O USO DE MEIAS COMPRESSIVAS PARA PREVENÇÃO DE EVENTOS TROMBÓTICOS – REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8409953


Samira Yukari Kamiyama1
Loren Carianne Rodrigues Gomes2
Ricardo Junio Vieira Araújo3
Julio Cezar Oliveira Junior4
Isabella Pereira Morais5
Maria Carolina de Negreiros Feitosa6
Felipe de Souza Duarte7


Resumo

Os eventos trombóticos acometem grande parte da população mundial e alternativas para a sua prevenção têm sido amplamente estudadas. A utilização de meias compressivas tem se mostrado como uma alternativa benéfica e profilática. O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão narrativa de literatura a respeito do uso de meias compressivas como instrumento preventivo para eventos trombóticos. Para isso, foram buscados artigos na base de dados do PubMed publicados entre os anos de 2018 e 2023. Os termos buscados nessas bases foram “aprendizagem”, “ensino superior”, “educação em saúde” e “pós pandemia”, unidos pelo operador booleano “e”. Após a etapa de seleção, foram incluídos 9 artigos em nosso trabalho. Os resultados encontrados demonstraram que a utilização das meias compressivas possuem tanto indicações como contra indicações e sua prescrição deve ser baseada no caso de cada paciente e no bom senso acerca dos riscos e benefícios que seu uso acarretará para os pacientes. Conclui-se, portanto, que a utilização de meias compressivas para a prevenção de eventos trombóticos é uma alternativa viável para a prevenção de eventos trombóticos. Demais estudos sobre esse tema devem ser realizados a fim de elucidar esse tema. 

Palavras-chave: Trombose; Meias de Compressão; Prevenção.

Abstract

Thrombotic events affect a large part of the world’s population and alternatives for their prevention have been widely studied. The use of compressive stockings has been shown to be a beneficial and prophylactic alternative. The objective of the present study was to carry out a narrative review of the literature regarding the use of compressive stockings as a preventive tool for thrombotic events. For this, articles were searched in the PubMed database published between 2018 and 2023. The terms searched in these databases were “learning”, “higher education”, “health education” and “post pandemic”, joined by the operator Boolean “and”. After the selection stage, 9 articles were included in our work. The results showed that the use of compressive stockings has both indications and contraindications and their prescription should be based on the case of each patient and on common sense about the risks and benefits that their use will entail for patients. It is concluded, therefore, that the use of compression stockings for the prevention of thrombotic events is a viable alternative for the prevention of thrombotic events. Further studies on this topic should be carried out in order to elucidate this topic.

Keywords: Thrombosis; Compression stockings; Prevention.

Resumen

Los eventos trombóticos afectan a gran parte de la población mundial y las alternativas para su prevención han sido ampliamente estudiadas. El uso de medias compresivas ha demostrado ser una alternativa beneficiosa y profiláctica. El objetivo del presente estudio fue realizar una revisión narrativa de la literatura sobre el uso de medias compresivas como herramienta preventiva de eventos trombóticos. Para ello, se buscaron artículos en la base de datos PubMed publicados entre 2018 y 2023. Los términos buscados en estas bases de datos fueron “aprendizaje”, “educación superior”, “educación en salud” y “post pandemia”, unidos por el operador booleano “y” . Después de la etapa de selección, 9 artículos fueron incluidos en nuestro trabajo. Los resultados encontrados mostraron que el uso de medias compresivas tiene tanto indicaciones como contraindicaciones y su prescripción debe basarse en el caso de cada paciente y en el sentido común sobre los riesgos y beneficios que su uso conlleva para los pacientes. Se concluye, por tanto, que el uso de medias compresivas para la prevención de eventos trombóticos es una alternativa viable para la prevención de eventos trombóticos. Se deben realizar más estudios sobre este tema para dilucidar este tema.

Palabras clave: Trombosis; Medias de compresión; Prevención.

