REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412041246
Brenda Maeli de Jesus Silva
Jamile do Nascimento de Jesus
Jefferson Machado Gomes
Lucas Silva Moniz Paixão
Orientador(a): Professora Lorena Silva Matos.
RESUMO
A resistência bacteriana aos antibióticos é uma enorme ameaça à saúde pública global, resultando do uso inadequado desses medicamentos, seja pela automedicação, seja por prescrições inadequadas. Esse problema compromete a eficácia dos tratamentos antimicrobianos, elevando os índices de morbimortalidade e os custos em saúde. O objetivo geral deste estudo é as contribuições do farmacêutico na redução da resistência bacteriana. A pesquisa utilizou uma revisão bibliográfica, abrangendo artigos científicos, diretrizes e documentos publicados entre 2015 e 2024 nos bancos de dados SciELO, PubMed e Google Acadêmico. Foram incluídos estudos que abordam a atuação farmacêutica na mitigação da resistência bacteriana, com exclusão de trabalhos que não discutem o tema de forma aprofundada. Os resultados destacam a relevância da atuação farmacêutica na análise de prescrições, educação de pacientes e profissionais, implementação de políticas públicas e participação em programas de vigilância. A conclusão reforça que o farmacêutico é um elemento estratégico no enfrentamento da resistência bacteriana, contribuindo para a sustentabilidade do uso de antimicrobianos e para a saúde coletiva.
Palavras–chave: Resistência bacteriana; Antibióticos; Farmacêutico; Uso racional de medicamentos.
Abstract
Bacterial resistance to antibiotics is a huge threat to global public health, resulting from the inappropriate use of these medicines, whether through self-medication or inappropriate prescriptions. This problem compromises the effectiveness of antimicrobial treatments, increasing morbidity and mortality rates and healthcare costs. The general objective of this study is the pharmacist’s contributions to reducing bacterial resistance. The research used a bibliographic review, covering scientific articles, guidelines and documents published between 2015 and 2024 in the SciELO, PubMed and Google Scholar databases. Studies that address pharmaceutical actions in mitigating bacterial resistance were included, excluding studies that do not discuss the topic in depth. The results highlight the relevance of pharmaceutical activities in the analysis of prescriptions, education of patients and professionals, implementation of public policies and participation in surveillance programs. The conclusion reinforces that the pharmacist is a strategic element in combating bacterial resistance, contributing to the sustainability of the use of antimicrobials and public health
Keywords: Bacterial resistance; Antibiotics; Pharmaceutical; Rational use of medicines
1 Introdução
A resistência bacteriana aos antibióticos é um problema crescente e assustador que ameaça a saúde mundial. Esse fenômeno ocorre principalmente em função do uso inadequado ou abusivo de antibióticos, seja pela automedicação, seja pela prescrição incorreta, e representa um sério risco à efetividade dos tratamentos antimicrobianos. A resistência bacteriana é classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das dez maiores ameaças à saúde pública, demandando ações conjuntas para mitigá-la.
Dentro deste contexto, a atuação do farmacêutico se torna imprescindível, considerando seu papel na orientação, dispensação responsável e instrução aos pacientes para assegurar o uso racional desses medicamentos. Assim, este estudo visa elucidar o seguinte questionamento: Como a atuação do farmacêutico pode contribuir de maneira eficaz para reduzir a resistência bacteriana associada ao mau uso de antibióticos?
Parte-se do pressuposto de que a intervenção do farmacêutico por meio da educação do paciente, da dispensação correta e da promoção ao uso racional de antibióticos é capaz de reduzir significativamente os índices de resistência bacteriana.
Para tanto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar as contribuições do farmacêutico na redução da resistência bacteriana. E os objetivos específicos: identificar as práticas adotadas pelo farmacêutico para garantir a dispensação correta de antibióticos; avaliar o impacto da educação do paciente no uso racional de antibióticos; e explorar estratégias de combate à resistência bacteriana que podem ser implementadas pelo farmacêutico.
