O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA PRESCRIÇÃO MEDICAMENTOSA EM AMBIENTE HOSPITALAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7314674


Sebastião Ribeiro Lima
Orientador Prof. Alex Sandro Rodrigues Baiense 


RESUMO 

 Dentre os vários ambientes de um hospital, a farmácia hospitalar é o que mais se destaca em decorrência de sua capacidade de produção e atendimento, assegurando qualidade na assistência farmacêutica prestada ao paciente por meio do uso seguro e racional de medicamentos. As unidades de farmácia hospitalar devem contar com um farmacêutico e por um número de auxiliares suficientes para garantir que as atividades relacionadas ao ciclo da assistência farmacêutica sejam desempenhadas de forma eficaz, assegurando qualidade, segurança e o uso adequado de medicamentos. Diante deste contexto, o presente estudo tem como principal objetivo descrever como ocorre a assistência farmacêutica no ambiente hospitalar bem como descrever a sua importância no que concerne ao uso racional de medicamentos. Trata-se, portanto, de uma revisão bibliográfica realizada através de artigos e revistas publicados nas principais plataformas didáticas como Scielo, PubMed e Lilacs. Para construção do presente estudo foram utilizados artigos datados de 2010 a 2020 publicados e português. Os estudos demonstram que quando realizados corretamente o ciclo da assistência farmacêutica dentro dos ambientes hospitalares pode contribuir positivamente para o uso racional de medicamentos pelo paciente. 

Palavras-Chave: Assistência Farmacêutica. Farmácia Hospitalar. Uso racional.  Medicamentos. 

ABSTRACT 

Among the various environments in a hospital, the hospital pharmacy is the one that stands out the most due to its production and service capacity, ensuring quality in the pharmaceutical care provided to the patient through the safe and rational use of medicines. Hospital pharmacy units must have a pharmacist and a sufficient number of assistants to ensure that activities related to the pharmaceutical assistance cycle are performed effectively, ensuring quality, safety and the appropriate use of medicines. Given this context, the present study has as its main objective to describe how pharmaceutical assistance occurs in the hospital environment as well as to describe its importance with regard to the rational use of medicines. It is, therefore, a bibliographic review carried out through articles and magazines published in the main educational platforms such as Scielo, PubMed and Lilacs. For the construction of this study, articles dated from 2010 to 2020 published and Portuguese were used. Studies show that when the cycle of pharmaceutical assistance within hospital environments is carried out correctly, it can positively contribute to the rational use of medicines by the patient. 

Keywords: Pharmaceutical Assistance. Hospital Pharmacy. Rational use. Medicines. 

OBJETIVO GERAL  

Analisar o papel do farmacêutico frente a prescrição medicamentosa em farmácias clínicas hospitalares, corroborando para o uso racional de medicamentos. 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS  

  • Discorrer sobre o surgimento e evolução das farmácias hospitalares no Brasil;  
  • Analisar o papel dos profissionais farmacêuticos neste ambiente;  ➢ Analisar o perfil e as atribuições do farmacêutico no ambiente hospitalar ➢ Demonstrar como ocorre a assistência farmacêutica e sua importância.  
  • Discutir sobre os principais resultados encontrados com o presente estudo.

JUSTIFICATIVA  

 Analisar as atividades desenvolvidas por farmácias hospitalares podem ser influenciadas por diversos fatores externos e internos relacionados ao serviço, podendo comprometer assim positiva ou negativamente na qualidade dos serviços prestados. Dentre essas questões destaca-se: a capacitação profissional, a sustentabilidade das ações desenvolvidas, as influências administrativas e gerenciais.  

METODOLOGIA  

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde foram utilizadas bases de dados como Scielo, Pubmed e Google acadêmico, além de teses e revistas relacionadas a área da saúde, ao finalizar a busca em cada base de dados, as duplicatas foram excluídas. Como critério de tempo, foram utilizados artigos publicados somente a partir de 2010 até o presente momento. No que concerne aos idiomas, foram selecionados artigos escritos em inglês, português ou espanhol.  Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: Farmacêutico; Ambiente hospitalar; Prescrição medicamentosa.  Para a pesquisa foi utilizado o operador booleano AND.

