O PAPEL DOS MODELOS DE MATURIDADE NA QUALIDADE E ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL: COMO CMMI E MPS.BR CONECTAM PROCESSOS ORGANIZACIONAIS À VISÃO ESTRATÉGICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507211514


Fabricio N. Brito Cardoso1
Adrielly dos Reis Carvalhedo1
Yago Rodrigues Cabral1
Gleisson Amaral Mendes1


Resumo: Este artigo apresenta uma análise sobre como os modelos de maturidade CMMI e MPS-BR contribuem para a integração entre qualidade e estratégia organizacional, conectando processos às metas de longo prazo. O CMMI, com cinco níveis de maturidade, se destaca pela padronização global e robustez nos processos. Já o MPS-BR, com sete níveis, adapta-se às especificidades do mercado brasileiro, sendo uma alternativa acessível para pequenas e médias empresas. Por meio de revisão bibliográfica e análise qualitativa, evidenciou-se que ambos os modelos promovem melhorias contínuas e fortalecem a competitividade empresarial.

Palavras-chaves: CMMI , MPS-BR, Modelos de maturidade , Estratégia organizacional, Processos, Metas de longo prazo e Competitividade empresarial.

Abstract: This article analyzes how the maturity models CMMI and MPS-BR contribute to integrating quality and organizational strategy by connecting processes to long-term goals. CMMI, with five maturity levels, excels in global standardization and process robustness. Conversely, MPS-BR, with seven levels, is tailored to the Brazilian market, offering an accessible alternative for small and medium-sized enterprises. Through a bibliographic review and qualitative analysis, the study highlights that both models support continuous improvement and enhance business competitiveness.

Keywords: Maturity models, Organizational strategy, Processes, Long-term goals and Business competitiveness.

1. Introdução  

A crescente demanda por software em diversas áreas tem levado organizações a enfrentar grandes desafios, como acompanhar a rapidez das mudanças tecnológicas e garantir a eficácia, eficiência e qualidade em seus processos de desenvolvimento. Muitas empresas desse setor começaram como pequenos negócios e, ao desenvolverem uma cultura de trabalho própria, conseguiram crescer e se estabelecer de forma eficiente em seus primeiros anos (ROCHA et al., 2001).  

Entretanto, com o aumento das exigências do mercado e a necessidade de manter altos padrões de qualidade, essas organizações passaram a buscar soluções mais estruturadas. Adotar um modelo de maturidade tornou-se uma prática essencial para empresas que desejam expandir seus negócios e comercializar software no mercado internacional, onde há uma forte demanda por processos bem definidos e produtos confiáveis (SALVIANO et al., 2004).  

Nesse cenário, os modelos de maturidade, como o CMMI e o MPS.BR, surgem como ferramentas indispensáveis para garantir a melhoria contínua dos processos organizacionais. Segundo Moreira (2016), esses modelos desempenham um papel crucial ao promover eficiência, padronização e alinhamento estratégico, ajudando as empresas a atenderem às demandas do mercado com produtos de maior qualidade. Assim, além de contribuir para a competitividade, esses modelos oferecem às organizações a possibilidade de crescerem de maneira sustentável e inovadora.  

Apesar dos avanços trazidos por esses modelos, muitas organizações ainda desenvolvem software sem a adoção de processos bem definidos de qualidade. Esse cenário, focado apenas nas necessidades imediatas dos clientes, desconsidera aspectos importantes para a evolução do produto, comprometendo a qualidade do software e dificultando o alcance de objetivos estratégicos de longo prazo. Nesse sentido, os modelos de maturidade desempenham um papel essencial ao proporcionar estruturas claras que organizam processos, otimizam recursos e garantem maior eficiência e previsibilidade.  

Entre os principais benefícios da adoção desses modelos, destaca-se a melhoria na gestão de recursos. Processos bem-organizados evitam desperdícios e retrabalhos, além de potencializar o uso do tempo e das habilidades das equipes. Outro ponto crucial é a redução de riscos, já que práticas estruturadas permitem a identificação e mitigação de problemas antes que eles causem impactos significativos. Assim, as empresas conseguem fortalecer sua confiança no mercado, atender às expectativas dos clientes e se posicionar de maneira competitiva.  

