O RISCO DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS INIBIDORES DE APETITE

THE RISK OF USING APPETITE SUPPRESSANT MEDICATIONS

EL RIESGO DE UTILIZAR MEDICAMENTOS SUPRESORES DEL APETITO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412282012


Ana Paula Lemos Pereira1,
Dhiully Kelly de Godoy Carneiro2,
Carolinne de Oliveira Marquez3


RESUMO

Introdução: Objetivo: Examinar os riscos e desafios associados ao uso de medicamentos anorexígenos no tratamento da obesidade e compulsão alimentar. Materiais e métodos: Para tanto, realizou-se nas bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Google Acadêmico, e LILACS – Bireme (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), com o ano de publicação entre 2019 a 2024.  Resultados: Os resultados obtidos da busca nas bases de dados consultadas resultaram em 45 artigos, onde 15 foram pré-selecionados, e posteriormente a leitura na íntegra, definiu-se 10 artigos para compor o estudo. Discussão: A pesquisa bibliográfica revelou que, embora esses medicamentos possam resultar em uma rápida redução de peso, seu uso indiscriminado apresenta sérios riscos à saúde, incluindo efeitos colaterais graves e dependência física e psicológica. Além disso, destacou-se a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento, envolvendo não apenas a prescrição de medicamentos, mas também mudanças de estilo de vida e intervenções psicológicas. A falta de acesso equitativo aos serviços de saúde e medicamentos, juntamente com a regulamentação controversa da comercialização de anorexígenos, foram identificadas como questões críticas que exigem atenção. Conclusão: Portanto, é fundamental implementar políticas públicas que promovam o acesso a tratamentos seguros, educação sobre os riscos da automedicação e regulação adequada do uso de medicamentos anorexígenos, com base em evidências científicas sólidas e no bem-estar da população.

Palavras-chave: Obesidade; Compulsão alimentar; Medicamentos anorexígenos.

ABSTRACT

This study examined the risks and challenges associated with the use of anorectic medications in the treatment of obesity and binge eating. Bibliographical research revealed that, although these medications can result in rapid weight loss, their indiscriminate use presents serious health risks, including serious side effects and physical and psychological dependence. Furthermore, the importance of a multidisciplinary approach to treatment was highlighted, involving not only the prescription of medications, but also lifestyle changes and psychological interventions. The lack of equitable access to healthcare services and medicines, along with controversial regulation of the marketing of anorectics, have been identified as critical issues requiring attention. Therefore, it is essential to implement public policies that promote access to safe treatments, education about the risks of self-medication and adequate regulation of the use of anorectic medications, based on solid scientific evidence and the well-being of the population.

Keywords: Obesity; Binge eating; Anorectic medications..

RESUMEN

Este estudio examinó los riesgos y desafíos asociados con el uso de medicamentos anoréxicos en el tratamiento de la obesidad y los atracones. La investigación bibliográfica reveló que, aunque estos medicamentos pueden provocar una rápida pérdida de peso, su uso indiscriminado presenta graves riesgos para la salud, incluidos efectos secundarios graves y dependencia física y psicológica. Además, se destacó la importancia de un enfoque multidisciplinario del tratamiento, que implique no sólo la prescripción de medicamentos, sino también cambios en el estilo de vida e intervenciones psicológicas. La falta de acceso equitativo a los servicios sanitarios y a los medicamentos, junto con la controvertida regulación de la comercialización de anoréxicos, se han identificado como cuestiones críticas que requieren atención. Por lo tanto, es fundamental implementar políticas públicas que promuevan el acceso a tratamientos seguros, la educación sobre los riesgos de la automedicación y una adecuada regulación del uso de medicamentos anoréxicos, basados en evidencia científica sólida y el bienestar de la población.

Palabras clave: Obesidad; Atracones; Medicamentos anoréxicos.

1. Introdução

Atualmente a sociedade vem sofrendo com a adoção de padrões de beleza e isso está associado muitas vezes com a teoria do corpo perfeito que embora não tenha um padrão, pois cada indivíduo é único com suas características e estereótipos o uso de inibidores de apetite está aumentando consideravelmente pois com a correria cotidiana muitos estão fadados a conviver com seu estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo e padrões alimentares muitas vezes desfavoráveis à saúde, enfrentando desafios significativos em relação ao controle do peso e bem-estar geral (Rodrigues, 2020.).