A resistência bacteriana é uma das maiores ameaças à saúde pública global e está diretamente relacionada ao uso inadequado de antibióticos. A atuação do farmacêutico é essencial na promoção do uso racional desses medicamentos, na conscientização da população e na colaboração com outros profissionais de saúde para reduzir a resistência bacteriana. Este trabalho é relevante, pois destaca o papel do farmacêutico como um agente chave na mitigação desse problema, contribuindo para a preservação da eficácia dos tratamentos antimicrobianos e para a melhoria da saúde coletiva. Além disso, a análise do papel do farmacêutico no combate à resistência bacteriana pode fornecer subsídios para a criação de políticas públicas e estratégias de intervenção que potencializem essa atuação.
2 Metodologia
Este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica, utilizando artigos científicos, diretrizes e documentos oficiais publicados entre 2015 e 2024. As bases de dados utilizadas incluíram SciELO, PubMed e Google Acadêmico. Foram selecionados artigos em português e inglês que discutem a resistência bacteriana, o uso racional de antibióticos e o papel do farmacêutico na saúde pública.
Os critérios de inclusão abrangeram estudos que relacionam a atuação farmacêutica com a prevenção da resistência bacteriana, enquanto os critérios de exclusão foram artigos sem relevância direta ao tema ou estudos em que a atuação farmacêutica não fosse analisada em profundidade. A pesquisa dos dados foi executada de forma descritiva, pretendendo identificar as principais estratégias e intervenções do farmacêutico no contexto da resistência bacteriana ocasionada pelo uso inadequado de antimicrobianos.
3 Resultados e discussão
A resistência bacteriana é caracterizada como a capacidade de bactérias em sobreviver e proliferar na presença de agentes antimicrobianos que, anteriormente, eram eficazes contra elas. Esse fenômeno resulta da pressão seletiva exercida pelo uso de antibióticos, promovendo a sobrevivência de microrganismos com mecanismos adaptativos específicos, tais como mutações genéticas ou aquisição de genes de resistência por meio de plasmídeos e transposons. Esses mecanismos incluem a produção de enzimas inativadoras, alterações no local de ação do antimicrobiano, redução da permeabilidade celular e ativação de bombas de efluxo (Lima et al., 2017). Esse processo natural, porém acelerado pela intervenção humana, coloca em risco a efetividade dos tratamentos e caracteriza uma ameaça crescente à saúde pública global.
Dentre os fatores que contribuem para o desenvolvimento da resistência bacteriana, destaca-se o uso inadequado de antibióticos. Esse problema inclui tanto a prescrição desnecessária, especialmente em infecções de etiologia viral, quanto a automedicação, prática amplamente difundida em diversos contextos, especialmente em países onde o controle na dispensação desses medicamentos é precário. Além disso, a interrupção precoce de tratamentos antimicrobianos e o uso profilático inadequado também são apontados como fatores significativos para a seleção de cepas resistentes (Teixeira et al., 2019).
O impacto da resistência bacteriana no ambiente hospitalar é especialmente preocupante, uma vez que esses espaços representam cenários de alta pressão seletiva devido ao uso intensivo de antimicrobianos. A contaminação de superfícies em unidades de terapia intensiva (UTIs) e salas de cirurgia, aliada ao controle inadequado de infecções, contribui significativamente para a disseminação de microrganismos resistentes (Dresch et al., 2018). Brixner et al., (2016) destacam que a presença de patógenos resistentes em UTIs está associada ao aumento da morbimortalidade e dos custos hospitalares, configurando-se como um fator crítico para a gestão da saúde.
A automedicação, amplamente praticada em contextos comunitários, também desempenha um papel central na amplificação do problema. A venda indiscriminada de antimicrobianos, frequentemente associada à falta de orientação adequada por parte de profissionais de saúde, favorece o uso inadequado desses medicamentos (Rodrigues et al., 2020). Estudos realizados por Oliveira et al., (2020) mostram que uma parcela significativa da população desconhece os riscos associados ao uso irracional de antibióticos, evidenciando a necessidade de intervenções educativas e de regulação mais rígida na comercialização desses medicamentos.
