podem ser necessárias para tratar condições como dor crônica ou ansiedade. (DEABOLD, 2019)

A biodisponibilidade do CBD, ou seja, a quantidade que realmente entra na corrente sanguínea e está disponível para o corpo usar, pode ser influenciada por vários fatores, incluindo a forma de administração. 

O CBD é tipicamente administrado por via oral em forma de óleos, cápsulas, ou até mesmo em guloseimas infundidas com CBD. No entanto, a absorção pode ser inconsistente, especialmente em gatos, que parecem ter menor capacidade de absorver o CBD em comparação com os cães. Tal fato pode exigir ajustes na dosagem para garantir que o animal esteja recebendo uma quantidade eficaz do composto. (DI SALVO, et al 2023)

A resposta ao CBD pode variar amplamente não apenas entre espécies, mas também entre indivíduos dentro da mesma espécie. Fatores como idade, peso, estado de saúde geral, e até mesmo o metabolismo do animal podem influenciar como o CBD é processado e quanto tempo ele permanece ativo no sistema. 

É recomendável que a administração do CBD comece com uma dose baixa, que pode ser gradualmente aumentada enquanto o animal é monitorado de perto para sinais de eficácia e possíveis efeitos colaterais. A ação em questão permite que os veterinários ajustem a dosagem de maneira personalizada, de acordo com as necessidades específicas do animal.

Estudos indicam que o CBD pode ter uma meia-vida relativamente curta em animais, especialmente em cães, o que significa que pode ser necessário administrar o composto várias vezes ao dia para manter níveis terapêuticos constantes no organismo.

É igualmente crucial que os produtos de CBD utilizados sejam de alta qualidade e adequados para animais de estimação. A falta de regulamentação rigorosa no mercado de produtos de CBD para animais significa que a qualidade pode variar, com alguns produtos contendo níveis inadequados de CBD ou, pior, contaminantes como pesticidas ou metais pesados. 

O CBD apresenta grande potencial como tratamento para várias condições em cães e gatos, sua administração requer abordagem cuidadosa e personalizada. A dosagem ideal pode variar, e é essencial monitorar o animal de perto para ajustar o tratamento conforme necessário. 

4.6 CONTRIBUIÇÕES DO CBD PARA A MEDICINA VETERINÁRIA

As descobertas recentes sobre o uso do canabidiol (CBD) em cães e gatos têm proporcionado contribuições significativas para a medicina veterinária, transformando tanto as práticas clínicas quanto a maneira como os veterinários abordam o tratamento de diversas condições crônicas e agudas em animais de estimação. 

A introdução do CBD como alternativa terapêutica natural tem sido adição valiosa, especialmente para animais que não respondem bem aos tratamentos convencionais, o que tem permitido aos veterinários adotarem abordagens personalizada, ajustando tratamentos de acordo com as necessidades específicas de cada animal, e proporcionando nova esperança para aqueles que lidam com condições difíceis de manejar. (SOUZA, 2024)

Além disso, o estudo do CBD em animais tem contribuído para maior entendimento do sistema endocanabinoide (SEC), sistema biológico presente em todos os mamíferos e que desempenha um papel crucial na regulação de várias funções fisiológicas, como a dor, inflamação e atividade neural. 

Compreender como o CBD interage com o SEC tem aberto portas para novas abordagens terapêuticas, potencialmente levando ao desenvolvimento de novas terapias baseadas em canabinoides. Tal fato, não só amplia as possibilidades de tratamento, mas também aprofunda o conhecimento científico sobre a biologia dos animais, proporcionando uma base mais sólida para futuras inovações na medicina veterinária.

O crescente interesse pelo uso do CBD na medicina veterinária também tem estimulado mais pesquisas e o desenvolvimento de regulamentações mais claras para o uso de produtos à base de cannabis em animais. À medida que mais estudos são conduzidos, espera-se que haja melhor compreensão dos riscos e benefícios do CBD, levando a diretrizes mais informadas sobre dosagem, administração e segurança. 

Além disso, o uso do CBD tem incentivado maior aceitação e integração de terapias complementares na medicina veterinária. À medida que o CBD ganha reconhecimento por seus benefícios terapêuticos, outras abordagens naturais e complementares, como acupuntura, fisioterapia e suplementos nutricionais, também têm sido mais amplamente consideradas como parte de um plano de tratamento abrangente.

Desde a ampliação das opções terapêuticas até a melhoria na qualidade de vida dos animais, o CBD está ajudando a moldar um futuro em que os cuidados veterinários são mais personalizados, eficazes e centrados no bem-estar geral dos animais. Com a continuação da pesquisa e a implementação de regulamentações apropriadas, o CBD tem o potencial de se tornar parte essencial do arsenal terapêutico na medicina veterinária, beneficiando tanto os animais quanto as pessoas que cuidam deles.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O CBD tem se tornado alternativa promissora para o tratamento de diversas condições em animais de estimação, incluindo epilepsia, dor crônica e ansiedade. Essa via de tratamento tem se apresentado como uma opção valiosa frente aos tratamentos convencionais, que muitas vezes apresentam efeitos colaterais significativos. 

No entanto, apesar das evidências encorajadoras, ainda existem muitas questões a serem esclarecidas, como a dosagem ideal, os possíveis efeitos colaterais a longo prazo e as interações do CBD com outros medicamentos.

É essencial que a abordagem ao uso do CBD seja personalizada, levando em conta as necessidades específicas de cada animal, e que a qualidade dos produtos disponíveis seja rigorosamente controlada para garantir a eficácia e a segurança do tratamento.

Portanto, o uso do CBD em cães e gatos representa evolução significativa na medicina veterinária, oferecendo novas esperanças para o tratamento de condições crônicas e agudas. No entanto, essa promessa vem com a responsabilidade de continuar a investigar e entender completamente os efeitos do CBD nos animais. 

À medida que mais pesquisas forem realizadas e que mais dados se tornarem disponíveis, espera-se que a medicina veterinária possa integrar o CBD de maneira segura e eficaz em tratamentos que melhorem a saúde e o bem-estar dos animais de estimação. Até lá, uma abordagem informada, cautelosa e personalizada é a melhor maneira de garantir que os benefícios do CBD sejam plenamente realizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1Bacharelanda do Curso de Medicina Veterinária, FAM, Brasil. E-mail: Cristiane.mhh@gmail.com
2Bacharelando do Curso de Medicina Veterinária, FAM, Brasil. E-mail: julio_rasec.g@hotmail.com
3Bacharelanda do Curso de Medicina Veterinária, FAM, Brasil. E-mail: karinamurulo@gmail.com
4Bacharelanda do Curso de Medicina Veterinária, FAM, Brasil. E-mail: pietra.valente@gmail.com