O USO DA ESCALA DE ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA PARA AVALIAÇÃO DOS IDOSOS COM DOENÇA DE PARKINSON DO LAR DA PROVIDÊNCIA

Danielle Cristina Araújo da Silveira; Isabelle Carolline Veríssimo de Farias; Leyla Brilhante de Oliveira; Renata de França Gomes; Viviane Valéria de Caldas Guedes
RESUMO
A doença de Parkinson (DP) é uma doença crônica progressiva do sistema nervoso, devido á deficiência de dopamina na via nigro-estriatal do cérebro, caracterizado pelos sinais cardinais de rigidez, acinesia, bradicinesia, tremor e instabilidades posturais. O objetivo desta pesquisa é caracterizar junto com a Escala de Atividades Básicas de Vida Diária o grau de independência nos idosos portadores da doença de Parkinson do Lar da Providência. De modo que, através desses dados, a fisioterapia possa atuar na prevenção e no tratamento da patologia. Para o referido estudo, foi feita uma pesquisa de campo com fins exploratórios e descritivos, utilizando-se como instrumentos de coleta de dados uma escala aplicada aos pacientes ou cuidadores dos portadores da doença de Parkinson. Dessa forma através dos resultados obtidos verificou-se que a maior parte dos pacientes são independentes para a maioria das atividades de vida diária.
Palavras-chave: Parkinson, Escala, Independência, Fisioterapia.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um dos grandes desafios a serem enfrentados nas próximas décadas. A sociedade terá de encontrar soluções para manter a qualidade de vida para os seres humanos, pois se sabe que, à medida que os anos passam, pode aumentar a incapacidade funcional, o que compromete as independências físicas, mentais e autonomia da pessoa.
A doença de Parkinson (DP) é uma doença crônica progressiva do sistema nervoso, devido á deficiência de dopamina na via nigro-estriatal do cérebro, caracterizado pelos sinais cardinais de rigidez, acinesia, bradicinesia, tremor e instabilidades posturais. Além disso, a doença pode causar uma variedade de comprometimentos indiretos e complicações, alguns dos quais produzidos por diferentes combinações dos sinais cardinais, incluindo distúrbios do movimento e da marcha, expressão facial, distúrbios cognitivos e perceptivos, disfunção da comunicação e deglutição, disfunção autonômica, etc(O’ SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A doença de Parkinson representa 80% dos casos de Parkinsonismo. Acomete preferencialmente pessoas com idade superior a 50 anos. A incidência e a prevalência aumentam com o avançar da idade. Apesar dos novos conhecimentos adquiridos nos últimos anos, a causa da Doença de Parkinson permanece desconhecida. Provavelmente, existem múltiplos fatores que se somam: fatores genéticos, ambientais e do envelhecimento (FREITAS et al, 2002). A Doença de Parkinson é classificada por O´Sullivan (2004) como: Parkinson Primário que vem de causas desconhecidas, Parkinson Secundário que surge de causas desconhecidas e é subdividida em Parkinson pós-infeccioso, Parkinson Tóxico, Parkinson Farmacológico, Parkinson por causas metabólicas e Parkinson Atípico ou plus. O diagnostico da doença de Parkinson é baseado na identificação dos sinais e sintomas que compõem o quadro clínico. A eficácia diagnostica está diretamente relacionada à história clínica detalhada, exame físico e à identificação de pelo menos dois de três sinais motores: tremor, rigidez e bradicinesia (FREITAS et al, 2002).
Com o desenvolvimento de novos tratamentos para a DP, tornou-se necessário criar e desenvolver escalas para avaliar doença. Essas escalas avaliam desde a condição clínica geral, incapacidades, função motora e mental até a qualidade de vida dos pacientes. Tais instrumentos são importantes tanto no nível clínico quanto cientifico, pois permitem monitorar a progressão da doença e a eficácia de tratamentos e drogas (PERIERA; GOULART, 2004).
