THE USE OF BRAIN STIMULANTS BY UNIVERSITY STUDENTS: A NARRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10251332
Claudiney Silva da Conceição
Cleyson Roberto de Paula Thales
Vilanova Castelo Branco da Cruz Filho
Vander da Silva Rangel
Orientador: Prof° Alexandre Jose dos Santos Calasans
RESUMO
Introdução: A jornada pelo Ensino Superior, repleta de expectativas e desafios, coloca os estudantes sob pressões acadêmicas intensas. Para enfrentar essas demandas, alguns recorrem ao uso de estimulantes cerebrais, buscando melhorar o desempenho cognitivo e a concentração. Objetivo: Identificar, de acordo com a literatura pertinente, os principais estimulantes cerebrais consumidos por universitários e suas motivações. Método: Revisão sistemática do uso de estimulantes cerebrais em ambiente acadêmico, com o uso dos bancos de dados SciELO e BVS. Foram encontrados 73 trabalhos, que filtrados resultaram em 38 artigos, dos quais 15 foram selecionados a partir da análise dos resumos, introdução e metodologia. Resultados: Predominância do uso de metilfenidato, sem prescrição médica, com o objetivo de melhorar a capacidade de raciocínio, principalmente entre o público feminino. Conclusão: A grande demanda universitária contribui para o uso de estimulantes cerebrais, principalmente o metilfenidato, com vistas a obter resultados rápidos na melhora do desempenho acadêmico. No entanto, seu uso indiscriminado pode prejudicar tanto a saúde física como psicológica.
Palavras-chave: Estimulantes cerebrais. Uso não prescrito de medicamentos. Estudantes universitários.
ABSTRACT
Introduction: The journey through Higher Education, full of expectations and challenges, places students under intense academic stress. To face these demands, some resort to the use of brain stimulants, seeking to improve cognitive performance and concentration. Objective: Identify, according to relevant literature, the main brain stimulants consumed by university students and their motivations. Method: Systematic review of the use of sports stimuli in an academic environment, using the SciELO and BVS databases. 73 works were found, which filtered resulted in 38 articles, of which 15 were selected based on the analysis of abstracts, introduction and methodology. Results: Predominance of the use of methylphenidate, without a medical prescription, with the aim of improving reasoning ability, especially among women. Conclusion: The great university demand contributes to the use of stimulating stimuli, mainly methylphenidate, with a view to obtaining quick results in improving academic performance. However, its extended use can harm both physical and psychological health.
Keywords: Brain stimulants. Non-preescribed drug use. University students.
Introdução
A jornada pelo Ensino Superior é um marco na vida de qualquer indivíduo, carregado de expectativas e desafios significativos. É uma fase repleta de mudanças, onde os estudantes esperam adquirir conhecimento, desenvolver habilidades e formar conexões valiosas para o futuro. Entretanto, essa transição para o mundo acadêmico não é desprovida de dificuldades (Araújo, 2019¹).
À medida que os estudantes cruzam os portões das instituições de ensino superior, encontram-se imersos em um ambiente repleto de pressões e expectativas. A necessidade de alcançar padrões acadêmicos excepcionais torna-se uma carga pesada sobre os ombros dos discentes, enquanto tentam equilibrar a intensa rotina de estudo com uma vida social ativa e participação em diversas atividades extracurriculares (Cândido et al., 2020²).
Neste cenário desafiador, onde a busca pelo sucesso acadêmico se entrelaça com as complexidades da vida pessoal, emergem práticas controversas. Um fenômeno notável é o uso crescente de estimulantes cerebrais, uma estratégia adotada por alguns estudantes para enfrentar as pressões acadêmicas. O uso dessas substâncias visa aprimorar não apenas o desempenho cognitivo, mas também a concentração dos estudantes, oferecendo uma solução aparentemente rápida e eficaz para as dificuldades da vida universitária (Korn et al., 2019³).