Este trabalho tem como objetivo analisar o papel dos modelos de maturidade na integração entre qualidade e estratégia organizacional, discutindo os benefícios e desafios de sua aplicação em empresas de software. Para isso, será realizada uma revisão bibliográfica que explora os conceitos de maturidade organizacional e sua aplicação no desenvolvimento de software, com foco nos modelos CMMI e MPS.BR.  

Diante disso, este artigo está estruturado em seis seções principais. A primeira seção apresenta a introdução, destacando a importância dos modelos de maturidade para a integração entre qualidade e estratégia organizacional. A segunda seção detalha a metodologia, explicando as etapas de revisão bibliográfica e os critérios adotados para análise. A terceira seção aborda os conceitos de modelos de maturidade e sua evolução, com ênfase no CMMI e no MPS-BR. Na quarta seção, são discutidos os impactos dos modelos de maturidade na qualidade e na estratégia organizacional, evidenciando seus benefícios e desafios. A quinta seção traz a análise e resultados, com uma comparação entre os dois modelos. Por fim, a sexta seção apresenta as conclusões, sintetizando as principais evidências e oferecendo perspectivas futuras.  

2. Metodologia  

O presente artigo se prevaleceu da pesquisa bibliográfica para abordar o tema proposto, este artigo utiliza uma metodologia baseada em revisão bibliográfica e análise qualitativa que segundo Severino (2007) a pesquisa bibliográfica é crucial para que o pesquisador compreenda o estado atual do conhecimento sobre o tema, identifique lacunas e direcione seu estudo.  

Para isso seguimos algumas etapas para tornar a leitura mais proveitosa, como a leitura exploratória, a leitura seletiva e a leitura analítica, que permitiram identificar as informações mais pertinentes e interpretá-las de forma crítica. (LAKATOS; MARCONI, 2003).  

Nesse sentido a revisão bibliográfica foi conduzida a partir de fontes acadêmicas relevantes, como Google Acadêmico, SciSpace, Scielo Brasil e Sucupira, com o objetivo de compreender os conceitos fundamentais e a evolução dos modelos de maturidade no contexto do desenvolvimento de software. Este levantamento possibilitou a identificação das características principais dos modelos CMMI e MPS.BR, bem como suas aplicações práticas em organizações de diferentes portes e setores.  

Para pesquisa das informações, foram empregados os seguintes descritores: Maturidade, Processos, CMMI e MPS.BR. Utilizou-se o operador booleano “AND” para a associação dos descritores com as palavras-chave: “maturidade AND processo AND CMMI AND MPS-BR”. Essa etapa foi fundamental para reunir um conjunto amplo de fontes relevantes ao tema. Em seguida efetuamos a leitura seletiva, focada nos documentos, cuja resposta era a questão norteadora: “como CMMI e MPS.BR conectam processos organizacionais à visão estratégica”.  

Por fim foi selecionado artigos disponíveis na íntegra, visando artigos atuais no período de 2020 a 2023, nos idiomas inglês e português, com o objetivo de encontrar evidências científicas sobre como CMMI e MPS.BR conectam processos organizacionais à visão estratégica. Foram encontrados 48 artigos. Após a aplicação dos filtros (critérios de inclusão e exclusão) e retirados os artigos duplicados, foram selecionados 10 para a leitura integral. Lidos os 10 trabalhos, foram excluídos 6 por não atenderem aos critérios de inclusão e exclusão preestabelecidos, resultando uma amostra final de 4 artigos a serem revisados.   

Após a leitura seletiva, procedeu-se à leitura analítica, com o intuito de realizar uma análise crítica e detalhada das informações coletadas. Esta etapa envolveu a avaliação minuciosa dos dados e das metodologias empregadas nos estudos selecionados, bem como a interpretação dos resultados apresentados.  

Portanto a revisão bibliográfica foi crucial, com o objetivo de compreender os conceitos fundamentais e a evolução dos modelos de maturidade no contexto do desenvolvimento de software. Este levantamento possibilitou a identificação das características principais dos modelos CMMI e MPS.BR, bem como suas aplicações práticas em organizações de diferentes portes e setores.  

3. Conceitos de Modelos de Maturidade e Sua Evolução  

Atualmente, software é indispensável para pessoas, empresas e governos, seja para tomar decisões importantes ou realizar tarefas cotidianas (PRESSMAN,2006). Essa dependência de software cresce à medida que ele se torna parte essencial de atividades estratégicas e operacionais, essa relevância traz consigo grandes responsabilidades, pois falhas nesses sistemas podem gerar desde pequenos transtornos até graves consequências para organizações e indivíduos. Por isso, é imprescindível que o desenvolvimento de software priorize altos padrões de qualidade, garantindo segurança, eficiência e confiabilidade. Dessa forma, o software pode atender às demandas do mundo moderno e minimizar riscos associados ao seu uso.  

