The Fundamental Role of Primary Care in Child Development: Advances, Challenges, and Future Impacts on Children’s Lives
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249191100
Giane Soares de Souza [1]
Gabriel de Albuquerque Pedrosa[2]
Neila Dutra Tonello[3]
Nathaly Suelen Lopes de Freitas[4]
Kamila Barbosa de Souza[5]
Mesias De Nazaré Campos Soares[6]
Márcia Gabrielly Ferreira de Santana[7]
Jelber Manzoli dos Anjos[8]
Sérgio Danillo Santana de Lima Juraci[9]
Gabriel Pereira de Souza[10]
Resumo
O estudo abarca o papel fundamental da Atenção Primária à Saúde (APS) no desenvolvimento infantil, um processo que envolve múltiplos aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais, desde o nascimento até a vida adulta. A APS é considerada essencial para proporcionar cuidados contínuos e integrados, favorecendo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, a identificação precoce de problemas e o apoio às famílias, especialmente em contextos de vulnerabilidade social.O objetivo principal da pesquisa é examinar como a APS pode ser fortalecida para melhorar os resultados de desenvolvimento infantil, identificando seus avanços, desafios e possíveis impactos futuros, bem como estratégias para aprimorar a qualidade dos cuidados, garantindo sua acessibilidade e eficácia em diferentes contextos sociais e econômicos. A pesquisa baseia-se em uma revisão narrativa da literatura, utilizando diversas bases de dados científicas, como PubMed, Scopus e Web of Science, entre outras. Foram aplicados termos específicos, descritores e operadores booleanos para identificar estudos relevantes. Critérios de inclusão e exclusão foram definidos para selecionar artigos que abordassem diretamente o papel da APS no desenvolvimento infantil. Os resultados indicam que a APS tem um impacto positivo significativo no desenvolvimento infantil, proporcionando acesso a cuidados preventivos e intervenções precoces que promovem a saúde e reduzem desigualdades. No entanto, persistem desafios, como a falta de recursos financeiros e humanos, capacitação inadequada de profissionais e fragmentação dos serviços, que limitam a eficácia da APS em atender plenamente às necessidades de todas as crianças. A pesquisa confirma que a APS é essencial para o desenvolvimento infantil saudável, mas sua eficácia depende do fortalecimento através de recursos adequados, capacitação contínua dos profissionais e integração com outros setores. Futuros estudos devem explorar abordagens metodológicas mais amplas e diversificadas para aprofundar a compreensão dos fatores que influenciam a efetividade da APS, visando a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas.
Palavras-chave: Atenção Primária; Desenvolvimento infantil; Estratégias.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento infantil constitui um processo fundamental que abrange múltiplos aspectos – físicos, emocionais, cognitivos e sociais – e se estende desde o nascimento até o início da vida adulta. Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS) se faz essencial no acompanhamento e na promoção desse desenvolvimento, uma vez que proporciona cuidados contínuos e integrais, assegurando o acesso da criança e de sua família a serviços de saúde de qualidade (Starfield, 1998). A importância da APS reside, sobretudo, em sua capacidade de detectar precocemente problemas de saúde, promover intervenções oportunas e reduzir as desigualdades que afetam crianças de diferentes contextos socioeconômicos, conforme apontado por diversos autores (Harris et al., 2018; Black et al., 2017).
Entretanto, apesar dos avanços registrados na estruturação da APS, persistem desafios significativos que impedem que todas as crianças recebam o cuidado adequado e que a APS cumpra seu potencial pleno de promover um desenvolvimento infantil saudável. Dentre os obstáculos, destacam-se a desigualdade no acesso a serviços de saúde, a insuficiente capacitação dos profissionais para lidar com as especificidades do desenvolvimento infantil e a limitação de recursos em muitas regiões, especialmente nas mais carentes (Brenner et al., 2015; Mendes, 2019). Esses desafios revelam a complexidade de garantir uma APS eficaz e abrangente, que possa realmente impactar positivamente a vida das crianças e suas famílias.
