O USO DA REALIDADE VIRTUAL É UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA A MELHORA DO EQUILÍBRIO POSTURAL EM PACIENTES COM DOENÇA DE PARKINSON? – REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8155466


Anderson Leonardo Marques¹*; Ericka Flávia Lira Pinheiro ²; Higor Welson Soares de Oliveira³; Yasmin Maria Gonçalves de Oliveira⁴; Laís Maria Lins Ferreira Batista⁵; Roberta Marques da Silva⁶; Jaylene Candida da Costa⁷; Renata Candida Araújo do Monte⁸; Maíra Leandra de Moura da Silva⁹; Tainara Santos Martins¹⁰; Amanda Kesia Gomes do Nascimento Correia¹¹; Luana Sabrina de Andrade Silva¹²; Laura Lima Soares de Albuquerque¹³; Crislayne Soares de Carvalho¹⁴; Ana Carolina Santos Gomes¹⁵; Ana Karollyne Souza da Silva¹⁶; Layla Karolina Batista Teixeira¹⁷; Emanuel Roger dos Santos Reis¹⁸.


RESUMO

Introdução:  A Doença de Parkinson (DP) é uma disfunção neurodegenerativa crônica e progressiva que afeta uma parte significativa da população mundial. As abordagens à reabilitação fisioterapêutica na DP podem ser  tratamentos convencionais, contudo, uma das técnicas que tem vindo a ganhar destaque é a realidade virtual (RV), que permite a criação de um ambiente artificial, interativo por meio de tratamento repetitivo específico de tarefas que  tem se mostrado uma abordagem eficaz na reabilitação neurológica. Objetivo: O presente estudo objetiva avaliar os efeitos dos exercícios de equilíbrio aplicados ao uso da  RV em  pacientes adultos  e idosos com Doença de Parkinson. Metodologia: A pesquisa bibliográfica foi efetuada nas seguintes  bases de dados: PubMed,LILACS, Biblioteca Virtual em Saúde e ScienceDirect. Após a seleção dos estudos, de acordo com o diagrama de PRISMA, com o buscar estudos publicados entre os anos de 2012 e 2023. Resultados: Foram filtrados 125 artigos  e apenas 7 estudos foram elegíveis e   incluídos  nesta revisão bibliográfica. Conclusão:  A RV é útil na potencialização do controle motor, na funcionalidade, na capacidade cognitiva e no equilíbrio, mas ainda precisa de estudos com melhor qualidade metodológica para confirmação dos resultados da RV na doença de Parkinson.

PALAVRAS-CHAVE: Gameterapia; Doença de Parkinson; Equilíbrio.

ABSTRACT

Introduction: Parkinson’s disease (PD) is a chronic and progressive neurodegenerative disorder that affects a significant part of the world’s population. Approaches to physiotherapeutic rehabilitation in PD can be conventional treatments, however, one of the techniques that has been gaining prominence is virtual reality (VR), which allows the creation of an artificial, interactive environment through specific repetitive treatment of tasks that has been shown to be an effective approach in neurological rehabilitation. Objective: The present study aims to evaluate the effects of balance exercises applied to the use of VR in adult and elderly patients with Parkinson’s disease. Methodology: A bibliographic search was carried out in the following databases: PubMed, LILACS, Virtual Health Library and ScienceDirect. After selecting the studies, according to the PRISMA diagram, studies published between 2012 and 2023 were searched. Results: 125 articles were filtered and only 7 studies were eligible and included in this bibliographic review. Conclusion: VR is useful in enhancing motor control, functionality, cognitive ability and balance, but studies with better methodological quality are still needed to confirm the results of VR in Parkinson’s disease.

KEYWORDS: Game therapy; Parkinson’s disease; Balance.