Contudo, implementar práticas que melhorem o processo de software requer a adoção de modelos de maturidade que integrem eficiência operacional e visão estratégica das organizações. Modelos como o CMMI e o MPS-BR desempenham esse papel ao fornecer diretrizes que promovem a padronização e a melhoria contínua nos processos de desenvolvimento. Segundo Mello e Galdamez (2016), ferramentas baseadas nesses modelos ajudam empresas menores a estruturar suas operações de forma eficiente, conectando práticas operacionais ao planejamento estratégico. Além disso, como aponta Guedes (2015), a necessidade de atender a demandas de clientes e de expandir a atuação internacional é um dos principais fatores que levam organizações a adotar essas metodologias. Para fortalecer ainda mais essa relação entre processos e estratégia, Furtado e Oliveira (2012) destacam que frameworks construídos sobre o MPS-BR e o CMMI garantem alinhamento entre os requisitos técnicos e os objetivos organizacionais.   

3.1 CMMI  

Os modelos de maturidade não surgiram do nada. Tudo começou na década de 1980, quando foi criado o CMM (Capability Maturity Model), um modelo inicial que ajudava as empresas a entenderem em que nível estavam seus processos. Ele foi desenvolvido pelo Software Engineering Institute (SEI) da Carnegie Mellon University e apresentava cinco níveis de maturidade, começando por processos caóticos e terminando em processos totalmente otimizados e eficientes. Com o tempo, o CMM evoluiu para o CMMI, que integrou outros modelos em uma estrutura mais completa, capaz de ser usada não apenas no desenvolvimento de software, mas também em outras áreas, como gerenciamento de projetos e engenharia de sistemas. Esse avanço permitiu que o CMMI se tornasse uma ferramenta globalmente reconhecida.  

O modelo CMMI foi desenvolvido como uma resposta às limitações observadas em abordagens fragmentadas na melhoria de processos de software. Sua concepção integrou modelos como CMM, SW-CMM, SE-CMM e IPD-CMM, além de boas práticas normatizadas pela ISO/IEC 15504.(DEVMEDIA,2012).    

Essa integração foi uma resposta à fragmentação que gerava dificuldades práticas na aplicação e no alcance de resultados consistentes. Conforme Mello e Galdamez (2016), o CMMI funciona como um framework estruturado que não apenas organiza processos, mas também os alinha a objetivos estratégicos, promovendo eficiência e confiabilidade.   

Esse modelo destaca-se por reunir em uma única estrutura metodologias robustas e práticas consolidadas, facilitando sua aplicação em diferentes contextos organizacionais e ampliando sua capacidade de atender às demandas de um mercado competitivo. Sua implementação é orientada por cinco níveis de maturidade que estruturam o progresso da organização em direção à excelência nos processos de software.  

O primeiro nível, Inicial, caracteriza-se por processos ad hoc ou caóticos, sem práticas formalmente estabelecidas, onde o sucesso depende do esforço individual. No nível Gerenciado, a organização estabelece práticas básicas de planejamento e controle, garantindo que projetos atendam a requisitos básicos. O nível definido introduz a padronização, com processos documentados e alinhados a um conjunto de práticas organizacionais. O quarto nível, Gerenciado Quantitativamente, utiliza métricas para monitorar e controlar os processos, assegurando previsibilidade e controle de qualidade. Por fim, no nível Otimizado, a organização busca a melhoria contínua por meio de inovações e práticas avançadas.  

Segundo a DevMedia, a aplicação progressiva desses níveis permite que as empresas alinhem seus processos de software às melhores práticas do mercado global, aumentando sua competitividade e reduzindo riscos de falhas críticas. Além disso, a implantação do modelo demanda planejamento estratégico, capacitação das equipes e  compromisso organizacional para alcançar os resultados esperados (DevMedia, 2025).  

Apesar de suas inúmeras vantagens, o processo de certificação do CMMI apresenta desafios significativos, especialmente para organizações de pequeno e médio porte. Um dos principais obstáculos enfrentados por pequenas e médias empresas está relacionado ao custo elevado, que pode se tornar um fator limitante para muitas dessas organizações. Além disso, o rigor das exigências e a necessidade de recursos especializados criam barreiras adicionais, dificultando a implementação efetiva do modelo.  

