THE POTENTIAL OF COCONUT WASTE FOR THE PRODUCTION OF ACTIVATED CARBON: A SYSTEMATIC MAPEO
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411262136
Elaine da Silva Cunha Paz1
Paulo das Silva Paz Neto1
Michelle Ludmila G. dos Santos1
Ranyere do Nascimento Lôbo3
Claudia da Silva Aguiar Rezende1
Marcelo Mendes Pedroza1
Luciana Rezende Alves de Oliveira2
Resumo
O fruto do Cocos nucifera mostra-se promissor para produção de carvão ativado, haja vista a disponibilidade dos seus resíduos, por ser rico em carbono e pelas suas características físico-químicas. Em processo pirolítico esse resíduo pode ser convertido através da otimização de parâmetros em carvões com diferentes propriedades texturais. O mapeamento sistemático (MS) foi realizado para investigar e interpretar as tendências e lacunas de artigos de pesquisas internacionais envolvendo produção de carvão de cocos nucífera. Dentre os processos de modificação texturial o mais abordado no MS foi a técnica de ativação química e dentre os estudos selecionados não foi abordado a produção de carvão pirolítico do Cocos nucifera utilizando CO2 ou H2O(v) como gás oxidante para ativação física.
Palavras-chave: Pirólise; Biomassa; Propriedade texturial.
1. INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca como um dos maiores geradores de biomassas tanto em escala quanto em diversidade (DE MORAES et al, 2017). Em regiões de clima quente e úmido ocorre uma maior heterogeneidade das espécies vegetais, sendo assim, há uma necessidade de avançar em pesquisas com o intuito de identificar usos potenciais para os resíduos lignocelulósicos.
As biomassas podem ser de origem orgânica animal e ou vegetal, são abundantes na natureza, fontes de combustíveis de baixo custo quando comparados às tradicionais (BONECHI et al., 2017; DHYANI & BHASKAR, 2018).
A utilização da biomassa como fonte de energia renovável cresce no setor industrial e tem potencial para atender às enormes demandas de energia das áreas rurais e urbanas. O processo de transformação da biomassa é uma rota neutra em carbono, pois emite durante a queima a mesma quantidade de CO2 absorvida no seu período de cultivo (ANTAR et al., 2021; CHINTALA, 2018; JAFRI et al., 2018).
O tratamento termoquímico tem sido impulsionado por ser eficiente em quebrar ligações químicas e converter biomassas em carvão, bio-óleo e biogás a fim de atribuir valor de mercado aos produtos formados (TRIPATHI, SAHU & GANESAN, 2016; WONG et al., 2018).
A pirólise é um tipo de tratamento termoquímico classificado em rápida ou lenta. O diâmetro da partícula da biomassa e a taxa de aquecimento no processo pirolítico são os fatores que determinam sua classificação. Na pirólise rápida a biomassa é bem fina e é submetida a elevadas taxas de aquecimento (500 a 1000 °C/ min.) produzindo até 70% de alcatrão enquanto que, na pirólise lenta o diâmetro é maior e a taxas de aquecimentos são baixas, produzindo um carvão sólido de até 35% de rendimento FAGBEMI, KHEZAMI & CAPART, 2001).
Os carvões são estruturas amorfas que apresentam grupos funcionais na superfície. Devido à sua capacidade de adsorção, tem o potencial de absorver contaminantes orgânicos e inorgânicos. A natureza e a quantidade dos grupos funcionais desses materiais de carbono dependem dos métodos de preparação e do tipo de biomassa (SINGH et al., 2019; YAASHIKAA et al., 2019; YU et al., 2019).
O carvão é um dos produtos gerado no processo de pirólise que vem atraindo crescente interesse nas áreas de tratamento de água residuais, captura de CO2, correção do solo dentre outro (BEN-IWO, MANOVIC & LONGHURST, 2016; KHIARI et al., 2019; REBITANIM et al., 2013; YAASHIKAA et al., 2019).
O objetivo do estudo foi investigar e interpretar, as tendências e lacunas de artigos de pesquisas internacionais envolvendo produção de carvão de Cocos nucífera através do mapeamento sistemático (MS).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
Produção do carvão do fruto do Cocos nucifera
Cocos nucífera L.
O Cocos nucífera L. (Figura 1) é uma espécie tropical da família Arecaceae, uma das mais importantes da classe Monocotyledoneae (GOMES & PRADO, 2007). É um produto agrícola de safra ao longo do ano, bastante utilizado na indústria.
