O PAPEL DO ENFERMEIRO NA EDUCAÇÃO SEXUAL DE ADOLESCENTES EM UM CONTEXTO ESCOLAR: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10202229


Ana Karolyna de Almeida Ramalho1
Cindy Brunelly Pereira Henrique1
Emily Karoline da Silva Araújo1
Maria Rafaela Pereira Melo1
Maria Rosangela Gomes 1
Wesley Bezerra do Nascimento 2


RESUMO

O período da adolescência é marcado por diversas descobertas. Nesse período, entre os jovens tem-se notado um aumento no número de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), sendo considerado um problema de saúde pública. Por isso, a atuação do enfermeiro no contexto escolar é de suma importância, tendo em vista que este profissional pode contribuir nas ações em saúde, de uma maneira crítica, reflexiva e interdisciplinar de modo a diminuir esses índices.
Analisar o papel do enfermeiro na promoção da educação sexual de adolescentes em ambiente escolar. A realização desse estudo é de extrema importância devido o papel do enfermeiro na atuação de promover educação em saúde nos ambientes escolares.
Trata-se de uma revisão da literatura narrativa e descritiva, realizado através das seguintes bases de dados: PubMed, SciELO, Lilacs, BDENF e ScienceDirect. Para composição da estratégia, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “enfermeiro”, “educação sexual”, “adolescentes” e “escola”. O limite temporal adotado para este estudo foi entre os anos de 2018 a 2023. Após a triagem dos artigos, 20 estudos foram incluídos nesta revisão de literatura. A atuação do enfermeiro no contexto escolar apresenta desafios pela administração e por o tema ainda ser um tabu na sociedade atual. Entretanto, a atuação efetiva do enfermeiro no ambiente acadêmico pode diminuir os índices de contaminação de IST’s e agravos de saúde para essa população, trabalhando estratégias de prevenção e promoção de saúde.
O papel do enfermeiro é atuar na prevenção desses agravos à saúde dos adolescentes e promoção a saúde, principalmente através de rodas de conversas, uso de TIC’s, jogos educativos, avaliação de diagnóstico, e demais atividades criativas, com a finalidade de desmistificar a temática da educação sexual no ambiente escolar.

Palavras-chave: Enfermeiro. Ambiente escolar. Prevenção. Promoção. IST’s.

1. INTRODUÇÃO

A adolescência é caracterizada por ser uma fase de diversas mudanças na vida dos jovens. Dentre essas mudanças, incluem-se alterações físicas, psicológicas, sociais e sexuais, as quais ocorrem com a individualidade de cada ser e o contexto socioeconômico ao qual é pertencente (UNICEF, 2011). De acordo com a Organização Panamericana da Saúde (OPAS), a adolescência inicia-se aos 10 anos e finaliza por volta dos 20 anos, devido este ser um período de descobertas e início da vida sexual é notória a frequência de gravidez na adolescência, bem como de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) (OPAS, 2018). Revelaram aumento de 64,9% das ISTs entre jovens de 15 a 19 anos  e de 74,8% para os de 20 a 24 anos, entre 2009 e 2019.

As ISTs podem ser causadas por bactérias, vírus ou outros microrganismos e podem ser transmitidas por meio de relações sexuais desprotegidas, contato com pele ou mucosa contaminadas, bem como transmissão fetal durante a gestação. Dentre as principais IST’s que acometem jovens, destaca-se a herpes genital, lesões induzidas pelo papiloma vírus humano (HPV), sífilis, clamídia, hepatites virais do tipo B e C e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) (BRASIL, 2022). No Brasil, o Ministério da Saúde após a realização dos módulos da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS), em 2019, demonstra um aumento do número de IST’s entre os adolescentes, tendo um aumento de 64,9% entre os jovens no período de 2009 a 2019 (BRASIL, 2019).

Alguns indivíduos não reconhecem quais os sinais e sintomas que são observados em quadros de IST’s, por esse motivo a procura por um serviço de saúde é tardio, o que pode ocasionar em uma progressão dessas manifestações (BRASIL, 2022). É de sugestão do Ministério da Educação, através da Base Nacional Comum Curricular, que as escolas apresentem conteúdos direcionados à educação sexual, tendo total autonomia para adotar a melhor metodologia para abordar a temática (BRASIL, 2017).