De acordo com Araújo (2019)¹, estimulantes cerebrais, também conhecidos como substâncias psicoativas (SPA), psicoestimulantes ou nootrópicos, têm a capacidade de modificar ou melhorar a memória, atenção e facilitar o aprendizado de maneira rápida, através da estimulação ou inibição de certos neurotransmissores. Estas substâncias podem ser naturais, como cafeína e guaranina, ou sintéticas, como o cloridrato de metilfenidato ou metilfenidato (MTF), agindo ao suprimir atividades inibitórias ou de maneira excitatória.
É importante salientar que o uso de estimulantes cerebrais, quando feito com prescrição médica, é um grande aliado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), depressão, narcolepsia e outras condições. Isso porque, os estimulantes cerebrais, como o metilfenidato e as anfetaminas, agem aumentando a atividade de certos neurotransmissores no cérebro, especialmente a dopamina e a norepinefrina. Esses neurotransmissores desempenham um papel fundamental na regulação do humor, na atenção, no foco, na vigilância e na capacidade de resposta ao ambiente (Nasário & Matos, 20224).
No entanto, o consumo indiscriminado desses estimulantes, sem supervisão médica, não apenas carece de fundamentação científica, mas também pode acarretar sérios riscos à saúde, incluindo efeitos colaterais adversos e dependência (Araújo, 2019¹). Apesar disso, o uso de estimulantes cerebrais é uma prática cada vez mais comum entre universitários, desencadeando pesquisas a fim de compreender as causas e os impactos do uso de estimulantes cerebrais. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como problema o seguinte questionamento: quais os principais estimulantes cerebrais utilizados pelos universitários e quais suas motivações?
Assim, a importância desse estudo reside na necessidade de se investigar o uso de estimulantes cerebrais em estudantes universitários para identificar as substâncias mais utilizadas e suas motivações, cooperando para ampliar o debate e discurso de conscientização acerca do uso indiscriminado, bem como auxiliar na implementação de estratégias de prevenção e de apoio psicológico adequado aos estudantes.
Nesse sentido, esse tema pode fornecer informações para a comunidade acadêmica e para a sociedade em geral, contribuindo para a criação de políticas que possibilitem um ambiente educacional mais saudável, seguro e propício ao desenvolvimento integral dos estudantes universitários.
Material e Métodos
O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura, do tipo narrativa, de natureza básica. Tem como objetivo geral identificar as substâncias utilizadas por estudantes universitários e suas motivações.
O estudo foi realizado no período de setembro a outubro de 2023. Os bancos de dados utilizados foram Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Inicialmente, foram usados os descritores “Estimulantes cerebrais OR Uso não prescrito de medicamentos AND Acadêmicos OR Estudantes universitários”.e “Brain stimulants OR Non-prescribed drug use AND Academics OR University students”. Em seguida, essas buscas foram filtradas, sendo excluídos os artigos de revisão, trabalhos publicados em anais de eventos e que não abordaram a temática em questão. Foram selecionados os artigos publicados entre 2013 e 2023, cuja temática central fosse o uso de estimulantes cerebrais por acadêmicos, o que resultou em 38 artigos.
A partir de então, os artigos foram analisados por meio de seus resumos e títulos. Assim, 15 artigos foram escolhidos para a presente revisão, conforme o fluxograma 1.
Resultados e Discussão
Os estudos selecionados foram realizados em diferentes estados do Brasil e em algumas universidades internacionais. Todos foram aplicados por meio de questionários anônimos, ao longo dos últimos dez anos e analisados os resultados de modo descritivo.
A caracterização, contendo autoria, título, periódico em que está publicado e país de aplicação dos artigos está disposta no quadro a seguir:
Fonte: Elaborado pelos autores
Os estudos exploram diversas investigações sobre o tema, oferecendo uma análise abrangente do comportamento de consumo de estimulantes em várias regiões e contextos universitários. Ao examinar pesquisas realizadas em diferentes universidades e países, é possível identificar não apenas o uso de estimulantes prescritos e não prescritos, mas também a prevalência do consumo de outras substâncias, como álcool, maconha e tabaco.
