THE USE OF LISDEXAMFETAMINE FOR THE TREATMENT OF DRUG USE DISORDER: COCAINE AND METHAMPHETAMINE
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10612185
Mariana Campos Bueno Soares1
Ana Flávia Queiroz Miquelanti1
Kamila Rocha Ribeiro de Oliveira1
Vanessa Pereira Tolentino2
RESUMO
O dimesilato de lisdexanfetamina é uma substância que pode ser utilizada para o tratamento de algumas condições médicas devido sua ação inibitória da receptação da captação de dopamina e de noradrenalina no neurônio pré-sináptico, tornando-se uma alternativa para o tratamento de transtornos por uso de drogas em especial a cocaína e a metanfetamina. Em uma revisão exploratória integrativa de literatura, buscou-se responder a pergunta PICO “lisdexanfetamina pode ser utilizado para o tratamento de transtorno de uso de drogas em usuários de cocaína e metanfetamina?”, com uso das bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed), com os descritores: cocaine use disorder, treatment, drug use disorder, lisdexanfetamine. Foram identificados 1.204 registros. Desses, 20 artigos foram selecionados para compor a revisão. O resultado encontrado mostrou a anfetamina como uma “terapia de substituição” à cocaína, reduzindo o desejo de administração da droga em humanos. Contudo, existe a necessidade de mais estudos referentes ao tema.
Palavras-chave: tratamento, lisdexanfetamina, cocaína
1 Introdução
O dimesilato de lisdexanfetamina é uma substância que tem a ação iniciada depois de 2 horas de sua ingestão, atualmente é bastante usada para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas pode ser utilizado para o tratamento de outras condições médicas1. Seu mecanismo de ação consiste na inibição da receptação da captação de dopamina e de noradrenalina no neurônio pré-sináptico, aumentando a quantidades destes neurotransmissores citados no espaço extra neural, para aumentar os níveis de atenção do usuário2. O uso desta substância vem se popularizado nos últimos anos sendo notado um grande aumento na última década3.
A cocaína e uma substância ilícita no Brasil, considerada uma droga que vem tento cada vez mais usuários. E uma droga extraída da planta Erytroxylum coca, que tem uma capacidade de causar dependência extremamente alta para o seu usuário4. O uso da cocaína pode trazer alterações maléficas para o sistema cardiovascular como: cardiomiopatia, morte súbita, arritmias e anormalidades eletrocardiográficas5.
A metanfetamina e uma droga neurotóxica, de uso ilícito no Brasil, que pode apresentar um alto grau de dependência a ela logo no primeiro uso, por apresentar um falso efeito de bem-estar quando a pessoa está sobre o efeito desta substância, tendo um efeito rebote de mal-estar depois que o efeito se cessa6. O seu uso traz malefícios para o organismo humano do usuário deste de convulsões até podendo levar a morte7.
Com o aumento do número de usurários das substâncias ilícitas, veio sendo percebido a necessidade de novos tratamentos para a dependência química que os usuários de tais substâncias sofrem8. Uma forma de tratamento para diminuir os sintomas da dependência dos usuários de cocaína e de metanfetamina foi o uso da lisdexanfetamina, que trouxe um efeito “anti-desejo” no tratamento da dependência destas substâncias8.
Como o uso da lisdexanfetamina e uma alternativa para o tratamento de transtornos por uso de drogas em especial a cocaína e a metanfetamina. Dessa forma, a pesquisa para analisar qual a eficácia e eficiência do uso desta substância para o tratamento destes transtornos, e qual o mecanismo de ação da ação que o dimesilato de lisdexanfetamina apresenta para o tratamento do transtorno por uso de drogas.
2 Metodologia
O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.
Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa utilizou-se da estratégia PICO (Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte questão central que orientou o estudo: “o Dimesilato de Lisdexanfetamina pode ser utilizado para o tratamento de transtorno de uso de drogas em usuários de cocaína e metanfetamina?” Nela, observa-se o P: usuários de cocaína e metanfetamina; I: Dimesilato de Lisdexanfetamina; O: tratamento do transtorno do uso de drogas.
