O PROCESSO EDUCATIVO EM PRIMEIROS SOCORROS NAS ESCOLAS FUNDAMENTADO NA LEI LUCAS: SIMULAÇÃO “IN SITU”

THE EDUCATIONAL PROCESS IN FIRST AID IN SCHOOLS BASED ON THE LUCAS LAW: “IN SITU” SIMULATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12439479


Amanda Vitória Andrade DomicianoI
Carla Cristina Maria  MoreiraI
Isabella de Oliveira Campos SilvaI
Ricardo José Coimbra JúniorI
André Herácleo de AzevedoII


RESUMO: Objetivo Geral: Analisar o processo educativo em primeiros socorros nas escolas com fundamentação teórica na Lei n.º 13.722 de 04 de outubro de 2018, a Lei Lucas. Metodologia: Trata-se de um estudo do tipo pesquisa de campo de abordagem qualitativa exploratória descritiva. A pesquisa foi conduzida em escolas privadas de ensino primário e fundamental de Barbacena. A coleta de dados ocorreu em três etapas, durante os meses de fevereiro a abril de 2024, utilizando dois questionários semiestruturados para a realização do pré-teste e pós-teste e treinamento teórico-prático com uso de kits de multimídias, manequins e simulação realística. Os dados foram analisados segundo o conteúdo de Bardin e apresentados através de gráficos elaborados no programa Microsoft Office Excel. Resultados: Após a intervenção houve um aumento significativo na capacidade dos profissionais de reconhecer e manejar emergências, contribuindo potencialmente para a redução de agravos em casos de incidentes no ambiente escolar. Conclusão: A capacitação de professores e funcionários em primeiros socorros é vital, dada a frequência de acidentes no ambiente escolar.  A habilidade desses profissionais em manejar tais situações é crucial para salvar vidas, reforçando assim a importância desse treinamento, conforme a legislação obrigatória, promovendo estudos contínuos e aplicação prática nas escolas, incentivando os participantes a se tornarem multiplicadores do conhecimento adquirido.

Palavras-chave: Primeiros Socorros; Escolas; Simulação; Lei.

ABSTRACT: General Objective: To analyze the educational process in first aid in schools with a theoretical foundation in Law No. 13.722 of October 4, 2018, the Lucas Law. Methodology: This is a qualitative, exploratory, descriptive field research study. The research was conducted in private primary and elementary schools in Barbacena. Data collection occurred in three stages, from February to April 2024, using two semi-structured questionnaires for pre-test and post-test and theoretical-practical training with the use of multimedia kits, mannequins, and realistic simulation. The data were analyzed according to Bardin’s content analysis and presented through graphs created in Microsoft Office Excel. Results: After the intervention, there was a significant increase in the professionals’ ability to recognize and manage emergencies, potentially contributing to the reduction of aggravations in cases of incidents in the school environment. Conclusion: The training of teachers and staff in first aid is vital, given the frequency of accidents in the school environment. The ability of these professionals to manage such situations is crucial for saving lives, thus reinforcing the importance of this training as required by law, promoting continuous studies and practical application in schools, and encouraging participants to become multipliers of the knowledge acquired.

Keywords: First Aid; Schools; Simulation; Law.

1. INTRODUÇÃO 

Emergências que demandam atendimento inicial eficaz para minimizar danos e aumentar as chances de sobrevida da vítima podem ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar. Os primeiros socorros envolvem essa assistência imediata e devem ser realizados no período entre o incidente e a chegada de ajuda especializada.1,2

Estudos europeus apontam que a capacitação em Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) é obrigatória por lei em 5 países, como França, Portugal, Itália, Dinamarca e Bélgica, e é uma recomendação em 23 países, incluindo a Espanha.3

No Brasil, foram registrados 1019 óbitos infantis por causas externas de morbimortalidade, sendo 54 no estado de Minas Gerais no ano de 2018. A mortalidade por essa etiologia, no ano de 2021, subiu para 1067 no país, sendo 72 dessas registradas no estado mineiro. Esse aumento de 33,33% evidencia a necessidade de ações de promoção e prevenção que visem atenuar essas mortes prematuras.4

Considerando que as crianças passam cerca de um terço de seu dia em ambiente escolar, professores e funcionários precisam desempenhar o papel de socorristas diante de intercorrências, agindo imediatamente para evitar o agravamento da situação. Isso porque a fase de crescimento e desenvolvimento da criança é marcada pela curiosidade, que as levam a vivenciarem diversas experiências, as quais podem expô-las a riscos.5

Os baixos níveis de conhecimento acerca da temática, justificado pela falta de capacitação de modo contínuo e sistematizado, despertam sentimentos negativos de insegurança e medo nos profissionais de educação no momento de prestar primeiros socorros. Quando é necessário, aplicam o conhecimento que obtêm de experiências anteriores, leituras e até mesmo do senso comum.5

Um exemplo trágico no Brasil, é o caso do menino Lucas Begalli Zamora que durante um passeio escolar sob a supervisão dos funcionários da escola, engasgou com o lanche, sofreu asfixia mecânica e teve sete paradas cardíacas. O incidente poderia ter um desfecho diferente caso houvesse alguém capacitado para realização da técnica de desengasgo, a manobra Heimlich.

A Lei Nº 13.722 de 04 de outubro de 2018, busca um objetivo valioso ao oferecer aos pais e mães, em todo o país, maior tranquilidade emocional e segurança prática quando os seus filhos estão sob o cuidado de terceiros em contextos educacionais ou recreativos.6

É pressuposto que a autoconfiança aliada às experiências prévias e ao conhecimento podem promover um manejo seguro das intercorrências de saúde.5 Nesse cenário, é essencial popularizar a prática da realização dos primeiros atendimentos pelos profissionais de educação. Para isso, é fundamental capacitar aqueles que estão inseridos em ambiente escolar por força de trabalho.7

A simulação “in situ” é uma técnica eficaz nesse cenário, a qual consiste na realização de uma demonstração realística replicando experiências reais utilizando de ferramentas e equipamentos como exemplo manequins.8 Esse modelo de simulação promove fidelidade aos cenários e contribui para o aperfeiçoamento no manejo de primeiros socorros, fazendo com que a aprendizagem se assemelhe a prática potencializando o treinamento.7

Garantir o mínimo de capacitação para lidar com contratempos pode ser fundamental para a segurança e o bem-estar das crianças em formação, uma vez que, técnicas simples e ação imediata podem fazer a diferença na vida de um vulnerável em uma situação crítica.9

2. MÉTODO

Refere-se de um estudo do tipo pesquisa de campo de abordagem qualitativa exploratória descritiva fundamentada na simulação “in situ”: 

“Definindo bem o nosso campo de interesse, nos é possível partir para um rico diálogo com a realidade. Assim o trabalho de campo deve estar ligado a uma vontade e a uma identificação com o tema a ser estudado, permitindo uma melhor realização da pesquisa proposta.”

A pesquisa foi realizada com docentes e funcionários de escolas particulares de ensino na cidade de Barbacena. Os critérios para a inclusão deste estudo abrangeram os docentes e funcionários atuantes no âmbito escolar que aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa. Os critérios de exclusão foram alunos, professores e funcionários portadores de deficiência (PCD). 

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) sob Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) 76102523.5.0000.5156, seguindo as normas regulamentadoras e diretrizes da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, envolvendo seres humanos.

A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro de 2024 a abril de 2024, com 50 professores e funcionários, em 5 escolas da rede privada de ensino. A mesma foi conduzida em três etapas conforme descrição: Etapa 1: os docentes e funcionários realizaram um pré-teste utilizando um questionário semiestruturado, cuja função foi identificar o conhecimento prévio em primeiros socorros no ambiente escolar. Etapa 2: foi oferecido um treinamento teórico/prático utilizando materiais, multimídias (apresentação de vídeos e slides montados pelos pesquisadores abordando pontos importantes para a compreensão das principais causas de emergências no âmbito escolar). Foi realizado simulação realística de uma PCR (parada cardiorrespiratória) com compressões torácicas em manequins, demonstrada a execução correta da manobra de Heimlich e posteriormente estimulado a reprodução da técnica, simulação de um episódio de crise convulsiva e de fraturas internas e expostas. Em um tempo estimado de 90 minutos, foram realizadas explicações objetivas e o esclarecimento de dúvidas que surgiram dos participantes. Etapa 3: os participantes das etapas 1 e 2 foram submetidos a um pós-teste utilizando o mesmo questionário semiestruturado apresentado na etapa 1, onde a finalidade foi avaliar a eficácia do treinamento teórico/prático abordado na etapa 2 e observar se houve uma melhoria na relação pré-teste/pós-teste. 

Ressalta-se que os questionários semiestruturados (Etapa 1 e 3) foram entregues pelos pesquisadores em um local disponibilizado e acordado com cada instituição, sendo ofertado caneta esferográfica azul para cada voluntário para que respondessem tais documentos.

Os dados coletados foram registrados utilizando o programa Microsoft Office Excel, onde a avaliação foi embasada na análise de conteúdo proposta por Bardin, a qual perpassou por três etapas: a pré-análise sendo a fase de organização dos dados coletados, a exploração, que consistiu na esquematização e agrupamento do material, e, por fim a etapa de tratamento dos resultados onde foram avaliados e interpretados, sendo apresentados em forma de gráficos e descrição do conteúdo. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na pesquisa, participaram 50 professores de 5 escolas da rede privada de ensino de Barbacena, dos quais 47 participantes (94%) eram do sexo feminino e 3 participantes (6%) do sexo masculino. Após a análise dos resultados foi possível constatar uma melhora do conhecimento dos profissionais acerca dos primeiros socorros na relação pré-teste/pós-teste, apontando uma diferença significativa após o treinamento. (Figuras 1 e 2)

Do processo de análise dos questionários as perguntas foram elencadas da seguinte forma: I Conhecimento sobre a lei Nº 13.722 – Lei Lucas; II Reconhecimento da necessidade de acionar o serviço de emergência; III Conhecimento sobre o número correto para acionamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), IV Definição do termo Ressuscitação Cardiopulmonar, V Local anatômico adequado para aferição de pulso em suspeita de parada cardiorrespiratória, VI Técnica de compressão/ventilação com um socorrista em cena, VII Local anatômico adequado para realização de compressões, VIII Reconhecimento de obstrução das vias áreas em uma criança consciente e qual a conduta adequada, IX Reconhecimento de uma crise convulsiva e atuação frente ao evento e X Entender os passos iniciais a serem realizados frente a uma suspeita de fratura.

Figura 1 – Resposta do questionário de Pré-teste

Fonte: Os autores.

Figura 2 – Resposta do questionário de Pós-teste 

Fonte: Os autores

I – Conhecimento sobre a lei nº 13.722 – Lei Lucas

Essa questão expõe o grau de conhecimento dos profissionais acerca da Lei Lucas, a qual prevê a exigência de capacitação de primeiros socorros para docentes e colaboradores nas instituições de ensino. Apenas 18% dos respondentes demonstraram estar informados sobre referida legislação, enquanto 82% afirmaram não possuir conhecimento a respeito da mesma.

Figura 3 – Conhecimento sobre a lei Nº 13.722- Lei Lucas – Pré-teste 

Fonte: Os autores

Acredita-se que tal fenômeno ocorra em virtude da falta de visibilidade atribuída à legislação em questão. Esta lacuna de conhecimento sugere uma possível falha na divulgação e na compreensão da importância da Lei Lucas nas instituições escolares, o que pode impactar diretamente na eficácia da implementação de medidas de segurança e proteção para os alunos. Após o treinamento e aplicação do pós-teste, torna-se evidente uma significativa mudança na percepção dos participantes em relação à pauta, visto que 94% dos participantes referiram estar cientes da legislação enquanto 6% persistiram no desconhecimento da mesma.

Figura 4 – Conhecimento sobre a lei Nº 13.722- Lei Lucas – Pós-teste 

Fonte: Os autores

Durante a fase de aplicação do treinamento, destaca-se que uma das participantes P4 manifestou sua indignação:

“P4: […] um assunto tão relevante nunca foi comentado ou discutido em minha formação”. 

Tal manifestação reforça a necessidade do amplo debate e disseminação dos princípios dessa legislação nos currículos educacionais e nos ambientes de capacitação, a fim de assegurar a adequada preparação dos profissionais para atuar frente às situações emergenciais nas escolas. 

II – Reconhecimento da necessidade de acionar o serviço de emergência

O acionamento dos serviços de emergência é um procedimento crucial que deve ser realizado de maneira rápida e precisa para garantir uma resposta eficiente em situações críticas. Primeiramente é essencial manter a calma e fornecer informações claras e detalhadas ao operador, incluindo a natureza da emergência, a localização exata e quaisquer detalhes relevantes sobre as vítimas ou o cenário.13

A consciência sobre como acionar corretamente esses serviços pode fazer a diferença entre a vida e a morte, destacando a importância da educação e preparação da população para lidar com emergências. Entre os serviços disponíveis temos o SAMU, Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais (CBMMG), Polícia Militar (PM) e o serviço de Resgate Rodoviário.

O SAMU presta assistência a pacientes com condições clínicas urgentes, encaminhando-os para as Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s). Ao ser abordada a questão, todos participantes (100%) estavam cientes da necessidade da solicitação do SAMU para atendimento das intercorrências.

Ressalta-se que em caso de emergências devem ser acionados serviços especializados que possam oferecer a assistência adequada. 

Figura 5 – Reconhecimento da necessidade de acionar o serviço de emergência – Pré-teste 

Fonte: Os autores

Figura 6 – Reconhecimento da necessidade de acionar o serviço de emergência – Pós-teste 

Fonte: Os autores

Conforme demonstrado pelos resultados do pré-teste e pós-teste nas figuras 5 e 6, todos os participantes (100%) demonstraram o entendimento adequado e consciente acerca da imprescindibilidade de acionar o serviço de emergência, conforme preconizado pelas diretrizes contidas nos protocolos do Suporte Hospitalar de Vida no Trauma (PHTLS), Suporte Avançado de Vida Cardiovascular (ACLS), Associação Americana de Cardiologia (AHA) e outros de evidência científica como Nexus. Esta uniformidade de conhecimento indica uma efetiva assimilação das instruções, resultando em uma conscientização coletiva sobre a importância de buscar assistência especializada diante de intercorrências médicas. 

III – Conhecimento sobre o número correto para acionamento do SAMU 

O SAMU pode ser contatado através do número 192 e deve ser acionado em casos de emergências clínicas como crises convulsivas, perda da consciência, obstrução das vias aéreas, parada cardiorrespiratória e fraturas.14 Ressalta-se que há outros serviços de emergências que podem ser acionados como CBMMG, Polícia Militar (PM) e Resgate Rodoviário. Ao serem questionados sobre o número correto de contato, sendo (Alternativa A = 189; alternativa B = 192; alternativa C = 194), 98% dos participantes estavam cientes da informação correta, enquanto apenas 2% dos participantes selecionaram as opções incorretas. 

Figura 7 – Conhecimento sobre o número correto para acionamento do SAMU – Pré-teste

Fonte: Os autores

Em situações de emergência, indivíduos podem sentir-se sobrecarregados emocionalmente, o que dificulta a lembrança do número adequado para acionar o SAMU, ou mesmo por acharem falta de relevância em saber o número. 

Figura 8 – Conhecimento sobre o número correto para acionamento do SAMU – Pós-teste 

Fonte: Os autores

Após aplicação do pós-teste, foi constatado que 100% dos participantes apontaram o 192 como número a ser atingido. A relevância desta informação reside na necessidade de garantir uma resposta eficaz em um contratempo visto que o serviço de emergência promove uma assistência imediata. Assim a disseminação do número correto para acionamento do serviço e sua utilização apropriada é essencial para assegurar uma resposta rápida e eficiente diante de uma emergência.14

IV – Definição do termo Ressuscitação Cardiopulmonar 

Este tópico aborda o conhecimento dos participantes referente ao significado da condição de parada cardiorrespiratória. Constatou-se um equilíbrio no pré-teste, onde 48% estavam cientes sobre o significado do termo, enquanto 52% relataram não ter conhecimento sobre o mesmo.

Figura 9 – Definição do termo Ressuscitação Cardiopulmonar – Pré-teste 

Fonte: Os autores

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é um conjunto de procedimentos conduzidos por profissionais de saúde ou leigos, com o objetivo de reverter a parada cardiorrespiratória (PCR) e garantir oxigenação e perfusão tecidual adequadas.15

Figura 10 – Definição do termo Ressuscitação Cardiopulmonar – Pré-teste

Fonte: Os autores

Após o treinamento, na realização do pós-teste, nota-se que houve uma melhora significativa na concepção dos participantes em relação à definição do termo utilizado, visto que 98% dos respondentes identificaram o termo correto contra apenas 2% que não obtiveram êxito.

V – Local anatômico adequado para aferição de pulso em suspeita de parada cardiorrespiratória

Durante a aplicação do pré-teste muitos deles demonstraram desconhecimento sobre o assunto, no entanto, houve sobreposição dos acertos onde 56% identificam o local adequado, e uma porcentagem menor, de 44% dos participantes mencionando erroneamente o pulso braquial ou radial para a aferição da pulsação arterial.

Figura 11 – Local anatômico adequado para aferição de pulso em suspeita de parada cardiorrespiratória – Pré-teste

Fonte: Os autores

Durante a simulação realística, no que tange a aplicabilidade de palpação dos locais anatômicos para referência dos sinais vitais, embora alguns tenham demonstrado compreensão sobre o local correto, o pulso carotídeo, alguns participantes não conseguiram associar o nome ao local adequado. Isso, é decorrente à familiaridade limitada com os termos e com a anatomia dos vasos sanguíneos. 

Figura 12 – Local anatômico adequado para aferição de pulso em suspeita de parada cardiorrespiratória – Pós-teste

Fonte: Os autores

Vale ressaltar que a detecção precoce de uma PCR depende da verificação do pulso carotídeo, considerado o mais confiável. Observa-se uma melhora na identificação do pulso após o treinamento, indicando um desenvolvimento positivo na habilidade dos participantes onde 96% indicaram o pulso correto e apenas 4% apontaram locais inadequados. O sítio correto aliado ao tempo máximo de dez segundos para verificação é crucial para determinar sena circulação sanguínea é inadequada e iniciar as compressões precocemente, aumentando as chances de sobrevivência.15

VI – Técnica de compressão/ventilação com um socorrista em cena

Diante de uma parada cardiorrespiratória é de extrema importância a realização da técnica correta para aumentar a chance de sobrevida. De acordo com a AHA “em cada minuto de demora da RCP, as chances de sobrevida caem 10%”. A técnica correta exige que o profissional se posicione ao lado da vítima, estira os braços, sobreponha as mãos, e em caso de crianças menores de 02 anos, apoiar uma das mãos sobre a metade inferior do esterno, ou ainda, em lactentes comprimir o esterno com dois dedos posicionados abaixo da linha intermamilar. Após posicionamento correto, deverá ser administrado compressões eficientes, na frequência de 100 a 120/min, deprimindo o tórax em 4 a 5 cm com completo retorno. Insuflações são administradas em 1 segundo e deve ser visível a elevação do tórax, usando bolsa válvula-mácara com reservatório e oxigênio adicional caso disponível. A proporção preconizada é de 2 ventilações para cada 30 compressões.11  Ao ser aplicado o pré-teste com os participantes obteve-se o resultado:18% marcaram mãos espalmadas aplicando 30 compressões com 02 ventilações; 72% marcaram mãos sobrepostas aplicando 15 compressões com 02 ventilações e 10% marcaram: mãos sobrepostas aplicando 30 compressões com 02 ventilações. Evidenciando que a maioria dos participantes desconhecem a técnica correta da manobra de compressões torácicas em uma parada cardiorrespiratória. 

Figura 13 – Técnica de compressão/ventilação com um socorrista em cena – Pré-teste

Fonte: Os autores

Após o treinamento e aplicação do pós-teste, 78% dos participantes identificaram a alternativa correta, mas ainda assim, uma considerável parcela de 22% manteve uma resposta errônea.

Figura 14 – Técnica de compressão/ventilação com um socorrista em cena – Pós-teste

Fonte: Os autores

VII – Local anatômico adequado para realização de compressões

É de suma importância que a manobra seja realizada no sítio anatômico adequado, sendo a região do esterno a ideal para que a técnica seja efetiva.15 O intuito é compensar o funcionamento da bomba cardíaca. Verificou-se que os participantes no pré-teste marcaram 40% região dorsal, 26% na região estomacal e 34% na região do esterno.

Figura 15 – Local anatômico adequado para realização de compressões – Pré-teste

Fonte: Os autores

Após a realização do treinamento de forma efetiva e aplicação do pós-teste observa-se que ainda há um déficit por parte dos participantes no entendimento anatômico, onde 16% marcaram a região dorsal, 18% na região estomacal e 66% na região do esterno. 

Figura 16 – Local anatômico adequado para realização de compressões – Pós-teste

Fonte: Os autores

VIII – Reconhecimento de obstrução das vias áreas em uma criança consciente e qual a conduta adequada

O engasgo ocorre quando a passagem de ar é bloqueada devido à entrada de um objeto estranho nas vias aéreas. Normalmente, em crianças essa obstrução é causada por alimentos ou objetos que foram colocados na boca. O sinal universal do engasgo é reconhecido pelo ato de colocar as mãos na garganta. Identificada a obstrução pelo o ato, deve ser iniciado a manobra de Heimlich, que tem como funcionalidade reproduzir uma tosse: a cada compressão, expulsa o ar dos pulmões. Isso pode ajudar a deslocar/remover o objeto que está obstruindo a via aérea.16 Ao ser entregue o pré-teste aos participantes verificou-se que 52% mencionaram mãos na garganta; Manobra de Heimlich, 16% mãos na garganta; tapa nas costas e 32% mãos pra cima; Manobra de Heimlich. 

Figura 17 – Reconhecimento de obstrução das vias áreas em uma criança consciente e qual a conduta adequada – Pré-teste

Fonte: Os autores

Após a realização do treinamento e aplicação do pós-teste, observa-se que foi realizado a marcação de 82% mãos na garganta; Manobra de Heimlich, 4% mãos na garganta; tapa nas costas e 14% mãos pra cima; Manobra de Heimlich.

Figura 18 – Reconhecimento de obstrução das vias áreas em uma criança consciente e qual a conduta adequada – Pós-teste

Fonte: Os autores

É necessário o reconhecimento de uma obstrução das vias áreas para que seja realizado no tempo ideal e de forma correta a Manobra de Heimlich. A técnica preconizada, consiste em posicionar o punho da mão dominante acima da cicatriz umbilical na região epigástrica, e com a mão livre comprimir rápido em sentido ao esôfago no formato de “J”. Comprimir até expelir o objeto ou até a pessoa conseguir tossir, falar ou até ficar inconsciente. Se isso acontecer, deve ser avaliado a condição de uma possível parada cardiorrespiratória. 16

IX – Reconhecimento de uma crise convulsiva e atuação frente ao evento

A crise convulsiva é um episódio onde ocorre uma atividade elétrica anormal e excessiva no cérebro acompanhada por uma distonia e rebaixamento do nível de consciência, podendo resultar em uma ampla gama de sintomas como cianose, sialorreia, sinais de lábios e dentes cerrados. Além disso pode ser presenciado o relaxamento esfincteriano causando incontinência fecal e urinária.¹¹ Frente a esse cenário, foram expostos no pré-teste algumas condutas onde os participantes apontaram que tomariam frente na situação. Dessa forma, 12% procederam segurando a criança para que ela não se debata; 28% lateralizariam a criança e afastariam móveis que possam promover risco e puxar a língua para fora; 60% lateralizariam a criança, afastando objetos que possam oferecer risco e afrouxar as roupas.

Figura 19 – Reconhecimento de uma crise convulsiva e atuação frente ao evento – Pré-teste

Fonte: Os autores

Realizado treinamento teórico/prático abrangente ao tema e aplicado o pós-teste, verificou-se os seguintes resultados: 12% lateralizar a criança e afastar móveis que possam promover risco e puxar a língua para fora e 88% lateralizar a criança, afastar objetos que possam oferecer risco e afrouxar as roupas. Nenhum dos participantes selecionou a opção de segurar a criança impedindo que ela se debata, evidenciando o esclarecimento deste item durante a aplicação do treinamento.

Figura 20 – Reconhecimento de uma crise convulsiva e atuação frente ao evento – Pós-teste

Fonte: Os autores

A técnica correta preconiza que a criança seja lateralizada e seja afastado qualquer objeto que possa causar danos físicos a mesma, afrouxar as roupas e retirar adornos. É desaconselhável qualquer tentativa de puxar a língua da criança e a realização de força física contra a mesma para impedir que ela se debata. No entanto, devem ser tomadas medidas de proteção para evitar traumas cranioencefálicos.17

X – Entender os passos iniciais a serem realizado frente a uma suspeita de fratura

A fratura é caracterizada pela ruptura da continuidade do osso e perda da integridade da estrutura esquelética. A imobilização é utilizada para controlar ou abolir movimentos de um membro fraturado e facilitar o reparo da lesão, sendo essencial para a recuperação. ¹² Após análise, verifica-se que os participantes na realização do pré-teste adotariam as seguintes condutas: 98% imobilizar o membro e chamar o socorro e 2% orientar que a criança evite movimentos e aplique pressão direta no local.

Figura 21 – Entender os passos iniciais a serem realizado frente a uma suspeita de fratura – Pré-teste

Fonte: Os autores 

Após a realização do treinamento e aplicação do pós-teste, observa-se que o mesmo índice de resultados foi mantido: 98% imobilizar o membro e chamar socorro e 2% orientar que a criança mexa e aplicar pressão direta no local.

Figura 22 – Entender os passos iniciais a serem realizado frente a uma suspeita de fratura – Pós-teste

Fonte: Os autores

A imobilização também pode ser empregada para prevenir o agravamento de lesões traumáticas na fase aguda, auxiliar em procedimentos pré-hospitalares como o transporte de vítimas, promoção de hemostasia e redução da dor.12

5. CONCLUSÃO

A capacitação de professores e funcionários em primeiros socorros, conforme preconizado pela lei n° 13.722 de 04 de outubro de 2018, mostrou-se uma estratégia eficaz e essencial na promoção da segurança no ambiente escolar. Os resultados da pesquisa indicaram que, após a intervenção, houve um aumento considerável no entendimento dos profissionais para reconhecer e manejar emergências, contribuindo assim para redução potencial de agravos em casos de incidentes no ambiente escolar. 

Mesmo diante da obrigatoriedade da qualificação dos profissionais em primeiros socorros, durante a pesquisa encontrou-se uma resistência das instituições na adesão ao treinamento, além de diversas vezes ser identificado alguma indiferença por parte dos participantes. Tais fatos evidenciam a lacuna existente entre conhecimento, adesão e cumprimento da Lei Lucas. 

É imperativo que a implementação de treinamentos regulares e a atualização contínua de técnicas sejam mantidas e ampliadas, assegurando que todos os envolvidos no ambiente escolar estejam devidamente preparados para agir de forma rápida e eficiente frente às emergências. A adoção de tais medidas é crucial para o fortalecimento da cultura de segurança nas escolas destacando a importância de cada educador e funcionário como potenciais agentes multiplicadores desse conhecimento vital.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

1Faleiros IB. Moreira ACMG, Gastaldi AB, Ribeiro BGA. Martins EAP. Capacitação em primeiros socorros para professores e funcionários do ensino fundamental e médio. 2021 [citado em 21/09/2023]: 13(1) 930-935. DOI: http://dx.doi.org/0.9789/2175-5361.rpcfo.v13.9649

2Cruz KB, Godas AGL, Galvão RG, David TC, Luchesil BM, Martins TCR. Aptidão, conhecimento e atitude de profissionais da educação infantil sobre primeiros socorros. Revista de enfermagem da UFSM. 2022 [citado em 21/09/2023]:13(7):1- 20. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769266542

3Fernandez FA. Programa de educación para la salud de soporte vital básico y primeros auxilios dirigido a estudiantes de educación secundaria. Trabajo Fin de Grado]. Universidad de Zaragoza: 2020 [citado em 09/10/2023] 42 p. Disponível em: https://zaguan.unizar.es/record/94823

4Ministério da Saúde. DATASUS: Departamento de Informática do SUS. Brasília, Ministério da Saúde, 2009. [citado em 01/10/2023] Disponível em: http://www.cnes.datasus.gov.br

5Mantovani J de L, Mazziero PFE, Barbieri MRB, Caram ALA, Ricci WZ, Frisanco FM. Avaliação do conhecimento sobre a lei Lucas e sua aplicabilidade: estudo piloto na rede de ensino pública do ensino infantil e fundamental. Arq. Ciênc. Saúde Unipar [Internet]. 2023 [citado 20/10/2023]: 27(4):1946-61. DOI: https://doi.org/10.25110/arqsaude.v27i4.2023-022

6Nascimento LG, Santos MSP, Schuber L. Primeiros socorros no âmbito escolar: Uma discussão indispensável. Anais VI CONEDU [Internet]. Campina Grande: Realize Editora; 2019 [Citado em 22/09/2023]: 1-13 p. Acesso em: https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/62176#

7Oliveira BRD, Sá AP, Siqueira LG, Ribeiro DKA, Siqueira LG, Vieira MD, Ribeiro KS. M. A. Conhecimento e habilidades em primeiros socorros por profissionais da educação.  Revista Nursing(São Paulo). 2021 [Citado em 1/02/2023]: 24(282) 6399–6403. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2021v24i282p6399-640.

8Kaneko RMU, Couto TB, Coelho MM, Taneno AK, Barduzzi NN, Barreto JKS, et al.. Simulação in Situ, uma Metodologia de Treinamento Multidisciplinar para Identificar Oportunidades de Melhoria na Segurança do Paciente em uma Unidade de Alto Risco. Revista brasileira educação médica [Internet]. 2015 [Citado em 30/09/2023]: 39(2):286–93. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v39n2e00242014 

9Brasil. Lei nº 13.722 de 04 de outubro de 2018. Torna obrigatória a capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil.2018 [Citado em 11/09/2023]:1-2. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/30228750

10MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p 52.

11Protocolo de Atendimento Pré-Hospitalar: Suporte Básico de Vida. São Paulo: Secretaria Municipal de Saúde – SAMU-192, 2022.

12Azevedo, Débora de, and Virtude Maria Soler. “Fraturas e imobilizações em ortotraumatologia.” CuidArte, Enferm (2017): 239-247.

13ANDRADE GF. Noções básicas de primeiros socorros [Internet]. UFRRJ: UFRRJ; 2020 [Citado em 15/05/2024]. Disponível em: https://portal.ufrrj.br/wp-content/uploads/2020/12/Cartilha-Nocoes-de-Primeiros-Socorros-e-Principais-Emergencias.pdf

14Ministério da Saúde. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência: Departamento de Informática do SUS. Brasília, Ministério da Saúde, 2024. [citado em 01/05/2024]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/samu-192

15Gonzalez MM, Timerman S, Gianotto-Oliveira R, Polastr TF, Canesin MF, Schimidt A, et al; I Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Cardiologia [Internet]. 2013 [citado em 01/05/2024];101(2):1-240. DOI: 10.5935/abc.2013S006.

16Bonetti S, Góes F. Engasgo [Internet]. Biblioteca Virtual em Saúde; 2017 [citado 03/05/2024]. Acessado: https://bvsms.saude.gov.br/engasgo/.

17CANETTI, et.al Manual Básico de Socorro de Emergência. 2 ed. editora: Atheneu, 2007.