O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E AS INTERVENÇÕES LÚDICAS UTILIZADAS NA TERAPIA OCUPACIONAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12019945


Ivana Dos Santos Barros1
Orientadora: Ana Paula Monteiro Rego2
Coorientador: Cleiton Francisco Rêgo de Oliveira3


RESUMO

O Terapeuta Ocupacional lança mão de diversas estratégicas lúdicas afim de promover integração social, controle emocional, potencializando as habilidades e consequente melhorias na qualidade de vida da pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Enquanto o TO executa a prática lúdica também observa, identifica dificuldades, orienta e intervém.  Este trabalho foi construído a partir de uma revisão integrativa da literatura com a finalidade de reunir e sintetizar os resultados acerca do tema, sendo a apresentação final desta revisão constituída por 12 publicações, sendo 11 artigos e 01 Manual publicados no idioma português, entre o período de 2017 a 2023. O presente trabalho tem por objetivo abordar a prática lúdica da terapia ocupacional no atendimento a pessoa com TEA. Os estudos apontam que intervenções lúdicas da terapia ocupacional vêm contribuindo positivamente para a comunicação, o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo da pessoa com TEA, melhorando assim a qualidade de vida através de atividades lúdicas como jogos, brincadeiras com ou sem brinquedos, com uso de figuras, imagens e sons, pictográficos, ou até mesmo brincadeiras corporais, o faz de conta e atividades desportivas. Apesar da utilização do lúdico na terapia ocupacional ser uma abordagem profissional que vem se expandido ao longo dos anos, se faz necessário a realização de mais pesquisas e reflexões acerca das práticas, bem como do aprofundamento sobre as especificidades da terapia ocupacional e propagação de seus resultados.

Palavraschaves: Transtorno do Espectro Autista; lúdico; terapia ocupacional.

ABSTRACT

The Occupational Therapist uses various playful strategies to promote social integration, emotional control, enhancing skills and consequent improvements in the quality of life of people with Autism Spectrum Disorder. While the OT carries out the playful practice, he also observes, identifies difficulties, guides and intervenes.  This work was constructed from an integrative review of the literature with the purpose of gathering and synthesizing the results on the topic, with the final presentation of this review consisting of 12 publications, 11 articles and 01 manual published in the Portuguese language, between the period from 2017 to 2023. The present work aims to address the playful practice of occupational therapy in caring for people with ASD. Studies indicate that playful occupational therapy interventions have contributed positively to communication, cognitive, motor and affective development of people with ASD, thus improving quality of life through playful activities such as games, playing with or without toys, using figures, images and sounds, pictographic, or even body games, make-believe and sporting activities. Although the use of play in occupational therapy is a professional approach that has expanded over the years, it is necessary to carry out more research and reflections on practices, as well as deepening the specificities of occupational therapy and propagating its results.

Keywords: Autism Spectrum Disorder; ludic; occupational therapy.

1. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é considerado um distúrbio neurobiológico que compromete o desenvolvimento social do indivíduo, apresentando um déficit na comunicação social e no comportamento. Além de apresentar muitos níveis com comportamentos diferentes a depender do estágio do TEA. Quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento acontecerem, melhores são as chances do desenvolvimento ser menos comprometido (Heleno et al, 2020).

Uma pessoa diagnosticada com TEA, necessitará de um acompanhamento ao longo de toda a sua vida e o Terapeuta Ocupacional (TO) poder intervir em vários momentos das pessoas com quadro de TEA, além de suporte e orientações aos seus familiares (Bonfim et al, 2023).

Considerando que houve um aumento significativo na incidência de pessoas diagnosticadas com TEA e a necessidade de investigar as estratégias de intervenções lúdicas para inclusão e desenvolvimento da interação e comunicação da pessoa com TEA, este trabalho buscou reunir de forma sintetizada o que a literatura apresenta acerca da intervenção da Terapia Ocupacional com pacientes com diagnóstico de TEA através de recursos lúdicos (Monteiro e Santos, 2022).

Nesse contexto, a presente revisão traz uma suscinta descrição do conceito de TEA destacando os principais sintomas e as necessidades de intervenção, tendo como objetivo apresentar a atuação do Terapeuta Ocupacional no atendimento a pessoa autista destacando a prática lúdica da terapia ocupacional como metodologia no tratamento da pessoa com TEA e seus benefícios.