Introdução 

 A trombose venosa profunda (TVP) ocorre quando a taxa de fluxo sanguíneo reduz ou quando o sangue se torna de alta coagulabilidade, o que resulta no sangue venoso coagulado dentro dos vasos sanguíneos. Tal acontecimento acaba por estimular o desenvolvimento das síndromes pós-trombóticas (SPT), caracterizadas por edema tecidual, úlceras, veias varicosas, além de fadiga nos membros afetados e pigmentação escura da pele. A síndrome pós-trombótica pode ser definida como uma forma de insuficiência venosa crônica que ocorre de forma secundária a uma trombose venosa profunda (TVP) e pode ocorrer em 20% a 50% dos pacientes após uma TVP proximal. E, apesar de não ser uma patologia letal, a SPT pode resultar em consequências médicas, sociais e econômicas importantes. (GALANAUD et al., 2018; RABINOVICH et al., 2018; GALANAUD et al., 2020)

Além da síndrome pós-trombótica, vale abordar o linfedema, o qual pode ser definido como uma doença crônica progressiva, que ocorre por causa de uma insuficiência do processo de drenagem linfática, resultando no acúmulo de fluidos intersticiais e, consequente, no edema tecidual. Tal disfunção do sistema linfático pode ter origem de etiologias primárias de caráter genético ou secundárias, tipo mais comum de linfedema (GALANAUD et al., 2020).

 O linfedema primário decorre da herança da mutação causadora de má formação no sistema linfático e surge geralmente entre a infância e adolescência, possuindo uma incidência equivalente entre homens e mulheres. Já o linfedema secundário resulta de dano ou obstrução dos vasos linfáticos, em resposta a doenças infecciosas como a filariose ou trauma. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021)

Desse modo, em vista das patologias apresentadas, pode-se dizer que medidas incentivadas por profissionais da saúde no âmbito hospitalar como prática de exercícios físicos, cessação do tabagismo, perda de peso, elevação da perna, uso de drogas anticoagulantes e uso de meias compressivas podem diminuir os sintomas e atuar na prevenção do processo de insuficiência venosa crônica (MILLS et al., 2017; SOUSA et al., 2021). A compressão externa, por meio da utilização de meias de compressão médica, pode auxiliar na diminuição do edema e do inchaço, melhorando a microcirculação venosa (PRANDONI et al., 2004). 

As meias de compressão medicinais têm como alvo o joelho ou o quadril e, normalmente, apresentam uma pressão de 20 a 40 mmHg. Tal terapêutica pode ser categorizada em quatro classes: classe 1 com pressão menor que 20 mmHg e usadas para prevenção de edema, classe 2 com pressões entre 20 e 30 mmHg, para prevenir insuficiência venosa e varizes, classe 3 de alta compressão entre 30 e 40 mmHg indicadas para insuficiência venosa crônica e classe 4 com pressões muito altas acima de 40 mmHg,  usadas para o tratamento de linfedema (ARMSTRONG et al, 2017). 

À vista disso, além das indicações de utilização, vale abordar também sobre as contraindicações formais para o uso da meia elástica. Temos, então, os casos de doença arterial periférica, flebites sépticas, infecções de pele dos membros inferiores, incompatibilidade com o material de meias de compressão (alergia), linfangites, erisipelas, eczema de pele, neuropatía periférica avançada, insuficiência cardíaca descompensada e desproporção tornozelo ou perna (FIGUEIREDO et al., 2011). 

Assim, este estudo busca realizar uma revisão de literatura a fim de entender o funcionamento do aspecto da prevenção de eventos trombóticos a partir do uso de meias compressivas, bem como sua importância para a melhoria dos quadros trombóticos e consequente elevação da qualidade de vida dos pacientes em questão.

Metodologia

Foi realizada uma revisão narrativa da literatura a respeito do uso de meias compressivas como medida preventiva para eventos trombóticos. Esse tipo de estudo inclui uma busca dos artigos atuais da literatura em bases de dados indexadas, a aplicação de critérios de inclusão e exclusão, a leitura do conteúdo desses artigos e por fim a inclusão no trabalho. 

O presente trabalho foi realizado através da leitura e análise de periódicos publicados na base de dados do Pubmed entre os anos de 2018 e 2023. Os termos buscados na base de dados do Pubmed foram: “Thrombosis”, “Compression stockings” e “Prevention”, unidos pelo operador booleano “and”.  Foram encontrados 127 artigos. 