INTRODUÇÃO  

     Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a Farmácia Hospitalar é 

definida como “unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital ou serviço de saúde e integrada, funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente”. Desempenhar atividades clínicas relacionadas à gestão, sendo um setor do hospital que requer valores orçamentários elevados e, em decorrência disso, o farmacêutico hospitalar deve desempenhar atividades gerenciais que contribuam com a eficiência administrativa e, consequentemente, com a redução dos custos (CFF, 2019). 

Outra função desempenhada pela farmácia hospitalar é garantir a qualidade de assistência proporcionada ao paciente através do uso seguro e racional de medicamentos e correlatos, adequando a sua aplicação à saúde individual e coletiva, nos planos: assistencial, preventivo, docente e investigativo devendo, para tanto, contar com farmacêuticos em número suficiente para o bom desempenho da assistência farmacêutica. Dentre outras funções da farmácia hospitalar estão a Farmácia Clínica e a Farmácia Satélite onde o farmacêutico deve utilizar seu conhecimento profissional para promover o uso seguro e apropriado de medicamentos pelos pacientes, em trabalhos conjunto com outros profissionais da área da saúde (DUARTE, 2021). 

HISTÓRICO DO HOSPITAL E A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA HOSPITALAR NO BRASIL 

 A farmácia hospitalar é um setor localizado no interior das instituições hospitalares. Em sua gênese, os hospitais eram definidos como os locais responsáveis por acomodar os enfermos e então facilitar a assistência que se pretendia prestar a eles, sendo assim os principais responsáveis por prestar a assistência às principais necessidades destes (NEUFELD, 2013). 

 O hospital é considerado uma das instituições mais antigas da história da humanidade. Há registros indianos e egípcios  datados do século VI a.C, que demonstraram os primeiros ambientes onde pessoas doentes eram acomodadas e isoladas do restante da população (CAVALINI, 2010). 

 Com o aumento dos números de enfermos e ficando inválidos em decorrência das condições sanitárias precárias e baixa qualidade de vida na época,  a necessidade da criação de locais amplos e apropriados que oferecessem mais assistência começou a ser observada (NEUFELD, 2013). 

 Desde os primórdios do século XVI até o século XX, permaneceu o antigo conceito de hospital. Durante este período os hospitais acolhiam pessoas com classes sociais inferiores. Os doentes com classe superior mais alta, permaneciam em suas residências, nesse ambiente ocorria o nascimento de sua prole, e quando muito doentes, rodeados por amigos e parentes vinham a óbito (CAVALINI, 2010).  No Brasil, a realidade dos indivíduos enfermos já era motivo de preocupação desde a colonização. Logo o surgimento do primeiro hospital ocorreu em 1543, denominado como Santa Casa de Misericórdia de Santos, e posteriormente em 1590 surge a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (LAPREGA, 2015). 

 No Brasil, o Hospital de Isolamento da Capital, atualmente conhecido como Hospital Emílio Ribas foi uma das primeiras instituições e entre os anos de 1876 e 1880 houve a introdução dos médicos na equipe de cuidados com os pacientes. Em decorrência disso o hospital foi sendo reestruturado e ganhando novos setores, dando origem inclusive a farmácia hospitalar, na qual houve a inserção dos profissionais farmacêuticos , sendo estes considerados os responsáveis pelos medicamentos dispensados na instituição (DE AZEVEDO, 2018). 

Além da guarda e dispensação de medicamentos, o farmacêutico hospitalar era o profissional encarregado pela manipulação de quase todo o arsenal terapêutico disponível na época. A expansão da indústria farmacêutica, o abandono da prática de formulação pela classe médica e a diversificação do campo de atuação do profissional farmacêutico, levaram-no a se distanciar da área de medicamentos descaracterizado a farmácia. No período compreendido entre 1920 e 1950 intensificou-se essa descaracterização das funções do farmacêutico e as farmácias hospitalares converteram-se num canal de distribuição de medicamentos produzidos pela indústria. Desde 1950 evidenciou-se uma fase de desenvolvimento da farmácia hospitalar, com grande enfoque na questão da fabricação de medicamentos (DE AZEVEDO, 2018). 

