REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7376101
Andressa Fernandes Neres¹
Isabella Valvassori Baldin¹
Laura Souza do Nascimento¹
Priscila Ferreira Silva²
RESUMO
Os avanços tecnológicos, principalmente relacionados à medicina, colaboram para a melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, para o aumento da expectativa de vida. Em vista disso, doenças relacionadas ao avanço da idade estão aumentando consideravelmente e trazendo preocupação à saúde pública. A doença de Alzheimer (DA), caracterizada, histopatologicamente, pela maciça perda sináptica e pela morte neuronal nas regiões cerebrais responsáveis por funções cognitivas como memória e atenção, é considerada a causa mais comum de demência associada ao envelhecimento. Seu diagnóstico precoce é um grande e importante desafio, e os biomarcadores podem vir a auxiliar nesta etapa. As estratégias que possibilitam o diagnóstico precoce incluem a detecção de níveis alterados de tau e beta-amilóide no líquido cefalorraquidiano. Atualmente o Alzheimer é um dos distúrbios mentais que mais concentram esforços de pesquisa, além da atenção de profissionais da saúde e das famílias.
Palavras chaves: Alzheimer; biomarcadores; diagnóstico.
ABSTRACT
Technological advances, mainly related to medicine, collaborate to improve the quality of life and, consequently, to increase life expectancy. In view of this, age-related diseases are increasing considerably and causing public health concern. Alzheimer’s disease (AD), characterized, histopathologically, by massive synaptic loss and neuronal death in brain regions responsible for cognitive functions such as memory and attention, is considered the most common cause of dementia associated with aging. Its early diagnosis is a great and important challenge, and biomarkers can help at this stage. Strategies that enable early diagnosis include detection of altered levels of tau and beta-amyloid in the cerebrospinal fluid. Currently, Alzheimer’s is one of the mental disorders that most focus research efforts, in addition to the attention of health professionals and families.
Keywords: : Alzheimer’s; biomarkers; diagnosis.
INTRODUÇÃO
A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa frequentemente associada ao envelhecimento que, de maneira geral, por ser descoberto já em estágios avançados, não permite um tratamento tão eficaz. De acordo com o psiquiatra, neuropatologista e autor do primeiro estudo sobre o assunto, Alois Alzheimer, os sintomas incluem falhas na memória recente, paranoia e problemas comportamentais e de linguagem.
Hoje, com a melhor compreensão da doença, propõe-se que seja caracterizada pelo excesso de produção, deposição e agregação de proteínas que se acoplam às placas danificando as células cerebrais, a Aβ40 (peptídeo beta-amilóide de 40 aminoácidos de extensão) e a Aβ42 (peptídeo beta-amilóide de 42 aminoácidos de extensão) que levam a esta disfunção neuronal oxidativa; uma excitotoxicidade e neuroinflamação, decorrendo assim no apoptose das células e por fim a morte neuronal. Disfunções estruturais neurovasculares,processos inflamatórios, perda de funcionalidade das mitocôndrias e estresse oxidativo celular, também são alterações conhecidas que podem levar ao diagnóstico da doença.
A princípio, o diagnóstico é semelhante ao de outras formas de demência e é feito por associação de histórico médico familiar, exames neurológicos e de sangue.
O uso de biomarcadores moleculares que contém um alto grau de especificidade e boa sensibilidade é uma forma inovadora de diagnóstico, permitindo até mesmo o diagnóstico precoce. Seus benefícios incluem a possibilidade de evitar um avanço progressista da doença no indivíduo, permitindo que o tratamento seja feito desde o seu início.
A partir do perfil proteico do sangue em indivíduos que já apresentavam identificação para alta ou baixa carga beta-amilóide neocortical, foi gerado um perfil sanguíneo a fim de fornecer uma aproximação do aumento da carga beta-amilóide neocorti•cal (NAB) e associar a um declínio cognitivo e provável progressão da doença. Além disso, os autores também identificaram indivíduos com riscos de progressão da DA no período prodrômico e estágios pré-clínicos. Tais resultados colaboraram com a possibilidade de NAB ser utilizado como um biomarcador em breve.
Este estudo além de possibilitar a ajuda no tratamento de uma doença que atinge grande parte da população, também permitirá a descoberta precoce por uma patente diferencial de pesquisa, já que não há nenhum exame de sangue de rotina para o diagnóstico de Alzheimer disponível no mercado atualmente. Permitindo dessa forma, melhor qualidade de vida aos indivíduos idosos que estão tendo sua expectativa de vida ampliada.
