O TRATAMENTO DO MIXOMA ODONTOGÊNICO BASEADO EM PRINCÍPIOS PATOLÓGICOS E ANATÔMICOS

THE TREATMENT OF ODONTOGENIC MYXOMA BASED ON PATHOLOGICAL AND ANATOMICAL PRINCIPLES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7767127


Renato de Souza
Priscila Valério de Oliveira
Sara Roberta Silva Xerfan
Rachel Leal Marcelino da Rocha
Geovana Tissotti Panazzollo
Marcyo Keveny de Lima Freitas
Ana Flávia Alcantara Serrão
Flávia Galvão Silvestre Marcelino
Everton Glaucon da Silva Ferreira
Livia Thamyris de Souza Silva Vasconcelos
Hanna Ulyara Ferreira de Almeida
Alexandro Barbosa de Araújo


RESUMO 

O mixoma odontogênico (MO) é um tumor benigno, porém infiltrativo, com origem em células mesenquimais. É caracterizada por quantidade excessiva de substância fundamental mucóide. O tratamento dos tumores odontogênicos benignos varia significativamente com base no diagnóstico histopatológico exato, pois nem todos os tumores apresentam o mesmo comportamento. Nesse contexto, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca do tratamento do mixoma odontogênicos, baseado em princípios patológicos e anatômicos. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. O mixoma odontogênico é um tumor benigno, mas localmente agressivo; o diagnóstico positivo é baseado na análise histológica do espécime. Devido à sua raridade, ainda não há diretrizes claras quanto ao manejo da MO. A detecção precoce e a intervenção com avaliação periódica cuidadosa podem ajudar a evitar métodos de tratamento agressivos e sua morbidade. 

Palavras-chave: Tumor odontogênicos. Ameloblastoma. Mandíbula. Maxila. Margem cirúrgica. 

SUMMARY

Odontogenic myxoma (OM) is a benign but infiltrative tumor, originating from mesenchymal cells. It is characterized by an excessive amount of mucoid ground substance. The treatment of benign odontogenic tumors varies significantly based on the exact histopathological diagnosis, as not all tumors behave the same. In this context, the present study aims to review the literature on the treatment of odontogenic myxoma, based on pathological and anatomical principles. For the construction of this article, a bibliographical survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. Odontogenic myxoma is a benign but locally aggressive tumor; positive diagnosis is based on histological analysis of the specimen. Due to its rarity, there are still no clear guidelines regarding the management of OM. Early detection and intervention with careful periodic evaluation can help to avoid aggressive treatment methods and their morbidity.

Keywords: Odontogenic tumors. Ameloblastoma. Jaw. Jaw. Surgical margin.

1 INTRODUÇÃO 

O mixoma odontogênico (MO) é um tumor benigno, porém infiltrativo, com origem em células mesenquimais. É caracterizada por quantidade excessiva de substância fundamental mucóide. A MO pode ser central (MOC) ou periférica (MOP), sendo esta última rara e menos agressiva (ALBANNAI; ABOSALEH, 2020).

O MOP apresenta-se, clinicamente, como massa exofítica de crescimento lento, pediculada ou séssil. Ao exame histopatológico observa-se células fusiformes estreladas com núcleos redondos em normalidade, com presença abundante de substância fundamental mucoide amorfa. A MO é originado do ectomesênquima odontogênico de um dente em desenvolvimento e/ou células mesenquimais do ligamento periodontal. O MO é composto por células estreladas e fusiformes em um abundante estroma extracelular mixóide (LEISER; ABU-EL-NAAJ; PELED, 2009; NOFFKE et al., 2007). 

Alguns aspectos moleculares do MO são bem descritos, tais como: a expressão de metaloproteinases de matriz (MMPs) e proteínas antiapoptóticas ; alterações no receptor ativador do ligante do fator nuclear kappa B (RANKL) e no sistema da osteoprotegerina (OPG); e alterações genéticas. Apesar disso, a mecânica de seu comportamento invasivo ainda não foi definida (GOMES et al., 2011; NOFFKE et al., 2007).

O tratamento dos tumores odontogênicos benignos varia significativamente com base no diagnóstico histopatológico exato, pois nem todos os tumores apresentam o mesmo comportamento (RINGER; KOLOKYTHAS, 2017). Nesse contexto, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca do tratamento do mixoma odontogênicos, baseado em princípios patológicos e anatômicos. 

2 METODOLOGIA 

Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativo. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso, tratamento do mixoma odontogênicos, baseado em princípios patológicos e anatômicos (PEREIRA et al., 2018). 

Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão. 

Foi utilizada a estratégia PICOS para a elaboração da pergunta norteadora, sendo o PICOS (Patient/population/disease; Exposure or issue of interest, Comparison Intervention or issue of interest Outcome), a População (P): Pacientes com mixoma odontogênico; Intervenção (I): Manejo reabilitador; Comparador (C): Não se aplica; Desfecho (O): Não se aplica; Desenho do estudo (S) = Estudos prospectivos e retrospectivos, randomizados e não randomizados que relatam o tratamento do mixoma odontogênico baseado em princípios patológicos e anatômicos. Diante disso, construiu-se a questão norteadora: “quais o manejo a ser seguido em casos de mixoma odontogênicos, baseado em princípios patológicos e anatômicos?” (Tabela 1).

Tabela 1 – Elementos da estratégia PICOS, Brasil, 2022.

Fonte: Autoria própria, 2023.

Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas em quatro bases de dados: SciVerse Scopus (https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Eletronic Library Online – Scielo (https://scielo.org/), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e ScienceDirect (https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/), com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2000 a 2022.  