A fisioterapia é amplamente usada no processo de reabilitação neurológica, procurando retardar ou impedir a perda de habilidades gerais e a invalidez. Na DP o tratamento fisioterapêutico tem como objetivos melhorar a mobilidade, força muscular, equilíbrio, aptidão física e a qualidade de vida dos pacientes (PERIERA; GOULART, 2004).
Assim, o objetivo desta pesquisa é caracterizar junto com a Escala de Atividades Básicas de Vida Diária o grau de independência nos idosos portadores da doença de Parkinson do Lar da Providência. De modo que, através desses dados, a fisioterapia possa atuar na prevenção e no tratamento da patologia.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo, que é utilizada com o objetivo de “conseguir informações e/ ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, que se queira comprovar ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”. Realizou-se uma revisão de artigos científicos, periódicos e literaturas atuais de bases confiáveis (ANDRADE, 1999). O planejamento do estudo é do tipo transversal, que segundo Reichert (2007) investigam a presença de doenças ou aspectos positivos/ negativos da saúde em um grupo ou população em um dado momento.
A população foi composta por todos os idosos do lar da providência, e para amostra, buscou-se a participação de todos os pacientes com diagnóstico médico da doença de Parkinson, apresentando algumas patologias associadas.
A pesquisa foi realizada no Lar da Providência Carneiro da Cunha, na cidade de João Pessoa-PB, que se caracteriza por ser uma instituição de longa permanência para idosos. Todos os pacientes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, em seguida foi aplicada uma escala de atividades básicas de vida diária, desenvolvida e modificada de Katz S, Downs TD, Cash HR, et al. Está escala avalia certas atividades como: banho, vestir-se, higiene pessoal, transferência, continência e alimentação. A escala de Katz está incluída na maioria das avaliações multidimensionais e tem mostrado sua validade nos quase 40 anos em que vem sendo utilizada.
Após a coleta de dados, obtida através da escala, compilou-se os mesmos em gráficos e, a partir desses, foi realizada uma análise quantitativa e qualitativa á luz da literatura selecionada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A OMS destaca a capacidade funcional e a independência como fatores preponderantes para o diagnóstico da saúde física e mental da população idosa. A realização adequada de uma tarefa do cotidiano envolve a participação das funções cognitivas, motoras e psicológicas (GORETTI; PEREIRA; OLIVEIRA, 2005).
A dimensão de estado funcional é central para a avaliação geriátrica. Os instrumentos que a avaliam são variados e com objetivos diversos. Podem ser utilizados como medidas de saúde geral ou específica; servir como instrumentos de pesquisa, triagem ou avaliação clínica; medir graus de dependência mais grave e até incapacidade para funções físicas e sociais (PAIXÃO; REICHENHEIM, 2005).
Segundo Caldas (2003), a dependência não é um estado permanente, mas um processo dinâmico, cuja evolução pode ser modificada, prevenida e/ou reduzida. Tal evolução nesse processo sugere a existência de profissionais qualificados e comprometidos com a assistência ao idoso. As necessidades de cuidado requerem desenvolvimento de suas atividades básicas da vida diária, à medida que, impossibilitado para o autocuidado, o cuidador assume o papel de provedor desses cuidados.
As atividades básicas são aquelas que se referem ao auto cuidado, ou seja, são as atividades fundamentais para manutenção da independência, como capacidade para alimentar-se, ter continência, locomover-se, tomar banho, vestir-se e usar o banheiro. Essas atividades foram denominadas atividades básicas de vida diária, ou, simplesmente, atividadees de vida diária (AVD) (FREITAS et al, 2002).
Segundo SMELTZER e BARE (2000), doenças como mal de Parkinson, comprometimento cardiovascular e osteoporose são causas da diminuição da mobilidade do idoso.
No decorrer deste item, apresentar-se-á os resultados obtidos através da Escala de Atividades Básicas de Vida Diária, que consta em anexo, com pacientes portadores de Parkinson residentes no Lar da Providência. Estes resultados serão, logo em seguida, discutidos, de forma que facilite ao leitor a melhor compreensão dos dados coletados.
