O PARTO HUMANIZADO SOB O OLHAR DA PARTURIENTE E DO ENFERMEIRO OBSTETRA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

HUMANIZED CHILDBIRTH UNDER THE GAZE OF THE PARTURIENT AND THE OBSTETRIC NURSE: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8298636


Vérika de Sousa Albuquerque1; Karla Virgínia da Nóbrega Novais Vieira2
Juliana de Castro Santana3; Sara Maria de Oliveira Silva4
Maria Elizabete Mendes Guimarães5; Jayane Omena de Oliveira6
Grazielle Maria Coutinho Dias7; Rafaella Carolyne Carvalho de Brito Lisboa8
Milena Rodrigues de Oliveira dos Santos9; Ewerton Igor Alves de Almeida10


RESUMO

O estudo objetivou analisar o olhar da parturiente e da enfermagem obstétrica sobre o parto humanizado. O presente estudo é uma revisão bibliográfica com abordagem quantitativa. Para a seleção dos artigos foi utilizada a base de dados LILACS e BDENF, para discussão foram selecionados 12 artigos que melhor abordavam o assunto. Foi identificado queo parto humanizado já é uma realidade e a equipe de enfermagem está cada vez mais se especializando neste campo fazendo com que as parturientes se sintam acolhidas neste momento de sua vidas. É de suma importância essa assistência do enfermeiro com a parturiente, assim ele terá o cuidado necessário com a gestante. Conclui-se que os enfermeiros obstetras atuantes no atendimento a assistência ao parto, trazem inúmeros benefícios o atendimento à gestante, como a redução do tempo do trabalho de parto, minimizando os procedimentos desnecessários, relações com seus familiares, cientes de que cada mulher é única lançando um olhar sobre as necessidades da parturiente, permitindo um ambiente aconchegante e um bom progresso do seu trabalho de parto com a presença do acompanhante de sua escolha.

Palavras-chave: Parto Humanizado. Parturiente. Enfermagem Obstétrica.

ABSTRACT

The study aimed to analyze the view of the parturient and obstetric nursing on humanized childbirth. The present study is a literature review with a quantitative approach. For the selection of articles, the LILACS and BDENF databases were used, for discussion, 12 articles were selected that best addressed the subject. It was identified that humanized childbirth is already a reality and the nursing team is increa singly specializing in this field, making parturients feel welcomed at this point in their lives. This assistance of the nurse with the parturient is of paramount importance, so he will have the necessary care with the pregnant woman. It is concluded that obstetric nurses working in childbirth care bring numerous benefits in the care of pregnant women, such as reducing the time of labor, minimizing unnecessary procedures, relationships with their families, aware that each woman is unique. taking a look at the needs of the parturient, allowing a cozy environment and a good progress of her labor with the presence of the companion of her choice.

Keywords: Humanized Childbirth. Parturient. Nursing Obstetric.

 

1 INTRODUÇÃO

O parto com o passar dos anos vem se tornando cada vez mais patológico, parir deixou de ser um ato fisiológico, sendo privilegiado o intervencionismo e a medicalização. O uso da tecnologia fez com que o parto deixasse o âmbito domiciliar e adentrasse no hospitalar, que fez com que a evolução da cesariana, que antes usada apenas em casos de gravidez de risco ou quando era para salvar a vida do bebe, hoje usada sem justificativas obstétricas, que contribui para a desumanização da assistência ao parto. (CASTRO; CLAPIS, 2005).

O parto humanizado é uma assistência específica que é oferecida à gestante e ao feto durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. Essa assistência está voltada totalmente à parturiente, uma assistência que respeite e crie condições para que todas as suas dimensões sejam atendidas: espirituais, psicológicas e fisiológicas. (CARVALHO, 2007).

Segundo o Ministério da Saúde, recomendação N° 011, de 07 de maio de 2021, uma cesariana só deve ser realizada se for uma urgência, emergência, por indicação materna ou fetal, justificadas por relatório médico. A taxa de operação cesariana no Brasil situa-se em torno de 56%, com ampla variação entre os serviços públicos e privados. (BRASIL, 2021).