Silva e Andrade (20215) realizaram estudo envolvendo 232 estudantes universitários residentes na região das Missões, Rio grande do Sul. A maioria dos participantes era do sexo feminino (69,4%). Cerca de 19,9% dos participantes afirmaram já ter utilizado estimulantes cerebrais, sendo o metilfenidato o mais comum (9,1%). Além disso, 35,3% dos participantes consumiam bebidas energéticas regularmente. O cansaço foi a razão mais citada para o uso dessas substâncias (23,4%), seguido por sobrecarga em atividades diárias (16,7%).
O estudo descritivo realizado por Muniz e Almeida (20216), no curso de medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), contou com 116 estudantes. Os pesquisadores constataram uma taxa de prevalência de uso de estimulantes cerebrais de 77,59%, com uma prevalência significativamente maior entre estudantes do sexo feminino (83,33%) em comparação com estudantes do sexo masculino (62,50%). A maioria dos estudantes que utilizavam essas substâncias estava na fase final da graduação.
No que tange às substâncias mais consumidas, o álcool foi o mais prevalente (72,22%), seguido pela cafeína (70,0%) e bebidas energéticas (37,78%). Notavelmente, o metilfenidato, foi usado por 30 alunos, sendo a maioria (66,67%) sem prescrição médica. As principais razões para o uso do medicamento foram melhorar o poder de concentração (73,33%) e aumentar o desempenho acadêmico (86,67%) (Muniz & Almeida, 20216).
Batista et al. (2022)7 realizaram pesquisa com 110 alunos do curso de medicina da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), entre 2019 e 2020. Os resultados revelaram um predomínio de participantes do sexo masculino (52,5%) consumindo estimulantes cerebrais, com alta prevalência no consumo de bebidas alcoólicas (80,2%), seguido pelo consumo de maconha (32,67%) e derivados do tabaco (31,7%). Destaca-se que o desejo ou fissura por bebidas alcoólicas foi um indicador significativo, mencionado por 36,6% dos participantes.
Em estudo conduzido com 373 estudantes matriculados no curso de medicina do Centro Universitário UNIRG, em 2014, Silva Júnior (2016)8 et al. observaram que 24,5% dos estudantes utilizaram metilfenidato sem prescrição médica, grande parte do sexo feminino, visando aprimorar seu desempenho acadêmico, especialmente em exames. Apenas 4,4% usaram o medicamento com prescrição médica, enquanto a maioria, cerca de 56,6%, nunca havia feito uso do metilfenidato.
Morgan et al. (2017)9 aplicaram questionário para 200 alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), em 2015. A pesquisa revelou uma preocupante prevalência de uso de substâncias estimulantes do sistema nervoso central entre os estudantes, com 57,5% dos participantes admitindo o consumo ao longo da vida. Ainda, mais da metade desses usuários (51,3%) começou a consumir essas substâncias durante a faculdade, indicando uma tendência de início precoce.
Além disso, foi observado que 16,6% dos estudantes relataram o consumo de mais de uma substância psicoestimulante simultaneamente. As bebidas energéticas foram as mais consumidas (38,0%), seguidas pela cafeína, que foi usada por 27,0% dos participantes mais de cinco vezes por semana. O consumo foi mais comum entre os estudantes das séries iniciais do curso de Medicina. As motivações para o consumo foram variadas, sendo a compensação da privação de sono (47,4%) e a melhora no raciocínio, atenção e/ou memória (31,6%) as mais citadas. A maioria dos usuários relatou efeitos percebidos, incluindo redução do sono (81,2%), melhora na concentração (70,8%) e redução da fadiga (58,0%) (Morgan et al., 2017)9.
Mendes et al. (2015)10, analisaram 50 estudantes do curso de Medicina de uma instituição de ensino particular no Rio de Janeiro, observando que 10% dos entrevistados faziam uso regular de medicamentos estimulantes. Uma tendência foi observada à medida que os alunos avançavam nos anos do curso, com um aumento no uso dessas substâncias. O consumo foi semelhante entre homens e mulheres. Quanto aos efeitos colaterais, os principais relatados foram aumento da sudorese e modificações no padrão de sono.