Os critérios de inclusão foram: artigos originais de estudos primários em português, inglês ou espanhol com ênfase na utilização de meias compressivas como medida profilática para eventos trombóticos. Foram excluídos estudos de revisão, revisão sistemática, livros e documentos, tese/dissertação, não disponíveis gratuitamente e estudos não relacionados ao objeto de pesquisa. Após a aplicação dessas estratégias, restaram 9 artigos que foram lidos integralmente e utilizados em nosso trabalho, sendo que os dados desses artigos foram coletados com base na análise do conteúdo de cada trabalho. 

A Figura 1 exemplifica o processo metodológico para a construção desse estudo de revisão e suas etapas. 

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos primários, de acordo com a recomendação PRISMA. 

Fonte: Autores, 2023.

Resultados 

Os resultados encontrados com base na leitura e análise do conteúdo dos artigos selecionados estão expressos nos quadros abaixo. No Quadro 1 verifica-se a caracterização dos artigos incluídos em nosso trabalho, enquanto que no Quadro 2 nota-se a análise do conteúdo desses artigos.

Quadro 1: Caracterização dos artigos. (N=11). 

TÍTULOAUTORIABASEANOPAÍSREVISTA
1Graduated compression stockings as adjuvant to pharmaco-thromboprophylaxis in elective surgical patients (GAPS study): randomized controlled trialShalhoub et al.Pubmed2020InglaterraBMJ Open
2Healthcare professionals’ knowledge, attitudes, and practices regarding graduated compression stockings: a survey of China’s big-data networkXu et al.Pubmed2020ChinaBMC Health Services Research
3Reduced incidence of vein occlusion and postthrombotic syndrome after immediate compression for deep vein thrombosisAmin et al.Pubmed2018HolandaBlood
4Graduated compression stockings for prevention of deep vein thrombosis (Review)Sachdev et al. Pubmed2019Emirados Árabes UnidosCochrane Database of Systematic Reviews
5Effects of compression stockings on lower-limb venous and arterial system responses to prolonged sitting: A randomized cross-over trialHouriuchi et al.Pubmed2021JapãoVascular Medicine
6Effects of compression stockings on body balance in hemiplegic patients with subacute strokePark E.J.Pubmed2022República da CoreiaInternational Journal of Environmental Research and Public Health
7Graduated compression stockings in the prevention of postoperative pulmonary embolism. A propensity-matched retrospective case-control study of 24 273 patientsSuna  et al.Pubmed2020AlemanhaAnnals of Medicine and Surgery
8The effect of compression stocking on leg edema and discomfort during a 3- hour flight: A randomized controlled trialOlsen et al.PubMed2019DinamarcaEuropean Journal of Internal Medicine
9Patient-reported reasons for and predictors of noncompliance with compression stockings in a randomized trial of stockings to prevent postthrombotic syndromeDawson et al.PudMed2019CanadáResearch and practice in thrombosis and haemostasis

Fonte: Autores, 2023.

Quadro 2: Análise de conteúdo dos artigos. (N=10).  

