O USO DE SORO HIPERIMUNE NA CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410301045


Giovanna Cattaneo Godoy¹; Giovanna Chrisostomo dos Santos¹; Natalie de Moura Donato¹; Ricardo Henrique Marques¹; Prof. Orientador: Silvio Luis Pereira de Souza.


RESUMO

O sistema imunológico possui a intenção de defender o corpo contra invasores nocivos. São os anticorpos os grandes responsáveis pela defesa contra os antígenos patogênicos. A defesa imunológica de algumas afecções tanto inatas quanto adquiridas podem ter produção inespecífica e insuficientes de anticorpos para combatê-las. A utilização de soro hiperimune pode ser uma alternativa na defesa do organismo contra patógenos específicos, procedimento o qual transfere anticorpos prontos para a defesa contra antígenos. Essa terapia consiste na utilização do plasma ou soro extraído por centrifugação do sangue de um animal previamente vacinado ou já curado de uma enfermidade específica. O soro assim é ofertado a um animal que tenha ocorrido uma falha no protocolo vacinal ou contraído determinada doença. O objetivo desse estudo é realizar uma revisão de literatura a respeito do uso e aplicação do soro hiperimune em pequenos animais. Também utilizado como terapia complementar, o soro hiperimune tem demonstrado ótimos resultados na diminuição de antígenos livres em pacientes acometido por determinadas patologias. Mostrou-se relevante na melhora clínica da recuperação de doenças como Cinomose e Parvovirose. Essa técnica apresenta um prognostico promissor, porém muitos são os estudos há serem realizados para a efetiva comprovação da aplicação do soro hiperimune no tratamento complementar de certas doenças que acometem cães e gatos.

Palavras-chave: Antígenos. Anticorpos. Imunossuprimidos. Vacina. Soro hiperimune.

ABSTRACT

The immune system is intended to defend the body against harmful invaders. Antibodies are largely responsible for defense against pathogenic antigens. The immunological defense of some conditions, both innate and acquired, may have nonspecific production and insufficient antibodies to combat them. The use of hyperimmune serum can be an alternative in defending the body against specific pathogens, a procedure which transfers antibodies ready for defense against antigens. This therapy consists of using plasma or serum extracted by centrifugation from the blood of an animal previously vaccinated or already cured of a specific disease. The serum is offered to an animal that has had a failure in the vaccination protocol or has contracted a certain disease. The objective of this study was to carry out a literature review regarding the use and application of hyperimmune serum in small animals. Also used as complementary therapy, hyperimmune serum has demonstrated excellent results in reducing free antigens in the serum of patients affected by certain pathologies. It proved to be relevant in clinically improving recovery from diseases such as distemper and parvovirus. This technique presents a promising prognosis, but there are many studies to be carried out to effectively prove the application of hyperimmune serum in the complementary treatment of certain diseases that affect dogs and cats.

Keywords: Immune system; hyperimmune serum; distemper; parvovirus.

1 INTRODUÇÃO

Existem alguns tipos de imunidade que acontecem para a defesa do organismo dos mamíferos. A imunidade inata e a adquirida ou adaptativa. 

A imunidade inata é aquela que nasce conosco e oferece defesa imediata contra invasores no corpo de maneira genérica, que ao contato com microrganismos, provoca liberação de citocinas e ação de células de defesa para combater o agente. Esta resposta não possui memória imunológica (Spinoza; Górniak; Bernardi, 2018).

Os filhotes dos animais domésticos são capazes de montar uma resposta imune após o nascimento. No entanto esta é uma resposta primária com um período de estabelecimento prolongado e concentrações baixas de anticorpos.  Desta maneira os recém-nascidos poderão ser mortos por micro-organismos que representam pouca ameaça para um adulto. Para evitar este quadro é necessária uma assistência imunológica proporcionada pelos anticorpos transferidos da mãe para seu descendente através do colostro (Moraes; Weiblen; Silva; Tobias, 1997).