Para responder a esta pergunta, foi realizada a busca de artigos envolvendo o desfecho pretendido utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: cocaine use disorder, treatment, drug use disorder, lisdexanfetamine. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se os operadores booleanos “and”, “or” “not”.
Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed), EbscoHost.
A busca foi realizada no mês de outubro de 2023. Como critérios de inclusão, limitou-se a artigos escritos em inglês e português, que abordassem o tema pesquisado e que estivessem disponíveis eletronicamente em seu formato integral, foram excluídos os artigos em que o título e resumo não estivessem relacionados ao tema de pesquisa e pesquisas que não tiverem metodologia bem clara.
Após a etapa de levantamento das publicações, encontrou 30 artigos, dos quais foram realizados a leitura do título e resumo das publicações considerando o critério de inclusão e exclusão definidos. Em seguida, realizou a leitura na íntegra das publicações, atentando-se novamente aos critérios de inclusão e exclusão, sendo que 10 artigos não foram utilizados devido aos critérios de exclusão. Foram selecionados 20 artigos para análise final e construção da revisão.
Posteriormente a seleção dos artigos, realizou um fichamento das obras selecionadas afim de selecionar a coleta e análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método.
A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).
Figura 1 – Fluxograma da busca e inclusão dos artigos
Fonte: Fonte: Adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analyses (PRISMA). Page et al., (2021).
3 RESULTADOS:
O Quadro 1 sintetiza os principais artigos que foram utilizados na presente revisão de literatura, contendo informações relevantes sobre os mesmos, como os autores do estudo, o ano de publicação, o título e os achados relevantes sobre a correlação do uso de Lisdexanfetamina para o tratamento de transtorno por uso de drogas: cocaína e metanfetamina.
MARIANI, J.J. et al, 2021 | Estudo piloto aberto de lisdexanfetamina para transtorno do uso de Cocaína: | A anfetamina também demonstrou em estudos de laboratório humanos reduzir a autoadministração de cocaína em humanos. |
LASSI, D.L.S. et al, 2022 | Tratamentos farmacológicos para o desejo por cocaína: qual é o caminho a seguir? Uma Revisão Sistemática | A intervenção medicamentosa ativa suprimiu o desejo e diferenciou-se do placebo. |
CHAN, B. et al, 2019 | Farmacoterapia para transtorno por uso de cocaína – uma revisão sistemática e meta-análise | Esses ensaios relataram evidências de baixa resistência de que os psicoestimulantes melhoraram a abstinência versus placebo. |
SOUZA, F. 2020 | Revisão narrativa abordando a relação entre tdah e dependência de cocaína | Sobre os achados do estudo, o grupo que fez uso do LDX relatou importantes efeitos-colaterais, como cefaléia, náusea, vômito, diarreia e ansiedade. No estudo, não foi encontrado um menor uso de cocaína no grupo que recebeu anfetaminas. |
EZARD N. et al, 2017 | Um protocolo de estudo para um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo de lisdexanfetamina para o tratamento da dependência de metanfetamina | O tempo de conversão de lisdexanfetamina para DXA resulta em um efeito mais atenuado na dopamina cerebral do que o DXA de liberação imediata e, como consequência, tem um efeito reforçador mais moderado em estudos de auto-administração devido ao início mais lento dos efeitos de pico do que outras drogas estimulantes. |
CASTELLS X. et al, 2016 | Drogas psicoestimulantes para dependência de cocaína (Revisão) | A lisdexanfetamina melhorou significativamente o desejo por cocaína em comparação com o placebo. |
COSTA, A.C.M. et al, 2022 | Farmacoterapia usada para álcool e cocaína transtornos de uso em um CAPS-AD de Minas Gerais | O uso de benzodiazepínicos ainda não está claro para AUD e CUD, exceto para tratar sintomas de abstinência e/ ou intoxicação alcoólica |
ACHESON, L.S. et al, 2022 | Lisdexanfetamina para o tratamento da abstinência aguda de metanfetamina: um ensaio piloto de viabilidade e segurança | Descobrimos que um regime de dosagem gradual de LDX era viável e seguro para o tratamento da abstinência aguda de MA em ambiente hospitalar. |
RIBEIRO, T.R. et al, 2023 | Realidade virtual, tecnologias e Transtorno por Uso de Substâncias: recomendações clínicas | Os Transtornos por Uso de Substâncias, estão associados a déficits cognitivos que se manifestam tanto durante o uso, quanto na remissão do uso da substância ativa. |