OBJETIVOS
Objetivou-se discorrer sobre o que são os biomarcadores, para que servem e como atuam no diagnóstico da doença; explicar sobre o Alzheimer em si e, atualmente, como está funcionando o seu diagnóstico.
METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão sistemática e narrativa da literatura de ensaios clínicos sobre o uso de biomarcadores no líquido cefalorraquidiano para o diagnóstico de Alzheimer. Objetivou-se a utilização de artigos e estudos que continham dosagem de marcadores de LCR, T-tau, P-tau e Aβ no diagnóstico de pacientes com suspeita da doença de Alzheimer e somado a isso, deveriam descrever as variações desses biomarcadores na DA, com objetivo discutir sobre o tema pesquisado de forma ampla.
A análise foi feita por meio de um referencial teórico, incluindo leitura exploratória, interpretativa e seletiva do material coletado de forma aleatória nas bases de dados eletrônicos SciELO, Medline, PubMed e na base de dados do Google Acadêmico, priorizando artigos entre os anos de 2015 e 2022
Para a elaboração deste trabalho, utilizaram-se as seguintes palavras-chave: Doença de Alzheimer; Envelhecimento Precoce; Biomarcadores; Biomarkers; proteína tau; amilóide.
DESENVOLVIMENTO
Envelhecimento Populacional
De acordo com estudos feitos por Carvalho e Garcia (2003), a transição demográfica teve início na Europa Ocidental, já no final do século XIX, e sua causa principal foi a diminuição das taxas de fecundidade. Tal acontecimento espalhou-se rapidamente para o restante dos países desenvolvidos e, nas últimas décadas, por vários países subdesenvolvidos.
Mudanças significativas foram observadas na população brasileira a partir da segunda metade do século XX, como mostra a Imagem 1, dentre elas a queda nas taxas de fecundidade e o aumento da longevidade, que são umas das principais razões para o envelhecimento populacional. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2016, a quinta maior população idosa do mundo era brasileira, e a previsão é de que, em 2030, o número de idosos no país ultrapasse o total de crianças entre zero e catorze anos. Com isso surge a seguinte problemática: o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
Segundo o Ministério da Saúde, as DCNT compõem o grupo de doenças de maior magnitude no mundo, sendo as populações mais vulneráveis as mais atingidas. Alguns fatores como o sedentarismo, tabagismo, alcoolismo e obesidade são considerados de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
A Doença de Alzheimer é considerada uma DCNT, e está entre as 10 principais causas de morte no mundo. A doença acomete em maior quantidade a população feminina, cerca de 65% das mortes causadas pelo Alzheimer são de mulheres (VARELLA, 2014).
Figura 1 – Pirâmide etária brasileira 1980-2000
A doença de Alzheimer
O Alzheimer é definido pelo neuropatológicos Alois Alzheimer como “uma afecção neurodegenerativa progressiva e irreversível de aparecimento insidioso, que acarreta perda de memória e diversos distúrbios cognitivos”
Em 1901, o neuropatologista relatou o caso de uma mulher chamada August Deter, 51 anos, internada com alguns sintomas como perda progressiva de memória e ansiedade. Alois Alzheimer acompanhou o caso de August até 1903, quando a paciente chegou a falecer. A autópsia apontou atrofia do córtex cerebral, perda neuronal, placas senis decorrentes do acúmulo de depósitos extracelulares de neurites distróficas e degeneradas, microglia, astrócitos reativos e beta-amiloides, e os chamados fusos neurofibrilares, fruto do acúmulo da proteína Tau hiperfosforilada (SMITH, 1999)
De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), geralmente, os sintomas surgem entre os 60 e 70 anos de idade, e a piora tende a ser lenta e progressiva. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente o Alzheimer é dividido em estágios, sendo eles: inicial, moderado e grave. Dentre os sintomas que caracterizam o Alzheimer estão as alterações de personalidade, dificuldade de fala, deficiência motora progressiva, incontinência urinária e fecal, e nas fases terminais, o mutismo e infecções frequentes.
Figura 2: Comparação entre cérebro normal e cérebro afetado pela Doença de Alzheimer.