Os custos econômicos relacionados à resistência bacteriana são alarmantes. Infecções causadas por microrganismos resistentes frequentemente requerem terapias alternativas mais caras, hospitalizações prolongadas e utilização de recursos adicionais para o manejo de complicações, gerando impactos significativos nos sistemas de saúde (Santos; Comarella, 2021). Loureiro et al., (2016) observa que a resistência bacteriana não apenas onera os serviços de saúde, mas também compromete a produtividade econômica em razão de ausências laborais e incapacidades decorrentes de infecções de difícil manejo.
Do ponto de vista clínico, a resistência bacteriana compromete a eficácia de procedimentos médicos críticos, como cirurgias e tratamentos oncológicos, que dependem da prevenção e do manejo efetivo de infecções. Em adição, a emergência de bactérias multirresistentes, como Enterobacteriaceae produtoras de carbapenemases (EPC), coloca em risco pacientes em estados clínicos críticos, aumentando as taxas de letalidade (Loureiro et al., 2016).
As práticas na agropecuária também exercem influência significativa no aumento da resistência bacteriana. A utilização de antibióticos como impulsionadores de crescimento em animais é uma prática comum que contribui para a disseminação de genes de resistência para o meio ambiente e, consequentemente, para a população humana através da cadeia alimentar (Loureiro et al., 2016). Essas práticas reforçam a necessidade de regulamentação internacional para a mitigação do problema.
A disseminação de bactérias resistentes também apresenta implicações significativas para as políticas públicas de saúde, exigindo uma abordagem integrada que inclua vigilância epidemiológica, regulação do uso de antibióticos e promoção de práticas de prescrição e dispensação responsáveis. A implementação de programas de gestão antimicrobiana, como os realizados em hospitais de alta complexidade, tem se mostrado eficaz na redução do uso irracional e na contenção de bactérias resistentes (Simões et al., 2016).
Finalmente, a resistência bacteriana é um problema que demanda uma resposta global coordenada, envolvendo governos, instituições de saúde, indústria farmacêutica e sociedade civil. Estratégias preventivas, como educação comunitária, monitoramento rigoroso e incentivo à pesquisa e desenvolvimento de novos antimicrobianos, são essenciais para conter a progressão do problema (Caldas et al., 2021). Portanto, reconhecer a resistência bacteriana como uma prioridade global é fundamental para proteger a saúde das gerações futuras.
O farmacêutico desempenha um papel estratégico e indispensável no combate à resistência bacteriana, especialmente na promoção do uso racional de antibióticos. Sua atuação envolve atividades que vão desde a dispensação criteriosa de medicamentos, orientação técnica e educativa aos pacientes, até a articulação com outros profissionais de saúde para implementar estratégias eficazes de manejo antimicrobiano. Essa responsabilidade abrange tanto o âmbito comunitário quanto o hospitalar, sendo fundamentada por legislações específicas e diretrizes clínicas que reconhecem a importância do farmacêutico como agente na preservação da eficácia terapêutica e na mitigação de consequências negativas relacionadas ao uso inadequado de antimicrobianos prática (Rodrigues et al., 2020).
A dispensação de antibióticos é uma das principais atribuições do farmacêutico e requer uma análise detalhada da prescrição médica. Esse processo inclui verificar a indicação terapêutica, a adequação da dose, a via de administração e a duração do tratamento, garantindo que esses parâmetros estejam alinhados às características clínicas do paciente e às diretrizes de tratamento baseadas em evidências (Da Silva; Da Paixão, 2021). Além disso, cabe ao farmacêutico identificar potenciais interações medicamentosas e contraindicações que possam comprometer a segurança ou a eficácia do tratamento. Essa análise minuciosa é essencial para prevenir erros de medicação que poderiam favorecer a seleção de bactérias resistentes.
Um aspecto crucial da dispensação é a orientação ao paciente sobre o uso correto do antibiótico. O farmacêutico tem a responsabilidade de garantir que o paciente compreenda a importância de seguir rigorosamente as instruções quanto à posologia, ao intervalo entre doses e à duração do tratamento. Estudos demonstram que pacientes que recebem orientações claras de farmacêuticos apresentam maior adesão ao tratamento e menor probabilidade de interrupção precoce, o que reduz significativamente o risco de resistência bacteriana (Caldas et al., 2021). Além disso, o farmacêutico deve esclarecer dúvidas, desmitificar concepções errôneas sobre o uso de antibióticos e reforçar a necessidade de completar o ciclo terapêutico mesmo após a melhora dos sintomas.
A educação do paciente não se limita à entrega do medicamento. O farmacêutico tem um papel ativo na conscientização da população sobre os riscos associados à automedicação, um dos principais fatores que impulsionam o uso inadequado de antibióticos. A automedicação, especialmente com antibióticos, é frequentemente motivada pela falta de acesso a serviços de saúde ou pelo desconhecimento sobre a gravidade das consequências associadas a essa prática (Rodrigues et al., 2020). Nesse contexto, o farmacêutico atua como um filtro, orientando os pacientes a procurarem assistência médica quando necessário e desestimulando o uso de antimicrobianos sem prescrição.
No âmbito hospitalar, a atuação do farmacêutico clínico ganha complexidade e relevância. Ele desempenha funções cruciais no acompanhamento farmacoterapêutico, garantindo que os antimicrobianos sejam utilizados de forma adequada às características clínicas dos pacientes internados. Isso inclui a análise de dados microbiológicos, como culturas e antibiogramas, para orientar a seleção do antimicrobiano mais apropriado e a avaliação contínua da resposta terapêutica (Simões et al., 2016). Além disso, o farmacêutico colabora na elaboração de protocolos institucionais que padronizam o uso de antibióticos, contribuindo para a redução do uso indiscriminado e a otimização das terapias.
Outro aspecto relevante da atuação farmacêutica é a educação continuada de profissionais de saúde. O farmacêutico desempenha um papel de liderança na capacitação de médicos, enfermeiros e outros membros das equipes de saúde, promovendo boas práticas de prescrição e manejo de antimicrobianos. Essa interação interdisciplinar é fundamental para alinhar as decisões clínicas às diretrizes nacionais e internacionais, evitando práticas inadequadas que possam comprometer a segurança dos pacientes e a eficácia dos tratamentos (Simões et al., 2016). Programas de treinamento liderados por farmacêuticos têm se mostrado eficazes na redução de prescrições desnecessárias e na melhoria da qualidade do cuidado prestado.
O farmacêutico também exerce uma função estratégica na implementação de políticas públicas de saúde voltadas para o controle da resistência bacteriana. Ele é um agente essencial em programas de gestão de antimicrobianos, que visam monitorar e controlar o consumo desses medicamentos em diferentes níveis. Esses programas incluem atividades como a vigilância epidemiológica, a análise de padrões de prescrição e o desenvolvimento de estratégias para o uso racional de antibióticos (Da Silva; Da Paixão, 2021). Além disso, o farmacêutico pode atuar na formulação de políticas institucionais que restringem o acesso a determinados antimicrobianos, garantindo que seu uso seja reservado para situações clínicas específicas.
Como mediador entre o paciente e o médico, o farmacêutico desempenha um papel estratégico na redução da resistência bacteriana. Ele atua como um ponto de triagem em farmácias comunitárias, identificando casos em que os sintomas apresentados pelos pacientes não justificam o uso de antimicrobianos e orientando-os a buscar avaliação médica adequada. Essa mediação é especialmente relevante em contextos onde o acesso ao sistema de saúde é limitado, uma vez que evita o uso desnecessário de antibióticos e reduz a pressão seletiva sobre as bactérias (Rodrigues et al., 2020).
A adesão ao tratamento prescrito é outro desafio enfrentado pelos farmacêuticos, especialmente em casos de infecções prolongadas ou de difícil manejo. Muitos pacientes interrompem o uso de antibióticos antes do término do ciclo terapêutico devido à melhora dos sintomas, ignorando que essa prática contribui para o desenvolvimento de resistência (Teixeira et al., 2019). O farmacêutico, ao reforçar a importância de completar o tratamento, desempenha um papel direto na mitigação desse problema, garantindo que os resultados clínicos sejam alcançados de maneira segura e eficaz.