1. INTRODUÇÃO

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa e de caráter progressivo, principalmente por disfunção motora, que piora com o tempo e contribuem negativamente para o equilíbrio corporal, marcha, mobilidade funcional e consequentemente a qualidade de vida (QV) dos pacientes (SANTOS, et al., 2019)

O distúrbio funcional da DP é característico de um déficit dopaminérgico secundário à degeneração da substância negra parte compacta. A causa específica dessa degeneração é obscura e inclui predisposição genética, estresse oxidativo e fatores ambientais, entre outros. Na população idosa com DP mais afetada, há um comprometimento na capacidade do sistema nervoso central (SNC) de processar os sinais vestibulares (visuais e proprioceptivos). A estabilidade postural depende da integridade do sistema vestibular (labirinto, nervo vestibulococlear, núcleos, vias e interconexões dentro do SNC), do sistema somatossensorial (receptores sensoriais localizados nos tendões, músculos e articulações) e da visão (SEVERIANO, et al.,2017).

O  fator  etiopatogênico  mais  relevante  da  Doença  de  Parkinson  é  a  causa  multifatorial  e  devido  a  isso  o  diagnóstico  torna-se  ainda  mais  difícil.  Acredita-se  que  a  doença  possa  ser  causada  por   fatores   genéticos   e   ambientais,   podendo   acometer  indivíduos  de  qualquer  sexo,  raça,  cor  e  classe  social. Pode ser classificada em, a) Doença de Parkinson Primária Idiopática, representa 80% dos casos onde  evidenciam-se  com  frequência  sintomas  em  apenas um lado do corpo; b) Doença de Parkinson Secundária (são os casos que são induzidos por drogas, decorrentes  de  infecções,  toxinas,  após  doenças  vasculares,  problemas  metabólicos,  decorrentes  de  hidrocefalia,  decorrentes  de  hipóxia,  traumatismos  cranianos  e  tumores  cerebrais) , c) Doença de Parkinson Heredodegenerativa que representa uma condição incomum e em alguns casos genéticas,  onde  as  manifestações  estão  associadas  à  Doença  de  Parkinson, por   último,   d)   Síndromes  Parkinson-plus  que  estão  associadas  a  “anormalidades neurológicas adicionais” (TOLOSA; GARRIDO; SCHOLZ; POEWE, 2021).

A prevalência da DP em países desenvolvidos é em torno de 0,5-1% em pessoas de 65 a 69 anos, com um aumento significativo de 3% em pessoas com mais de 70 anos. A DP é conhecida por ser afetada por idade, sexo e áreas geográficas . A taxa de incidência de DP no mundo é de aproximadamente 8 a 18 por 100.000 pessoas por ano, com aumentos significativos em pessoas acima de 60 anos e maior incidência em homens do que em mulheres. Em 2013, a taxa de incidência nos Estados Unidos foi de mais de um milhão de pessoas diagnosticadas com DP. Na Europa, em 2005, as taxas de incidência flutuaram de 108 a 257 por 100.000 e 11 a 19 por 100.000 por ano. Na Ásia (China e Taiwan), as taxas de incidência ficaram entre 1,5 e 8,7 por 100.000 pessoas por ano, com um aumento de 94,5 por 100.000 e 100,2 por 100.000 na faixa de 70 a 79 anos. A incidência estimada para o ano de 2030 é de 8,7 milhões de pessoas em todo o mundo. Devido a essas taxa de incidência futuras surpreendentes, é necessário desenvolver novas técnicas no processo de reabilitação (ALBIOL-PÉREZ,  et al., 2017).