Patologia
A nível macroscópico, a DA caracteriza-se pela atrofia do córtex cerebral, acompanhada pelo aumento do sistema ventricular, pela perda de pigmentação da neuromelanina e pela perda de volume cerebral que afeta especialmente a substância branca (DETURE, DICKSON, 2019). Microscopicamente destacam-se dois mecanismos fisiopatológicos, as placas amilóides e os emaranhados neurofibrilares, que resultam na perda neuronal e sináptica responsável pela sintomatologia típica desta patologia. Para além destes mecanismos, podem se verificar, em situações mais raras, corpos de hirano, que se trata de inclusões intracelulares eosinofílicas, degeneração granulovacular e angiopatia amilóide cerebral (DETURE, DICKSON, 2019).
A doença de Alzheimer (DA) é uma patologia multifatorial e de causa idiopática, e fatores genéticos e ambientais podem influenciar na sua progressão. Alguns fatores de risco estão envolvidos no desenvolvimento da DA, tais como idade avançada, fatores genéticos, traumatismo craniano, entre outros (Ribeiro, et al. 2003). Estudos demonstraram que o mais prevalente fator de risco da DA é o alelo ε4 da apolipoproteína E (CASSELI, 2013). Os principais achados neuropatológicos da doença consistem na deposição de placas de proteína beta-amiloide (APP), acúmulo de emaranhados neurofibrilares hiper fosforilados, inflamação mediada pela neuróglia, desregulação da sinalização de neurotransmissores, atrofia cerebral e alterações neuronais (VINTERS, 2015).
As transformações intracelulares no sistema nervoso central (SNC) acarretam um estado emocional prejudicado, perda de sinapses e morte neuronal, agravando o declínio cognitivo progressivamente (KOCABAN, DOGAN, 2017).
Diagnóstico precoce
Nos dias atuais ainda não existe uma maneira simples e direta de diagnosticar o Alzheimer, há um longo período pré sintomático entre o início das alterações bioquímicas no cérebro e o desenvolvimento dos sintomas clínicos da DA, sugerindo a necessidade de estudos epidemiológicos de longo prazo, com início em idade precoce, necessidade de exames médicos completos, associado a exames de imagens, testes de estado mental e imagiologia cerebral, a fim de determinar a presença e causa dos sintomas ou estágio da doença. Ainda assim, o resultado não é totalmente conclusivo, já que por se tratarem de sintomas muito próximos ao de outras doenças mentais, podem ocorrer incertezas. Desta forma, ainda hoje o diagnóstico clínico é realizado através de exclusão.
Porém, os critérios clínicos para o diagnóstico de DA evoluíram ao longo do tempo, e a capacidade de diagnosticar com precisão a DA melhorou com o desenvolvimento de técnicas para medição in vivo da neuropatologia o que requer um declínio tanto na cognição, especialmente na memória, quanto na função, bem como na neuropatologia específica.
Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer – ABRAZ (2022), o diagnóstico da Doença de Alzheimer ainda é clínico, porém atualmente com a constatação de que marcadores biológicos (beta-amilóide e a proteína fosfo-tau) podem auxiliar a tornar o diagnóstico da DA mais preciso. Dessa forma, estes marcadores passam a fazer parte da investigação clínica, associados a sintomas relacionados à perda de memória e função cognitiva, permitindo assim um diagnóstico mais confiável e diferencial entre DA e outras demências.
(https://abraz.org.br/sobre alzheimer/diagnóstico/ (2022)) Com isso, nota-se a importância em diagnosticar o quanto antes com exatidão a DA, a fim de evitar o avanço e o alcance a sintomas cada vez mais críticos da doença e dessa forma, permitir aos pacientes acometidos por ela melhores perspectivas de vida.
Utilização de biomarcadores específicos analisados via imunoensaios
O termo ‘marcador biológico’ surgiu em 1990, definido por Hulka e colaboradores. Ao longo do tempo o conceito de biomarcador foi sendo alterado e aprimorado, e em 2016 teve seu significado simplificado pelo FDA (Food and Drug Administration), em colaboração com o NIH passando sua definição a ser considerado como “uma característica mensurada como indicador de processos biológicos normais, processos patogênicos ou respostas à uma determinada exposição ou intervenção.” (FitzGerald GA. Measure for Measure: Biomarker standards and transparency. Sci Trans Med 8(343):343fs10. (2016)
Estes biomarcadores estão presentes no LCR (Líquido Cefalorraquidiano) e são analisados a partir de exames realizados por meio de uma amostra pequena de líquor que é coletado via punção lombar. Este procedimento é considerado um procedimento simples, seguro e minimamente invasivo, onde com uma pequena amostra de sangue conseguimos realizar a identificação de estágios precoces da DA e o melhor, antes do seu desenvolvimento, pois a análise combinada desses indicadores permite um diagnóstico diferencial entre a DA e outras demências.