SQUEGLIA, M.L. et al 2019 | Tratamento Farmacológico da Substância Juvenil Transtornos de Uso | Embora as intervenções comportamentais, a terapia e os grupos de apoio sejam partes importantes do tratamento do TUS em jovens, são urgentemente necessárias mais pesquisas para avaliar a segurança e a eficácia da farmacoterapia. |
SIEFRIED, K.J. et al, 2020 | Tratamento farmacológico da dependência de metanfetaminas/ anfetaminas: uma revisão sistemática. | Com uso de metilfenidato durante 22 semanas para tratar transtorno por uso de metanfetamina e anfetamina, houve desejo reduzido apenas no ponto final. |
CERQUEIRA, N.S.V.B.; ALMEIDA, B.C.; JUNIOR, R.A.C. 2021 | Uso indiscriminado de metilfenidato e lisdexanfetamina por estudantes universitários para aperfeiçoamento cognitivo. | A liberação de catecolaminas e a inibição da captura das mesmas. Desta maneira, acredita-se que após sua administração e hidrólise, ad-anfetamina liberada pela lisdexanfetamina (LDX), atue na liberação de norepinefrina e dopamina, na inibição da monoamina oxigenasse (MAO), dos transportadores de norepinefrina (NET), resultando assim numa ação estimulante do sistema nervoso central (SNC). |
NICHOLAS et al., 2022 | Os efeitos da terapia assistida por mdma no uso de álcool e substâncias em um ensaio de fase 3 para tratamento de tept grave. | Um crescente corpo de pesquisas sobre tratamentos psicoterapêuticos integrados para TEPT e ASUD demonstrou ser seguro, bem tolerado e leva a reduções na gravidade dos sintomas de TEPT e no uso de substâncias |
ARAUJO, M.R.; LARANJEIRA, R.; DUNN, J. 2017 | Cocaína: bases biológicas da administração, abstinência e tratamento. | A eficácia esperada, principalmente em casos de pacientes transtorno de hiperatividade e déficit de atenção (THDA) residual, mostrou-se convincente em estudos iniciais abertos, mas não com estudos controlados |
KNEVITZ, M.F.; BUCCINI, D.F.; 2018 | Psicofármacos no tratamento da dependência química: uma revisão | fármacos como a lisdexanfetamina e o modafinil, que são estimulantes que estão sendo testados na adição por cocaína e metanfetamina. |
OLIVEIRA, L.H.D.; MELO, E.B.; BRUNI, A.T.; 2021 | The potential use of dopamine transport inhibitors in the treatment of neuropsychiatric disorders | Pesquisas recentes compostos classificados como inibidores atípicos do DAT, os quais apresentam potencial de inibição da recaptação de DA, mas não geram efeitos comportamentais eufóricos e viciantes como os observados na utilização de outros psicoestimulantes. |
BUISSA, B.A., GESSER, W.; 2008 | Farmacoterapia para dependência de cocaína: uma revisão da literatura | Um estudo recente de 14 semanas duplo-cego controlado por placebo usando metilfenidato de liberação contínua (60mg/dia) em 106 pacientes dependentes de cocaína e com TDAH encontrou uma diminuição significativa no consumo de cocaína comparado ao placebo. |
MOONEY, M.E. et al, 2015 | Estudo piloto dos efeitos da lisdexanfetamina no consumo de cocaína: um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo | Em humanos, estudos clínicos duplo-cegos demonstraram uma redução de até 50% no uso de cocaína após o tratamento com análogos de anfetaminas em dependentes de cocaína. |
BANKS, M.L. et al, 2015 | Avaliação Pré-Clínica da Lisdexanfetamina como Candidato a Medicação Agonista para Dependência de Cocaína: Efeitos em Macacos Rhesus Treinados para Discriminar Cocaína ou Autoadministrar Cocaína em um procedimento de Escolha de Cocaína versus Alimento. | lisdexanfetamina produziu substituição total para os efeitos de estímulo discriminativo da cocaína. |
NEGUS, S. et al, 2014 | Medicamentos Agonistas para o Tratamento do Transtorno por Uso de Cocaína | Consequentemente, drogas que atuam como inibidores da captação de dopamina, liberadores de dopamina ou agonistas dos receptores dopaminérgicos têm sido avaliadas como medicamentos agonistas candidatos para o tratamento do abuso de cocaína. |
4 DISCUSSÃO:
Os Transtornos por Uso de Substâncias, estão associados a déficits cognitivos que se manifestam tanto durante o uso, quanto na remissão do uso da substância ativa, ou seja, esses déficits podem persistir mesmo após abstinência de longo prazo. Nos tratamentos tradicionais, o foco está relacionado à redução ou abstinência do uso da substância, muitas vezes sem considerar déficits cognitivos e/ou acreditando que a cognição irá se recuperar totalmente após período sem uso. Além disso, os déficits estão associados a dificuldades em aderir a tratamentos, como a adesão à medicação e a implementação de psicoterapia9.