2. MÉTODO

Para a construção deste trabalho foi realizada uma revisão integrativa da literatura. Este é um estudo de cunho qualitativo e interpretativo, que se propôs a sintetizar os principais estudos sobre o tema, a fim de proporcionar ainda mais contribuições científicas na área da Terapia Ocupacional.

A Revisão Integrativa (RI) da literatura como metodologia permite a síntese do conhecimento e a inclusão de novos estudos objetivando nortear a prática com base no conhecimento científico (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

O processo de produção deste trabalho seguiu as seguintes fases: 1) Definição da pergunta norteadora; 2) Busca na literatura; 3) Delimitação dos critérios de inclusão e exclusão; 4) Coleta de informações; 5) Análise dos dados pesquisados; 6) Discussão dos resultados (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

Para nortear a construção desta revisão os critérios de inclusão adotados foram: artigos no idioma português publicados entre o período de 2017 à 2023, publicações completas e originais que abrangessem a discussão sobre a temática utilizando os descritores “terapia ocupacional”, “brincar” e “Transtorno do Espectro Autista”. No que se refere aos critérios de exclusão foram estabelecidos: artigos incompletos ou não disponíveis on-line, que não estivessem no período de publicação estabelecido, que não estivessem em português e que não abordassem a temática de estudo.

 Após a seleção foram adotados 11 artigos disponibilizados nas plataformas Google Acadêmico e UFRJ que atenderam aos critérios de inclusão, além do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) disponibilizado na plataforma da Academia e utilizado como suporte na construção dessa revisão.

Para a finalização deste trabalho foi elaborada a apresentação desta revisão com a descrição dos principais resultados comprovados com base na análise dos artigos levantados.

3. RESULTADOS

Inicialmente foram identificados mais de 253 artigos nas bases de dados do Google Acadêmico, BVS, SciELO e UFRJ  sem o crivo dos critérios de inclusão e exclusão, porém após a delimitação destes critérios foram identificados 202 artigos, sendo que a apresentação final desta revisão foi constituída por 11 artigos, sendo 08 deles disponíveis na plataforma digital do Google Acadêmico, 03 na base de dados da UFRJ, além do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais disponível na plataforma da Academia. Nas plataformas SciELO e BVS não foram encontrados artigos que atendessem os objetivos deste trabalho.

Para ilustração dos resultados obtidos neste levantamento bibliográfico segue no quadro abaixo a descrição das publicações sobre a temática por base de dados, autor(es), título/ano, tipo de estudos e principais achados.

Quadro 1: Descrição dos artigos utilizados sobre a temática por base de dados, autor(es), título/ano, tipo de estudo e principais achados.

