THE ENDOCANABINOID SYSTEM AND THE MAIN WAYS TO MAINTAIN ITS BALANCE: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202408111037
Heverton Lukas de Jesus Miranda1
Maryelza Gomes dos Reis2
Vanessa Alves de Oliveira Soroka3
Ygor Riquelme Antunes4
RESUMO
Considerando que o sistema endocanabinoide (SEC) é um aliado essencial da regulação e equilíbrio de vários processos fisiológicos no corpo humano e, assim, as implicações negativas do desequilíbrio neste sistema, o objetivo deste estudo consiste em analisar as principais substâncias exógenas derivadas da cannabis sativa, que podem auxiliar no reequilíbrio do SEC. Para alcançar esta finalidade, realizou-se uma revisão de literatura de artigos científicos publicados nos últimos cinco anos, nas bases de dados online SciELO e PubMed Central, como estratégia de busca aplicou-se o termo: Sistema endocanabinoide AND Cannabis sativa. Portanto, apresenta os benefícios dos principais fitocanabinoides e também os efeitos adversos dos mesmos, ainda como eles interagem entre si; A relação entre o sistema endocanabinoide e os principais canabinoides e breves considerações sobre os canabinoides sintéticos (SCS). Destaca-se que a prescrição dos fitocanabinoides demanda critérios específicos e, logo, cautela médica. O que reflete na importância de se produzir conhecimentos sobre este tema tão importante à medicina, à sociedade e à ciência em geral.
Palavras – Chave: Sistema endocanabinoide. Fitocanabinoides. Equilíbrio corporal. Saúde.
ABSTRACT
Considering that the endocannabinoid system (ECS) is an essential ally in the regulation and balance of various physiological processes in the human body and, thus, the negative implications of imbalance in this system, the objective of this study is to analyze the main exogenous substances derived from cannabis sativa , which can help rebalance the SEC. To achieve this purpose, a literature review of scientific articles published in the last five years was carried out in the online databases SciELO and PubMed Central, using the term: Endocannabinoid system AND Cannabis sativa as a search strategy. Therefore, it presents the benefits of the main phytocannabinoids and also their adverse effects, as well as how they interact with each other; The relationship between the endocannabinoid system and the main cannabinoids and brief considerations on synthetic cannabinoids (SCS). It is noteworthy that the prescription of phytocannabinoids requires specific criteria and, therefore, medical caution. This reflects the importance of producing knowledge on this topic that is so important to medicine, society and science in general.
Keywords: Endocannabinoid system. Phytocannabinoids. Body balance. Health.
1 INTRODUÇÃO
Os seres vivos possuem capacidades e necessidades em seus sistemas orgânicos para se manterem estabilizados. Isto se forma por meio de um processo interno de regulação designado homeostase. As transformações exógenas e endógenas que ocorrem nos indivíduos refletem na homeostase deles. Tão logo, a manutenção deste processo, demanda que o metabolismo celular responda aos estímulos por meio de compensações. Se estas forem exitosas o organismo permanece saudável, caso oposto, desenvolver-se-á uma disfunção ou enfermidade. O sistema nervoso (SN) exerce uma função essencial, no metabolismo celular, visto que ajusta toda a transferência de informações e regula toda a produção de neurotransmissores e hormônios. No decorrer da comunicação por impulsos nervosos, neurotransmissores são desprendidos na fenda sináptica (FS), causando interações entre neurônios pré e pós-sinápticos. Ao fim deste processo, é indispensável a modulação para que os neurotransmissores sejam liberados e reduza o gasto de energia celular, de tal modo, uma sinalização anacrônica passa a agir na fenda sináptica, formando a ação retrógrada realizada pelo sistema endocanabinoide-SEC (Zou e Kumar (2018).
O sistema endocanabinoide (SEC), foi descoberto em 1988 e consiste em uma rede que atua na regulação de vários outros sistemas do organismo, sendo composto, sobretudo, por moléculas produzidas pelo próprio corpo, como por exemplo, a anandamida, as quais denomina-se endocanabinoides; pelos receptores canabinoides que são proteínas existentes na superfície das células e se vinculam aos endocanabinoides para conduzir seus sinais ao interior celular, as duas principais espécies de receptores canabinoides são CB1 e CB2. O SEC forma- se ainda, por enzimas responsáveis por produzir e degradar os endocanabinoides. Os referidos elementos estão largamente espalhados por todo o corpo humano, no qual o SEC exerce suas funções em todas as partes, além de sua ação na homeostasia tecidual de toda a pele, dada a sua presença em queratinócitos e nas células nervosas da derme (Marzo, 2009).
