O PRÍNCIPE TEIÚ E AS VÁRIAS VERSÕES DOS CONTOS TRADICIONAIS/POPULARES ENTRE DIFERENTES CULTURAS: O CONTO MARAVILHOSO

PRINCE TEIÚ AND THE VARIOUS VERSIONS OF TRADITIONAL/POPULAR TALES AMONG DIFFERENT CULTURES: THE MARVELOUS TALE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202409221255


 Laís Carla dos Santos de Oliveira Castor1
Maria Patrícia Barros da Silva2
Moisés Monteiro de Melo Neto3


RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre duas versões de contos populares tradicionais, tentando compreender como alguns deles têm enredos semelhantes mesmo em lugares a quilômetros de distância. Um dos papeis da tradição oral propagar e não permitir que tais manifestações culturais caiam em esquecimento, tendo como exemplo de instrumento de disseminação A Bela e a Fera, de Madame Beaumont, ou fazendo coletas de contos tipicamente regionais como Branca flor/ O Príncipe Teiú, nos contos coletados pelo professor Marco Haurélio e sendo compilados em uma riquíssima fonte para toda uma geração, ter acesso, que estudaremos.

Palavras-chave: Conto popular tradicional. O maravilhoso.A Bela e a Fera. O Príncipe Teiú. Eros e Psiquê.

ABSTRACT:  This article aims to present a study on two versions of traditional folk tales, trying to understand how some of them have similar plots even in places kilometers away. One of the roles of oral tradition is to propagate and not allow such cultural manifestations to fall into oblivion, taking Beauty and the Beast, by Madame Beaumont, as na example of a dissemination instrument, or collecting typically regional tales such as Branca Flor/Prince Teiu, in the short stories collected by professor Marco Haurélio and being compiled in a very rich source for na entire Generation to have access to, which we study.

Keywords: Traditional folk tale. The wonderful. Beauty and the Beast. Prince Teiu. Eros and Psyche.

1 INTRODUÇÃO

As tantas versões do conto popular tradicional existente entre diferentes culturas, o problema do nosso trabalho gira em torno do conto tradicional popular, que geralmente ouvimos tantas e tantas versões dadas por determinada cultura, conhecer o universo e contexto de onde saiu é provavelmente um dos pontos estudados, pois como tal conto surgiu? De onde foi retirado ou se tem mais alguma versão, os aspectos culturais são de alguma forma responsáveis?

No Brasil, todas as regiões dispõem de uma diversidade tal, há um grande contingente de formas de expressões populares, desde danças típicas, comidas, festejos e oralmente também dispõe de uma vasta área de estudo, por exemplo: temos os contos populares, que provêm geralmente das camadas mais pobres da sociedade, com valores morais e éticos enraizados na cultura local, como por exemplo na região Nordeste do país.

Assim, como nos E.U.A encontramos muitas possibilidades, a exemplo das tradições orais dos índios norte-americanos, as tradições como relatos históricos e fantasiosos como algumas lendas, do tipo do Pé Grande. Também no continente europeu, podemos dizer que há outras características que dão entonação diferente ao conto tradicional popular, pois cada região tem sua linguagem única, o espaço geográfico proporciona uma realidade diferente por exemplo um conto popular do povo russo, difere mesmo com enredos semelhantes em versões ouvidas em regiões do Brasil, pois há aspectos que devem ser considerados como políticos, sociais, religiosos e culturais.

Em países como Portugal ou França, de onde o conto A Bela e a Fera é originário como em cada local há uma forma de manifestar sua cultura, a estória em sua versão francesa também tem suas particularidades. Há estudos que indicam que esse clássico seria uma reescrita feita por Madame Beaumont, devido à forte expressão de alguns fatos, como o erotismo contido na obra de Madame Villeneuve, como nos explica em seus estudos Doralice Alcoforado, “Madame Beaumont reduziu não apenas o número de personagens, como também as sequências descritivas. Neutralizando o jogo erótico do final do texto[…]” (Alcoforado, 2004, p. 190), pois os costumes no período em que foi escrito tal conto era bastante moralista e conservador, as moças tinham como objetivo serem recatadas e prendadas nos serviços de casa, esse é o contexto particular de quando surgiu A Bela e a Fera, de Madame Leprince de Beaumont.

Mesmo assim é possível analisar que os contos tendem a influenciar um ao outro, no caso dos contos escolhidos como análise desse estudo, as características particulares como identidade própria de um povo, a cultura local, o espaço geográfico, não afasta um do outro, mas têm suas raízes bem fundamentadas, onde vemos por exemplo que apesar de um conto  ter características típicas do povo do sertão nordestino e o outro de alguma região da França, ambas não perdem sua familiaridade, claro com algumas ressalvas, porém a mensagem não está tão longe quanto fisicamente se encontram os locais de propagação.

Buscamos em uma coletânea, organizada por Maria Tatar, obra essa intitulada por “Conto de Fadas”, da editora Zahar, o conto A Bela e a Fera,  assim  como uma outra coleção de contos tradicionais da região baiana, “O Príncipe Teiú e outros contos brasileiros”, das edições De Leitura/ Aquariana o qual foi retirado o conto “Branca Flor/ Principe Teiú” de responsabilidade do folclorista Marco Haurélio, contado pelo povo de forma oral e rebatizado com as características locais, de um povo simples, trabalhador, com seu conhecimento do maravilhoso, ou seja do conto popular usando elementos mágicos, tendo sua própria visão de mundo e  ganhando um olhar diferenciado e próprio.

No mundo do conto maravilhoso, onde se entrelaçam tantos tipos, destacamos o conto popular tradicional como ponto de delimitação para esse artigo, pois é algo que tem uma carga literária, uma marca única de retratar tantas sociedades, preferindo estudar um pouco de dois contos um estando na versão recontada pelo povo da região Nordeste, mais propriamente do interior baiano e suas respectivas oralidades e realidade distinta. Num segundo momento nos vemos diante de uma das tantas versões que existem pelo mundo, do conto “A Bela e a Fera”, fazemos um cotejo buscando comparar e estudar tais contos, em cada um, sua representação cultural.

Na literatura universal encontramos diversos temas que explicam e se desenvolvem no conto popular: estrutura, objetivos, ideologia, finalidade social e cultural, neste vasto e existente mundo de contos maravilhosos e tradicionais. Buscamos compreender também o uso do fantástico, com os aspectos de cada localidade.

Destacamos no conto popular tradicional também uma diferenciação em relação ao conto, que provavelmente já tivemos contato na sala de aula, pois enquanto o conto literário tem o seu caráter um pouco mais formal, com autores conhecidos, que geralmente fazem parte do mundo da literatura, o conto popular, anônimo empresta à sua escrita ou sua oralidade com base nos conhecimentos de senso comum proveniente de cada situação vivenciada.

