O POTENCIAL TERAPÊUTICO DA AYAHUASCA NA DEPRESSÃO, ANSIEDADE E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

THE THERAPEUTIC POTENTIAL OF AYAHUASCA IN DEPRESSION, ANXIETY, AND CHEMICAL DEPENDENCE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10048336


Jady de Aguiar Inácio [1]
Ester Vasconcelos Barros [2]
Laila Sofia Lima Sena [3]
Ana Beatriz de Campos Frota Dias [4]
Leonardo Costa Gobira [5]
Alysson Bastos Sena [6]


Resumo

Este estudo teve como objetivo explorar o potencial terapêutico da Ayahuasca na depressão, ansiedade e dependência química. Foi realizada uma busca sistemática na literatura acadêmica utilizando bases de dados relevantes e palavras-chave relacionadas à Ayahuasca e aos temas de interesse. A pesquisa sugere que a Ayahuasca pode ser uma abordagem promissora para o tratamento desses transtornos, pois mostra efeitos positivos no comportamento, na fisiologia e na regulação do humor. No entanto, o uso clínico da Ayahuasca requer uma abordagem cuidadosa e multidisciplinar, com dosagens, formulações e monitoramento padronizados, além de apoio psicoterápico, social e médico. A Ayahuasca não deve ser vista como uma solução isolada, mas sim integrada em um plano de tratamento abrangente que oferece alívio e esperança para aqueles que buscam melhorar sua saúde mental e qualidade de vida.

Palavras-chave: Ayahuasca; Depressão; Ansiedade; Dependência química; Tratamento alternativo; Medicina tradicional; Psicoterapia assistida por Ayahuasca

Abstract

This study aimed to explore the therapeutic potential of Ayahuasca in depression, anxiety and chemical dependence. A systematic search was conducted in the academic literature using relevant databases and keywords related to Ayahuasca and the topics of interest. The research suggests that Ayahuasca may be a promising approach for the treatment of these disorders, as it shows positive effects on behavior, physiology and mood regulation. However, the clinical use of Ayahuasca requires a careful and multidisciplinary approach, with standardized dosages, formulations and monitoring, as well as psychotherapeutic, social and medical support. Ayahuasca should not be seen as an isolated solution, but rather integrated into a comprehensive treatment plan that offers relief and hope for those who seek to improve their mental health and quality of life.

Keywords: Ayahuasca; Depression; Anxiety; Chemical dependence; Alternative treatment; Traditional medicine; Psychotherapy assisted by Ayahuasca.

1. INTRODUÇÃO

A Ayahuasca é uma bebida tradicionalmente consumida por diversas culturas indígenas da região amazônica. ( NARANJO, 1986)  Tem atraído crescente atenção nos últimos anos devido seu potencial efeito terapêutico, por exemplo, na psiquiatria e psicologia como antidepressivos, ansiolíticos e no tratamento da dependência química. ( ALMEIDA et al, 2019; GOULART, 2019; SOUZA & MARTINS, 2020).

Embora seu uso ancestral tenha raízes espirituais e ritualísticas, pesquisas cientificas recentes têm buscado entender os efeitos farmacológicos da Ayahuasca e seu potencial para o tratamento de doenças psiquiátricas.(SILVA, 2017; PALHANO FONTES et al, 2019). Além disso, quando utilizada de forma ritualística promove uma melhor qualidade de vida denominada “cura religiosa” e “cura espiritual” relatada por participantes de religiões no Brasil. (MERCANTE, 2020; CALLON et al., 2022; CONCOLATO, 2019)

Esta bebida denominada chá da Ayahuasca é preparada a partir da decocção  de duas plantas da Amazônia, o cipó denominado Banisteriopsis caapi conhecida como cabi, mariri entre outras denominações e as folhas de uma árvore Psychotria viridis conhecida como chacrona.(família Rubiaceae). Este chá contém uma complexa mistura de substâncias psicoativas, sendo a dimetiltriptamina (DMT) e Harmina os componentes principais.  (ATOJI, 2021; MARTINS et al, 2023; NUTT, 2005; DOS SANTOS et al, 2016).