Tem-se assim que, o organismo humano é apto para produzir substâncias denominadas canabinoides endógenos ou endocanabinoides, e enzimas que o mantém em equilíbrio. Todavia, considerando a exposição acima, entende-se também que esses elementos podem sofrer determinadas alterações, e isto repercute no funcionamento do corpo.
Face a esta condição, considera-se importante o fato de haver estudiosos que se dedicam aos elementos presentes na planta cannabis sativa L., pois eles constataram que dentre suas muitas substâncias, exigem os canabinoides exógenos ou fitocanabinoides, os quais auxiliam, quando necessário, o reequilíbrio do sistema endocanabinoide (Tanganeli et al., 2023).
Levando em conta que desregulações no sistema endocanabinoide implica negativamente na produção de substâncias internas, que o mantém equilibrado, objetiva-se neste trabalho, analisar as principais substâncias exógenas derivadas da cannabis sativa, que podem auxiliar no equilíbrio do sistema endocanabinoide (SEC). Para tanto, apresenta a relação entre este sistema, a planta cannabis sativa e os canabinoides. Discorre-se brevemente sobre outras substâncias químicas como os canabinoides sintéticos, para então diferenciá-las dos elementos naturais da cannabis, denominados fitocanabinoides. Apresentando os benefícios e os efeitos adversos dessas substâncias, delimitando as mais reconhecidas e utilizadas e como elas interagem entre si.
Justifica-se estudos voltados à descoberta que o desequilíbrio do sistema endocanabinoide pode ocasionar no corpo humano, em razão de se apresentar o próprio sistema em tela, no sentido de seu funcionamento e como ele repercute na saúde das pessoas. E, principalmente, por apresentar meios para a retomada do equilíbrio deste sistema. Tão logo publicações desta natureza, contribuem para a comunidade científica, ao proporcionar os conhecimentos aqui apresentados, tanto para subsidiar futuras pesquisas científicas, como para serem aplicados na prática da medicina, e desta forma, contribuir também para a sociedade.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao aplicar o termo de busca Sistema endocanabinoide AND Cannabis sativa, Scientific Electronic Library Online (SciElo) e na PubMed Central, a princípio, a base SciElo retornou 68 resultados. Já a PubMed Central retornou 41 publicações. Ambos os resultados foram submetidos aos critérios: terem sido publicados nos últimos cinco anos, nos idiomas inglês e português, e estarem disponíveis de forma completa e gratuita. Assim, resultaram 58 artigos científicos, dos quais leu-se o título e o resumo, possibilitando o entendimento que 13 deles atendiam às propostas deste trabalho, e, portanto, foram lidos integralmente, analisados, tendo seus dados estratificados para então uni-los posteriormente por temáticas, formando categorias de análise. As quais encontram-se a seguir.
2.1 RELAÇÃO ENTRE O SISTEMA ENDOCANABINOIDE E CANABINOIDES
A partir da década de 1950, aconteceu a descoberta do elemento psicoativo denominado tetrahidrocanabinol (THC), presente na planta cannabis sativa. Este acontecimento científico introduziu investigações que provieram a identificar várias outras substâncias a partir da aludida planta, abrangendo canabinoides, terpenos e flavonoides e a seguinte apresentação dos pontos de interação desses elementos em animais e humanos, como também seus ligantes endógenos, que são proteínas de condução e além disso enzimas de fusão e deterioração. Isto resultou na revelação do sistema atualmente conhecido como endocanabinoide, cujo principais receptores são as proteínas CB1 e CB2 (Araújo; Almeida; Araújo, 2023).