Pacientes com DP sofrem alterações que podem ser classificadas como características clínicas não motoras e motoras. As disfunções não motoras são: sintomas neuropsiquiátricos; distúrbios do sono, fadiga, sintomas sensoriais,disfunções autonômica, sintomas gastrointestinais, deficiências cognitivas, sintomas afetivos, sintomas menos conhecidos, como queimação visual ou perda de peso. Os sintomas motores são conhecidos pela sigla TRAP transtornos: tremores, rigidez; acinesia/bradicinesia; e controle postural. A TRAP, combinada com postura flexionada e congelamento da marcha são as principais disfunções em pacientes com DP . O principal distúrbio em pacientes com DP é o tremor, com 70% dos casos de DP que sofrem desta alteração. O tremor é um movimento rítmico para frente e para trás que é mostrado em diferentes partes do corpo . É o sintoma mais comum da DP e, portanto, é crucial detectá-lo e analisá-lo. De acordo com a declaração de consenso da Movement Disorder Society (MDS) , o tremor na DP é classificado em três tipos. O primeiro é o tremor de repouso (TR), que é um movimento involuntário oscilatório que é produzido no segmento corporal afetado quando este está relaxado e apoiado por uma superfície (ALBIOL-PÉREZ,  et al., 2017).

A perda do controle postural e do equilíbrio na DP pode ser  influenciada pelo processo de organização sensorial anormal e alterações do centro de gravidade (CG). Para manter o controle do equilíbrio, o paciente necessita da manutenção do CG sobre a base de sustentação durante ações estáticas e dinâmicas. As alterações posturais levam à alteração do CG, gerando alterações no equilíbrio durante a marcha e atividades diárias (NOGUEIRA, et al.,2017).

O comprometimento da marcha, equilíbrio e cognição de indivíduos com doença de Parkinson (DP) idiopática aumenta a incidência de quedas e prejudica as atividades de vida diária.  A fisioterapia pode diminuir os efeitos deletérios da DP que são resistentes à reposição dopaminérgica, como festinação, hesitação, congelamento da marcha, disfunções motoras axiais e quedas (SILVA, et al., (2017).

Com a progressão da doença, os pacientes podem apresentar instabilidade postural, disfunção da marcha, dificuldade em realizar tarefas funcionais, como travessia de obstáculos e quedas frequentes. Mais de dois terços dos indivíduos da comunidade com experiência de DP caem uma vez por ano, e tropeçar em obstáculos é a principal causa dessas quedas (LIAO, et al., (2015).

Mais de dois terços dos indivíduos da comunidade com experiência de DP caem uma vez por ano, e tropeçar em obstáculos é a principal causa dessas quedas (LAIO et al.,2015). Vale salientar que inúmeros recursos terapêuticos  são  utilizados  no  tratamento  desses  pacientes,  como  exercícios  resistidos, exercícios aeróbicos, acupuntura e hidroterapia.

De acordo com Nogueira, et al., (2017), na atualidade vem surgindo modalidades novas de técnicas no intuito de obter resultados importantes e cada vez mais significativos no processo de reabilitação. Os sistemas de RV foram aperfeiçoados a partir de jogos eletrônicos de entretenimento e vêm se aprimorando desde a década de 1950, começaram a ser utilizados como ferramenta na reabilitação motora.

A realidade virtual é considerada uma abordagem de reabilitação útil porque, por meio do treinamento repetitivo  específico de tarefas tem se mostrado uma abordagem eficaz na reabilitação neurológica, um ambiente enriquecido com RV  permite o paciente realizar atividade cognitivas e motoras simultaneamente. Estimula atividades do mundo real o que proporciona maior validade ecológica em comparação a terapia convencional, atividades de risco que não são seguras para a prática em sessões de terapia podem ser praticadas em um ambiente seguro e regulamentado, e os pacientes frequentemente praticam períodos ais longos, pois o programa de RV são considerados mais interessantes e agradáveis do que os programas convencionais (PAZZAGLIA, et al.,2019).