Em 1980 a farmácia hospitalar passou a ser a responsável pelo gerenciamento das atividades buscando trazer redução de custos, racionalização do trabalho e garantia de uso correto do medicamento. Os cursos de especialização surgiram em 1985, após incentivo do Ministério da Saúde para a reestruturação da farmácia hospitalar devido à preocupação com infecções hospitalares (DE AZEVEDO, 2018). 

Em 1995, foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) objetivando preparar os profissionais para o mercado, que se encontrava cada dia mais crescente e assim a assistência farmacêutica e os cuidados integrais do farmacêutico passaram a ser considerados indispensáveis (DE LIMA, 2017). 

Logo, podemos dizer que a farmácia hospitalar é uma unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente, tendo como principal objetivo a contribuição no processo de cuidado à saúde, visando melhorar a qualidade da assistência prestada ao paciente, promovendo o uso racional e seguro de medicamentos bem como de produtos para a saúde (DE AZEVEDO, 2018). 

A  farmácia  clínica  é  a  área  que tem como o  para  o  cuidado  do  paciente  que  visa à promoção, proteção e recuperação da saúde e prevenção de seus  agravos,  devido  ao  uso  inadequado  de  medicamentos.  As  condutas  do   farmacêutico clínico buscam otimizar a farmacoterapia, promover o uso  racional de medicamentos e, sempre que possível, melhorar a qualidade de vida do paciente (DE LIMA, 2018). 

CLASSIFICAÇÃO DOS HOSPITAIS: PRINCIPAIS DEFINIÇÕES  

 Os hospitais podem ser classificados de duas formas distintas, isso ocorre em relação ao seu regime jurídico, sendo eles públicos ou privados e as aquisições são baseadas nas regras trazidas pela Lei n º 8.666 conhecida como Lei das Licitações. Por sua vez, o regime privado é subdividido em hospitais lucrativos e não lucrativos sendo estes divididos em: filantrópicos e beneficentes (ANDRADE, 2018). 

Os hospitais lucrativos são considerados como uma empresa cujo principal objetivo é a obtenção de lucro. Em contrapartida, nas instituições filantrópicas os diretores não são remunerados, deve conter leitos gratuitos para atender a população e todo lucro obtido com os exames e consultas devem ser investidos diretamente na instituição, trazendo assim melhoria para a mesma. Já os denominados hospitais beneficentes são formados por grupos específicos de pessoas que recebem contribuições  regulares de seus mantenedores e reaplicam o lucro angariado na instituição (DE LIMA, 2018). 

 Além disso, os hospitais podem ser classificados de acordo com a sua estrutura, em hospitais de pequeno, médio e grande porte. São considerados hospitais de pequeno porte aqueles que possuem até 50 leitos e apresentam produção em regime de internação. Já os hospitais de médio porte são aqueles que possuem mais de 51 leitos, porém menos que 150, e os hospitais com mais de 500 leitos são denominados como hospitais de grande porte (SOUZA, 2019). 

 Além de possuir diversas classificações, os hospitais são como empresas que possuem diversos departamentos e esses departamentos são os setores administrativos e técnicos. É esperado que a farmácia hospitalar o desenvolva atividades como farmácia clínica e também relacionada à gestão, organizadas de acordo com as características do hospital e os serviços prestados, mantendo coerência entre atividades realizadas e complexidade do hospital (BURMESTER, 2017). 

FARMÁCIA HOSPITALAR

 Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), Farmácia Hospitalar e outros serviços de saúde definem-se como “unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital ou serviço de saúde e integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente (CAVALLINI, 2010). 

