O PROJETO CORPO E MOVIMENTO NA PERSPECTIVA DA GERONTOLOGIA SOCIAL CRÍTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291049


Prof. Dr. Luciano Silva Gomes
Prof. Me. Almyr Carlos de Moraes Favacho
Jamille de Kássia R. Rodrigues Nunes
Letícia Bianca Silva da Cruz


Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender o envelhecimento humano na perspectiva da Gerontologia Social Crítica, por ser um processo heterogêneo, que transcende as perspectivas biológica e cronológica, reconhecendo o protagonismo da pessoa idosa como agente de transformação e ressignificação de suas vidas e relações. Nesta perspectiva o envelhecimento é atravessado pelas múltiplas expressões da questão social sempre presente nas sociedades de classes, e as formas como se produz e/ou reproduz esse processo, ocorrem de acordo com as particularidades dos contextos socio-historico. Em países desenvolvidos o envelhecimento é gradual, enquanto no Brasil e na maioria dos países de economias dependentes este processo é mais acelerado, impulsionado principalmente pelas lutas por melhores condições de vida e políticas de inclusão social. Na Universidade Federal do Pará, o Projeto Corpo e Movimento e Qualidade de Vida da Pessoa Idosa, do Programa Universidade da Pessoa Idosa (UNITERCI), é fundamental para a análise e compreensão desse processo, que além de fomentar reflexão crítica sobre o envelhecimento, promove debates sobre saúde e qualidade de vida dessa população, alinhada à proposta de uma abordagem que valoriza a diversidade das experiências referentes ao envelhecer.

Palavras-chave: Envelhecimento, Políticas Sociais e Gerontologia Social Crítica.

1.  INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional vem se tornando mundialmente um fenômeno histórico, e isto se deve aos avanços na área da tecnologia, saúde e infraestrutura, que vem possibilitando um aumento da expectativa de vida. Como um processo, este deve ser compreendido em seus aspectos: biológico, sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais entre outros, o qual assume diferentes concepções e valores de acordo com as particularidades de cada sociedade e em seus períodos sócio históricos. Desse modo, a velhice, não pode ser entendida como sinônimo de fim da vida, tristeza, isolamento, ou exclusão, mas como uma nova etapa da vida, onde se acumulam experiências e protagonismos que precisão ser aceitas e compreendidas pela pessoa idosa, pela família e pela sociedade em suas instituições e organicidades.

Também historicamente, a velhice é relacionada a estereótipos pejorativos, que evidenciam esta fase da vida como algo ruim de se viver, ou seja, nesta perspectiva, o idoso é aquele sujeito que passa por muitas perdas, como a diminuição da resistência a doenças, mudanças corporais e a redução da força e da agilidade, isto é, um velho incapaz e improdutivo, além de compreender e lidar com processo de envelhecimento como algo negativo e sem perspectivas. Para a Gerontologia Social Crítica, visão fundante deste trabalho, é imprescindível que o Assistente Social compreenda o processo de envelhecimento como heterogêneo, e ao deparar-se com a diversidade de situações vividas por pessoas idosas advindos das expressões da questão social, tenha em consideração suas especificidades como: classe, etnia, raça, gênero, entre outros.

É fundamental que o profissional compreenda da pessoa idosa como seres de experiências diferenciadas e protagonistas sócio históricos e que na conjuntura atual buscam envelhecer de forma ativa e saudável, lutam pela existência e acesso às políticas sociais e públicas que garantam e estimulem sua participação em diversos setores e serviços.

Na Universidade Federal do Pará, o Projeto de Extensão “Corpo, Movimento e Qualidade de Vida da Pessoa Idosa”, pertencente ao Programa Universidade da Pessoa Idosa estar vinculado à Faculdade de Serviço Social que, no

desenvolvimento de suas atividades com pessoas idosas, busca desmistificar e potencializar visões de corpo no envelhecimento, para que a vivencia deste processo se desenvolvam de forma dinâmica e com qualidade, independente das modificações inscritas no corpo, incluindo valores morais, reflexões, intervenções e vivências, possibilitando a construção de um contexto social mais inclusivo, de forma a permitir um envelhecimento ativo, qualificado e saudável. O artigo além da introdução e considerações, está didaticamente organizado em um item e dois subitens, muito mais com o intuito de mostrar o trabalho desenvolvido do que fazer uma análise aprofundada de seus fundamentos.