Ferramenta muito especial para o fortalecimento do mesmo, é, pois, a tradição oral, de onde vieram diversas estórias fantásticas, que são alimentadas diariamente no imaginário do nosso povo, assim como demais tradições em outras culturas, cada qual com sua devida identidade.

Qual a importância de manter vivas as tradições culturais de cada povo através dos contos populares e ampliar os estudos literários sobre as tantas versões do conto popular tradicional entre as diferentes culturas? Investiguemos.

2 CONTOS TRADICIONAIS

Os contos tradicionais de um povo trazem consigo uma identidade própria, revelando sabedorias e conhecimentos, proporcionando até a descoberta de parentescos linguísticos e literários, tendo como ponto de partida as disseminações através das conversações, da oralidade, na literatura. Enriquece e favorece um vasto acervo de obras e formas de expressão.

No mundo contemporâneo em que tantas são as possibilidades e facilidades para o acesso a diversos tipos de materiais para entretenimento, a apenas um toque também pegar um livro ou em uma conversa entre pessoas, há vantagem de tocar o mais íntimo do ser humano. O encantamento de uma estória que há tempos pode ter vindo a nós através de nossos antepassados, não se perdeu, mas no mundo bastante dinâmico em que nos encontramos tomou outra forma, digitalizada, até os laços familiares.

Ao passo que o encantamento pelas tecnologias e facilidades vai aumentando, o fascínio pelo maravilhoso, pelo mágico não vai perdendo a força e espaço, mas isso vai trazendo a possibilidade de se perder em meio a tantos objetos do tradicional popular. Será que haveria o esvaziamento nas nossas expressões populares?  A cultura perdendo um pouco da atenção, para o que se está fazendo com a literatura, a dança, a música, entre outras formas de expressão, enfraquecendo, “estórias” populares? Deixando ou diminuindo prolongação, sua divulgação. Há desconhecimento das tradições? Ou quem procura por isso também o achará na internet?

A pesquisa bibliográfica, fundamentou nosso artigo. E falar dos estudos em relação às raízes culturais, assim como o estudo do que elas representam em cada localidade, seja aqui no Brasil, ou além de nossas fronteiras,  vai fortalecendo ramificações literárias que vêm com nosso povo e demais povos, como a ligação que temos com a cultura afro, indígena, lusitana, suas influências e raízes, como afirma Cascudo em seu trabalho intitulado Literatura Oral no Brasil  em que nossa literatura, ou seja a literatura brasileira,  é composta dos elementos trazidos pelas três raças para a memória e uso do povo atual (Cascudo, 2012, p. 20). Comparamos um conto tradicional em duas versões, considerando o aspecto regional existente entre essas diferentes culturas.

A importância da tradição oral na sobrevivência dos contos populares e  como os elementos fantásticos estão presentes nos contos populares brasileiros mostra a importância da influência dos contos provenientes de outras culturas para o enriquecimento do conto popular brasileiro, as características e estrutura do conto tradicional popular, O Príncipe Teiú, retirado da coletânea O Príncipe Teiú e outros contos brasileiros, assim como o conto, A Bela e Fera, versão de Jeanne – Marie Leprince de Beaumont (1757), nos permitiram investigar o caráter sociocultural do conto popular, como expressão de cada sociedade, tendo a literatura oral como importante aliada.

3 TEORIA E TEXTO LITERÁRIO

No imaginário popular, no folclore, existem várias expressões culturais. Lembremos das estórias da Carochinha4, ou as de Trancoso5, como se refere Câmara Cascudo em uma de suas obras, fazem parte do chamado conto popular, que escritos, ou não, trazem a tradição na literatura. A dimensão à   qual o conto popular propicia àqueles que detêm o dom da oralidade, enquanto instrumento cultural, exibe a sua importância, ao leitor ouvinte.  Estudemos assim as tradições e histórias de um povo fortalecido através de um vínculo onde todos podem colaborar de formas distintas a sua manutenção, para que sua existência não venha a cair numa espiral de esquecimento, como afirma Silveira (2004), quando diz

Muitos dos trabalhos de pesquisa de folcloristas e etnólogos sobre a oralidade, abordagens dos contos, lendas, adivinhações, ditos populares, registrando conjuntos de textos junto a contadores de histórias, seguiram a orientação de reescrever os textos para evitar o seu desaparecimento. Os contadores de histórias tenderiam a desaparecer pouco a pouco. A falta de oportunidade de revelar esses textos os levaria ao total esquecimento. (SILVEIRA, 2004, p.447)

Isso nos faz inferir sobre a importância em incentivarmos mais pesquisas, quanto o repassar ou reescrever tais contos através da escrita ou mesmo da oralidade, vem a desencadear um movimento de redescobrir essa narrativa e sua importância de investigar costumes, tradições, a cultura de um povo, buscando cada vez mais pesquisar, dar um pouco mais de ênfase em determinados instrumentos proporcionadores de uma expressão cultural.

Seja no sertão nordestino, propriamente retirado da tradição do povo baiano, como aponta Doralice Alcoforado, ou Nádia Gotlib, em sua Teoria do Conto, ou ainda Vladimir Propp, trazendo em seu estudo a fórmula apresentável do conto, em um  estudo sobre o conto mágico, a representação do conto como narrativa simples e com tons de fábula, onde o fantástico se faz presente, o teor moralista também se faz apresentável, muitas vezes por estórias que trazem reflexões sobre o bem e o mal, sobre virtudes acima dos vícios, elucidando que o ser humano está propício ao vícios, porém pode fazer a escolha pelas virtudes, que devem ser cultivadas durante toda a vida, assim como mostra a recompensa para o que pratica o bem ou o castigo para quem vai em busca do mal, fazendo maldades estando exposto as consequências dos seus atos, assim como Alcoforado (2004), nos possibilita ter acesso através de um de seus estudos, ela pondera,

As narrativas desse tipo são curtas e, à exceção de uma, estruturam-se como conto de exemplo, construindo-se a trama com as sequências articuladas à dicotomia bem versus mal, deixando patente a preocupação moralizante contra sentimentos pouco edificantes. (ALCOFORADO, 2004 p. 202)

Seja na Rússia, de Propp, na França, de Madame Beaumont, ou no Brasil, de Doralice Alcoforado ou de Marco Haurélio, este último, importante cordelista, folclorista, escritor, responsável pela coletânea da qual foi retirado um dos contos a ser analisado, ou mesmo o próprio Luís da Câmara Cascudo6 , como dito já em outro momento, todos tem em comum desvendar as linhas do conto popular, abordar e não deixar que seja esquecido. Em todo o mundo o conto fez ou faz parte da rotina de alguém, seja como estudioso, contador do mesmo ou pessoa ouvinte, todos podemos dizer como da sua respectiva importância na veiculação desse instrumento.