No entanto, devido o tabu sobre a temática ainda persistir nos dias atuais, as escolas apresentam dificuldades para utilizar estratégias para tratar de educação sexual com os adolescentes (JARDIM; BRETAS, 2016). Tais dificuldades estão interligadas ao fato de que na fase adolescente os indivíduos não tem espaço com familiares para tratar do tema e este impasse se estende ao ambiente escolar. Dessa forma, as escolas tem dificuldades de falar sobre educação sexual com os adolescentes e o tema permanece um tabu, seja pela resistência dos pais ou por falta de recursos financeiros (OLIVEIRA, 2014).

Por esse motivo, foi implementado o Programa Saúde na Escola (PSE), o qual tem o objetivo de utilizar a equipe da atenção básica no ambiente escolar para promover o bem-estar aos indivíduos, de maneira a tratar diversas temáticas por meio de ações em saúde como estratégias de prevenção e promoção, incluindo a educação sexual. O PSE utiliza estratégias para integração e articulação entre as políticas e ações de educação e saúde, tendo como participantes a comunidade escolar, equipes da atenção básica e educação (BRASIL, 2015).

Nessa perspectiva, a atuação do enfermeiro no contexto escolar é de suma importância, tendo em vista que este profissional pode contribuir nas ações em saúde, de uma maneira crítica, reflexiva e interdisciplinar. Assim, o enfermeiro pode utilizar diversas estratégias para atingir o objetivo da educação sexual, fazendo com que o adolescente fique à vontade para tirar as dúvidas e receber informações baseadas em evidência científica, como exemplo dessas estratégias podem ser adotadas caixas de dúvidas, jogos e rodas de debates (BRASIL, 2015).

No entanto, vale ressaltar que a realização das atividades é dependente da criatividade do profissional de enfermagem, bem como pela capacidade de adaptar-se ao ambiente escolar em questão, assim, promovendo uma educação sexual de qualidade. De acordo com Oliveira (2014), a importância de discutir a sexualidade na adolescência permite cultivar hábitos mais saudáveis, esclarecer dúvidas e tratar de assuntos relacionados à sua saúde.

Ademais, o enfermeiro está apto a atuar por meio de práticas assistenciais e educativas com profissionais da saúde e professores no ambiente escolar para atuar no controle de ISTs, prevenir gravidez precoce e outras necessidades dos adolescentes. Outro papel importante do enfermeiro é estar apto a ministrar aulas reunindo conhecimentos científicos e técnicos para atender as questões relacionadas à saúde, orientando os adolescentes sobre as mudanças no seu corpo e outros aspectos (OLIVEIRA, 2014).

Segundo Azevedo e Costa (2021), é de suma importância que o enfermeiro debata com os adolescentes temáticas como: IST’s, gravidez, saúde sexual, estereótipos midiáticos, relacionamentos e conceitos de sexualidade. Tais temas devem ser tratados de modo que provoque nos indivíduos o desenvolvimento de um pensamento crítico a respeito problemática.

É de extrema importância abordar a temática da educação sexual nas escolas, uma vez que ainda é considerada um tabu na sociedade atual. A falta de informação sobre o assunto pode levar a consequências desastrosas na vida dos adolescentes, tornando-se um problema educacional e de saúde pública. A falta de orientação pode contribuir para o aumento da contração de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), gravidez na adolescência e, em muitos casos, levar as adolescentes grávidas a recorrerem a clínicas clandestinas para realizarem abortos, o que pode resultar em graves complicações em sua saúde.

É notório a necessidade de enfrentar esse tema tabu na sociedade e o ambiente escolar é um local adequado para tratar o assunto de educação sexual com os adolescentes. Entretanto, apesar da importância e da gravidade do assunto, ainda é possível observar a presença de profissionais nas escolas que não estão devidamente capacitados para abordar a temática com os alunos, não tem conhecimento adequado de quais estratégias devem utilizar e nem uma orientação adequada por um profissional da área da saúde.

Por esse motivo, é de suma importância a presença do enfermeiro no contexto escolar, com a finalidade de promover uma educação em saúde de qualidade para os adolescentes, bem como capacitar os professores sobre a maneira ideal de trabalhar o assunto com esse grupo e fazer com que deixe de ser um tabu na sociedade. Assim, a presença do enfermeiro nesse contexto irá contribuir para a prevenção de problemas relacionado à saúde sexual dos adolescentes.

Sendo assim, o presente estudo segue os pressupostos das seguintes questões norteadoras: qual o papel do enfermeiro no que diz respeito à educação sexual no contexto escolar; quais as estratégias podem ser adotadas por este profissional para redução dos índices de IST’s e gravidez na adolescência, como também sua eficiência para tratar a temática de forma coerente.

O objetivo geral desse estudo é analisar o papel do enfermeiro na promoção da educação sexual de adolescentes em ambiente escolar, visando à prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e da gravidez precoce. Como objetivos específicos definem-se:  Caracterizar as áreas de atuação do enfermeiro para promover a educação sexual no contexto escolar, incluindo a abordagem de aspectos biopsicossociais da sexualidade; Identificar e descrever as estratégias eficazes que podem ser adotadas pelo enfermeiro para intensificar a promoção da educação sexual, considerando as necessidades e peculiaridades dos adolescentes; Enfatizar os riscos das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e da gravidez precoce, evidenciando a importância da educação sexual como meio de prevenção e promoção da saúde dos adolescentes.

2. METODOLOGIA

O referido estudo trata-se de uma revisão da literatura narrativa e descritiva, baseado principalmente em levantamento bibliográfico, assim, a escolha desse tipo de estudo se deu pelo intuito de descrever e discutir o papel do enfermeiro na educação sexual de adolescentes. O percurso metodológico segue os pressupostos descritos por Gil (2017), os quais são divididos em cinco etapas: 1) identificação do tema; 2) busca nas bases de dados; 3) fichamento e análise dos artigos, nesta etapa será realizada uma síntese dos principais achados; 4) discussão dos resultados; 5) apresentação da revisão da literatura.

Para o desenvolvimento desse estudo, foram feitas buscas nas bases de dados eletrônicas: PubMed, SciELO, Lilacs, Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e ScienceDirect. Para composição da estratégia, foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “enfermeiro”, “educação sexual”, “adolescentes” e “escola”. A fim de refinar a busca, foram aplicados os operadores booleanos AND e OR para filtragem dos artigos relacionados ao tema escolhido. Tais estratégias foram adotadas para garantir maior abrangência e recuperação dos estudos nas bases de dados.

Como critérios de inclusão, foram selecionados artigos por meio do idioma inglês e português, com limite temporal estabelecido entre os anos de 2018 a 2023 para obter uma atualização sobre o tema, estudos originais, revisões e ensaios clínicos que contemplem sobre o papel do enfermeiro frente a educação sexual em ambientes escolares, estratégias e práticas adotadas, bem como a capacidade de adaptação para tratar da temática com cada grupo estudantil. Como avaliação da qualidade e relevância dos estudos, foram incluídos aqueles que tratem de forma adequado o papel do profissional de enfermagem na educação sexual de adolescentes, que relatavam estratégias a serem adotas por esses profissionais para diminuir a problemática. Foram excluídos do presente estudo todos os trabalhos que não apresentem integração entre os objetivos propostos por essa pesquisa e/ou forem redundantes. O processo de busca e identificação da pesquisa, encontra-se a seguir na figura 1.

Figura 1. Fluxograma do percurso da pesquisa bibliográfica.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa na base de dados da PubMed resultou em 41 artigos, na SciELO 135, na Lilacs 117, BDENF 12 e ScienceDirect 754. Após esse quantitativo, o total de 1.039 artigos foram excluídos após as seguintes etapas de aplicação dos critérios de inclusão, leitura do título, leitura dos resumos e leitura do artigo na íntegra. Do total de artigos resultantes da busca bibliográfica, poucos foram os que responderam à questão norteadora deste estudo, resultando em uma amostra final de 20 artigos.

Após a elegibilidade dos estudos, para realizar o levantamento dos dados adquiridos durante a presente pesquisa de revisão da literatura, foi construído um corpus da pesquisa, o qual contém as seguintes informações a respeito dos estudos incluídos: autor, ano de publicação, título do artigo e resultados obtidos. A tabela 1 do corpus de análise da pesquisa está representada a seguir:

Tabela 1. Autores, ano de publicação, título do artigo e objetivos propostos dos trabalhos selecionados para este estudo.