No contexto brasileiro, onde a maior parte das empresas de software é composta por pequenos e médios negócios, essas limitações tornam-se ainda mais evidentes. Muitas dessas empresas buscam soluções alternativas que conciliem a busca por qualidade com viabilidade econômica, possibilitando que avancem em direção à maturidade de seus processos sem comprometer sua sustentabilidade financeira.  

3.2 MPS.BR  

Foi nesse cenário que surgiu o MPS.BR, um modelo desenvolvido especificamente para atender à realidade das empresas brasileiras. Pensado para ser mais acessível e adaptável, ele foi projetado para auxiliar principalmente pequenas e médias empresas a estruturarem seus processos de maneira gradual e sustentável. Diferentemente do CMMI, que apresenta uma abordagem mais abrangente, o MPS.BR se concentra nas necessidades locais, promovendo melhorias contínuas e fortalecendo a competitividade no mercado nacional.   O MPS.BR destaca-se como um modelo acessível e eficaz para pequenas e  médias empresas brasileiras, promovendo qualidade e competitividade. Segundo Carr, ele atende às demandas locais, reduzindo custos e permitindo a evolução gradual dos processos, adaptando-se à realidade nacional sem comprometer a sustentabilidade das organizações (Carr, 2023).  

O MPS-BR é um modelo brasileiro desenvolvido para atender às necessidades específicas do mercado nacional, principalmente das pequenas e médias empresas. Sua estrutura foi pensada para oferecer uma alternativa mais acessível e flexível em relação a modelos internacionais, permitindo que organizações avancem na maturidade de seus processos sem enfrentar barreiras financeiras significativas. O modelo é dividido em sete níveis de maturidade, – G, F, E, D, C, B e A – organizados de forma a facilitar a evolução gradual das empresas.  

No nível G (Parcialmente Gerenciado), as empresas iniciam com práticas básicas para gerenciamento de projetos e garantia da qualidade. O nível F (Gerenciado) inclui maior controle sobre o planejamento e execução dos processos. À medida que avançam, os níveis E (Parcialmente Definido) e D (Largamente Definido) introduzem padronização e integração entre processos. No nível C (Definido), há consolidação das práticas organizacionais e maior foco na prevenção de problemas. Já nos níveis superiores, como A e B (Gerenciado Quantitativamente) e A (Em Otimização) as organizações alcançam excelência na gestão e na implementação de inovações para melhoria contínua.  

De acordo com Guedes (2015), o MPS.BR foi desenhado para oferecer um equilíbrio entre custo e benefício, permitindo que as empresas melhorem seus processos de forma sustentável e sem sobrecarregar recursos. Essa flexibilidade e adaptabilidade tornam o modelo não apenas uma alternativa ao CMMI, mas uma ferramenta que fortalece a competitividade no mercado nacional.  

Os modelos de maturidade têm como base uma ideia simples, mas poderosa: quando os processos de uma organização são bem definidos e organizados, o resultado será de maior qualidade. Por exemplo, no caso do CMMI, os níveis de maturidade começam com processos pouco estruturados, mas, à medida que a empresa sobe de nível, ela passa a ter processos mais controlados, padronizados e inovadores. Já no MPS.BR, os níveis também são organizados de forma que as empresas possam implementar melhorias aos poucos, o que facilita a adoção do modelo.  

Esses modelos não apenas ajudam a melhorar os produtos, mas também trazem benefícios para toda a organização. Eles ajudam a evitar desperdícios, a reduzir erros e até a diminuir os riscos durante o desenvolvimento de software. Com isso, as empresas conseguem planejar melhor seus projetos, entregar no prazo e atender às necessidades dos clientes com mais confiança. Além disso, esses modelos incentivam a capacitação das equipes, garantindo que os profissionais estejam preparados para lidar com os desafios do mercado.  

Contudo, os modelos de maturidade, como o CMMI e o MPS.BR, têm um papel importante na evolução das empresas. Eles não apenas melhoram a qualidade dos produtos, mas também tornam as organizações mais competitivas e preparadas para enfrentar os desafios de um mercado em constante mudança.  