O sistema endocanabinoide (SEC) é um sistema receptor que abrange principalmente os canabinoides endógenos como o N-araquidoniletanolamina (AEA) e o 2-araquidonilglicerol (2- AG). Quanto aos principais receptores canabinoides: CB1 e CB2. Estes pertencem ao grupo de receptores conectados à proteína G. Aqueles condizentes aos CB1 são localizados, especialmente, no cérebro e no sistema nervoso central, também em outras partes do corpo, já os CB2 , se fazem presentes notadamente no sistema imunológico e em células associadas à saúde óssea, por meio destes e de receptores de diferentes sistemas, os endocanabinoides articulam a liberação de neurotransmissores (compostos químicos produzidos pelos neurônios), e citocinas que consistem em proteínas responsáveis por exercerem a comunicação entre as células e mediar as funções celulares (Crocq, 2020).
Neste sentido, Marinho e Silva Neto (2023), explicam que os canabinoides endógenos (endocanabinoides) são compostos químicos gerados espontaneamente pelo corpo, que ao interagirem com os receptores canabinoides CB1 e CB2 presentes em tecidos de mamíferos, produzem vários efeitos, formando, assim, um importante aparelho de sinalização lipídica designado sistema endocanabinoide. As substâncias que promovem mudanças nos receptores de canabinoides (agonistas) são extremamente heterogêneas e podem ser desmembrados em quatro grupos, conforme a constituição química e estrutural dessas substâncias, são eles: eicosanoides, clássicos, não clássicos e aminoalquilindol.
O grupo eicosanoide é, sobretudo, constituído pelos endocanabinoides como a substância anandamida (N-araquidonoil-etanolamina /AEA) e 2-araquidonilglicerol (2-AG), sendo os principais agonistas dos receptores CB1 e CB2, provenientes do ácido araquidônico combinado com etanolamina ou glicerol. Estes produtos são sintetizados conforme a demanda, a contar de antecessores de fosfolipídios que agregam a membrana celular, em resposta a ampliação dos coeficientes de cálcio intracelular, dentre outros ligantes do sistema canabinoide, gerados pelas células de seres humanos. O grupo clássico é composto pelos fitocanabinoides, como o tetrahidrocanabinol (THC), o canabidiol [CBD] e o canabigerol (CBG), entre outros elementos presentes na cannabis e seus análogos sintéticos. Ao passo que os grupos, não clássicos e aminoalquilindol, incidem em canabinoides sintéticos (Marinho e Silva-Neto, 2023).
A expressão canabinoide refere-se a toda substância química, independentemente de sua origem, que se junta aos receptores canabinoides presentes no corpo e no cérebro e produz efeitos semelhantes aos ocasionados pela planta Cannabis. Considerando a origem de sua produção, eles podem ser qualificados em endocanabinoides, fitocanabinoides e canabinoides sintéticos (Alves, 2020).
No que tange ao canabinoides existentes fora do organismo, designados exógenos, os mais estudados e utilizados medicinalmente, são os fitocanabinoides de origem da cannabis sativa, planta que produz mais de 100 produtos químicos. Entre eles destaca-se o tetrahidrocanabinol (THC), que corresponde ao composto psicoativo fundamental da cannabis, e o canabidiol (CBD), que dentre outras funções tem a capacidade de paralisar possíveis decorrências negativas do THC. Este possui elevada afinidade tanto para o receptor CB1, como para o CB2. Por sua vez, CBD se mostra mais compatível ao receptor CB2 (Marinho e Silva- Neto, 2023).
Como já exposto, os canabinóides endógenos, são os endocanabinoides. Ao passo que os canabinoides exógenos são extraídos do ambiente. Todavia, este grupo se divide em fitocanabinoides, denominados naturais, sendo originados da cannabis sativa e em canabinoides sintéticos (Palladini, 2023). Isso posto, a seguir discorre-se sobre os canabinoides sintéticos.
2.2 CANABINOIDES SINTÉTICOS (SCS)
No que diz respeito aos canabinoides sintéticos, os relatos iniciais de uma combinação de ervas com resultados parecidos aos da cannabis, surgiram na Europa no ano de 2004. Entretanto, só no ano de 2008, aconteceu a ratificação analítica das substâncias contidas nesses produtos, como o naftoilindol JWH-018. O JWH-018 se liga aos receptores CB1 e CB2 e foi, portanto, nomeado como um canabinoide sintético (Darke et al. 2021).
Os canabinoides sintéticos (SCs), são fármacos diferenciados uma vez que apresentam alta eficácia de ligação nos receptores CB1 e CB2. Este processo origina maior eficácia e características análogas a psicoestimulantes. Eles são agonistas absolutos dos receptores CB1 e seus efeitos adversos resultam da intensificação máxima desses receptores. Quanto ao uso: “Eles podem ser usados como terapia medicinal, assim como de forma recreacional, no intuito de imitar o efeito de euforia da cannabis e vendidos como misturas de ervas para fumar ou incenso de ervas”. Nos últimos anos, o uso desses canabinoides têm sido correlacionado a intoxicações agudas e mortes na Europa (Alves et al. 2020, p. 03).
Neste seguimento, Picini, Lo Faro, Busardò e Giorgetti (2020, p. 01), explicam que os canabinoides sintéticos (SCs), surgiram no início dos anos 2000, no mercado ilegal, sendo compostos por moléculas que imitam os efeitos do fitocanabinoide tetrahidrocanabinol (THC), projetadas para atuar no sistema endocanabinoide. E, últimos anos, em países europeus como a Itália, onde a legalização da cannabis não aconteceu, determinados produtores começaram a produzir e vender a chamada “cannabis light”. Esta consiste em flores secas que contém o princípio psicoativo essencial da referida planta, isto é, o THC, em acúmulos inferiores a 0,2%, e uma concentração incerta de canabidiol (CBD), outro importante fitocanabinoide. Assim, além de serem altamente potentes, é possível que alguns SCs, tenham meia-vida extensa e por isso, uma implicação psicoativa prolongada.
Nesta categoria foram demonstrados conhecimentos envolvendo os canabinoides sintéticos. Com base na exposição, entende-se que, apesar deles abrangerem também os fármacos, seu uso vai além, sendo inclusive associado à ilegalidade e riscos à saúde e à vida.
2.3 CANABINOIDES NATURAIS: FITOCANABINOIDES (FITS)
Os compostos químicos fitocanabinoides (FITs) retirados da Cannabis sativa L., são canabinoides que interagem com o sistema endocanabinoide por meio dos receptores CB1 e CB2, e podem oferecer diferentes benefícios ao tratamento de doença, a depender do quadro patológico em questão, pois ele demanda o tipo de FIT a ser administrado, seu doseamento e constância de uso (Tanganeli et al. 2023).
No Brasil, a cannabis medicinal é uma categoria nova de fármacos que, em conformidade com a posição regulatória atual, recebe a designação de “produtos à base de cannabis”. Assim como todo novo fitofármaco, sua inclusão na prática clínica é feita ainda com cautela pelos médicos que os prescrevem, em razão da singularidade de retornos clínicos e interações farmacológicas prováveis. Outro ponto essencial a ser respeitado, na prescrição, constitui na compleição de diversos elementos ativos e sinérgicos, os quais podem conter resultados clínicos distintos (Briques; Pereira; Feliz 2023, p. 114).
Utiliza-se a expressão cannabis medicinal para se referir ao uso desta planta e seus elementos, especialmente os fitocanabinoides, sob indicação e acompanhamento médico, para tratamento ou melhora dos sintomas de diferentes enfermidades. No que concerne ao sintoma dor, já se é comprovado que os fitocanabinoides desempenham suas atividades terapêuticas sobre a dor por meio de diversos alvos, localizados tanto no sistema nervoso periférico como no sistema nervosos central, do mesmo modo que os endocanabinoides. E, igualmente, abrangem os receptores CB1 e CB2, existentes ao longo de todo o caminho da dor, sendo agonistas também dos receptores unidos à proteína G, são essenciais na via analgésica dos receptores opioides, serotoninérgicos e ainda aqueles de potencial, pertencentes à família de canais iônicos. Um dos principais fitocanabinoides empregados para finalidades terapêuticas, é o canabidiol- CBD (Jacob; Milani, 2023).
Nesta direção, em meio a muitos canabinoides existentes na cannabis sativa, o canabidiol, destaca-se por ser conhecido a mais tempo, ser o mais receitado, e por ser o mais familiarizado para os médicos (Marinotti; Sarill, 2020).
Assim, o canabidiol constitui um dos principais fitocanabinoides empregados para finalidades terapêuticas, principalmente, por apresentar resultados: “analgésicos, anti- inflamatórios, anticonvulsivantes, imunomoduladores, antidepressivos, ansiolíticos, antibacterianos, antipsicóticos, além de neuroprotetores. Ele pode ser tóxico para algumas linhagens de células cancerígenas” (Tanganeli et al. (2023, p. 32).
O canabidiol pode atuar também em conjunto ao tratamento convencional em casos de enfermidades como epilepsia, cuidados paliativos, dor recorrente e doença de Parkinson. Quadros nos quais, a adesão conjunta deste fitocanabinoide pode até mesmo economizar o uso de alguns fármacos, atenuando sua utilização, como por exemplo, o uso do CBD pode diminuir doses de medicamentos anticonvulsivantes, resguardando o paciente de implicações como sonolência; já nos pacientes oncológicos com dores recorrentes e que carecem de opioides, a prescrição do CBD auxilia a poupar medicamentos para a dor, sendo ainda utilizados nestes pacientes para tratar enjoos e vômitos ocasionados por quimioterapia (Palladini, 2023).
A ação do canabidiol ocorre principalmente por meio do receptor CB2. Ainda por acoplamento a grupos de receptores, como o sistema acetilcolinérgico, gabaérgico, dopaminérgico, opioide e serotoninérgico, ao agir nas funções fisiológicas dos mesmos. Assim, o CBD ainda é indicado para tratar doenças dermatológicas e neurodegenerativas, em razão de sua ação no sistema endocanabinoide (SEC), ocorrer em diversas áreas do sistema nervoso, como os gânglios da base, o cerebelo e a medula espinhal. O que também explica seus efeitos benéficos à memória, à emoção, à circulação e ao controle da dor. O CBD é prescrito predominantemente como extrato oral e no período diurno (Pagano et al. 2022).
Ademais, o canabidiol (CBD atua nos receptores CB1 de diversas formas, como antagonistas neutros, quando não acionam o receptor em si, porém impedem a ação do agonista, evitando a ligação com o receptor. O que o torna capaz de modular as consequências potencialmente tóxicas do fitocanabinoide tetrahidrocanabinol (THC). Ademais, articula os efeitos do agonista no receptor CB1 para mais ou para menos, ao induzir uma alteração conformacional na estrutura do receptor CB1 que soma ou atenua a intensificação do receptor pelo agonista. Portanto, o canabidiol regula os possíveis efeitos tóxicos e potencializa os efeitos terapêuticos do Tetrahidrocanabinol THC (Marinotti; Sarill, 2020).
O tetrahidrocanabinol (THC), é o principal agente psicoativo da cannabis, e proporciona resultados: “anti-inflamatórios, analgésicos, antieméticos, antiespásticos, antineoplásicos, além de ser broncodilatador e um potente antioxidante, seu uso pode acarretar efeitos colaterais, tais como imunossupressão, ansiedade, taquicardia, sedação e perda de memória” (Tanganeli et al. (2023, p. 32).
Jacob e Milani (2023) asseguram que os fármacos à base de cannabis, sobretudo, aqueles de base Tetrahidrocanabinol (THC), podem possivelmente completar a lacuna terapêutica no tratamento da dor nociplástica – DN (não relacionada a sinais de neuropatia). Estes fármacos agem na DN, por meio da neuromodulação retrógrada nas passagens nervosas principais, suavizando a hiperexcitabilidade. Conta além disso, com ações analgésicas periféricas. Apesar de não haver evidências que apoiem sua indicação para tratar a dor nociplástica, ao ponto de defender se uso irrestrito, o THC pode ser recomendado como uma provável medicação ajudante na terapia multimodal da dor, sempre de modo individualizado, quando os tratamentos preconizados fracassarem ou não forem aceitos pelo organismo.
O tetrahidrocanabinol age como um agonista parcial dos receptores CB1. Por isto, ele apresenta toxicidade baixa e extraordinário perfil de segurança quando confrontado aos canabinoides sintéticos. A dose habitual integral do THC deve ser restrita a 30 mg/dia ou menos, e ser administrada de preferência junto com o canabidiol (CBD), a fim de impedir decorrências psicoativas e ampliação de tolerância. Quando a psicoatividade em razão do uso do THC, incluir uma dose baixa de CBD, é uma tática eficaz, porque esta concorre com o receptor CB1, desarticulando a molécula do THC e enfraquecendo, assim, a sequela psicoativa, a qual pode se manifestar no corpo humano, por meio de excitações que repercutem na agitação da memória, alteração do humor, e na coordenação motora. Mas há que se lembrar de sua eficácia medicinal extremamente importante em determinadas enfermidades. Visto que é essencial ao tratamento da dor, dentre outras desordens (Palladini, 2023).
Compete discorrer também sobre o fitocanabinoide conhecido como canabigerol (CBG), o qual assim como o THC e o CBD, é examinado para uso como forte anti-inflamatório. A terapêutica com CBG diminui a produção de óxido nítrico em macrófagos por meio do receptor CB2 e restringe o desenvolvimento de espécies reativas de oxigênio (ROSS) nas células epiteliais intestinais e o aparecimento de iNOS (óxido nítrico-sintase nos cólons inflamados). O tratamento com CBG, diminui o inchaço na submucosa do cólon e infecções intestinais. Além disso, sua potente ação anti-inflamatória fez com que surgisse o interesse de uso em indivíduos com artrose de grandes tensões, preterindo cirurgias em pessoas mais idosas e clinicamente afetadas por esta condição, melhorando a qualidade de vida delas (Mammana et al. 2019).
A presente categoria, apresentou os canabinoides exógenos (fitocanabinoides) mais utilizados como fármacos. Sendo oriundos naturalmente da cannabis sativa, eles integram a cannabis medicinal em razão de seus benefícios à saúde. Pelo fato de desenvolverem ações terapêuticas nos sistemas nervosos central e periférico, tal como os endocanabinoides.
No que tange ao canabidiol, este possui propriedades que atuam contra dores, inflamações, infecções bacterianas e virais, convulsões, desajustes imunológicos, depressão, ansiedade, psicose, lesões isquêmicas, algumas células cancerígenas, doenças dermatológicas e neurodegenerativas. Sendo também benéfico ao sono, ao apetite e às funções cardiovascular e gastrointestinal. Pode atuar ainda junto ao tratamento convencional contra epilepsia, cuidados paliativos, e decorrências do câncer como dores recorrentes, ânsias e vômitos. Ademais, regula os possíveis efeitos tóxicos e potencializa os efeitos terapêuticos do Tetrahidrocanabinol. O CBD constitui portanto, o fitofármaco mais prescrito pela comunidade médica.
Já o tetrahidrocanabinol (THC), é importantíssimo para o tratamento da dor, com destaque para a dor de origem neuropática. Sendo utilizado também para tratar inflamações, problemas no sistema gastrointestinal e espasticidades. Além de atuar como quimioterapia antineoplásica, broncodilatador e antioxidante, estimulador de apetite, relaxante muscular, ansiolítico e, assim, indutor do sono. Todavia, por ser o principal elemento psicoativo da cannabis, seu uso pode ocasionar efeitos colaterais, tais como ansiedade, aumento dos batimentos cardíacos, problemas na imunidade, sonolência e amnésia.
Por sua vez, canabigerol (CBG), o qual assim como o THC e o CBD, é analisado como um potente anti-inflamatório, sendo indicado para tratamento de sintomas por problemas do cólon e intestino, além de artrose, principalmente em idosos.
Nota-se assim, os benefícios dos fitocanabinoides, mas também os efetivos adversos sobretudo do THC. O que justifica a cautela e os critérios da parte dos médicos, quando da prescrição dos mesmos.
2.4 INTERAÇÃO ENTRE OS FITOCANABINOIDES (THC) (CBD) E (CBG)
O elemento da cannabis denominado tetrahidrocanabinol (THC), é o responsável pela pluralidade dos efeitos farmacológicos e adversos desta planta, abrangendo seu efeito psicoativo que se forma pelo acesso à sinalização por intermédio de receptores CB1 e CB2. Indica-se o uso clínico THC, sobretudo, como analgésico, antiespasmódico e antiemético. Já o canabidiol (CBD) é um dos fitocanabinoides que apresentam efeito psicotrópico diferente do THC. Isso porque, o CBD, atua por meio de estruturas diferentes, e de modo indireto sobre os receptores CB1 e CB2, entre outras ações distintas. O uso clínico do canabidiol tem por finalidade alcançar resultados analgésicos, anticonvulsivantes, anti-inflamatórios, antipsicóticos e ansiolíticos. Além disso, é eficaz na modulagem da dor por especificidades anti-inflamatórias e pode ser capaz de paralisar as decorrências negativas tetrahidrocanabinol (Briques; Pereira; Feliz, 2023).