Propp (1928) em seus estudos a respeito do formato do conto, que ele intitula como Morfologia do conto maravilhoso, mostra como elementos distintos faz do conto um universo de estudos vastos, porém com pouco desenvolvimento sobre tais aspectos e elementos. Cascudo (1998) em sua obra intitulada Dicionário do Folclore Brasileiro, traz uma terminologia interessante a respeito de muitas expressões folclóricas, aqui o que nos interessa é a definição do conto popular: É a estória do Trancoso, conto de fadas, da Carochinha, etc. (Cascudo, 1998, p.303). 

Alcoforado (2004) em seu trabalho denominado O Conto mítico de Apuleio no imaginário baiano, faz uso das reminiscências do conto em meio ao costume e tradições do povo baiano, fazendo um paralelo entre Cupido e Psiquê, de autoria de Lúcio Apuleio, este, autor latino do século II, segundo a autora, no roteiro muito utilizado sobre o noivo-animal em muitas culturas, a exemplo do conto O Cadeado, do escritor italiano Giambattista Basile, que faz parte dos estudos de Reis (2020) intitulado A poética da voz no território do maravilhoso napolitano e baiano: transmissão oral, conselho e troca de saberes, o qual a autora se debruça entre outros aspectos no ciclo noivo-animal, também utilizado para dar asas à imaginação também em território baiano, como alguns exemplos citados por Alcoforado, O Papagaio que era um Príncipe, Príncipe Lagarto no Reino dos Amores, entre outros, contidos em seus estudos sobre o imaginário baiano.

Gotlib (2006), vem tratar de alguns tópicos acerca do conto, na chamada Teoria do conto, onde faz algumas definições, entre elas as acepções dessa palavra, quando diz que para Júlio Casares há três acepções da palavra conto, que Júlio Cortázar utiliza no seu estudo sobre Poe: 1. Relato de um acontecimento; 2. narração oral ou escrita de um acontecimento falso; 3. fábula que se conta às crianças. (Casares; Cortázar apud Gotlib, 2006, p.11), assim como aponta no decorrer do capítulo algumas assimilações do que Propp definiu como funções, motivos e ações dos personagens: O conto em seu modo de fazer folclore e literatura,

Partindo da análise da ação das personagens, constata que há ações constantes, que ele chama de funções; função seria, então, “a ação de uma personagem, definida do ponto de vista do seu significado no desenrolar da intriga” (p.60). Estas funções ou ações constantes são independentes das personagens que as praticam e dos modos pelos quais são praticadas. Isto é, as mesmas ações são praticadas por personagens diferentes e de maneiras diferentes. (Propp apud Gotlib, 2006, p.23).

Ainda em Gotlib (2006), sobre funções, transformações e origens do conto a autora discute sobre as diversas funções que o conto pode desempenhar na literatura e na sociedade, pois segundo ela, os contos podem servir tanto para o entretenimento quanto para a reflexão, podendo transmitir valores culturais, morais e éticos, destaca ainda que o conto necessita ser conciso assim como intenso, levando assim o leitor a uma experiência mais focada e impactante. Gotlib (2006, p.20).

Com relação as transformações, a autora explora como o conto evoluiu ao longo do tempo, adaptando-se a diferentes contextos históricos e culturais, transformações essas ocorridas nas técnicas narrativas e nos temas abordados, mostrando assim como essas mudanças refletem em mudanças na sociedade e nas expectativas dos leitores, menciona a influência de movimentos literários e como contribuem para a renovação do gênero, para as origens do conto, Gotlib sugere que essas origens estão profundamente ligada as necessidades humanas de contar histórias e compartilhar experiências.

Assim lemos O Príncipe Teiú, conto que faz parte da coletânea do professor Marco Haurélio, uma curta narrativa, onde se apresentam elementos fantásticos, como um teiú falante, uma mata onde se encontra uma árvore encantada, por onde Branca Flor e o teiú devem usá-la como portal até a casa onde ela deverá morar, inclusive esse é um dos pontos desse conto, pois o teiú nada mais é do que um príncipe que fora transformado e nos é apresentado como intrigante personagem que está intrinsecamente envolvido no desenrolar do enredo, porém tendo o pai da moça, no caso da personagem Branca Flor, a garota gentil e perseverante, aquele que proporciona que a história de um personagem se interligue com a de outros.

Um viúvo vivia com três moças. Ele cuidava de todas com muito zelo, mas a caçula, que se chamava Branca Flor, era por quem tinha mais apreço. Certa feita, ao sair para caçar, ele se perdeu na mata e não achava o caminho. Quando estava se lastimando e chorando debaixo de uma árvore, apareceu, não se sabe de onde, um teiú, de todo tamanho perguntando.

– O que faz debaixo dessa árvore?

– Eu saí de casa e já faz três noites que estou perdido na mata. Minhas filhas devem estar aflitas. (HAURÉLIO, 2012, p.13).

Por outro lado, nos é apresentada, Bela, a moça virtuosa na qual existe uma beleza rara, mas essa não se destaca tanto quanto a beleza interior, da moça que assim como na versão baiana vive com o pai, irmãos e irmãs, sendo que essas não a suportavam, justamente porque diante da nobreza da mais moça se revelava a feiura de seus atos egoístas, mostrado mesmo em um simples gesto onde Bela prefere uma simples rosa, que vai contribuir com o enredo da estória, incomoda profundamente as invejosas irmãs, pois é como se o fato da mais moça escolher algo simples, mostrasse suas vaidades e orgulho, fazendo com que ambas desejassem o mal da própria irmã, “ Quando era pequena, só a chamavam ‘a bela menina’. Assim foi que o nome ‘Bela’ pegou- o que deixava suas irmãs muito enciumadas”. (Beaumont Apud Tatar, 2013, p.93)

Em Branca Flor a partir da interação entre o caçador e o teiú vai se desenrolando o enredo da estória, porque com esse encontro os leva ao conhecimento de que motivos distintos os tornará mais próximos, com interesses semelhantes, nos fazendo conhecer o por que um animal é apresentado como um dos personagens principais nessa narrativa, qual semelhança sua história converge com de tantos outros personagens de fábulas diversas, de origens diferentes, com seus símbolos regionais propício a cada povo e tradições culturais.