Os métodos de diagnóstico de DA utilizados atualmente na prática clínica apresentam baixa especificidade ou alto custo financeiro, o que dificulta o diagnóstico precoce e diferencial em relação a outras patologias neurológicas. Desta forma, avaliar e/ou validar possíveis biomarcadores sanguíneos para o diagnóstico da doença de Alzheimer, utilizando como base proteínas, microRNA ou autoanticorpos, pode proporcionar um excelente custo benefício.
Segundo o consenso de 2014 (The clinical use of cerebrospinal fluid biomarker testing for Alzheimer’s Disease diagnosis: A consensus paper from the Alzheimer’s Biomarkers Standardization Initiative): Todos os pacientes com queixas de memória ou suspeita de demência de início precoce devem ser considerados para a dosagem de biomarcadores de Alzheimer no líquor.
Com base nisso, diversos estudos avaliaram o perfil proteico do sangue em indivíduos com identificação para baixa ou elevada carga neocortical de beta-amilóide (NAB), um deles aprovado pelo conselho de revisão institucional do hospital Bundang da Universidade Nacional de Seul e do hospital Universitário Chung-Ang, teve o intuito de determinar a possibilidade de identificar pessoas com risco de piora para a DA em um período de 54 meses. Para que isso fosse possível, foi necessário o perfil sanguíneo de um número de pessoas saudáveis, utilizado como controle, e a participação de pacientes com comprometimento cognitivo leve (CCL). Esse perfil além de proporcionar uma aproximação da elevação da NAB, associou a um declínio cognitivo e a uma provável piora da doença. Por meio deste estudo, foram detectadas pessoas com riscos de piora da DA no período prodrômico e estágios pré-clínicos, além disso, surge a possibilidade de NAB ser utilizado como um biomarcador em um futuro breve.
Junto à carga de NAB, as formas oligoméricas de b-amilóide (Aβ), tau e TDP-43 também têm funções significativas na DA, sendo assim, são considerados biomarcadores promitentes. Apurou-se que todas as amostras apresentaram altos níveis de proteína variante no plasma em relação ao controle, ainda que com distinções nos perfis de biomarcadores individuais. Com isso, ao ser analisado um conjunto de amostras longitudinais, observou-se que as amostras pré-CCL foram marcadas por altos níveis de TDP-43; enquanto as amostras de pacientes com CCL foram marcadas por altos níveis de Aβ e as amostras de pacientes com Alzheimer por altos níveis de Aβ e tau.
Por meio de análises deste estudo, observaram-se também índices elevados dos níveis plasmáticos de oligômeros Aβ em pacientes com Doença de Alzheimer, quando comparados à indivíduos controle normais. De acordo com os autores, o Multimer Detection System (MDS), um novo imunossorvente unido a enzima para medir de forma seletiva os oligômeros Aβ, foi utilizado para detecção de oligômeros Aβ no plasma de portadores de DA e indivíduos controle. Com isso, os níveis plasmáticos de oligômeros Aβ podem, por meio de técnicas distintas, ser um biomarcador simples, não invasivo e acessível para avaliar a deposição amilóide cerebral relacionada à DA.
Além dos acima citados, mediadores inflamatórios têm estado em evidência como biomarcadores relacionados à detecção e monitoração do Alzheimer, uma vez que, desde o princípio da inflamação, as células da glia como a micróglia e astrócitos atuam como primeira linha de defesa em lesões cerebrais, acumulando-se durante a neuroinflamação, associadas à excessiva agregação de beta-amilóide. Com tal ativação da microglia e astrócitos em casos de pacientes acometidos pela Doença de Alzheimer pode resultar em liberação de mediadores pró-inflamatórios, como: citocinas, fatores de complemento, espécies reativas de oxigênio e produtos neurotóxicos, que consequentemente podem potencialmente aumentar os danos neuronais e acelerar a progressão da patologia. Desta maneira, é possível observar que vários marcadores plasmáticos de inflamação foram identificados para apoiar o diagnóstico de DA, possibilitando assim analisar que proteínas sequestradoras possuem potencial clínico para a avaliação de riscos do CCL e para o diagnóstico precoce de DA. Provando-se como uma importante ferramenta para a avaliação dos estágios precoces do comprometimento cognitivo e DA. Dentre os biomarcadores disponíveis para investigação clínica da DA, este estudo foi focado no uso das proteínas β-amilóide e a proteína Tau fosforilada.