A Organização Mundial da Saúde – OMS, sugere que taxas populacionais de operação cesariana superiores a 10% não contribuem para a redução da mortalidade materna, perinatal ou neonatal. É preocupante o número elevado de cesarianas, por isso colocar o parto normal ou humanizado em questão logo no pré-natal é importante para a preparação da parturiente. (RODRIGUES, 2021).

É importante para parturiente saber que pode opinar sobre como quer seu parto, sobre poder ter um acompanhante, que deve ser de sua total escolha ao mesmo momento que a equipe, incluindo o enfermeiro precisa estar apta para trazer tranquilidade e conforto para a parturiente.

A presença do acompanhante é assegurada pela Lei n° 11.108 que, em seu artigo 19, diz: “os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde – SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um acompanhante durante todo o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato”. (BRASIL, 2005, p. 1).

A escolha certa para o parto é aquela em que a parturiente se sinta mais confiável e não é por ele ser dentro do âmbito hospitalar, que não possa ser humanizado, natural. Além disso, o enfermeiro tem o papel de reforçar o quão é seguro e importante a escolha de um parto humanizado, mostrando o que se preza nesse tipo de parto é o vínculo mãe-bebê. (SILVA; MENDONÇA, 2021).

Segundo Silvani (2010), as condutas humanizadas da assistência ao trabalho de parto como o banho, a dieta livre, a deambulação, a massagem, o estímulo da micção espontânea e a respiração e o contato recém-nascido e mãe nos primeiros momentos de vida são todos fatores importantes que trazem benefícios, conforto e relaxamento para a parturiente.

O presente trabalho tem relevância pois foi implantado na sociedade a cultura da cesariana e o alto índice dessas são preocupantes, visto que sua utilização seria apenas para casos de riscos à mãe, ao feto ou ainda para ambos.  Portanto tem como objetivo analisar o olhar da parturiente e da enfermagem obstétrica sobre o parto humanizado.

Com a proposta de uma revisão bibliográfica com abordagem quantitativa, refletiremos então sobre o conceito de parto humanizado, apontando suas contribuições para parturientes e o olhar dos enfermeiros obstetras acerca deste tipo de parto. Para a construção deste trabalho foram seguidas as seguintes etapas: escolha da temática e definição da pergunta norteadora; busca dos artigos nas bases de dados, de acordo com os descritores escolhidos; seleção dos artigos conforme os critérios de inclusão e exclusão; classificação dos estudos em categorias; interpretação dos resultados e elaboração da revisão.

O estudo poderá proporcionar o melhor entendimento das representações e práticas dos profissionais de saúde quanto ao parto humanizado, visando não só um melhor resultado na assistência, mas como também maior satisfação e benefícios às parturientes. Diante disso, a pergunta norteadora será “Qual a importância do parto humanizado sob o olhar da parturiente e dos enfermeiros obstetras?”

Este foi desenvolvido e fundamentado a partir da análise de artigos encontrados nas bases de dados virtuais: Literatura Latino-America e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Banco de Dados em Enfermagem – Bibliografia Brasileira (BDENF) e nos bancos de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS).

Durante o percurso metodológico, foram utilizados os seguintes descritores para a coleta de dados: Humanização da assistência, Enfermagem Obstétrica e Parto Humanizado.

A escolha dos dados obedece aos seguintes critérios de inclusão: artigo completo, período de 10 anos a contar da data de publicação, responder aos objetivos do estudo, publicações em português e inglês. Foram excluídos: Artigos completos que não sejam distribuídos na íntegra gratuitamente, estudos que não se enquadram aos critérios adotados para a inclusão e os que não se enquadram com o objetivo do estudo.

2 DESENVOLVIMENTO

Processo de busca inicial gerou um total de 344 artigos, que eventualmente estavam ligados aos descritores citados, e que possivelmente respondiam à pergunta norteadora de pesquisa.

Após aplicação do filtro de tempo, tipo de estudo, base de dados, foram excluídos 130 artigos com base nos critérios estabelecidos, ficando 214. Destes, foram selecionados 64 artigos com base na leitura do título. Após leitura do resumo foram excluídos 32 artigos, ficando 32 para leitura completa.

Após uma leitura do texto completo, foram excluídos 20 estudos, pois não respondiam adequadamente à questão norteadora. Somente 12 artigos preencheram os critérios de elegibilidade e inclusão e foram incluídos nesta revisão bibliográfica. O fluxograma de seleção dos artigos encontra-se na Figura 1.

Figura1: Fluxograma de seleção dos artigos.

Fonte: Albuquerque (2022).

Na Tabela 1, demonstra-se os principais aspectos sintetizados dos artigos selecionados, na qual, contém o autor, ano, título, objetivos e resultados.

Tabela 1 – Principais características dos artigos selecionados.

AUTORESANOTÍTULOOBJETIVORESULTADOS
SOUZA, Bruna de; MARACCI, Camila; CICOLELLA, Dayane de Aguiar. Et al.2021Uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor no parto normalVerificar o uso dos métodos não farmacológicos no alívio da dor em pacientes atendidas em um Centro de Parto Normal.Quando se avalia a intensidade da dor no Trabalho de Parto (TP) e se aplica os Métodos não Farmacológicos (MNF) logo após, de forma combinada (exercícios respiratórios, exercícios musculares e massagem) ou não (banho de chuveiro), percebe-se que além do aumento da dilatação uterina o alívio da dor das parturientes realmente torna-se efetivo.
BOMFIM, Aiara Nascimento Amaral; COUTO, Telmara Menezes; LIMA, Keury Thaisana Rodrigues dos Santos. Et al.2021Percepções de mulheres sobre a assistência de enfermagem durante o parto normalConhecer a percepção de mulheres sobre a assistência de Enfermagem recebida durante o processo de parto normal.As mulheres desta pesquisa relatam satisfação com a assistência de Enfermagem, relacionando-a com a atenção no atendimento recebido, no tratamento de acordo com as necessidades individuais e subjetivas, no ficar ao lado e no recebimento de palavras de incentivo durante o processo parturitivo. A satisfação em relação ao parto e nascimento está ligado a fatores culturais, experiências prévias e, sobretudo, à atenção e cuidados prestados durante o trabalho de parto.
BAGGIO, Maria Aparecida; PEREIRA, Fernanda de Castro; CHEFFER, Maycon Hoffmann. Et al.2021Significados e experiências de mulheres que vivenciaram o parto humanizado hospitalar assistido por enfermeira obstétricaCompreender os significados e as experiências de mulheres que vivenciaram o processo de parto humanizado hospitalar assistido por enfermeira obstétrica e a motivação para essa escolha.Quanto à experiência de parir, as mulheres apontam como única, grandiosa, um momento singular, fantástico, intenso, emocionante, difícil de dimensionar. As mulheres sentiram-se respeitadas, fortes e vitoriosas, como leoas, por conseguir parir. O significado do nascimento foi sinalizado como a sensação de maior amor do mundo, particularmente quando a mulher recebe o filho em seus braços, vigoroso, forte, conectado ao seu olhar.
FRUTUOSO, Letícia Demarche; BRÜGGEMANN, Odaléa Maria.2013Parturient women’s companions’ knowledge of law 11.108/2005 and their experience with the woman in the Obstetric centerConhecer quais informações os acompanhantes possuem acerca da Lei 11.108/2005, suas percepções sobre a experiência no centro obstétrico e as ações de apoio junto a mulher.Embora a Lei n. 11.108/2005, que instituiu a obrigatoriedade de os serviços de saúde do SUS ou conveniados permitirem a presença de um acompanhante de livre escolha da mulher durante o período de pré-parto, parto e puerpério imediato, já esteja em vigor há oito anos, alguns acompanhantes a desconhecem completamente, ou seja, não são informados sobre esse direito da mulher. Isso evidencia que pode haver uma deficiência de divulgação pela mídia, bem como nos serviços de saúde, conforme já destacado por outro estudo, realizado anteriormente.
FRANCISCO, Marta Maria; ANDRADE, Iara Alves Feitoza de; SILVA, Liniker Scolfild Rodrigues da. Et al.2020Humanização da assistência ao parto: opinião dos acadêmicos de enfermagemInvestigar a opinião dos acadêmicos de enfermagem sobre a humanização da assistência ao parto.A humanização do parto está além de práticas e técnicas, centra-se no respeito à mulher como individuo, em um momento da vida em que ela necessita de atenção e cuidados, que devem se estender à família e ao bebê, garantindo a ele o direito a um nascimento sadio e harmonioso. Esse processo deve permear todos os serviços de saúde, os quais devem estar envolvidos na humanização da assistência ao parto, de acordo com as normas técnicas e recomendações do Ministério da Saúde.