2.    ENVELHECIMENTO E POLÍTICAS SOCIAIS

O envelhecimento populacional tornou-se um fenômeno histórico devido as reinvindicações para acessar os conhecimentos socialmente construídos, dentre os fatores que cooperaram para o crescimento da população idosa estão: a industrialização, a urbanização, os avanços da tecnologia, da medicina e do saneamento básico, mudança de hábitos de consumo e consequente ampliação das demandas sociais relacionadas à velhice, articulados à preocupação com a qualidade de vida para essa faixa etária possibilitando o aumento de suas expectativas de vida.

Este processo impacta o desenvolvimento da pessoa idosa em seus aspectos: biológico, sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais entre outros, o qual assume diferentes aspectos, concepções e valores de acordo com cada sociedade e período sócio histórico.

A velhice, transcende a concepção de fim da vida, tristeza, isolamento, ou exclusão, e se fundamenta como nova etapa da vida, com acumulo de experiências, crescimento pessoal, e que precisa ser aceita e compreendida pela pessoa, pela família e pela sociedade em suas organicidades. Ressalte-se que a concepção de pessoa idosa é diferenciada em países economicamente desenvolvidos e em países subdesenvolvidos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em decorrência do aumento deste segmento populacional, ampliaram-se as legislações e leis, as políticas sociais e públicas para atender e garantir a inclusão da pessoa idosa no meio social. Sendo a Lei nº 10.741/2003, ou

Estatuto da Pessoa Idosa um compilado de leis que garantem sua proteção e direitos básicos, além da promoção da sua qualidade de vida, conforme explicitado no Art. 3º:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (Lei nº 10.741/ 2003)

Outros direitos dispostos no Estatuto da Pessoa Idosa garantem sua proteção em quaisquer situações de violência, negligência ou discriminação, ao qual pune aqueles que violem esses direitos. Também garante o acesso prioritário em atendimentos de diversos setores públicos e privados de saúde e disposição de medicamentos e outros serviços, o direito à liberdade, entre outros.

O Estatuto estimula a participação em atividades comunitárias e políticas, com direito à locomoção, à liberdade de expressão, à educação, cultura, esporte e lazer, promove a inclusão da pessoa idosa em atividades sociais e educativas, além de garantir o desconto de 50% em eventos culturais e esportivos. Na área de transporte, é garantida a gratuidade nos transportes públicos urbanos para maiores de 65 anos e em viagens interestaduais para aqueles com renda de até dois salários mínimos.

2.1 A GERONTOLOGIA SOCIAL CRÍTICA COMO REFERÊNCIA

A perspectiva da Gerontologia Social Crítica, está pautada no método dialético, onde busca decifrar a vida da pessoa idosa, a partir das condições de existência. Tal direcionamento tem sido objeto de observação no Projeto em tela, somado à pedagogia crítica/problematizadora, cuja abordagem se fundamenta no pensamento crítico, na realidade concreta, nos termos de Paulo Freire. Daí a escolha teórico política pela Gerontologia Social Crítica constituir a centralidade da análise, num tempo histórico de avanço do capitalismo neoliberal, explícito em todas as dimensões da vida social nas duas últimas décadas.

A velhice, segundo Debert (2012), é uma etapa da vida, um ciclo natural, constituindo-se como uma experiência única e diferenciada para cada sujeito. No entanto, historicamente a velhice foi associada a estereótipos pejorativos, evidenciando esta fase da vida como algo ruim de se viver, ou seja, o idoso era aquele sujeito que passou por muitas perdas, como a diminuição da resistência a doenças, mudanças corporais e a redução da força e da agilidade, isto é, um velho incapaz e improdutivo.

Mesmo sabendo que envelhecer e adoecer não são sinônimos, não se pode deixar de lado que algumas doenças são próprias do envelhecimento, e que, com o decorrer do tempo, elas provocam mudanças corporais, pois quando se fala em transformações do corpo, observa-se que os cabelos embranquecem e tornam-se mais ralos, os pelos enfraquece, a pele se enruga, as orelhas ficam alongadas, além da perda de elasticidade do tecido do corpo.

Beauvoir (1990) afirma que é através da relação que a pessoa idosa estabelece com o seu corpo e seu movimento, que ele constrói a sua forma de percepção do mundo, e o seu processo de conscientização em relação ao envelhecimento de seus corpos em decurso do movimento corporal, tem diferentes significados, que podem diferir de pessoa para pessoa, e que estão fortemente relacionados à esfera existencial, (social, afetiva).