Embora a patogênese da DA permaneça obscura, todas as formas de DA parecem compartilhar superprodução e/ou diminuição da depuração de uma família de proteínas conhecidas como peptídeos beta amiloides. Dessa forma, podemos considerar a proteína β amilóide a principal influência para a causa da doença de Alzheimer, tendo como uma das características patológicas da doença seu acúmulo nas placas senis do cérebro.
A principal função da proteína β amilóide é manter o bom funcionamento dos neurônios, sendo normalmente produzida no cérebro e em pequenas quantidades consegue manter esse funcionamento. A razão desta proteína ser importante no diagnóstico da doença de Alzheimer é porque esta tem sua produção aumentada nos pacientes com DA, levando ao acúmulo das moléculas como oligômeros (amplo grupo de agregados não-fibrilares) e a formação de placas amiloides no cérebro. Esse acúmulo progressivo acarreta em uma alteração nas respostas sinápticas, sendo que naturalmente seria eliminada pelo líquor, que acaba gerando danos significativos às células nervosas e consequentemente, morte cerebral.
Dessa forma, o que é observado nos casos de DA, é uma queda na sua eliminação e consequentemente, seu acúmulo no cérebro formando agregados anormais de fibras citoplasmáticas. Em situações fisiológicas a proteína precursora é clivada pela α-secretase e γ-secretases dando origem a um peptídeo não amiloidogênicas. Já nos casos da DA quem atua fazendo essa clivagem é a β secretase com produção e liberação do peptídeo β-amilóide que se deposita no espaço extracelular, esse acúmulo acarreta em alterações importantes e significativas aos neurônios já que o acúmulo do peptídeo Aβ e/ou os produtos de clivagem da sua proteína precursora, uma glicoproteína integral denominada proteína precursora amilóide (APP), são neurotóxicos e podem levar à formação das placas senis, resultando em morte celular.
(https://medpri.me/upload/texto/texto aula-1110.html)
Observe abaixo uma imagem contendo as diferenças entre um neurônio saudável e um neurônio característico de um paciente com DA:
Figura 3: Diferenças esquemáticas entre um neurônio saudável (A) e um neurônio de um paciente com DA (B).
Como este é um processo lento que não gera sinais de declínio cognitivo claros, podendo durar décadas até que os primeiros sintomas apareçam, demonstra a importância da identificação quantitativa de um biomarcador que mostre o aparecimento da doença antes dos primeiros sintomas ou em pacientes já com a suspeita da doença.
Por meio da análise de que os peptídeos Aβ são produzidos via clivagem proteolítica da proteína precursora de Aβ (APP) pela enzima de clivagem beta-amilóide 1 (BACE1), possibilitou o surgimento de outro importante biomarcador para a doença. A partir dessa característica, analisou se os níveis de circulação de RNAs não codificadores longos do BACE1-AS como possíveis biomarcadores para DA e observou-se que seus níveis são mais altos em pessoas com a Doença de Alzheimer, em comparação com os controles saudáveis, destacando assim seu potencial como biomarcador para o desenvolvimento de DA.
Simultaneamente, ao acúmulo da beta amilóide no cérebro e sua consequente diminuição de concentração no líquor, ocorre a fosforilação da proteína plasmática tau (p-tau 181), a qual é uma proteína estabilizadora dos microtúbulos e é abundante principalmente nos neurônios do sistema nervoso central. Normalmente a Tau é uma proteína solúvel, porém em quadros de DA encontra-se hiperfosforilada, o que acaba tornando-a um polímero insolúvel filamentoso e que gera uma desregulação da cascata citoplasmática de fosforilação e desfosforilação. Essa desregulação, desestabiliza os microtúbulos formando os emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios, considerada uma alteração patológica conhecida da DA. Outra consideração importante é que, com a morte neuronal, a fosfo-tau é eliminada pelo liquor, aumentando sua concentração em até três vezes quando comparada a pessoas sem a doença (CLEMENTE; PINTO, 2017).
Abaixo uma imagem contemplando a formação de emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios gerados pela hiperfosforilação da proteína Tau:
Figura 4: A formação de emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios gerados pela hiperfosforilação da proteína Tau.
Dessa forma, podemos observar que os dados neuropatológicos mais relevantes em pacientes com a DA são a presença de degeneração neurovascular, atrofia cortical difusa, perdas neuronais e sinápticas envolvendo vários sistemas e neurotransmissão, presença da deposição extracelular de placas senis difusas e neuríticas compostas de agregados filamentosos da proteína β amilóide (Aβ) e massas neurofibrilares intracelulares.