OBJETIVOS E METODOLOGIARESULTADOSCONCLUSÃO
1O estudo tem como objetivo avaliar se o uso de meias graduadas de compressão (MGC) oferece algum benefício em conjunto com a profilaxia farmacológica contra trombos, no que se refere, na prevenção contra o tromboembolismo venoso em pacientes submetidos à cirurgia eletiva.No período que compreende entre maio de 2016 e janeiro de 2019, 1905 participantes foram randomizados, sendo 1858 incluídos para tratamento. Em 16 dos 937 (1,7%) pacientes em uso de HBPM isolada evoluíram com um evento de desfecho primário, enquanto que em 13 de 921 (1,4%) pacientes no grupo em que usou HBPM e MGC. Dessa forma, não alcançando a meta para intervalo de confiança satisfatório, confirmando a HBPM sozinha como não inferior.Em pacientes que são submetidos a cirurgia eletiva e com risco avaliado entre moderado a alto para tromboembolismo venoso, a administração isolada de fármacos contra trombos, não é inferior à combinação de fármacos e MGC. Com esses resultados, pode ser desnecessário, em grande parte dos casos, o uso de MGC e pacientes submetidos à cirurgia eletiva.
2O estudo tem como objetivo determinar os conhecimentos, atitudes e práticas (KPA), assim como identificar os entraves no que se refere aos profissionais de saúde e as meias de compressão graduadas, desde o lançamento do Programa Nacional, em 2018, de Prevenção  e Gestão da Embolia Pulmonar e Trombose Venosa Profunda.5070 pacientes participaram do estudo, sendo que 32,5% tinham bom conhecimento sobre MGC, 78,5% eram favoráveis à utilização e 34% apresentavam um comportamento normativo na sua aplicação. Os KPA´s foram correlacionados  e sugeriu, através de regressão logística binária, que o treinamento recebido pelos profissionais representa um fator importante no que se refere ao conhecimento sobre o uso das MGC.O suporte de treinamento fornecido para o uso do MGC não foi suficiente para atender as necessidades da equipe médica e merece mais atenção sobre o assunto. Dessa forma, a profilaxia do tromboembolismo venoso sofre entraves e restringe a implementação do Programa Nacional de Prevenção e Manejo de Embolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda.
3O estudo tem por objetivo final avaliar se há efeito da terapia de compressão logo após evento trombótico sobre a presença de obstrução residual venosa (OVR) e, averiguar se há relação entre a OVR e a síndrome pós-trombótica e o tromboembolismo venoso em até 24 meses. Este é um subestudo pré-especificado de um estudo randomizado e controlado. 592 pacientes participaram do estudo. Foi encontrada redução absoluta de 20,4% de RVO entre os pacientes que realizaram  terapia de compressão na fase aguda quando comparados com aqueles que não realizaram. Durante acompanhamento, aos 6 meses, foi evidenciado redução de 11,4% de síndrome pós-trombótica quando comparados pacientes sem RVO e aqueles com RVO. Ademais, não foi encontrada relação significativa entre RVO e tromboembolismo venoso recorrente.  O estudo encontrou como resultado a redução da incidência de trombose venosa residual e, por conseguinte, de síndrome pós-trombótica, quando há implementação precoce de tratamento de compressão.
4Avaliar a eficácia e segurança das meias de compressão graduada na prevenção da trombose venosa profunda em vários grupos de pacientes hospitalizados.Foram incluídas 20 RCTs envolvendo um total de 1.681 participantes individuais e 1.172 pernas individuais (2.853 unidades analíticas). Dessas 20 tentativas, 10 incluíram pacientes submetidos a cirurgia geral; seis incluíram pacientes submetidos a cirurgia ortopédica; três ensaios individuais incluindo pacientes submetidos a neurocirurgia, cirurgia cardíaca e cirurgia ginecológica, respectivamente; e apenas um estudo incluiu pacientes médicos.Há evidências de alta qualidade de que os GCS são efetivos na redução do risco de TVP em pacientes hospitalizados submetidos a cirurgia geral e cirurgia ortopédica, com ou sem outros métodos de tromboprofilaxia de fundo, quando clinicamente apropriado. Há moderado-evidência de qualidade de que a GCS provavelmente reduz o risco de TVP proximal e evidência de baixa qualidade de que a GCS pode reduzir o risco de EP. No entanto, ainda há uma escassez de evidências para avaliar a eficácia da GCS na diminuição do risco de TVP em pacientes médicos.
5Este estudo é relatado de acordo com as diretrizes do CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials). Todos os procedimentos do estudo foram aprovados pelo comitê ético do Mount Fuji Research Institute e foram performados de acordo com as diretrizes da Declaração de Helsinque (ECMFRI-02-2017). Todos os participantes forneceram consentimento informado por escrito antes de participar do estudo.Em resposta a 3 horas sentado: (i) houve um efeito de interação para a hemoglobina total (p <0,001); a condição sem uso de CGS aumentou 10,5% (IC 95%: 6,7 a 14,3) e CGS aumentou 4,3% (IC 95%: 0,1 a 7.7); (ii) o acúmulo de sangue foi negativamente associado ao volume sistólico (r = −0,58, IC 95%: −0,68 a −0,45); (iii) reativo a hiperemia e a dilatação arterial mediada pelo fluxo foram prejudicadas após ficar sentado por tempo prolongado, e o uso de CGS não foi associadocom atenuação dessa deficiência. O uso de CGS diminui o acúmulo de sangue, mas não preserva o macrovascular arterial e as respostas microvasculares ao sentar prolongado. Um estudo mais aprofundado é necessário para determinar se o CGS tem propriedades aditivasbenefícios quando combinados com estratégias de interrupção sentada.Evidências têm demonstrado que o uso prolongado e ininterrupto sentar leva ao acúmulo de sangue e subsequente disfunção macrovascular e microvascular. O sangue o agrupamento pode aumentar o risco de TVP,e a disfunção macrovascular e microvascular pode aumentar risco de doença cardiovascular.39 Os achados atuais sugerem que o CGS, uma estratégia simples e provavelmente altamente viável, diminui o acúmulo de sangue, mas não preserva as artérias da perna FMD e resposta de hiperemia reativa. Como tal, a CGS pode ajudar a proteger contra o risco de TVP, mas não cardiovasculares risco de doença. Estudos adicionais também são necessários para melhor generalizar as descobertas atuais, inclusive para gerações mais antigas e os efeitos específicos do sexo.