Majori et al. (2017)11 analisaram 899 questionários preenchidos por estudantes de uma universidade na Itália, em 2013. De acordo com os dados, 11,3% dos estudantes admitiram o uso de Substâncias Psicoativas Não Médicas (NMUPS). Não houve uma predominância estatisticamente significativa entre os gêneros em relação ao uso dessas substâncias estimulantes. A maioria dos estudantes (57,8%) utilizou os estimulantes no máximo cinco vezes nos últimos seis meses. Quando questionados sobre os motivos, 51,0% dos estudantes mencionaram o desejo de melhorar a concentração durante os estudos. Ademais, foi observado que o uso de NMUPS era mais comum entre estudantes que trabalhavam.
Lucke et al. (2018)12 realizaram pesquisa em três grandes universidades australianas, observando que uma pequena parcela dos estudantes, representada 6,5% do total, admitiu ter usado medicamentos estimulantes sem prescrição médica em algum ponto de suas vidas, enquanto apenas 4,4% relataram o uso nos últimos doze meses. Os estudantes demonstraram uma preferência significativamente maior por métodos mais comuns, como café (com 41,4% dos estudantes admitindo seu consumo ao longo da vida) e bebidas energéticas (consumidas por 23,6% ao longo da vida).
Nasário & Matos (2022)4 investigaram questionários de 243 estudantes de uma universidade em Santa Catarina, no qual constataram o uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de medicina, revelando uma prevalência de 2,9% de uso não autorizado dessa substância no grupo pesquisado. Notavelmente, 17,3% dos participantes admitiram ter utilizado o medicamento em algum momento de suas vidas. As principais motivações para esse consumo foram melhorar o desempenho cognitivo (10%) e permanecer acordado por mais tempo (4,1%).
O estudo não encontrou correlação positiva entre o uso do metilfenidato e o desempenho acadêmico. Pelo contrário, os participantes que nunca utilizaram o fármaco apresentaram um desempenho acadêmico superior (média de 8,80), quando comparados àqueles que atualmente fazem uso (média de 7,92) ou que já usaram (média de 8,01). Ademais, a pesquisa apontou que a maioria dos estudantes adquiriu o metilfenidato por meio de amigos (56,5%), indicando uma disseminação informal do medicamento no ambiente universitário (Nasário & Matos, 2022).4
Korn et al. (2019)³ investigaram o uso não medicinal de estimulantes prescritos para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), em estudo com 1280 estudantes universitários. Os resultados revelaram que o uso não medicinal de estimulantes para o tratamento do TDAH estava significativamente associado ao uso de cannabis, aumentando a probabilidade em 5,57 vezes em comparação com não usuários. Além disso, comportamentos desviantes foram mais prevalentes entre estudantes que faziam uso medicinal prescrito desses estimulantes (43,2%) e aqueles que faziam uso indevido (51,1%), em comparação com não usuários (34,5%).
Cordeiro e Pinto (2017)13 desenvolveram estudo com 793 acadêmicos da área de saúde em faculdades particulares na cidade de Ponta Grossa/PR. Entre os entrevistados, o Ginkgo biloba foi a substância mais utilizada, com uma taxa de consumo de 5,65%, seguido pelo metilfenidato, que foi consumido por 5,3% dos participantes. A maioria dos acadêmicos (24,5%) adquiriu conhecimento sobre esses estimulantes durante o período da graduação e a motivação principal para o consumo foi o desejo de aumentar a capacidade cognitiva, especialmente para realizar tarefas específicas como trabalhos e projetos. Cerca de metade dos usuários de Ginkgo biloba não perceberam efeitos significativos, enquanto 85% dos usuários de metilfenidato relataram melhorias na memorização e no planejamento de ideias.