As terapias psicossociais e comportamentais, incluindo a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e as intervenções de gerenciamento de contingências (MC), são os principais tratamentos para o transtorno por uso de cocaína. No entanto, são demorados, não são universalmente acessíveis e sofrem de baixa retenção do tratamento10. Atualmente ainda não existem medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o transtorno por uso de metanfetaminas ou cocaína em adultos ou adolescentes. Embora as intervenções comportamentais, a terapia e os grupos de apoio sejam partes importantes do tratamento do Transtorno por Uso de Substâncias em jovens, são urgentemente necessárias mais pesquisas para avaliar a segurança e a eficácia da farmacoterapia11.
Há a possibilidade do tratamento dos sinais e sintomas de intoxicação com o auxílio de medicamentos como benzodiazepínicos e antipsicóticos. Por exemplo, o uso de benzodiazepínicos está relacionado para tratar abstinência e/ou intoxicação alcoólica. O uso de antidepressivos apresenta bom resultado na estabilização do humor, devido à sua indicação primária, mas isso não significa que esse efeito seja capaz de interromper o uso da droga. Da mesma forma acontece com os antipsicóticos, que, apesar de atuarem nas crises psicóticas, não tratam o transtorno causado pelo uso de cocaína12.
Em paralelo a isso, é necessária a seleção de um medicamento e formulação específicos como principal candidato à aprovação para tratamento de Transtorno por uso de drogas. Por exemplo, a anfetamina é comercializada em múltiplas formas que incluem formulações de liberação imediata e de liberação prolongada de isômeros mistos (por exemplo, Adderall) ou apenas do isômero ativo (dextroanfetamina, por exemplo, Dexedrina), bem como o pró-fármaco lisdexanfetamina conjugado com lisina. (Vyvanse). Atualmente não está claro se uma dessas formulações existentes, ou alguma formulação alternativa (ou medicamento alternativo), pode servir como um candidato principal ideal para a aprovação da FDA13.
Para o tratamento da dependência ao crack e à cocaína, não existe uma abordagem farmacológica bem estabelecida, realizando-se, assim, apenas o controle dos sintomas de abstinência, intoxicação e comorbidades psiquiátricas14. No entanto, em um estudo com trinta e oito ensaios concluídos, as anfetaminas prescritas administradas em doses robustas, foram particularmente eficazes em promover abstinência sustentada em pacientes com transtorno por uso de cocaína15.
A anfetamina e a cocaína têm características farmacológicas e clínicas semelhantes; diferem principalmente no início de ação e na meia-vida. A ação primária da anfetamina é aumentar as concentrações sinápticas de neurotransmissores monoamínicos, promovendo a liberação e, como um mecanismo menos importante, bloqueando a recaptação. Mecanismos não mediados por transportadores de dopamina também são hipotetizados para participar da liberação de dopamina induzida por anfetaminas. A administração crônica de anfetaminas demonstrou reduzir a autoadministração de cocaína em ratos e macacos rhesus, no estudo de Mariani16. Além disso, a anfetamina demonstrou em estudos de laboratório reduzir a autoadministração de cocaína em humanos.