4. Impactos dos Modelos de Maturidade na Qualidade e na Estratégia Organizacional  

4.1 Melhoria da Qualidade dos Produtos  

A adoção de modelos de maturidade, como o CMMI e o MPS.BR, tem um impacto direto e significativo na qualidade dos produtos desenvolvidos pelas empresas. Isso acontece porque esses modelos estruturam os processos de trabalho, reduzindo a ocorrência de erros e retrabalhos que podem comprometer o resultado. Assim, com práticas mais organizadas, as equipes conseguem entregar softwares mais confiáveis e alinhados às necessidades do mercado. Vasconcelos e Morais (2016) destacam que “a maturidade dos processos organizacionais está diretamente ligada à qualidade dos produtos entregues, impactando positivamente na satisfação do cliente”. Esse alinhamento entre práticas internas e resultados esperados é crucial para se destacar no mercado.  

Além disso, a padronização proporcionada pelos modelos de maturidade garante consistência nas entregas, independentemente da complexidade ou tamanho do projeto. Quando uma empresa consegue manter um padrão elevado de qualidade, ela fortalece sua credibilidade junto aos clientes e parceiros, o que abre novas oportunidades de negócios. Assim, os modelos de maturidade não são apenas ferramentas de gestão, mas também fatores estratégicos que contribuem para a criação de produtos robustos e  confiáveis, essenciais para atender a um mercado cada vez mais exigente.  

4.2 Alinhamento com a Estratégia Organizacional  

Os modelos de maturidade também desempenham um papel importante no alinhamento entre os processos internos e a estratégia organizacional das empresas. Ao adotar práticas padronizadas e bem definidas, as empresas conseguem integrar suas atividades diárias aos objetivos de longo prazo. Isso significa que cada etapa do desenvolvimento do software passa a ser planejada e executada de forma a contribuir para as metas gerais da organização. Como afirmam Vasconcelos e Morais (2016), “a adoção de modelos de maturidade possibilita que as empresas direcionem seus esforços de maneira mais eficiente, alinhando qualidade e estratégia”. Essa integração é um diferencial competitivo importante.  

Outro benefício é a melhoria na gestão estratégica das organizações. Com processos claros, torna-se mais fácil identificar prioridades e tomar decisões baseadas em dados concretos, reduzindo incertezas e aumentando a eficiência operacional. Assim, os modelos de maturidade ajudam as empresas a otimizarem recursos, evitar desperdícios e investir de maneira mais inteligente em projetos estratégicos. Esse alinhamento entre práticas organizacionais e objetivos estratégicos não apenas eleva a qualidade dos produtos, mas também fortalece a posição das empresas no mercado, garantindo sustentabilidade e crescimento contínuo.  

4.3 Redução de Riscos e Vantagem Competitiva  

A redução de riscos é outro impacto significativo dos modelos de maturidade. Quando os processos são bem planejados e executados, as empresas conseguem prever problemas antes que eles aconteçam, evitando atrasos no cronograma e falhas no produto final. Esses modelos oferecem ferramentas para identificar pontos críticos nos projetos e tomar medidas preventivas, garantindo maior segurança nas decisões. Isso é especialmente importante em um mercado competitivo, onde erros podem custar caro. Segundo Vasconcelos e Morais (2016), “o controle sobre os processos diminui incertezas e fortalece a confiança dos clientes nos produtos entregues”.  

Além disso, os modelos de maturidade contribuem para que as empresas se tornem mais competitivas. Com produtos de maior qualidade, entregues dentro do prazo e alinhados às expectativas dos clientes, as empresas conseguem se posicionar como líderes em seu segmento. Essa vantagem não é apenas comercial, mas também estratégica, pois fortalece a imagem da organização e aumenta sua capacidade de competir em mercados nacionais e internacionais. Em longo prazo, a adoção desses modelos se torna um investimento valioso, garantindo não apenas sustentabilidade, mas também inovação e relevância no setor.  

5. Análise e Resultado  

Os modelos de maturidade desempenham um papel crucial na integração entre qualidade e estratégia organizacional. Ao analisar o CMMI e o MPS-BR, é possível identificar como suas características, níveis de maturidade e práticas recomendadas são estruturadas para atender diferentes contextos organizacionais. Ambos os modelos oferecem frameworks robustos que promovem a padronização e a melhoria contínua, mas cada um traz especificidades que os tornam adequados para diferentes tipos de empresas e mercados.  

No CMMI, as áreas de processo abrangem desde práticas de gerenciamento organizacional até a engenharia e suporte técnico, totalizando 22 áreas. Esses processos são organizados em cinco níveis de maturidade, começando pelo nível Inicial, caracterizado por práticas ad hoc, até o nível Otimizado, onde a melhoria contínua é o foco. Segundo a DevMedia (2025), “a aplicação progressiva dos níveis do CMMI permite que as empresas alinhem seus processos às melhores práticas globais, reduzindo riscos e ampliando sua competitividade”. Isso demonstra a capacidade do modelo de funcionar como uma ferramenta estratégica de alcance global.  

O MPS-BR, por sua vez, apresenta sete níveis de maturidade (G a A), organizados para facilitar a evolução gradual das empresas brasileiras. Suas áreas de processo são adaptadas às especificidades do mercado nacional, oferecendo uma abordagem mais acessível. Segundo a SOFTEX (2013), o modelo foi projetado para equilibrar custo e benefício, proporcionando às pequenas e médias empresas a oportunidade de alcançar maturidade organizacional sem sobrecarregar seus recursos. Essa adaptabilidade destaca o MPS-BR como uma alternativa viável para empresas que enfrentam barreiras econômicas e estruturais.  

Uma diferença significativa entre os dois modelos está na escala de aplicação. Enquanto o CMMI é amplamente utilizado em mercados globais, o MPS-BR foca no mercado brasileiro, priorizando empresas de pequeno e médio porte. Essa especificidade torna o MPS-BR mais eficiente em atender às demandas locais, enquanto o CMMI se destaca em ambientes que exigem padronização internacional.  

Os níveis de maturidade de ambos os modelos também diferem em estrutura e objetivo. No CMMI, cada nível é projetado para adicionar maior controle e previsibilidade, enquanto no MPS-BR, os níveis promovem uma evolução mais gradual, permitindo que empresas menores implementem melhorias de forma sustentável. Para exemplificar essas diferenças e semelhanças de forma clara, a tabela a seguir resume os principais aspectos dos dois modelos, destacando suas áreas de processo, níveis de maturidade, práticas recomendadas e foco principal.  

Table 1. Comparação entre CMMI e MPS-BR

Aspectos  CMMI  MPS-BR  
Áreas de Processo  22 áreas de processo cobrindo engenharia, suporte e  gerenciamento organizacional.  Áreas de processo adaptadas à realidade brasileira, com foco em práticas locais.  
Níveis de Maturidade  5 níveis: Inicial, Gerenciado,  Definido, Gerenciado  Quantitativamente, Otimizado.  7 níveis: G (Gerenciado Parcialmente) a A (Em Otimização).  
Práticas  Recomendadas  Melhoria contínua baseada em práticas globais.  Práticas adaptadas às empresas brasileiras, com custo reduzido.  
Foco Principal  Aprimorar processos em organizações de qualquer porte globalmente.  Apoiar pequenas e médias empresas no mercado nacional.  

Fonte: Feito pelo autor, com base nos dados de Guedes (2015) e Mello e Galdamez (2016).  

Ambos os modelos compartilham a premissa de que processos bem definidos resultam em maior qualidade nos produtos finais. Essa conexão entre qualidade e estratégia é uma característica-chave que torna os modelos essenciais para empresas que buscam crescer de maneira sustentável. A integração de práticas operacionais ao planejamento estratégico ajuda a alavancar competitividade e mitigar riscos, conforme demonstrado pelas aplicações de ambos os modelos em diferentes setores.  

Uma análise comparativa detalhada entre os modelos revela que, apesar de diferenças estruturais, ambos compartilham práticas recomendadas que incluem gestão de riscos, controle de qualidade e melhoria contínua. Essas práticas reforçam a confiabilidade das entregas, garantindo produtos mais consistentes e alinhados às expectativas dos clientes.  

6. Considerações finais  

Os modelos de maturidade CMMI e MPS-BR evidenciam-se como ferramentas estratégicas para a padronização e melhoria contínua no desenvolvimento de software, promovendo qualidade e alinhamento organizacional. Cada modelo possui características específicas que os tornam relevantes para diferentes contextos, mas ambos compartilham o objetivo de conectar processos operacionais à visão estratégica das empresas. Nesse contexto, a escolha entre os modelos MPS-BR e CMMI para aprimorar os processos de software deve levar em consideração as necessidades específicas de cada organização (MORAIS; VASCONCELOS, 2009).  

O CMMI se destaca por sua abrangência global, estruturado em cinco níveis de maturidade que visam adicionar controle, previsibilidade e excelência ao gerenciamento de processos. Esse modelo é amplamente reconhecido por oferecer uma abordagem robusta e alinhada às práticas internacionais, permitindo que organizações de grande porte alcancem eficiência e padronização em suas operações. Sua implementação, no entanto, é desafiadora para empresas menores, principalmente devido aos custos elevados e à complexidade dos requisitos necessários para a certificação.  

Já o MPS-BR apresenta-se como uma solução adaptada ao mercado brasileiro, com sete níveis de maturidade que promovem uma evolução gradual e acessível para pequenas e médias empresas. Sua abordagem local e economicamente viável foi projetada para atender às limitações financeiras e estruturais dessas organizações, sem comprometer a qualidade e a competitividade. O modelo incentiva práticas alinhadas à realidade nacional, oferecendo às empresas uma alternativa eficiente para a melhoria de seus processos e posicionamento estratégico.  

Ambos os modelos compartilham características fundamentais, como a organização das áreas de processo, a ênfase na melhoria contínua e a redução de riscos, que são cruciais para fortalecer a confiança no mercado e ampliar a capacidade de inovação. Apesar de suas diferenças, a análise demonstrou que o CMMI e o MPS-BR não são mutuamente exclusivos; ao contrário, eles podem se complementar, oferecendo soluções adequadas tanto para empresas que operam em mercados globais quanto para aquelas focadas no contexto local. Porém a decisão pelo modelo mais apropriado deve ser embasada em uma análise criteriosa de fatores como recursos disponíveis, cultura organizacional e objetivos da empresa (GUEDES, 2014).  

Dessa forma, conclui-se que os modelos de maturidade representam ferramentas essenciais para alinhar a qualidade dos processos às estratégias organizacionais, permitindo às empresas integrar de maneira eficiente suas operações aos seus objetivos de longo prazo. Ao conectar práticas bem definidas à visão estratégica, esses modelos reforçam sua importância na construção de organizações mais competitivas, eficientes e preparadas para os desafios do mercado.  

7. Referências  

Salviano, C. F.; Jino, M.; Mendes, M. J. (2004) “Towards an ISO/IEC 15504-Based Process Capability Profile Methodology for Process Improvement (PRO2PI)”. In: Proceedings of SPICE 2004: The Fourth International SPICE Conference on Process Assessment and Improvement, Lisbon, Portugal, p. 77-84, April 28-29.  

Rocha, A. R. C.; Maldonado, J. C.; Weber, K. C. (2001) Qualidade de Software: Teoria e Prática. São Paulo: Prentice Hall.  

Guedes, R. M. (2015) “Fatores que influenciam na migração do MPS.BR para o CMMI nas empresas de software brasileiras.” Disponível em: https://typeset.io/papers/fatoresque-influenciam-na-migracao-do-mps-br-para-o-cmmi110ln2uhco. Acesso em: 17 jan. 2025.  

Mello, V. M.; Galdamez, E. V. C. (2016) “Gestão de projetos adaptada aos modelos de melhoria de processos CMMI-DEV e MPS-BR.” Revista Tecnológica, v. 25, n. 1, p. 27385. Disponível em: https://typeset.io/papers/gestao-de-projetos-adaptadaaosmodelos-de-melhoria-de-vrp47wgxoo. Acesso em: 19 jan. 2025.  

Furtado, J. C. C.; Oliveira, S. R. B. (2012) “A Process Framework for the Software and  Related Services Acquisition Based on the CMMI-ACQ and the MPS.BR Acquisition Guide.” IEEE Latin America Transactions, v. 10, n. 8, p. 6418130. Disponível em: https://typeset.io/papers/a-process-framework-for-the-software-and-relatedservicesmb8r1eayyk. Acesso em: 19 jan. 2025.  

Pressman, R. S. (2006) Engenharia de software: uma abordagem profissional. 6. ed. São Paulo: McGraw-Hill.

Vasconcelos, A.; Morais, L. (2012b) “Modelos de Maturidade para Processos de Software: CMMI e MPS.BR.” SOFTEX – Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro, Guia de Implementação – Parte 11: Implementação e Avaliação do MR-MPS-SW:2012 em Conjunto com o CMMI-DEV v1.3, Brasil.


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