Na versão francesa de Madame Beaumont é apresentado mais uma vez o personagem do noivo- animal, pois em Branca Flor também aparece o mesmo motivo, aqui nesse conto descrito como uma fera, diferente um pouco do outro texto, vem com mais detalhes do espaço onde se passa o desenvolvimento da estória entre A Bela e a Fera, versão essa escrita de Madame Beaumont, que por sua vez é uma adaptação de uma outra estória, de Madame de Villeneuve, obra publicada no ano de 1740, contendo um grande número de páginas, sendo reduzida na versão de Madame Beaumont. Com um forte senso de valores, traz ensinamentos principalmente às senhoritas, da qual Madame Beaumont era uma espécie de professora de bons costumes, etiqueta, proporcionando a serem valorizados aspectos pessoais, religiosos, boa conduta, assim como também responsável pelo encaminhamento das moças a sociedade, visando o matrimônio, como afirma ainda a autora MariaTatar,

A Bela de Madame Beaumont chega a uma conclusão que hoje poucos aceitariam sem reservas como uma receita para um casamento feliz. Afirmando que nem ‘aparência’ nem ‘grande inteligência’ são o que conta, a Bela rejeita a paixão do amor romântico e afirma que os sentimentos de ‘respeito, ‘amizade’ e gratidão’ são suficientes para um bom casamento. (Tatar, 2013, p.90)

Com relação ao personagem que representa um animal, ambas as versões apresentadas por Alcoforado partem de um pressuposto de mágica, onde a personagem dispõe de características animalescas, que por algum evento maléfico foi transformando em alguma espécie que apenas o é permitido ser transformado novamente no escuro, sem que seja possível à sua amada o direito a ser conhecido seu aspecto humano, relatado por vezes como muito distinto e belo, e esse mesmo personagem precisa que a noiva mostre interesse pela sua personalidade e não sua aparência, essa exigência, nem sempre é proveniente da maldade por parte do agressor, como também pode ser por motivo de lição para o personagem, este que se trata de um príncipe encantado. Em seu estudo sobre o motivo noivo-animal, Alcoforado, tendo realizado algumas pesquisas sobre esse tema em contos relatados pelo próprio povo baiano, chega a identificar que,

Nas duas versões em que o noivo-animal é um burro, o príncipe metamorfoseado, à noite, assume a forma humana. A proibição de acender a luz era para o seu segredo não ser revelado. Essas duas versões distanciam-se quanto a estruturação da sequência das tarefas difíceis. (ALCOFORADO, 2007, p.199).

Porém, há diferenças no desenvolvimento do enredo com relação como procedem.  As personagens femininas são encarregadas em desempenhar tarefas para conseguir seu tão esperado final feliz. É possível que contos diferentes em suas versões sejam irmãos por tradições orais em diversas partes do planeta.

Vladimir Propp, traz em seu estudo acerca das motivações das ações que ocorrem nessa narrativa, as funções dos personagens, os elementos de dupla significação, ou seja, alguns personagens dependendo da narrativa têm significados diferentes, trazem mais profundamente algo na estrutura morfológica do conto, fazendo menção a alguns contos da tradição russa, por exemplo. Doralice Alcoforado faz um estudo acerca de alguns contos provenientes da tradição baiana. Marco Haurélio, traz sua coletânea de contos populares, Luís da Câmara Cascudo, tem em seu roteiro de obras, grande contribuição com o legado das tradições populares.

4 ESTUDIOSOS E O CONTO POPULAR

Alguns pesquisadores se preocuparam em estudar o conto popular tradicional, que vem a ser uma forma exploratória de culturas distintas que merecem um olhar crítico a respeito das formas, classificações, possíveis ligações entre as tantas culturas existentes.

Temos por exemplo, em Câmara Cascudo (2014) responsável por um bom número de expoente com relação à cultura popular brasileira, o folclorista em questão dispõe de obras de fato muito importantes para o desenvolvimento do estudo do conto popular, podendo citar inclusive a obra intitulada O Conto Tradicional do Brasil, um compilado de contos populares, divididos em 12 (doze) categorias, podemos citar por exemplo os contos de encantamento ou os contos de animais, e sobre essa coletânea, o qual Reis (2022), afirma : Cascudo (2014, p.16), no prefácio de Contos tradicionais do Brasil, propõe uma definição para o “conto popular”, distinguindo com as seguintes características: antiguidade, anonimato, divulgação e persistência. (Cascudo Apud Reis, 2022, p.41)

Há nessa coletânea essas particularidades com relação ao conto popular que diz da importância de suas características que envolve longevidade, geralmente os contos populares são repassados através de gerações, porém não perde sua característica como conto, tem-se naqueles contadores a questão do anonimato, são estórias contadas do povo para o povo, podem até ganhar uma versão literária, mas antes partiu da oralidade local, que por sua vez foi transformado não sua essência, sim em suas características regionais, a divulgação é feita através de conversações, brincadeiras, o lazer proporcionado conforme a necessidade de cada comunidade.

Assim como podemos dizer acerca do folclorista russo Propp, que em sua obra de forte estruturação nos faz refletir acerca dos elementos que formam o conto popular, o que pode levar a aproximar diferentes versões de contos.

Como explicar que a história da princesa-rã se assemelha na Rússia, Alemanha, França, Índia, entre os peles-vermelhas da América e na Nova Zelândia, quando não se pode provar historicamente nenhum contato entre esses povos? Esta semelhança não poderá ser explicada se tivermos uma imagem inexata de sua natureza. (Propp, 2001, p.15).

A natureza do conto a que Propp se refere seria então a forma deste gênero, o qual é de grande importância destrinchar cada elemento ou suas partes especificas para assim ir em busca do processo de estudo do conto maravilhoso, morfologicamente falando , inclusive o autor chega a procurar explicitar com outros exemplos de estudos morfológicos, como por exemplo o estudo da botânica em que é feito um estudo das partes constituintes das plantas, ou seja um estudo mais especifico, mais detalhado de sua forma.

Ainda em Aspectos Léxico-semânticos do Conto Popular, de autoria de Maria do Socorro Silva de Aragão, “há um interesse em estudar o conto popular, pois, o interesse pelo estudo do conto popular, é principalmente, pelo seu conteúdo linguístico, social e cultural, por sua forma artística e pelo papel por ele desempenhado numa comunidade”. (Aragão, 2020, p. 23), logo entende-se que o conto popular é mais do que contar e recontar, para aqueles que se propõem em estuda-los significa desvendar e propiciar as camadas afetadas por ele, seja em sociedade ou falando linguisticamente, do seu uso.

 Temos assim, através de algumas pessoas interessadas nesse campo de estudo, a possibilidade de redescobrirmos o lugar do conto popular tradicional que com um toque mágico, vem encantando gerações dentro dos mais variados tipos de contadores, leitores, temas, enredo etc.  No conto popular, como a própria palavra poderia definir, temos uma recolha de estórias populares, onde pessoas provavelmente anônimas e de vários tipos de regiões diferentes, dão uma entonação, personalidades diferenciadas, em versões diversas sobre o mesmo assunto, como por exemplo, os contos que aqui estão, trazendo aspectos maravilhosos e fantásticos.

Diferentemente dos contos de Machado de Assis, e Lima Barreto, que têm por exemplo um que de referencial à sociedade, às ilusões e/ou desilusões amorosas, sociais, políticas, ou seja, estão mais intimamente ligadas a realidade social, política e cultural de um país.