 Desta forma, a Farmácia Hospitalar deve desempenhar atividades clínicas relacionadas à gestão. Para o desempenho das atividades da farmácia hospitalar são necessários elevados custos orçamentários e desta forma o profissional farmacêutico, também denominado como Responsável Técnico (RT) deve desempenhar atividades gerenciais que contribuam para a eficiência administrativa e consequentemente reduza os custos de sua manutenção (DE LIMA, 2017) 

 Outro objetivo que cabe a farmácia hospitalar é contribuir com o processo de cuidado de saúde, através da prestação de assistência ao paciente realizado com qualidade visando o uso seguro e racional de medicamentos conforme preconizado pela Política Nacional de Medicamentos, regulamentada pela Portaria nº 3.916/1998, do Ministério da Saúde. (BRASIL, 1998). 

 As atividades desempenhadas pela farmácia hospitalar podem ser observadas sob a ótica da organização sistêmica da Assistência Farmacêutica.  

De acordo com a Resolução nº 338/2004, do Conselho Nacional de Saúde, Assistência Farmacêutica é: 

Um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (NORA, 2019). 

                No contexto hospitalar, a assistência farmacêutica engloba atividades inerentes a logística, manipulação e controle de qualidade, atenção farmacêutica, farmácia clínica conforme esquema representado na Figura 1, além disso, existem atividades intersetoriais, que requerem interação com outros setores do hospital.

Figura 01: Esquema de Assistência Farmacêutica no Âmbito Hospitalar 

Fonte: Conselho Federal de Farmácia (2012). 

           Objetivando estabelecer parâmetros para o desempenho das atividades hospitalares, a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) publicou os Padrões Mínimos para a Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde. 

 Um dos parâmetros abordados são os recursos humanos na farmácia hospitalar. Segundo este documento, para proporcionar o desenvolvimento de processos seguros e sem sobrecarga ocupacional, a unidade de farmácia hospitalar deve contar com farmacêuticos e colaboradores em número adequado para a realização das suas atividades. O número mínimo de farmacêuticos recomendado dependerá das atividades desenvolvidas, da complexidade do cuidado e do grau de informatização e mecanização da unidade (DE LIMA, 2017). 

 Em 2017, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 2, que estabeleceu diretrizes e relacionadas estratégias, objetivando organizar, fortalecer e aprimorar as ações da assistência farmacêutica em hospitais, tendo como eixos estruturantes, a segurança e a promoção do uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde (BRASIL, 2017). 

 A farmácia hospitalar deve contar ainda com farmacêuticos e colaboradores, necessários ao pleno desenvolvimento de suas atividades, considerando a complexidade do hospital, os serviços ofertados, o grau de informatização e mecanização, buscando estratégias eficientes para segurança de seus pacientes/clientes e colaboradores, e horário de funcionamento atendendo a Lei Federal nº 13.021/2014 (NORA, 2019). 

PERFIL E ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO HOSPITALAR  

     A Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 1997 publicou um documento denominado The role of the pharmacist in the health care system (“O papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde”) em que se destacaram sete qualidades que o farmacêutico deve apresentar:  

  • Prestador de serviços farmacêuticos em uma equipe de saúde;  
  • Capaz de tomar decisões;  
  • Comunicador; 
  • Líder;  
  • Gerente;  
  • Atualizado permanentemente e  
  • Educador. 

 A Resolução CFF nº 568/2012 determina as responsabilidades do profissional farmacêutico no Brasil e regulamenta o exercício profissional nos serviços de atendimento pré-hospitalar, na farmácia clínica e em outros serviços de saúde seja de natureza pública ou privada (CFF, 2012). 

 As principais atribuições do farmacêutico foram agrupadas em cinco grandes áreas (Figura 2):  

  • Atividades logísticas;  
  • Atividades de manipulação / produção;  
  • Atividades focadas no paciente;  
  • Garantia de qualidade;  
  • Atividades intersetoriais. 

Figura 02 – Atividades do Farmacêutico Hospitalar 

Fonte: Conselho Federal de Farmácia (2012). 

 Desta forma, podemos dizer que o farmacêutico é responsável legal por todo o processo inerente à unidade hospitalar (medicamentos e produtos para a saúde). A logística farmacêutica é parte integrante, trabalhando com ferramentas da qualidade, visando metas de cada Instituição, está relacionado diretamente com o ciclo da assistência farmacêutica (OSÓRIO-DE-CASTRO, 2014).  