FUJITA, Júnia Aparecida Laia da Mata; SHIMO, Antonieta Keiko Kakuda.2014Parto humanizado: experiências no sistema único de saúdeRelatar a experiência da criação, produção e divulgação de um documentário popular sobre parto humanizado no SUS com a finalidade de informar a população.Percebeu-se que o material tem repercutido nas atitudes das mulheres atendidas na maternidade, que têm manifesta do mais conhecimento sobre as estratégias não farmacológicas para o alívio da dor implementadas no local, sobre a liberdade e autonomia no parto e seus direitos nesse processo, assim como o reconhecimento da atuação das enfermeiras obstetras.
CAMACHO, Karla Gonçalves; PROGIANTI, Jane Marcia.2013A transformação da prática obstétrica das enfermeiras na assistência ao parto humanizadoDescrever o processo de aquisição de práticas obstétricas hospitalares, pelas enfermeiras obstétricas, frente à implantação do modelo humanizado.Para que o saber em saúde seja construído de maneira humanizada, é preciso estabelecer o diálogo franco, uma escuta ativa das subjetividades inerentes ao ser mulher e desenvolver a sensibilidade. Desse modo, as enfermeiras pesquisadas identificaram a importância de saber falar, pois perceberam que mudaram sua maneira de falar e passaram a respeitar também o corpo da mulher, estimulando-a na participação em seu cuidado.
GUIDA, Natasha Faria Barros; LIMA, Gabrielle Parrilha Vieira; PEREIRA, Adriana Lenho de Figueiredo.2013O ambiente de relaxamento para humanização do cuidado ao parto hospitalarDescrever os critérios utilizados pelos enfermeiros para indicar o ambiente de relaxamento às parturientes e analisar os significados, para as enfermeiras obstétricas, dos cuidados realizados nesse ambiente.A parturiente que participa ativamente do seu processo de parto pode ter uma evolução mais rápida e satisfatória. Pesquisa qualitativa analisou os sentimentos das puérperas no parto e nascimento de seu filho e identificou que o acesso às informações prévias, a aplicação de cuidados para alívio da dor e o adequado relacionamento interpessoal entre a mulher e o profissional contribuíram para uma vivência mais satisfatória e facilitaram a evolução do processo do parto.
GIANTAGLIA, Fernanda Nogueira; GARCIA, Estefânia Santos Gonçalves Felix; ROCHA, Lorrane Cristina Tavares da. Et al.2017O cuidado de enfermeiras de um programa de residência obstétrica Sob o olhar da humanizaçãoIdentificar os cuidados oferecidos à mulher, sob o olhar da humanização no parto e puerpério, pelas enfermeiras.É relevante abordar sobre o respeito que se deve ter com a paciente durante todas as etapas do processo de parturição. Deixá-la escolher a posição preferida para cada momento, os exercícios que ela quer realizar, o que quer fazer neste momento único. Deixála ser “dona do seu próprio corpo”, dando a ela toda a autonomia. Isso é essencial para que o respeito seja criado e, assim, haver o vínculo do profissional-paciente e também com a família.
MOTTA, Silvia Adrya Martins Franco; FEITOSA, Danielle Silva; BEZERRA, Sara Taciana Firmino. Et al.2016Implementação da humanização da assistência ao parto naturalAnalisar a implementação das práticas humanizadas na assistência ao parto natural, fundamentada no documento “Boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento” de 1996.Muitas são as dificuldades para se prestar assistência humanizada às mulheres em processo parturitivo. Estas dificuldades relacionam-se à necessidade de profissionais capacitados e sensibilizados para tal; da disponibilidade de recursos tecnológicos e infraestrutura adequada da instituição; além de se tratar de um momento em que a mulher encontra-se suscetível a sentimentos, como alegria, medo e dor, necessitando de atenção e apoio emocional.
VERSIANI, Clara de Cássia; BARBIERI, Márcia; GABRIELLONI, Maria Cristina. Et al.2015Significado de parto humanizado para gestantesCompreender o significado de parto humanizado na concepção de gestantes. Método: estudo descritivo, de natureza qualitativa, com enfoque fenomenológico.Quando as necessidades das mulheres nesta relação de acolhimento pela equipe de saúde não são levadas em consideração, a possibilidade de criação do vínculo fica diminuída, tornando os fluxos estabelecidos simplesmente burocráticos e pouco funcionais. Portanto, quando uma equipe de saúde não está sensibilizada para a importância da criação deste elo com a gestante, aumenta-se o risco de desistência ou de menor frequência no acompanhamento pré-natal. No parto, a falta deste entre parturiente e obstetra gera um sentimento de insegurança.
BARROS, Thais Cordeiro Xavier de; CASTRO, Thayane Marron de; RODRIGUES, Diego Pereira. Et al.2018Assistência à mulher para a humanização do parto e nascimentoAnalisar a assistência à mulher para a humanização do parto e nascimento.A humanização constitui uma parte integrante para a qualidade da assistência dos indicadores obstétricos, que busca a autonomia da mulher, o seu direito a um parto respeitoso e abolição das intervenções desnecessárias no pocesso de nascimento.
Fonte: Albuquerque (2022).

Seguindo para obtenção das informações, foi subdividido os artigos conforme concordância com os temas a discutir, esse roteiro foi desenvolvido pela autora afim de facilitar o entendimento do artigo.

A avaliação dos estudos e interpretação dos resultados, foram desenvolvidas durante a elaboração do manuscrito, por meio da leitura exaustiva e repetitiva dos artigos e análise crítica dos mesmos.

Finalmente, a discussão foi realizada de forma descritiva, clara e breve.

2.1 Parto Humanizado

A humanização é entendida como dever das unidades de saúde de receber respeitosamente a mulher, seus familiares e o recém-nascido. Fato este que exige que os profissionais e a organização da instituição assumam posição ética e solidária, diligenciando ambiente acolhedor, com rotinas hospitalares que desfaçam o clássico isolamento imposto à mulher e a adoção de medidas e procedimentos benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento. (GUIDA et al., 2013).

Na visão de Motta et al. (2016), com o decorrer dos anos o parto deixou de ser domiciliar, houve uma grande institucionalização, passando a ser cada vez mais hospitalar e as mulheres passaram a permanecer internadas em salas de pré-parto coletivas, com pouca ou nenhuma privacidade. O modelo médico intervencionista vem sendo cada vez mais protagonista, deixando de lado o papel mais importante, o da mulher, a que é capaz de conduzir o seu próprio parto.

Tais práticas contribuíram para que a assistência do parto se tornasse desumanizada pois a mulher passou a não mais decidir sobre sua saúde e ações relacionadas ao seu próprio corpo. A mulher, quando bem cuidada, irá influenciar diretamente em como ela vai vivenciar esse momento, podendo ser evitada pela equipe práticas intervencionistas, estimulando práticas humanizadas, melhorando assim, o estado emocional da parturiente. (GUIDA et al., 2013).

Assim, segundo Souza et al. (2021) o parto em sua mais infinita beleza é a representação do fim de um ciclo e o começo de outro, no qual a mulher é a protagonista do filme que é a vida e emerge uma nova vida de um ser humano que se torna independente do seu corpo da mulher. Porém elas veem o parto como um momento de dor, isso é uma das causas que as levam ao pedido de uma cesariana. Vale ressaltar que a atenção das políticas é voltada a mudanças de assistência obstétrica, onde se deve priorizar a menor intervenção para o parto, para que ele seja o mais natural possível. Para práticas humanizadas a equipe pode usar Métodos Não Farmacológicos (MNF) visando alívio da dor, da tensão e do medo do momento do parto. 