Nesse tipo de conto, o fantástico, o maravilhoso, não se encontram presentes, trata-se de trabalhar motivos e temas comuns com instrumentos diferenciados, já que no conto popular não está distante a possibilidade de crítica sócio- cultural do regimento social vigente, porém não deixa de aparecer algo, contudo a forma de instrumentalizá-lo oralmente, o enredo, que usa a magia para dar um tom mais encantador, vem com motivos éticos, moralizantes, com caráter a demonstrar o quanto de recompensa temos ao escolhermos o bem, mas também o contrário acontece, caso escolhamos fazer o mal.

É estrada com várias ramificações. Aqui investigam caminhos que fazem um conto aqui do Brasil, se conectar, intertextualizando saberes de um povo que se encontra a milhares de distância seja no espaço ou no tempo, tem-se como proposta estudar e analisar os contos contados pela sabedoria popular, mais precisamente da região nordestina, onde aspectos como clima, geográfico, identidade cultura, difere quase que completamente à versão de outro conto muito famoso,  A Bela e a Fera, tendo como versão brasileira o conto O Príncipe Teiú, de autoria do então escritor baiano, Marco Haurélio, pesquisador da tradição oral nordestina.

Façamos um estudo comparativo buscando aproximar os textos Branca Flor/O Príncipe Teiú com o texto de madame de Beaumont, tecendo um paralelo entre esses dois títulos do conto popular tradicional, o primeiro, uma versão baiana do conto A Bela e a Fera, os estudos sobre contos populares brasileiros, adaptando costumes, regionalidade, particularidades locais, em contrapartida temos a versão literária escrita por Madame Beaumont do mesmo conto A Bela e a Fera,  nesses textos encontramos divergências e convergências em diálogo textual,  trazendo ainda uma breve referência sobre Eros e Psiquê, matriz original, inspiradora dos contos estudados nesse artigo.

No conto de versão baiana7 Branca Flor/ O Príncipe Teiú, nos é apresentada a estória de um viúvo que tinha três filhas, onde a mais nova era – lhe de mais agrado, o que não significava que ele desprezava as outras irmãs, porém talvez por ela ser a mais nova tivesse um apego maior com essa figura paterna, pelo fato de ter perdido tão precocemente a figura materna da mãe.

Este viúvo morava no campo, espaço comum ao que é o da história, onde vivem animais pitorescos, entre eles o teiú, daí nos vem a imagem de um lugar rústico, com árvores, uma vegetação típica de uma determinada região, mas, diz no conto que ele era caçador, alguém que conhecia muito bem sua região, porém o homem consegue se perder e a partir desse ponto, um outro personagem é inserido ao núcleo familiar desse caçador e suas filhas.

Com medo de não poder retornar ao seu lar e nem à suas filhas, esse homem pede auxilio a um teiú, animal típico de algumas localidades no nosso país, não detalha como era o bicho, mas é dito que o bicho fala com o homem, propondo um acordo, de que o senhor deve lhe entregar a primeira coisa que ele veja ao chegar em casa e qual não é o desespero do caçador ao perceber que terá que entregar sua preciosa filha, pois foi quem ele viu primeiro, tentou inclusive ludibriar o animal, que de bobo não tinha nada, foi logo exigindo que fosse cumprida a palavra do homem.

A menina, sensata que era, percebeu que aquilo deveria ser feito, muito grata por ter seu pai vivo, foi com o teiú, esse personagem traz algo de mágico, pois ao chegar perto de uma árvore é como se esta fosse um portal que direcionava a outro mundo, um onde encantos possivelmente ocorreriam, Branca era muito bem tratada no local pelos possíveis empregados, porém nenhum momento é dito isso, apenas que lhe era servido tudo que ela precisava.

Até o momento em que a saudade da família falou mais alto e Branca decide que quer visitar a família, o que lhe é concedido pelo teiú, personagem esse misterioso à menina, pois ele nunca aparecia a sua companheira, a única coisa que ela conseguia distinguir era o som da sua voz. Ela, claro foi advertida sobre o fato de não poder trazer nada de seu lar anterior, ficou assim marcado de em três dias ela deveria retornar à sua companhia.

A partir daí duas outras personagens ganham destaque na estória, as irmãs de Branca, que diferentemente do conto original, não lhe eram hostis, mas há algo inerente ao ser feminino, a curiosidade, logo decidiram pedir a irmã que tentasse descobrir quem era aquele que todas as noites, às escuras se deitava no mesmo leito que ela, mesmo advertida Branca permitiu que a curiosidade ganhasse de sua sensatez, e fez o que pedido pelas irmãs, trazendo-lhe grande surpresa, porém profundo pesar ao perceber que cometeu um erro e desobedeceu o marido, levando assim a perca da recompensa por não consegui conter sua curiosidade. O marido, se foi.

Começa agora, um itinerário de tarefas a serem cumpridas, com o propósito de reaver seu amado, o que Branca ainda não sabia, é que estava grávida. Antes de sumir, o teiú agora, príncipe, repassa algumas instruções à moça, entre essas instruções ela deveria procurar um ferreiro e pedir que lhe fizesse alpercatas de ferro e deveria procurá-lo em todos os cantos da terra. Uma prova de perseverança lhe é imposta.

De reino em reino, vai Branca Flor em busca do amor perdido, vai à casa do sol, do Vento, da Lua, enquanto isso o fruto do seu amor ia crescendo em seu ventre, como último requisito Branca precisa ir até o reino da escuridão, pois seu amado se encontra sobre forte feitiço e não se lembra de nada, mantido em cativeiro por uma rainha má, responsável pelo feitiço sobre o príncipe.

A moça continuava sua busca, porém teve um bebê, ficou alojada na casa de uma velhinha e sempre ia ao rio lavar as roupinhas do bebê, ao chegar ouvir o cantar duma pombinha em que era citado o seu nome, com muita doçura, até que uma criada informa ao príncipe o que se passa na beira do riacho, logo levando-o a ser mais cauteloso quanto à rainha, conseguiu driblar a megera, até que escutou o canto do pássaro, recordando assim de sua amada, levando a rainha má ao desespero quando percebeu que havia perdido o controle sobre o príncipe, tanto raiva ficou que estrebuchou… E assim partiu a família feliz, esse conto maravilhoso, foi retirado da coletânea do professor Marco Haurélio, em seus estudos sobre o conto popular tradicional, contado pela senhora Jovina Angélica de Amaral Silva, residente da Serra do Ramalho, no estado da Bahia.

O conto de origem francesa A Bela e a Fera de Madame Beaumont, Jeanne Marie- Leprince de Beaumont, conta a história de um rico comerciante que tinha seis filhos, três rapazes e três moças, sendo a caçula de uma beleza incomparável não precisamente  apenas exterior, mas, também interior, com suas atitudes desapegadas que levavam suas irmãs à invejá-la, pois sua atitude nobre e desapegada as fazia se sentir menor, inclusive no mito de Eros e Psiquê a beleza da jovem Psiquê causa desgosto e inveja a deusa Afrodite, na versão grega e Vênus, na versão latina de Apuleio.