Figura 1. Cocos nucífera e resíduo do fruto
Fonte: Autores (2021)
Os produtos derivados do coco (água de coco, coco ralado) possuem valor econômico que contribuem para a demanda do cultivo e por consequência o aumento dos resíduos (SILVA & JERONIMO, 2013). Considerando a produção de coco, o Brasil, encontra-se no quinto lugar do ranking mundial. Os maiores produtores são a Indonésia, seguido de Filipinas e Índia (BRAINER & XIMENES, 2020).
Pirólise
A pirólise da biomassa é um processo termoquímico no qual ocorre a decomposição da matéria orgânica na ausência de oxigênio, resultando nos produtos líquidos, sólidos, gases não condensáveis e água. Em termos de reação, pode ser representado a partir da Equação 1:
Considerando os parâmetros cinéticos, os componentes da biomassa do fruto do Cocos nucífera L. se decompõe na faixa de temperatura, 150 – 500 °C, e consistem em três etapas principais, o de eliminação da umidade, os das reações primárias e os de reações secundárias. A degradação leva a produtos em fases físicas distintas, dos quais há necessidade de pesquisas no ramo de estudos dos balanços de massas dos produtos gerados (FAGBEMI, KHEZAMI & CAPART, 2001). Para efeito de síntese do processo pode-se considerar a Figura 2.
Figura 2. Evolução simplificada do processo pirolítico
Fonte: Autores (2021)
Os gases liberados no processo pirolítico consistem principalmente em dióxido de car- bono (CO2), monóxido de carbono (CO), hidrogênio (H2). Porém também são liberados hidro- carbonetos de baixo peso molecular, como metano (CH4), etano (C2H6) e etileno (C2H4) e pequenas quantidades de outros gases, como propano (C3H8), amônia (NH3), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx) e alcoóis com baixo número de carbono (BISPO et al., 2018; CHA et al., 2016; JAFRI et al., 2018).
O alcatrão é uma mistura de compostos orgânicos, algumas partículas sólidas e água. Sua natureza química lhe proporciona a existência de estruturas complexas, devido a sua origem e ligninas pirolíticas com pesos moleculares elevados (KAN, STREZOV & EVANS, 2016).
O carvão é um produto sólido e sua composição é rica em composto orgânico, pode haver resíduos de biomassa decorrente de uma decomposição térmica incompleta e uma fração mineral. Suas propriedades texturiais dependem da natureza da biomassa, propriedades da biomassa e dos parâmetros do processo (JAFRI et al., 2018; KAN, STREZOV & EVANS, 2016).
Como a pirólise é um processo de conversão térmica, o teor final de água vai depender principalmente do teor de umidade inicial da biomassa e da formação de água em relação aos parâmetros de reação.
A heterogeneidade da pirólise de biomassa é decorrente da decomposição de seus componentes em múltiplos mecanismos e taxas de reação que são influenciados parcialmente pelo processo e o projeto do reator (KAN, STREZOV & EVANS, 2016).
O processo pirolítico é influenciado por alguns fatores, dentre eles: (KAN, STREZOV & EVANS, 2016).
∙ Tipo de Biomassa: seus principais constituintes são a celulose e a hemicelulose, que contribuem para a produção de alcatrão, enquanto a lignina para produção de carvão.
∙ Pré-tratamento de biomassa: O objetivo do pré-tratamento é alterar ou mesmo destruir a estrutura lignocelulósica para que a eficiência da pirólise possa ser aumentada. As tecnologias para pré-tratamento de biomassa podem ser divididas em cinco categorias principais, incluindo:
– Física (moagem);
– Térmica (torrefação, explosão de vapor, ultrassom e irradiação de micro ondas);
– Químico (tratamento com ácidos, bases e líquidos iônicos);
– Biológico (fungo, microbiano e enzimático);
– Pré-tratamentos combinados acima.
Outros fatores que influenciam no processo pirolítico são:
– Atmosfera da reação: realizada sob atmosfera inerte o processo de pirólise também pode ocorrer com a participação de outros gases;
– Temperatura: promove as reações de degradação da biomassa, influenciando no rendimento do carvão de forma inversamente proporcional ao aumento da temperatura;
– Taxa de aquecimento: é um parâmetro relevante na classificação da pirólise (rápida ou lenta);
– Tempo de residência do vapor: o aumento do tempo de residência dos gases favorece as reações secundárias e, portanto, a produção de carvão;
– Efeito do fluxo de gás: a vazão do gás pode remover os voláteis rapidamente da zona quente pirolítica restringindo a formação de carvão.