6Avaliar se o uso de meias compressivas no lado hemiplégico por pacientes vítimas de AVC pode melhorar a estabilidade postural. Foram recrutados pacientes vítimas de AVC, de forma retrospectiva, entre jan/2021 e maio//2022, com hemiplegia, porém capazes de caminhar com auxílio. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu reabilitação convencional e o outro, reabilitação e meias compressivas; e então, foram avaliados antes do tratamento e após 4 semanas através de vários métodos (BBS, TCT, TIS, MBI). A análise de dados foi conduzida por meio do pacote SPSS.Foram acompanhados 236 pacientes com idade média de 69,55 anos, escore MBI médio de 55,31 e MEEM  médio de 23, com prejuízo de equilíbrio, sem diferenças significativas entre os grupos em termos de características epidemiológicas, tipo de AVC, nem entre as variáveis estudadas antes do tratamento. Os pacientes que utilizam meias compressivas, além das medidas de reabilitação, apresentaram escores BBS, TCT e TIS significativamente superiores em relação ao grupo que recebeu apenas medidas de reabilitação, e, portanto, apresentaram melhor equilíbrio postural após a intervenção.O uso de meias compressivas pode contribuir para a recuperação do equilíbrio postural em pacientes hemiplégicos secundariamente a AVC, se promovido no período subagudo.
7Avaliar o impacto do uso de meias compressivas graduadas (MCG) em combinação com heparina de baixo peso molecular sobre a incidência de TEP no pós-operatório. Foi realizada análise retrospectiva de 24,273 prontuários de pacientes submetidos a cirurgias entre 2006 e 2016. Até 2011, os pacientes receberam MCG e HBPM. Após essa data, os pacientes receberam profilaxia apenas com HBPM. Foram excluídos os pacientes que já possuíam TVP ou TEP previamente à cirurgia. A incidência de TEP foi comparada entre os grupos através do teste de Fischer, com determinação do RR e do tamanho de efeito.O risco relativo para TEP sem uso de MCG foi de 0,795. O risco relativo para TVP na ausência de MCG foi de 0,715. Após equiparação pela análise do escore de propensidade entre os grupos, o RR foi de 0,999 (IC 95% de 0,998-1.000). A incidência de TEP nesta coorte foi inferior àquela encontrada em estudos anteriores. O não uso de MCG não foi acompanhado de aumento do RR de TEP nem na coorte geral, nem no subgrupo de maior risco.
8O estudo teve como objetivo avaliar se o uso de meias compressivas em pacientes saudáveis durante um vôo de 3 horas iria diminuir o aparecimento de complicações como edemas ou desconforto nos membros inferiores. Com isso, foi realizado um estudo randomizado, cujos participantes utilizaram meias compressivas em apenas uma perna, o qual se caracterizou posteriormente como simples-cego, tendo em vista que os participantes que fizeram as anotações dos resultados e, os mesmos não puderam ser vendados devido ao tipo de intervenção utilizada.Obteve-se dentro dos 34 participantes incluídos no estudo que houveram comparações entre o pré-vôo e o pós-vôo, como a medida do tornozelo, a qual teve sua circunferência 5 mm maior após a aterrissagem sem o uso da meia compressiva, média que cai para 2 mm com o uso da mesma. Além disso, em questão de dor, desconforto ou eventos adversos, não foram constatadas diferenças entre as pernas dos pacientes.O uso de meias compressivas de fato constatou uma diminuição de 3mm na circunferência da panturrilha, ou seja, fator que condiz positivamente para a diminuição da formação de edemas. Porém, em questão de desconforto e dor não houve diferença significativa. Com isso, entende-se que os pacientes podem se beneficiar do uso terapêutico das meias compressivas em voos de curta distância.
9Avaliar a eficácia do uso de meias compressivas na prevenção da Síndrome Pós-trombótica após o acometimento da trombose venosa profunda (TVP) e descrever as razões dos pacientes e identificar os fatores de predição para o não uso das meias compressivas. Com isso, foi realizado um estudo multicêntrico e randomizado para se obter os dados, tendo em vista que os pacientes deveriam usar as meias diariamente durante 24 meses e seriam acompanhados no mês 1, 6, 12, 18 e 24.Foi constatado que, dentre os 776 pacientes da amostra, a não conformidade com o uso das meias de compressão foi relatada por uma proporção significativa de pacientes. Os principais motivos relatados pelos pacientes foram a falta de percepção de benefícios do uso das meias de compressão, desconforto ou irritação causados pelas meias, dificuldades para colocar ou retirar as meias, e esquecimento de usá-las. Além disso, os preditores de não conformidade incluíram idade mais jovem, presença de sintomas psicossociais, menor qualidade de vida relacionada à saúde, e menor percepção de benefícios do uso das meias.A não conformidade com o uso de meias de compressão é comum em pacientes que participam de ensaios clínicos e que é importante considerar os motivos relatados pelos pacientes e os fatores preditores de não conformidade ao planejar intervenções para promover o uso adequado de meias de compressão. Estratégias para abordar esses motivos, como fornecer informações claras sobre os benefícios das meias, oferecer opções de meias de compressão mais confortáveis, e implementar lembretes para uso regular, podem ser úteis para melhorar a adesão dos pacientes ao uso de meias de compressão.