O estudo de Castells17; apresentou melhora significativa do desejo por cocaína nos pacientes que tomaram lisdexanfetamina; a qual é uma pró-droga farmacologicamente inativa, é absorvida após administração oral e é hidrolisada em 1-lisina inativa e dexanfetamina (DXA) ativa pelos glóbulos vermelhos. É rapidamente metabolizado em DXA: o pico de concentração plasmática ocorre 3 horas após administração. A meia-vida plasmática (t½) de DXA é de10 horas, com concentrações plasmáticas atingindo o estado estacionário no dia 5 da administração de lisdexanfetamina uma vez ao dia. Não há acúmulo plasmático de lisdexanfetamina e o tempo de conversão para DXA resulta em um efeito mais atenuado na dopamina cerebral do que o DXA de liberação imediata, como consequência, tem um efeito reforçador mais moderado em estudos de auto-administração devido ao início mais lento dos efeitos de pico do que outras drogas estimulantes18.
Com o uso deste medicamento há a liberação de catecolaminas e a inibição da captura das mesmas. Desta maneira, acredita-se que após sua administração e hidrólise, a d-anfetamina liberada pela lisdexanfetamina (LDX), atue na liberação de norepinefrina e dopamina, na inibição da monoamina oxigenasse (MAO), dos transportadores de norepinefrina (NET), resultando assim numa ação estimulante do sistema nervoso central (SNC). No entanto, o uso abusivo da lisdexafetamina pode trazer grades riscos à saúde dos indivíduos usuários, podendo levar a dependência psicológica em diferentes graus19. O transporte das moléculas da dopamina pelos circuitos cerebrais também estão sendo alvo de estudo e fármacos como a lisdexanfetamina e o modafinil, que são estimulantes que estão sendo testados na adição por cocaína e metanfetamina, atuam como fracos transportadores da dopamina, o que aumenta a concentração desse neurotransmissor a nível sináptico8.
A revisão sistemática de Chan10 examina os benefícios e danos das intervenções farmacológicas para o transtorno por uso de cocaína e fez parte de um relatório mais amplo sobre transtornos por uso de estimulantes encomendado pela Veterans Health Administration (VHA); examinou psicoestimulantes para tratamento de transtorno por uso de cocaína; dentre eles estava a Lisdexafetamina. Os ensaios relataram evidências de que os psicoestimulantes melhoraram a abstinência versus placebo, porém com evidências de baixa resistência. Já no estudo de LASSI20; em aproximadamente 21% dos ensaios, a intervenção medicamentosa ativa suprimiu o desejo e diferenciou-se do placebo.
A “necessidade de cocaína” tendeu a diminuir ao longo das 14 semanas de tratamento. As taxas de uso de cocaína não diferiram entre os indivíduos tratados com LDX e com placebo. No entanto, aqueles que receberam LDX relataram significativamente menos desejo por cocaína do que aqueles que receberam tratamento com placebo, outras observações neste estudo sugerem que o LDX pode justificar estudos adicionais. Em comparação com os indivíduos tratados com placebo, aqueles que receberam LDX relataram um desejo significativamente menor por cocaína durante a fase de tratamento de 14 semanas. Numa análise de dados secundários, os indivíduos tratados com LDX apresentaram taxas de consumo de cocaína significativamente mais baixas do que os indivíduos tratados com placebo. É importante ressaltar que esta relação não pode ser interpretada como causal, uma vez que a amostra aleatória completa não foi analisada. No entanto, a possível eficácia do LDX é sugerida e apoiada por resultados pré-clínicos21.
Os membros desse grupo relataram ter um impulso muito menor para consumir a droga22.
Outro estudo examinou um novo tratamento para a abstinência aguda de metanfetamina (MA), que não possui tratamento eficaz em nenhuma jurisdição. Descobriram que um regime de dosagem gradual de LDX era viável e seguro para o tratamento da abstinência aguda de MA em ambiente hospitalar. Além disso, são necessários ensaios maiores, randomizados e controlados em ambientes hospitalares e ambulatoriais23.