Carvões e suas propriedades texturiais
O carvão vegetal pode ser oriundo da biomassa lignocelulósica, residual (resíduo municipal e de esgoto) e agrícola. Por ser um recurso renovável, sustentável, de propriedade carbonácea, atua na preservação das fontes naturais e reduz as emissões de CO2. Esse tem sido alternativa para substituir ou ser utilizado junto com os combustíveis fósseis (CHEN et al., 2021; YOGALAKSHMI et al., 2022; KRYLOVA, GORLOV & SHUMOVSKII, 2019).
A composição da biomassa, a granulometria e as condições do processo de conversão como, temperatura, taxa de aquecimento, pressão, tempo de residência são os fatores que determinam as propriedades físico-químicas, rendimento e qualidade do produto sólido obtido no processo. O aumento da temperatura reduz o rendimento do carvão, devido à liberação dos elementos químicos carbono, hidrogênio e oxigênio e do rearranjo do anel aromático na estrutura do carbono (MOHAMED, MOHAMMADI & DARZI, 2010; NIU, XIA & XIE, 2017; YAN et al., 2020).
O principal elemento químico do carvão é o carbono, todavia outros microelementos podem estar presentes: K, Fe, Ca, Si, Mn, P, Cu, S, Zn, Rb com percentuais variáveis a depender da matéria prima (GHEORGHE-BULMAU et al., 2022; SEKHON, KAUR & PARK, 2021). Temperaturas elevadas influenciam nas propriedades do carvão, na área de superfície e no volume dos poros/ rachaduras, proporcionando uma superfície irregular causado pela desvolatilização, qualidade necessária para os carvões (GHEORGHE BULMAU et al., 2022; JOHARI et al., 2016; PIJARN et al., 2021; SEKHON, KAUR & PARK, 2021).
O carvão da biomassa residual tem sido aplicado no processo de adsorção para remover patógenos na água. Essa técnica tem sido utilizada por empregar um material em abundância, de baixo custo e renovável (MEHRABINIA & GHANBARI-ADIVI, 2021). Entretanto, é necessário conhecer as propriedades do carvão para quantificar seus rendimentos e suas propriedades físico-químicas (YAN et al., 2020).
O processo de ativação é utilizado para aumentar o tamanho dos poros e pode ocorrer de forma física (tratamento de carvão sob CO2 /fluxo de vapor) ou química (impregnação do precursor com agentes químicos). A ativação física por não necessitar de agentes químicos e nem da etapa de lavagem, torna-se uma opção ambientalmente correta, embora demande mais tempo e um consumo de energia maior. Durante o processo de ativação pode acontecer de poros inacessíveis serem abertos, formação de novos poros e aumento de poros existentes (JEGUIRIM et al., 2018; SEKHON, KAUR & PARK, 2021) A ativação química consiste na impregnação do material com agente ativante, por exemplo: KOH, ZnCl2, H3PO4, HCl como etapa de pré tratamento pirolítico (AMUDA, GIWA & BELLO, 2007; GEED, SAMAL & TAGADE, 2019; JOHARI et al., 2016; SHEN et al., 2012; SU, CHENG & SHIH, 2013; YAP et al., 2017). A ativação física ocorre após a etapa de pirólise do material precursor do carvão vegetal na presença de gás oxidante (H2O e /ou CO2), portanto, consiste em uma reação de gaseificação do carvão vegetal com gases contendo oxigênio em elevadas temperaturas (500 – 1000 °C) (SEKHON, KAUR & PARK, 2021).
O tamanho dos poros está relacionado diretamente à natureza do precursor e ao processo de síntese. A superfície externa do carvão é determinada pela quantidade de macro e mesoporos, sendo que a porosidade influencia diretamente na capacidade de adsorção (PIJARN et al., 2021; SEKHON, KAUR & PARK, 2021). Portanto, o precursor e o processo de ativação determinam a capacidade adsorvente do material (KIEŁBASA, SREŃSCEK-NAZZAL & MICHALKIEWICZ, 2021; NIU, XIA & XIE, 2017; PIJARN et al., 2021).