Mas, voltemos a estória da bela menina como indicado no conto, esse rico negociante perde toda sua riqueza e resolve morar no campo, pois é sua única opção no momento. As irmãs mais velhas de Bela ficam inconformadas, porém a moça, para não colocar mais peso sobre os ombros do pobre pai, aceita de bom grado e partem para sua nova vida.

A mudança não é fácil à bela garota, assim como também à suas irmãs, porém a maneira de lidar com a situação fora completamente o oposto. Enquanto Bela se dedicava aos afazeres de casa e do campo, pois tornou-se lavradora, as irmãs viviam aborrecidas e reclamadoras com saudades dos bailes, vestidos e suas amizades com pessoas importantes.

Quando passado já algum tempo lhes chega a notícia que seus bens foram recuperados, muito contente o negociante pretende partir imediatamente em busca de reaver seus pertences, cada uma das filhas pede algo luxuoso, apenas Bela pede uma simples rosa, o que as irmãs não veem com bons olhos, mesmo assim o senhor parti, que grande não é sua decepção ao descobrir que nada lhe resta de sua riqueza perdida, retorna pois ao convívio de sua família, porém se perde no caminho para sua casa, em meio a um bosque, acaba por chegar a um lugar maravilhoso, um palácio, deu de comer ao seu cavalo e adentrou pelo espaço do castelo, ceou, pois estava faminto, mas todo esse tempo, ninguém lhe aparecia, pensando ser o castelo o lar de uma boa fada, lhe agradeceu e partiu, ao passar por um canteiro de flores, lembrou o que sua caçula pediu e retirou de lá uma rosa, nesse momento uma voz é ouvida, e a figura de uma fera horrenda aparece, causando- lhe forte medo.

A Fera que se encontra fora de si, exige sua vida, o senhor suplica dizendo que não pretendia ofender seu anfitrião, que irredutível pede que uma de suas filhas venha ao seu encontro como compensação para morrer em seu lugar. O senhor volta, cabisbaixo, porém rico, bastante rico, mas isso não lhe interessa, pois corre o risco de perder uma de suas filhas.

Ao retornar ao seu lar o homem relata o que aconteceu, os filhos decidem ir e encontrar o monstro, porém não tem ideia da força da fera, finalmente, Bela, informa que irá no lugar do pai, foi enviada assim ao castelo, sendo recebida pela fera, seu pai retorna a sua casa, após a refeição ele se retira deixando-a sozinha, a menina era tratada como uma princesa no castelo, era a dona daquele lugar, mas isso poderia torna-la feliz? Sentia falta de sua casa, de seu pai e irmãos.

A Fera por algumas vezes pergunta se a doce menina aceitaria ser sua esposa, claro, Bela recusa, não quer magoar seu bom amigo, mas, não quer mentir-lhe. Dias e dias se passam a saudade da família aumenta, até que a garota descobre que seu pai está doente, e lhe é permitido, a menina visitar seu pai, porém advertida como fora Branca Flor, não sobre o mesmo motivo, já que nesse caso o pedido era pra que ela não se demorasse na casa do pai, pois seu amigo morreria de dor por tanta saudade, para retornar era preciso que ela colocasse um anel encantado que a transportaria de volta.

Bela vai, as irmãs, que já estão casadas, mas continuam muito maldosas, incentivam a irmã a ficar mais uns dias, só por pretexto em fazer com que Bela ferisse seu amigo, por não voltar como dissera, logo isso desencadearia tamanha raiva na fera que essa causaria um grande dano à sua irmã, porém não  é o que acontece, pois a fera adoece de tanta saudade, a menina sonha com isso, e volta, ao chegar encontra seu amigo inconsciente, ali percebe que tem medo de perde-lo, não consegue imaginar sua vida sem seu companheiro e amado, ao declarar-lhe que não pode viver sem ele, algo como mágica acontece e tudo começa mostrar sua verdadeira beleza, inclusive o monstro, que na verdade nada mais é que um príncipe que havia sido enfeitiçado por uma fada má. A garota de belo aspecto físico, mas também de belas atitudes ganha a recompensa por sua perseverança e bondade, quanto as irmãs recebem seu devido quinhão por causa de suas maldades, são postas como estatuas a testemunharem a felicidade da irmã.

5   ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE BRANCA FLOR/O PRÍNCIPE TEIÚ E A BELA E A FERA

A história do primeiro conto se passa numa área de mata, como é um conto típico do sertão nordestino podemos inferir que o espaço onde se realizam os atos nada mais é que uma região com características do Nordeste brasileiro, inclusive algumas palavras caracterizam que se trata do interior da região nordestina, por exemplo, quando a irmã sugere a Branca que esta leve uma candeia, ou quando o marido indica que para encontra-lo terá que andar e andar muito, calçada numa alpercata de ferro, ou quando a senhora que mora com o sol diz que o cheiro que ele sentia era uma galinha que havia preparado para ele, nos remete a características e costumes do interior dessa região.

A história do conto A Bela e a Fera, percebe-se que no início se passa em alguma cidade europeia, pois não é citado nomes, mas quando se diz que as irmãs se davam ares de dama, mostra que viviam em uma sociedade provavelmente aristocrática ou burguesa, onde dispunham  de alguns luxos, de privilégios, com companhias deveras importante na sociedade, mas de repente a família se vê em completa pobreza, o espaço passa a ser uma pequena casa no campo, em um bosque em que de patrões passam a  tirar  seu sustento da terra, na lavoura.

Branca Flor era terceira filha de um viúvo caçador, uma família composta por pai e três filhas, onde o convívio entre elas era bom, as irmãs não eram do tipo invejosas, como as de Bela, elas realmente se sentiram feliz com a volta da irmã, diferentes das irmãs de Bela, que não suportavam a felicidade da irmã, seu caráter as incomodava, Bela tinha ainda mais três irmãos, que cuidavam e gostavam da dela.

A situação financeira familiar, diverge quando o pai de uma protagonista é um simples caçador, enquanto o outro, um rico comerciante, porém no decorrer da trama francesa os dois ficam em pé de igualdade, quando o negociante perde sua riqueza, a partir desse ponto a forma como vivem as famílias em questão financeira, não dista uma da outra, porém podemos dizer que quem não considera ter grandes coisas, sofre menos que aquelas que tem muito e perdem tudo, como é o caso das irmãs de Bela, que não imaginavam que iriam ficar pobres.

Quanto ao desenrolar dos acontecimentos percebemos as formas diferentes com que os personagens do pai e o noivo-animal se cruzam, pois enquanto o teiú oferece ajuda ao caçador para chegar à sua casa, a Fera do conto francês não faz imediatamente sua aparição, segundo Propp, enredos semelhantes, mas personagens com funções diferentes aparecem para conduzir a estória, da mesma forma que no conto de Madame Beaumont e do retirado da cultura baiana, ações diferentes ocorridas levam a resultados semelhantes, quando ambas as moças decidem ir morar com alguém desconhecido, uma para cumprir uma promessa a outra para evitar a morte do seu pai.