Fonte: Autores, 2023.

Discussão 

Com o objetivo de avaliar a eficácia do uso de meias graduadas de compressão (MGC) associadas a profilaxia farmacológica contra trombos venosos, Shalhoub et al. realizou um estudo em pacientes submetidos à cirurgia eletiva. Foram 1905 pacientes randomizados e avaliados, no período entre maio de 2016 e janeiro de 2019, sendo 1858 incluídos para tratamento. No grupo de tratamento com HBPM, 16 dos 937 (1,7%) pacientes evoluíram com evento primário, enquanto que em 13 de 921 (1,4%) pacientes do grupo que associou MGC com HBPM, não alcançou resultado satisfatório para o intervalo de confiança mínimo. Dessa forma, a administração isolada de fármacos contra trombos venosos não apresentou resultados expressivamente inferiores do que a utilização da combinação de MGC e HBPM, e com esses resultados parece ser desnecessário o uso da combinação dos métodos.

Nesse sentido, Xu et al. realizou um estudo com o objetivo de determinar os conhecimentos, atitudes e práticas (KPA), no que se refere aos profissionais de saúde e o uso de meias graduadas de compressão (MGC), assim como identificar os entraves do manuseio e indicação a partir do lançamento do Programa Nacional de Prevenção e Gestão da Embolia Pulmonar e Trombose Venosa Profunda, em 2018. 5070 pacientes participaram do estudo, sendo que 32,5% apresentaram bom conhecimento, 78,5% eram favoráveis ao uso e 34% apresentavam um comportamento normativo na sua aplicação. De acordo com regressão logística binária, sugerida pelos KPA´s, o treinamento recebido pelos profissionais não foi suficiente para atender as necessidades da equipe médica, o que implica em maiores olhares para essa questão pois a profilaxia para tromboembolismo venoso encontra obstáculos e restringe o Programa Nacional de Prevenção e Manejo de Embolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda. 