CICLO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO AMBIENTE HOSPITALAR  

A escolha dos medicamentos, conforme descrito no Quadro 01, pode ser considerado como o ponto inicial do ciclo da assistência farmacêutica e pode ser considerado como um processo contínuo e dinâmico, multidisciplinar e participativo. É um processo de escolha que tem como objetivo elaborar uma listagem de medicamentos considerados essenciais, considerando a necessidade, a eficácia, o benefício/risco e o benefício/custo (TUNA, 2015) 

Quadro 01 – Descrição das etapas, critérios e vantagens de seleção
de medicamentos na farmácia de acordo com a prática farmacêutica no hospital. 

Fonte: Ferracini (2010). 

Mediante a  diversidade de apresentações de produtos farmacêuticos que são constantemente  lançados no mercado bem como a escassez de recursos financeiros, torna-se preciso que prioridades sejam estabelecidas como a seleção de medicamentos eficazes e seguros que atendam as reais demandas da população, resultando assim em benefícios tanto terapêuticos como econômicos. Para que isso ocorra são necessárias diversas etapas, a começar pela seleção dos medicamentos até a dispensação (DE LIMA, 2017). 

 Outra etapa importante do ciclo da assistência farmacêutica consiste no armazenamento. Consiste na fase em que deve ser assegurado a qualidade do medicamento e de outros insumos por intermédio de condições adequadas do estoque. Esta atividade deve ser realizada com propósito de identificar a localização adequada dos pontos de estoque, capacidade de armazenagem do local bem como as instalações, equipamentos e o layout (NORA, 2019). 

A distribuição é uma atividade que consiste no suprimento de medicamentos às unidades de saúde, em quantidade, qualidade e tempo oportuno, para que os mesmos sejam corretamente dispensados à população usuária.  Assim, a  farmácia hospitalar tem como missão assegurar o uso racional e adequado dos medicamentos e dos insumos para a saúde, e desta forma, o profissional farmacêutico é o principal responsável por esta fase do ciclo da assistência farmacêutica (DUARTE, 2021). 

A distribuição tem como objetivo atender de modo seguro e eficiente todos os itens necessários para o desempenho do serviço hospitalar e deve ser realizado segundo uma programação prévia, acertada com os serviços de saúde, considerando fatores técnicos, administrativos, logísticos e de qualidade dos serviços prestados ao utente (NORA, 2019). 

A última etapa da assistência farmacêutica é a dispensação. Nesta etapa o farmacêutico cede um ou mais medicamentos ao paciente mediante a apresentação de uma receita, previamente preenchida por um farmacêutico ou profissional autorizado. Durante este processo o farmacêutico deve informar e orientar o paciente quanto ao uso adequado dos medicamentos (NORA, 2019). 

LEGISLAÇÃO SOBRE A FARMÁCIA HOSPITALAR.    

 A resolução Nº 300, do Conselho Federal de Farmácia do dia 30 de janeiro de 1997, regulamenta o exercício profissional em farmácia de unidade hospitalar. Essa resolução define a farmácia hospitalar como a unidade clínica de assistência técnica e administrativa, dirigida por farmacêuticos, integrada funcional e hierarquicamente às atividades hospitalares. Sua principal função é garantir a qualidade de assistência prestada ao paciente por meio do uso seguro e racional de medicamentos e correlatos, adequando sua aplicação à saúde individual e coletiva, nos planos assistencial, preventivo, docente e investigativo, devendo, para tanto contar com farmacêuticos em números suficientes para o bom desempenho da assistência (DA ROCHA, 2019).  No dia 31 de dezembro de 2010, o Ministério da Saúde, colocou em vigor a primeira legislação específica destinada à Farmácia Hospitalar, a Portaria Nº 4.283. Dessa forma, foram aprovadas diretrizes e estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços da farmácia na área hospitalar (FLORES, 2017). 

 Essas diretrizes atendem as farmácias dos hospitais que fazem parte do serviço público, das instituições privadas com ou sem fins lucrativos, inclusive as filantrópicas. A portaria 4283/10 anula a portaria 316/77, que retirava dos hospitais com menos de 200 leitos, a necessidade da contratação de farmacêuticos (BRANDÃO, 2011). 