Em relação as circunstâncias de retorno à sua casa, Branca Flor sentia muitas saudades do pai e irmãos com isso é autorizada a voltar, porém não mais que três dias, enquanto Bela, descobre que seu pai se encontra doente, com isso, também é autorizada a sua volta, porém não deve ficar mais que oito dias com seus familiares, lhes é imposto uma definição para sua liberdade, ou que elas pensavam ser sua liberdade, já que posteriormente se prova o contrário, a verdadeira liberdade era estar ao lado do seu amado.

A crise nas histórias se dá quando ambas desobedecem a seus maridos, uma levando um instrumento que faz com que ela descubra o rosto daquele que ela tanto amava, mas nunca tinha visto, na outra história a interferência de dois personagens, que poderiam ser consideradas as antagonistas naquele momento, as irmãs por motivos perversos, egoístas decidem retardar a volta da irmã ao castelo.

Ambas protagonistas se veem diante de uma angústia, principalmente por perceber que havia traído a confiança daquele que depositou o amor ao seus pés, para Branca restou-lhe a tarefa de ir em busca do amado, assim como temos em Psiquê a heroína que vai em busca do seu amado, arriscando inclusive seu próprio bem estar físico, já para Bela ela faz uso de um objeto mágico que Propp designa em seus estudos morfológicos do conto, como o objeto que irá auxiliar o herói, nesse caso um anel mágico é dado a Bela, para que possa retornar ao castelo. E em seu estudo é colocado como “O Meio Mágico passa às mãos do herói” (Morfologia do Conto Maravilhoso, 2001. p.26).

Enquanto Bela recebe auxílio de um objeto mágico, Branca Flor recebe o auxílio de alguns elementos, como a mãe do Sol, do Vento, da Lua para chegar até seu amado, definido por Propp como “Diferentes personagens colocam-se voluntariamente a disposição do herói” (Morfologia do Conto Maravilhoso, 2001, p.28), nesse caso ajudam a heroína, indicando alguns caminhos a serem tomados.

Para finalizar o enredo, nas histórias, Branca Flor que vai em busca do seu amado, se encontra grávida, após ter o bebê, mais uma vez é posto à prova sua perseverança, pois seu amado não recorda dela, mas novamente entra em ação outro auxiliador, um pássaro que canta todos os  dias ajudando assim a despertar o príncipe de sua amnésia, fazendo com que o príncipe retorne a sua amada, deixando assim uma rainha extremamente irritada, que de tanta raiva cai pra trás e o casal vive feliz com seu filhinho, o qual tem uma característica bem peculiar, duas estrelas uma na testa e uma no estômago.

Já no conto de Madame Beaumont, o final feliz vem com a descoberta e volta de Bela, o feitiço que é desfeito, pelo bom coração da menina e o amor que ambos os personagens desenvolvem, as antagonistas, tem destino semelhante a antagonista do conto baiano, elas também têm sua recompensa, viram estátuas, que serão obrigadas a testemunhar a felicidade da irmã.

O MITO DE EROS E PSIQUÊ

Na versão latina, escrita por Lúcio Apuleio, uma senhora narra a história de Eros e Psiquê, inclusive um dos personagens que ouve toda a narração é um animal, um homem chamado Lúcio, havia sido transformado em um asno, dando nome ao título do escrito de Apuleio denominado O Asno de Ouro, mais importante conto da coletânea Metamorfoses.                          

Acredita-se que mesmo antes da versão dada pelo escritor, segundo López (2002), já existisse o mito ou a forma de propagação não escrita da versão grega da estória de Eros e Psiquê, quando em seu trabalho intitulado Omnia Vincit Amor: Iconografía de Eros y Psique a autora afirma,

No conocemos hoy fuentes literarias anteriores a la citada, O Asno de Ouro (Grifo nosso), hecho que no deja de ser una inquietante sorpresa habida cuenta de que las fuentes arqueológicas, sin embargo, son testigos iconográficos silenciosos de estos ajetreados amores, desde el siglo III a.C., siendo motivo predilecto en no pocas obras de arte del período helenístico. Los especialistas sostienen que no cabe duda de que la fábula se hubiera originado en las tradiciones primitivas de Grecia como lo dan a entender tantos monumentos del arte antiguo (López,2002, p.77).

Apuleio deu forma escrita a uma lenda mitológica do povo grego, que hoje encontramos como temática disponível em muitos outros contos populares, onde segundo Brandão (1987) em sua obra Mitologia Grega II, traz assim como López, que apesar de ter origens gregas, foi através de Lúcio Apuleio que tal romance chegou até nós nos dias atuais, inclusive nessa obra são descritos outros mitos, tais como O Mito de Narciso8 . Voltemos então a Eros, Psiquê e o Asno de Ouro, esse último encontra-se uma pequena, mas importante descrição sobre Lúcio Apuleio, ou como chamado O homem de Madaura, caracteriza-se que estes escritos de Apuleio seriam feitos com base no estilo milesiano: “Queria escrever e escreveu contos milesianos9 . É o que diz no prólogo. A primeira origem dos contos milesianos foi a crônica escandalosa de Mileto, na Ásia Menor, escrita por um utro Aristides, no século I de nossa era”. (O Asno de Ouro, 1963, p.15)

Eros ou Cupido é tido como o amor personificado, ou seja, vem da necessidade do ser humano em tornar o amor uma pessoa, Psiquê nada mais é que o sopro da vida, o que conhecemos por alma, segundo Brandão (1987) em sua obra Mitologia Grega Vol. II, Eros seria ainda o desejo dos sentidos, dando ainda três significados em grego, indo-europeu e sânscrito, para Psiquê é definido como “sopro” ou “princípio vital.”  Na mitologia grega Psiquê é conhecida como uma jovem tão bela que chega a causar inveja à deusa Afrodite, que na versão de Apuleio é a deusa Vênus que não aceita ser comparada a uma reles mortal e até mesmo esquecida por seus fieis adoradores em detrimento de uma humana.

Os ciúmes da deusa fazem com que ela deseje o pior à Psiquê, planejando que a jovem tenha um destino cruel, com a ajuda do seu filho Cupido, ela pretende fazer com que Psiquê se apaixone pela mais cruel e horrenda criatura que já existiu e que tem a forma de uma serpente, mas qual não é a surpresa quando Eros/ Cupido que deveria flechar Psiquê prova do seu próprio veneno, é flechado e acaba se apaixonando pela jovem.