A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês. 

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo.  Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra. 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 2795 artigos científicos, dos quais 324 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos, outros 2390 foram excluídos. Assim, 81 artigos foram lidos na íntegra e, com base nos critérios de inclusão e exclusão, apenas 22 artigos foram selecionados para compor este estudo. O fluxograma com detalhamento de todas as etapas de seleção está na figura 1.

Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos estudos.

Fonte: os autores, 2023.

O mixoma odontogênico (OM) é uma neoplasia benigna intraóssea incomum , localmente invasiva, que ocorre mais frequentemente em adultos jovens na região posterior da mandíbula. Geralmente se manifesta como uma lesão radiolúcida unilocular/multilocular com trabeculação óssea característica. A avaliação pré-operatória começará neste momento, pois o clínico pode comparar achados radiográficos e clínicos. Uma modalidade de imagem tridimensional de nível médio ou de consultório pode ser usada para identificar completamente a extensão da lesão (LEISER; ABU-EL-NAAJ; PELED, 2009; SIMON et al., 2004).

O tumor está associado a uma alta taxa de recorrência variando de 10% 4 a 43% 5 com média de 25%, 6 e isso é atribuído à sua natureza mixomatosa, ausência de cápsula e penetração da lesão no osso circundante sem sua destruição imediata. As margens não são claramente identificáveis ​​radiograficamente, possivelmente devido à falta de destruição imediata que leva à remoção incompleta e, finalmente, à recorrência (SAALIM et al., 2019). 

Com o objetivo de minimizar as recidivas, quando o osso envolvido pelo tumor é inviável para procedimentos de reconstrução e a extensão da lesão não contraindica essa opção de tratamento, a ressecção cirúrgica com margem de segurança é recomendada (LEISER; ABU-EL-NAAJ; PELED, 2009; SIMON et al., 2004). 

Considerando o tamanho da lesão, Boffano et al. (2011), preconizam tratamento conservador para lesões pequenas (diâmetro menor que 3 cm) que consiste em enucleação/curetagem e ressecção segmentar com reconstrução imediata para tumores maiores. É importante equilibrar o uso da abordagem radical com a manutenção da presença de estruturas vitais ou não envolvidas para preservar a função o máximo possível. 

Uma abordagem adjuvante alternativa para enucleação e curetagem inclui osteotomia periférica para remover uma margem circunferencial de osso ao redor do tumor. Essa abordagem adjuvante tem menor morbidade associada, mas só pode ser considerada em casos com suporte ósseo suficiente. Entretanto, como a lesão não apresenta cápsula e infiltra facilmente os tecidos circundantes, a enucleação e a curetagem não são adequadas e levarão a altas taxas de recorrência. Uma margem cirúrgica positiva está presente quando essas infiltrações de tecidos moles não são completamente removidas cirurgicamente (BOFFANO et al., 2011; SUBRAMANIAM et al., 2016)

A ressecção resulta em menor taxa de recorrência, porém apresenta algumas desvantagens, como função comprometida e morbidade estética. Déficits temporários e permanentes do nervo alveolar inferior têm sido associados à ressecção quando comparados ao tratamento conservador. Também pode estar associada à perda da função (incluindo mastigação e fala) e desfiguração facial que afeta a qualidade de vida do paciente. No entanto, essas variáveis ​​de qualidade de vida ainda não foram avaliadas e devem ser consideradas em estudos futuros (LEISER; ABU-EL-NAAJ; PELED, 2009; NOFFKE et al., 2007).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mixoma maxilar é um tumor benigno, mas localmente agressivo; o diagnóstico positivo é baseado na análise histológica do espécime. Devido à sua raridade, ainda não há diretrizes claras quanto ao manejo da MO. A detecção precoce e a intervenção com avaliação periódica cuidadosa podem ajudar a evitar métodos de tratamento agressivos e sua morbidade

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBANNAI, H.; ABOSALEH, H. Peripheral odontogenic myxoma: Report of a recurrent case and review of literature. Oral and Maxillofacial Surgery Cases, v. 6, n. 3, p. 100165, 2020. 

BOFFANO, P. et al. Surgical Treatment of Odontogenic Myxoma. Journal of Craniofacial Surgery, v. 22, n. 3, 2011. 

GOMES, C. C. et al. Molecular review of odontogenic myxoma. Oral Oncology, v. 47, n. 5, p. 325–328, 2011. 

LEISER, Y.; ABU-EL-NAAJ, I.; PELED, M. Odontogenic myxoma – A case series and review of the surgical management. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 37, n. 4, p. 206–209, 2009. 

NOFFKE, C. E. E. et al. Odontogenic myxoma: review of the literature and report of 30 cases from South Africa. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology, and Endodontology, v. 104, n. 1, p. 101–109, 2007. 

RINGER, E.; KOLOKYTHAS, A. Bone Margin Analysis for Benign Odontogenic Tumors. Oral and Maxillofacial Surgery Clinics of North America, v. 29, n. 3, p. 293–300, 2017. 

SAALIM, M. et al. Recurrence rate of odontogenic myxoma after different treatments: a systematic review. British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 57, n. 10, p. 985–991, 2019. 

SIMON, E. N. M. et al. Odontogenic myxoma: a clinicopathological study of 33 cases. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 33, n. 4, p. 333–337, 2004. 

SUBRAMANIAM, S. S. et al. Odontogenic myxoma in the paediatric patient: a review of eight cases. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 45, n. 12, p. 1614–1617, 2016.