Os carvões vegetais possuem propriedades de adsorção baixas comparados com o carvão ativado, seu rendimento é de 30–60% e a área de superfície específica é < 400 m2/ g. Por tanto, a etapa de ativação aumenta a porosidade elevando a área das superfícies maior que 1000 m2/ g e volumes de poros maiores que 0,5 cm3/ g. A porosidade do carvão ativado é dividida em micro (<2 nm), meso (2-50 nm) e macroporos (> 50 nm). A microporosidade é subdividida nos estreitos ou ultramicroporos (<0,7 nm) e largos ou supermicroporos (0,7– 2 nm) (GHEORGHE-BULMAU et al., 2022; PIJARN et al., 2021; SEKHON, KAUR & PARK, 2021).
A aplicação do carvão é determinada pela estrutura dos poros (área superficial, volume dos poros e distribuição) que são modificados desde a secagem até o processo de ativação (GHEORGHE-BULMAU et al., 2022). Superfícies microporosas são empregadas em adsorções de substâncias de baixo peso molecular enquanto que as mesoporosas, considerando o diâmetro dos poros são aplicadas para remoção de moléculas de elevado peso molecular. Os macroporos, porém, desempenham o papel de transportadores, ou seja, conduzem as moléculas do adsorvato aos poros menores.
Além das características físicas do carvão também se faz importante conhecer a estrutura química da superfície do carvão ativado quando se almeja um processo de adsorção bem sucedido. Os grupos funcionais podem ser intrínsecos a matéria de origem ou produzidos durante as reações de ativação.
Os tratamentos térmicos em temperaturas crescentes podem então ser usados para remover seletivamente alguns dos grupos formados. Os grupos ácidos incluem ácidos carboxílicos e anidridos, lactonas ou lactóis e fenóis, enquanto carbonil e éter oxigênio são neutros ou podem formar estruturas básicas cuja natureza ainda está aberta a debate, tais como quinona, cromeno e grupos pirona (FIGUEIREDO & PEREIRA, 2010).
Mapeamento sistemático da literatura
O Mapeamento Sistemático da literatura é um estudo secundário que consiste em uma revisão ampla de estudos primários em uma área específica, sendo que seus resultados dão direcionamentos para novos ramos de investigações (KITCHENHAM; CHARTERS, 2007).
O MS serve para estruturar uma pesquisa e classificar a literatura disponível com estudos que agreguem conhecimento em relação ao ramo de investigação (KITCHENHAM et al., 2011).
Conhecido por ser um método com protocolo definido requer atenção para identificar, avaliar e sintetizar pesquisas relevantes para uma revisão fundamentada. As revisões sistemáticas são sempre desafiadas pelo volume de pesquisas e as expectativas metodológicas crescentes (ELLIOTT et al., 2017).
3. METODOLOGIA
O processo de triagem das publicações foi a partir de alguns critérios, a fim de selecionar as publicações relevantes para o estudo, sendo eles: palavras-chave, base de dados científicos e estratégia de busca. A base de dados Google scholar foi utilizada para uma prospecção inicial, na qual indicou a Science Direct com a maior quantidade de referências científicas após o emprego das palavras-chave. As estratégias de buscas foram feitas com um recorte temporal de 1996 a 2019, sendo aceitos somente estudos open acess no idioma inglês.
Para prospecção dos estudos foram utilizados quatro grupos de palavras-chave: o primeiro “coconut”, “pyrolysis”, “charcoal” com 625 artigos encontrados, o segundo “coconut”, “pyrolysis”, “biochar” com 620 artigos, o terceiro “Cocos nucífera L”, “pyrolysis”, “biochar” com 18 artigos e o quarto grupo “coconut”, “pyrolysis” “biochar”, “production” com 571 artigos.
Os artigos encontrados na base Science Direct, foram selecionados conforme alguns critérios de inclusão e exclusão. Sendo eles:
∙ Critérios de inclusão:
– Produção de carvão a partir do processo pirolítico;
– Emprego dos resíduos do Cocos nucifera;
∙ Critérios de exclusão:
– Produção somente de outros derivados da pirólise: bio-óleo e biogás;
– Estudos que abordam outros pré tratamentos no resíduo de não interesse, como por exemplo: produção de hidrochar, explosão de vapor dentre outros;
– Estudos que não abordaram a produção de carvão, somente a caracterização do carvão;
– Estudos que abordaram somente outras biomassas para produção de carvão;
– E estudos que empregaram outra parte da espécie Cocos nucifera L. que não fosse o fruto.