Os sistemas de realidade virtual (VR) são tecnologias novas e potencialmente úteis que permitem aos usuários interagir com um cenário gerado por computador. O feedback visual, sensorial e auditivo aumentado é fornecido quando os sujeitos realizam tarefas em ambiente virtual. O treinamento de RV tem sido usado em idosos e pacientes com acidente vascular cerebral para melhorar o controle postural, aumentar a mobilidade e reduzir o risco de queda. Em participantes de DP, o treinamento de RV demonstrou melhorar a organização sensorial. A RV combinando o treinamento em esteira também foi relatada para melhorar o desempenho da marcha durante condições desafiadoras usuais e complexas (tarefa dupla e travessia de obstáculos) em participantes com DP (LAIO, et al., (2015).

Sendo assim, apesar do grande número de artigos científicos que abordam o tema do uso da realidade virtual em pacientes com Doença de Parkinson, são escassas as pesquisas que tratam da população adulta, visto que não é tão afetada, além disso, existem poucos estudos que  analisaram  a reabilitação no equilíbrio postural com o uso da gameterapia. Diante disso, cabe analisar os principais benefícios  da RV na recuperação clínica e funcional do paciente com doença de Parkinson promovendo melhora do equilíbrio, assim, visando contribuir com  a comunidade fisioterapêutica com a divulgação dos resultados obtidos e eventualmente  com a publicação deste estudo.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Verificar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, as evidências a respeito da utilização da Realidade Virtual nas variáveis de equilíbrio postural e de capacidade funcional de adultos e idosos com Doença de Parkinson.

2.2 Objetivos específicos

  • Identificar os efeitos da Realidade Virtual na funcionalidade dos adultos e idosos com DP;
  • Averiguar os efeitos da Realidade Virtual nas variáveis no equilíbrio postural;
  • Descrever as formas de utilização da Realidade Virtual (RV) na fisioterapia como ferramenta terapêutica.

3. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, desse modo, foi realizada uma busca entre os meses de Março a Junho de 2023,a partir de artigos que foram encontrados nas seguintes bases de dados: PubMed, “Medical Literature Analysis and Retrieval System Online” , (LILACS)  Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e ScienceDirect. Para o processo de busca, foram utilizados os seguintes descritores padronizados e indexados no DeCS/MeSH em inglês: “Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Postural Balance” AND “Rehabilitation”.

Os critérios de inclusão adotados foram: Serem ensaios clínicos; artigos publicados a partir do ano 2012;artigos sobre reabilitação postural com o uso da RV; estudos originais que apresentaram dados sobre o uso da RV como ferramenta de reabilitação no equilíbrio de indivíduos com DP; disponíveis na íntegra e de forma gratuita; disponíveis nos idiomas espanhol, inglês e português. Os critérios de exclusão adotados foram: revisões de literatura; não disponíveis na íntegra; escritos em outros idiomas além dos escolhidos; duplicatas; artigos que não abordavam a temática proposta, protocolos e recomendações.

Realizou-se um levantamento bibliográfico  nas principais  bases de dados, seguindo-se o Método PRISMA, usou-se o modelo PICOS (acrônimo para Paciente, Intervenção, Comparação, Outcomes/desfechos, Study Type/tipo de estudo) (MOHER; 2015). Para o estudo em questão foi escolhida a pergunta ” O uso da RV é uma ferramenta eficaz para a melhora do equilíbrio postural em pacientes com Doença de Parkinson, evidenciadas a partir dos estudos clínicos mais recentes? O acrônimo PICOS foi utilizado da seguinte forma:

Quadro 1 – Componentes da pergunta de pesquisa, seguindo-se do acrônimo PICOS.

DESCRIÇÃOABREVIAÇÃOCOMPORTAMENTO DA PESQUISA
PopulaçãoPIndivíduos diagnosticados com Doença de Parkinson
IntervençãoIIntervenções baseadas em RV
ComparaçãoCTratamento não baseado em RV
DesfechoOAvaliar a eficácia da RV nessa população
EstudoS: Ensaios clínicos

Quadro 2- Estratégia de busca nas bases de dados.