Uma vez que a síndrome pós-trombótica é a complicação mais comum da TVP, considerou-se necessária a investigação da sua relação com o uso de terapia compressiva pós evento vascular e obstrução venosa parcial concomitante (RVO). Foi evidenciado, por exemplo, a diferença de localização do trombo e o tipo de TVP entre os pacientes que realizaram compressão e os que não fizeram. Aliado a isso, foi encontrado que entre todos os pacientes avaliados pelo estudo, dos que não usam bandagens ou meias compressivas na fase aguda, 66,7% tiveram RVO, enquanto os que usaram apresentaram uma taxa de 46,3%, assim como, os pacientes sem RVO demonstraram menor tendência à síndrome pós-trombótica. Desse modo, conclui-se que a realização de terapia compressiva em pacientes com TVP aguda deve ser precocemente associada ao tratamento com anticoagulantes, tendo em vista que, com essas práticas pode-se dirimir as complicações do quadro e prevenir síndrome pós-trombótica.

Há evidências de alta qualidade de que as meias compressivas são efetivas na redução do risco de TVP em pacientes hospitalizados submetidos a cirurgia geral e cirurgia ortopédica, com ou sem outros métodos de tromboprofilaxia de fundo, quando clinicamente apropriado, de acordo com Park E.J. (2022). Há moderada evidência de que as meias provavelmente reduzem o risco de TVP proximal e evidência de baixa qualidade de que as mesmas podem reduzir o risco de tromboembolismo pulmonar (TEP). Dessa maneira, baseada no artigo, podemos inferir que a trombose venosa profunda pode ser prevenida com o uso de métodos compressivos ou medicamentosos. Drogas podem causar sangramento, o que é uma preocupação particular em pacientes cirúrgicos. As meias de compressão graduada ajudam a prevenir a formação de coágulos sanguíneos nas pernas, aplicando diferentes quantidades de pressão para diferentes partes da perna.

Evidências têm demonstrado que o uso prolongado e ininterrupto de sentar leva ao acúmulo de sangue e subsequente disfunção macrovascular e microvascular, de acordo com Suna et al. (2020). O sangue o agrupamento pode aumentar o risco de TVP, e a disfunção macrovascular e microvascular pode aumentar risco de doença cardiovascular. Os achados atuais sugerem que as meias compressivas, uma estratégia simples e provavelmente altamente viável, diminui o acúmulo de sangue, mas não preserva as artérias dos membros inferiores e a resposta de hiperemia reativa. Como tal, as meias de compressão graduada podem ajudar a proteger contra o risco de TVP, mas não o risco de doenças cardiovasculares. 

As meias graduadas de compressão são também frequentemente prescritas fora de contexto cirúrgico. São, por exemplo, muito usadas para tromboprofilaxia em pacientes após AVC. Nesses pacientes, além da redução da ocorrência de TVP/TEP, as meias compressivas podem gerar vários benefícios, incluindo adaptações sensoriais capazes de modular a atividade muscular no lado hemiplégico em resposta a estímulos ambientais. Nesse sentido, Park E. J. (2022)8 encontrou evidências de que o uso de MCG, em adição às medidas convencionais de reabilitação após AVC, pode melhorar escores que avaliam o equilíbrio corporal, potencialmente reduzindo a ocorrência de quedas e evitando novos eventos traumáticos capazes de piorar o prognóstico desses pacientes.

Os guidelines internacionais não são uniformes na recomendação de meias compressivas graduadas para profilaxia de eventos tromboembólicos durante pós-operatório. Conforme a estratificação de risco de pacientes individuais, eles podem recomendar profilaxia com MCG, HNF/HBPM ou uma combinação de HPN/HBPM e MCG. No entanto, o benefício adicional do uso de MCG, além do uso da heparina, tem sido questionado por vários estudiosos pelo fato de as evidências desse benefício advirem de estudos antigos e com pequeno número de casos. De fato, vários estudos robustos mais recentes, como o de SUNA et al (2020)9, que avaliou retrospectivamente mais de 24000 casos, não encontraram benefício associado ao uso de MCG em pacientes que já usavam HBPM.

O estudo randomizado de Olsen et al. (2019)  avaliou o uso de meias compressivas em pacientes saudáveis durante um voo de 3 horas para verificar se reduziria a ocorrência de complicações como edemas e desconforto nos membros inferiores. Com isso, os participantes utilizaram meias compressivas em apenas uma perna em um estudo simples-cego e, os resultados mostraram que a circunferência do tornozelo aumentou em média 5 mm após o voo sem o uso da meia e apenas 2 mm com o uso da mesma. Porém, não foram observadas diferenças significativas em termos de dor, desconforto ou eventos adversos entre as pernas dos pacientes. Portanto, o uso de meias compressivas resultou em uma diminuição de 3 mm na circunferência da panturrilha, indicando um efeito positivo na redução de edemas. No entanto, não houve diferença significativa em relação ao desconforto e dor. Dessarte, o estudo sugere que o uso terapêutico de meias compressivas pode ser benéfico em voos de curta distância para prevenir complicações, embora não tenha impacto significativo em desconforto ou dor.

Além disso, foi realizado um estudo multicêntrico e randomizado de Dawson et al. (2019) com o objetivo de avaliar a eficácia do uso de meias compressivas na prevenção da Síndrome Pós-trombótica após o acometimento da trombose venosa profunda (TVP), além de identificar os motivos dos pacientes e os fatores preditores para o não uso das meias. A amostra incluiu 776 pacientes que deveriam utilizar as meias diariamente durante 24 meses, sendo acompanhados nos meses 1, 6, 12, 18 e 24. Os resultados revelaram que uma proporção significativa de pacientes relataram não conformidade com o uso das meias de compressão, tendo em vista uma falta de percepção de benefícios, desconforto ou irritação causados pelas meias, dificuldades para colocá-las ou retirá-las, e esquecimento de uso. Ademais, os fatores preditores de não conformidade incluíram jovens, presença de sintomas psicossociais, menor qualidade de vida e menor percepção dos benefícios do uso das meias. Portanto, é importante considerar esses motivos e fatores preditores ao planejar intervenções para promover o uso adequado de meias de compressão, como fornecer informações claras, oferecer opções mais confortáveis e implementar lembretes para uso regular, visando melhorar a adesão dos pacientes. 

Considerações Finais

Conclui-se por meio desse estudo que o uso de meias compressivas como forma de prevenção para eventos trombóticos é praticado em todo mundo, possuindo indicações e contraindicações. É necessário que se considere, antes da recomendação de seu uso, os fatores individuais de cada paciente, equilibrando os riscos e benefícios que tal uso pode trazer para o paciente. Outros estudos são necessários para trazer luz a questões relacionadas ao tema. 

Referências

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ARMSTRONG, D.G.; MEYR, A.J. Compression therapy for the treatment of chronic venous insufficiency. UpToDate, 2017. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/15199>. Acesso em: 14 de abril de 2023. 

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1ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5703-1006. Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), Mato Grosso, Brasil. E-mail: samirakamiyama@gmail.com
2ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4737-7919. Universidade Federal do Ceará (UFC), Ceará, Brasil. E-mail: lorencrgomes@gmail.com
3ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8712-7749. Universidade de Gurupi (UNIRG), Tocantins, Brasil. E-mail: ricardoivtec@gmail.com
4ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9135-0249. Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), Mato Grosso, Brasil. E-mail: jcezarjr.med@gmail.com
5ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9250-1440. Universidade Prof. Edson Antônio Velano (UNIFENAS), Minas Gerais, Brasil. E-mail: isabella.morais@aluno.unifenas.br
6ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8596-6370. Universidade Federal do Piauí (UFPI), Piauí, Brasil. E-mail: carolinanegreiros@icloud.com
7ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9451-6873. Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: felipesduarte@usp.br