Em um cenário global de aumento das taxas de doenças psicológicas e psiquiátricas, a  Ayahuasca está emergindo como um potencial aliado na busca por novas abordagens de tratamento. (FORTUNATO et al, 2010; PIC-TAYLOR et al, 2015). Este estudo se propõe a explorar o potencial terapêutico da Ayahuasca na depressão, ansiedade e dependência química.

2 .METODOLOGIA

Inicialmente, realizou-se uma busca sistemática na literatura acadêmica utilizando bases de dados relevantes, como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com ênfase nas seguintes bases Scielo (Scientific Electronic Library Online); Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde); PubMed (National Library of Medicine). Foram utilizadas palavras-chave específicas, como: “Ayahuasca”, “Depressão”, “Ansiedade”, “Dependência química”, “Tratamento alternativo”, “Medicina tradicional”, “Psicoterapia assistida por Ayahuasca”, “DMT (Dimetiltriptamina)”, “IMAOs (Inibidores da monoamina oxidase)”, e “Efeitos psicológicos da Ayahuasca”, relacionadas à Ayahuasca e aos temas de interesse, como depressão, ansiedade e dependência química.

2.1. Os critérios de exclusão:

  • Artigos mais antigos do que 2008, a fim de priorizar informações atualizadas.
  • Artigos que não se enquadraram nos temas de interesse.
  • Artigos que citavam somente atividades  religiosas e/ou de interesse cultural de povos indígenas.

2.2. Os critérios de inclusão

  • Artigos publicados em revistas científicas indexadas.
  • Artigos escritos em inglês, espanhol ou português.
  • Artigos que abordam os efeitos terapêuticos da Ayahuasca em pacientes com depressão, ansiedade ou dependência química.

Após a busca inicial, foram identificados um total de 58 artigos que atenderam aos critérios de inclusão.

Os artigos selecionados foram submetidos a uma triagem final, na qual foram revisados quanto ao conteúdo e relevância para o estudo em questão. Durante esta fase, 30 artigos não foram considerados devido o conteúdo não especificar claramente dados relacionados com os efeitos farmacológicos e das doenças. E que na triagem final, 28 artigos foram citados tanto na introdução quanto na seção de Resultados e Discussão conforme fluxograma na figura 1.

Estes artigos foram analisados quanto ao conteúdo relacionado aos mecanismos de ação, benefícios terapêuticos, riscos e preocupações com segurança terapêutica da Ayahuasca, conforme definido nos objetivos propostos por esse estudo.