Em simultâneo, os resultados deste estudo24 respaldam a identificação da lisdexanfetamina como uma possível substância com efeito agonista no abuso de cocaína. Além disso, sugerem que os efeitos semelhantes aos da cocaína provocados pela lisdexanfetamina são exclusivamente mediados pelo seu metabólito ativo, a d-anfetamina, em macacos rhesus. A lisdexanfetamina ocasionou uma completa substituição nos efeitos de estímulo discriminativo da cocaína. Adicionalmente, observou-se que a lisdexanfetamina gerou efeitos de estímulo discriminativo similares aos da cocaína, apresentando um início de ação mais lento e uma duração mais prolongada em comparação com a d-anfetamina. Nestas condições, a lisdexanfetamina reduziu de forma significativa a escolha da cocaína, aumentando a preferência por alimentos, sem, contudo, afetar o número total de reforços obtidos. Estes resultados constituem evidências robustas de que o tratamento com lisdexanfetamina pode atenuar os efeitos reforçadores da cocaína em relação aos alimentos.
A Dextroanfetamina liga-se aos transportadores pré-sinápticos de dopamina e norepinefrina, promovendo a liberação destes neurotransmissores. Em macacos rhesus, ela diminui a auto-administração de cocaína13. Três estudos duplo-cego controlados por placebo usando d-anfetamina (15-60 mg/dia na formulação de liberação controlada) em pacientes dependentes de cocaína ou dependentes de cocaína e heroína, mostrou redução do uso de cocaína nas doses maiores (30-60 mg/dia)25.
Dois estudos revistos examinaram a dexanfetamina como tratamento com agonistas estimulantes. O primeiro estudo revisou 49 participantes com dependência de MA e prescreveu 110 mg diários de dexanfetamina oral de liberação sustentada durante 16 semanas. Ele mediu o uso de MA por autorrelato e análise do cabelo, gravidade da dependência ao longo do tempo e retenção de tratamento – não encontrando diferença estatisticamente significativa entre os grupos de estudo na análise planejada. A análise post-hoc demonstrou uma redução nos sintomas de dependência de MA no braço de dexanfetamina em comparação com placebo usando o Leeds Dependence Questionnaire. A análise secundária incluiu sintomas de abstinência. Os participantes aleatorizados para dexanfetamina demonstraram uma maior redução na gravidade da abstinência em comparação com placebo; no entanto, os participantes eram pacientes ambulatoriais e o uso contínuo de MA complica a interpretação dos escores de abstinência26.
A longo prazo, lisdexanfetamina, foi um dos medicamentos que apresentou resultados promissores efeitos antidesejo. Recomendações do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime afirmam que medicamentos estimulantes, como as anfetaminas, podem ter efeitos modestos na abstinência e na supressão do desejo em pacientes com transtorno por uso de estimulantes. Estas recomendações referem-se aos estimulantes como “substituição” ou “terapia de substituição” e destacam estudos que encontraram evidências de supressão do desejo após a administração de formulações de libertação prolongada de metanfetamina 30 mg/dia e lisdexanfetamina 70 mg/dia27.
5 CONCLUSÃO
Os Transtornos por Uso de Substâncias estão associados a déficits cognitivos que podem persistir mesmo após abstinência de longo prazo, e que não são considerados em tratamentos tradicionais, que abrangem apenas terapias psicossociais e comportamentais. A falta de eficácia dessa assistência torna urgente maiores estudos para aplicação da farmacoterapia nesses casos, com o tratamento dos sinais e sintomas de intoxicação.
Medicamentos como benzodiazepínicos e antipsicóticos estão relacionados apenas ao tratamento da abstinência e à estabilização do humor. Nesse sentido, é necessária a seleção de um medicamento e formulação específicos para o tratamento da dependência. Nesse contexto, as formulações da anfetamina são uma alternativa de “terapia de substituição”, já que têm características farmacológicas e clínicas semelhantes à cocaína.
Portanto, a lisdexafetamina, que tem uma ação estimulante do sistema nervoso central (SNC) e possui início mais lento dos efeitos de pico do que outras drogas estimulantes, reduziu o desejo de administração da droga em humanos, ainda que não diminua a taxa de uso. Essa substância é um potencial medicamento agonista para o abuso de cocaína, embora apresente riscos à saúde dos indivíduos usuários, podendo levar a dependência psicológica em vários níveis. Existe ainda a necessidade de maiores estudos sobre o tema.
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1Discente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM)
2Docente do curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM)