REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202501182216
Luci Aparecida da Conceição
Orientador: Marjorie Fonseca da Cunha
RESUMO
A cárie dentária na primeira infância é um problema que, infelizmente, é muito comum na sociedade. Embora o atendimento odontológico e nutricional infantil tenha melhorado significativamente através de muitas medidas, como os atendimentos realizados na Atenção Primária à Saúde (APS), os dentes cariados ainda são incidências comuns em bebês e crianças. Assim, esta pesquisa foi uma revisão sistemática buscando responder quais as intervenções que os nutricionistas e os cirurgiões dentistas podem realizar juntos na APS para a prevenção da doença cárie na primeira infância; e tendo como objetivo geral estabelecido descrever como os nutricionistas e cirurgiâo-dentista, de modo interdisciplinar, contribuem para a prevenção da cárie em crianças. O projeto foi realizado pela pesquisadora, que é nutricionista, sendo que a mesma recebeu todo suporte necessário, relacionado ao campo da odontologia de sua orientadora do projeto de pesquisa, que atua como cirurgiã-dentista da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Desse modo, espera-se contribuir para subsidiar profissionais da Atenção Primária à saúde (APS) a inovar na abordagem tradicional de aconselhamento em suas atividades preventivas associadas a temas referentes ao impacto da alimentação na incidência de cáries nas crianças.
Palavras-chave: Cárie Dentária; Nutrição da Criança; Dentista; Acesso à Atenção Primária; Equipe de Saúde Bucal.
1. INTRODUÇÃO
Os profissionais da saúde que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS) são responsáveis por educar, promover, manter e melhorar a saúde de indivíduos, famílias, grupos e comunidades. Eles dedicam-se à excelência na prática de promoção de todas as formas de saúde e, guiados por objetivos comuns de melhoria da condição humana, são responsáveis por defender a integridade e a ética da profissão no desempenho do seu trabalho e no enfrentamento dos desafios diários, valorizando a equidade na sociedade e adotam uma multiplicidade de abordagens em seu trabalho para apoiar o valor, a dignidade, o potencial, a qualidade de vida e a singularidade de todas as pessoas (LOPES FILHO et. al., 2023).
Para alcançar esses objetivos, Greório, Júnior e Pinto (2024) informam que a aprendizagem contínua é primordial, pois permite que os prestadores de cuidados de saúde tomem decisões mais informadas, assegurem a assertividade nos planos de tratamento e, em última análise, melhorem os resultados para os pacientes. Além disso, o trabalho em equipe, desenvolvido de forma interdisciplinar, faz com que os pacientes se beneficiem ao receber cuidados alinhados com os conhecimentos e práticas médicas mais atuais em vários contextos, inclusive quando se trata da dieta cariogênica, que interfere diretamente na saúde bucal.
Alimentos cariogênicos, de acordo com Pereira (2023) são aqueles que produzem ou promovem o desenvolvimento de cáries dentárias, contêm carboidratos altamente fermentáveis, podem ter uma consistência pegajosa e são decompostos em açúcares na boca pela enzima amilase salivar, que pode ser posteriormente fermentada pelas bactérias orais em ácidos orgânicos. Isso reduz o pH da boca, o que pode fazer com que o esmalte dos dentes comece a se dissolver ou desmineralizar.
O esmalte dos dentes decíduos, segundo Alencar et. al. (2024) tem apenas metade da espessura dos dentes permanentes. Como as bactérias nos dentes produzem ácidos agressivos após a ingestão de alimentos que contêm açúcar, entende-se que, se as bactérias não forem eliminadas adequadamente e continuarem a produzir ácidos, deixando o esmalte dos dentes mais fino e poroso, os dentes decíduos serão danificados mais rapidamente. Dessa forma, as bactérias podem penetrar facilmente no dente e causar inflamação, o que causa dor, fazendo com que a cárie dentária ocorra ainda mais rápido em crianças e bebês do que em adultos. Por isso, a figura do nutricionista na orientação para uma dieta infantil mais saudável é imprescindível para prevenção das cáries na infância.
Como o brasileiro, culturalmente, tem o hábito de consumir além do açúcar, muitos carboidratos fermentáveis disponíveis nas comidas típicas de cada região do país, Lopes Filho et. al. (2023) enfatiza que o papel do nutricionista na atenção primária contribui em diferentes aspectos, para a promoção de uma alimentação saudável, monitoramento alimentar e nutricional, controle dos distúrbios e deficiências nutricionais, melhoria da saúde bucal e prevenção das cáries, contribuindo para a conformação de uma rede integrada, resolutiva e humanizada de cuidados. O grande problema é que a maioria das instituições da APS não contam com esse profissional em seu quadro multiprofisional, sendo necessário realizar encaminhamentos para os nutricionistas que atuam nas equipes multiprofissionais (eMulti ); e essas consultas costumam demorar.
Além das questões nutricionais para evitar a ocorrência da cárie, Soares (2024) alerta para o fato de que, após a ingestão de refeições açucaradas, a saliva, normalmente, faz a remineralização do esmalte dos dentes. Esta remineralização natural dos dentes é uma das principais tarefas da saliva. Como é produzida menos saliva durante a noite, é importante escovar bem os dentes das crianças, especialmente antes de dormir, sendo primordial a figura dos cirurgiões-dentistas no ensino e orientações relacionadas à escovação dos dentes e cuidados bucais diários.
Considerando que o risco de cárie nos dentes decíduos aumenta significativamente ao comer doces, chupar bebidas açucaradas por muito tempo ou escovar os dentes de maneira irregular e suja, compreende-se que tanto o nutricionista quanto o cirurgião-dentista são profissionais essenciais para a promoção de uma dieta equilibrada em associação com os cuidados dentários regulares de profilaxia dentária.
Portanto, ao considerar a complexidade da prevenção da doença cárie em crianças, viu-se a necessidade de abordar esse tema, no intuito de demonstrar a importância de atender a demanda de orientação nutricional e odontológica na atenção primária, para promover a integralidade do cuidado na prevenção da cárie na primeira infância, sendo que a presente revisão sistemática teve como foco responder a seguinte questão norteadora: Quais as intervenções que os nutricionistas e cirurgiões-dentistas podem realizar juntos na APS para a prevenção da doença cárie na primeira infância?
Para responder tal problemática, o objetivo geral estabelecido foi descrever como os nutricionistas e cirurgiões-dentistas, de modo interdisciplinar, contribuem para a prevenção da cárie em crianças. Por sua vez, os objetivos específicos foram: analisar a Cárie Dentária e seus riscos à saúde infanto-juvenil; abordar a importância de uma boa nutrição da criança e dos cuidados do dentista na Atenção Primária; e destacar os cuidados da Equipe de Saúde Bucal na APS para prevenir as cáries na primeira infância.
Como a cárie dentária em crianças ou bebês com dentes de leite também afeta os dentes permanentes, entende-se que, para evitar isso, é importante um cuidado odontológico completo com escovação regular desde o primeiro dente, bem como um acompanhamento nutricional bem efetivo relacionado à alimentação infantil. Além disso, as crianças com cárie (dente decíduo) não sofrem apenas com a dor associada na vida cotidiana, pois a cárie infantil pode, por exemplo resultar em distúrbios da fala e desalinhamento dos dentes permanentes (LOPES FILHO, LIMA e VILELA, 2023).
Com isso em mente, a relevância desse estudo está não apenas na contribuição de respaldar os profissionais da APS para prevenção de cáries por meio da orientação alimentar, mas também para promoção de uma alimentação saudável e equilibrada desde a infância, impactando positivamente a saúde a longo prazo, resultando em benefícios significativos para crianças, assim como redução de custos com tratamentos e medicamentos; demonstrando a importância do trabalho interdisciplinar do nutricionista e cirurgião-dentista, na ótica da integralidade do cuidado, principalmente na atenção primária, que atuam na prevenção dessa doença, a fim de contribuir com orientação técnica para redução da incidência da cárie nesse público.
2. METODOLOGIA
Foi desenvolvido um estudo descritivo de abordagem qualitativa com nuances quantitativas, apresentado por meio de uma revisão sistemática, que é aquela que tenta reunir todas as evidências empíricas que se encaixam em critérios de elegibilidade pré-especificados para responder a uma questão de pesquisa específica. Ela usa métodos explícitos e sistemáticos que são selecionados com uma visão para minimizar o viés, fornecendo assim descobertas mais confiáveis das quais conclusões podem ser tiradas e decisões tomadas.
As principais características de uma revisão sistemática são: um conjunto de objetivos claramente definidos com critérios de elegibilidade pré-definidos para estudos; uma metodologia explícita e reproduzível; uma busca sistemática que tenta identificar todos os estudos que atendem aos critérios de elegibilidade; uma avaliação da validade dos resultados dos estudos incluídos, por exemplo, através da avaliação do risco de viés; e uma apresentação sistemática e síntese das características e descobertas dos estudos incluídos. De tal modo, a revisão utilizou a seguinte metodologia:
- – Formular a questão;
- – Definir os critérios de inclusão e exclusão;
- – Estratégia de busca;
- – Seleção dos estudos;
- – Avaliação da qualidade dos estudos;
- – Leitura do material selecionado com foco na pergunta norteadora;
- – Análise e apresentação dos resultados;
- – Interpretação dos resultados.
Assim, com base no processo apresentado, a presente revisão sistemática foi desenvolvida da seguinte forma:
Fonte: Elaborado pela autora
Assim, a análise dos artigos foi guiada pela pergunta norteadora: Quais as intervenções que os nutricionistas e cirurgiões-dentistas podem realizar juntos na APS para a prevenção da doença cárie na primeira infância? E na construção da pergunta foi utilizada a estratégia PICO.
P – População Nutricionistas e cirurgiões-dentistas da APS
I – Intervenção Realizações em conjunto nutricionistas e cirurgiões-dentistas
C – Comparação
O – Resultado Prevenção da doença cárie na primeira infância
Foram utilizados como critérios de inclusão os estudos voltados para a primeira infância em escolares, sobre trabalho em equipe e interdisciplinar. Os critérios de exclusão foram: TCC, teses, artigos de livro e artigos que não eram gratuitos e os em duplicação nas plataformas de busca.
O levantamento da busca ativa de dados foi realizado no mês de maio de 2024, contendo artigos publicados do período entre maio de 2014 a dezembro de 2024, sendo selecionados artigos nos idiomas português e inglês. E serviram como instrumento para coleta das informações, principalmente, as bases de dados: biblioteca eletrônica Scielo (Scientific Eletronic Library OnLine) e PubMed (National Library of Medicine). Foram utilizadas as seguintes palavras chaves para busca: Cárie Dentária; Nutrição da Criança; Dentista; Acesso à Atenção Primária; Equipe de Saúde Bucal.
Os dez estudos selecionados foram lidos na íntegra, sendo confirmado que os mesmos ajudarão a responder a pergunta norteadora, uma vez que os artigos versam sobre a atuação dos nutricionistas e cirurgiões-dentistas na APS, com foco na prevenção da doença cárie na primeira infância bem como atuação desses profissionais por meio do trabalho em equipe e trabalho interdisciplinar. Assim, considerando que os artigos foram publicados e já passaram por uma avaliação prévia, os mesmos são fontes de qualidade confiável, disponíveis em plataformas de renome na comunidade científica.
Os estudos selecionados para compor essa revisão sistemática; e que foram utilizados para desenvolvimento da revisão sistemática foram:
AUTOR / ANO | TÍTULO | OBJETIVO | RESULTADOS |
AAPD, American Academy of Pediatric Dentistry. | Policy on Early Childhood Caries (ECC): Classifications, Consequences, and Preventive Strategies. (Política sobre Cárie na Primeira Infância (ECC): Classificações, Consequências e Estratégias Preventivas). | Abordar a Cárie na primeira infância (CPI), dando destaque a uma forma grave de cárie associada ao uso de mamadeira. | A AAPD reconhece a cárie na primeira infância como um problema significativo é uma doença crônica resultante de um desequilíbrio de múltiplos riscos e fatores de proteção ao longo do tempo. Assim, para diminuir o risco de desenvolver CPI, a AAPD incentiva profissionais e em casa medidas preventivas que forneçam prevenção baseada em evidências de ECC. |
ALENCAR, Vinícius Saraiva de; BALTAZAR, Vinicius Torres; BIZARRIA, Geovanna de Castro; SILVA, Emanuely Dias da; SOUSA, Mateus de Melo; NORÕES, Eruska Maria de Alencar Tavares. | Os primeiros mil dias de vida e sua implicação na odontopediatria. | Revisar na literatura estudos sobre condições nutricionais e práticas alimentares relacionadas aos principais agravos em saúde bucal que acometem gestantes e crianças nesse período de vida, além do impacto da odontopediatria nos primeiros mil dias. | Foi observado que a odontopediatra tem papel importante, não apenas no âmbito curativo e da orientação de higiene bucal, mas também, na formação de hábitos saudáveis no pré e pós-natal. Existem evidências de associação entre condições nutricionais e práticas alimentares e sua relação com agravos bucais nos mil dias, mas não consolidado na literatura. |
GREGÓRIO, Ana Carolina Novaes; JÚNIOR, Florival Costa; PINTO, Emanuel Vieira | Odontologia preventiva, um estudo acerca dos impactos da ansiedade na saúde bucal dos indivíduos. | Analisar a relação entre ansiedade e a saúde bucal, onde se constatou que a ansiedade pode influenciar significativamente Os comportamentos relacionados ao cuidado bucal e o surgimento de doenças bucais. | Os resultados deste estudo destacaram a complexidade da relação entre ansiedade e saúde bucal, desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção; contribuindo para uma melhor compreensão da relação entre ansiedade e saúde bucal, destacando a importância de abordagens integradas e holísticas no cuidado odontológico e nutricional. |
LOPES FILHO, Luiz Alberto; LIMA, Rhianny Ferreira; VILELA, Thaynara Teles Chaves Gonçalves. | A influência da dieta na saúde bucal das crianças. | Explorar a relação entre a dieta e a saúde bucal infantil, destacando os principais alimentos que contribuem para a formação de lesões de cárie, o papel da família no cuidado e a atuação do profissional de odontologia. | A alimentação exerce uma grande influência na saúde bucal, tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças. Uma dieta equilibrada, rica em nutrientes importantes para a saúde bucal, como cálcio, vitaminas e outros nutrientes essenciais para a manutenção de dentes saudáveis e prevenção de cáries e outras doenças orais. |
MOYNIHAN, P. J., & KELLY, Sam A. | Effect on caries of restricting sugars intake: systematic review to inform WHO guidelines. | Avaliar o efeito da restrição da ingestão de açúcar na cárie em adultos e crianças. | Efeito da redução ou aumento de açúcares: Sete estudos de coorte relataram consistentemente maior cárie dentária com maior ingestão de açúcar. Efeito da restrição da ingestão de açúcares livres a menos de 10% de energia: Os resultados de cinco estudos de coorte mostraram consistentemente mais cáries com maior ingestão de açúcar (mais de 10% de energia) em comparação com menor ingestão (menos de 10% de energia). Efeito da restrição da ingestão de açúcares livres a menos de 5% de energia: A análise (baseada em três pesquisas populacionais) mostrou menor progressão de cárie quando a ingestão de açúcares per capita era inferior a 10 kg por ano (aproximadamente 5% de energia). |
PEREIRA, Eliza Rodrigues | Prevenção de cárie na primeira infância: construindo evidências para uma diretriz para prática clínica. | Desenvolver a síntese de evidências e o framework para tomada de decisão de uma diretriz para a prática clínica para a prevenção e controle da cárie na primeira infância, a fim de auxiliar pais e/ou responsáveis, profissionais de saúde bucal e gestores em saúde na tomada de decisão. | Foram construídas evidências para recomendações para uma diretriz para prática clínica sobre prevenção e controle de cárie na primeira infância. Essas recomendações não estão incluídas nessa dissertação, e serão posteriormente publicadas pelo Ministério da Saúde. |
PETERSEN, Poul Erik, & OGAWA, Hiroshi | Prevention of dental caries through the use of fl uoride – the WHO approach (Prevenção da cárie dentária através do uso de flúor – a abordagem da OMS). | Abordar que a incidência da cárie dentária é particularmente menor em países que estabeleceram programas de saúde pública usando flúor para prevenção da cárie dentária, juntamente com a mudança de condições de vida, estilos de vida mais saudáveis e melhores práticas de autocuidado. | Realizou-se uma atualização das evidências científicas sobre o uso de flúor para prevenção de cárie dentária. Com base na concepção moderna de evidência para fins de saúde pública, o relatório enfatiza a eficácia e adequação das diferentes formas de administração de flúor nas comunidades e especifica o impacto prático da implementação da administração combinada de flúor. |
Assim, resumiu-se às experiências do uso de flúor em todo o mundo, sendo altamente relevantes para países que estão em processo de introdução de programas de flúor ou para aqueles países envolvidos no ajustamento dos programas. | |||
SHEIHAM, A., & JAMES, W. P. T. | Diet and dental caries: The pivotal role of free sugars reemphasized (Dieta e cárie dentária: o papel fundamental dos açúcares livres é reenfatizado) | Demonstrar a sensibilidade da cariogênese e das ingestões muito baixas de açúcares, analisando a relação dose-resposta log-linear entre a ingestão de sacarose ou de seus monossacarídeos e o desenvolvimento progressivo da cárie ao longo da vida. | Constatou-se uma falha de longa data em identificar a necessidade de reduções nacionais drásticas na ingestão de açúcares, que reflete a confusão científica parcialmente induzida pela pressão dos principais interesses industriais do açúcar. |
SOARES, Winnie Vieira | Saberes e práticas dos cirurgiões-dentistas quanto à puericultura odontológica na atenção primária à saúde. | Analisar a atuação e o conhecimento do cirurgião-dentista nas atividades de puericultura desenvolvidas nas Unidades de Atenção Primária à Saúde da Coordenadoria Regional de Saúde V, no município de Fortaleza. | O estudo evidencia que os dentistas aderem, parcialmente, ao protocolo de Fortaleza, indicando uma prática limitada dos cuidados de puericultura, destacando desafios na colaboração com a equipe de saúde da família e na abordagem com os cuidadores. Há uma necessidade de capacitação dos dentistas para promover uma melhoria na saúde bucal infantil. A colaboração é diversificada, com desafios ligados à Estratégia Saúde da Família, baixa frequência de educação permanente sobre o tema e orientações distintas nas consultas de puericultura. |
WHO, World Health Organization. | Sugars and dental caries (Açúcares e cárie dentária). | Abordar particularidades relacionadas à cárie dentária, que é um importante problema de saúde pública em todo o mundo e é a doença não transmissível (DNT) mais disseminada. | Foram apresentados os fatores de risco, estratégias de prevenção e controle, principais desafios e como a OMS trabalha com os Estados-Membros e parceiros em políticas e programas para reduzir a cárie dentária como parte do trabalho de prevenção de doenças não transmissíveis. |
Fonte: Elaborado pela autora
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 A Cárie Dentária e seus riscos à saúde infanto-juvenil
A cárie dentária é uma das doenças não transmissíveis (DNT) mais disseminadas globalmente. De acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentados por Pereira (2023), a prevalência global de cáries dentária em dentes primários é de 43%, afetando 514 milhões de crianças. Os países de baixa e média renda (PBMR) são afetados desproporcionalmente, sendo que, entre crianças de 5 a 6 anos, a prevalência média de cáries dentárias varia de 64% a 83%. À medida que as crianças nesses países fazem a transição da dentição primária para a permanente, o padrão de cáries dentárias começa de novo. Entre os adolescentes de 12 anos que vivem em PBMR, entre 40% e 90% sofrem de cáries dentárias, um fenômeno que tem repercussões que podem se estender até a idade adulta.
Para Gregório, Júnior e Pinto (2024), a cárie dentária foi e continua sendo a doença crônica mais comum da infância. O aumento da conscientização sobre a importância da higiene bucal e a introdução de cremes dentais com flúor diminuíram a prevalência da doença globalmente em crianças de 5 a 12 anos nas últimas quatro décadas. No entanto, a cárie continua sendo um problema significativo de saúde pública e nacional em todos os países, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, onde sua prevalência em crianças e adolescentes permanecem persistentemente alta (pelo menos 22%, mas geralmente muito maior nas populações avaliadas), apesar dos avanços na prestação de saúde bucal e educação preventiva no país.
Os estudos realizados por Soares (2017) apontam que a cárie dentária afeta 40–90% das crianças em países de baixa e média renda, contribuindo para consequências adversas, incluindo dor oral, dificuldade de concentração na escola, problemas dentários ao longo da vida e menor qualidade de vida. Poucos estudos examinaram a questão financeira das crianças e suas famílias ou analisaram que tipo de alimentos as crianças gastam suas mesadas/dinheiro fornecido pelos pais/responsáveis ou parentes e o risco de cárie dentária, mostrado necessário averiguar a influência de lanches industrializados e bebidas açucaradas comprados pelas crianças com a incidência/ presença de cárie.
Assim, a identificação de populações em risco de cárie continua sendo uma meta importante da nutrição, odontologia pediátrica, medicina e saúde pública, uma vez que a doença não afeta apenas o bem-estar físico, psicológico e social dos jovens, mas também seu risco futuro de cárie na idade adulta e os consequentes custos financeiros e de saúde. Um exemplo disso é que a relação exata entre diabetes e risco de cárie dentária permanece incerta tanto em crianças quanto em adultos. Em adultos, alterações nas secreções salivares, como no fluxo e no conteúdo de glicose podem predispor a lesões de cárie, e alguns estudos em crianças detectaram alterações no pH, na taxa de fluxo salivar, na glicose, na ureia, no conteúdo total de proteína e na composição bacteriana em pacientes diabéticos em comparação com controles saudáveis que podem ser cariogênicos (AAPD, 2021).
No entanto, a associação epidemiológica entre diabetes e risco de cárie em crianças e adolescentes permanece controversa, com alguns estudos como os de Lopes Filho, Júnior e Pinto (2024) mostrando prevalência de cárie significativamente maior, a mesma ou até menor em pacientes com diabetes tipo 1 do que em controles não diabéticos. Dessa forma, apesar da maioria dos artigos não relatar nenhuma diferença significativa nas lesões de cárie entre diabéticos tipo 1 e controles, meta-análises relativamente recentes detectaram prevalência de cárie significativamente maior em pacientes pediátricos com diabetes tipo 1 e adultos com diabetes tipo 1 ou tipo 2 em comparação com controles saudáveis.
A relação entre diabetes e cárie dentária é, portanto, provavelmente complexa, e é importante estabelecer o risco associado em populações específicas onde fatores locais podem influenciar a trajetória da doença. Como o controle glicêmico deficiente pode aumentar o risco de cárie dentária, é importante selecionar pacientes com controle glicêmico deficiente para aumentar as chances de detectar uma influência significativa do diabetes na prevalência e gravidade da cárie (MOYNIHAM e KELLY, 2014).
No geral, Petersen e Ogawa (2016) mencionam que cáries não tratadas podem causar dor e infecções que podem levar a problemas na alimentação, na fala, nas brincadeiras e no aprendizado. E os determinantes da cárie dentária estão ao longo de todo o espectro do modelo ecológico, desde a suscetibilidade biológica, comportamentos individuais, influências sociais, recursos comunitários e institucionais, e fatores políticos e econômicos que moldam o ambiente em que as pessoas vivem. Há um considerável corpo de evidências que ligam o consumo frequente de alimentos ultraprocessados e bebidas adoçadas com açúcar à cárie dentária. Esses produtos contêm grandes quantidades de açúcar, que é metabolizado por bactérias orais cariogênicas para produzir ácido que desmineraliza os dentes e causa cáries.
Alencar et. al. (2024) completa que a cárie dentária não tratada pode levar à infecção dentária crônica, inflamação, dor na boca e perda precoce dos dentes. Consequências adversas adicionais para as crianças incluem desnutrição, dificuldade de concentração na escola, faltas à escola, baixa autoestima e risco de problemas dentários ao longo da vida com repercussões associadas à saúde, sociais e econômicas e menor qualidade de vida geral
A boa notícia é que as cáries são preveníveis. Segundo Pereira (2023) o verniz fluoretado pode prevenir um terço (33%) das cáries nos dentes primários (de leite). Crianças que vivem em comunidades com água da torneira fluoretada têm menos cáries do que crianças cuja água não é fluoretada. Da mesma forma, crianças que escovam os dentes diariamente com creme dental com flúor terão menos cáries. Os selantes dentais também podem prevenir cáries por muitos anos. A aplicação de selantes dentais nos dentes posteriores previne 80% das cáries, mas vale aqui mencionar que uma boa nutrição e o acompanhamento odontológico são essenciais, como indicado a seguir.
3.2 A importância de uma boa nutrição da criança e dos cuidados do dentista da APS na Atenção Primária
Sheiham e James (2014) afirmam que maus hábitos são difíceis de quebrar. No entanto, o mesmo vale para bons hábitos. Quando as crianças observam e vivenciam bons hábitos incutidos pelos pais, elas têm mais probabilidade de permanecer – especialmente em relação à comida. Assim, é crucial começar a praticar hábitos alimentares saudáveis desde cedo, afinal, à medida que as crianças crescem e se desenvolvem, elas precisam de nutrientes importantes para serem fortes e saudáveis. Alguns dos benefícios da alimentação saudável incluem: energia estável, ossos e dentes fortes, melhoria da saúde mental: o indivíduo consegue pensar com clareza e ficar mais alerta, manter um peso saudável, prevenção de doenças crônicas, entre outros.
Produtos frescos fornecem vitaminas, nutrientes, fibras e minerais que são essenciais para manter uma pessoa saudável, sendo recomendado que as crianças consumam cinco ou mais porções por dia. Portanto, a maior parte do prato da criança deve ser coberta com frutas e vegetais coloridos. Quanto mais variedade de cores e nutrientes forem adicionados às refeições, melhor. Nesse sentido, Petersen e Ogawa (2016) abordam que, ainda que as refeições saudáveis às vezes pareçam complicadas de serem feitas e assustadoras por causa de agendas ocupadas e de ter os recursos necessários; é primordial criar e manter uma rotina estável, sendo que compete aos pais e responsáveis:
- Planejar refeições semanais juntos para que possam conversar sobre opções de alimentos saudáveis.
- Levar o filho ao mercado para que ele possa ver opções saudáveis e falar sobre elas. Pedir para ele escolher produtos de cada nutriente diferente para consumir ao longo da semana.
- Ler com a criança os rótulos para conferir os valores nutricionais.
- Cozinhar as refeições juntos para mostrar a eles que o que estão comendo é importante.
- Desafiar o filho a encher o prato com o máximo de cores diferentes que puder – como um arco-íris!
Apesar de serem boas estratégias e muitos pais e responsáveis terem consciência de que realiza-las é importante para garantir o bem estar infantil, o que se vê, segundo Alencar et. al. (2024), é que quase uma em cada cinco crianças tem obesidade. Considerando que essa porcentagem de obesidade infantil triplicou desde a década de 1970, a importância da nutrição para as crianças está em alta. Portanto, embora haja uma riqueza de informações na ponta dos dedos, pode ser difícil classificar e decifrar o que uma dieta balanceada e hábitos alimentares saudáveis seriam para cada criança.
Para implementar um estilo de vida sustentável e saudável, bem como assegurar a saúde cardíaca de uma criança ou adolescente, é importante entender o que é uma boa nutrição, como ela pode afetar o desenvolvimento infantil e as etapas que devem ser seguidas para garantir que a criança esteja a bordo de hábitos alimentares saudáveis.
No entanto, a batalha é garantir que a criança esteja consumindo os alimentos de que precisa para colher os benefícios à saúde que esses alimentos fornecem. De tal modo, é fundamental mostrar às crianças o valor de comer dietas
balanceadas usando o quadro abaixo elaborado com base nos estudos de Lopes Filho, Lima e Vilela (2023), sendo que ele mostra a importância de cada nutriente e em quais alimentos ele pode ser encontrado. Muitas vezes, as crianças não querem comer algo, mas quando tem um benefício ou “superpoder” que elas podem entender, elas podem estar mais dispostas a tentar.
Quadro 1:
Nutriente | Benefício para a saúde | Encontrado em |
Vitamina A | Olhos e pele saudáveis; protege contra infecções | Damascos, repolho, melão, cenoura, toranja, folhas, alface romana, manga, espinafre, batata- doce, tomate, melancia |
Vitamina C | Dentes e gengivas saudáveis; ajuda a curar cortes e feridas | Pimentões, brócolis, couve de Bruxelas, repolho, melão, couve-flor, toranja, laranja, abacaxi, morango, tomate |
Cálcio | Dentes e ossos saudáveis | Verduras, couve, quiabo, ruibarbo, espinafre |
Fibra | Sistema digestivo saudável; Risco reduzido de doenças cardíacas | Maçãs, Bananas, Feijões, Brócolis, Couves de Bruxelas, Lentilhas, Pêssegos, Peras, Framboesas, Espinafres |
Folato | Cicatrização de feridas; divisão celular normal | Espargos, brócolis, ervilhas, feijões, verduras, espinafre, morangos |
Ferro | Sangue saudável; capacidade de aprendizagem | Feijão, Lentilha, Espinafre |
Magnésio | Ossos saudáveis | Feijão, Espinafre |
Potássio | Pressão arterial saudável | Bananas, Feijões, Brócolis, Batatas, Batatas-doces, Tomates |
Fonte: Elaborado pela autora
Analisando isso, nota-se que a nutrição para crianças é baseada nos mesmos princípios básicos da nutrição para adultos, ou seja, a chave para uma nutrição adequada é um equilíbrio saudável e apropriado de dieta e exercício e um estilo de vida propício, sendo que os cinco principais grupos alimentares incluem grãos, laticínios, proteínas, vegetais e frutas, e geralmente são um bom ponto de partida para a dieta de qualquer criança. Um equilíbrio saudável pode dar às crianças as vitaminas e minerais necessários, ao mesmo tempo em que melhora seus sistemas imunológicos. As porções de cada respectivo grupo alimentar dependerão muito da idade, constituição genética e atividade física
Conforme Sheiham e James (2014), a nutrição é particularmente importante para os bebês, pois seus corpos estão se desenvolvendo nesta fase da vida e requerem os nutrientes certos para crescer e prosperar. Os bebês crescem rapidamente durante o primeiro ano de vida, e suas necessidades alimentares mudam rapidamente. A má nutrição durante este período crítico pode levar a consequências de saúde a longo prazo, como crescimento atrofiado, sistemas imunológicos enfraquecidos e desenvolvimento cognitivo deficiente. Portanto, é essencial fornecer aos bebês alimentos ricos em nutrientes que sejam apropriados para a idade e adaptados às suas necessidades individuais.
A nutrição também é importante para os bebês para ajudá-los a estabelecer hábitos alimentares saudáveis. Comer uma dieta balanceada desde cedo pode ajudar os bebês a desenvolver uma atitude positiva em relação à comida, reconhecer sinais de fome e saciedade e construir uma base sólida para uma alimentação saudável. Garantir que os bebês recebam a nutrição certa os ajuda a crescer e se desenvolver adequadamente e prepara o cenário para hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida (WHO, 2017).
Crianças pequenas, de 1 a 3 anos, podem ser uma faixa etária particularmente desafiadora quando se trata de alimentar uma dieta nutricional. Muitas mudanças de desenvolvimento afetam diretamente sua ingestão de alimentos ou suplementos durante esse período. As crianças pequenas estão em uma fase em que o crescimento e o desenvolvimento diminuem substancialmente, afetando a fome e a dieta. Além da diminuição do apetite, as crianças pequenas estão em uma idade de explorar a independência e o controle. Para Moynihan e Kelly (2014), isso pode resultar em batalhas para comer apenas alimentos específicos, horários das refeições e quantidades.
Dependendo da idade específica, níveis de atividade e sexo, sugere-se que as crianças pequenas comam grãos diariamente, o que equivale a aproximadamente um pedaço de pão, ½ xícara de arroz ou aveia, ou uma panqueca pequena. Em relação aos vegetais, as crianças pequenas devem comer 1-2 xícaras por dia de cada uma das 5 subcategorias. Como algumas crianças pequenas estão apenas começando a adotar alimentos de mesa, Gregório, Júnior e Pinto (2024) julgam ser aconselhável oferecer vegetais macios e cozidos cortados em pedaços pequenos. Isso não apenas ajuda as crianças a mastigar e engolir vegetais, mas também reduz qualquer risco de engasgo. As crianças pequenas também devem consumir 1 xícara
de frutas por dia. Isso pode ser dividido em ½ banana no café da manhã, ½ maçã no lanche, 8 uvas fatiadas, ½ xícara de brócolis cozido e ½ xícara de ervilhas e cenouras. Introduzir variedade dentro dos cinco grupos alimentares é importante para obter o espectro completo de benefícios nutricionais. Enfim, a maioria das crianças pequenas deve geralmente comer cerca de 13 gramas de proteína por dia.
Uma regra geral que pode ser útil ao determinar quanta proteína uma criança deve ingerir por dia é basear-se no peso dela. As recomendações dietéticas de proteína são determinadas usando o guia de 0,5 gramas de proteína por libra de peso corporal. Portanto, uma criança de 2 anos pesando 30 kg precisaria de cerca de 15 gramas de proteína diariamente. Isso pode se traduzir em ½ ovo, 1 colher de sopa de manteiga de amendoim ou ¼ de xícara de feijão. Sucos, leite e queijos fortificados com cálcio devem ser consumidos por crianças pequenas em quantidades muito menores, como 1 xícara de leite ou 2 fatias de queijo por dia (WHO, 2017).
Os anos pré-escolares, de 3 a 5 anos, são um momento influente para o desenvolvimento de hábitos saudáveis para crianças que podem durar a vida toda. Crianças em idade pré-escolar tendem a crescer em surtos, então seus apetites podem ser intermitentes. Isso é normal, e se os pais oferecerem uma seleção saudável, seus filhos terão opções viáveis. A repartição de grãos, proteínas, vegetais, frutas e laticínios varia de acordo com o tamanho, idade e sexo. O único componente-chave que é importante para crianças em idade pré-escolar em desenvolvimento é a ingestão de cálcio. Nesse contexto, Sheiham e James (2014) notificam que o cálcio é necessário para desenvolver ossos e dentes fortes e saudáveis.
Ao contrário da crença popular, o cálcio não é melhor obtido por meio do leite de vaca tradicional. Isso ocorre porque o cálcio fornecido no leite de vaca é menos biodisponível para os corpos em desenvolvimento. É melhor obter cálcio por meio de folhas verdes escuras, como couve e brócolis. Cerca de ½ xícara de folhas verdes cozidas pode se traduzir em cerca de 300 mg de cálcio com uma taxa de absorção de 40%. Outro suplemento importante para se concentrar é a fibra. A fibra auxilia na digestão e previne a constipação por meio do incentivo aos movimentos intestinais. A fibra é encontrada na maioria dos produtos integrais, frutas e vegetais. E apesar de Pereira (2023) entender que pode ser desafiador convencer a criança a consumir vegetais em vez de alimentos processados ricos em amido, como macarrão, queijo e nuggets de frango, essa “troca” faz toda a diferença.
Uma dieta nutricional adequada e um estilo de vida saudável podem afetar crianças pequenas pelo resto de suas vidas — eles podem reduzir o risco de problemas de saúde que aparecem mais tarde na vida. Durante o desenvolvimento inicial, as crianças são altamente impressionáveis e começam a implementar rotinas e ferramentas que levam para a vida adulta. Além dos hábitos e rotinas criados, as crianças que não obtêm nutrientes adequados à medida que se desenvolvem também podem sofrer de doenças físicas. Alguns dos problemas mais comuns para crianças que se alimentam de forma inadequada, na visão de Soares (2017) incluem obesidade, osteoporose, pressão alta, diminuição da massa muscular, alterações no volume e textura do cabelo, fadiga, irritabilidade, colesterol alto e diabetes tipo 2.
Crianças pequenas são altamente impressionáveis e podem estar sujeitas à vergonha corporal e problemas emocionais relacionados aos alimentos que consomem. Quando as crianças consomem alimentos açucarados, processados e ricos em gordura, isso afeta seu sistema digestivo e flora intestinal. Além disso, Sheiham e James (2014) manifestam que a falta de absorção de cálcio pode levar à osteoporose, que é uma doença óssea degenerativa que resulta em ossos porosos, fracos e quebradiços. Outras doenças crônicas podem ocorrer mais tarde na vida, incluindo doenças cardíacas.
Na concepção de Lopes Filho, Lima e Vilela (2023), as escolhas iniciais das crianças e dos pais em relação à nutrição e ao estilo de vida podem afetar as crianças pelo resto de suas vidas. Como a maioria das pessoas atinge seu pico de massa óssea aos 20 anos, é importante construir músculos e massa óssea durante os primeiros estágios da infância. Crianças com sobrepeso tendem a ter fadiga e irritabilidade, o que pode levar à depressão. Além disso, crianças com sobrepeso podem ter dificuldade com atividade física e muitas vezes não podem participar de atividades físicas junto com seus colegas. Isso pode causar isolamento emocional e estabelecer as bases para interações sociais ruins e baixa autoestima. Além de contar calorias, uma dieta nutricional bem equilibrada e saudável é fundamental para o desenvolvimento das crianças e para prevenir as cáries dentárias.
Do mesmo modo, odontologia pediátrica também é essencial, pois é um tipo particular de cuidado dentário que se concentra na saúde bucal de crianças desde a infância até a adolescência. Ajuda a garantir que as crianças desenvolvam bons hábitos de higiene oral e tem inúmeros benefícios que podem durar a vida toda, principalmente na prevenção da cárie dentária, que é uma das doenças crônicas mais comuns em crianças, mas também uma das mais preveníveis. Segundo Alencar et. al. (2024) A odontologia pediátrica foca na prevenção da cárie dentária e outros problemas dentários por meio da educação sobre higiene oral adequada, hábitos alimentares saudáveis e exames dentários regulares.
Exames dentários regulares desempenham um papel crucial na manutenção da saúde bucal. Ao visitar o dentista regularmente, os indivíduos dão aos cirurgiões- dentistas a oportunidade de detectar e tratar qualquer problema dentário em seus estágios iniciais, quando é mais fácil de gerenciar e antes que ele evolua para uma condição mais complexa e difícil de tratar. Esses exames permitem a identificação e prevenção de problemas como cáries, doenças gengivais e infecções orais, garantindo que as crianças possam manter um sorriso saudável e bem-estar geral (AAPD, 2021).
Já aos seis meses, um bebê pode começar a desenvolver dentes, e é essencial limpá-los regularmente. Nesse sentido, os dentistas pediátricos podem ensinar os pais a limpar os dentes dos filhos corretamente, o que inclui escovar com creme dental com flúor e usar fio dental. Ao desenvolver uma rotina consistente de higiene oral desde cedo, as crianças terão mais probabilidade de manter bons hábitos de higiene à medida que crescem.
Portanto, entende-se que ter uma boa higiene bucal através de uma alimentação saudável e cuidados adequadosdo dentista da APS pode ter um impacto significativo na saúde geral de uma criança, afinal a má saúde bucal pode levar a vários problemas, como infecção, inflamação e até mesmo doenças crônicas como diabetes e doenças cardíacas. Por essa razão, o acompanhamento nutricional e odontológico realizado na APS é fundamental na primeira infância, como foi revelado no subtópico a seguir.
3.3 Os cuidados da Equipe de Saúde Bucal na APS para prevenir as cáries na primeira infância.
Sheiham e James (2014) informam que a ingestão excessiva de carboidratos pode resultar em cáries e formação de cavidades. Esses são alimentos ricos em amido e doces que tendem a grudar nos dentes por mais tempo. Como comer os alimentos certos pode prevenir a cárie dentária, algumas dicas valiosas sobre como escolher alimentos saudáveis para a saúde bucal da criança devem ser fornecidas na APS, especialmente pelos nutricionistas e cirurgiões-dentistas da equipe multiprofisional, dentre as quais destaca-se:
- Dar queijo como lanche para a criança pode ser uma boa opção. Tipos de queijo envelhecidos podem desencadear a produção de mais saliva, o que neutraliza ácidos bacterianos. A saliva também lava partículas de comida dos dentes.
- Manter vegetais e frutas frescas na geladeira como lanches prontos em vez de salgadinhos e biscoitos é melhor para a saúde bucal. Esses alimentos têm alto teor de água. Pepinos, melões e peras são exemplos desses alimentos ricos em água.
- Servir doces após uma refeição é melhor do que servi-los como lanches. Durante a refeição, há mais saliva na boca. O aumento do fluxo de saliva ajuda a neutralizar ácidos bacterianos e previne cáries.
- Evitar alimentos pegajosos e duros pode reduzir o risco de a criança desenvolver cáries.
- Ficar longe de alimentos doces que ficam nos dentes também pode evitar que o açúcar os cubra por longos períodos.
- Ensinar as crianças a evitar lanches frequentes também é uma boa maneira de prevenir cáries e tratamentos odontológicos pediátricos para cáries. O tempo entre as refeições permite que a saliva lave bactérias e partículas de alimentos da refeição anterior. Lanches frequentes não dão à saliva a chance de fazer isso. Isso resulta na formação de placa, o que leva a cáries.
- É melhor escolher alimentos sem açúcar ou diets.
- Beber mais água pode lavar partículas de açúcar grudadas nos dentes. Também aumenta a produção de saliva.
- Adicionar mais alimentos ricos em cálcio à dieta pode fortalecer os dentes da criança.
No geral, Lopes Filho, Lima e Vilela (2023) notificam que a paciência é a chave para fazer uma criança comer para a saúde bucal. Por isso, cabe à equipe da APS mostrar que as crianças precisam experimentar tipos específicos de alimentos cerca de 15 vezes antes de aceitarem e gostarem. A rejeição pode ser desanimadora, mas os profissionais devem fazer com que os pais e responsáveis
não desanimem de forma alguma, pois oferecer a comida repetidamente em pequenas porções pode ensinar à criança que ela é nutritiva e deliciosa.
Expor a criança a diferentes temperaturas e texturas de alimentos também é uma boa dica a ser incentivada na APS, pois pode ajudá-la a apreciar os alimentos. Cortar vegetais os tornará mais fáceis de comer. Cozinhar vegetais duros um pouco pode torná-los mais fáceis de mastigar do que os crus. A maioria das crianças prefere vegetais frescos aos congelados. Servir alimentos sem tempero primeiro pode ajudar a determinar qual sabor a criança prefere.
E como uma boa nutrição pode ajudar nos esforços dos nutricionistas e dos profissionais da odontologia pediátrica a prevenir cáries, ajudando na saúde das gengivas e dentes da criança, esses profissionais, ainda que seja desafiador convencer a criança e seus pais a escolher alimentos mais saudáveis, devem explicar a importância da boa saúde bucal e como os alimentos certos, acompanhados por exames e tratamentos odontológicos pediátricos regulares, podem prevenir cáries (WHO, 2017).
Com base nisso, percebe-se que os pais desempenham um papel crucial no cuidado dos dentes dos filhos, garantindo que eles comecem no caminho certo para uma saúde bucal ideal. Isso envolve supervisionar o cuidado dos dentes das crianças em casa, ao mesmo tempo em que as ajuda a desenvolver hábitos dentários saudáveis e garante que elas consultem um dentista pediátrico regularmente. E, para isso, Soares (2017) descreve que a equipe da APS deve fornecer todas as orientações necessárias para que os pais mantenham a boca do filho limpa até que ele consiga fazer isso sozinho. Eles devem garantir que os pais acompanhem em casa se a criança está escovando corretamente os dentes, gengivas e língua sendo que essas orientações devem ser fornecidas da seguinte forma:
- Antes do primeiro dente nascer, os pais devem limpar delicadamente as gengivas com uma toalha úmida após cada mamada. Assim que o primeiro dente nascer (por volta dos seis meses), orientar os pais a escovar o dente da criança duas vezes ao dia por dois minutos com um pouco de pasta de dente do tamanho de um grão de arroz.
- Dos três aos seis anos, os profissionais da APS devem incentivar os pais a continuar ajudando a criança a escovar os dentes duas vezes ao dia, mas usando uma quantidade de pasta de dente do tamanho de uma ervilha e certificando-se de que a criança não permaneceu com pasta de dente na boca. Assim que os dentes da criança entrarem em contato um com o outro, começar a ajudá-la a usar fio dental pelo menos uma vez ao dia.
- Cada criança se desenvolve de forma diferente, mas, em média, as crianças podem começar a escovar os próprios dentes por volta dos 6 e 7 anos. No entanto, os pais ainda devem supervisionar seus filhos para garantir que eles estejam usando as técnicas adequadas. As crianças também podem adicionar enxaguante bucal à sua rotina nessa idade, desde que saibam que precisam retirar todo excesso do produto .
Sheiham e James (2014) relatam que o que é como uma criança come e bebe é uma parte importante do cuidado com os dentes. Por isso, os nutricionistas e cirurgiões-dentistas da APS devem instigar os pais a limitar lanches e bebidas açucaradas, pois isso é bom para a saúde física da criança e importante para seus dentes. Eles devem, ainda, incentivar as crianças a comer frutas, vegetais, grãos integrais e laticínios. As crianças devem parar de usar mamadeira e beber de um copo por volta de 1 ano de idade. Além disso, os pais devem ser orientados a não deixar uma criança ir para a cama com uma mamadeira ou copo com canudinho de leite ou suco, e incentiva-la a beber água sempre que possível.
No geral, Alencar et. al. (2024) destaca que os pais podem contar com a ajuda do nutricionista e do dentista pediátrico do filho para manter os dentes protegidos contra lesões e protegê-los de hábitos orais prejudiciais à saúde, pois eles devem orientar sobre: como não deixar que as crianças adquiram o hábito de mastigar objetos duros, como canetas ou gelo. Chupar o dedo depois dos 4 anos de idade pode afetar o alinhamento dos dentes, e os pais devem conversar com o dentista sobre maneiras de corrigir esse hábito. Ranger os dentes é outro problema comum que um dentista pediátrico pode resolver com um protetor bucal personalizado usado à noite. Crianças envolvidas em esportes de contato são especialmente propensas a lesões dentárias, como dentes quebrados ou arrancados. Logo, os pais devem conversar com o dentista do filho sobre a adaptação de um protetor bucal para proteger a criança contra lesões na boca durante os esportes.
Mesmo com os melhores esforços de prevenção, emergências odontológicas ainda podem acontecer, e os pais precisam estar prontos. Agir rápido em uma emergência odontológica pode salvar o dente de uma criança. Nesse sentido, é importante que os pais conversem na APS com o cirurgião- dentista da criança sobre onde levar a criança em uma emergência odontológica, como uma dor de dente severa ou um dente arrancado, pois esse profissional pode fornecer instruções úteis sobre como lidar com emergências odontológicas comuns na infância e os pais estarão preparados com antecedência.
A Academia Americana de Odontologia Pediátrica (AAPD, 2021) recomenda que as crianças tenham sua primeira consulta odontológica até o primeiro aniversário ou até seis meses após a erupção do primeiro dente, o que ocorrer primeiro. Depois disso, a criança deve consultar um dentista uma vez a cada 6 meses (algumas crianças podem precisar ir com mais frequência). Essas visitas são cruciais para manter os dentes das crianças limpos de placa bacteriana e tártaro que não podem ser removidos apenas com escovação e fio dental.
Além disso, esses check-ups permitem que os dentistas detectem problemas dentários precocemente, quando eles podem ser mais fáceis de tratar. Isso ajudará a evitar a necessidade de um tratamento mais extenso, como um canal radicular em bebês (pulpotomia). Além disso, levar as crianças ao dentista para exames e limpezas de rotina as ajudará a começar a desenvolver um relacionamento com o dentista e a ter uma associação positiva com os cuidados dentários à medida que crescem, afinal, a odontologia pediátrica é mais do que apenas verificar cáries e fornecer tratamentos dentários. Também se trata de promover bons hábitos de saúde bucal e bem-estar geral em crianças.
Assim, alguns dos tratamentos preventivos odontológicos pediátricos mais comuns realizados em uma APS, de acordo com Soares (2017) são:
- Selantes dentários: Selantes dentais são materiais transparentes, semelhantes ao plástico, que o dentista aplica sobre os dentes. Selantes dentais são aplicados sobre as superfícies de mordida dos dentes para evitar a formação e piora de cáries. Selantes são uma ótima ideia para pacientes cujos dentes têm sulcos profundos, porque eles geralmente são mais difíceis de limpar adequadamente. O selante endurece em cerca de dois minutos para cada dente após a aplicação. Após o endurecimento, a criança pode comer sem que a comida toque os dentes. Essa barreira forte reduz o risco de cáries em crianças. Se o selante for comprometido e a placa bacteriana se formar, o risco de desenvolver cáries aumenta significativamente.
- Tratamentos tópicos com flúor: O flúor fortalece o esmalte dos dentes, reduzindo o risco de cáries. Este mineral é frequentemente adicionado a fontes públicas de água e está disponível em muitas marcas de pasta de dente. No entanto, a aplicação tópica de flúor durante exames dentários de rotina pode fornecer proteção adicional para indivíduos de todas as idades. Os tratamentos tópicos com flúor permanecem no dente por mais tempo do que a pasta de dente comum. Quando um dente decíduo tem uma cárie menor, um profissional de odontologia pediátrica pode prescrever um tratamento com fluoreto de diamina de prata. Essa substância mata as bactérias na área que causam cáries e previne que a cárie piore para uma cavidade profunda. O fluoreto de diamina de prata, junto com uma boa higiene bucal em casa, pode prevenir o desenvolvimento de cáries sérias.
- Limpezas dentárias: Toda criança deve ter os dentes limpos profissionalmente pelo menos duas vezes por ano. O dentista removerá a placa bacteriana e o tártaro durante essa limpeza usando ferramentas especializadas. A placa bacteriana é difícil de limpar ao usar fio dental e escovar os dentes em casa. A placa bacteriana provavelmente ficará presa entre os dentes. Essa limpeza dentária de rotina ajuda a reduzir o risco de cáries.
- Mantenedores do espaço: Os mantenedores de espaço são dispositivos dentários personalizados feitos de plástico ou metal que preenchem espaços nos dentes. Esses mantenedores são feitos sob medida para se encaixar perfeitamente na boca da criança. Se um dente estiver faltando, o mantenedor do espaço impede que a área ao redor se feche. Os mantenedores de espaço são pequenos e fáceis de usar. A criança normalmente se acostuma a usar o mantenedor de espaço em poucos dias, que evita que os dentes restantes se movam até que os dentes permanentes nasçam. Essa técnica é econômica e prática quando comparada ao realinhamento dos dentes com tratamento ortodôntico posterior.
- Protetores bucais: A maioria dos dentistas pediátricos recomenda que as crianças usem protetores bucais, especialmente se elas praticam atividades físicas. O consultório odontológico pode fazer esses dispositivos de proteção para se ajustarem à boca da criança. Esses protetores são usados durante atividades esportivas para proteger os dentes e gengivas do impacto.
- Educação em saúde bucal: Os pais devem dar o exemplo de boa higiene bucal em casa e esse conhecimento deve ser repassado pelo cirurgião- dentista da APS. Quando os pais priorizam o cuidado bucal preventivo, as crianças também entenderão sua importância e o valorizarão mais. Consequentemente, aprenderão a cuidar bem dos dentes, desenvolvendo hábitos que durarão a vida toda. Ajuda quando os pais escovam os próprios dentes junto com os filhos. É uma chance de se conectar e ensiná-los a escovar os dentes, bem como técnicas para uma boa higiene dental. Crianças pequenas podem ter problemas para escovar sozinhas. Os pais podem precisar ajudá-las a escovar os dentes até que elas mesmas consigam fazer isso corretamente. Além disso, a maioria das pessoas negligencia o uso do fio dental, especialmente com crianças pequenas. Os pais devem ajudar seus filhos a entender a importância do uso regular do fio dental e insistir que eles usem fio dental pelo menos uma vez por dia para o melhor efeito preventivo.
Resumindo, o primeiro passo para uma boa saúde bucal é garantir uma alimentação saudável seguida do cuidado odontológico adequado. Essas opções de cuidados preventivos também podem diminuir o risco de cáries e outras condições orais que podem ser tratadas na odontologia pediátrica. Estabelecer bons hábitos de higiene bucal é possível por meio de cuidados preventivos regulares e tratamentos por um dentista pediátrico.
Por sua vez, reconhecendo a importância de uma dieta saudável para manter uma boa saúde bucal, Sheiham e James (2014) dispõem que os nutricionistas da APS devem aconselhar sobre hábitos alimentares saudáveis e recomendações dietéticas para dar suporte à saúde bucal da criança. Isso significa que além dos serviços abrangentes de cuidados odontológicos para ajudar a garantir que os dentes e gengivas da criança permaneçam saudáveis e fortes — desde check-ups e limpezas regulares até tratamentos para doenças gengivais e outros problemas dentários – os nutricionistas são fundamentais na promoção de uma boa nutrição, buscando limitar a ocorrência de problemas dentários.
As mudanças no sistema alimentar global nas últimas décadas aumentaram drasticamente a prevalência de muitos DNTs, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer, bem como doenças bucais. Para agravar o impacto dessas mudanças alimentares, é costume em muitas partes do mundo que os pais dêem aos filhos mesada diária, e que as crianças gastem essa mesada em alimentos nada saudáveis. Poucos estudos examinaram as associações entre mesada e resultados de saúde bucal, e as descobertas foram mistas, por isso, Lopes Filho, Lima e Vilela (2023) acreditam que há necessidade de uma exploração mais aprofundada da contribuição da mesada para os resultados de saúde bucal das crianças.
Isso indica que muitos dos comportamentos que causam cáries dentárias são estabelecidos no início da vida, o que torna a primeira infância um período crítico para estabelecer práticas saudáveis eficazes e iniciar intervenções preventivas. Para enfrentar esses desafios, os nutricionistas de atenção primária, assim como os dentistas, devem estar preparados para avaliar a saúde bucal de seus pacientes; fornecer orientação antecipatória e aconselhamento sobre higiene bucal, exposição ao flúor e dieta; auxiliar com encaminhamentos; e aplicar verniz de flúor (WHO, 2017).
E como as crianças precisam formar bons hábitos de saúde bucal desde cedo para ajudar a evitar cáries, Pereira (2023) alega que a figura do nutricionista é muito importante porque as cáries acontecem quando os açúcares dos alimentos e bebidas interagem com bactérias na placa dentária, resultando na produção de ácido, causando buracos nos dentes conhecidos como cáries. Se as crianças têm cáries, elas podem ter marcas amarelas, marrons ou pretas nos dentes. Elas também podem reclamar de dor nos dentes, principalmente ao comer ou beber e isso costuma prejudicar a promoção da alimentação saudável.
Como há várias medidas importantes que profissionais da nutrição podem tomar para promover uma boa saúde bucal em crianças, entende-se que as mais efetivas incluir:
- Orientar os pais para que estes busquem reduzir o consumo de açúcares livres, ou seja, eles devem limitar a quantidade de açúcares livres que as crianças comem ou bebem, bem como a frequência com que elas os consomem. Açúcares livres incluem todo açúcar adicionado a alimentos e bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou consumidor. Eles são encontrados em alimentos como: bolos, biscoitos e chocolates alimentos processados – como alguns molhos em conserva, geléias e cereais matinais alguns iogurtes aromatizados Eles também são encontrados em produtos naturais como: mel e xaropes, e sucos e purês de frutas.
- Como os açúcares livres não são encontrados em: frutas e vegetais inteiros, leite e iogurte naturais e sem sabor e água (Água e leite são as únicas bebidas seguras para dar às crianças em relação à saúde bucal) os nutricionistas da APS devem informam aos pais que sucos de frutas e vitaminas não devem fazer parte da dieta diária de uma criança pequena; e que além de limitar a quantidade de açúcares livres que as crianças comem ou bebem, eles também devem garantir que elas só comam alimentos ou bebidas que contenham açúcar nas refeições (se possível no almoço). Isso ocorre porque, quanto mais frequentemente os dentes entram em contato com açúcar, sem que haja uma boa salivação, maior a probabilidade de terem cáries.
- O que as crianças bebem pode afetar sua saúde bucal: os pais só devem dar aos bebês mamadeiras com leite materno, leite em pó ou água fervida e fria. A partir dos 6 meses de idade, eles podem oferecer bebidas aos bebês em copos abertos. Esses copos podem ajudar as crianças a desenvolver suas habilidades de sorver. Isso fortalece os músculos faciais, o que os ajuda a morder, mastigar e falar. Ao introduzir copos abertos, começar com copos menores ou aqueles com alças. Eles são mais fáceis para os bebês segurarem, sendo que é preciso oferecer uma pequena quantidade de água no início e aumentar gradualmente com o tempo. Pode ser necessário mostrar aos bebês como usar o copo e ajudá-los a segurá-lo no início. Alguns bebês podem precisar usar um copo para beber ou um copo com bico antes de poderem usar um copo aberto. Se for esse o caso, os pais devem se certificar de que o bico não tenha uma válvula, que as bebidas possam fluir livremente por ele e que os bebês não precisam sugar. A partir dos 12 meses de idade, incentivar as crianças a tomarem todas as bebidas em copos abertos. A partir deste ponto, evitar usar mamadeiras ou copos que exijam que as crianças suguem, como aqueles com bicos macios ou válvulas.
- O nutricionista deve vincular a saúde bucal a outros tópicos importantes, como autocuidado, alimentação saudável e desenvolvimento físico. Brincar com as crianças pode ajudar a promover uma boa saúde bucal. Há uma série de atividades que podem ser usadas para ensiná-las sobre escovação, cuidados com os dentes e alimentação saudável, discutindo os alimentos e bebidas que ajudam e não ajudam a desenvolver dentes saudáveis e fortes.
Entendendo, então, que a nutrição influencia diretamente a saúde dos dentes de uma criança de várias maneiras, já que a medida que os dentes das crianças se desenvolvem, eles dependem de uma nutrição adequada para crescerem fortes e saudáveis, Petersen e Ogawa (2016) retratam que uma dieta nutritiva fornece os blocos de construção para a formação do esmalte, reduz o risco de cáries e apoia a saúde das gengivas. Por outro lado, a má nutrição pode levar ao enfraquecimento do esmalte, a um risco aumentado de cáries e doenças gengivais.
Além disso, os alimentos que as crianças comem podem afetar as bactérias em suas bocas. Alguns alimentos, especialmente lanches e bebidas açucaradas, alimentam bactérias prejudiciais que contribuem para cáries e outros problemas dentários. Portanto, manter uma dieta balanceada é uma das melhores medidas preventivas que os pais podem tomar para proteger os dentes de seus filhos. E como várias vitaminas e minerais são essenciais para manter dentes saudáveis, Sheiham e James (2017) enfatizam que os nutrientes mais importantes para a saúde bucal das crianças são:
- Cálcio: O cálcio é um mineral vital para a construção de dentes e ossos fortes. Ele ajuda a fortalecer o esmalte dos dentes, a camada externa protetora dos dentes e apoia a saúde óssea geral. Alimentos ricos em cálcio incluem leite, queijo, iogurte, folhas verdes e cereais fortificados. Garantir que a criança receba cálcio suficiente durante seus anos de crescimento pode ajudá-la a desenvolver um sorriso forte e resistente a cáries.
- Vitamina D: A vitamina D é essencial para a absorção de cálcio. Sem vitamina D suficiente, o corpo não consegue absorver o cálcio adequadamente, o que pode levar a dentes e ossos fracos. A luz solar é uma fonte natural de vitamina D, mas também é encontrada em alimentos como leite fortificado, gemas de ovos e peixes gordurosos, como salmão. Garantir que a criança receba vitamina D suficiente é crucial para uma saúde bucal ideal.
- Fósforo: O fósforo é outro mineral que trabalha em conjunto com o cálcio para fortalecer os dentes e os ossos. Ele ajuda a formar o esmalte dos dentes e é encontrado em alimentos como carne, peixe, ovos, laticínios e nozes. Uma dieta balanceada que inclua fósforo dará suporte ao crescimento dos dentes e ossos infantis.
- Vitamina A: A vitamina A é importante para manter gengivas e tecidos moles saudáveis na boca. Ela ajuda o corpo a produzir saliva, que é essencial para proteger os dentes do acúmulo de placa bacteriana. Alimentos ricos em vitamina A incluem cenoura, batata-doce, espinafre e outros vegetais laranja e verde-escuros.
- Vitamina C: A vitamina C é essencial para a saúde das gengivas. Ela auxilia na produção de colágeno, uma proteína que ajuda a manter a estrutura das gengivas e tecidos na boca. A falta de vitamina C pode levar à doença gengival, o que pode resultar em gengivas inchadas e sangrando e perda de dentes. A vitamina C pode ser encontrada em frutas cítricas, morangos, pimentões e brócolis.
- Flúor: Embora o flúor não seja um alimento ou nutriente que venha somente da dieta, é importante mencionar. O flúor ajuda a fortalecer o esmalte dos dentes e a prevenir cáries. Muitos suprimentos públicos de água são fluoretados, e o flúor também pode ser encontrado em pastas de dente e alguns alimentos como chá. Tratamentos com flúor no dentista também podem fornecer proteção adicional.
Embora certos alimentos sejam benéficos para a saúde bucal, outros podem prejudicar os dentes das crianças. É importante limitar ou evitar alimentos que contribuem para o acúmulo de placa bacteriana, cárie dentária e doença gengival como é o caso dos seguintes alimentos apresentados por Lopes Filho, Lima e Vilela (2023):
- Lanches e bebidas açucaradas: alimentos açucarados, como doces e biscoitos, e bebidas açucaradas, como refrigerantes, podem alimentar bactérias nocivas na boca. Essas bactérias produzem ácidos que corroem o esmalte dos dentes e levam a cáries. É melhor reservar guloseimas açucaradas para ocasiões especiais e incentivar alternativas mais saudáveis.
- Alimentos pegajosos: alimentos que grudam nos dentes, como caramelo, balas de goma e frutas secas, podem ser difíceis de remover com escovação e fio dental. Eles podem permanecer nos dentes e contribuir para a cárie dentária.
- Alimentos ácidos: frutas cítricas e sucos são saudáveis, mas consumi-los em grandes quantidades pode enfraquecer o esmalte dos dentes devido à acidez. Se a criança gosta desses alimentos, fazê-lo beber água depois é uma boa ideia para ajudar a neutralizar os ácidos.
- Alimentos ricos em amido: alimentos como salgadinhos, bolachas e pão branco podem se decompor em açúcares que alimentam bactérias nocivas. Embora não sejam tão prejudiciais quanto lanches açucarados, eles ainda devem ser consumidos com moderação.
- Enfim, como pais, é essencial incentivar hábitos alimentares saudáveis para proteger os dentes do seu filho, por isso algumas dicas práticas para ajudar e que devem ser fornecidas pelos nutricionistas e dentistas da APS são:
- Oferecer uma variedade de alimentos saudáveis: incluir uma variedade de alimentos ricos em vitaminas e minerais essenciais na dieta da criança, como laticínios, frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais.
- Limitar os lanches açucarados: tente limitar alimentos e bebidas açucaradas e ofereça opções mais saudáveis, como frutas frescas, iogurte ou nozes como lanches.
- Estimule a Água: A água é a melhor bebida para a saúde bucal infantil. Ela ajuda a lavar partículas de alimentos, diluir ácidos na boca e manter a produção de saliva.
- Modelar hábitos alimentares saudáveis: as crianças têm mais probabilidade de seguir hábitos alimentares saudáveis quando veem seus pais fazendo boas escolhas. Desse modo, é imprescindível que os pais e responsáveis busquem liderar pelo exemplo, tornando refeições e lanches nutritivos uma prioridade.
- Checkups dentários regulares: Visitas regulares ao dentista garantem que os dentes e gengivas da criança estejam saudáveis. O dentista pode fornecer limpezas profissionais, tratamentos com flúor e conselhos sobre como manter uma boa higiene oral.
Conclui-se, assim, que a nutrição é um fator essencial para manter a saúde bucal das crianças. Uma dieta rica em cálcio, vitamina D, fósforo, vitamina A, vitamina C e flúor ajuda a construir dentes e gengivas fortes, ao mesmo tempo em que previne cáries e outros problemas dentários. Portanto, cabe aos nutricionistas e dentistas da APS prepararem os pais e as crianças para uma vida inteira de boa saúde bucal fazendo escolhas alimentares saudáveis e evitando lanches açucarados e pegajosos, afinal incentivar uma nutrição adequada e visitas regulares ao dentista ajuda a garantir que a criança cresça com um sorriso brilhante e saudável.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, a cárie dentária é uma das doenças crônicas mais prevalentes em pessoas no mundo todo; sendo que os indivíduos são suscetíveis a essa doença durante toda a vida. A cárie dentária se forma por meio de uma interação complexa ao longo do tempo entre bactérias produtoras de ácido e carboidratos fermentáveis, e muitos fatores do hospedeiro, incluindo dentes e saliva. A doença se desenvolve nas coroas e raízes dos dentes e pode surgir na primeira infância como uma cárie dentária agressiva que afeta os dentes primários de bebês e crianças pequenas.
O risco de cárie inclui fatores físicos, biológicos, ambientais, comportamentais e relacionados ao estilo de vida, como alto número de bactérias cariogênicas, fluxo salivar inadequado, exposição insuficiente ao flúor, higiene oral precária, métodos inadequados de alimentação de bebês e pobreza. A abordagem para prevenção primária na APS deve ser baseada em fatores de risco comuns. A prevenção e o tratamento secundários devem se concentrar no gerenciamento do processo de cárie ao longo do tempo para pacientes individuais, com uma abordagem minimamente invasiva e de preservação do tecido.
Viu-se, ainda, que uma dieta bem balanceada com muitas frutas, vegetais, proteínas magras e laticínios pode ajudar a manter os dentes e gengivas da criança saudáveis e fortes, sendo que algumas dicas para colocar a criança no caminho para uma dieta saudável são: limitar lanches e bebidas açucaradas, oferecendo, ao invés disso, lanches saudáveis como palitos de cenoura, fatias de maçã ou cubos de queijo; incentivar a beber água durante o dia, pois esta ajuda a lavar partículas de alimentos e bactérias que podem causar cáries; incluir frutas e vegetais na dieta, uma vez que estes contêm vitaminas e minerais que ajudam a manter dentes e gengivas saudáveis, bem como proteínas como frango, peixe e ovos nas refeições, pois o fósforo manter os dentes fortes; e incentivar a ingestão de laticínios, que são ótimas fontes de cálcio e vitamina D, essenciais para dentes e ossos fortes.
Dessa forma, conclui-se que fazer pequenas mudanças na dieta da criança e promover hábitos alimentares saudáveis, pode ajudar a garantir que os dentes e gengivas da criança permaneçam saudáveis e fortes; e que agendar exames dentários regulares e ensinar a criança bons hábitos de higiene oral, como escovar os dentes e usar fio dental, prepararam a criança para uma vida inteira de sorriso saudável!
REFERÊNCIAS
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