BASE DE DADOSESTRATÉGIAS DE BUSCA
Pubmed“Parkinson Disease”[MeSH] AND “Virtual Reality”[MeSH] AND “Postural Balance”[MeSH] •“Parkinson Disease”[MeSH] AND “Virtual Reality”[MeSH] AND“Rehabilitation” [MeSH]
Lilacs“Parkinson Disease” AND “Virtual Reality • “Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Postural Balance” • “Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Rehabilitation”
ScienceDirect“Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Postural Balance”“Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Rehabilitation”
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).• “Parkinson Disease” AND “Virtual Reality”• “Parkinson Disease” AND “Virtual Reality” AND “Postural Balance” •“Parkinson Disease” AND “Virtual Reality”.

3.1 Triagem

Posto isso, após uma  filtragem extremamente  criteriosa leitura dos títulos e resumos, ao final selecionaram-se 07 artigos elegíveis para elaboração desta revisão no qual atendiam as necessidades para discussão do trabalho e concederam a amostra final.

Figura 1. Fluxograma da Metodologia da Pesquisa.

Fonte: Arquivo Pessoal

4. RESULTADOS

Tabela 1.  Sinopse dos dados dos estudos incluídos na revisão de literatura.

Autor/ AnoTipo de estudoInstrumento de avaliaçãoPrincipais resultados
Laio, et al., (2015).Ensaio Clínico RandomizadoSistema Liberty, sistema Balance Master e TUG.O  grupo VRWii apresentou maior melhora na velocidade de travessia de obstáculos, comprimento da passada de travessia, equilíbrio dinâmico, SOT, TUG, FES-I e PDQ39 do que o grupo controle. O treinamento VRWii também resultou em maior melhora na velocidade de movimento do teste de limites de estabilidade do que o treinamento TE. O treinamento VRWii melhorou significativamente o desempenho de travessia de obstáculos e o equilíbrio dinâmico, apoiando a implementação do treinamento VRWii em participantes com DP.
Yang, et al., (2016).Ensaio Clínico Aleatório ControladoDGI e TUG.Os grupos experimentais e de controle foram comparáveis ao pré-teste. Após o treinamento, ambos os grupos tiveram melhor desempenho na Escala de Equilíbrio de Berg, Índice de Marcha Dinâmica, teste de Up-and-Go cronometrado e Questionário da Doença de Parkinson no pós-teste e acompanhamento do que no pré-teste. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre esses dois grupos no pós-teste e acompanhamento. Este estudo não encontrou nenhuma diferença entre os efeitos do treinamento de equilíbrio de RV baseado em casa e o treinamento convencional de equilíbrio doméstico.
Silva, et al., (2017).  Estudo de Viabilidade Controlado RandomizadoTeste de equilíbrio balance evaluation systems test (BESTes).Nossa hipótese é que tanto os jogos Kinect quanto a fisioterapia convencional serão factíveis, seguros e aceitáveis para indivíduos com DP e promoverão efeitos clínicos positivos. Os resultados deste estudo de viabilidade serão usados para projetar um futuro ensaio clínico definitivo.
Albiol-Pérez,  et al., (2017).Ensaio Clínico não RandomizadoEscala de Equilíbrio Funcional de Berg; TUG; Alcance funcional.Não há diferenças significativas no desempenho do controle postural em nenhuma das posições avaliadas ao longo das sessões. Embora a DP seja uma desordem neurodegenerativa progressiva, os resultados demonstram que os pacientes com DP mantêm ou mesmo melhoram seu controle postural.  

Tabela  1 (cont.). Sinopse dos dados dos estudos incluídos na revisão de literatura.