Desse modo, a Gerontologia Social Crítica é uma corrente de pensamento dentro dos estudos sobre o envelhecimento que vai para além das abordagens tradicionais, oferecendo uma análise profunda sobre as condições sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais que afetam a vida da pessoa idosa. Enquanto a gerontologia tradicional tende a focar nas mudanças biológicas e psicológicas associadas ao envelhecimento, a Gerontologia Social Crítica propõe uma abordagem mais ampla e inclusiva, considerando que, as estruturas de poder, as desigualdades e as injustiças sociais moldam a experiência de envelhecer.

Essa definição surgiu como resposta a uma percepção de que o campo gerontológico dominante era insuficiente para tratar das complexidades do envelhecimento, especialmente quando se trata de fatores socioeconômicos e políticos. Seus teóricos argumentam que o envelhecimento é um fenômeno socialmente construído, profundamente influenciado por questões como classe, gênero, raça e etnia. O conceito de “envelhecimento ativo” e as políticas voltadas para o prolongamento da vida saudável, por exemplo, são analisados criticamente sob a ótica de que esses modelos nem sempre consideram as profundas desigualdades que marcam a vida de muitos idosos, especialmente os que vivem em situação de vulnerabilidade.

Essa perspectiva crítica sugere que as noções dominantes sobre o envelhecimento, que geralmente promovem a produtividade, independência e autonomia, não levam em conta a diversidade das trajetórias de vida e as desigualdades estruturais que moldam a velhice. Em vez disso, a Gerontologia Social Crítica enfatiza que muitos idosos enfrentam barreiras sistemáticas que limitam suas oportunidades de envelhecer com dignidade e em boas condições de vida.

Ressalte-se que, as desigualdades sociais e como elas afetam a vida da pessoa idosa, é um dos principais focos da Gerontologia Social Crítica. Essas desigualdades podem ser observadas em várias dimensões como classe social, raça, etnia, gênero e outros. O acúmulo de desvantagens econômicas ao longo da vida frequentemente se intensifica na velhice. Idosos que vivem em condições precárias de trabalho, sem acesso adequado a proteção social ou saúde, geralmente enfrentam dificuldades financeiras e piores condições de saúde.

As desigualdades raciais também se manifestam no envelhecimento. Estudos mostram que idosos de grupos raciais minoritários, especialmente em países como o Brasil, enfrentam condições piores em termos de saúde, expectativa de vida e acesso a serviços. A interseccionalidade de raça e classe se destaca como um fator crucial para entender essas desigualdades. As mulheres idosas são, em média, mais vulneráveis financeiramente, muitas vezes por terem enfrentado desigualdade de salários durante a vida ativa e por terem passado mais tempo em trabalhos não remunerados, como cuidados domésticos.

A abordagem crítica revela como essas desigualdades sociais, acumuladas ao longo da vida, resultam em um envelhecimento mais difícil para certos grupos, que podem ter menos acesso a cuidados de saúde, menor suporte familiar e mais dificuldades financeiras. Outro conceito central para a Gerontologia Social Crítica é o ageísmo, a discriminação e os estereótipos baseados na idade.

O ageísmo afeta profundamente a vida da pessoa idosa, criando barreiras no acesso ao mercado de trabalho, ao sistema de saúde e a outros recursos sociais. Ele está presente em discursos que consideram os idosos como um “peso” para a sociedade, refletidos principalmente nas preocupações com os custos crescentes dos sistemas de aposentadoria e saúde pública.

A crítica ao ageísmo se estende à forma como a sociedade enxerga o envelhecimento de maneira homogênea, negligenciando a diversidade de experiências e trajetórias de vida. A Gerontologia Social Crítica se contrapõe a essas visões, propondo uma reavaliação da valorização da velhice, levando em consideração as diferentes formas de exclusão e marginalização que a pessoa idosa pode enfrentar.

2.2 O PROJETO CORPO E MOVIMENTO E A RESSIGNIFICAÇÃO DO ENVELHECIMENTO

De acordo com Blessmann (2004), o corpo é um instrumento carnal, múltiplo de sentidos e percepções capaz de dar ao ser humano o acesso ao mundo, e o modo como cada sujeito irá se expressar neste se chama corporeidade. Compreende-se que corporeidade abrange o corpo vivo e em movimento e está diretamente relacionado com a cultura e a história, configurando o espaço e o tempo, expressando a unidade do ser-no-mundo. Assim, estamos diante de um grande desafio, pois não existem fórmulas para sua compreensão.