Marinho e Silva Neto (2023), apresentam os efeitos dos canabinóides exógenos presentes na cannabis(fitocanabinoides), para as citocinas, e na apoptose e células imunes. No que se refere às citocinas que são proteínas de ações para equilibrar o começo e a resolução da inflamação, quando em desequilíbrios, podem resultar em inflamações no organismo. Assim o canabidiol age na inflamação ao diminuir a ação da molécula lipídica prostaglandina E2 e da glicoproteína COX. Já o THC altera a imunidade destruidora da célula Th1 por meio da imunidade benfeitora da célula Th2, ainda que de modo menos ativo do que o canabidiol. Em condições normais, a apoptose1 é indispensável para manter a homeostase. Neste contexto, o composto exógeno tetrahidrocannabinol (THC), provoca a apoptose das células imunes designadas linfócitos e macrófagos. Isto ocorre por meio da ação do THC no processo de regularização da proteína BCL 2 e das caspases. Já o canabidiol induz a apoptose em células linfócitos causando condições reativas de oxigênio (ROS) e acionando as caspases.
Já a associação dos fitocanabinoides canadibiol (CBD) e canabigerol (CBG), resulta em possíveis aplicações clínicas, principalmente em doenças neurodegenerativas, pois juntos eles somam propriedades anti-inflamatórios, antioxidantes e antiapoptóticas (Mammana et al. 2019).
Neste tópico foi apresentada a interação entre os fitocanabinoides e a importância deste processo em diferentes aspectos. Todavia, vale lembrar que o sistema endocanabinoide em si, possui inúmeras propriedades de proteção e equilíbrio ao corpo humano. De modo que se recorre a substâncias exógenas, somente quando as defesas endógenas apresentam desequilíbrios.
CONCLUSÃO
O sistema endocanabinoide (SEC), possui inúmeras propriedades capazes de manter a homeostase no organismo humano. No entanto, esse sistema pode sofrer desequilíbrios, o que reflete no desenvolvimento de doenças. Neste contexto, elementos exógenos, principalmente, os fitocanabinoides originários da planta cannabis sativa, se mostram excelentes aliados para restabelecer a saúde de pessoas.
Os fitocanabinoides se ligam aos receptores CB1 e CB2 localizados em diversos partes do corpo humano e agem para impedir o desenvolvimento de transtornos infecciosos, dolorosos, cardiovasculares, neuropsiquiátricos, imunológicos, gastrointestinais, neurodegenerativos, oncológicos dentre muitos outros, pois podem contribuir no tratamento de numerosos estados patológicos, auxiliando no reequilíbrio do SEC e tão logo, na homeostase de organismos humanos e na qualidade de vida da população.
Ressalta-se que o emprego dos fitocanabinoides apresentados neste trabalho, demanda critérios específicos e, logo, cautela. Mesmo porque, o tetrahidrocanabinol (THC), oferece benefícios, mas também riscos à saúde. O que demanda conhecimento apropriado, para também diferenciá-los dos canabinoides sintéticos, grupo que oferece maiores riscos em diferentes aspectos.
Portanto, este estudo possui alta relevância, pois proporciona conhecimentos importantíssimos aos profissionais da saúde, à sociedade em geral e aos estudiosos.
1 Forma de morte celular programada.
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Graduando de Bacharelado em Medicina no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA. End.: Rua das Ararás, 241 – Eldorado, Porto Velho – RO, 76811-678.
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Graduado em Biomedicina pelas Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA. Mestre em Biologia Experimental pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Docente na Instituição: Graduando de Bacharelado em Medicina no Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA. End.: Rua das Ararás, 241 – Eldorado, Porto Velho – RO, 76811-678.
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