AUTOR, ANO.TÍTULO DO ARTIGORESULTADOS
PAVELOVÁ et al., 2021.A Necessidade de Intervenções do Enfermeiro na Educação Sexual em AdolescentesO estudo contou com uma amostra de 438 adolescentes de 12 a 15 anos. O estudo evidenciou que os adolescentes recebiam informações sobre sexualidade dos pais e amigos. Assim, muitos assuntos eles não tinham conhecimento, mostrando a importância de o enfermeiro atuar na educação sexual no ambiente escolar.
  PRADO et al., 2023.Tipo de Educação Sexual na Infância e Adolescência: Influência na Experimentação, Risco e Satisfação Sexual dos Jovens: A Necessidade de Estabelecer a Escola de Enfermagem como PilarEsse estudo contou com uma amostra de 675 adolescentes. Foi evidenciado que a principal fonte de educação utilizada pelos jovens foi a pornografia (29,3%) e a internet (12,4%). Tal fato, implica no não repasse adequado das informações aos jovens.
LEE, 2020.Os comportamentos sexuais de risco de alunos do ensino médio de acordo com os níveis de colocação de enfermeiras escolares na CoréiaEsse estudo mostrou uma divergência da atuação do enfermeiro no ambiente escolar, variando de 37,9% a 114,8% por região. Essa disparidade implica no comportamento sexual dos jovens e uso de álcool e drogas ilícitas.
SMITH et al., 2020.Um exame em nível estadual das percepções das enfermeiras escolares sobre a disponibilidade de preservativos acompanhada de educação sexualO estudo mostra que os enfermeiros estão aptos a tratar da temática de educação sexual e distribuição de preservativos. Entretanto, existem barreiras para este trabalho, como administração, familiares, custos e apoio da comunidade.
GUIMARÃES; CABRAL, 2022.Pedagogias da sexualidade: discursos, práticas e (des)encontros na atenção integral à saúde de adolescentes.Ao analisar as práticas realizadas em unidades básicas de saúde e no PSE, o estudo evidenciou que as intervenções eram centradas na responsabilização individual de meninas sobre a gravidez na adolescência; outras temáticas relevantes não eram tratadas adequadamente.
RIVERA et al., 2022.Prevenção da violência sexual na escola da Costa Rica: adaptação transcultural de cartilha educativaEstudo realizado com 61 adolescentes entre 10 e 13 anos. O estudo mostrou que cerca de 55% dos adolescentes acreditam que a cartilha precisa de melhorias. O papel do enfermeiro é educar através de ferramentas científicas e que facilite o ensino e aprendizagem. Nesse caso, atuaria simplificando e expondo a cartilha em programas de educação em saúde.
MOLINA et al., 2020.Qualidade da educação sexual recebida no contexto escolar e sua associação com comportamentos sexuais em adolescentes chilenos, segundo dados da VIII Pesquisa Nacional da Juventude.O estudo realizado com adolescentes de 15 a 19 anos, a investigação mostrou que 21,83% teve uma avaliação ruim, 44,16% regular e 34,01% boa. Isso destaca que a educação sexual no ambiente escolar ainda não é tratada da forma que deveria.
SILVA et al., 2022.Nível de conhecimento de adolescentes sobre a infecção pelo HIV: Uma relação com autocuidado e comportamentos de risco.Estudo realizados com 273 estudantes de instituições públicas de ensino no Brasil. Esse estudo mostrou que os adolescentes tem conhecimento sobre os riscos de exposição ao HIV. Entretanto, relata a necessidade do uso de metodologias interativas como ferramentas de educação permanente em saúde.
FERNANDES et al., 2020.Produção Científica de Enfermagem sobre Gravidez na Adolescência: Uma Revisão IntegrativaA revisão de literatura mostrou que a gravidez na adolescência está fortemente associada à pobreza, questões socioeconômicas, comunicação sobre educação sexual e aspectos culturais. Destaca que a presença do enfermeiro realizando intervenções envolvendo educação sexual é uma alternativa para diminuição da problemática.