Para a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foi realizada a leitura do título e abstract dos estudos encontrados conforme os critérios de triagem. Nesta etapa foram selecionados 45, 55, 4 e 36 estudos em conformidade com os grupos de palavras adotados. Sendo que do total, 25 foram artigos de revisão, 56 artigos duplicados e 58 artigos de pesquisa.
Para a análise crítica e avaliação dos estudos foi realizada a leitura completa dos 58 artigos de pesquisa. Desses, 22 foram selecionados para extração de dados após a aplicação dos critérios de exclusão. Por fim, realizou-se o mapeamento do estado da arte da produção de carvão do resíduo do Cocos nucifera L..
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Na Figura 3 estão demonstrados os números de publicações acumuladas por ano que foram encontrados nas bases da Science Direct a partir da prospecção conforme os grupos de palavras adotadas no trabalho.
Figura 3. Volume de publicações acumuladas por ano.
Fonte: Autores (2021)
Na Figura 3 é possível verificar que o aumento de publicações sobre o tema aconteceu a partir do ano de 2013 e que o primeiro registro foi encontrado no ano de 1996. Os resultados demonstram que as pesquisas sobre pirólise do fruto de cocos nucifera L. necessitam de mais estudos de conversão da biomassa residual para produção de carvão ativado
As localizações geográficas das biomassas, Figura 4, utilizadas em publicações acumuladas que foram encontrados na base da Science Direct a partir da prospecção efetuada relacionados às palavras-chave do trabalho.
Figura 4. Localizações geográficas das biomassas do mapeamento sistemático
Fonte: Autores (2021)
Dentre as regiões que mais aplicaram a tecnologia de pirólise na biomassa de Cocos nucifera L. com o intuito de produzir carvão, investigar e promover a aplicabilidade do carvão nos artigos publicados foi à região da Ásia. A América do Sul, mais necessariamente o Brasil surge no mapa internacional com duas publicações.
O Brasil possui grande potencial científico, sendo passível de despontar na área de pesquisas uma vez que o país tem disponível biomassa em larga escala, fonte renovável de armazenamento de energia.
Na Figura 5 estão as palavras-chave usadas que foram encontradas nas bases da Science Direct a partir da prospecção efetuada relacionado aos grupos de palavras adotadas no trabalho. A rede de conexões entre as palavras-chave encontradas nos artigos de pesquisas dessa revisão estabelece uma relação com os anos que ocorreram as publicações. Palavras como “pyrolysis”, “biochar”, “chars”, e “adsorption” encontram-se no centro da rede por configurar a técnica empregada, o produto objetivado e a funcionalidade desejada para o carvão respectivamente. E associadas a essas palavras centrais encontram-se novas redes que configuram os objetivos almejados.
Outro fato interessante a ser observado é que as palavras são apresentadas em uma prospecção de cores relacionando período de publicação como, por exemplo, ”coconut coir” e “coir pith” no qual o segundo encontrado em artigos mais recentes.
Figura 5. Palavras-chave usadas dos artigos utilizados na revisão por ordem de relevância
Fonte: Autores (2021)
Os estudos selecionados a partir do mapeamento sistemático da literatura que abordam a produção do carvão pirolítico a partir da biomassa de Cocos nucifera encontram-se na Figura 6.
Os estudos apresentaram uma variedade de parâmetros no processo pirolítico, nos quais influenciam nos rendimentos e nos aspectos texturiais dos carvões produzidos. Com o intuito de facilitar a compreensão dos dados, os estudos foram subdivididos em: carvão vegetal, carvão ativado fisicamente e carvão ativado quimicamente.
Figura 6. Subdivisão dos estudos selecionados do mapeamento sistemático da literatura
Fonte: Autores (2021)
∙ Carvão vegetal:
Nesse grupo foram mapeados 12 estudos que correspondem a 58% e abordam de maneira geral a produção de carvão vegetal pelo processo pirolítico. Para a obtenção dos produtos pirolíticos foi utilizado uma variedade de reatores, taxas de aquecimento, tamanho da partícula e temperatura. Nesses estudos não abordam somente a produção de carvão pirolítico, como também produziram o bio-óleo e biogás. Dentre os artigos selecionados, alguns autores produziram carvão vegetal, entretanto o enfoque principal era caracterizar os demais produtos.