Figura 1

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Autores/AnoTítuloTipo de estudoObjetivoConclusão
ESPOZITO, M.; et al. (2022)  Experiências e percepções de usuários de Ayahuasca sobre sua ação terapêutica  Pesquisa descritiva e exploratóriaO presente estudo teve como objetivo investigar o uso do chá de Ayahuasca como prática terapêutica através de recursos metodológicos qualitativos e quantitativos, capturando a percepção dos participantes acerca do uso e cruzando os dados com a literatura.A pesquisa contou com a participação de 478 homens e mulheres que fazem ou já fizeram o uso deste chá. Os resultados discutidos demonstraram uma associação qualitativa em relação ao uso da ayahuasca como forma de tratamento para transtornos mentais e dependência química.  
SOUZA, L. F. de; MARTINS, A. M (2020)O uso da Ayahuasca no tratamento da dependência química: uma revisão integrativa brasileira  artigo de revisão integrativa  O presente estudo teve como objetivo analisar a produção científica brasileira sobre o uso Ayahuasca no contexto do tratamento da dependência química.  Os estudos analisados nessa revisão integrativa dizem positivamente sobre o uso da Ayahuasca no tratamento de dependentes químicos e ressaltam também que este é um problema complexo e que necessita de um grande esforço de todas as partes envolvidas na recuperação da pessoa. A Ayahuasca entra como um importante elemento que atua nos níveis biológicos e também espirituais e, por isso, ela também não reduz a importância de outras áreas atuantes no processo de recuperação do dependente. A combinação desses fatores mostrou resultados eficazes de recuperação.
MARTINS, B. L.; et al. (2023)Os benefícios do uso da Ayahuasca como ferramenta alternativa ao tratamento convencional da depressão: uma revisão de literatura  Revisão bibliográfica  O estudo teve como objetivo apresentar  alegações e discussões sobre o benefícios do uso da Ayahuasca no tratamento de depressão.    Ayahuasca surge como uma possível ferramenta no que diz respeito aos caminhos alternativos de terapia e tratamento dos transtornos depressivos, mesmo que com efeitos adversos evidenciados. Ensaios técnicos laboratoriais demonstraram a sua capacidade de redução da degradação da serotonina, estimulação dos seus receptores e, além disso, aumento na plasticidade cerebral. Fomentou-se ainda que se aumente os estudos e pesquisas acerca do uso correto e dose específica da Ayahuasca para que não se limite apenas aos aspectos religiosos, mas avance para dentro da medicina, introduzindo-se na gama de tratamentos psíquicos e utilização terapêutica.
SILVA, A. K. et al. (2022)Evidências sobre os efeitos antidepressivos da Ayahuasca: uma revisão integrativa  Pesquisa integrativaExplorar a natureza das evidências que comprovam efeitos antidepressivos do chá de Ayahuasca com base em estudos científicos que demonstraram resultados satisfatórios.    Variados trabalhos apresentam evidências científicas de que as espécies utilizadas no preparo de Ayahuasca possuem efeitos antidepressivos, de forma aguda e prolongada. É possível observar que a Ayahuasca possibilita melhorias tanto comportamentais quanto fisiológicas em todos os estudos selecionados para esta revisão, porém foram evidenciadas limitações e que estudos futuros são essenciais para que sejam avaliados parâmetros como a segurança e tolerabilidade em humanos. Por esse motivo, há divergências nas concentrações das doses utilizadas nos estudos, visto que ainda não existe uma dose padrão que seja eficaz e segura, além do controle sobre a preparação da Ayahuasca, preparações mais padronizadas são, pois, necessárias para garantir a qualidade e segurança, visto que em um dos estudos foi utilizado um análogo da Ayahuasca, que é diferente das misturas tradicionais de ayahuasca.  
RAMOS, M. E. K.; et al. (2021)Avaliação do Potencial Farmacológico do Chá de Ayahuasca no Manejo da Ansiedade e Depressão  Revisão bibliográfica  O presente estudo tem como objetivo analisar à luz de um contexto científico, o potencial farmacológico de plantas (chá Ayahuasca) no tratamento da depressão, ansiedade e síndrome do pânico.  A análise dos resultados mostra que o chá apresenta potencial ansiolítico e antidepressivo pela presença de compostos tricíclicos e beta-carbonilas cuja padronização em formas farmacêuticas pode representar alternativas para o manejo da ansiedade e depressão. Apesar do potencial ansiolítico e antidepressivo, desestimula-se seu uso na forma de infusão bruta em razão da falta de padronização de dose, seu potencial alucinógeno e toxicológico.  
Serra Y. A.; et al. (2022)Papel dos receptores 5-HT2A nos efeitos da Ayahuasca na autoadministração de etanol usando um paradigma de escolha de dois frascos em camundongos machosEstudo experimental
O objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos da Ayahuasca na expressão da autoadministração de etanol usando um procedimento de escolha de dois frascos e o papel dos receptores 5-HT2A nesses efeitos.
O tratamento com ayahuasca durante a abstinência alcoólica bloqueou a expressão da autoadministração de álcool em camundongos, e a ativação do receptor 5-HT2A é crítica para que esses efeitos surjam. Nossas descobertas apoiam o potencial da Ayahuasca e de outros agonistas do receptor 5-HT2A como farmacoterapias adjuvantes para o tratamento do AUD (Transtono do uso de álcool).
ALMEIDA, C. A. de F. (2019)Ayahuasca no tratamento da farmacodependência ao etanol em camundongos: possível intervenção terapêutica?  DissertaçãoAvaliar possíveis intervenções terapêuticas, como a ayahuasca, no tratamento da farmacodependência ao etanol.    Os resultados sugerem que 10 dias alternados de administração de etanol é capaz de promover a aquisição e expressão da sensibilização ao etanol, sendo que o tratamento de oito dias de Ayahuasca na dose de 1,76 mg de DMT/Kg de animal é eficaz na diminuição da expressão da sensibilização ao etanol. Além disso, que a Ayahuasca pode apresentar um efeito ansiolítico nesta mesma dose. Os resultados mostram que a ayahuasca é capaz de prevenir os efeitos da exposição prévia ao etanol na concentração de dinorfina e de c-fos no estriado e no hipocampo, bem como na concentração dos receptores 5HT1a e 5HT2a no hipocampo.  
SERIANI, R. et al. (2020)Aspectos farmacológicos e toxicológicos do alcaloide n, n – dimetiltriptamina (dmt)  Revisão bibliográficaConsiderando o uso crescente de chás que contêm a DMT, esse trabalho tem como objetivo descrever seus principais efeitos farmacológicos e toxicológicos em virtude da limitação de referências e a necessidade de compilação de dados dispersos na literatura.  O chá de Ayahuasca e o seu componente alucinógeno DMT apresentam grande potencial terapêutico, com efeitos que incluem benefícios psicoterapêuticos, ação antidepressiva e antitumoral, despertando cada vez mais o interesse da comunidade científica. Apesar dos seus importantes aspectos farmacológicos, a DMT também pode causar efeitos adversos consideráveis, incluindo toxicidade, o que corrobora com a necessidade da realização de mais testes agudos e crônicos, além de pesquisas epidemiológicas focadas na sua ação nas populações que a utilizam, considerando a limitação de estudos e dados sobre esse assunto.  
SILVA, S. L. de O. e. AGUIAR J, E. de. (2021)  Investigação in silico da bioatividade de moléculas com atividade antidepressiva a partir da espécie Psychotria viridis  Investigação in sílico/ TCC  Esse trabalho visa elucidar as propriedades bioquímicas dos compostos ativos presentes na Psychotria viridis, com ênfase na DMT, a partir de busca e análise de dados em plataformas/softwares acessíveis, quanto à atividade ansiolítica e antidepressiva no SNCÉ possível concluir que a DMT, obtida através da Psychotria viridis, possui propriedades bioquímicas e farmacológicas similares a serotonina, além de interagir de forma satisfatória com os seus transportadores. Do ponto de vista terapêutico, pode-se especular que o aumento nos transportadores de serotonina, causado pela DMT, venha a se configurar como possibilidade de trabalho terapêutico a partir da espécie.
Brito da. C. A. M. et a 2020Toxicocinética e Toxicodinâmica dos Alcalóides da Ayahuasca N,N-Dimetiltriptamina (DMT), Harmina, Harmalina e Tetrahidroharmina: Impacto Clínico e Forense  Revisão BibliográficaFornecer uma revisão abrangente dos aspectos relacionados à Ayahuasca, incluindo seus usos tradicionais, mudanças em seu consumo contemporâneo, toxicocinética e toxicodinâmica das substâncias ativas (DMT e alcaloides harmina), e sua potencial utilidade terapêutica em condições de saúde mental.  Tanto a Ayahuasca quanto seus alcaloides mostraram potencial para o tratamento de depressão, ansiedade e transtornos relacionados ao uso de substâncias, tanto em estudos pré-clínicos quanto observacionais. No entanto, ainda é necessária mais pesquisa clínica extensa sobre o uso dessas substâncias. O consumo de Ayahuasca é relatado como seguro em indivíduos saudáveis, provocando apenas alguns efeitos adversos comuns e transitórios, como vômitos, diarreia, náuseas e exaustão. Efeitos adversos graves e tóxicos, potencialmente fatais, foram relatados apenas em indivíduos com uso concomitante de outras drogas e com histórico pessoal ou familiar de transtornos psiquiátricos. Tanto o consumo de Ayahuasca quanto de DMT não levam à dependência, e pouco ou nenhum desenvolvimento de tolerância foi relatado após o consumo repetido.