RIOS et al., 2023.O Programa Saúde na Escola como ferramenta para a construção da educação sexual na adolescência: um relato de experiênciaO relato mostra que os estudantes não tem constrangimento para tratar do tema. No entanto, ainda apresentam dúvidas acerca de transmissão das ISTs, o que contribui para o aumento das doenças. Relata ainda a importância do enfermeiro no PSE atuando na linha de frente na prevenção.
PAIVA et al., 2021.Sexualidade e infecções sexualmente transmissíveis: análise da formação de alunos da área da saúdeAo investigar a formação dos profissionais da saúde, o estudo mostrou que ainda há lacunas na formação desses profissionais. Assim, é necessária uma atenção maior na temática da sexualidade e ISTs na graduação, com a finalidade de promover uma educação em saúde adequada.
RIBEIRO et al., 2019.A gravidez na adolescência e os métodos contraceptivos: a gestação e o impacto do conhecimentoO estudo mostrou que os fatores socioeconômicos e culturais têm muita influência sobre a gravidez na adolescência. A atuação do enfermeiro no programa da Estratégia da Saúde da Família é fundamental como agente articulador do meio.
SANTOS; FREITAS; FREITAS, 2019.Roteiros de sexualidade construídos por enfermeiros e a interface com a atenção em infecções sexualmente transmissíveis/HIVFoi observado que os roteiros são marcados por estereótipos e resultam em obstáculos nas práticas de prevenção. Assim, é necessária uma intensificação da formação dos profissionais.
FRANCO et al., 2020.Educação em saúde sexual e reprodutiva do adolescente escolarO relato de experiência mostrou que os adolescentes tem uma deficiência de conhecimento a respeito da saúde sexual e reprodutiva.
MEDRONHEIRA, 2020.Promoção da saúde em meio escolar: o enfermeiro e a educação para a sexualidade de adolescentesRelata alternativas para o enfermeiro atuar de forma efetiva na promoção de saúde a adolescentes, enfatizando o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
ERMITÃO, 2020.Promoção da saúde nos adolescentes: a educação sexual em contexto escolarAo realizar um diagnóstico de situação, o estudo mostrou que a maioria (80%) dos adolescentes responderam adequadamente os questionamentos sobre educação sexual.
KIM; HUN; YOO, 2023.Implementação de educação em saúde reprodutiva em uma cidade filipina: um estudo de casoO estudo mostrou controvérsias de conhecimento por localização, assim, mostrando que o ensino e treinamento sobre conceitos de educação em saúde reprodutiva devem ser ampliados.
PIVATTI; OSIS; LOPES, 2019.“O uso de estratégias educativas para promoção de conhecimentos, atitudes e práticas contraceptivas entre adolescentes – Um ensaio clínico randomizado”O estudo realizou duas intervenções educativas, fez mapeamento das questões antes e depois e mostrou que as intervenções foram efetivas pelo índice de acerto.
ACHORA et al., 2018.Percepções de adolescentes e professores sobre educação sexual escolar em escolas primárias rurais em UgandaO estudo evidencia a importância da educação sexual para adolescentes e o nível de conhecimento dos professores. Entretanto, a implementação de programas encontra barreiras.
LI et al., 2022.A dosagem na implementação de um programa de saúde escolar eficaz afeta os comportamentos e experiências de risco à saúde dos jovensEnfatiza a implementação de atividades de educação sexual para aumentar e a segurança dos adolescentes no ambiente escolar.

Após a análise dos estudos, é possível observar que ainda há uma escassez de relatos ativos sobre o papel do enfermeiro no ambiente escolar no que diz respeito à educação sexual de adolescentes. O enfermeiro possui diversas atribuições que podem contribuir significativamente para a prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e outros agravos à saúde durante a adolescência. Portanto, é fundamental destacar a relevância da atuação desse profissional no contexto escolar.

A ocorrência de ISTs e outros problemas de saúde durante a adolescência está intrinsecamente ligada a fatores sociais, como pobreza e aspectos culturais. Esses fatores socioeconômicos e culturais exercem uma influência significativa na gravidez na adolescência e na disseminação das ISTs. Esta constatação sugere que, muitas vezes, a atuação do enfermeiro no ambiente escolar não é executada de maneira adequada e eficaz (RIBEIRO et al., 2019; FERNANDES et al., 2020).

Essa falta de cobertura completa dos ambientes escolares por enfermeiros pode resultar em sérias consequências para a saúde dos adolescentes, pois a disparidade na atuação por regiões específicas tem impacto direto no comportamento sexual dos jovens, bem como no consumo de álcool e drogas ilícitas (LEE, 2020; KIM; HUN; YOO, 2023).

O estudo realizado por Franco et al. (2020) durante a aplicação de ações de educação sexual e reprodutiva com adolescentes revelou que esses indivíduos possuem lacunas significativas no conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva. Esse déficit de conhecimento pode ser atribuído, em parte, ao fato de que, na maioria das vezes, o tema da educação sexual é considerado tabu pelos pais e não é discutido abertamente em casa. Além disso, nos ambientes escolares, muitas vezes, esse tópico não recebe a devida atenção e é tratado por profissionais não qualificados.

Outro fator que contribui para a falta de conhecimento adequado é que, na maioria das vezes, os adolescentes recebem informações de fontes não confiáveis e não qualificadas. Prado et al. (2023) evidenciaram, em um estudo com 675 adolescentes, que, quando se trata de informações sobre educação sexual, os participantes recorrem a fontes como pornografia (29,3%) e a internet (12,4%). Essa tendência de buscar informações em fontes não confiáveis tem um impacto direto na qualidade dos conhecimentos adquiridos pelos jovens.

Além disso, Pavelova et al. (2021), em uma análise envolvendo adolescentes de 12 a 15 anos, constataram que a maioria dos entrevistados recebia informações sobre educação sexual de seus pais e amigos. No entanto, mesmo quando havia alguma orientação por parte dos pais e amigos, os adolescentes ainda apresentavam déficits de conhecimento em relação a determinados temas, como o uso de métodos contraceptivos e as ISTs.

A atuação do enfermeiro diante dessas situações é de importância fundamental, pois por meio de programas como o Programa Saúde na Escola (PSE), é possível estabelecer metas de ações de prevenção e promoção para mudar esse cenário (LI et al., 2022). No entanto, ainda são observados impasses que dificultam a eficiência da atuação do enfermeiro, tais como questões administrativas, familiares, custos e apoio da comunidade (ACHORA et al., 2018; SMITH et al., 2020).

Ao tratar de programas escolares direcionados à educação sexual ativa, também é necessário considerar a qualidade das informações transmitidas. Alguns profissionais, ao abordarem a temática, concentram suas ações na responsabilização individual das meninas em relação à gravidez na adolescência, negligenciando outras questões relevantes para meninos e para ambos os grupos (MOLINA et al., 2022; GUIMARÃES; CABRAL, 2022).

Além disso, é essencial que todos os materiais utilizados nessas ações, como banners, cartilhas e afins, sejam adaptados de acordo com a linguagem, o contexto e o público-alvo. Dessa forma, o enfermeiro pode personalizar as cartilhas distribuídas pelos órgãos públicos de acordo com as necessidades específicas, com o objetivo de tornar as ações mais eficazes (RIVERA et al., 2022).

Outra questão discutida atualmente é se os adolescentes estão preparados em termos de maturidade para abordar o assunto da educação sexual. O estudo de Rios et al. (2023) relata que, durante ações do PSE, os adolescentes não demonstraram constrangimento ao tratar do tema. Isso sugere que as ações do PSE, quando conduzidas por enfermeiros, vêm desmistificando o tema da educação sexual e diminuindo o tabu existente na sociedade em relação a essa discussão.

A promoção de saúde no ambiente escolar desempenha um papel fundamental na melhoria e na redução dos agravos à saúde dos adolescentes. Após a realização de atividades de promoção da saúde e diagnóstico situacional no ambiente escolar com adolescentes, Ermitão (2020) observou que cerca de 80% dos indivíduos avaliados responderam corretamente às questões sobre educação sexual. Esses resultados indicam a eficácia do papel do enfermeiro na disseminação de informações adequadas.

Associado à globalização e à atualização dos meios de comunicação, uma das estratégias que o enfermeiro pode adotar para trabalhar a educação sexual no ambiente escolar é o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Estudos, como o de Medronheira (2020), relatam a eficácia das ações de promoção e prevenção em saúde realizadas pelo enfermeiro no ambiente escolar. Entre as TICs que podem ser aplicadas nessas ações, destacam-se a utilização de websites, aplicativos, jogos e vídeos interativos. Nesse sentido, Silva et al. (2022) ressaltam a importância das metodologias interativas como ferramentas de educação permanente em saúde.