A partir daí começam os momentos de envolvimento dos personagens, Cupido sempre vai ao leito da jovem, porém ela desconhece quem é seu amante, pois não lhe é permitido ver seu rosto, mais uma vez a inveja entra no jogo, pois ao descobrir que sua irmã está viva, as irmãs mais velhas de Psiquê começam a frequentar o castelo onde a mesma se encontra, ao dispor de alguns presentes que Psiquê  lhes da, elas começam a invejá-la e planejam fazer com que a irmã descubra quem é o seu marido.

Por várias vezes ela insiste para encontrar suas irmãs, porém o marido discorda, até que ele acaba cedendo, fazendo-a a dar as suas irmãs a oportunidade de envenená-la com sua inveja, fazendo Psiquê acreditar na possibilidade de o marido ser o monstro que antes lhe havia sido dado como potencial noivo, tramando o possível para descobrir o rosto dele e caso se confirmasse essa teoria, lhes dão inclusive uma arma, se uma faca ou punhal, para que Psiquê ferisse o “monstro”.

Assim se seguiu até que a jovem finalmente descobre quem é na verdade seu marido, fica encantada com a beleza do deus do amor e acaba por deixar escorrer cera quente em seu ombro, fazendo-o despertar e ficar profundamente decepcionado pelo fato da esposa não o ter escutado, até tentado feri-lo. Com isso Eros desaparece e todo encanto ao redor de Psiquê se desfaz, assim como em Branca Flor, a jovem também engravida, porém pela sua desobediência o bebê que seria imortal, não mais será. Em momentos de desespero, a protagonista tenta acabar com o sofrimento, mas não lhe é ao menos permitido, então lhe é imposta algumas tarefas, uma mais difícil que a última, para que a jovem encontre seu marido, porém sempre que desanimava ela recebia auxílio de um amigo do marido, fazendo com que a sogra nunca acreditasse que era nora quem as fazia.

Até que disposta a acabar de vez as tentativas de Psiquê, Afrodite/Vênus decide fazer com que a moça vá ao local em que se encontra uma deusa, no mundo inferior e trazer um pouco de sua beleza em uma caixa, não podendo Psiquê abrir a caixa, porém mais uma vez ela não consegue conter sua curiosidade e abre a caixa, caindo num sono profundo, tudo isso assistido pelo Cupido, que convalescente não podia fazer nada, mas ao perceber o perigo que sua amada corria, levanta-se e vai ao seu encontro, guardando o sono de volta na caixa, pede ao deus líder dos deuses permissão para que sua esposa torne-se  imortal, fazendo com que o bebê, uma linda garotinha, a qual foi dado o nome de Volúpia ou Prazer, também seja imortal.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo analisamos dois contos da tradição popular, partindo do pressuposto que há em ambas algumas semelhanças e diferenças. Fizemos ainda a possível relação existente entre diferentes culturas com relação a tradição oral do conto popular visando aspectos religiosos, culturais e sociais, tendo como ponto de partida a importância da manutenção por meio de estudos e propagação para que a cultura e identidade de um povo ou vários povos não desapareça à medida que seus interlocutores vão morrendo, pois a expressão cultural de uma sociedade reflete em cada geração, facilitando  o desenvolvimento do tesouro cultural e identitário.

Para isso se faz necessário conhecer o universo contextual de cada forma de expressão como das pessoas que transmitiram e transmitem essas atividades em contações de história, em rodas de conversa, através da sabedoria popular, compreender ainda que cada povo tem sua maneira particular de trabalhar suas características em suas versões, onde pessoas anônimas dão voz às memórias dos seus antepassados que por si também receberam essa sabedoria de alguém de muito tempo atrás.


4De acordo com Ivanildo Bechara, as histórias da Carochinha, foram introduzidas no folclore brasileiro por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), através da obra Histórias da Carochinha, termo esse utilizado para indicar uma boa velhinha ou baratinha contadora de estórias com o objetivo de entreter crianças.

5Inicialmente refere-se ao contista português Gonçalo Fernandes Trancoso (1515 -1596) que escreveu Contos e histórias de proveito e exemplo, mais tarde passou a referenciar as estórias contadas, principalmente na zona rural nordestina.

6Importante folclorista brasileiro, nascido no estado do Rio Grande do Norte. Assim como outros estudiosos, Câmara Cascudo procurou investigar a cultura e tradições populares, entre os quais O Dicionário do Folclore Brasileiro (1998), se faz presente entre tais estudos.

7Nos estudos realizados por alguns estudiosos, entre eles Marco Haurélio (2012) e Doralice Alcoforado (2004) foi tido como linha os contos propagados por algumas comunidades rurais do estado da Bahia, como por exemplo de contadores do povoado Serra do Ramalho, território baiano.

8Segundo definição dada pelo Dicionário da Mitologia grega e romana, de Pierre Grimal, Narciso era um belo jovem, filho de um deus do Cefiso e uma ninfa, cuja beleza o tornava insensível ao amor, que após ver sua imagem refletida numa fonte, ficou apaixonado por si mesmo, vindo a morrer por não querer mais nada além de si e sua imagem. (Grimal, 2005, p. 186)

9Segundo Fernández (2013) la fábula milesia es um género literario cuya finalidad es el entretenimiento. En un comienzo, la profesión de sus autores principales, su encuadre geográfico, su modo narrativo y sus assuntos predilectos respondia a los paradigmas de la historiografia popular helenística. (Fernandéz, 2013, p.75) A fábula milesiana é um gênero cuja finalidade é o entretenimento. Num primeiro momento, a profissão dos seus principais autores, o seu enquadramento geográfico, o seu modo narrativo e os seus temas preferidos respondiam aos paradigmas da historiografia popular helenística.

REFERÊNCIAS

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REIS, Adriana Aparecida de Jesus. A poética da voz no território do maravilhoso napolitano e baiano: transmissão oral, conselho e troca de saberes. N. 30. Londrina: Boitatá, 2020.

SILVEIRA, Maria Claurênia. Contadores de história: Tradição e Cotidiano. In: Estudos em Literatura Popular. Org. Maria de Fátima Barbosa de Mesquita Batista. Páginas: João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.

TATAR, Maria. Contos de fadas: Edição comentada e ilustrada. A Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e muito mais. Zahar Editor. Edição digital, 2013.


1Graduanda em Letras Português. Instituição: Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL)–Campus III AL-115, Km 03, Rod. Eduardo Alves da Silva Graciliano -Ramos, Palmeira dos Índios -AL, 57604-595. Email: laisgomes@alunos.uneal.edu.br

2Graduanda em Letras Português. Instituição: Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL)–Campus III AL-115, Km 03, Rod. Eduardo Alves da Silva Graciliano -Ramos, Palmeira dos Índios -AL, 57604-595. Email: maria.silva@alunos.uneal.br

3Doutor em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco. (UPE). (Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). -Campus III. AL-115, Km 03, Rod. Eduardo Alves da Silva Graciliano -Ramos, Palmeira dos Índios -AL, 57604-595.E-mail: moises.monteiro@uneal.edu.br