A pesquisa sobre o potencial terapêutico da Ayahuasca no tratamento da depressão, ansiedade e dependência química tem gerado interesse crescente nos campos científico e de saúde mental. Numerosos estudos contribuíram para a nossa compreensão dos benefícios e desafios desta abordagem terapêutica.

Martins et al. (2023) realizaram uma revisão da literatura destacando o potencial da Ayahuasca como tratamento alternativo para a depressão. Seus resultados são notáveis ​​porque sugerem que a Ayahuasca pode influenciar a serotonina e estimular a plasticidade cerebral. A serotonina desempenha um papel fundamental na regulação do humor e é frequentemente alvo de terapias antidepressivas convencionais. Portanto, a Ayahuasca é uma intervenção terapêutica potencialmente inovadora devido à sua capacidade de ter um impacto positivo nestes sistemas neuroquímicos. Além disso, Souza e Martins (2020) revisaram a literatura brasileira e destacaram os resultados positivos do uso terapêutico no tratamento da dependência química. Estes resultados sugerem que a Ayahuasca pode ser uma ajuda eficaz no processo de recuperação para pessoas que lutam contra a dependência de substâncias.

 No entanto, é importante reconhecer que os efeitos terapêuticos do chá dessas plantas também estão associados a efeitos colaterais como alucinações e estresse psicológico (Silva et al., 2022). Esta dualidade benefício-risco requer a realização de estudos mais aprofundados para compreender plenamente a relação dose-resposta, bem como a segurança do seu uso como forma terapêutica. Além disso, são necessárias pesquisas futuras para estabelecer diretrizes rígidas para o uso terapêutico no sentido de garantir segurança e eficácia, apesar da evidência do uso benéfico na forma de infusão bruta por décadas como uso ritualístico (Ramos et al., 2021).

A dependência química é uma doença complexa que afeta muitas pessoas em todo o mundo. Souza e Martins (2020) realizaram uma revisão integrativa destacando os resultados positivos do uso da Ayahuasca no tratamento da dependência química. Contudo, não podemos esquecer que a toxicodependência é uma doença complexa que requer uma abordagem multidisciplinar. Não sendo, portanto, uma solução isolada, mas sim parte de um plano de tratamento mais abrangente que inclui apoio psicoterapêutico, social e médico. A pesquisa atual fornece uma base sólida para o potencial terapêutico no tratamento da depressão, ansiedade e dependência. No entanto, os desafios relacionados com a padronização da dose, a segurança e a natureza alucinógena da Ayahuasca exigem uma abordagem cautelosa ao seu uso terapêutico (Silva et al., 2022; Ramos et al., 2021).

Além disso, é importante mencionar que estudos recentes (Serra et al., 2022; Almeida, 2019) investigaram o potencial dessas plantas no tratamento do transtorno por uso de álcool (TAU). Os resultados desta pesquisa sugerem que pode bloquear a autoadministração de álcool em camundongos, com a ativação dos receptores 5-HT2A desempenhando um papel crítico (Serra et al., 2022). Almeida (2019) destacou ainda que a Ayahuasca pode reduzir a sensibilização ao álcool e apresentar efeitos ansiolíticos. Esses achados são significativos porque o AUD ( Transtorno do uso de álcool) é um desafio de saúde pública e a busca por terapias mais eficazes é essencial.

Outro aspecto importante é o papel do composto alucinógeno presente na Ayahuasca, N,N-dimetiltriptamina (DMT). (Brito da. C. A. M. et al., 2020) realizaram uma revisão de literatura que destacou os aspectos farmacológicos e toxicológicos do DMT. Pesquisas mostram que o DMT tem potencial terapêutico, incluindo benefícios psicoterapêuticos e efeito antidepressivo. No entanto, também pode causar efeitos adversos significativos, incluindo toxicidade, o que apoia a necessidade de mais pesquisas e testes (Brito da. C. A. M. et al., 2020). O uso crescente de chás que contêm DMT, como a Ayahuasca, está atraindo o interesse de a comunidade científica devido ao seu potencial terapêutico, mas a segurança e os efeitos colaterais precisam ser abordados de forma abrangente.

Além disso, Silva e Aguiar (2021) investigaram a bioatividade de moléculas com potencial antidepressivo presentes na espécie Psychotria viridis com foco no DMT. Seus resultados sugerem que o DMT possui propriedades bioquímicas e farmacológicas semelhantes às da serotonina bem como interage de forma satisfatória com seus transportadores. Isto tem implicações importantes num contexto terapêutico, uma vez que o aumento dos transportadores de serotonina induzido pelo DMT pode representar uma oportunidade terapêutica para esta espécie.

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa sobre o potencial terapêutico da Ayahuasca na depressão, ansiedade e dependência química, conforme abordada nos artigos analisados, sugere que essa substância pode representar uma abordagem promissora para o tratamento desses transtornos.

Os artigos destacam resultados positivos, evidenciando melhorias comportamentais e fisiológicas, além de um possível impacto nas vias neuroquímicas associadas à regulação do humor. No entanto, é importante reconhecer que o uso da Ayahuasca também apresenta desafios, incluindo a necessidade de padronização das doses, a potencial natureza alucinógena e a necessidade de supervisão rigorosa durante a administração. A pesquisa futura é essencial para abordar essas questões pendentes, bem como para avaliar a eficácia em diferentes contextos clínicos.

Devido a utilização terapêutica desta substância há necessidade de estabelecer o termo enteógeno (altera para o bem a consciência e percepção) ao invés de alucinógeno. Ayahuasca tem demonstrado efeitos benéficos no tratamento de diversas condições psicológicas, como depressão, ansiedade e dependência química. A sua ação se baseia na modulação dos níveis de serotonina e na ativação dos receptores 5-HT2A, que estão envolvidos na regulação do humor, da cognição e da memória. Os estudos discutidos ​​sugerem que a Ayahuasca tem um potencial terapêutico significativo.

Os resultados positivos sugerem que esta substância pode representar uma abordagem promissora no sentido de melhorar a saúde mental e o bem-estar das pessoas que enfrentam estas patologias da saúde mental. Além disso, vários estudos destacam a capacidade da Ayahuasca de influenciar positivamente as vias neuroquímicas associadas à regulação do humor, tornando-a uma ferramenta terapêutica promissora.

No contexto da dependência química, a ayahuasca também tem apresentado resultados encorajadores, demonstrando a sua capacidade de reduzir a sensibilização ao álcool e até prevenir os efeitos nocivos da exposição prévia.  Além disso, a ativação dos receptores 5-HT2A pela Ayahuasca desempenha um papel fundamental no tratamento dos transtornos por uso de álcool.

 A Ayahuasca não deve ser vista como uma cura milagrosa, mas sim como um complemento de um tratamento integrado e multidisciplinar, que envolve também terapia, apoio social e cuidados médicos. A pesquisa sobre a Ayahuasca ainda é iniciante e necessita de mais estudos nas diferentes fases em que uma substância farmacológica é submetida para confirmar a sua segurança e mecanismos de ação. Com mais evidências científicas e regulamentação adequada, a Ayahuasca pode se tornar uma ferramenta terapêutica valiosa para melhorar a saúde mental e a qualidade de vida de muitas pessoas que sofrem com problemas psicológicos.

À medida que cresce o reconhecimento dos benefícios potenciais da Ayahuasca e com a abordagem cuidadosa e a pesquisa contínua, é possível vislumbrar um futuro em que essa substância desempenhe um papel importante no tratamento da depressão, ansiedade e dependência química, oferecendo alívio e esperança para aqueles que buscam melhorar sua saúde mental e qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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[1] Discente do Curso Superior de Farmácia da Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras/ Manaus e-mail: forjady@hotmail.com ORCID – https://orcid.org/0009-0003-3668-0925

[2] Discente do Curso Superior de Farmácia da Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras/ Manaus e-mail: Estervb01@gmail.com ORCID – https://orcid.org/0009-0006-8157-9123

[3] Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras/ Manaus e-mail: lailasenals97@gmail.com ORCID – https://orcid.org/0009-0004-1231-3618

[4] Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Fametro. Manaus.  e-mail: Frota.bia08@gmail.com ORCID – https://orcid.org/0009-0004-3290-452x

[5] Médico ginecologista e obstetra. Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Petrópolis(1999). email: dr.leogobira@gmail.com ORCID – https://orcid.org/0009-0007-2082-3230

[6] Professor do Curso Superior de Farmácia. Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras, AV. Prof. Nilton Lins, 3259 – Flores, Manaus – AM, 69058-030. email: E-mail: alyssonsena@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0562-8433