∙ Carvão ativado fisicamente:
Nesse grupo, foi selecionado apenas um único estudo, representando 4%, este foi publicado em 2017 e teve como foco o processo de ativação física utilizando os gases produzidos no próprio processo pirolítico, denominado autoativação.
A ativação física é um processo de modificação texturial que adota CO2 ou fluxo de vapor d’água como oxidante em temperaturas acima de 700 °C. Esse processo ocorre em duas etapas, sendo a primeira responsável pela carbonização do material precursor, no qual ocorre o processo de desvolatização aumentando a área de superfície interna, enquanto que a segunda etapa é responsável pela formação de novos poros e aumento dos existentes (MARSH; REINOSO, 2006; CHA et al., 2016).
∙ Carvão ativado quimicamente:
Para a ativação química foram encontrados 9 estudos, representando um percentual de 38% e abordando a produção de carvão. Essa ativação é uma técnica de tratamento que consiste na impregnação de matérias como ácidos, bases e líquidos iônicos para modificação texturial. Segundo Sun et al. (2017), as principais desvantagens da ativação química dar-se pelas impurezas metálicas que podem bloquear os poros e a necessidade de uma elevada quantidade de água para a lavagem do carvão ativado para eliminação dessas impurezas.
O detalhamento dos parâmetros e entendimentos dos autores obtidos no MS, encontra-se na Tabela 1.
Tabela 1: Parâmetros e entendimentos dos autores do mapeamento sistemático de literatura.
Fonte: Autores (2021)
Considerando os parâmetros adotados nos estudos selecionados descritos na Tabela 1, observou que nenhum relatou a produção de carvão pirolítico do Cocos nucifera utilizando CO2 ou H2O(v) como gás oxidante para ativação física.
Dentre os estudos selecionados somente TSAI, LEE & CHANG (2006), seguiu parâmetros de pirólise rápida, com taxa de aquecimento de 100 a 500 ºC/min., tempo de 1 a 8 min. e temperatura de 400 a 800 ºC. No processo foi produzido carvão, entretanto o principal objetivo foi otimizar a produção do alcatrão nas biomassas pesquisadas. O processo de ativação química foi o mais utilizado dentre os estudos selecionados como método de modificação texturial dos carvões produzidos. A principal desvantagem encontrada nos estudos é a necessidade da eliminação dos componentes químicos impregnados nos carvões produzidos durante o processo de ativação, bem como os preços dos mesmos.
Observou-se que alguns estudos adotaram a copirólise como processo para o melhoramento de propriedades físicas e químicas dos carvões produzidos, a fim de obter materiais adsorventes com maior desempenho. Um exemplo é o estudo realizado por YANG et al. (2019), que produziu carvão da casca do coco e lodo de esgoto, com o objetivo produzir material adsorvente de alta qualidade e verificar a capacidade de adsorção do azul de metileno.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento sistemático levantou diferentes estudos que abordaram o processo pirolítico da biomassa do Cocos nucifera em condições distintas para a produção de carvões vegetal e ativados, por metodologia química e física. Esses carvões apresentaram texturas diversificadas, o que fortaleceu a teoria de que os fatores do processo pirolítico e de ativação influenciam diretamente nas propriedades físicas e químicas dos carvões.
Foram selecionados 22 manuscritos referentes à produção do carvão da biomassa do fruto de Cocos nucifera, apesar de alguns apontarem a viabilidade de aplicação do uso do carvão em escala industrial, estes ainda encontram-se em escala de pesquisa. Nesse sentido, há um longo caminho a percorrer em termos de investigação para o estudo dessa biomassa.
A prospecção inicial apontou uma quantidade relativamente alta de estudos que abordaram as palavras-chave utilizadas. Porém, quando se fez os filtros de pesquisa o número de estudos encontrados foi pequeno. Isso, deve-se ao fato de muitas pesquisas abordarem outros temas que não eram relevantes para a produção do carvão pirolítico do Cocos nucifera.
O método de modificação texturais dos carvões nos estudos selecionados foi realizado pela a ativação química, a segunda técnica adotada foi a copirólise e a ativação física foi abordada em apenas um estudo.
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1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO.
2Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP 1.
3Universidade Federal do Tocantins – UFT.
*Autor correspondente: Elaine da Silva Cunha Paz – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO. Quadra Ae 310 Sul, Avenida Ns 10 S/N – Plano Diretor Sul, Palmas – TO, 77021-090. E-mail: elaine@ifto.edu.br