4.1 Caracterização dos sujeitos
Para esta pesquisa foi solicitada a participação de todos os pacientes portadores desta patologia residentes no Lar da Providência independente de outras patologias associadas. A participação destes, foi de 100% totalizando uma população de 7 portadores da doença de Parkinson.
Com relação à idade dos participantes, para facilitar o entendimento, foi dividida a faixa etária por décadas, sendo a média de idade é de 78,8 anos, onde a idade mínima é de 64 e a máxima é de 92 anos de idade. Ver Gráfico 1 abaixo.
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De acordo com a variável sexo, observou-se uma prevalência feminina (71,4%), sendo 5 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, conforme o Gráfico 2.
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Com relação ao tempo em que foi diagnosticada a patologia, foi encontrado pacientes que descobriram a meses e outros que tiveram seu diagnóstico descoberto há anos, sendo nestes a média de 4,5 anos, com o menor sendo há aproximadamente 3 anos e o maior há 6 anos. O Gráfico 3 explana melhor os dados coletados.
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As patologias associadas foram divididas da seguinte forma: problemas cardiovasculares, que engloba (insuficiência valvar, varizes nos membros, hipertensão arterial sitêmica, arritimias); problemas neurológicos (acidente vascular encefálico, Alzheimer); problemas reumatológicos (osteoartrose) e outros (Glaucoma, constirpação, aumento do volume testicular). O Gráfico 3 demonstra as porcentagens destas patologias associadas logo em seguida.
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4.2 A Aplicação da Escala de Atividades Básicas da Vida Diária
A aplicação da Escala de Atividades Básicas de Vida Diária – Escala de Katz (banho, vestir-se, higiene pessoal, continência e alimentação) revelou que a totalidade dos idosos apresentou escore compatível com independência.
Foi percebido que 100% dos pacientes apresentaram independência para o banho, ou seja, eles não recebem ajuda ou somente recebem ajuda para uma parte do corpo. Para vestir-se foi percebido que 60% deles eram independentes para pegar a roupa e vestir sem qualquer ajuda, exceto para amarrar os sapatos. Na higiene pessoal observou-se que 100% dos participantes da pesquisa são independentes para ir ao banheiro, usá-lo, vestir-se e retornar sem ajuda (podendo usar andador ou bengala). Com relação a continência, apenas 40% são continentes duplos, ou seja, controlam completamente urina e fezes. Na alimentação Foi percebido que 80% conseguiam comer sem ajuda, exceto ajuda para cortar carne ou passar manteiga no pão.
De acordo com a análise da escala observamos 4 (80%) dos pacientes são independentes para as atividades da vida diária (AVDs) com somatório das respostas “sim” em 6 ou 5, enquanto que apenas 1 ou 20% é dependente parcial com somatório de respostas “sim” de 3.
Relacionando o grau de independência para as AVDs com o tempo de instalação da doença, percebemos que nestes pacientes o que mais influencia são as patologias associadas, já que alguns apresentam maior independência apesar de maior tempo de diagnóstico da patologia.
De acordo com a pesquisa foi observado que a maioria dos participantes são independentes na atividade diária do banho, ou seja, não recebem ajuda ou somente recebem para a limpeza de alguma parte do corpo. Dos 7 pacientes participantes, 6 deles (86%) são independentes e apenas 1 (14%) apresenta dependência importante de acordo com o Gráfico 5.
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Foi observado que 4 dos pacientes são independentes para esta atividade, ou seja, pegam as roupas e se vestem sem qualquer ajuda, exceto para amarrar os sapatos. Os demais (3 pacientes) precisam de ajuda na atividade de vestir-se conforme o Gráfico 6.
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Para higiene pessoal foi observado que apenas 1 (14%) paciente respondeu não para independência a ir ao banheiro, usá-lo, vestir-se sem qualquer ajuda podendo usar andador e bengala. Todos os demais, 6 ou (86%), vão ao banheiro ou vestem-se de forma independente de acordo com o Gráfico 7.