Para Guedes (1995) resta-nos a tentativa de encarar uma concepção mais ampla do corpo, numa relação dialética dele com ele mesmo, com os outros e com os objetos do seu mundo, assim, é necessário que o corpo idoso seja valorizado e respeitado, não como um instrumento de trabalho a ser usado, mas como um domínio do ser que explora e enriquece a experimentação, adquirindo o aprendizado que a vida oferece, ou seja, deve ser vista como ponto de partida, e não como de chegada ou de comparação com padrões “normais”, retirados do mundo adulto produtivo e rentável, assumindo um simbolismo que pode influenciar diretamente a autoimagem das pessoas idosas e a forma como estas representam o seu processo de envelhecimento.

Segundo Pereira (2005), o reconhecimento pela pessoa idosa da importância do exercício corporal para um envelhecimento com qualidade de vida, demonstra a valorização que este tipo de atividade exerce. A pessoa que se exercita, melhora sua forma física para desfrutar sua vida, acumula disposição para se dedicar a outras atividades. Sabe-se que o exercício físico, além de promover a saúde e o bem-estar, também diminui os efeitos de doenças como: obesidade, hipertensão, depressão e muitas outras, além de ajudar na diminuição da

ingestão de medicamentos. Ou seja, amplia as relações sociais, a disposição e a saúde de um modo geral, afeta de maneira positiva o desenvolvimento intelectual, o raciocínio, a velocidade de reação, o convívio social, melhorando significativamente a qualidade de vida.

Diante do exposto, é preciso desmistificar e potencializar a visão de corpo no envelhecimento, para que se possa viver este processo de forma dinâmica com qualidade, independente de todas as modificações que estejam inscritas no corpo, o qual, também inclui valores morais, reflexões, intervenções e vivências, possibilitando a construção de um contexto social mais inclusivo, de forma a permitir um envelhecimento ativo, qualificado e saudável.

Nesse contexto, a Universidade Federal do Pará, apoiada no tripé: ensino, pesquisa e extensão, tem por objetivo, aprofunda discussões e responder às demandas advindas da sociedade em suas correlações de força e poder, sendo o Projeto de Extensão “Corpo, Movimento e Qualidade de Vida da Pessoa Idosa”, uma das respostas da universidade em particular da Faculdade de Serviço Social para a garantia do envelhecimento humano com qualidade, através da discussão e desenvolvimento de propostas e atividades que favoreçam o seu bem-estar, físico, social e psíquico; o engajamento ocupacional do idoso por meio do trabalho de consciência, expressão e mobilização corporal; da manutenção da capacidade física; da autonomia por meio das atividades do exercício corporal, movimento e dança de salão, pois, o movimento corporal é importante em qualquer etapa da vida, sendo que para cada uma delas existe uma prática diferenciada para o executante, buscando os objetivos distintos.

O Projeto proporciona atividades de desenvolvimento cognitivo, palestras socioeducativas e melhora da mobilidade física através de oficinas voltadas para tal. Também se apresentando como um espaço onde a pessoa idosa se reconhece como detentora de direito, como sujeito político e protagonista no enfrentamento dos estigmas e preceitos vivenciados no cotidiano e determinados pela idade.

Nesse contexto, a Gerontologia Social Crítica possibilita à compreensão e execução no Projeto de uma perspectiva ampliada sobre o envelhecimento, que vai além das abordagens biológicas e funcionais. Enfatiza a importância de considerar as desigualdades sociais, econômicas e culturais que influenciam a capacidade dos idosos de participar plenamente em atividades físicas e de

movimento. Reconhece e supera as barreiras estruturais, como o acesso desigual a espaços de lazer e saúde.

A Gerontologia Social Crítica enquanto conhecimento, contribui para a criação de estratégias mais inclusivas, promovendo não apenas o bem-estar físico, mas também a autonomia e a dignidade das pessoas idosas, especialmente aquelas em contextos de vulnerabilidade social que participam do Projeto.

Lembrando que os Princípios das Nações Unidas para as Pessoas Idosas no item Assistência coloca que: – 11. Os idosos devem ter acesso a cuidados de saúde que os ajudem a manter ou a readquirir um nível ótimo de bem-estar físico, mental e emocional e que previnam ou atrasem o surgimento de doenças. Desta forma a inclusão de idosos através da Uniterci, pelo projeto corpo e movimento, Se coloca como o rompimento de duas variáveis, que ainda permanecem cristalizada no imaginário da sociedade em relação a pessoa idosa, a saber: o preconceito – no qual é construído uma imagem de inatividade da pessoa idosa, colocando a margem de qualquer atividade que lhe faculte trabalhar seu aspecto físico biológico; e bem como desmonta o arquétipo da impossibilidade de que a pessoa idosa não seja de igual forma apta a participar de eventos que coloque sua estrutura biofísica em interação com as atividades propostas pelo projeto.

Importante também trazer a lição que embora o culto ao corpo, ao belo e ao novo, seja uma tendência de comportamento geral, a forma, pois dentro desta lógica narcisista, que vê o corpo e utiliza na verdadeira expressão não só de um estilo de vida mas também na representação da condição de classe de cada um. Relevante então colocar que para Bourdieu (1983), cada classe possui um habitus, o qual é transmitido a cada geração subsequente através das múltiplas relações entre seus indivíduos, neste contexto o conceito de habitus é:

[…] sistema de disposições duráveis e transferíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, apreciações e ações, e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas da mesma forma e graças às correções incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidas por estes resultados (BOURDIEU, 1983: 65).

Obviamente que é introjeção das variáveis preconceito e impossibilidade, não ocorre sim o auxílio de uma espécie de rede de influências que coloca a pessoa idosa como apenas um ator social de menor influência nas interações e relações sociais. O projeto, objeto de análise, vai justamente ao polo oposto, qual seja dar a pessoa idosa uma dimensão, não de mera reprodutora de uma relação social, e sim colocá-la com ator ativo na sociedade,

Desta forma é importante considerar o que Seneca (seneca.2020), filósofo e senador romano, colocava sobre o envelhecimento: além disso, que não existe diferença entre vida longa e vida breve, mas, nada impedindo, procura viver a mais longa existência possível, mantendo-se com energia até a mais avançada velhice. E manter o corpo em movimento exercitar plenamente a energia presente em cada ser humano.

3.  CONSIDERAÇÕES

O artigo partiu da concepção de que o debate sobre o envelhecimento populacional apesar de suas interfaces e complexidades, exige uma abordagem para além dos estereótipos limitantes e das reduções biologistas que historicamente permearam as produções sobre a velhice de forma superficial, também mostrou a emergência da Gerontologia Social Crítica como uma ferramenta essencial para desconstruir as visões hegemônicas e propor uma reflexão mais profunda sobre os diversos aspectos que envolvem o processo do envelhecer humano.

Reconheceu a velhice não como uma fase de perdas e exclusão, mais como um potencial protagonismo e contribuição, portanto, o passo fundamental para a promoção da inclusão social da pessoa idosa, valorizando suas experiências e respeitando suas especificidades.

Foi fundamentado nesta concepção de mundo socialmente construído, que pode ser melhor e mais justo, que o Projeto de Extensão “Corpo, Movimento e Qualidade de Vida da Pessoa Idosa”, vinculado ao Programa UNITERCI da UFPA, concretizou suas iniciativas interdisciplinares no sentido de ressignificar

a relação dos idosos com seus corpos e com o movimento, promovendo não apenas a saúde física, mas também sua inclusão social e o se empoderamento. Ao proporcionar atividades que estimulam a mobilidade, o engajamento e a conscientização corporal, o Projeto contribuiu para um envelhecimento ativo e dinâmico, em consonância com os princípios da Gerontologia Social Crítica, que valoriza a diversidade das trajetórias de vida e combate às desigualdades que marcam a velhice.

Diante do exposto, ficou evidente a importância das políticas sociais e públicas através de Projetos Extensionistas capazes de promover um envelhecimento saudável, inclusivo e digno. Essas ações não só atendem às necessidades imediatas da população idosa, como também desafiam e transformam estruturas sociais que reproduzem as condições de exclusão e marginalização. Entendemos que o envelhecer com qualidade de vida é um direito, e iniciativas como o Projeto de Extensão “Corpo, Movimento e Qualidade de Vida da Pessoa Idosa”, são de fundamental importância para garantir que esses direitos sejam plenamente exercidos.

4.  REFERÊNCIAS

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