O aumento da ansiedade associada às demandas da vida cotidiana pode levar muitos indivíduos a buscar alívio na alimentação excessiva (massas, doces, gorduras, industrializados), que proporciona uma sensação de saciedade e estimula a liberação de endorfinas. No entanto, para aqueles que lutam com o excesso de peso, essa busca por conforto pode resultar em tentativas de controlar o apetite através do uso de medicamentos, muitas vezes sem o devido acompanhamento de profissionais de saúde qualificados (Vidal, 2021).

Além disso, este estudo visa fornecer uma compreensão mais ampla do cenário atual em relação ao uso de inibidores de apetite, identificando lacunas de conhecimento e áreas que necessitam maior atenção por parte dos profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas. Ao analisar criticamente a literatura existente e oferecer insights sobre os impactos negativos potenciais desses medicamentos, espera-se contribuir para uma abordagem mais informada e cautelosa em relação ao tratamento da obesidade e controle de peso. Seu objetivo principal é alertar sobre os perigos associados ao uso inadequado de medicamentos inibidores do apetite, destacando os potenciais riscos à saúde e as consequências adversas que podem resultar dessa prática.

Dessa forma, este trabalho não apenas busca informar o público em geral sobre os riscos associados ao uso indiscriminado de inibidores de apetite, mas também visa promover uma reflexão mais ampla sobre os padrões de saúde e bem-estar na sociedade.

2. Metodologia

Este trabalho adota uma abordagem básica, com um viés qualitativo, e se baseia em pesquisa bibliográfica, com foco nas bases de dados da Scielo, PubMed e Google Acadêmico.  As palavras-chave utilizadas na busca foram “inibidores”, “riscos”, “emagrecimento” e “obesidade”. Os critérios de seleção para os materiais incluíram publicações dos últimos 5 anos e a exclusão de trabalhos que não apresentassem originalidade do tema, coerência e coesão em relação aos objetivos do estudo.

3. Resultados e Discussão
3.1 Obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública que afeta pessoas de diferentes idades, classes sociais e sexos. Caracteriza-se pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. Vários fatores contribuem para o desenvolvimento da obesidade, incluindo genética, metabolismo, ambiente e hábitos alimentares. Além disso, a obesidade está associada a riscos como hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. No Brasil, a prevalência de obesidade tem aumentado nos últimos anos, e é importante que profissionais de saúde estejam atentos a essa questão. A distribuição da gordura no corpo também desempenha um papel importante, com diferentes tipos de acúmulo de gordura em regiões como o tronco e o quadril. É essencial promover hábitos saudáveis e conscientizar sobre os riscos da obesidade para a saúde geral (Florido et al, 2019).

Para Lima e colaboradores (2021), a obesidade denota uma sobrecarga psicológica negativa no indivíduo, implicando uma percepção desagradável em relação à saúde e à vida. Esta doença crônica, em muitos casos, está associada a sentimentos desfavoráveis, como insatisfação, perda da autoestima, isolamento, depressão e medos.

De acordo com Andrade e colaboradores (2019), a obesidade geralmente resulta de um desequilíbrio entre a ingestão de calorias e o gasto energético. Cerca de 98% dos casos estão relacionados a esse desequilíbrio, enquanto apenas 2% são causados por fatores endógenos, como hipotireoidismo ou uso de certos medicamentos.

Segundo Duarte (2020), a obesidade é uma preocupação global, e os fármacos anorexígenos são frequentemente utilizados como uma alternativa para perda de peso rápida. Esses medicamentos, incluindo a anfepramona, o femproporex, o mazindol e a sibutramina, atuam no Sistema Nervoso Central, liberando noradrenalina e serotonina para suprimir o apetite. No entanto, seu uso excessivo pode ter efeitos colaterais e riscos à saúde.

O diagnóstico da obesidade envolve a medição do Índice de Massa Corporal (IMC), embora esse método não diferencie massa gorda e massa magra. O IMC igual ou superior a 30 kg/m² indica obesidade, com diferentes graus de severidade (Ribeiro, 2022).