Em indivíduos positivos para β-amilóide, alterações longitudinais da tau fosforilada 181 plasmática foram associadas com declínio cognitivo, menor metabolismo da glicose e volume de substância cinzenta em regiões cerebrais vulneráveis à doença de Alzheimer.
Sendo assim, podemos correlacionar as duas principais proteínas de diagnóstico da DA, uma vez que diversos estudos indicam que o acúmulo de Aβ pode ser o evento ativador da hiperfosforilação da proteína tau, verificando-se assim nos exames a diminuição da concentração de beta-amilóide e aumento da concentração de fosfo-tau no líquor, porém até o momento os fatores que desencadeiam este desequilíbrio ainda não são bem entendidos (BIOCHEM, 2015).
Isso nos permite observar que a proteína β-amilóide que deveria estar em maior quantidade no líquor apresenta-se com concentrações reduzidas na DA, enquanto que a proteína Tau fosforilada sofre aumento da sua concentração.Durante estudos realizados no laboratório Tokuda (R. Ishii, N. Sori e WTE Yeung) no ano de 2013 a 2017, um estudo piloto exploratório, tiveram como base inicialmente a avaliação por imunoensaios buscando também avaliar o perfil proteico do sangue em indivíduos com identificação para alta ou baixa carga beta-amilóide neocortical, tendo em vista quantificar esses marcadores para facilitar a identificação de progressão para a DA.
TAU– sua quantificação foi investigada para um possível papel no diagnóstico da DA, o qual se verificou, no primeiro coorte composto, que os níveis plasmáticos de p-tau181 foram significativamente maiores nos pacientes com DA do que aqueles nos controles. A porcentagem dos indivíduos cujos níveis de plasma p-tau181 excederam o valor de coorte foi significativamente maior no grupo DA. Em um segundo coorte composto por pacientes com síndrome de Down (SD) e controles pareados por idade, as concentrações plasmáticas de p-tau181 foram significativamente maiores no grupo SD. No terceiro coorte composto por pacientes com DA e outros com outras doenças neurológicas, os níveis plasmáticos de p-tau18 correlacionaram-se significativamente com os do p-tau181 no líquido cefalorraquidiano (LCR). ( https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5582385/)
Este gráfico do estudo ilustra as concentrações plasmáticas da p-tau181 nos pacientes de controle e nos pacientes clinicamente diagnosticados com DA da Coorte 1.
Com ele pode-se notar que a concentração plasmática de p-tau 181 no grupo de indivíduos com DA foi significativamente maior do que nos indivíduos de controle da mesma idade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desse estudo podemos concluir que, a detecção de variantes proteicas relacionadas à doença podem não somente selecionar prontamente casos de DA, como também acompanhar a sua progressão, sendo estes biomarcadores promissores na fase pré-sintomática para o diagnóstico da patologia cerebral da DA. Os níveis plasmáticos de oligômeros AB podem, por meio de diferentes técnicas, como uso de biomarcadores simples, não invasivos e principalmente, mais acessíveis, avaliar a deposição amilóide cerebral e relacioná-las a casos de Alzheimer e dessa forma, por meio da identificação quantitativa de um biomarcador, demonstrar o aparecimento da doença antes dos primeiros sintomas.
De acordo com a NIH National Institute on Aging (NIA), graças aos avanços na pesquisa, métodos aprimorados para medir essas proteínas derivadas do cérebro estão agora disponíveis, já é possível para cientistas e alguns médicos, dependendo da disponibilidade específica do estado, refletindo as diretrizes da Food and Drug Administration dos EUA, solicitar um exame de sangue para medir os níveis de beta-amilóide. Vários outros testes semelhantes estão em desenvolvimento. Contudo, a disponibilidade desses testes de diagnóstico ainda é limitada.
O mais importante a ressaltar é que, as alterações patológicas da DA muitas vezes não são encontradas isoladamente; muitos pacientes que morreram com a doença têm evidência de patologia mista e mesmo sendo possível que idosos sadios possam apresentar algumas destas alterações no cérebro, os sintomas não são observados conjuntamente e nem com a mesma intensidade do que em pacientes acometidos pela DA. Logo, o diagnóstico mais precoce, preferencialmente na fase prodrômica, irá permitir um tratamento precoce e assim levar uma perspectiva de vida bem melhor para as pessoas acometidas com DA.
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1. Discente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil
2. Docente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil