THE INDIVIDUATION PROCESS ACCORDING TO C. JUNG
EL PROCESO DE INDIVIDUACIÓN SEGÚN C. JUNG
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10183334
Weliton da Silva Leão¹;
Nivaldo de Oliveira Boaventura Filho²;
Cíntia Nogueira Cherubino³;
Elenice Maria Fonseca Chaves Pedrosa4.
RESUMO
O presente estudo propõe uma revisão teórica do capítulo “O processo de Individuação” da obra do psicanalista C. G. Jung, “O Homem e seus símbolos” (1996). O texto foi escrito pela doutora M. L. von Franz, discípula, colaboradora e divulgadora do pensamento junguiano. Adentrando ao universo das ideias de Jung, podemos, por meio das palavras de M. L. von Franz, compreender o processo de individuação, como ele ocorre e suas implicações com a psique humana. Tal processo é, nas falas de Silveira (2023, p.116), “o eixo da psicologia junguiana”, e suas características, que segundo von Franz, são difíceis de contemplar em uma única definição, são carregadas de emoção e entoam a experiência viva, irracional e mutável, assim como a obra de Jung, não discorrendo segundo uma linearidade de ideias. Franz discute sobre as características arquetípicas da anima e do animus, seus pontos positivos e negativos e principalmente suas influências nos aspectos masculino e feminino que expressam no indivíduo. O texto de M. L. von Franz, trata ainda das relações com o Self, como chegar até ele e os problemas e benefícios disso. Explica porque a Mandala é a representação do self e dá exemplos e interpretações de sonhos. A autora também aborda o aspecto social do Self, do Self coletivo, de como ele pode nos enganar, unir grupos de pessoas e afastar outras. Afirma que as pessoas que se entregam ao processo de individuação, adquirem uma nova forma de ver a vida e compreender seu papel na existência.
Palavras-chave: Individuação; Persona, Anima; Animus; Self
SUMMARY
The present study proposes a theoretical review of the chapter “The process of Individuation” from the work of psychoanalyst C. G. Jung, “Man and his symbols” (1996). The text was written by Dr. M. L. von Franz, disciple, collaborator and promoter of Jungian thought. Entering the universe of Jung’s ideas, we can, through the words of M. L. von Franz, understand the process of individuation, how it occurs and its implications for the human psyche. This process is, in the words of Silveira (2023, p.116), “the axis of Jungian psychology”, and its characteristics, which according to von Franz, are difficult to contemplate in a single definition, are charged with emotion and convey the experience living, irrational and changeable, just like Jung’s work, not speaking according to a linearity of ideas. Franz discusses the archetypal characteristics of the anima and animus, their positive and negative points and mainly their influences on the masculine and feminine aspects that they express in the individual. M. L. Franz’s text also deals with relationships with the Self, how to reach it and the problems and benefits of this. Explains why the Mandala is the representation of the self and gives examples and interpretations of dreams. The author also addresses the social aspect of the Self, the collective Self, how it can deceive us, unite groups of people and drive others away. It states that people who surrender to the individuation process acquire a new way of seeing life and understanding their role in existence.
Keywords: Individuation. Person. Anima. Animus. Self.
RESUMEN
El presente estudio propone una revisión teórica del capítulo “El proceso de Individuación” de la obra del psicoanalista C. G. Jung, “El hombre y sus símbolos” (1996). El texto fue escrito por el Dr. M. L. von Franz, discípulo, colaborador y promotor del pensamiento junguiano. Adentrándonos en el universo de las ideas de Jung, podemos, a través de las palabras de M. L. von Franz, comprender el proceso de individuación, cómo ocurre y sus implicaciones para la psique humana. Este proceso es, en palabras de Silveira (2023, p.116), “el eje de la psicología junguiana”, y sus características, que según von Franz, son difíciles de contemplar en una única definición, están cargadas de emoción y transmiten la experiencia es viva, irracional y cambiante, tal como la obra de Jung, que no habla según una linealidad de ideas. Franz analiza las características arquetípicas del anima y animus, sus puntos positivos y negativos y principalmente sus influencias sobre los aspectos masculinos y femeninos que expresan en el individuo. El texto de M. L. Franz también trata de las relaciones con el Self, cómo alcanzarlo y los problemas y beneficios de ello. Explica por qué el Mandala es la representación del Self y da ejemplos e interpretaciones de los sueños. El autor también aborda el aspecto social del Self, el Self colectivo, cómo puede engañarnos, unir a grupos de personas y ahuyentar a otros. Afirma que las personas que se entregan al proceso de individuación adquieren una nueva forma de ver la vida y comprender su papel en la existencia.
Palabras clave: Individuación; Persona, Ánima; Ánimo; Self
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo traz reflexões sobre o processo de individuação no pensamento do estudioso suíço Carl Gustav Jung (1865-1961), principalmente do ponto de vista de M. L. von Franz (1915-1998), a partir de uma revisão teórica. “De acordo com Robert McG. Thomas Jr.5, von Franz foi “a discípula mais inspirada e brilhante de Carl Gustav Jung, e aquela que mais fez para iluminar a chama desde sua morte, em 1961”, conforme publicado pelo ‘The New York Times’”. (SBPA, 2023, online).
“Marie-Louise von Franz obteve seu doutorado em Filosofia Clássica na Universidade de Zurich. Desde 1934, ela trabalhou intensamente com Jung”. (FRANZ, 2003, online). “Von Franz era palestrante requisitada em vários países e em interpretação de sonhos. Conta-se que interpretou mais de 65 mil deles” (SBPA, online).
“Dentro de cada um há uma sombra escondida. Por trás da máscara que usamos para os outros, por baixo do rosto que mostramos a nós mesmos, vive um aspecto oculto da nossa personalidade. De noite, enquanto dormimos indefesos, sua imagem nos confronta face a face.” (FRANZ, 1988, contracapa).
O psiquiatra suíço C. G. Jung foi um pioneiro na pesquisa dos sonhos. Ele descobriu que os sonhos procuram regular e equilibrar as nossas energias físicas e mentais. Eles não apenas revelam a causa básica da desarmonia interior e da angústia emocional, como também indicam o potencial de vida latente no indivíduo; apresentam soluções criativas para os problemas diários e ideias inspiradoras para o potencial criativo da vida. Jung descobriu que enquanto dormem, através dos sonhos, as pessoas despertam para aquilo que realmente são. (FRANZ, 1988, prefácio).
“A dra. Marie-Louise von Franz é a maior autoridade mundial em psicologia analítica e provavelmente a mais importante discípula de C.G. Jung. Ela fez análise com Jung e trabalhou em contato direto com ele por mais de trinta anos”. (FRANZ, 1988, prefácio). A pesquisadora também escreveu vários livros de psicologia analítica e foi colaboradora de Jung em duas das suas principais obras, O homem e seus símbolos e Mysterium Coniunctionis.
M. L. von Franz procura demonstrar a teoria científica da análise dos sonhos. “Baseada numa pesquisa de mais de sessenta e cinco mil sonhos, a dra. von Franz conclui que a coisa mais saudável que o ser humano pode fazer é sonhar e interpretar corretamente o que sonhou”. (FRANZ, 1988, p.2). Franz afirma: “Dentro de cada um há uma sombra escondida. Por trás da máscara que usamos para os outros, por baixo do rosto que mostramos a nós mesmos, vive um aspecto oculto da nossa personalidade. De noite, enquanto dormimos indefesos, sua imagem nos confronta face a face.” (BOA, 1988, p.2).
Analisaremos o texto “O Processo de Individuação”, que compõe o livro “O Homem e seus Símbolos (Concepção e organização de Carl G. Jung). Edição especial brasileira. 6a edição. Editora Nova Fronteira (1996), escrito pela Dra. Franz. Todas as ideias e termos aqui utilizados, se não tiverem identificação da autoria, sistematizam o pensamento da autora, muitas vezes, com as palavras e expressões utilizadas por ela, já que nos propomos a apresentar o tema de uma maneira mais simplificada, sintética e didática.
O trabalho foi desenvolvido no âmbito do POSLING/CEFET-MG (Programa de Estudos de Linguagens), a partir da disciplina de Tecnologia e Imaginário Social, ministrada pela professora Doutora Olga Valeska Soares Coelho.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A configuração do crescimento psíquico
Inicia-se aqui, a primazia do questionamento apresentado nas linhas iniciais por M. L. von Franz, por antepor as discussões que abarcam a construção do processo de individuação do ser humano, “(…) qual o propósito da vida onírica do indivíduo no seu todo? Que papel representam os sonhos, não apenas na organização psíquica imediata do ser humano, mas na vida como um todo?” (JUNG, 2022, p.210). Nesta toada, após contabilizar a análise de mais de 80.000 sonhos, Jung (2010) relata que os sonhos não só dizem respeito à vida de quem sonha, mas também abarcam uma gama de fatores psicológicos, e que as configurações dos sonhos obedecem a determinado aspecto ou “esquema”. Tal esquema, Jung chamou de “processo de individuação” (JUNG, 2022, p. 2011)
Muitos sonhos são recorrentes, apresentando, de início, pequenas mudanças que tornam-se mais céleres à medida que interpretações são dadas e os símbolos que permeiam os sonhos são descritos de forma coesa. Passando regularmente às análises de nossa vida onírica, perceberemos segundo Jung (2022) a ação de uma tendência reguladora, gerando, então, o processo de individuação.
Segundo Silveira (2023), o processo de individuação não consiste em um direcionamento linear, mas um movimento circular evolutivo que transporta ao centro psíquico, que na fala da mesma autora, Jun denominou de “Self (si mesmo)”. Dessa forma, Silveira (2023) reforça o entendimento sobre o processo de individuação, ressaltando possíveis entraves que podem deturpar a concepção do processo.
Pelo menos duas confusões frequentes devem ser de início esclarecidas. Em primeiro lugar, não se pense que individuação seja sinônimo de perfeição. Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão a tornar-se perfeito. Ele visa a completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas as conotações de bem ou de mal, sejam escuras ou claras. Outro erro grave é confundir individuação com individualismo: “Vindo a ser o indivíduo que é de fato, o ser humano não se torna egoísta ordinário da palavra, mas está meramente realizando as particularidades de sua natureza, e isso é enormemente diferente de egoísmo ou individualismo”. (SILVEIRA, 2023, p. 100-101)
Na ordenação do consciente e do inconsciente em torno do Self, segundo Silveira (2023), chegamos à personalidade completa, onde o ego é o centro do campo do consciente e o Self é o centro da personalidade total, que segundo Jung (2022) quando mais ampla e amadurecida torna-se mais cognoscível a outras pessoas. Assim, essa totalidade absoluta da psique, Self, diferencia-se do ego, que atua como uma espécie de vigia da consciência, abarcando uma pequena parte da mesma.
Para compreendermos o Self, atentemos para os sonhos, uma vez que, esse fator de orientação íntima, diferentemente da personalidade consciente, é apreendido por meio da investigação dos sonhos, provocando assim, um amadurecimento da personalidade. Vale ressaltar que, os aspectos ascendentes da evolução da psique dependerá do desejo do ego de ouvir ou não as mensagens do inconsciente. Podemos ilustrar essa concepção nas falas de M. L. von Franz:
Tudo acontece como se o ego não tivesse sido produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para ajudar a realizar, verdadeiramente, a totalidade da psique. É o ego que ilumina o sistema inteiro, permitindo que se tome consciência e, portanto, que se torne realizado. Se, por exemplo, possuo algum dom artístico de que meu ego não está consciente, este talento não se desenvolve e é como se fora inexistente. Só posso trazê-lo à realidade se o meu ego o notar. (JUNG, 2022, p. 213).
Para representar a psique (Figura 1), a autora usou o desenho de uma esfera, onde uma pequena parte representa a parte consciente, uma zona brilhante (A). “O ego é o centro desta zona (um objeto só é consciente quando eu o conheço). O Self é, a um tempo, o núcleo e a esfera inteira (B); seus processos reguladores internos produzem os sonhos.” (JUNG, 1996, p. 161).
Na busca pelo processo de individuação, o ser humano é capaz de protagonizar de forma consciente desse processo, mantendo viva a ligação com ele mesmo, atendo-se aos chamados do inconsciente, ou seja, aos sinais da totalidade da psique: o Self.
2.2 O primeiro acesso ao inconsciente
Os primeiros passos do ser humano construídos na infância revelam a estrutura básica para a psique. Para Jung, os primeiros sonhos dizem da estrutura simbólica que, posteriormente, num fervilhar gradativo, modela o destino do indivíduo. Importante abordar algumas definições que Jung dá ao sonhos:
“O sonho é uma auto representação espontânea, sob forma simbólica, da situação do inconsciente”. “O sonho é aquilo que ele é, inteira e unicamente aquilo que é; não uma fachada, não é algo pré-arranjado, um disfarce qualquer, mas uma construção completamente realizada.” “O sonho é coisa viva. Não é de modo algum coisa morta que soe como papel seco machucado. É uma situação existente, é como um animal com antenas ou com numerosos cordões umbilicais. “ (SILVEIRA, 2023, p. 117)
Neste cenário, onde os sonhos são coisa viva e sob forma do simbólico representam a situação do inconsciente, M. L. von Franz destaca o sonho de uma jovem, narrado por Jung, que quando criança sonhara com “Jack Frost” (o homem da neve) beliscando seu estômago. Ao acordar a jovem se encontrava beliscando seu estômago e, nenhuma reação lhe provocou emoção. Este fato, ainda segundo a autora, não representava algo bom para o futuro da jovem. A frieza e insensibilidade constatada diante do sonho foi o que, em tempo próximo, fez com que a jovem pusesse fim à sua vida.
Não podemos alicerçar que, apenas os sonhos anunciam os acontecimentos futuros sob a forma de símbolos. Em muitos casos, um fato, um acontecimento, pode provocar uma marca na criança que retrata um entrave na sua constituição. Chegando na fase escolar, essas marcas podem refletir em seu comportamento que começa as adaptações ao mundo exterior. Nesta etapa do processo, existe um certo distanciamento dos grupos em que as crianças estão inseridas, pois um sentimento surge, fazendo com que sintam-se diferentes, acarretando certa tristeza.
2.3 A realização da sombra
Para estabelecer relações com o mundo exterior, o ser humano adapta-se ao meio em que se vê inserido. Essa aparência artificial, dotada de nuances inerentes ao ambiente, não representa, de fato, o ser humano como ele é. Tal máscara ajustável ao papel que se queira representar, Jung a chamou de “persona” e salientou que, os moldes adaptáveis são retirados da psique coletiva, como afirma em sua literatura Silveira (2023).
Em certa medida, a persona representa um sistema de defesa útil ao ser humano, contribuindo para que a harmonia possa ser estabelecida entre as pessoas, nas relações entre as mesmas. Nada obstante, quando a aderência, por parte do ego, de determinada persona passa a estágios mais tenazes, sua ruptura será tanto quanto dolorosa para a psique, como podemos verificar nas falas de Silveira (2023):
Se, numa certa medida, a persona representa um sistema útil de defesa, poderá suceder que seja tão excessivamente valorizada a ponto de o ego consciente identificar-se com ela. O indivíduo funde-se então com os seis cargos e títulos, ficando reduzido a uma impermeável casca de revestimento. Por dentro não passa de lamentável farrapo, que facilmente será estraçalhado se soprarem lufadas fortes vindas do inconsciente. (SILVEIRA, 2023, p. 102-103)
Nosso lado escuro, onde habitam as coisas que nos desagradam, Jung (2022, p. 222) o chamou de realização da sombra, “(…) aspectos de nossa personalidade que por várias razões, havíamos preferido não olhar muito de perto.”. A sombra é tudo que o ego esconde de si mesmo e são tidos como traços incompatíveis. A persona e a sombra são forças dicotômicas, o eterno conflito entre o que está fora e o que está dentro do ser.
Para os conteúdos de nossa sombra compete o que nos reprime, o que condenamos em nós mesmos e que nos incomoda tanto nas outras pessoas, neste cenário, o ego os reprime, deixando-os emergirem em nosso inconsciente. Silveira (2023, p. 105) aponta que, “A sombra é uma espessa massa de componentes diversos, aglomerando desde pequenas fraquezas, aspectos imaturos ou inferiores, complexos reprimidos, até forças verdadeiramente maléficas, negrumes assustadores.”. Nessa toada, ainda segundo a autora, após o confronto com a própria sombra, outra tarefa, mais árdua, se configura: o confronto da anima.
2.4 Anima e animus: os arquétipos do feminino e do masculino
Jung (2022), relata nas linhas descritas por M. L. von Franz, que os problemas confusos de ordem moral emergem da sombra, trazendo, muita vez, novos e diferentes problemas. Essa emersão personifica por meio do simbólico, que em sonhos, no homem caracteriza-se por ser um arquétipo feminino, arquetipicamente envolto por uma figura de feiticeira ou por uma sacerdotisa, já na mulher, a personificação do simbólico configura-se por ser um arquétipo masculino. Em suma, segundo von Franz, anima e animus são arquétipos que representam os aspectos feminino e masculino da psique humana. Eles são considerados forças inconscientes que moldam nossa personalidade, nossos relacionamentos e nossa visão do mundo.
“Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem” afirma Jung (2022, p. 234). Ela representa as qualidades e características que são culturalmente associadas ao feminino, como intuição, sensibilidade, criatividade e emoções. Jung acreditava que todos nós temos um aspecto masculino e um aspecto feminino, independentemente de nosso sexo biológico. A anima é o aspecto feminino da psique masculina, enquanto o animus é o aspecto masculino da psique feminina.
“A anima é, presumidamente, a representação psíquica da minoria de genes femininos presentes no corpo do homem” (Jung). Essa feminilidade inconsciente no homem, indiferenciada, inferior, manifesta-se, na vida ordinária, por despropositadas mudanças de humor e caprichos. (SILVEIRA, 2023, p. 106)
A anima pode ser expressa de forma positiva ou negativa. Em sua forma positiva, ela pode ser uma fonte de inspiração, criatividade e compreensão. Em sua forma negativa, ela pode ser uma fonte de confusão, possessividade e ciúme, como retrata as palavras supracitadas de Silveira (2023).
Nas suas manifestações individuais o caráter da anima de um homem é, em geral, determinado por sua mãe. Se o homem sente que a mãe teve sobre ele uma influência negativa, sua anima vai expressar-se, muitas vezes, de maneira irritada, depressiva, incerta, insegura e susceptível. (No entanto, se ele for capaz de dominar estas investidas de cunho negativo, elas poderão, ao contrário, servir para fortalecer-lhe a masculinidade.) No interior da alma deste tipo de homem a figura negativa da mãe-anima repetirá, incessantemente, o mesmo tema: “Não sou nada. Nada tem sentido. Com todas as outras é diferente, mas comigo… Nada me dá prazer.” Estes humores da anima provocam uma espécie de apatia, um medo a doenças, à impotência ou a acidentes. A vida adquire um aspecto tristonho e opressivo. Este clima psicológico sombrio pode, mesmo, levar um homem ao suicídio, e a anima torna-se então o demônio da morte. (JUNG, 1996, p. 178).
Segundo as palavras de M. L. von Franz, o animus é o arquétipo do masculino na psique feminina. Ele representa as qualidades e características que são culturalmente associadas ao masculino, como racionalidade, assertividade, liderança e ação. Segundo Silveira (2023, p. 110) “o animus condensa todas as experiências que a mulher vivenciou nos seus encontros com o homem no curso dos milênios”. Nada obstante, o animus pode ser expresso de forma positiva ou negativa. Em sua forma positiva, ele pode ser uma fonte de força, determinação e independência. Em sua forma negativa, ele pode ser uma fonte de agressividade, controle e violência.
Jung (2022) relata que a anima e o animus são frequentemente projetados em outras pessoas. Isso significa que atribuímos inconscientemente nossas próprias qualidades e características inconscientes às pessoas do sexo oposto.
Por exemplo, um homem pode projetar sua anima em uma mulher que ele encontra atraente. Ele pode ver nela as qualidades que ele admira no feminino, como beleza, sensibilidade e compaixão. Entretanto, ele também pode projetar nela as qualidades negativas de sua própria anima, como instabilidade emocional e ciúme. Silveira (2023, p. 110-111) evidencia tal fato quando diz que “As relações entre homem e a mulher ocorrem dentro do tecido fantasmagórico produzido pela anima e pelo animus. Portanto, não é para surpreender que surjam emaranhados problemas na vida dos casais. “.
A anima pode deixar um homem, extremamente sensível, melindroso. Esse arquétipo pode assumir uma aspecto destruidor, constituindo diálogos neuróticos e psico-intelectuais e o afastam da vida real, da espontaneidade e da possibilidade de estabelecer uma comunicação fluida. A anima também pode assumir a forma de uma fantasia erótica, pode fazer um homem apaixonar-se subitamente, como se tivesse perdido o juizo. “Só existe solução para a anima quando se reconhece a anima como um poder interior”. (JUNG, 1996, p. 180). Assim, o homem é forçado “a desenvolver e amadurecer o seu próprio ser” integrando melhor sua personalidade inconsciente à vida real. (Jung, 1996, p. 180).
A integração da anima e do animus é um processo importante para o desenvolvimento psicológico. Quando somos capazes de integrar esses arquétipos, nos tornamos mais completos e equilibrados, surge, então, uma nova forma simbólica, representando o self. Quando, depois de duras lutas, se desfazem as personificações da anima ou do animus, “o inconsciente muda de aspecto e aparece sob uma forma simbólica nova, representando o self, o núcleo mais interior da psique” (M. L. von Franz). (SILVEIRA, 2023, p. 112)
A integração da anima ocorre quando um homem é capaz de reconhecer e aceitar suas próprias qualidades femininas. Ele pode fazer isso, segundo Jung (2022) por meio da exploração de sua criatividade, intuição e sensibilidade. A integração do animus ocorre quando uma mulher é capaz de reconhecer e aceitar suas próprias qualidades masculinas. Ela pode fazer isso através do desenvolvimento de sua assertividade, liderança e força. Outrossim, anima e animus são arquétipos complexos e poderosos que desempenham um papel importante em nossa psique. A compreensão desses arquétipos pode nos ajudar a desenvolver uma compreensão mais profunda de nós mesmos e de nossos relacionamentos.
A anima e o animus, nas linhas de Jung (2022), podem ser vistos como aspectos da sombra que são projetados em outras pessoas. Quando projetamos nossa anima ou animus, estamos rejeitando ou negando esses aspectos de nós mesmos. A compreensão da anima e do animus é uma parte importante da psicologia analítica. Esses arquétipos desempenham um papel importante em nossa psique e podem afetar nossos relacionamentos, nossa visão do mundo e nosso desenvolvimento psicológico.
2.5 O “Self”: símbolo da totalidade
O Self, núcleo mais profundo da psique, personifica-se em nossos sonhos. Sábios, feiticeiras, princesas, crianças ou gigantes são representações comuns entre tantos milhares de sonhos analisados e interpretados por Jung, que ganham os contornos de nossos inconscientes em nossa busca por compreensão.
Por vezes, um homem mais velho pode ser representado por um jovem viril, ou uma senhora pode sonhar com uma menina. Sonhos personificando os sonhadores em busca de renovação, segundo a autora, representam possibilidades criadoras. As várias idades em que pode se apresentar representam a presença contínua do self no curso da vida e sinaliza seu caráter atemporal, apesar de nos conscientizar da experiência de fluxo de vida e cronologia.
O self é onipresente e, portanto, pode ser caracterizado por figuras heróicas, mitológicas e divinas. Essa onipresença pode ser também representada por gigantes; o homem cósmico, que encerra em si todo o potencial da natureza. Por isso mesmo, ele carrega o sentido da solução criadora, quando presente nos sonhos. O homem cósmico, presente em tantas civilizações simboliza a energia positiva que “envolve e contém o cosmos inteiro”. Gayomart, na Persia, Purusha, na Índia, e Pan Ku, na China, representam o Homem Cósmico que são fundadores do Universo, no sentido de estarem imbuídos de natureza e deles derivarem todos os elementos. Para os Judeus, Adão, o primeiro Homem, também carrega consigo a ideia de criação, característica do Divino, por nele estar presente a semente de toda a civilização.
O Homem Cósmico, não representa somente o início da vida, mas também seu objetivo final. E é exatamente por isso que ele é um arquétipo tão significativo do Self, que, no processo da individuação, busca o cerne da vida. Segundo a autora, a busca central do ser humano vai muito além da satisfação de suas necessidades fisicas e de seus impulsos naturais. De fato, o que realmente queremos é nos conectar com o “sentido extremo e desconhecido da existência humana”.
A imagem simbólica do Homem Cósmico é utilizada por muitas religiões. Budha, Cristo ou Krishna são também representações dele, o Alpha e Ômega ou princípio e fim, como os cristãos comumente se referem à figura de Jesus, é uma clara representação da busca pelo Self. Entretanto, esse movimento de busca não se dá como uma força centrífuga. Na verdade, quando isso ocorre, compreendemos que há a necessidade do ego de conectar ao mundo exterior. Jung nos explica que quando o Ego se incorpora ao Self, ele encontra o grande Homem Interior que, por ser único, é destituído de dualidades ambivalentes.
É possível observar que em diversas épocas e civilizações na história, o Grande Homem é tido em suas imagens e esculturas como hermafroditas ou bisexuais, o que representa a união do masculino e feminino em um, eliminando os confrontos e reconciliando pares opostos, dessa forma, reafirmando a unidade e a totalidade do Self.
Pedras e animais são também símbolos recorrentes nas análises de sonhos. Muitos grupos étnicos fazem uso das pedras em rituais para a representação de entes já falecidos. Os aborígenes Australianos, por exemplo, acreditam que ao esfregar essas pedras, ele e seus ancestrais se beneficiam da energia produzida pelo atrito (Jung, 1996, p. 205). Pedras de basalto também são conhecidas e utilizadas pelos chineses e depois pelos japoneses pelo seu poder de cura há mais de 2000 anos. A pedras são há milênios utilizadas como marcos, estabelecimento e posse, e várias releigiões usam pedras para sinalizar acontecimentos. Para o Islã, a Pedra Negra que se encontra em seu santuário em Meca, é tida como sagrada. No Judaísmo, Deus incumbe Josué que ordenasse a cada representante das doze tribos de Israel que retirassem do rio Jordão doze pedras para com elas fazer um memorial (Josue 4). No livro de Lucas, capítulo XX, versículo 17, no Novo testamento, Jesus é chamado de pedra angular. Cleópatra atribuía à esmeralda o poder de melhorar a aparência de quem a possuísse, pois nela “residia a beleza infinita de Vênus” (Meier e Stark, 2002, p. 10). O caráter de infinitude ou atemporalidade das pedras também confere a elas a característica de subsistência do Self no fluxo da vida. Portanto, como arquétipo de força, energia, longevidade e essência, a ocorrência das pedras nos sonhos analisados por Jung é frequente.
Os animais, por sua vez, também são comumente presentes nos sonhos e explicitam aspectos primitivos da natureza humana. Jung analisa o sonho de um homem de meia idade, resistente ao casamento, algo pouco comum no início do século XX. No sonho, o homem relata ver uma ursa polindo uma pedra chata e oval, que logo depois se transforma em uma mulher. Pouco distante dali estão uma leoa com seu filhote também polindo pedras ovais, no entanto, maiores. A ursa se transforma em uma mulher gorda e nua, de cabelos escuros. O sonhador, então se comporta de maneira erótica em relação a essa mulher, que tenta agarrá-lo. O homem foge de seu alcance para uma plataforma onde se encontra em meio a um grupo de mulheres primitivas e outro grupo de mulheres de sua mesma origem. As mulheres primitivas cantam uma canção melancólica e na mesma cena surge uma carruagem, trazendo um jovem que segura uma coroa real de rubis. Ao lado do jovem está uma mulher, provavelmente sua esposa. O sonhador tem a impressão de que a leoa e sua cria se transformaram nesse casal de jovens, que ele acredita pertencer ao grupo das mulheres primitivas. Ao fim, todas as mulheres cantam solenemente e a carruagem segue em direção ao horizonte. (Jung, 2006, p. 204).
Nesse sonho, a mescla de animais, pedras e mulheres são, para Jung, uma alusão à necessidade desse homem de acessar seu inconsciente, a partir da natureza animal do casal, a saber, a leoa e seu filhote. A ursa é compreendida como uma representação de deusa mãe. Na Grécia, Artemisa tinha forma de ursa. As pedras polidas, a real personalidade do sonhador. Quando a ursa se torna mulher e o sonhador expressa desejo por ela, ao se comportar eroticamente, é possível identificar a sinalização do inconsciente quanto às dificuldades do sonhador em acolher o casamento e a possibilidade do engrandecimento de sua personalidade em face ao enfrentamento de desafios que ele evita. O polir das pedras pode ser entendido como o aprimoramento da personalidade do sonhador. Ao fugir para a plataforma ou “um lugar mais alto”, o sonhador pode contemplar e assitir a cena sem se implicar, o que demonstra relutância ao envolvimento e, parte de sua alma, que é simbolizada pela divisão das mulheres, ficará ignorada. Finalmente as pedras, que são polidas tanto pela ursa quanto pela leoa e sua cria, representam o self e sua totalidade, a ação de polir, a necessidade de alcançar a individuação.
2.6 As relações com o Self
A autora reflete que mesmo com um número maior de pessoas nas cidades, existe uma sensação de vazio e tédio nos indivíduos, que mesmo buscando atividades de lazer, ao final, logo ficam exaustos e desencantados, por terem que voltar às suas próprias vidas. Victor Frankl, pode nos ajudar a compreender esse sentimento, conforme abaixo:
Victor Frankl ressalta que estamos em uma época onde, o que predomina é o sentimento do vazio existencial, sentimento este, que vem afetando milhares de pessoas, principalmente jovens. O autor denomina o vazio existencial como um profundo sentimento de que a vida não tem mais sentido. Hoje nos deparamos com um ser humano que não sofre de empobrecimento dos instintos, mas sim de uma perda de tradição que dita aos indivíduos o que eles devem ou não fazer (XAUSA, 1986 in.: SIMILI e FONSECA, 2016, p.5).
O que pode mudar isso é a psique inconsciente. Algumas pessoas procuram práticas orientais para acessarem sua intimidade e sair um pouco do mundo exterior, mas apesar de favorecerem a concentração mental e a volta para o íntimo, essas práticas não representam nenhuma novidade.
Jung propõe uma maneira de chegar ao nosso centro interior e de entrar em contato com o inconsciente, sozinhos e sem auxílio. Acessar o Self, trazendo-o à realidade “é como tentar viver simultaneamente em dois planos ou em dois mundos diferentes” (FRANZ, 1996, p.212). Os dois mundos seriam as nossas tarefas exteriores e as insinuações e sinais, tanto dos sonhos como dos acontecimentos que o Self utiliza para simbolizar suas intenções, e dar andamento à vida.
Para conseguir estar nos dois mundos, a atenção deve ser extrema. A autora cita um texto chinês que fala de um gato à espera no buraco do camundongo. Deve haver um equilíbrio da atenção, nem muito para mais e nem muito para menos. Não se pode permitir outros pensamentos que tirem o foco, para se chegar ao nível exato da percepção. Esse tipo de exercício necessita treino até se tornar automático, e encaminhará o praticante para o despertar supremo do indivíduo.
O despertar para um conhecimento do inconsciente, tira-nos da vida exterior comum e é específico para cada indivíduo, não podendo ser copiada.
Existem formas que nos impedem ou atrapalham a chegada no centro regulador da alma: Quando o indivíduo age por instinto ou excessivamente emocional, ele perde o equilíbrio; quando existe um devaneio excessivo, que se relacionam com os complexos da pessoa e atrapalham a concentração e a consciência.Quando o indivíduo tem uma consolidação excessiva da consciência do ego, também dificulta receber as informações do centro psíquico.
Para representar o Self, Jung usou a imagem da mandala (círculo mágico), conforme representada na figura 2, que representa o átomo nuclear da psique humana. Outras comunidades também fazem uso da mandala para restabelecer o equilíbrio interior perdido, como os índios Navajo, que faziam os desenhos das mandalas na areia e no centro colocavam as pessoas doentes da comunidade, a fim de reencontrarem-se consigo mesmas e recuperar o equilíbrio perdido. Também no ocidente, a contemplação da mandala serve para encontrar a paz interior, ordem e significado. Nos sonhos, o Self aparece muitas vezes com a forma da mandala. Segundo a autora, a mandala simboliza uma totalidade natural, com sua forma redonda. (Figura 1).
Franz cita um exemplo de uma mulher que vinha prestando cuidadosa atenção aos seus sonhos, e só assim, o processo pode trazer resultados. Analisar um único sonho não dá condições para chegar ao Self e às mensagens que ele transmite.
Como a anima e o animus, o Self possui um lado claro e luminoso e um lado escuro e sombrio. A sombra pode ser mesquinha e má, o que representa um grande perigo, pois ela é a maior força da psique. Algumas pessoas desenvolvem fantasias megalomaníacas, ilusões e perdem o contato com a realidade. Um impulso que precisamos vencer no processo de individuação. O equilíbrio é fundamental: um pé no consciente e um pé no inconsciente, para um bom processo de individuação e acesso ao self, como na fábula do gato.
2.7 O aspecto social do Self
Mais uma vez, a autora explica que o aumento da população mundial provoca em nós um efeito depressivo. “Somos apenas mais um na multidão”, muitas vezes enxergando a vida como sem sentido. Por essa razão, o conhecimento do inconsciente revela detalhes de como sua vida está integrada ao todo.
É por isso que encontrar o sentido profundo da vida é de extrema importância para o ser humano, e assim a individuação ganha um papel de destaque, Quando um indivíduo dedica-se à individuação, ele frequentemente tem um efeito contagiante sobre as outras pessoas.
Quando reconta a história de São Cristóvão, que atravessava pessoas de um lado ao outro do rio, nos ombros, e em determinado momento aparece uma criança para ser transportada, e durante a travessia a criança se transforma no próprio Cristo, a autora exemplifica como o Self pode nos deprimir, tornar-se um peso para a pessoa, mas ao mesmo tempo é ele quem tem a possibilidade de conceder a redenção. Em muitas imagens de Cristo ele aparece segurando um círculo, a esfera do mundo, que representa claramente o Self, sendo que a criança e a esfera são símbolos universais da totalidade.
Quando a pessoa obedece totalmente o inconsciente, fica impossível fazer o que se quer, e acaba separando-se dos grupos de afinidade, de relações interpessoais, tornando-se, provavelmente, uma pessoa anti-social ou egocêntrica. Não é uma regra sem exceções, pois devemos considerar também o “aspecto coletivo – ou social – do Self”.
Os sonhos podem esclarecer algumas características das pessoas, de modo a aproximá-las ou distanciá-las. Os personagens do sonho também podem ser uma projeção de si mesmo, que vê nos outros atributos pessoais que emergem.
O inconsciente age de uma forma que não nos é fácil compreender. Pode trazer realidades, ilusões, projeções, ou uma afirmação objetiva. Por isso, é necessária uma atitude honesta e isenta e um cuidadoso raciocínio. O Self ordena e regula nossos relacionamentos humanos, caso o ego se dê ao trabalho de fazer interpretações reais.
Pessoas com afinidades vão descobrindo umas às outras, de modo a formar grupos de convivência. O processo de individuação, se realizado corretamente, muda as relações humanas do indivíduo. Laços de parentesco ficam em segundo plano em relação aos agrupamentos de interesses comuns, ordenados pelo Self. A devoção ao processo de individuação traz também melhor adaptação social.
As atividades do mundo exterior podem influenciar, nocivamente, o inconsciente. São citados como exemplos os anúncios e a propaganda política, uma vez que a parte inconsciente da psique humana é possível de sofrer influências e, ainda, que não se pode “direcionar”, ou influenciar os sonhos.
Conforme dissemos, a autora ratifica que só um longo processo de interpretação dos sonhos podem transformar gradualmente, o inconsciente. Consequentemente, as atitudes exteriores também podem sofrer mudanças.
É importante afirmar, que segundo o texto, nenhuma tentativa de influenciar o inconsciente produziu qualquer significado relevante. Acredita-se que o inconsciente das massas preserva a sua autonomia. Também as tentativas de reprimir o inconsciente falham, uma vez que estão em oposição fundamental aos nossos instintos.
Franz sublinha que quase todos os sistemas religiosos contém imagens que simbolizam o processo de individuação. Nos países cristãos, o Self é projetado no segundo Adão: Cristo. No oriente, as figuras religiosas de relevo são Krishna e Buda.
Novamente, a autora cita a mandala, que conforme um monge tibetano disse a Jung, a mandala restabelece uma ordem pré-existente, mas também pode ser usada para dar forma a alguma coisa que não existe, algo de novo e único.
Com relação aos sistemas religiosos, Jung define três grupos de pessoas: 1) As que creem verdadeiramente em suas doutrinas, e os símbolos estão tão ajustados com o que sentem no íntimo, que não há possibilidade de dúvidas. 2) Pessoas que perderam a fé, conscientes e racionais. Essas pessoas não dão tanto valor a psicologia profunda, mas se permitem a aventura de investigar a psique. 3) Pessoas que Não acreditam nas tradições religiosas, mas em alguma parte de si, a crença permanece. Essas hesitam em se voltar para o seu inconsciente, já que elas mesmas não sabem o que pensam ou querem.
Levar o inconsciente a sério é, afinal de contas, uma questão pessoal e de integridade.
Um ritual ou um costume religioso pode nascer de uma revelação do inconsciente, a partir de um indivíduo, que os leva para os agrupamentos sociais, exercendo grande influência na vida da sociedade. No entanto, caso os processos se cristalizem, não há espaço para outras manifestações do inconsciente, e ficam limitados ao que os mais velhos e os mestres espirituais lhes ensinam a respeito. É importante afirmar que a psique humana recebe inspirações divinas para traduzi-las em palavras ou moldá-las pela arte a algum símbolo religioso.
O Self trabalha para unir indivíduos que se acham separados e que foram feitos, no entanto, para se entender e compreender. Quando um indivíduo se dedica ao processo de individuação, ele vai adquirir uma orientação totalmente nova e diferente em relação à vida.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abarcamos num universo onde a vida onírica desanuvia um mundo onde passamos a conhecer os aspectos da psique humana, portanto, as ideias de Jung, narradas por M. L. von Franz, ampliam o espectro da personalidade total do homem. Essa totalidade permeia os elementos e características que segundo a autora, não discorrem de forma linear e sistematizada, mas tomam da experiência de Jung com sua vivência, e busca por meio da compreensão dos sonhos, que encenam e habitam o inconsciente e precisam bater à porta do consciente para fazer-se inteligível, uma aproximação com os aspectos da psique do ser humano.
Dessa forma, os arquétipos, que herdamos de nosso inconsciente coletivo, se fazem presentes em nossos sonhos a fim de representar as situações com as quais ainda não podemos lidar conscientemente. Ora simbolizando o oposto do que somos (uma idosa sonha com uma jovem heroína), ora apresentando o enfrentamento de nossos reais temores, (uma mulher sonha que deverá cruzar um lago de águas estagnadas), os arquétipos, involucrados em nossos sonhos, buscam traduzir nossas inquietações inconscientes.
A partir das reflexões da autora, podemos afirmar que o processo de individuação e busca do Self é uma aventura que transforma e dá sentido à vida, e compreendemos que: o inconsciente não pode ser influenciado; o Self tem seu lado de luz e sombra, que precisa estar equilibrado: devem ser analisados vários sonhos e mais de uma vez, para se chegar às conclusões do que o inconsciente pretende mostrar. Os sonhos podem afastar pessoas, ou uni-las, já que podem desvelar impressões ou pré-disposições que tenhamos a respeito delas.
Já a Mandala é o símbolo do Self. A Mandala é a representação utilizada como símbolo de harmonia, equilíbrio, totalidade, cura e reconexão consigo mesmo. Várias vezes ela se apresenta representando o próprio Self.
O Self também tem um aspecto coletivo. Podemos perceber nos grupos de indivíduos que se formam e nas mensagens subliminares (que podem não ser verdadeiras) sobre outras pessoas, vistas no mundo onírico. É necessário um longo processo de interpretação dos sonhos, para se chegar à individuação. O Self influencia, por exemplo, as religiões, trazem ou e/ou fazem uso de símbolos e formas artísticas, que serão interpretados e anexados aos costumes e tradições. No entanto, nem todas as pessoas estão abertas a essas novidades. A individuação propicia uma orientação totalmente nova em relação à vida e à maneira como a enfrentamos. (Figura 3).
5 Robert McGill Thomas Júnior (1939-2000) foi um jornalista estadunidense que escrevia para o The New Yoork Times.
5 REFERÊNCIAS
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JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. 6a edição. Edição Especial Brasileira. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1996.
FRANZ., M. L. von.Research-and Training center for depth psychology according to C. G. Jung and Marie-Louise von Franz. disponível em: <https://centre-dp.org/en/startseite_e/> Acesso em: 01, out. 2023.
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¹Doutorando em Estudos de Linguagens – Centro Federal de Educação e Tecnologia de Minas Gerais – CEFET-MG. Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça, Belo Horizonte – MG, 30421-169. E-mail: leaoweliton0@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3111-5356.
²Doutorando em Estudos de Linguagens – Centro Federal de Educação e Tecnologia de Minas Gerais – CEFET-MG. Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça, Belo Horizonte – MG, 30421-169. E-mail: nivaldo.filho@ifnmg.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3229-2071.
³Doutoranda em Estudos de Linguagens – Centro Federal de Educação e Tecnologia de Minas Gerais – CEFET-MG. Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça, Belo Horizonte – MG, 30421-169. E-mail: cintiacherubino@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-0201-230X.
4Mestranda em Estudos de Linguagens – Centro Federal de Educação e Tecnologia de Minas Gerais – CEFET-MG. Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça, Belo Horizonte – MG, 30421-169. @-mail: elenicepedrosa.75@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-0397-6032.