Uma das abordagens que o enfermeiro pode adotar durante as ações educativas é a avaliação antes e depois das intervenções. Essa avaliação pré e pós-atividades consiste na aplicação de um questionário sobre a temática de educação sexual antes e após a ação. Os adolescentes respondem às perguntas de acordo com os conhecimentos adquiridos durante a atividade. Estudos, como o de Pivatti, Osis e Lopes (2019), demonstram a eficácia desse método para a promoção de comportamentos saudáveis e práticas contraceptivas entre adolescentes.

Para que as ações de educação sexual sejam verdadeiramente eficazes, é essencial que o profissional de enfermagem esteja devidamente capacitado e atualizado para conduzi-las. No entanto, foi observado no estudo de Paiva et al. (2021) que ainda existem lacunas na formação dos estudantes da área da saúde em relação aos temas de sexualidade e ISTs. Portanto, é de suma importância que, desde a graduação e durante os estágios obrigatórios, os estudantes de enfermagem busquem adquirir conhecimentos e métodos para realizar ações de prevenção e promoção da educação sexual de adolescentes no ambiente escolar (SANTOS; FREITAS; FREITAS, 2019).

Nessa perspectiva, fica evidente que o enfermeiro desempenha um papel crucial no ambiente acadêmico ao abordar a temática da educação sexual. No entanto, esse profissional ainda encontra diversos obstáculos que dificultam sua atuação, sejam eles de natureza administrativa e logística, ou devido à resistência da sociedade em discutir abertamente a educação sexual. Este estudo evidencia que a atuação no enfermeiro no ambiente escolar pode reduzir os níveis de IST’s na adolescência e contribuir na difusão de conhecimentos técnicos/científicos, assim, fazendo com que essa temática deixe de ser um tabu na sociedade atual.

Mesmo com a tamanha importância da temática, ainda são encontradas limitações sobre a atuação no enfermeiro no ambiente escolar na literatura. Durante esta revisão narrativa, foi possível observar lacunas na literatura, tais como: estudos que não exploraram totalmente as opções que o enfermeiro pode atuar no contexto escolar, a escuta aos adolescentes não sendo uma das atividades primordiais e estudos datados mais antigos. Por isso, é crucial que enfermeiros busquem e investiguem mais a temática a fim de conhecer novas estratégias que possam contribuir para prevenção e promoção a saúde de adolescentes no contexto escolar.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, está revisão da literatura destaca a significativa importância do papel do enfermeiro na educação sexual de adolescentes dentro do ambiente escolar. A atuação do enfermeiro desempenha um papel vital na promoção da saúde dos adolescentes, contribuindo para a redução de agravos de saúde, como a transmissão de ISTs, e para a desmistificação da temática da educação sexual.

Os resultados desta revisão ressaltam que as práticas do enfermeiro no contexto acadêmico podem incluir a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para ações preventivas e promocionais, a criação de espaços de diálogo, como caixas de dúvidas e rodas de debates, o desenvolvimento de jogos educativos, e a aplicação de questionários para avaliar o conhecimento dos adolescentes. Além disso, o enfermeiro desempenha um papel essencial na capacitação dos professores para abordar a educação sexual de forma eficaz.

Através da implementação de práticas assistenciais e educativas, o enfermeiro atua como agente de mudança no controle de ISTs e na promoção de uma compreensão saudável da sexualidade entre os adolescentes. Sua atuação deve ser pautada na crítica, na reflexão e na interdisciplinaridade, visando proporcionar um ambiente escolar mais informado e empoderador.

Por fim, está revisão abre caminho para futuras pesquisas que possam explorar ainda mais o impacto da educação sexual ministrada por enfermeiros e as melhores práticas para fortalecer a capacidade dos enfermeiros de desempenhar esse papel de forma eficaz. O compromisso contínuo com a educação sexual dos adolescentes é fundamental para a promoção da saúde e o bem-estar dessa população.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista – UNIP, Campus Garanhuns-PE. Emails: karollalmeida123321@gmail.com
brunellycindy@hotmail.com
karolinemily.22@icloud.com
rafaela.melo0217@hotmail.com
rosangelagomes2104@gmail.com

2Docente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Paulista – UNIP, Campus Garanhuns-PE. Especialista em Infectologia. e-mail: wesleubza@gmail.com