BASE DE DADOSAUTORESTÍTULO/ANOTIPO DE ESTUDOPRINCIPAIS ACHADOS
UFRJ   Artigo nº 01JURDI; SILVA.O brincar no cotidiano familiar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (2021)Pesquisa qualitativa.A atividade lúdica deve ser considerada uma prática social que é realizada pelos indivíduos, tenham eles transtornos ou não. A brincadeira é uma possibilidade de desenvolvimento da criança nessa condição, sendo um instrumento estimulador de sua interação e inserção cultural e social. Os resultados revelam a necessidade de um olhar atento, por parte dos profissionais, para com as famílias, para que estas possam compreender a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, para que se apropriem dos momentos de brincar da criança, possibilitando, assim, maior participação no tratamento terapêutico ocupacional.
UFRJ   Artigo nº 02CUNHATerapia Ocupacional e Transtorno do Espectro Autista: um estudo de revisão bibliográfica (2017)Revisão bibliográfica.O terapeuta ocupacional utiliza uma grande variedade de abordagens e intervenções, como a TIS, a equoterapia, a inclusão escolar por meio da consultoria colaborativa, o Floortime e intervenções em atividades especificas das AVDs. Mas ainda são necessários estudos de intervenção nesta área, pois com o pequeno número de artigos 22 analisados não foi possível realizar uma comparação entre as abordagens, seus efeitos e os pontos positivos e negativos de cada uma.
UFRJ   Artigo nº 03RABELO; ANDRADE; OLIVEIRA.  Terapia ocupacional junto à crianças autistas, possibilidades de ação: uma revisão bibliográfica (2022)Revisão bibliográfica.Ao profissional da Terapia Ocupacional que se propõe a auxiliar crianças com esse transtorno a atenção e percepção são elementos fundamentais para melhor conhecer onde e como deverá agir, e, o que propor.  É imprescindível que ao atuar  com crianças autistas, o profissional estabeleça metas, planos e atividades que auxiliem  cada caso em sua especificidade.
Google Acadêmico   Artigo nº 04MAPURUNGA; MENDES; SILVEIRA; CORREIA; CARVALHO.A atuação do terapeuta ocupacional na reabilitação de pessoas com autismo (2021)Revisão bibliográfica.Verificou-se que as práticas e atuação do profissional de terapia ocupacional na reabilitação de pessoas autistas ocorre a partir de intervenções, com o intuito de aprimorar o desempenho ocupacional em todas as áreas de vida. Observou-se que o trabalho do terapeuta ocupacional, voltado para os aspectos cognitivos e motores de pessoas autistas, abarca a reorganização e o estabelecimento de novas conexões sinápticas e a formação de grandes redes neurais, facilitando o processo de desenvolvimento.
Google Acadêmico   Artigo nº 05MONTEIRO; SANTOS.Brincar e a terapia ocupacional (2022)Revisão bibliográfica.O brincar para a Terapia Ocupacional é uma atividade que torna-se fundamental para o desenvolvimento e aprendizagem da criança pois é através desse que a criança irá se desenvolvendo em diversos aspectos da sua vida. De forma unânime a importância do brincar na infância é indiscutível. Por meio do brincar as crianças conseguem desenvolver a concepção do mundo e a interação. A forma como o brincar é utilizado em terapia é determinada conforme a importância de sua aplicabilidade e cada profissional, em sua singularidade, a partir da necessidade do paciente/cliente, vai adaptar sua prática.
Google Acadêmico   Artigo nº 06SILVA; BUFFONE.O brincar para a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA): possibilidade de intervenção da Terapia Ocupacional (2021) Pesquisa qualitativa.Os resultados sugerem que o brincar empregado de forma adequada, com fundamentação teórica e devida preparação profissional promove benefícios na criança com TEA para além da construção de vínculos. O brincar é capaz de aprimorar e desenvolver habilidades pouco aprendidas e internalizar na criança esse aprendizado para diferentes contextos, elucidado por meio desse estudo.
Google Acadêmico   Artigo nº 07BONFIM; GIACON-ARRUDA; GALERA; TESTON;  NASCIMENTO; MARCHETI.Assistência às famílias de crianças com Transtornos do Espectro Autista: Percepções da equipe multiprofissional (2023)Pesquisa qualitativa.  Destaca-se a necessidade de rever o funcionamento e modo como a rede para o cuidado multiprofissional da criança e sua família está organizada. Recomenda-se a oferta de ações de educação permanente que contribuam com a qualificação das equipes multiprofissionais no cuidado às famílias de crianças no espectro do autismo.
Google Acadêmico   Artigo nº 08CUNHA; MEDEIROS NETO; NASCIMENTO; FRANÇA.Transtorno do Espectro Autista: principais formas de tratamento (2021)Pesquisa bibliográfica.É importante levar a informação a respeito do TEA a toda a população enfatizando os diferentes tipos de diagnósticos, tratamento e sua prevalência. O tema necessita de uma atenção maior para que o tratamento seja adequado a cada situação, por isso profissionais desta área devem estar atentos a novas pesquisas, novos experimentos científicos e a melhor forma de tratar a pessoa acometida por tal transtorno.
Google Acadêmico   Artigo nº 09HELENO et al.Transtorno do Espectro Autista: Conceitos e intervenções da Saúde e da Educação (2020)Pesquisa bibliográfica.Os indivíduos com TEA acabam influenciando na estrutura e funcionalidade da família. Salienta-se a importância das orientações aos pais em relação as vantagens e desvantagens relacionadas ao tratamento. Outros fatores importantes a serem respeitados são os limites e os recursos financeiros de cada família.
Google Acadêmico   Artigo nº 10MILAGRE; PEREIRA.Considerações revisionais sobre o Transtorno do Espectro Autista – TEA: Sinais e Sintomas na Primeira Infância (2019)Pesquisa qualitativa.Mesmo com o avanço cientifico e o aumento dos estudos que permeiam o tema Transtorno do Espectro Autista –TEA, ainda assim é considerável olhar para os sinais e sintomas iniciais. Ainda hoje, mesmo com todo o avanço cientifico, se faz imprescindível a ação investigativa dos adultos que compõem a rotina da criança, e a busca, diante da suspeita, pelo serviço de um profissional pertinente, para a identificação e a intervenção precoce diante a identificação da criança com Transtorno do Espectro Autista. O Transtorno do Espectro Autista – TEA se apresenta com características distintas de indivíduo para indivíduo, ele vai além da sua complexidade, assim pode-se identificar nem todos são iguais e nem todos têm as mesmas características. Ainda hoje, mesmo com todo o avanço cientifico, se faz imprescindível a ação investigativa dos adultos que compõem a rotina da criança, e a busca, diante da suspeita, pelo serviço de um profissional pertinente, para a identificação e a intervenção precoce diante a identificação da criança com Transtorno do Espectro Autista.
Google Acadêmico   Artigo nº 11NASCIMENTO; CHAGAS; CHAGAS.As tecnologias assistivas como forma de comunicação alternativa para pessoas com transtorno do espectro autista (2023)  Revisão bibliográfica.A partir deste estudo, é possível inferir que as tecnologias assistivas de comunicação alternativa são excelentes mecanismos para contornar as dificuldades de comunicação enfrentados por pessoas que apresentam as características do TEA e para as pessoas com TEA. As tecnologias assistivas surgiram com o intuito de auxiliar as pessoas com quaisquer tipos de limitações a seguir dignamente suas vidas de forma a reduzir as dificuldades que possam apresentar no curso de suas vidas.  O avanço tecnológico vem facilitando a vida dos humanos e possibilitando sua interação com o mundo à sua volta; logo, se tornou necessário pensar as formas como essa tecnologia poderia ajudar as pessoas com algum tipo de deficiência a ter o mesmo direito de interação