Autor/ AnoTipo de estudoInstrumento de avaliaçãoPrincipais resultados
Feng, et al., (2019).Ensaio Clínico Controlado RandomizadoEscala de equilíbrio de Berg, TUG, UPDRS III e FGA.Após o tratamento às pontuações de BBS, TUGT e FGA, melhoraram significativamente  nos dois grupos. O treinamento RV resultou em desempenho significativo melhor em comparação com o grupo de terapia física convencional. Os estudos indicam que 12 semanas de reabilitação da RV resultam numa maior melhoria no equilíbrio e marcha de indivíduos com DP.
Pazzaglia,  et al., (2019)Ensaio Clínico Aleatório ControladoEscala de equilíbrio de Berg e DGI.O programa de reabilitação da RV levou ao aumento da pontuação da Balança Berg Escala (BBS) [45,6] [desvio padrão (DP) 7,9]. Em contrapartida, o programa de reabilitação convencional só levou à diminuição da pontuação na Escala DASH [30,3 (DP) -5,2]. Estes resultados sugerem que a reabilitação é útil na doença de Parkinson, e o programa de reabilitação RV foi mais eficaz na determinação da melhoria global do que o programa de reabilitação convencional.
Santos,  et al., (2019)Ensaio Clínico RandomizadoEscala de Equilíbrio de Berg, DGI e TUG.Diferenças significativas foram encontradas nas análises pré e pós-intervenção de todos os desfechos nos três grupos, mas não houve diferença entre os grupos. Foi avaliado o tamanho do efeito, no qual o grupo NW mais CE apresentou maior magnitude do efeito terapêutico. Assim, o NW mais CE foi estatisticamente  tão eficaz quanto cada intervenção isolada na reabilitação de pacientes com DP, porém, o uso dessa combinação.
Fonte: Elaborador pelo autor. 2023

5. DISCUSSÃO

Esta revisão sistemática da literatura, investigou o efeito da RV em indivíduos acometidos pela DP, que está associada à disfunção dos sistemas neurotransmissores, principalmente, por uma redução nas concentrações de dopamina no estriado em decorrência da perda progressiva dos neurônios dopaminérgicos da parte compacta da substância negra, que por sua vez  altera várias conexões dos núcleos da base, estruturas responsáveis pela preparação e harmonia do movimento.

Santos et al., (2019), em suas pesquisas enfatiza que  a RV ela utiliza estímulos de situações reais da AVD’s, com objetivo de acelerar os mecanismo da neuroplasticidade nos indivíduos no SNC por meios de exercícios específicos, corrigindo ou fornecendo informações sensoriais alteradas ou que estejam ausentes. Além disso, para cada estímulo proporcionado, uma nova interação é necessária para cada nova tarefa de aprendizagem, e novos circuitos nervosos são ativados e novas sinapses são formadas. Santos et al.,(2019), ainda afirma que em seus estudos  foi observado que, a RV de fato, ela  melhorou o equilíbrio, gerando efeitos positivos na autoconfiança dos pacientes, influenciando na sua qualidade de vida.

De acordo com Albiol-Pérez et al., (2017), o controle postural adequado é essencial para a realização  das atividades de vida diária. Logo, problemas posturais e de equilíbrio trazem consigo sérias consequências aos indivíduos com algum desses comprometimentos motores. Esses entraves não limitam apenas suas AVD ‘s, mas também aumentam os riscos, como o risco de queda que fatores como imobilidade; baixa aptidão física; déficit de equilíbrio; marcha lenta com passos curtos e danos cognitivos podem acentuar um maior risco ao indivíduo. O controle postural e instabilidade postural são os principais problemas em pacientes com DP associado a limitação de tarefas cognitivas.

Além da já consolidada fisioterapia convencional, novas estratégias terapêuticas baseadas na abordagem de tarefas orientadas para a prática e feedback visual e auditivo têm demonstrado efeitos positivos na DP, entre eles o treinamento em RV por meio de videogames. Existem alguns estudos sugerindo que os videogames podem promover treinamento cognitivo-motor integrado com potencial para melhorar o equilíbrio, a aprendizagem motora, a cognição e a independência nas atividades de vida diária de indivíduos com DP. Por meio de videogames, os indivíduos podem realizar tarefas complexas, movimentos rápidos e grandes envolvendo todo o corpo, ao invés de realizar o movimento em uma única articulação (SILVA, et al., 2017).