Cândido et al. (2020)² realizaram estudo com 378 universitários da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 2014 e 2015, revelando uma série de padrões de consumo e fatores associados ao uso de metilfenidato para neuroaprimoramento. Entre os estudados, 9,8% admitiram ter usado metilfenidato em algum momento, com 5,8% deles utilizando a substância para melhorar o desempenho cognitivo, seguido de uso recreativo e a diminuição do sono diurno. No tocante aos que usaram metilfenidato para neuroaprimoramento recentemente, 27,3% adquiriram o medicamento sem prescrição médica, com a indicação de amigos sendo o principal incentivo para essa aquisição. Outros fatores, como sedentarismo, consumo de outras substâncias e hábito de fumar, também estavam associados ao neuroaprimoramento com metilfenidato.
Bruyn et al. (2019)14 investigaram o uso indevido de estimulantes em um grupo de 3519 estudantes, com foco em estudantes de medicina, devido ao ambiente altamente competitivo e estressante das escolas médicas. Os resultados revelaram associações significativas entre a percepção da competição na escola médica, níveis de estresse e o uso indevido dos estimulantes: quanto maior a competição percebida, maior o estresse e maior a probabilidade de uso indevido desses medicamentos.
Affonso et al. (2016)15 abordaram o uso indiscriminado de psicoestimulantes, com foco no cloridrato de metilfenidato em estudo realizado com 400 estudantes da Faculdade Anhanguera de Brasília (FAB). Entre os entrevistados, 6,0% admitiram o uso do cloridrato de metilfenidato, sendo que apenas 16,7% desses estudantes possuíam um diagnóstico médico de TDAH. Além disso, 19,5% dos entrevistados indicaram ter utilizado algum tipo de medicamento para auxiliar nos estudos, destacando uma tendência generalizada de uso de psicoestimulantes entre os estudantes.
Santana et al. 202016 analisaram uma amostra de 296 alunos de Montes Claros, Minas Gerais, sendo identificado uso significativo de ecstasy (1,7%) e metilfenidato (1,9%). Além disso, os efeitos percebidos pelos usuários dessas substâncias foram notáveis, com 64,9% relatando redução do sono, 48% experimentando melhora na concentração, 45,3% sentindo bem-estar, 38,5% notando aprimoramento no raciocínio, 33,1% experimentando menos fadiga, 23,6% percebendo melhora na memória e 23% relatando redução do estresse.
De modo mais sucinto, os principais resultados dos artigos podem ser encontrados no quadro a seguir:
Fonte: Elaborado pelos autores.
A partir dos resultados analisados, é possível afirmar que as pesquisas revelam uma preocupante prevalência no uso de estimulantes entre estudantes universitários, com disparidades significativas entre os sexos. As estudantes do sexo feminino apresentam taxas de uso mais elevadas do que seus colegas masculinos. O metilfenidato surge como uma das substâncias mais utilizadas, tanto com como sem prescrição médica, indicando um padrão alarmante de automedicação. Esse comportamento pode ser resultado de uma pressão acadêmica intensa, levando os estudantes a buscar métodos para melhorar seu desempenho em um ambiente altamente competitivo.
Dessa forma, o metilfenidato desponta como a substância mais utilizada devido a sua capacidade de atuar no Sistema Nervoso Central, inibindo a recaptação de dopamina e noradrenalina nos terminais sinápticos, e tem sido utilizado sem orientação médica para potencializar as funções cognitivas em indivíduos sem distúrbios específicos (Araújo, 2019)1.
Em relação às motivações dos usuários, a busca pela melhora da concentração, do raciocínio e da redução do sono é prevalente. Esse cenário indica uma tentativa dos estudantes de equilibrar demandas acadêmicas extenuantes com a necessidade de descanso. Ainda, o uso de estimulantes apresenta aumento em épocas de trabalhos específicos, revelando uma necessidade de cumprimento de prazos.
Muitos estudantes recorrem a essas substâncias devido à pressão acadêmica esmagadora, buscando uma solução rápida para lidar com o estresse e as demandas excessivas. No entanto, essa busca por um desempenho acadêmico melhorado pode ser alimentada por uma cultura que valoriza o sucesso a qualquer custo, negligenciando o bem estar mental e físico dos estudantes.
Outrossim, quando questionados sobre o meio de acesso, os estudantes relataram conseguir estimulantes através de amigos, destacando uma disseminação informal dessas substâncias no ambiente universitário. Estes resultados revelam um cenário intrigante de automedicação entre os estudantes e suas possíveis implicações para a saúde e o bem-estar dos alunos.