Por outro lado, a imunidade adquirida é aquela que precisa ser ativada ao entrar em contato com o antígeno para proporcionar a proteção necessária para determinadas infecções que pode ocorrer por meio da vacina que produz memória imunológica contra o agente (Spinoza; Górniak; Bernardi, 2018). 

A resposta imune pode ser modulada através de vacinas e soros hiperimunes específicos para cada doença.  Quando ocorre uma infecção de forma natural o organismo produz anticorpos contra este agente e provoca imunidade ativa natural. Esta imunidade pode ter longa duração podendo durar a vida toda. Todavia, a imunidade pode ser estimulada a produzir anticorpos específicos contra o agente por meio de vacinas gerando a imunidade ativa artificial (Ayres, 2017).

O soro hiperimune é também um imunobiológico, porém, diferentemente da vacina, é uma forma de tratamento, não de prevenção. É utilizado em animais já infectados. Geralmente, o agente causador da doença é inoculado em um animal que responde produzindo anticorpos. Depois, utiliza-se o plasma desse animal para separar as imunoglobulinas, que atuam contra organismos invasores em outro animal. Trata-se, então, de uma reação chamada de imunidade passiva (Monaco, 2018).

Em 2015 foi realizada uma avaliação prospectiva da eficácia do soro hiperimune polivalente no tratamento de trinta cães com gastroenterite causada por parvovirose, demonstrando que a utilização do soro hiperimune contra o vírus da parvovirose canina reduziu o tempo de internação, a gravidade da sintomatologia e a taxa de óbito entre os animais tratados (Verçoza, 2015).

Outra pesquisa realizada em 2016 por Taques e colaboradores, em cães diagnosticados com cinomose por teste imunocromatográfico, no início dos sintomas sistêmicos, e junto do protocolo terapêutico, foi utilizado soro hiperimune. Os resultados demonstraram que 80% dos animais tratados que também utilizaram soro hiperimune em seu protocolo terapêutico apresentaram uma melhor recuperação. 

Entender a viabilidade da utilização de soro hiperimune na rotina clínica de cães e gatos é de grande valia como terapia complementar em pacientes portadores de doenças infectocontagiosas. 

2 OBJETIVO

O objetivo desse estudo é realizar uma revisão de literatura a respeito do uso e aplicação do soro hiperimune em pequenos animais. 

3 MÉTODO

Para a pesquisa bibliográfica foram acessados artigos científicos publicados nas bases de dados das Revistas Científicas SciELO, PubMed e Google Acadêmico, utilizando-se os seguintes descritores: antígenos, anticorpos, imunossuprimidos, vacina, soro hiperimune. 

As informações mais relevantes foram selecionadas e organizadas na forma de um texto.

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 Resposta Imunológica

O sistema imunológico é uma rede complexa de células, tecidos, órgãos e moléculas que trabalham em conjunto para proteger o corpo de invasores patogênicos, como bactérias, vírus, fungos e parasitas. Os mecanismos fisiológicos do sistema imune consistem numa resposta coordenada dessas células e moléculas diante dos organismos infecciosos e dos demais ativadores, ocasionando aparecimento de respostas especificas e seletivas, inclusive com memória imunitária, que também pode ser criada artificialmente, através das vacinas (Molinaro; Caputo; Amendoeira, 2009). 

A defesa contra microrganismos é mediada pelas reações iniciais da imunidade inata e pelas respostas tardias da imunidade adaptativa. A imunidade inata fornece a primeira linha de defesa contra microrganismos. Consiste em mecanismos de defesa celulares e bioquímicos que estão presentes mesmo antes da infecção e são preparados para responder rapidamente a infecções. Esses mecanismos reagem aos produtos dos microrganismos e células lesionadas, e respondem essencialmente da mesma forma para exposições repetidas (Abbas; Lichtman; Pillai, 2008).

Os mecanismos da imunidade inata são específicos para estruturas que são comuns a grupos de microrganismos relacionados e podem não distinguir pequenas diferenças entre os microrganismos. Os principais componentes da imunidade inata são: barreiras físicas e químicas, tais como epitélio e agentes antimicrobianos produzidos nas superfícies epiteliais; células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células dendríticas e células assassinas naturais (NK, do inglês natural killer) e outras células linfoides; e proteínas sanguíneas, incluindo membros do sistema complemento e outros mediadores da inflamação (Abbas; Lichtman; Pillai, 2008).

A imunidade passiva pode ser obtida naturalmente, através da via placentária e/ou da amamentação, ou artificialmente pela administração de anticorpos específicos, como as imunoglobulinas homólogas ou heterólogas, por exemplo, imunoglobulina contra hepatite B e soro antidiftérico, respectivamente. Outra forma de produzir imunização passiva é a utilização de soros hiperimunes. Eles são produtos imunobiológicos indicados para quem necessita de uma imunidade protetora contra certas doenças infecciosas, ou para neutralizar toxinas ou venenos de forma mais rápida. Os soros hiperimunes já são anticorpos prontos formados por imunoglobulinas, a maioria da classe IgG. São obtidos de humanos (soros homólogos) ou de outras espécies animais (soros heterólogos), sendo atualmente utilizados equídeos, por seu grande porte e facilidade de manejo. O tipo de imunização induzida pelo soro é chamado de passiva artificial (Ayres, 2017).

A Imunidade ativa obtida por produção de anticorpos específicos pelo organismo, após a introdução do agente nocivo desenvolve Imunoglobulinas homólogas, que são aquelas conferidas por anticorpos obtidos do plasma de seres humanos. Imunoglobulinas heterólogas, também conhecidas como soros, são conferidas por anticorpos obtidos do plasma de animais previamente vacinados ou resultante de infecção, inoculação acidental ou através de vacinas próprias para conferir a imunização que se deseja alcançar (Ayres, 2017).

A imunidade adaptativa se desenvolve como uma resposta à infecção com o propósito de se adaptar à infecção. O sistema imune adaptativo reconhece e reage a muitas substâncias infecciosas e não infecciosas. As características que definem a imunidade adaptativa são a habilidade de distinguir entre diferentes substâncias, chamada especificidade, e a habilidade de responder mais vigorosamente a exposições repetidas ao mesmo microrganismo, conhecida como memória imunológica. Os componentes exclusivos da imunidade adaptativa são células denominadas linfócitos e seus produtos secretados, tais como anticorpos. Substâncias estranhas que induzem as respostas imunes específicas ou são reconhecidas pelos linfócitos ou anticorpos são denominados antígenos (Abbas; Lichtman; Pillai, 2008).

Existem dois tipos de respostas imunes adaptativas, denominadas imunidade humoral e imunidade mediada por célula, que são mediadas por diferentes componentes do sistema imune e atuam para eliminar diferentes tipos de microrganismos. A imunidade humoral é mediada por moléculas no sangue e secreções mucosas, denominadas anticorpos, que são produzidos pelos linfócitos B. A imunidade mediada por célula, também denominada imunidade celular, é mediada pelos linfócitos (Abbas; Lichtman; Pillai, 2008).

A resposta Imune Humoral (RIH) é mediada por anticorpos, que são proteínas gamaglobulinas formadas por plasmócitos que são os linfócitos B diferenciados e capazes de secretar anticorpos ativamente. Anticorpos são produzidos com a função principal de neutralizar e eliminar o antígeno que estimulou a sua produção. Esse processo de eliminação é feito de diversas formas, através da fixação do complemento, opsonização, reação anafilática através da desgranulação de mastócitos, neutralização da substância e aglutinação. Anticorpos também podem ser chamados de gamaglobulinas ou imunoglobulinas (Ig) (Melo, 2006)

Os anticorpos são moléculas agrupadas em uma classe de substâncias denominadas imunoglobulinas, e o receptor de antígeno do linfócito B é também conhecido como imunoglobulina de membrana. A imunidade humoral é a principal função das células B e dos plasmócitos, e consiste em secretar anticorpos no sangue e em outros líquidos orgânicos, resultando efeitos protetores, mediados por líquidos teciduais (Molinaro; Caputo; Amendoeira, 2009). 

Há cinco diferentes classes (ou isótipos) de imunoglobulinas, que diferem entre si pela função da cadeia pesada. A classe encontrada em maior concentração no soro é chamada de IgG produzida por plasmócitos no baço, linfonodos e medula óssea; a classe com a segunda maior concentração, na maioria dos mamíferos, é a IgM produzida por plasmócitos em órgãos linfoides secundários; e a terceira classe mais abundante é a IgA é secretada por plasmócitos localizados nas mucosas e produzidas nas paredes do intestino, trato respiratório, sistema urinário, pele e glândulas mamárias, entretanto, IgA é a predominante em secreções como saliva, leite e fluido intestinal. A IgD é essencialmente um BCR (receptor de linfócito B) e raramente é encontrada em fluidos corpóreos. A IgE é encontrada em concentrações muito baixas no soro e participa das reações alérgicas, produzida principalmente por plasmócitos presentes em mucosas (Tizard, 2014). 

A maneira mais simples e direta de os anticorpos exercerem a proteção do hospedeiro contra agentes patogênicos ou seus produtos tóxicos é através da neutralização. Nesse mecanismo o anticorpo se liga ao patógeno (ou toxina) bloqueando o acesso destes as células que poderiam ser infectadas ou destruídas. Em seguida, o patógeno neutralizado é fagocitado por macrófagos. Esse mecanismo é importante, por exemplo, contra patógenos como os vírus que ao serem neutralizados pelos anticorpos são impedidos de penetrar nas células e realizarem a sua replicação (Melo, 2006)

4.2 Soro hiperimune

O sangue é um tecido especial que difere dos demais porque pode ser coletado e separado em seus componentes (Flausino; Nunes; Cioffi; Freitas, 2015).

Soro sanguíneo tem como definição, uma parte do sangue total sem fibrinogênio, obtido pela centrifugação do sangue total sem a utilização de anticoagulantes, assim a presença do fibrinogênio e dos demais fatores de coagulação promovem a formação do coágulo o qual é separado na hora da centrifugação. O soro é o fluído remanescente após a coagulação do sangue separado por meio de centrifugação do coágulo sanguíneo, sendo assim o soro é equivalente ao plasma, porém com a remoção dos fatores de coagulação como a protrombina, fibrinogênio, fator VIII e V (Sacher, 2002). 

O plasma é obtido, também pela centrifugação do sangue total, porém com os fatores de coagulação preservados. Tanto o plasma quanto o soro, são constituídos por 90% de água e o restante são componentes como proteínas plasmáticas, sais, hormônios, nutrientes, exceções e gases. Dentre as proteínas plasmáticas existem as imunoglobulinas, que atuam como os anticorpos (Sacher, 2002). 

O Plasma é considerado um líquido tecidual onde representa 55% do sangue, constituído principalmente por 92% de água, agindo como solvente a pH 7.4 onde contém substâncias de diversos pesos moleculares que perfazem 7% do seu volume, onde componentes dissolvidos, são maioritariamente proteínas plasmáticas, nutrientes, gases respiratórios, hormônios e íons inorgânicos. (Oliveira, 2016)

As principais proteínas plasmáticas são albumina alfa e beta, gamaglobulinas, lipoproteínas, protrombina e fibrinogênio, sendo as duas últimas participantes da coagulação do sangue, albumina tem grande importância, pois são fundamentais na manutenção da pressão osmótica do sangue e as gamaglobulinas são anticorpos, sendo assim chamadas também de imunoglobulinas. (Oliveira, 2016).

Semelhante ao plasma, chamamos de soro o fluido remanescente após a coagulação do sangue separado por meio de centrifugação do coágulo sanguíneo, sendo assim o soro é equivalente ao plasma, porém com a remoção dos fatores de coagulação como a protrombina, fibrinogênio, fator VIII e V (Sacher, 2002).

Segundo Tizard 2014, logo depois que Louis Pasteur descobriu que era possível produzir imunidade contra um agente infeccioso por meio da vacinação, percebeu-se que as substâncias responsáveis por esta imunidade poderiam ser encontradas no soro sanguíneo. No caso do soro obtido de um cavalo, imune previamente vacinado contra o tétano, seja inoculado em um cavalo não infectado, o animal receptor se tornará temporariamente resistente ao tétano. As moléculas protetoras encontradas no soro de animais imunes são proteínas denominadas anticorpos. Os anticorpos contra a toxina tetânica não são encontrados em cavalos normais, mas são produzidos após a exposição à toxina tetânica, resultante de uma infecção ou vacinação. A toxina tetânica é um exemplo de uma substância estranha capaz de estimular uma resposta imune adaptativa. 

O termo geral utilizado para definir esse tipo de substância é antígeno. Caso um antígeno seja inoculado em um animal, anticorpos capazes de se ligar a ele serão produzidos, garantindo, assim, sua inativação. Os anticorpos são altamente específicos e somente podem se ligar aos antígenos que estimularam a sua produção. Os anticorpos produzidos em resposta à toxina tetânica, por exemplo, somente são capazes de se ligar a esse tipo de toxina. Quando os anticorpos se ligam à toxina, eles a neutralizam, de forma que esta deixa de ser tóxica. Desta maneira, os anticorpos protegem os animais contra os efeitos letais da infecção por tétano (Tizard, 2014).

Tizard (2014) destaca que a exposição repetida a um antígeno, como a toxina tetânica, induz uma resposta imune mais rápida e eficaz em comparação à primeira exposição. Essa memória imunológica, característica da resposta secundária, é fundamental para a proteção do organismo contra agentes infecciosos.

O termo aférese é denominado como processo de remoção, portanto, plasmaferese significa retirada do componente plasmático do sangue total, permitido a remoção seletiva dos componentes desejados (Parra, 2005).

A plasmaferese em equinos teve início no Instituto Butantan, em 1949, avaliando a possibilidade de recuperação dos animais sangrados para a produção de plasma hiperimune (Santos, 2005).

O processo pode ser realizado de algumas formas, sendo possível a sedimentação espontânea e separação do plasma e concentrado de hemácias sob refrigeração, sendo feita a reposição manual dos elementos celulares; separação do plasma feito em centrífuga automática e devolução dos elementos celulares pela reposição manual; ou por separação dos elementos sanguíneos e reposição do mesmo de forma automatizada, realizada por equipamentos de aférese (Feige; Ehrat; Kästner; Schwarzwald, 2003).

A plasmaferese pode ser realizada sem equipamentos automáticos, sendo utilizada a centrífuga refrigerada ou a técnica de hemossedimentação. Neste método, o sangue total é coletado em bolsa estéril dupla com anticoagulante, passando pela separação na centrífuga ou com a hemossedimentação 24 horas após a coleta. O plasma é extraído para uma bolsa, sendo selada e separada do concentrado de hemácias. Este concentrado é diluído em solução salina e devolvido ao doador de forma manual (Vengelen-Tyler, 1996; Santos, 2005).  

Foi realizada uma análise entre os métodos manuais e automatizado, onde o método automático com o uso de equipamentos se mostrou mais efetivo e mais fácil para a execução. Além de relevar uma qualidade superior do plasma, comparado com as técnicas manuais, visto que, na separação por hemossedimentação espontânea são encontrados eritrócitos e leucócitos no plasma mesmo após a separação (Neumeyer; Quentin; Wieding, 1993; Feige; Ehrat; Kästner; Schwarzwald, 2003).

O procedimento de aférese na coleta do plasma mostrou vantagens em relação ao processo manual, visto que a qualidade do hemocomponente é superior. Além disso, a técnica é vantajosa para o bem-estar dos animais quando comparada a outros métodos (Bernardo; Escodro; Notomi; Roveri; Nascimento, 2017).  

Este processo busca a preservação do estado clínico do animal e o bem-estar do mesmo, além do plasma de alta qualidade (Bernardo; Escodro; Roveri; Escodro; Oliveira; Fonseca, 2012; Freitas, 1997; Santos, 2005). 

O seu uso em medicina veterinária é descrito na espécie equina, em animais produtores de soros hiperimunes e de imunoglobulinas específicas, visando também o encurtamento do tempo de recuperação de animais doadores (Benesi; Santos, 2010). 

A utilização da técnica também ocorre em cães e gatos, buscando o tratamento de síndromes e doenças imuno-mediadas (Santos, 2005).

Na coleta automatizada, o equipamento de aférese é capaz de coletar, separar e reinfundir as frações de sangue simultaneamente, assim, o cavalo não precisa retornar ao local de serviço para reinfusão do concentrado de hemácias como é feito na técnica manual, evitando o estresse. O processo automatizado ocorre exclusivamente em circuito fechado, evitando qualquer tipo de contaminação, como pode ocorrer na técnica convencional, visto que a separação é feita manualmente. Além disso, o procedimento de plasmaférese é menos invasivo para o animal, garantindo o bem-estar do mesmo (Bernardo; Escodro; Notomi; Roveri; Nascimento, 2017; Razouk; Reiche, 2004).

Após a obtenção do plasma, é feita a purificação dele, passando por alguns processos até o obter o produto final, o soro hiperimune. A purificação do plasma é realizada devido à incidência de reações adversas nos seres humanos. Dentre as principais técnicas empregadas estão à precipitação seletiva das proteínas do plasma, o uso de proteases e a cromatografia (Quirino, 2008).  

Ao fim do processo de produção, os equinos do serviço devem permanecer em repouso entre 30 e 60 dias, recuperando os elementos hematológicos e possibilitando a inclusão destes no próximo serviço. Os animais permanecem livres nos pastos da fazenda, com acesso livre a água e alimentação previamente estabelecida de acordo com as necessidades nutricionais da espécie (Parra, 2005).

4.3 Aplicação do soro Hiperimune 

O soro hiperimune é utilizado para tentar aumentar a resposta imunológica temporária do animal (Nascimento, 2009).

A utilização de soro hiperimune pode ser administrada de uma só vez, distribuindo em vários locais por via subcutânea, conforme volume necessário, sua eficácia é fundamentalmente de soroneutralização, e deve ser obtida de uma só vez, de todos os vírus livres e que são produzidos, eventualmente nos próximos dias, baixando seu título paulatinamente. Deve-se estimar a dose para obter um possível excesso de anticorpos soroneutralizantes e nunca falta dos mesmos. 

No entanto, em alguns casos que há alterações do sistema nervoso, o soro hiperimune pode não impedir o avanço da doença, pois apenas neutraliza os vírus circulantes não atuando sobre as partículas virais que já ultrapassam a barreira hematoencefálica a qual é altamente seletiva para fármacos ou outras substâncias (Mangia, 2008). 

Para o tratamento da cinomose, Mangia (2008), descreve aplicação do soro imune para soroneutralização de vírus em animais não vacinados, já em animais vacinados contra cinomose pode ser feito aplicação de uma dose da vacina monovalente, que poderá estimular células de memória a produzir imunidade ativa de maneira precoce. 

Apesar do seu alto custo, o soro hiperimune é usado como suporte para aumentar a resposta imunológica do cão infectado. Uma alternativa é o uso da vacina do vírus da cinomose canina modificado por via endovenosa, induzindo imunidade e efeito terapêutico (Nascimento, 2009; Dias; Lima; Fukahori; Silva; Rêgo, 2012). Porém, quando há alterações no sistema nervoso, o soro hiperimune pode não impedir o avanço da cinomose, porque ele age apenas neutralizando os vírus circulantes e não atua sobre as partículas virais que ultrapassam a barreira hematoencefálica. Caso o paciente já tenha sido vacinado pelo menos uma vez, deve-se aplicar uma dose da vacina monovalente, com o intuito de estimular células-memória e rapidamente produzir imunidade ativa (Corrêa,1992).

No caso do parvovírus, o soro hiperimune pode ser usado de maneira profilática ou terapêutica, utilizando se uma injeção subcutânea por animal como protocolo profilático, protegendo-o por aproximadamente três semanas.  Existe a possibilidade de preparar soro hiperimune, como também o soro imune homólogo, sendo o imune homólogo é derivado de animais que se recuperaram da doença, e o hiperimune derivado de animais vacinados várias vezes contra o vírus. O soro hiperimune contra parvovírus canino pode ser efetivo contra o parvovírus felino, devido à relação entre os dois, e o grau de neutralização cruzada (Truyen, et al., 2009).

4.4 Eficácia do soro hiperimune 

O soro hiperimune é utilizado para tentar aumentar a resposta imunológica temporária do animal (Nascimento, 2009).

Portela, Lima e Maia (2017) relatam que em cães acometidos por cinomose em fase sistêmica, o qual não existe um tratamento específico, a utilização de soro hiperimune é uma grande alternativa para remição da doença e tentativa de um prognostico razoável, pois o mesmo pode levar a neutralização do vírus livre.

Verçosa (2015) utilizou 30 cães não vacinados ou em situação irregular de vacinação sem distinção de sexo, idade, peso ou raça, todos infectados e diagnosticados com parvovirose canina apresentando vômito, diarreia mucoide a sanguinolenta. Cães vacinados em período menor que 15 dias não foram incluídos no estudo. Os animais foram separados em dois grupos: o primeiro composto de 95 animais, tratados com o soro hiperimune e o segundo composto por animais que não faziam uso do soro hiperimune. 

O grupo estatisticamente homogêneo em relação à raça, sexo e status vacinal apresentou uma taxa de óbito de 20%, o grupo que recebeu soro hiperimune apresentou taxa de óbito de 13,33% e o grupo que não recebeu soro hiperimune como forma de tratamento auxiliar ficou com óbito de 26,76%. Assim, a utilização do soro hiperimune no tratamento da parvovirose canina, mesmo não demonstrando diferenças significativas apresentaram melhores resultados. O período de internação também foi inferior nos animais tratados com o soro hiperimune, sendo assim, diante de tal fato verificou que a utilização do soro hiperimune reduz o tempo de internação e a taxa de óbito entre os animais que tiveram sua administração inclusa no tratamento convencional.

6 CONCLUSÃO

De acordo com as informações obtidas neste estudo, considerando a eficácia da utilização de soros hiperimunes como terapia adjuvante no controle de doenças como parvovirose e cinomose, evidencia que a utilização do soro na melhora clínica e recuperação das doenças é relevante.

A utilização do soro hiperimune é capaz de controlar de forma precisa a quantidade de anticorpos introduzidos no paciente. Sua utilização ainda é limitada devido ao alto custo e falta de informação dos profissionais que trabalham com pequeno porte.

A medicina veterinária necessita de mais estudos para utilização do soro hiperimune no tratamento complementar das patologias infectocontagiosas de cães e gatos, porém essa terapia já vem mostrando uma grande evolução para o bom prognostico do paciente.

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¹Aluno(a) do 10º semestre do Curso de Medicina Veterinária desenvolvido no Centro Universitário das Américas (FAM) – Unidade Mooca.