A resistência bacteriana é um dos grandes desafios da saúde pública contemporânea, exigindo estratégias integradas que envolvam diferentes níveis de atuação. Os farmacêuticos desempenham um papel crucial na implementação de medidas que visam mitigar esse problema, desde a gestão do uso racional de antimicrobianos até a integração em equipes interprofissionais para a formulação de políticas e protocolos clínicos. A atuação farmacêutica é essencial para garantir que os antimicrobianos sejam utilizados de forma eficaz e responsável, protegendo sua eficácia terapêutica e reduzindo os impactos da resistência bacteriana (Simões et al., 2016).
Os programas de vigilância e monitoramento do uso de antimicrobianos são ferramentas fundamentais na luta contra a resistência bacteriana. Nessas iniciativas, os farmacêuticos desempenham um papel técnico central, coletando, analisando e interpretando dados sobre o consumo de antimicrobianos em diferentes contextos, como hospitais e comunidades. Esses dados permitem identificar padrões de uso inadequado, prevalência de microrganismos resistentes e lacunas nas práticas clínicas, possibilitando intervenções direcionadas (Simões et al., 2016). Da Silva e Da Paixão (2021) destacam que a implementação de sistemas de vigilância contribui significativamente para a redução do uso indiscriminado de antibióticos e para o fortalecimento das estratégias de gestão clínica.
A colaboração interprofissional entre farmacêuticos e outros profissionais de saúde é outra estratégia indispensável para combater a resistência bacteriana. Em ambientes hospitalares, por exemplo, o farmacêutico clínico integra equipes multidisciplinares, contribuindo com sua expertise para a escolha de terapias antimicrobianas adequadas e para o ajuste de tratamentos baseados em culturas microbiológicas e antibiogramas. Essa abordagem colaborativa não apenas otimiza os resultados terapêuticos, mas também reduz a pressão seletiva que favorece o surgimento de bactérias resistentes (Caldas et al., 2021). Além disso, o farmacêutico promove a educação continuada de médicos e enfermeiros, fortalecendo a aplicação das melhores práticas em prescrição e manejo de antimicrobianos.
A implementação de políticas públicas e protocolos clínicos também depende significativamente da atuação farmacêutica. Protocolos institucionais que padronizam o uso de antimicrobianos, baseados em evidências científicas e adaptados à realidade local, são instrumentos valiosos para orientar as práticas clínicas e minimizar o uso irracional de antibióticos. O farmacêutico é responsável por liderar ou participar da elaboração e revisão desses protocolos, assegurando que eles sejam tecnicamente robustos e eficazes no controle da resistência bacteriana prática (Rodrigues et al., 2020). Essas iniciativas, quando alinhadas às políticas de saúde pública, potencializam o impacto das estratégias de combate à resistência em larga escala.
Programas de gestão de antimicrobianos (Antimicrobial Stewardship Programs – ASPs) são outra frente em que os farmacêuticos têm protagonismo. Esses programas combinam vigilância, educação e intervenções diretas para racionalizar o uso de antibióticos em instituições de saúde. O farmacêutico lidera a implementação dessas estratégias, garantindo que os antimicrobianos sejam prescritos de acordo com as melhores práticas e que os tratamentos sejam monitorados para evitar ajustes desnecessários ou inadequados (Simões et al., 2016). Simões et al. (2016) destacam que os ASPs têm se mostrado altamente eficazes na redução das taxas de resistência bacteriana e na melhoria dos desfechos clínicos.
Além do ambiente hospitalar, a atuação farmacêutica também é relevante na comunidade, especialmente em farmácias, onde o contato direto com a população possibilita intervenções educativas. O farmacêutico pode promover campanhas de consciencialização sobre o uso racional de antibióticos, enfatizando os riscos da automedicação e da interrupção precoce de tratamentos. Essas iniciativas têm o potencial de transformar comportamentos e criar uma cultura de responsabilidade no uso de antimicrobianos, essencial para conter a disseminação da resistência bacteriana (Rodrigues et al., 2020).
Assim, a participação do farmacêutico na formulação de políticas públicas é um componente estratégico para garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde frente à resistência bacteriana. Sua expertise contribui para o desenvolvimento de regulamentações que limitam o acesso irrestrito a antibióticos, a criação de incentivos para o uso racional desses medicamentos e a promoção de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos antimicrobianos. Como mediador entre a ciência e a prática, o farmacêutico desempenha um papel indispensável na integração de medidas técnicas e políticas que fortalecem as respostas globais à resistência bacteriana (Simões et al., 2016).
Dessa forma, o farmacêutico atua como um pilar essencial nas estratégias de mitigação da resistência bacteriana. Sua participação em programas de vigilância, colaboração interprofissional e implementação de políticas públicas evidencia a amplitude de sua contribuição para a saúde coletiva. Ao combinar sua expertise técnica com ações educativas e políticas, o farmacêutico não apenas enfrenta os desafios atuais da resistência bacteriana, mas também contribui para a preservação da eficácia terapêutica dos antimicrobianos para as gerações futuras.
4 Conclusão
A resistência bacteriana, amplamente intensificada pelo uso inadequado de antibióticos, representa uma ameaça substancial à saúde pública global, demandando intervenções técnicas e estruturais que transcendam abordagens isoladas. Neste cenário, o farmacêutico emerge como um profissional estratégico, articulando competências clínicas, educacionais e regulatórias para mitigar os impactos dessa crise. Este estudo reforçou que a atuação farmacêutica, sustentada por evidências científicas e integrando-se a programas de saúde pública, é indispensável para reduzir o avanço da resistência bacteriana.
A contribuição técnica do farmacêutico na análise e validação de prescrições é um pilar central na promoção do uso racional de antimicrobianos. Essa atuação minimiza erros na seleção, dosagem e duração dos tratamentos, reduzindo a pressão seletiva sobre microrganismos. Além disso, sua interação direta com os pacientes fortalece a adesão terapêutica, combatendo práticas como a interrupção precoce de tratamentos e a automedicação, dois dos principais fatores relacionados à disseminação de bactérias resistentes. Esse impacto positivo é ainda mais acentuado em programas como o Antimicrobial Stewardship, que integram o farmacêutico em equipes interdisciplinares para garantir a eficácia e segurança no uso de antimicrobianos.
No ambiente hospitalar, o farmacêutico clínico desempenha um papel crucial no manejo de infecções, utilizando ferramentas como antibiogramas para orientar intervenções terapêuticas mais precisas. Além disso, sua participação na criação e implementação de protocolos baseados em evidências é um elemento fundamental para a padronização de práticas clínicas, reduzindo variações desnecessárias que comprometem a qualidade do cuidado. Esses esforços são ampliados pela integração do farmacêutico em programas de vigilância epidemiológica, permitindo o monitoramento contínuo do uso de antimicrobianos e a detecção precoce de padrões emergentes de resistência bacteriana.
A contribuição do farmacêutico também se estende à formulação de políticas públicas e regulamentações. Ele desempenha um papel ativo na restrição do acesso indiscriminado a antibióticos, fomentando práticas regulatórias que promovem o uso racional desses medicamentos em nível populacional. Ao mesmo tempo, sua capacidade de liderar iniciativas educacionais voltadas para comunidades e profissionais de saúde é essencial para transformar comportamentos e criar uma cultura de responsabilidade no manejo de antimicrobianos. Essas ações educativas reforçam a conscientização sobre os riscos associados à resistência bacteriana e promovem o alinhamento das práticas às diretrizes nacionais e internacionais.
Dessa forma, a atuação do farmacêutico vai além da simples dispensação de medicamentos, configurando-se como um eixo central no enfrentamento da resistência bacteriana. Seu trabalho técnico e estratégico, articulado com políticas públicas e práticas interprofissionais, não apenas contribui para a mitigação dos impactos da resistência bacteriana, mas também assegura a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Portanto, é imprescindível que o papel do farmacêutico seja continuamente fortalecido e reconhecido, tanto em âmbito clínico quanto na formulação de políticas, garantindo a preservação da eficácia dos antimicrobianos para as próximas gerações e a proteção da saúde coletiva global.
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