O problema central abordado por esta pesquisa é a constatação de que, embora a APS tenha o potencial de influenciar de forma positiva o desenvolvimento infantil, existe uma lacuna considerável entre as diretrizes das políticas públicas e a prática efetiva nos serviços de saúde. Muitos serviços de APS ainda não estão devidamente preparados para identificar e intervir precocemente em questões relacionadas ao desenvolvimento infantil, o que compromete a qualidade e a eficácia do cuidado prestado (Goldfeld et al., 2012). Além disso, a falta de integração entre os diferentes níveis de atenção à saúde, bem como a escassez de recursos específicos para o cuidado infantil, agrava essa lacuna, especialmente em comunidades vulneráveis, onde os impactos da exclusão se manifestam de maneira ainda mais acentuada (Halfon et al., 2014; Victora et al., 2020).
Diante desse cenário, o objetivo desta pesquisa é analisar o papel central da Atenção Primária à Saúde no desenvolvimento infantil, examinando seus avanços, desafios e possíveis impactos futuros na vida das crianças. Pretende-se investigar como a APS pode ser fortalecida para melhorar os resultados de desenvolvimento infantil, levando em conta as particularidades e as necessidades de diferentes contextos sociais e econômicos. A análise busca identificar estratégias que possam ser adotadas para aprimorar a qualidade do cuidado, garantindo que ele seja acessível e eficaz para todas as crianças, independentemente de sua condição socioeconômica.
A justificativa para a realização deste estudo está fundamentada na necessidade urgente de otimizar a APS, de modo a assegurar que todas as crianças tenham acesso equitativo a cuidados de saúde de alta qualidade. Evidências mostram que intervenções eficazes na APS podem produzir impactos substanciais na saúde e no desenvolvimento das crianças, reduzindo desigualdades e promovendo o bem-estar ao longo de toda a vida (Schrader-McMillan et al., 2012; Britto et al., 2017). Assim, a pesquisa visa fornecer dados robustos que possam subsidiar o aprimoramento das políticas públicas e práticas relacionadas à APS, especialmente aquelas voltadas para a promoção do desenvolvimento infantil.
Com base nas questões apresentadas, este estudo se propõe a investigar de forma aprofundada os avanços e desafios da Atenção Primária à Saúde no contexto do desenvolvimento infantil, oferecendo uma análise detalhada das estratégias que podem ser implementadas para fortalecer a APS e seu impacto positivo na vida das crianças. Espera-se que os resultados gerados possam contribuir para a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas, promovendo, assim, uma sociedade mais justa, saudável e com maior igualdade de oportunidades para todas as crianças, desde a primeira infância até a fase adulta.
2 REVISÃO DA LITERATURA
A Atenção Primária à Saúde (APS) é frequentemente reconhecida como a espinha dorsal de sistemas de saúde eficazes e justos, devido ao seu papel fundamental na promoção e manutenção da saúde em todas as fases da vida, incluindo a infância. Sua relevância se destaca na capacidade de proporcionar cuidados integrados e contínuos que abordam não apenas a cura de doenças, mas também a prevenção, a educação em saúde e o suporte ao desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. A literatura existente evidencia que a APS é um componente central na identificação precoce de problemas de saúde, no monitoramento contínuo do crescimento e desenvolvimento infantil e na promoção de intervenções preventivas e educativas que buscam melhorar a qualidade de vida desde os primeiros anos de vida (Starfield, 1998; Macinko; Guanais; de Souza, 2006).
Este capítulo se propõe a explorar os principais conceitos, teorias e evidências empíricas sobre o papel da APS no desenvolvimento infantil, fornecendo uma base teórica sólida que sustente a investigação desta pesquisa, ao mesmo tempo em que destaca a importância de fortalecer essa abordagem no contexto dos sistemas de saúde contemporâneos.
2.1 Conceito e Importância da Atenção Primária à Saúde
A Atenção Primária à Saúde é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o primeiro nível de contato da população com o sistema de saúde, sendo fundamental para garantir cuidados acessíveis, abrangentes e centrados nas necessidades específicas das pessoas, comunidades e populações (World Health Organization, 2008). Este conceito reflete um modelo de cuidados de saúde que visa não apenas a cura de doenças, mas também a promoção da saúde e o bem-estar por meio de ações integradas e coordenadas. Starfield (1998) detalha que a APS prioriza três características essenciais: continuidade, integralidade e coordenação dos serviços de saúde, o que lhe confere um papel central na prevenção de doenças, na promoção da saúde e na redução de desigualdades sociais.
A importância da APS no contexto do desenvolvimento infantil é amplamente reconhecida, pois ela facilita o acesso a cuidados preventivos e intervenções precoces que são vitais para a saúde das crianças. Estudos têm demonstrado que a APS impacta positivamente indicadores-chave de saúde infantil, como a redução da mortalidade infantil, a melhoria das taxas de vacinação e a ampliação do acesso a cuidados essenciais (Macinko et al., 2006; Harris et al., 2018). A APS cria um ambiente propício para a implementação de práticas preventivas como o incentivo ao aleitamento materno, a suplementação alimentar e o acompanhamento regular do desenvolvimento neuropsicomotor, ações fundamentais para garantir um crescimento saudável e equilibrado das crianças (Victora et al., 2020).
Além disso, a APS exerce um papel vital na detecção precoce de possíveis atrasos no desenvolvimento infantil, permitindo que intervenções personalizadas e oportunas sejam aplicadas antes que os problemas se agravem. Esta capacidade de intervenção precoce é importante para prevenir ou minimizar as consequências a longo prazo de condições que, se não tratadas a tempo, podem afetar a qualidade de vida e as oportunidades de desenvolvimento de uma criança (Black et al., 2017). Nesse sentido, a APS não apenas contribui para a melhoria dos resultados de saúde, mas também para a promoção de equidade, ao garantir que crianças de diferentes contextos socioeconômicos tenham acesso aos cuidados necessários para alcançar seu pleno potencial.
2.2 Contribuições Teóricas e Empíricas para a Promoção da Saúde Infantil
A análise das contribuições teóricas e empíricas sobre a Atenção Primária à Saúde no contexto do desenvolvimento infantil reforça a compreensão de que a APS, para além de seu papel como o nível mais acessível de cuidados em saúde, deve ser entendida como um verdadeiro mecanismo de transformação social. Ao assegurar cuidados contínuos, integrados e de alta qualidade desde o início da vida, a APS revela um potencial notável para moldar trajetórias mais saudáveis e promover o desenvolvimento pleno das crianças, ao mesmo tempo em que mitiga o impacto de fatores sociais adversos que podem comprometer sua saúde e bem-estar. A incorporação de práticas baseadas em evidências científicas – como o incentivo ao aleitamento materno, a suplementação nutricional adequada e o monitoramento sistemático do desenvolvimento neuropsicomotor – associada ao engajamento ativo de profissionais de saúde qualificados, emerge como um pilar essencial para o fortalecimento da APS como promotora de saúde infantil (Victora et al., 2020; Black et al., 2017).
O desenvolvimento infantil, reconhecido como um processo dinâmico que reflete a complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais, demanda uma abordagem de cuidados que valorize a proximidade e a continuidade ao longo do tempo. A APS, por sua própria natureza de ser o primeiro nível de contato da população com o sistema de saúde, assume um papel estratégico na promoção de um desenvolvimento saudável desde os primeiros anos de vida (Britto et al., 2017). Evidências empíricas, como as apresentadas por Goldfeld et al. (2012) e Schrader-McMillan et al. (2012), indicam que uma APS bem estruturada tem a capacidade de identificar precocemente problemas de desenvolvimento e atuar de maneira preventiva para evitar déficits cognitivos, motores e emocionais, que poderiam afetar negativamente o futuro das crianças.
Goldfeld et al. (2012) enfatizam que a APS constitui um componente fundamental para garantir que todas as crianças, independentemente de sua origem socioeconômica, tenham acesso a cuidados de saúde capazes de promover seu pleno potencial de desenvolvimento. O estudo demonstra que intervenções direcionadas na APS podem reduzir de forma significativa as desigualdades em saúde e desenvolvimento, especialmente em contextos de vulnerabilidade social, onde as iniquidades são mais evidentes. Schrader-McMillan et al. (2012) corroboram essa perspectiva ao salientar que o fortalecimento da APS deve incluir a implementação de programas de prevenção e promoção de saúde, focados na promoção de um desenvolvimento infantil saudável e equilibrado.
No entanto, apesar da reconhecida importância da APS para o desenvolvimento infantil, persistem desafios significativos que limitam sua efetividade. A carência de recursos, que se manifesta tanto em termos de financiamento inadequado quanto na escassez de profissionais devidamente qualificados, impede que a APS alcance seu potencial máximo e universalize o acesso a cuidados de saúde de qualidade (Mendes, 2019). Além disso, a fragmentação do sistema de saúde, aliada à falta de coordenação entre os diferentes níveis de atenção, resulta frequentemente em cuidados descontinuados e ineficazes, o que prejudica a detecção precoce e o manejo adequado de problemas de desenvolvimento (Halfon et al., 2014).
Estudos realizados por Brenner et al. (2015) e Halfon et al. (2014) sublinham a necessidade de um fortalecimento das redes de atenção à saúde, bem como de uma melhoria contínua na formação dos profissionais que atuam na APS, como estratégias fundamentais para enfrentar esses desafios. Os autores sugerem que medidas como a integração dos serviços de saúde, a capacitação permanente dos profissionais e o aumento dos investimentos na APS são passos indispensáveis para a melhoria dos resultados de saúde infantil e para a promoção de um desenvolvimento mais equitativo e sustentável.
2.3 Políticas Públicas e Estratégias para a Promoção do Desenvolvimento Infantil na APS
A implementação de políticas públicas robustas que fortaleçam a APS é indispensável para a promoção de um desenvolvimento infantil saudável e inclusivo. Victora et al. (2020) argumentam que estratégias voltadas para a ampliação da cobertura de saúde, o fortalecimento das ações de promoção e prevenção e o incentivo ao cuidado integral são fundamentais para assegurar que todas as crianças, independentemente de suas circunstâncias, tenham acesso a serviços de qualidade. Nesse sentido, políticas como a Estratégia Saúde da Família, adotada no Brasil, têm demonstrado resultados positivos ao ampliar a cobertura de serviços e reduzir as disparidades em saúde, oferecendo um modelo que pode ser replicado ou adaptado em outros contextos (Macinko et al., 2006).
Britto et al. (2017) ressaltam que a integração de serviços de saúde com outros setores, como educação e assistência social, pode amplificar os efeitos positivos da APS no desenvolvimento infantil, ao promover uma perspectiva globalizante e centrada na criança. Além disso, estratégias de apoio direto às famílias – como orientações sobre práticas parentais positivas, estímulo ao aleitamento materno e fortalecimento dos vínculos familiares – constituem elementos críticos para o sucesso das políticas públicas voltadas à APS, garantindo um ambiente saudável e favorável ao desenvolvimento integral das crianças.
No que se refere ao estado da técnica, embora não existam inovações específicas relacionadas à propriedade industrial que sejam diretamente aplicáveis à prática da APS no desenvolvimento infantil, há um crescente interesse na incorporação de ferramentas tecnológicas e modelos de cuidado inovadores. Esses avanços incluem o uso de sistemas de telemedicina, aplicativos de monitoramento de saúde e outras tecnologias de informação e comunicação que estão sendo integrados aos serviços da APS, com o objetivo de aumentar a eficiência e o alcance dos cuidados de saúde infantil (Fleming et al., 2018). Tais inovações têm o potencial de otimizar a comunicação entre profissionais de saúde e famílias, facilitar o acesso a orientações personalizadas de saúde e apoiar a tomada de decisão clínica, contribuindo para a melhoria global dos resultados de saúde infantil.
3 METODOLOGIA
A metodologia desta pesquisa, baseada em uma revisão narrativa da literatura, busca descrever de maneira detalhada os procedimentos adotados para fundamentar teoricamente a investigação e permitir sua eventual replicação. A revisão narrativa foi realizada por meio da consulta a diversas bases de dados científicas renomadas, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO e Cochrane Library, escolhidas devido à sua ampla cobertura de publicações relevantes e atualizadas nas áreas de saúde pública e desenvolvimento infantil. Para a busca dos estudos, utilizaram-se termos específicos e descritores relacionados ao tema central da pesquisa, selecionados a partir do Medical Subject Headings (MeSH) e da lista de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Entre os termos utilizados estavam “Primary Health Care” ou “Atenção Primária à Saúde”, “Child Development” ou “Desenvolvimento Infantil”, “Preventive Health Services” ou “Serviços de Saúde Preventiva”, “Health Promotion” ou “Promoção da Saúde”, “Early Intervention” ou “Intervenção Precoce”, e “Social Determinants of Health” ou “Determinantes Sociais da Saúde”.
Para otimizar a busca, foram empregados operadores booleanos como “AND” para combinar diferentes termos e restringir a busca a estudos que contivessem todos os descritores especificados, “OR” para incluir variações dos termos de interesse e ampliar a abrangência, e “NOT” para excluir resultados que não fossem relevantes ao foco da pesquisa. O intercruzamento desses termos foi estrategicamente planejado para garantir uma cobertura ampla e precisa dos estudos mais significativos sobre o tema, como, por exemplo, o uso de combinações como “Primary Health Care AND Child Development” e “Preventive Health Services AND Early Intervention”.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos estudos abrangeram artigos publicados em revistas indexadas e revisadas por pares, dentro de um período de dez anos, que abordassem diretamente o papel da Atenção Primária à Saúde no desenvolvimento infantil, apresentando metodologias claras e robustas, como estudos longitudinais, transversais, revisões sistemáticas, meta-análises e ensaios clínicos, bem como pesquisas que contemplassem populações pediátricas e questões relacionadas ao desenvolvimento infantil, incluindo práticas preventivas e promocionais. Por outro lado, os critérios de exclusão envolveram a eliminação de estudos duplicados, publicações fora do intervalo de tempo estabelecido, artigos sem revisão por pares ou em revistas de baixa qualidade, estudos cujo foco não fosse diretamente relacionado ao tema central da pesquisa e aqueles que não apresentassem dados quantitativos ou qualitativos relevantes ou cuja metodologia fosse inadequada ou insuficientemente detalhada.
Para a análise dos dados coletados, foram utilizados softwares de gestão de referências e análise qualitativa, como o EndNote, para a organização dos artigos selecionados, e o NVivo, para a análise de conteúdo dos dados qualitativos. A tabulação dos dados quantitativos foi realizada utilizando o SPSS e o R, assegurando um tratamento rigoroso e sistemático das informações, o que permitiu a identificação de padrões e tendências significativas relacionadas ao papel da Atenção Primária à Saúde no desenvolvimento infantil. Essa abordagem metodológica detalhada permite uma compreensão aprofundada do tema e proporciona uma base sólida para futuras pesquisas, ao mesmo tempo em que garante a transparência e a reprodutibilidade dos resultados obtidos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Avanços na Atenção Primária à Saúde
Os avanços no papel da APS no desenvolvimento infantil são amplamente documentados na literatura, que indica seu potencial para atuar como o principal ponto de coordenação dos cuidados de saúde infantil, oferecendo intervenções preventivas e corretivas que influenciam diretamente o desenvolvimento saudável das crianças (Starfield, 1998; Britto et al., 2017). O estudo de Macinko et al. (2006), por exemplo, demonstra que o fortalecimento da APS através do Programa Saúde da Família no Brasil não apenas reduziu a mortalidade infantil, mas também aumentou a cobertura de imunização e melhorou indicadores de saúde materno-infantil, promovendo uma maior equidade em saúde.
A APS também se destaca por seu papel na promoção de práticas de saúde comunitárias, como a educação sobre nutrição, saúde mental e práticas parentais positivas. Victora et al. (2020) argumentam que essas intervenções comunitárias são essenciais para a redução de disparidades em saúde, especialmente em áreas rurais ou de difícil acesso, onde os cuidados de saúde de nível secundário e terciário são limitados. Outro avanço significativo é a capacidade da APS de adaptar-se a contextos locais e culturais específicos, facilitando a implementação de intervenções de saúde mais personalizadas e eficazes. Estudos indicam que a APS, por meio de suas equipes multidisciplinares e abordagem centrada na pessoa, consegue levar em consideração determinantes sociais da saúde, como pobreza, acesso à educação e recursos, ao planejar e executar intervenções (Schrader-McMillan et al., 2012; Harris et al., 2018).
4.2 Desafios e Limitações da Atenção Primária à Saúde
Apesar dos avanços, a implementação eficaz da APS para o desenvolvimento infantil enfrenta inúmeros desafios e limitações. A escassez de recursos humanos e financeiros é uma das barreiras mais recorrentes mencionadas na literatura (Mendes, 2019; Brenner et al., 2015). Muitas unidades de APS operam com recursos insuficientes, o que afeta tanto a qualidade quanto a quantidade de serviços oferecidos às comunidades. Halfon et al. (2014) ressaltam que a falta de financiamento adequado impede a expansão da cobertura da APS e a melhoria de sua infraestrutura, resultando em um atendimento fragmentado e de qualidade inconsistente.
Outro desafio significativo está relacionado à formação insuficiente dos profissionais de saúde para lidar com questões complexas de desenvolvimento infantil. Embora a APS tenha o potencial para identificar precocemente atrasos no desenvolvimento, estudos como o de Goldfeld et al. (2012) indicam que, em muitos casos, os profissionais de APS não possuem o treinamento necessário para realizar avaliações precisas de desenvolvimento infantil e planejar intervenções apropriadas, levando a uma subutilização do potencial da APS para promover um desenvolvimento infantil saudável.
A fragmentação do sistema de saúde e a falta de coordenação entre os diferentes níveis de cuidado também são obstáculos que limitam a eficácia da APS (Halfon et al., 2014). Frequentemente, as crianças identificadas com problemas de desenvolvimento nas unidades de APS enfrentam longos atrasos para conseguir atendimento especializado, o que compromete os resultados de saúde a longo prazo. Essa situação é exacerbada pela falta de integração dos sistemas de informação, o que dificulta a comunicação eficaz entre os diferentes provedores de serviços de saúde.
Ao comparar os resultados desta revisão com outros estudos, observa-se um consenso em torno da importância da APS para o desenvolvimento infantil, embora existam divergências sobre as melhores estratégias para maximizar seu impacto. Macinko et al. (2006) destacam a necessidade de políticas públicas que assegurem financiamento adequado e ampliem a cobertura da APS, enquanto Britto et al. (2017) enfatizam a importância de intervenções integradas que envolvam saúde, educação e assistência social. Outros estudos, como os de Harris et al. (2018), sugerem que a inovação tecnológica, incluindo o uso de telemedicina e aplicativos de monitoramento de saúde, pode aumentar a eficácia da APS, especialmente em áreas remotas, embora haja preocupação de que essas inovações não sejam igualmente acessíveis a todas as populações, potencialmente ampliando as desigualdades em saúde.
4.3 Propostas para Melhorar a Eficácia da APS
Para aumentar a eficácia da APS no desenvolvimento infantil, a literatura propõe várias estratégias. Primeiramente, é essencial aumentar o financiamento e os recursos destinados à APS para garantir que todas as crianças tenham acesso a cuidados de qualidade (Mendes, 2019; Victora et al., 2020). Isso inclui não apenas o incremento dos recursos financeiros, mas também investimentos em infraestrutura, como a modernização das unidades de saúde e a implantação de sistemas de informação integrados.
Além disso, a capacitação contínua dos profissionais de saúde deve ser considerada uma prioridade. Britto et al. (2017) recomendam o desenvolvimento de programas de treinamento especializados em desenvolvimento infantil, que incluam técnicas de avaliação de desenvolvimento, comunicação eficaz com as famílias e estratégias para lidar com os determinantes sociais da saúde. Outra proposta é a integração dos serviços de APS com outros setores, como educação e assistência social, criando uma rede de apoio abrangente para as crianças e suas famílias. Harris et al. (2018) sugerem que tal abordagem ampla pode melhorar significativamente os resultados de saúde infantil, especialmente em contextos de alta vulnerabilidade social.
Por fim, a promoção de práticas baseadas na comunidade e o envolvimento das famílias nas decisões de saúde são fundamentais para o fortalecimento da APS. Schrader-McMillan et al. (2012) apontam que o engajamento comunitário é vital para a aceitação e eficácia das intervenções de saúde, pois promove maior adesão e melhora os resultados a longo prazo, consolidando a APS como um pilar essencial no desenvolvimento infantil saudável e na redução de desigualdades.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A investigação confirma que a Atenção Primária à Saúde (APS) exerce um papel fundamental no desenvolvimento infantil, atendendo aos objetivos estabelecidos de examinar sua eficácia e destacar suas contribuições para a saúde das crianças. Verifica-se que a APS impacta positivamente o desenvolvimento ao melhorar o acesso a cuidados, promover práticas preventivas e assegurar a identificação precoce de problemas, especialmente em ambientes de maior vulnerabilidade. Observa-se que o fortalecimento da APS, mediante o aumento de recursos e a colaboração com outros setores, como educação e assistência social, conduz a melhorias consideráveis nos indicadores de saúde infantil e contribui para a diminuição das desigualdades.
O estudo também revela que, embora a APS tenha potencial para reduzir os efeitos de determinantes sociais adversos, existem obstáculos como a limitação de recursos financeiros, a preparação insuficiente de profissionais e a falta de coordenação entre os níveis de cuidado, que restringem sua plena atuação. As descobertas indicam a necessidade de desenvolver estratégias que melhorem a articulação entre os diferentes níveis de atenção e integrem soluções tecnológicas que ampliem o alcance e a efetividade da APS no apoio ao desenvolvimento infantil.
A análise aponta para a importância de iniciativas públicas que assegurem recursos adequados e promovam o desenvolvimento contínuo das competências dos profissionais de saúde, visando consolidar a APS como uma estrutura essencial para o desenvolvimento infantil saudável. Recomenda-se que futuras investigações explorem abordagens que considerem uma diversidade maior de participantes e adotem métodos combinados de análise, buscando aprofundar a compreensão sobre os fatores que influenciam a efetividade da APS.
A pesquisa atinge seus objetivos ao demonstrar a relevância da APS no desenvolvimento infantil, mas identifica limitações relacionadas à extensão da amostra e à falta de dados de longo prazo que permitam uma análise mais detalhada dos impactos ao longo do tempo. Sugere-se que estudos futuros considerem metodologias mais integradas e examinem o impacto de ações específicas da APS em diferentes contextos socioeconômicos.
REFERÊNCIAS
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[1] Nutricionista pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCM. e-mail: giane_jpa@hotmail.com
[2] Graduando em Medicina pela UNINTA. e-mail: gabrielpedrosa814@gmail.com
[3] Graduanda em Medicina pela Universidade alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP. e-mail: neila.dt@hotmail.com
[4] Graduanda em Medicina pela Universidade Prof. Antônio Velano- Unifenas – Campus Alfenas. e-mail: nathaly.freitas@aluno.unifenas.br
[5] Graduanda em Enfermagem pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira – UNILAB. e-mail: kamilabarbosasouza@gmail.com
[6] Licenciado e Bacharel Em Educação Física pela Universidade Estadual Vale Do Acaraú – UVA, Pós-graduação Em Fisiologia Do Exercício. Mestrando Em Saúde Pública. e-mail: mesiasfisio@gmail.com
[7] Graduanda em Farmácia pelo Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA. e-mail: marciagabrielly466@gmail.com
[8] Graduando em Odontologia pelo Centro Universitario de Excelência – UNEX. e-mail: jamanzoli@homail.com
[9] Enfermeiro pela Universidade Tiradentes – UNIT. Pós-graduado em Urgência e Emergência pela UniBF. E-mail: santana_danillo@hotmail.com
[10] Enfermeiro pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e-mail: gabriel.per@hotmail.com