Motta et al. (2016) afirmam que MNF ajudam no alívio da dor da parturiente e devem ser vistos todas as opções possíveis antes de se optar por um método farmacológico que gera tantos efeitos negativos e que impede a mulher de assumir o papel de protagonista no próprio parto. A gestante merece uma ação totalmente voltada a si, humanizada, pois ao saber da gravidez surge um turbilhão de sentimentos, como medo, dor e alegria, necessitando de atenção e apoio emocional.

No campo da enfermagem, Florence Nightingale considera que o cuidado de enfermagem é essencial até mesmo com o ambiente, para que esteja favorável e agradável a fim de contribuir para o bem-estar e satisfação das necessidades da gestante, pois um ambiente hospitalar pode influenciar negativamente na fisiologia do parto. É importante ressaltar também que além de se preocupar com o ambiente a equipe de enfermagem deve se preocupar com suas condições internas, tais como funções vitais, homeostase, temperatura corporal, alimentação, sono e repouso. A conservação do ambiente silencioso e a escolha do conforto e relaxamento no trabalho de parto são cuidados que devem ser edificados. Ambos são necessários para que os fenômenos fisiológicos que envolvem no processo da parturiente ocorram de forma apropriada, como a liberação de ocitocina e endorfina, facilitando o curso normal do trabalho de parto. (GUIDA et al., 2013; FRUTUOSO et al., 2013).

Outro ponto importante que Frutuoso et al. (2013) e Motta et al. (2016) consideram é a presença de um acompanhante de livre escolha da gestante, durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. Muitas instituições ainda não adotam essa prática do acompanhante, na qual é amparada pela lei 11.108/2005, sendo muito valiosa, pois apresenta benefícios como a redução da duração do trabalho de parto e da administração de ocitócicos na indução do mesmo, além de contribuir para diminuição da taxa de cesariana. De tal modo, é importante a gestante escolher o acompanhante ainda no pré-natal para que o mesmo possa ser orientado quanto ao seu papel, visto que auxilia a equipe de enfermagem e contribui para uma assistência humanizada e que para um parto mais natural possível, como deve ser.

Francisco et al. (2020) afirmam que, humanizar o parto é acreditar que ele seja fisiológico e que possa ser o mais natural possível, não necessitando, na maioria das vezes, de qualquer intervenção. Dito isto, ainda na graduação deve iniciar a implementação do que é a humanização, pois é o momento que o acadêmico inicia a interagir, produzir conhecimentos, práticas e habilidades fortalecendo suas próprias opiniões acerca de vários conteúdos estudados que levarão para sua profissão.

2.2 Percepção das gestantes frente ao parto humanizado

O Ministério da Saúde (MS) criou o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) em 2002 para a reformulação da assistência e o parto com o mínimo de intervenções e a rede cegonha em 2011 para redução de mortalidade neonatal. Em 2012 ocorreu a implementação da Rede Mãe em alguns municípios de vários estados, que teve como objetivo assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, e à criança o direito ao nascimento seguro com boas práticas e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. A Organização Mundial de Saúde publicou as Recomendações de cuidados intraparto para uma experiência de parto positiva em 2018, que teve como objetivo instrumentalizar os profissionais da saúde para a assistência saudável ao trabalho de parto, parto e cuidados com o recém-nascido, priorizando o processo fisiológico (BAGGIO et al., 2021).

De acordo com Versiani et al. (2015) as gestantes em sua fala, evidenciaram a atribuição significativa do profissional da saúde que estabeleceu o relacionamento empático no cuidado a ser a ela prestado durante o trabalho de parto e parto, teve paciência, respeito, disponibilidade para ouvir, delicadeza e que levou em consideração seus anseios, queixas e medos.

 A assistência de enfermagem com as mulheres que envolveram nessa pesquisa obteve uma grande satisfação relacionando-a com o cuidado no atendimento recebido, no tratamento de acordo com as necessidades individuais, no ficar ao lado e no recebimento de palavras de incentivo durante o processo parturitivo. (BONFIM et al., 2021).

A humanização compõe uma parte integrante para a qualidade da assistência de enfermagem, que busca a autonomia da mulher, o seu direito a um parto respeitoso e abolição das intervenções desnecessárias no processo de nascimento. (BARROS et al., 2018).

2.3 Enfermeiras obstétricas sob o olhar do parto humanizado

O olhar obstétrico deve proporcionar um espaço acolhedor e agradável, que permita a privacidade e o estabelecimento de vínculo com a cliente, ajudando para a diminuição do estresse durante o trabalho de parto. (GUIDA et al., 2013).

Cursos, documentários, artigos científicos, blogs e redes sociais têm sido cada vez mais ferramentas que favorecem a edificação dos conhecimentos tanto para escolha certa para a parturiente como para o profissional que tem buscado essa educação permanente sobre o olhar humanizado e a sua prática, para melhor atender às gestantes. (FUJITA; SHIMO, 2014).

A autonomia da mulher por meio da presença do acompanhante de sua escolha, deve estar presente sob os cuidados de enfermagem, deve ainda lhes favorecer informações assertivas a respeito dos procedimentos que serão realizados, além disso, a fisiologia feminina deve ser respeitada, não interferir desnecessariamente, ofertar o apoio emocional à mulher e sua família e ajudar na formação do vínculo entre a mãe e o recém-nascido. (GUIDA et al., 2013).

Segundo Giantaglia et al. (2017) é importante que o profissional ofereça respeito e segurança por meio da assistência qualificada, fazendo uso de todas as orientações possíveis para que a parturiente se sinta confortável e tenha autonomia ao receber os cuidados obstétricos humanizados e se sinta capaz de passar por todo o processo do parto-nascimento e puerpério da melhor maneira possível.

A aceitação pela humanização do parto está cada vez mais implantada na comunidade, nos hospitais e maternidades, visto que muitos profissionais aderem a esse método que é benéfico para parturiente, e que traz grandes benefícios para o recém-nascido. (CAMACHO; PROGIANTI 2013).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo proporcionou uma reflexão sobre o olhar da parturiente e do profissional enfermeiro obstetra frente ao parto humanizado, mesmo que ainda seja o início da implementação do parto humanizado, percebe-se que este já é realidade em boa parte dos hospitais e maternidades, além de que os profissionais estão cada dia mais se especializando e buscando conhecimentos acerca desses assuntos nas plataformas existentes.

O processo de humanização no parto é visto como uma reconstrução da atenção a parturiente no pré-natal, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, encabeçado por profissionais habilitados e competentes para tais práticas. As instituições por sua vez, podem usar a tecnologia a seu favor para divulgação dos direitos que a gestante tem, como também usar a educação permanente para os profissionais, orientando-os a respeito desse ponto importante que é o acompanhante.

Conclui-se que os cuidados dos enfermeiros obstetras atuantes no atendimento à assistência ao parto, trazem inúmeros benefícios no atendimento à gestante, como a redução do tempo do trabalho de parto, minimizando os procedimentos desnecessários, relações com seus familiares, cientes de que cada mulher é única, lançando um olhar sobre as necessidades da parturiente, permitindo um ambiente aconchegante e um bom progresso do seu trabalho de parto com a presença do acompanhante de sua escolha.

REFERÊNCIAS

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1Bacharel em Enfermagem, Faculdade do Centro Maranhense – FCMA/UNICENTRO
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4473-9627
2Bacharel em Enfermagem (UNIFAVIP-WYDEN)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8037-953X
3Bacharel em Enfermagem palo Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1586-3303
4Acadêmica em EnfermagemCentro Universitário Cesmac
ORCID: https://orcid.org/0009-0001-8094-9720
5 Bacharel em Enfermagem, Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9038-2596
6 Bacharel em Enfermagem, Universidade Federal de Alagoas
 Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2830-9379
7 Acadêmica de Enfermagem, FAL Faculdade Estácio de Sá- Al
ORCID https://orcid.org/0000-0003-0682-1320
8Bacharel em Enfermagem, Centro Universitário CESMAC
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0907-6661
9Bacharel em Enfermagem, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
ORCID: https://orcid.org/.0000-0001-9871-8229
10Bacharel em Enfermagem, Faculdade CESMAC do sertão
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4794-4354