 Para a criação desta portaria, foi estabelecido o grupo de trabalho que determinou as diretrizes da portaria. O grupo de trabalho contava com membros da Anvisa, Conselho Federal de Farmácia (CFF), SBRAFH, entre outras organizações (Brasil. Ministério da Saúde, Portaria Nº 2.616 de 2010). 

 Dentre as normativas específicas apresentadas na portaria, a gestão é a primeira diretriz abordada. O farmacêutico deve ter como principais objetivos: garantir o abastecimento, dispensação, acesso, controle e rastreabilidade e uso racional de medicamentos e outras tecnologias em saúde; promover práticas clínico-assistenciais que permitem monitorar a utilização de medicamentos e outros; otimizar a relação entre custo, benefício e risco das tecnologias e processos assistenciais; desenvolver ações de assistência farmacêutica, articuladas e sincronizadas com as diretrizes institucionais e participar do aperfeiçoamento contínuo das práticas da equipe de saúde (FLORES, 2017). 

 Essa diretriz sugere ainda que os hospitais provenham estrutura organizacional e infraestrutura física que facilite suas ações, com qualidade, através de modelo de gestão sistêmico, objetivando resultados positivos para o usuário, estabelecimentos e sistemas de saúde, devidamente aferidos por indicadores; utilizar a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do MS como referências para seleção de medicamentos; promover programa de educação para farmacêuticos e auxiliares e a inclusão do farmacêutico nas comissões (SOARES, 2020). 

 Outra diretriz trata do desenvolvimento de ações inseridas na atenção integral à saúde. O farmacêutico deve desenvolver ações assistenciais e técnico-científicas contribuindo para a qualidade e racionalidade do processo de utilização dos medicamentos, bem como, de outros produtos para a saúde e a humanização da atenção ao usuário, assim essa atividade tem a finalidade de contribuir para trabalho multidisciplinar. As atividades que podem ser inseridas: gerenciamento de tecnologias, distribuição e dispensação, manipulação e cuidados aos pacientes (SOARES, 2020). 

 Na diretriz sobre recursos humanos, determina que as farmácias hospitalares devem contar com farmacêuticos e auxiliares em quantidade necessária para o pleno desenvolvimento de suas atividades, sendo considerado a complexidade do hospital, serviços ofertados, grau de informatização e o horário de funcionamento. 

PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO NO AMBIENTE HOSPITALAR 

 De acordo com a  Portaria do Ministério da Saúde 3.916/1998 – Política Nacional de Medicamentos, o profissional farmacêutico é o profissional responsável por realizar a gestão da Farmácia Hospitalar, devendo se preocupar com a qualidade da assistência farmacêutica prestada ao paciente. Além disso, o profissional farmacêutico deve estar atento a todo o ciclo da assistência farmacêutica, desde a seleção até a última etapa, ou seja, a dispensação e utilização de forma racional pelo paciente (OLIVEIRA, 2017). 

Desta forma podemos dizer que a atuação do farmacêutico clínico hospitalar é bastante ampla e com isso, por intermédio de conhecimentos especializados, possui habilidades para realizar diversas habilidades como por exemplo: a administração pública quanto na fabricação e no abastecimento de medicamentos;  atuar na assistência farmacêutica de um modo geral; controle de qualidade de produtos farmacêuticos; na inspeção e avaliação das instalações para fabricação de medicamentos; na garantia da qualidade dos produtos ao longo da cadeia de distribuição; nas agências de aquisição de medicamentos; e nos comitês nacionais e institucionais de seleção de medicamentos (NORA, 2019). 

 Desta forma, é de suma importância que o profissional farmacêutico esteja incluso nas equipes multiprofissionais de cuidados com à saúde. Isso foi claramente evidenciado no enfoque de equipe utilizado na atenção clínica nos hospitais e centros de saúde. 

 Logo, a farmácia clínica propõe-se a prestar serviços farmacêuticos diretamente voltados ao paciente, realizando a intervenção farmacoterapêutica e consequentemente trazendo melhora à saúde e qualidade de vida do mesmo. Ela é responsável também pelo estabelecimento da relação entre o farmacêutico e o paciente, preconizando um trabalho que tem como objetivo prevenir, identificar e resolver os problemas que podem surgir durante o tratamento farmacológico  (FERRACINE, 2010). 

 A farmácia clínica abrange um rol de atividades voltadas para maximizar os efeitos da terapêutica, reduzindo os riscos e os custos do tratamento do paciente. O Farmacêutico clínico trabalha para obter resultados positivos, otimizando a qualidade de vida dos pacientes, considerando ainda as questões  econômicas da terapia (JUNIOR, 2017). 

 A elaboração da atenção farmacêutica ocorre a partir da farmácia clínica, onde o farmacêutica assume responsabilidades inerentes aos pacientes em conjunto com outros profissionais, implementando e monitorando as condutas terapêuticas previamente estabelecidas devendo ocorrer de modo a passar confiança, comunicação e cooperação para que a decisão tomada em conjunto permaneça mantida (NORA, 2019). 

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA HOSPITALAR E CLÍNICA 

 Sabe-se que a farmácia hospitalar, assim como qualquer outro serviço no âmbito hospitalar, deve utilizar métodos de segurança, bem como avaliação dos mesmos, visando à melhoria da qualidade na prestação de serviços. Neste ensejo, segundo Reis et al., (2013) o farmacêutico consegue atuar junto ao corpo clínico e outros profissionais melhorando consideravelmente a assistência prestada, formando, assim, uma equipe multidisciplinar. 

 Conforme defendido por Correr, Otuki e Soler (2011) “a farmácia clínica é o grupo das atividades executadas pelo farmacêutico direcionadas ao utente ou a equipe multidisciplinar de saúde, visando assegurar a efetividade e a eficiência do uso de medicamentos”. Dessa forma, essas atividades são utilizadas em serviços farmacêuticos dentro do ambiente hospitalar (farmácia hospitalar), podendo ser executados em qualquer situação em que haja usuários expostos ao risco do uso de medicamentos (JUNIOR, 2018). 

 Neste mesmo contexto, Freitas et al., (2016) enfatizam que “o farmacêutico desempenha papel vital no manejo da terapia medicamentosa, o que de maneira global, melhora a condição de saúde do paciente”. Dessa maneira, devido o farmacêutico participar da equipe multidisciplinar hospitalar, o mesmo contribui precisamente na terapia farmacológica e da dispensação medicamentosa correta na farmácia. 

 Diante deste contexto, a intervenção farmacêutica pode contribuir positivamente para redução dos problemas relacionados a medicamentos (PRMs), trazendo benefício para o cuidado do paciente. As intervenções relacionadas à dose representam 35% do total das intervenções realizadas, medicamento prescrito sem dose, dose acima ou abaixo do usual, apresentação de dose errada ou indisponível no mercado, demonstrando grande impacto na prevenção de erros de medicação (MIRANDA et al., 2012). 

 Neste sentido, verifica-se que a presença e participação do farmacêutico é de extrema importância na garantia da recuperação da saúde dentro do ambiente hospitalar, uma vez que, o mesmo pode interceptar os erros de administração e dispensação decorrentes da elegibilidade da prescrição médica (MIRANDA et al., 2012).  

No estudo de Galvão et al., (2012) ainda foi possível identificar que os farmacêuticos evitaram a administração de medicamentos contraindicados para os pacientes, erros devido à similaridade dos nomes dos fármacos, transtornos ao paciente devido à retirada de algum tipo de medicamento em que seria necessário o desmame, dentre outros. 

 Para Ferracini et al., (2011) o aumento na segurança aos pacientes em hospitais está associado ao aumento do número de farmacêuticos clínicos e ao serviço de farmácia clínica oferecido a esses pacientes. Uma das formas mais efetivas de redução de erros de medicação em hospitais é ter mais farmacêuticos clínicos e expandir esse trabalho. 

 Neste sentido Pelentir (2015) destaca-se que o farmacêutico é de extrema importância junto à farmácia hospitalar, pois desenvolve atividades fundamentais no que tange ao uso correto e racional de medicamento 

DISCUSSÃO 

 No estudo de Freitas et al., (2016) apontou várias dificuldades relacionadas à mudança de foco da profissão farmacêutica no país, uma vez que, a educação farmacêutica ainda se apresenta como a principal barreira na atualidade, pois, a educação do país tem um enfoque quantitativo e mercantilista, onde formam-se profissionais cada vez mais desqualificados, além disso, estes profissionais não se reconhecem como profissionais de saúde e com baixo nível de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho dos serviços farmacêuticos. 

 Uma limitação que se deve considerar é a de que o farmacêutico clínico não está presente na unidade crítica do hospital em período integral. Os dados demonstram a importância da presença do profissional para garantir a segurança do paciente em sua totalidade e a atuação futura do farmacêutico clínico no Departamento de Emergência com pacientes críticos também (MIRANDA et al., 2012).  De acordo com Galvão et al., (2012) evidenciou que uma das dificuldades do estudo, está relacionada aos erros por medicamento trocado, que correspondem ao envio de um medicamento não prescrito em lugar de um prescrito, e representou um percentual de 7,3% e 16,66%, nos dados levantados. Além disso, os resultados não apontaram o risco de cada medicamento errado causaram ao paciente, bem como, e não apontou qual medicamento apresentou maior frequência de erros na farmácia.  

Os resultados do estudo de Silva et al., (2012) evidenciaram que os erros de prescrição são ocorrências comuns na UTI no hospital que sediou este estudo, trazendo risco potencial aos pacientes, onde os antibióticos sistêmicos foram o grupo de medicação mais relacionado aos erros e a aceitação da intervenção farmacêutica foi alta. 

CONCLUSÃO  

 Nos últimos anos, o farmacêutico desviou sua formação normalmente para o medicamento, abandonando seu objetivo primordial que é a atenção farmacêutica e o cuidado ao paciente. No entanto, no novo modelo de assistência farmacêutica, tornou-se essencial a modificação no perfil do farmacêutico, assumindo uma função indispensável no desenvolvimento da assistência e atenção farmacêutica.  

Este profissional é essencial para garantir o uso racional de fármacos, gerenciar a farmácia hospitalar, elaborar medidas para custo e benefício em compras de medicamentos e materiais, executar a rastreabilidade dos fármacos no hospital, assim como informar sobre os erros de medicação e preveni- los, realizar a assistência farmacêutica e colaborar na segurança dos pacientes, além de, participar de uma equipe multiprofissional.  

Assim sendo, torna-se necessário que o farmacêutico desempenhe mecanismos capazes de garantir ao paciente acesso a assistência farmacêutica integral, buscando resultados  definitivos e melhora na qualidade de vida do paciente, auxiliando-o no processo de melhoria e manutenção da saúde. Desta forma este é o profissional responsável por todo ciclo da assistência farmacêutica e medicamentosa dentro das unidades de saúde bem como por orientar os pacientes  auxiliando na eficácia do tratamento  

 Neste ensejo, torna-se importante frisar que em âmbito hospitalar, o farmacêutico pode atuar desde a gerência pela responsabilidade creditada pelos informantes, pela aquisição, controle e distribuição de medicamentos e material médico-hospitalar, além de auxiliar no diagnóstico clínico. Além disso, o farmacêutico auxilia no cuidado do paciente crítico, em termos de melhorar a segurança e os resultados clínicos. 


REFERÊNCIAS: 

ANDRADE, L. E. L. et al. Cultura de segurança do paciente em três hospitais brasileiros com diferentes tipos de gestão. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, p. 161172, 2018. 

BURMESTER, Haino. Gestão da qualidade hospitalar. Saraiva Educação SA, 2017. 

CAVALLINI, M. E.; BISSON, M. P. Farmácia hospitalar: um enfoque em sistemas de saúde. 2 ed. São Paulo: Manole, 2010 

CRF SP. Farmácia Hospitalar. Disponível em http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/hospitalar.pdf. Acesso em 01 de set. 2022. 

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