Desse modo, o fácil acesso aos estimulantes cerebrais, combinado com a pressão acadêmica e a competição intensa, pode ter impactos severos na saúde mental e física dos estudantes. Isso porque, o uso não prescrito dessas substâncias pode acarretar sérios riscos à saúde, incluindo efeitos colaterais adversos, como insônia, ansiedade, aumento da pressão arterial e dependência. Além disso, a automedicação com estimulantes pode levar a problemas psicológicos, como depressão e desordens de ansiedade, uma vez que essas substâncias alteram o equilíbrio químico do cérebro (Mendes et al., 2015).10
Ademais, o uso indiscriminado pode prejudicar o desempenho acadêmico a longo prazo, criando um ciclo vicioso em que os estudantes se sentem compelidos a continuar usando para manter o desempenho, o que, por sua vez, aumenta o risco de desenvolverem tolerância às substâncias. Esse ciclo, muitas vezes, leva a doses cada vez maiores e a uma dependência crescente, prejudicando não apenas o progresso acadêmico, mas também a saúde mental e emocional dos estudantes. O uso contínuo pode impactar negativamente outras áreas da vida, como relacionamentos pessoais, atividades sociais e a capacidade de enfrentar desafios sem depender dessas substâncias, afetando profundamente a qualidade de vida dos indivíduos envolvidos.
Assim, o uso indiscriminado de estimulantes cerebrais entre estudantes universitários representa um problema de saúde pública que requer intervenções educacionais, apoio psicológico e regulamentações mais rígidas para controlar o acesso a essas substâncias. O foco deve ser não apenas na conscientização sobre os riscos associados, mas também na criação de ambientes acadêmicos mais saudáveis, onde os estudantes sintam que podem lidar com as demandas acadêmicas sem recorrer ao uso de substâncias para melhorar seu desempenho.
Conclusão
Os estudos analisados oferecem uma visão alarmante do uso disseminado de estimulantes cerebrais, especialmente o metilfenidato, entre estudantes universitários em diversas regiões do Brasil e até mesmo em universidades internacionais. A facilidade de acesso a essas substâncias, combinada com a pressão intensa dos estudos e a competição acadêmica, tem levado muitos estudantes a adotarem esses estimulantes com o fito de melhorar seu desempenho acadêmico, foco e resistência ao cansaço.
A utilização indiscriminada desses estimulantes representa um sério problema de saúde pública. Além do risco de dependência e efeitos colaterais graves, os estudantes enfrentam níveis elevados de estresse e ansiedade, colocando em perigo tanto sua saúde mental quanto física. Esse ciclo vicioso de auto medicação pode resultar em uma queda constante no desempenho acadêmico, criando uma necessidade persistente de uso para manter a produtividade.
Nesse contexto, torna-se essencial implementar estratégias educacionais eficazes, fornecer apoio psicológico adequado aos estudantes e estabelecer regulamentações mais rigorosas para controlar o acesso a essas substâncias. Além disso, é fundamental criar ambientes acadêmicos mais saudáveis. Outrossim, investir em programas de conscientização sobre os riscos do uso indevido de estimulantes cerebrais, bem como oferecer apoio psicológico e aconselhamento para os estudantes que enfrentam pressões acadêmicas, pode ser um passo crucial para prevenir o uso dessas substâncias.
O apoio psicológico deve ser acessível, confidencial e oferecido por profissionais qualificados, criando um espaço seguro para os estudantes expressarem suas preocupações e aprenderem estratégias saudáveis para lidar com o estresse e a pressão acadêmica.
Ademais, tem-se como fundamental a realização de mais pesquisas nessa área para investigar com mais propriedade os impactos na saúde dos estudantes, tanto a curto quanto a longo prazo. Estudos longitudinais podem fornecer descobertas valiosas sobre os efeitos a longo prazo do uso dessas substâncias, ajudando a orientar políticas públicas e práticas educacionais.
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