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O Gráfico 8 demonstra o grau de independência durante a transferência pela maioria (6 ou 86%) dos participantes da pesquisa, isto é, conseguem deitar na cama, sentar na cadeira e levantar sem ajuda, podendo usar andador ou bengala. E apenas 1 ou 14% apresenta dependência importante.
A mobilidade, capacidade de deslocamento do indivíduo no ambiente, é um componente da função física extremamente importante; constituindo um pré-requisito para a execução das atividades de vida diária e a manutenção da independência. Seu prejuízo pode gerar dependência e incapaciadade.
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De acordo com a item continência da Escala, foi observado que 4 (57%) dos pacientes não conseguem controlar completamente a urina e as fezes, e os outros 3 (43%) restantes são continentes duplos, conforme explana o Gráfico 9.
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Na independência para a alimentação foi observado que apenas 1 (14%) paciente apresentou respondeu sim, apresenta do dependência importante, enquanto que a maioria, 6 ou 86%, são independentes e responderam não. Esta independência se refere a comer sem ajuda (exceto para cortar carne ou passar manteiga no pão), como esta demonstrado no Gráfico 10.
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De acordo com a análise da Escala de Atividades Básicas de Vida Diária observamos que 5 ou 80% dos pacientes são independentes para as atividades da vida diária (AVDs) com somatório das respostas “sim” em 6 ou 5, enquanto que apenas 1 ou 20% é dependente parcial com somatório de respostas “sim” de 3.
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Relacionando o grau de independência para as AVDs com o tempo de instalação da doença, percebemos que nestes pacientes o que mais influencia são as patologias associadas, já que alguns apresentam maior independência apesar de maior tempo de diagnóstico da patologia.
CONCLUSÃO
O trabalho da fisioterapia é primordial no tratamento de pacientes com a DP. Buscando diminuir a disfução física e permitir ao individuo realizar atividades de seu dia-a-dia com maior independência funcional possível.
Essa pesquisa trouxe um crescimento gratificante, além de poder contribuir para a sistematização de estudos nessa área; poder servir de incentivo para outros profissionais desenvolverem trabalhos neste campo e conseqüente divulgação da importância da utilização de escalas na avaliação fisioterapêutica.
Portanto, a nossa pesquisa viou através de um estudo de campo no Lar da Providência buscar resultados oriundos da escala, aplicada aos pacientes parkinsonianos para fornecer subsídios que confirmam a importância da fisioterapia nas atividades de vida diária do paciente.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Maria de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1999.
CALDAS, C. P. Envelhecimento com dependência: responsabilidade e demandas da família.Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19,n. 13, p. 773-781, maio/jun. 2003.
FREITAS et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Ed Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2002.
OLIVEIRA, D.L.C; GORETTI, L.C; PEREIRA, L.S.M. O Desempenho de Idosos Institucionalizados com Alterações Cognitivas em Atividades de Vida Diária e Mobilidade: Estudo Piloto. Revista Brasileira de Fisioterapia. Vol.10, No.1 (2006), 91- 96.
PAIXÃO, Carlos Montes; REICHENHEIN, Michael E. Uma Revisão sobre Instrumentos de Avaliação do Estado Funcional do Idoso. Cad. Saúde Pública, Vol.21 No.1. Rio de Janeiro, 2005.
PEREIRA, Luciana Xavier; GOULART, Fátima. Uso de Escalas para Avaliação da Doença de Parkinson em Fisioterapia. Fisioterapia e Pesquisa Vol.11, No 1. Abril, 2005.
REICHERT, Felipe Fossati. Tipos de Estudo Metodológicos. Disponível em: www.ufpel.edu.br/odonto/pged/material_didatico/estudos_epidemiologicos.pdf. Acesso em: 17/04/07 as 19:00.
SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Bruner &Sudarth: Tratado de enfermagem médico-Cirúr-gico. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
SULLIVAN, Susan B.; SCHIMTZ. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 4ed. Editora Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2004.