Contudo, nos achados de Yang, et al., (2016), que avaliou  o treinamento de equilíbrio RV  e reabilitação de através de fisioterapia convencional  foram eficazes de maneira semelhante no equilíbrio dos participantes, ambas terapias realizadas  em pacientes com Parkinson. Em seu estudo não encontrou diferenças entre o treinamento de equilíbrio da RV e o treinamento de equilíbrio convencional que foi realizado em domicílio, os dois tratamentos foram eficazes para melhora do equilíbrio, marcha e qualidade de vida de pacientes com DP.

Feng, et al., (2019), ainda afirma que, a vantagem da RV na avaliação está relacionada pelo fato de ela fornecer dois tipos de feedback, incluindo o feedback de cada exercício executada, bem como o feedback subsequente, que pode melhorar a sensação cognitiva do paciente, através das diferentes opções de  organização e preparação do ambiente imersivo, que por sua vez irão aumentar o interesse e estimular a motivação repetida do paciente de inúmeras formas distintas. Com o objetivo de aprender habilidades de um exercício em um ambiente virtual e aplicar essa tecnologia e aprendizado ao mundo real.

Todos os artigos compararam um grupo com tratamento convencional e outro com tratamento de realidade virtual e 3 exibiram que ambos os tipos foram igualmente benéficos e tiveram resultados positivos em comparação com o treinamento de RV, mas o estudo de Yang et al (2016) com o programa de aprendizado básico e o programas internos e externos que simulam tarefas diárias em ambientes internos e externos são os que obtiveram os melhores resultados, mas nada diferente de outros estudos. O estudo de Feng et al (2019) de 12 semanas de reabilitação VR, durante 5 dias por semana, resultou em maior melhora no equilíbrio e na marcha de pessoas com DP em comparação com a fisioterapia convencional, mas mesmo assim, o treinamento RV RV não substitui.

Portanto, vale ressaltar que RV vem sendo utilizada como modalidade/ ferramenta  inovadora no processo de reabilitação física em doenças neurológicas, incluindo a Doença de  Parkinson. Todavia, observa-se a necessidade de novos estudos, maiores números de amostras, bem como maior tempo de terapia dos grupos estudados, relacionados ao uso deste recurso, nos seus diferentes âmbitos e formas de utilização, em indivíduos com DP, nos seus diversos aspectos clínicos.

6. CONCLUSÃO

Foi observado, nesta presente revisão, que a RV é uma ferramenta importante na melhora do equilíbrio de indivíduos com DP, já que combina de forma lúdica a interação entre o paciente e os jogos virtuais. Assim, o uso dos diferentes programas de jogos propostos, demonstra que o treino em imersão virtual é útil para a reabilitação e importante na redução dos déficits de equilíbrio causados pela doença, logo, a  realidade  virtual  pode  ser  uma  nova ferramenta associada à fisioterapia convencional.

Contudo, estratégias de RV em alguns estudos  não  mostraram melhora  significativa  em curto prazo no  equilíbrio   e  na  qualidade  de  vida  dos  pacientes  com  DP. Entretanto, a ausência de  diferenças  significantes  não  representa  a  ausência  de  benefícios  clínicos  sobre essas variações de melhorias.

Por fim, é importante ratificar que o treinamento de equilíbrio em RV é uma alternativa tecnológica bastante promissora na reabilitação fisioterapêutica e interessante  para a prescrição de exercícios e melhora dos sintomas ocasionadas pela DP. Os resultados indicam a viabilidade das abordagens de RV na melhora do equilíbrio postural, para serem utilizadas como tratamento e treinamento para população estudada. Recomenda-se estudos futuros com maiores amostras e tempo de intervenção para explorar mais sua aplicação no treino de equilíbrio em pacientes com Doença de Parkinson.

REFERÊNCIAS

ALBIOL-PÉREZ, Sergio et al. The Effect of Balance Training on Postural Control in Patients with Parkinson’s Disease Using a Virtual Rehabilitation System. Methods Of Information In Medicine, [S.L.], v. 56, n. 02, p. 138-144, 2017. Georg Thieme Verlag KG.

AMIR-BEHGHADAMI, Mehrdad et al. Population, Intervention, Comparison, Outcomes and Study (PICOS) design as a framework to formulate eligibility criteria in systematic reviews. Emergency Medicine Journal, [S.L.], v. 37, n. 6, p. 387-387, 5 abr. 2020. BMJ.

FENG, Hao et al. Virtual Reality Rehabilitation Versus Conventional Physical Therapy for Improving Balance and Gait in Parkinson’s Disease Patients: a randomized controlled trial. Medical Science Monitor, [S.L.], v. 25, p. 4186-4192, 5 jun. 2019. International Scientific Information, Inc.

 LIAO, Ying-Yi et al. Virtual Reality–Based Training to Improve Obstacle-Crossing Performance and Dynamic Balance in Patients With Parkinson’s Disease. Neurorehabilitation And Neural Repair, [S.L.], v. 29, n. 7, p. 658-667, 24 dez. 2015. SAGE Publications.

MOHER, D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: a recomendação prisma. Epidemiologia e Serviços de Saúde, [S.L.], v. 24, n. 2, p. 335-342, jun. 2015. FapUNIFESP (SciELO).

NOGUEIRA, Paula Cristina et al. Efeito da terapia por realidade virtual no equilíbrio de indivíduos acometidos pela doença de Parkinson. Fisioterapia Brasil, Brasil, v. 5, n. 18, p. 547-552, 28 set. 2017.

 PAZZAGLIA, C et al. Comparison of virtual reality rehabilitation and conventional rehabilitation in Parkinson’s disease: a randomised controlled trial. Physiotherapy, Itália, v. 106, p. 36-42, 23 dec. 2019.

PEIXINHO, A.; AZEVEDO, A. L.; SIMÕES, R. M. Alterações Neuropsiquiátricas da Doença de Parkinson. Psilogos, v. 3, n. 2, p. 12–30, 1 dez. 2006.

 SANTOS, Pietro et al. Efficacy of the Nintendo Wii combination with Conventional Exercises in the rehabilitation of individuals with Parkinson’s disease: a randomized clinical trial. Neurorehabilitation, [S.L.], v. 45, n. 2, p. 255-263, 7 nov. 2019. IOS Press.

SEVERIANO, Maria Izabel Rodrigues et al. Effect of virtual reality in Parkinson’s disease: a prospective observational study. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, [S.L.], v. 76, n. 2, p. 78-84, fev. 2018. FapUNIFESP (SciELO).

SILVA, K., De Freitas, T.B., Doná, F. et al. Effects of virtual rehabilitation versus conventional physical therapy on postural control, gait, and cognition of patients with Parkinson’s disease: study protocol for a randomized controlled feasibility trialPilot Feasibility Stud 3, 68 (2017).

TOLOSA, Eduardo; GARRIDO, Alicia; SCHOLZ, Sonja W; POEWE, Werner. Challenges in the diagnosis of Parkinson’s disease. The Lancet Neurology, [S.L.], v. 20, n. 5, p. 385-397, maio 2021.

YANG, Wen-Chieh et al. Home-based virtual reality balance training and conventional balance training in Parkinson’s disease: a randomized controlled trial. Journal Of The Formosan Medical Association, [S.L.], v. 115, n. 9, p. 734-743, set. 2016. Elsevier BV.


¹Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
²Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
³Graduando em Odontologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau
⁴Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Estácio do Recife
⁵Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
⁶Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
⁷ Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
⁸Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
⁹Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁰Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹¹Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹²Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹³Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁴Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁵Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁶Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁷Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Estácio do Recife
¹⁸Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Estácio do Recife.