O tratamento da obesidade visa melhorar o bem-estar e a saúde metabólica. Estudos mostram que perdas de peso entre 5 e 10% podem ter benefícios significativos, incluindo melhora na pressão arterial e controle do diabetes. Existem várias abordagens de tratamento, incluindo intervenções não farmacológicas (como mudanças na alimentação e atividade física), tratamento farmacológico e cirurgia bariátrica. A escolha depende das necessidades individuais (Andrade, et al., 2019).

3.2 Compulsão alimentar

“A Compulsão Alimentar é uma Perturbação de Comportamento Alimentar, conhecida por ser uma forma de compensação rápida e alívio de outros sintomas que não a fome”. (Silva, et. al., 2021).

A compulsão alimentar caracteriza-se por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos, geralmente em um curto período de tempo, acompanhados por uma sensação de perda de controle sobre o ato de comer. Ela pode levar a diversos problemas de saúde, incluindo obesidade, distúrbios metabólicos e complicações psicológicas, como ansiedade e depressão (NASSER, 2019).

Durante esses episódios, o indivíduo consome uma quantidade de comida significativamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em circunstâncias semelhantes (Hiluy, 2019).

Após o consumo exagerado de alimentos o indivíduo enfrenta frequentemente situações diversas como sentimento de culpa, vergonha ou angústia, mas não são necessariamente acompanhados por comportamentos compensatórios, como a indução de vômito ou o uso excessivo de laxantes (TIMERMAN, 2021).

Segundo Silva et al., (2021) os casos de Compulsão Alimentar podem estar diretamente ligados a três dos seguintes sintomas que são: comer muito mais rapidamente do que o poderia ser classificado como sendo o normal; comer até sentir-se desconfortavelmente cheio ou repleto; ingerir enormes quantidades de alimento mesmo sem fome pelo simples ato de comer. Podendo haver casos de comer sozinho ou escondido em razão de apresentar desconforto ou vergonha por ingerir quantidade significativa de alimentos até sentir repulsa, vergonha, culpa ou raiva de si mesmo após a compulsão.

Para uma maior eficácia no tratamento da pessoa com compulsão alimentar, é fundamental focar os esforços no controle do comportamento compulsivo e na abordagem psicológica do indivíduo, visando o desenvolvimento de hábitos saudáveis e a interrupção de dietas restritivas. Se necessário, essa orientação deve ser realizada por um profissional, mas não se deve priorizar o uso de inibidores de apetite ou anorexígenos como abordagem principal, devido aos seus efeitos colaterais, como depressão e náuseas, que podem agravar o quadro do paciente. Uma vez estabelecido um padrão alimentar normal, outras medidas devem ser adotadas para reduzir os fatores decorrentes da compulsão, como obesidade ou outras comorbidades (Aquino et al., 2021).

3.3 Acesso e uso de medicamentos

O consumo de medicamentos inibidores de apetite vem aumentando consideravelmente e por muitas vezes a dificuldade no acesso à tratamentos nutricionais específicos está acompanhando e a consequência disso é o aumento do uso irracional de medicamentos para esse fim (Barros, 2019).

Não existe um conceito específico destinado à população sobre os componentes existentes nos medicamentos dessa categoria, compreendendo apenas que existem riscos na sua usabilidade, precisando se atentar às orientações prescritas pelos profissionais da área (Santos; Oliveira, 2020.).

Habitualmente é amplo o local de comercialização de medicamentos utilizados com função emagrecedora. Mas, independentemente disso, existem determinadas precauções que precisam ser tomadas quanto a maneira adotada para o consumo de tais fármacos, quesito que se mostra indispensável para a análise em questão, vendo a essencialidade em consultar um profissional da área antes de qualquer intervenção (NASCIMENTO, et al., 2022).

Para Silva et al. (2016) atualmente ocorre um significativo aumento no índice de casos de Compulsão Alimentar em mulheres, entretanto, esse comportamento alimentar também é reconhecido em homens e mulheres. Relata que o início da perturbação pode surgir ainda na infância por questões genéticas ou familiares, na adolescência por traumas diversos ou crises de identidade ou mesmo na fase adulta através de estresses do dia-a-dia, perdas ou pressões de fatores externos (trabalho ou relacionamento), não havendo nenhuma restrição quanto a questões de caráter racial ou cultural.

Segundo Silva et al., (2019) a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amplitude da crise da obesidade é proporcional apenas à negligência e ao estigma enfrentado pelos indivíduos com obesidade. Atualmente, sobrepeso e obesidade afetam mais de 2 bilhões de adultos, e a prevalência quase triplicou em 40 anos.

3.4 Desafios no tratamento da obesidade e compulsão alimentar

De acordo com Paim et al., (2024) “existe a concepção de que a pessoa gorda é um “problema” que reflete no tratamento que ela irá receber, e o objetivo do atendimento em saúde se volta para apontar os riscos da obesidade, e não necessariamente para o cuidado em saúde”.

Segundo Pussetti, (2023), embora hoje os homens cuidem mais da sua aparência, existe uma clara diferença entre homens e mulheres relativamente à quantidade de tempo, atenção e dinheiro que é legítimo dedicar ao trabalho de beleza.

A busca por um corpo esteticamente mais atraente tem levado muitas pessoas a recorrerem a medicamentos considerados “milagrosos”, na esperança de melhorar sua vida social e familiar. No entanto, esses emagrecedores podem acarretar efeitos colaterais significativos e, em alguns casos, quando utilizados de maneira descontrolada, podem resultar em dependência química ou no temido efeito sanfona (LIMA, et al., 2021).

De acordo com Brasil (2020), o tratamento da compulsão alimentar deve objetivar o comportamento alimentar, a psicopatologia e sintomatologia associadas aos indivíduos que apresentarem este transtorno.

Segundo, Nascimento (2022), um critério mínimo para o sucesso da perda de peso é de 5% contínuo, porque levará uma melhora pertinente à essas doenças”. Assim sendo, alcançar uma redução de peso de pelo menos 5% é fundamental, pois isso resultará em melhorias significativas para essas condições de saúde.

De acordo com Lobo et al., 2021, os medicamentos anorexígenos, conhecidos como inibidores de apetite, têm estado no mercado por décadas; no entanto, ainda enfrentam desafios regulatórios, como a venda ilegal e o uso para finalidades não previstas, o que os torna contraproducentes no tratamento da obesidade.

Os medicamentos anorexígenos desempenham um papel crucial no auxílio à perda de peso, agindo como supressores ou moduladores do apetite. Sua principal função é reduzir a sensação de fome, o que resulta em uma menor ingestão de alimentos e, consequentemente, contribui para a diminuição da ingestão calórica diária (LOBO, et al., 2021).

Os anorexígenos atuam em áreas específicas do sistema nervoso central, onde controlam os sinais de apetite e saciedade. Ao influenciar esses mecanismos, eles ajudam os usuários a se sentirem mais satisfeitos com porções menores de comida, tornando mais fácil para eles aderir a dietas com restrição calórica. Isso pode levar a uma perda de peso gradual e sustentável ao longo do tempo. No entanto, é importante ressaltar que esses medicamentos devem ser usados com cautela e sob a supervisão de um profissional de saúde, pois podem apresentar efeitos colaterais e não são adequados para todos os casos de obesidade (Silva, 2023).

3.5 Uso de medicamentos anorexígenos e riscos à saúde

A anfepramona, possui semelhança com a anfetamina, era inicialmente utilizada no tratamento de narcolepsia. Após, observações em pacientes que utilizaram o medicamento, constatou-se que o mesmo diminuía a sensação de fome. Através disto, ficou conhecido como medicamento anorexígeno (Panizza, 2020).

Adicionalmente, a administração da anfepramona em doses terapêuticas geralmente varia entre 50 mg e 100 mg do medicamento. No entanto, a eficácia e a segurança do tratamento com doses mais altas não foram comprovadas. Apesar disso, a dosagem mais prevalente do fármaco é de 25 mg, com um tempo de meia-vida de 4 a 6 horas, podendo desencadear reações adversas sérias, incluindo agranulocitose, arritmias cardíacas, isquemia cerebral, acidente vascular cerebral, dependência, leucemia, hipertensão pulmonar primária e distúrbios psicóticos. (Lobo, et al., 2021).

A sibutramina atua induzindo a sensação de saciedade, em vez de simplesmente reduzir o apetite. Como resultado, os pacientes que utilizam esse medicamento tendem a consumir menos alimentos, pois se sentem saciados mais rapidamente (De Castro et al, 2022).

O uso prolongado da sibutramina estimula a perda de peso ao aumentar o metabolismo, reduzindo assim o gasto energético em repouso. No entanto, é importante notar que o uso desse medicamento é questionável em pacientes obesos e com hipertensão controlada (Moreira et al, 2021).

Por outro lado, este fármaco destaca-se em comparação com outros inibidores de apetite, devido ao seu efeito de aumentar a liberação de serotonina e noradrenalina. Além disso, ao contrário de outros medicamentos, não inibe a recaptação nem aumenta a liberação de dopamina (Veríssimo et al, 2023).

A automedicação com medicamentos anorexígenos apresenta sérios riscos à saúde, que vão além da simples falta de eficácia no controle do peso. Esses medicamentos podem causar dependência física e psicológica, levando a um ciclo vicioso de uso contínuo para suprimir o apetite, mesmo quando não é clinicamente necessário (Fantaus, 2023).

A dependência psicológica pode se manifestar na forma de uma obsessão pelo controle do peso, levando a comportamentos alimentares prejudiciais e transtornos alimentares, como anorexia ou bulimia “A automedicação com estes fármacos é perigosa, pois pode causar dependência física e psíquica. Além disso, há um grande número de indivíduos que utilizam estes medicamentos de forma irracional (SILVA, et al., 2021).

A Atenção Farmacêutica é uma prática que tem como principal finalidade melhorar a qualidade de vida do paciente que faz ou não uso de medicamentos. Além de otimizar o tratamento farmacológico e prevenir problemas relacionados ao uso de medicamentos. É fundamental ressaltar a importância de consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento para perda de peso (Dos Santos et al., 2021).

A sibutramina é um dos medicamentos da classe dos Inibidores da recaptação de noradrenalina e serotonina (5-HT). Este medicamento bloqueia os receptores présinápticos de noradrenalina e 5–HT nos centros de alimentação e saciedade do hipotálamo, potencializando os efeitos anorexígenos dos neurotransmissores do SNC, causando, consequentemente, redução da fome (Andrade, et al., 2019).

De acordo com Duarte e colaboradores (2020), a anfepramona possui uma estrutura química semelhante à da anfetamina. Seu mecanismo de ação é fundamentado na inibição da recaptação de noradrenalina e no aumento da interação desse neurotransmissor com receptores pós-sinápticos localizados nos centros responsáveis pela regulação da alimentação e saciedade no hipotálamo, resultando assim na redução da sensação de fome.

A cardiotoxicidade de anfetaminas e seus derivados pode se manifestar com cardiomiopatia, arritmia ou infarto agudo do miocárdio em pacientes que fazem uso crônico desta droga. Como a anfetamina é um simpatomimético, ela aumenta os níveis de noradrenalina e pode causar espasmo vascular, devido à possibilidade de indução indireta de vasoconstrição coronariana, ocasionando um infarto isquêmico (Soares et al., 2021).

A anfetamina pode desencadear agregação plaquetária induzida por catecolaminas, resultando posteriormente na formação de trombos e potencial rompimento da placa aterosclerótica. Além disso, pode levar à necrose miocárdica e aumentar a demanda miocárdica por oxigênio (Duarte et al., 2020).

Diante desses riscos, torna-se evidente que os potenciais danos causados por este medicamento superam seus benefícios. Sua utilização é considerada imprópria devido às sérias reações adversas, contraindicações, risco de dependência e abuso, bem como à falta de estudos clínicos com padrões regulatórios de qualidade que comprovem sua eficácia e segurança (Iyusuka, 2022).

Os psicofármacos são medicamentos necessários e seguros, mas podem causar dependência física e/ou psíquica. A dependência psíquica favorece o desenvolvimento da procura compulsiva do fármaco, surgindo o vício, o que leva à distorção dos valores pessoais e sociais do indivíduo, prejudicando o seu comportamento social (Lima et al., 2021).

Os fármacos frequentemente utilizados para acelerar a perda de peso são conhecidos como anorexígenos. Esses medicamentos são empregados no tratamento da obesidade em casos em que o Índice de Massa Corporal (IMC) seja igual ou superior a 30 (Ribeiro et al., 2019).

O uso indiscriminado desses fármacos representa um sério problema de saúde pública no Brasil. É possível observar que as infrações envolvem diversas responsabilidades, que vão desde os médicos que prescrevem excessivamente os anorexígenos até as farmácias e drogarias que desrespeitam a legislação ao comercializá-los (Dias et al., 2021).

A automedicação no Brasil tem se intensificado devido à crise no setor da saúde. Além das intoxicações, isso também aumenta o risco de interações medicamentosas, que podem reduzir a eficácia terapêutica ou aumentar a toxicidade dos fármacos, resultando em problemas de saúde graves (De Jesus Santos et al., 2019).

A Lei 13.454, de 23 de junho de 2017, que permite a fabricação, a venda e o consumo, com prescrição médica, dos anorexígenos, sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol, anulou uma medida da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 2011, que havia proibido a comercialização desses medicamentos. Essa lei transformou em “decisão política” uma resolução que deveria ser puramente técnica e baseada em evidências científicas. De forma geral, essa é a opinião dos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz). Os especialistas vão além, afirmando que é responsabilidade do Estado proteger a saúde da população e que cabe à Anvisa decidir sobre o uso de qualquer medicamento.

O papel do farmacêutico é crucial na orientação dos pacientes sobre os riscos e benefícios desses fármacos. Além disso, é fundamental alertar sobre possíveis interações medicamentosas e promover métodos não farmacológicos, como exercícios físicos e reeducação alimentar. A sibutramina, em particular, é amplamente utilizada no Brasil, mas seu uso indiscriminado pode causar danos à saúde (de Oliveira et al, 2022).

4. Considerações Finais

O estudo realizado evidencia a complexidade e os riscos associados ao uso de medicamentos anorexígenos para controle de peso e tratamento da obesidade. A pesquisa bibliográfica revelou que, embora esses medicamentos possam proporcionar uma redução rápida de peso ao suprimir o apetite, seu uso indiscriminado, sem acompanhamento médico adequado, apresenta graves riscos à saúde. Entre esses riscos destacam-se a possibilidade de efeitos colaterais severos, dependência física e psicológica, e potencial agravamento de condições preexistentes.

O tratamento da obesidade e da compulsão alimentar deve ser multidisciplinar, envolvendo não apenas a prescrição de medicamentos, mas também a adoção de hábitos de vida saudáveis e intervenções psicológicas. A abordagem restritiva e focada apenas na perda de peso pode ser prejudicial a longo prazo, levando à recorrência dos problemas e até ao desenvolvimento de novas complicações de saúde.

A interrupção de dietas restritivas e o desenvolvimento de um padrão alimentar equilibrado são essenciais para um tratamento eficaz. Além disso, a questão do acesso aos serviços de saúde e aos medicamentos anorexígenos no Brasil reflete disparidades socioeconômicas significativas.

A automedicação e a falta de orientação profissional adequada exacerbam os riscos associados ao uso desses medicamentos. Portanto, políticas públicas devem ser implementadas para garantir que a população tenha acesso a tratamentos seguros e eficazes, bem como à educação sobre os riscos da automedicação e a importância do acompanhamento médico.

A Lei 13.454/2017, que autoriza a comercialização de anorexígenos no Brasil, substituiu uma decisão técnica da Anvisa por uma decisão política, levantando preocupações entre especialistas sobre a proteção da saúde pública. A regulação do uso de medicamentos deve ser baseada em evidências científicas sólidas e na avaliação criteriosa dos riscos e benefícios, visando sempre o bem-estar da população.

Em suma, o tratamento da obesidade e da compulsão alimentar requer uma abordagem integrada e individualizada, centrada na segurança e na saúde do paciente. A prescrição de anorexígenos deve ser cuidadosamente avaliada por profissionais de saúde, e a educação sobre os riscos e as alternativas seguras deve ser amplamente disseminada. A proteção da saúde pública deve ser uma prioridade, orientada por decisões técnicas fundamentadas em evidências científicas robustas.

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1ORCID: https://orcid.org/0009-0006-5504-116X
Faculdade Integrada Carajás-FIC, Brasil
E-mail: anapaulalemos80@gmail.com Graduanda em Farmácia

2ORCID: https://orcid.org/0009-0004-4679-451X
Faculdade Integrada Carajás-FIC, Brasil E-mail: dhiullygodoy22@gmail.com
Graduanda em Farmácia

3ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6556-5094
Faculdade Integrada Carajás (FIC) E-mail: carolzinhaoliveiramarquez@yahoo.com.br
Farmacêutica e docente do curso de Farmácia