4. DISCUSSÃO

4.1 Considerações acerca do diagnóstico de TEA

O TEA é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se manifesta precocemente, antes mesmo dos 3 anos de idade e se estende por toda a vida. O TEA engloba um conjunto de sintomas que compromete áreas de socialização, comportamento e comunicação, assim a interação social é a área mais afetada na vida da pessoa com TEA. Em um contexto amplo é possível identificar em uma criança com diagnóstico de TEA alguns sinais como: dificuldade em interagir socialmente; comportamento repetitivo; manter o contato visual, identificar expressões faciais e compreender gestos comunicativos, expressar as próprias emoções e fazer amigos, manter diálogo, manias e outros (Cunha, 2017).

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da APA (American Psychiatric Association), a pessoa com TEA possui comprometimento qualitativo no desenvolvimento sociocomunicativo, além de comportamentos estereotipados e de um repertório restrito de interesses e atividades, e quando esses sintomas atuam em conjunto comprometem de forma mais significativa a rotina do indivíduo (APA, 2013).

O DSM (2013) orienta a respeito dos critérios clínicos, sinais e sintomas que são necessários para confirmar o diagnóstico dos transtornos mentais. Em se tratando do TEA, o DSM-5 dividiu os critérios para o diagnóstico em dois grupos: (a) déficits persistentes na comunicação e na interação social verbal e não verbal em múltiplos contextos e (b) padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

Vale ressaltar que a presença desses sinais são variáveis de indivíduo para indivíduo e que geralmente estas características são identificadas, inicialmente, por um adulto presente na rotina da criança quando observados contato visual reduzido, fala tardia, não responder ao ser chamada pelo nome (Milagre; Pereira, 2019).

O diagnóstico clínico depende da observação do desenvolvimento da criança, devendo essa observação estar fundamentada em entrevistas com os pais, cuidadores, pessoas que acompanham a criança e seus professores. E através de suporte multiprofissional é investigado todo o histórico social, afetivo, cognitivo, etc. Sendo registrada informações do parto e dos primeiros meses de vida registrando todos os comportamentos da criança em todos os contextos. O Terapeuta Ocupacional assume um papel importantíssimo na equipe identificando falhas na execução de atividades do cotidiano, do lazer e de produção. O Terapeuta Ocupacional se apropria de instrumentos de avaliação identificando quais os empecilhos para a execução dessas atividades (Cunha et al, 2021).

4.2 Abordagem da Terapia Ocupacional à pessoa com TEA

O Terapeuta Ocupacional (TO) atua num campo de intervenção amplo, multidisciplinar de diversas áreas na promoção do desenvolvimento individual e social, no estabelecimento de vínculo entre saúde e sociedade priorizando o bem-estar e a qualidade de vida de seus pacientes (Rabelo; Andrade; Oliveira, 2022).

Na abordagem da pessoa com TEA, o profissional de Terapia Ocupacional atua com base na contextualização da história do indivíduo e seu envolvimento social, de forma a potencializar sua integração, desde sua atividade de vida diária, rotina, à sua integração social (Matsukura, 2013).

O objetivo principal da terapia ocupacional no tratamento da pessoa com TEA é proporcionar melhorias na qualidade de vida em amplo aspecto, onde a pessoa com TEA é atendida de acordo com suas especificidades alcançando melhor adaptação no ambiente familiar, escolar e social contribuindo para sua independência e autonomia (Mapurunga, 2021).

É importante ressaltar que o Terapeuta Ocupacional também avalia e intervém em distúrbios do processamento sensorial cooperando para aprendizagem, concentração e comunicação (Mapurunga, 2021).

O processo de intervenção do Terapeuta Ocupacional é realizado mais comumente a partir da terapia de integração sensorial contribuindo no gerenciamento das emoções em respostas a luz, sons, cores, cheiros entre outros, sendo que a oferta é gerenciada conforme o perfil do paciente, suas necessidades e limitações promovendo maiores qualidades no desempenho funcional, nas habilidades sensório-perceptivo-motoras e nas capacidades de autoregulação (Mapurunga, 2021).

As estratégias comumente utilizadas na terapia ocupacional são atividades lúdicas e treinos de habilidades realizados através de oficinas, além de intervenções no comportamento, intervenções voltadas para o processamento sensorial com estratégias voltadas para a comunicação objetivando a promoção do desempenho ocupacional e funcional do paciente melhorando significativamente sua qualidade de vida no ambiente escolar, familiar e social, pois essas intervenções são voltadas para as especificidades favorecendo suas habilidades para que as pessoas com TEA alcancem a sua independência (Mapurunga et al, 2021).

Alguns estudos relataram o uso de algumas atividades aplicadas na terapia ocupacional, como a abordagem Floortime, o andar pelo tapete sensorial, treinamento e adaptações para o uso do material escolar, tarefas relacionadas a vida diárias como vestir, cuidar de animais, etc., são exemplos de intervenções que contribuem positivamente para o aumento da autonomia e da independência, melhorando a qualidade de vida (Cunha, 2017).

Na abordagem Floortime, “tempo de chão”, o seu principal recurso é exatamente o chão como espaço para brincadeiras, onde a criança possa tomar a iniciativa. Nesta estratégia o Terapeuta Ocupacional procura seguir os interesses emocionais do paciente, além de poder incluir pais e cuidadores nas sessões promovendo maior interação da criança (Cunha, 2017).

Diversos são os benefícios promovidos pela atuação da terapia ocupacional na vida da pessoa com TEA, maior interação social, maior atenção, concentração, coordenação motora e autonomia, maior controle da ansiedade e equilíbrio emocional.

4.3 Intervenções lúdicas no atendimento a criança com diagnóstico de TEA

O brincar na infância é tão importante e eficaz que diversas literaturas debatem este tema e sugerem as mais diversas atividades para ensinar brincando. Muitas formações continuadas frequentemente apresentam inovações do lúdico para seus profissionais.

Cada profissional precisa estar interessado em adquirir novas sugestões e propostas reconhecendo e aplicando-a com responsabilidade e seriedade, ainda que seja uma brincadeira, deve ter um compromisso com o objetivo por ela apresentada. A criança enquanto brinca cria um mapa mental e organiza sua interação com a brincadeira ou com o brinquedo (Landó, 2009).

A capacidade que a criança vai adquirindo se dá por meio de imagens que ela vai internalizando e que vão se tornando reais, onde estão envolvidos fatores psicológicos que levam o indivíduo a se adaptar ao meio em que o cerca. A imaginação e a criatividade atuam na criança e acontece de forma natural de acordo com o seu contexto histórico e cultural.  Por isso o meio onde a criança está envolvida é muito importante para seu desenvolvimento.

Assim, o profissional precisa não apenas ser o mediador na atividade lúdica, mas também observador como a criança participa, interage com a brincadeira e avaliar de forma a conduzir para um maior aproveitamento fornecidos por aquela atividade (Jurdi e Silva, 2021).

As escolhas das atividades lúdicas devem valorizar pontos de contato da criança com sua realidade. Objetivando: a) favorecer a aquisição de habilidades que permitam a criança analisar seu mundo de forma crítica; b) atender necessidades psicossociais; c) favorecer a socialização, participação e espontaneidade; d) desenvolver e explorar ares do conhecimento com atividades diárias; e) incentivar a curiosidade, o entusiasmo e a imaginação; f) ampliar o vocabulário e favorecer o desenvolvimento da linguagem (Landó, 2009).

Em se tratando das estratégias lúdicas no tratamento da pessoa com TEA, elas têm como objetivo proporcionar maior interesse e engajamento pois são mais divertidas, realizadas através de recreação e brincadeiras direcionadas por diversos profissionais da equipe multidisciplinar. Essas atividades trabalham o comportamento, a socialização, comunicação, a aprendizagem, aspectos motores e sensoriais (Monteiro e Santos, 2022).

Neste sentido, o Terapeuta Ocupacional poderá lançar mão do brincar como recurso ou finalidade a depender da abordagem terapêutica de maneira a promover na pessoa com TEA desenvolvimento e aprimoramento de diversos aspectos corpóreos, orientação de espaço, tempo e ritmo, lateralidade e coordenação motora global e fina. As atividades lúdicas são selecionadas pelo Terapeuta Ocupacional conforme os graus de autismo de cada paciente e suas características individuais. Sendo assim, o Terapeuta Ocupacional é um profissional essencial para o desenvolvimento da criança com TEA através do brincar (Monteiro e Santos, 2022).

Em primeiro lugar operar com o lúdico deve ser garantia de interação entre o profissional e o paciente com TEA. Outro ponto significante é que o jogo, a brincadeira e seus brinquedos deverão ser escolhidos de acordo com a idade e a necessidade de cada pessoa, considerando questões visuais, sonoras, texturas, peso e tamanho dos brinquedos (Jurdi e Silva, 2021).

O Terapeuta Ocupacional também utiliza a ludicidade com direcionamentos e intenções específicas para estimular as áreas sensorial e neurológica, promovendo o progresso na concentração, coordenação motora, socialização e aprendizagem.

Como a concentração e a interação social são déficits evidentes nas crianças com TEA as atividades lúdicas dirigidas pelos profissionais são fundamentais para desenvolver a cognição, comunicação verbal e integração social.

4.3.1 Intervenções lúdicas utilizadas na Terapia Ocupacional

Na Terapia Ocupacional o lúdico é utilizado para desenvolver ou potencializar habilidades indispensáveis ao desenvolvimento da pessoa com TEA, promovendo sua autonomia e independência em sua rotina. Desta forma a ludicidade é um recurso terapêutico (Silva; Cavalcante, 2021).

Em se tratando de atividades práticas para melhorar o autocuidado, como dormir, acordar, comer, escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, pentear os cabelos, etc., poderão ser utilizadas brincadeiras através da rotina visual com uso de figuras e imagens sequenciadas, jogos de faz de conta, jogos de imitação, uso de brinquedos ajudando a criança a aprender através do exemplo (Rabelo, Andrade e Oliveira, 2022).

Outras alternativas poderão ser indicadas para auxiliar no tratamento da pessoa com TEA, como o uso de tecnologias assistivas podem também ser recursos utilizados como forma de comunicação alternativa, como o uso de Pictográficos, através de pranchas de comunicação ilustrativas; o PECS (Picture Exchange Communication System) utiliza as trocas de figuras para indicar o que se deseja (Nascimento; Chagas; Chagas, 2021).

É importante considerar o lúdico na terapia ocupacional que o uso do brinquedo deve ser compartilhado dentro do contexto e com funcionalidade. Enquanto executa a prática lúdica o Terapeuta Ocupacional observa, identifica dificuldades, orienta e intervém promovendo interação social, autonomia e independência compreendendo que o trabalho com uma criança com TEA poderá demandar mais tempo. Porém o uso adequado dos recursos e da mediação terapêutica contribuirá para resultados significativos, ainda que graduais (SILVA, BUFFONE, 2021).

É importante considerar a  dinâmica da criança autista. Lembrando que quando se trata de pessoas neurotípicas,  todas essas ocupações são desenvolvidas de forma orgânica, sem a necessidade de um  acompanhamento mais sistematizado: elas aprendem a brincar imitando outros bebês,  com os pais, na creche etc., até o ponto que aprendem e brincam sozinhas, inventam as  próprias brincadeiras e jogos. (VICHESE, 2019). No caso de crianças autistas, as  ocupações, apesar de básicas, precisam ser estimuladas e ensinadas de forma específica,  considerando as potencialidades de cada uma delas e o diagnóstico realizado pela  equipe multidisciplinar que as acompanha (Rabelo, Andrade e Oliveira, 2022, n.p).

Vale ressaltar que a intervenção precoce favorece o desenvolvimento de habilidades motoras e perceptivas e que, diante do exposto nos artigos abordados pode-se concluir que intervenções lúdicas contribuem para o progresso cognitivo, sensorial, motor e consequentemente melhor interação social e qualidade de vida da pessoa com TEA.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O TEA apresenta seus sinais nos primeiros anos de vida podendo ser expressado de formas diferentes em cada criança e sua intervenção precoce favorece o melhor desenvolvimento das habilidades no indivíduo. Sua etiologia é multifatorial e por não possuir um tratamento padrão de escolha, a intervenção multiprofissional vem se destacando como temas abordados em diversas obras acadêmicas, além da inclusão de atividades lúdicas direcionas durante o atendimento da pessoa com TEA, a terapia ocupacional vem apresentando resultados positivos em suas abordagens.

Como mencionado anteriormente as estratégias lúdicas no tratamento da pessoa com TEA têm como objetivo proporcionar maior interesse e engajamento pois são mais divertidas, realizadas através de recreação e brincadeiras direcionadas por diversos profissionais da equipe multidisciplinar trabalhando o comportamento, a socialização, comunicação, a aprendizagem, aspectos motores e sensoriais, assim a ludicidade atua de forma abrangente em diversas áreas do desenvolvimento da pessoa com TEA.

Na Terapia Ocupacional o lúdico é abordado como método para potencializar habilidades indispensáveis da rotina diária da pessoa com TEA, promovendo sua autonomia e independência. O uso do brinquedo na terapia ocupacional deve ser compartilhado dentro de um contexto e com objetividade. Enquanto o Terapeuta Ocupacional executa a prática lúdica também observa, identifica dificuldades, orienta e intervém promovendo desenvolvimento intelectual, físico e interação social, afim de proporcionar melhor qualidade de vida a pessoa com autismo.

Como descrito no presente trabalho, alguns estudos apontam que intervenções lúdicas utilizadas na Terapia Ocupacional para indivíduos com TEA através de atividades com jogos, brincadeiras com ou sem brinquedos, com uso de figuras, imagens e sons, pictógraficos, ou até mesmo brincadeiras corporais, o faz de conta e atividades desportivas, vem contribuindo positivamente para a comunicação, o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo, melhorando assim a qualidade de vida, socialização e melhor desempenho na realização das AVD.

Apesar de a utilização do lúdico na terapia ocupacional ser uma abordagem profissional que vem se expandido ao longo dos anos, se faz necessário a realização de mais pesquisas e reflexões acerca das práticas, bem como do aprofundamento sobre as especificidades da terapia ocupacional e propagação de seus resultados.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmica de Terapia Ocupacional da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) – Maceió – AL, Brasil
E-mail: ivana.barros@academico.uncisal.edu.br

2Professora Assistente da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Professora Assistente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Aluna do Doutorado em Educação da Universidade Federal de Alagoas, na área de Tecnologia de Informação e da Comunicação na Educação. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas (2016). Especialista em Educação Especial (UFAL,1994), Especialista em Educação Escolar (UFAL,2000) e Especialista em Psicofisiologia da Estimulação Precoce (UNCISAL, 2001). Possui graduação em Psicologia pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC, 1994). Atividades na gestão: Coordenadora do Curso de Pós-graduação Latu Senso em Educação Inclusiva da UNEAL. Desenvolve orientações de Trabalhos de Iniciação a Pesquisa. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia do Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: inclusão Escolar, Transtorno do Espectro Autista, Educação Infantil, Avaliação do Desenvolvimento.
E-mail: ana.rego@uncisal.edu.br

3Terapeuta Ocupacional graduado pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas- UNCISAL. Experiência em Integração Sensorial; Estimulação Cognitiva; Saúde Mental; Reabilitação Física e Neurológica; Tratamento da Dor; Equoterapia; Coordenação e Gestão; Atendimento a pessoa em situação de rua, vulnerabilidade social e violação de direitos; pós-graduado em Medicina Tradicional Chinesa – Acupuntura.
E-mail: cleitonrego@hotmail.com