O PAPEL DO ENFERMEIRO NA APLICABILIDADE DO PROTOCOLO DE MANCHESTER NA EMERGÊNCIA OBSTÉTRICA

THE ROLE OF THE NURSE IN THE APPLICABILITY OF THE MANCHESTER PROTOCOL IN OBSTETRIC EMERGENCY

EL PAPEL DE LA ENFERMERA EN LA APLICABILIDAD DEL PROTOCOLO DE MANCHESTER EN EMERGENCIA OBSTÉTRICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202503081110


Amanda Barbosa Monteiro Vasques Pereira1
Andréia Nunes de Barros Pacheco2
Gabriella Forte de Mendonça3
Letícia Rodrigues Mendes4


RESUMO

Este artigo aborda a crescente demanda por serviços de urgência e a necessidade de sistemas de triagem, como o Protocolo de Manchester, que proporciona um atendimento equitativo e seguro. O estudo foca na atuação do enfermeiro nesse processo, destacando sua importância na avaliação ágil e precisa do estado clínico dos pacientes, especialmente nas emergências obstétricas, na qual a classificação de risco é essencial para priorizar gestantes em condições críticas, promovendo um atendimento rápido e eficaz para preservar e garantir a saúde da mãe e do bebê. O método utilizado neste estudo é a revisão sistemática da literatura, que se baseia na análise de materiais científicos já publicados, como livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos, sem realizar investigação empírica. A pesquisa utiliza fontes secundárias, diferenciando-se da pesquisa documental que se apoia em fontes primárias. A pesquisa focou em palavras-chave relacionadas à classificação de risco e mortalidade materno-infantil. Após identificar mais de 58 artigos, foi realizada uma triagem para excluir aqueles que não eram relevantes, resultando na seleção de 23 artigos que fundamentaram o desenvolvimento do estudo. A pesquisa constatou que os enfermeiros são essenciais na aplicação do Protocolo Manchester na obstetrícia, garantindo a identificação precoce de complicações e a priorização do atendimento, o que melhora a segurança materno-fetal. Apesar dos benefícios, a complexidade dos casos exige mais pesquisas sobre desafios e estratégias de capacitação, contribuindo para o aprimoramento das práticas e das políticas de assistência emergencial obstétrica.

Palavras-chave: Classificação de risco, mortalidade materno infantil, Manchester, emergência obstétrica, urgência e emergência, triagem na urgência e emergência, classificação de risco na obstetrícia

ABSTRACT

This article addresses the growing demand for emergency services and the need for triage systems, such as the Manchester Protocol, which provide equitable and safe care. The study focuses on the role of nurses in this process, highlighting their importance in the rapid and accurate assessment of the clinical status of patients, especially in obstetric emergencies, in which risk classification is essential to prioritize pregnant women in critical conditions, promoting rapid and effective care to preserve and guarantee the health of the mother and baby. The method used in this study is a systematic literature review, which is based on the analysis of previously published scientific materials, such as books, theses, dissertations and academic articles, without conducting empirical investigation. The research uses secondary sources, unlike documentary research that relies on primary sources. The research focused on keywords related to risk classification and maternal and child mortality. After identifying more than 58 articles, a screening was performed to exclude those that were not relevant, resulting in the selection of 23 articles that supported the development of the study. The research found that nurses are essential in implementing the Manchester Protocol in obstetrics, ensuring early identification of complications and prioritization of care, which improves maternal and fetal safety. Despite the benefits, the complexity of the cases requires more research on challenges and training strategies, contributing to the improvement of obstetric emergency care practices and policies.

Keywords: Risk classification, maternal and child mortality, Manchester, obstetric emergency, urgency and emergency, triage in urgency and emergency, risk classification in obstetrics.

RESUMEN

Este artículo aborda la creciente demanda de servicios de emergencia y la necesidad de sistemas de triaje, como el Protocolo de Manchester, que brinden una atención equitativa y segura. El estudio se centra en el papel de las enfermeras en este proceso, destacando su importancia en la evaluación rápida y precisa del estado clínico de las pacientes, especialmente en las emergencias obstétricas, en las que la clasificación de riesgo es fundamental para priorizar a las embarazadas en estado crítico, promoviendo una atención rápida y eficaz para preservar y garantizar la salud de la madre y del bebé. El método utilizado en este estudio es la revisión sistemática de la literatura, la cual se basa en el análisis de materiales científicos ya publicados, como libros, tesis, disertaciones y artículos académicos, sin realizar investigación empírica. La investigación utiliza fuentes secundarias, a diferencia de la investigación documental que se basa en fuentes primarias. La investigación se centró en palabras clave relacionadas con la mortalidad materna e infantil y la clasificación de riesgos. Luego de identificar más de 58 artículos, se realizó una selección para excluir aquellos que no eran relevantes, dando como resultado la selección de 23 artículos que apoyaron el desarrollo del estudio. La investigación encontró que las enfermeras son esenciales en la implementación del Protocolo Manchester en obstetricia, garantizando la identificación temprana de complicaciones y la priorización de la atención, lo que mejora la seguridad materno-fetal. A pesar de los beneficios, la complejidad de los casos requiere más investigación sobre desafíos y estrategias de capacitación, contribuyendo a la mejora de las prácticas y políticas de atención de emergencias obstétricas.

Palabras clave: Clasificación de riesgo, mortalidad materna e infantil, Manchester, emergencia obstétrica, urgencia y emergencia, triaje en urgencia y emergencia, clasificación de riesgo en obstetricia.

1 INTRODUÇÃO

A demanda por serviços de urgência tem crescido ao longo das últimas décadas, tornando necessária a otimização da assistência. Como resposta, foram desenvolvidos sistemas de triagem para determinar a prioridade clínica de cada paciente que aguarda atendimento, com o objetivo de garantir um acesso mais equitativo e seguro (GUEDES, 2024).

Existem vários sistemas de classificação de risco utilizados ao redor do mundo para triagem de pacientes em serviços de emergência, dentre eles o Protocolo de Manchester que é um sistema de triagem de pacientes criado na Inglaterra em 1994. No Brasil, sua primeira implementação ocorreu em 2008, no estado de Minas Gerais. Esse protocolo tem como principal finalidade classificar a gravidade dos casos e definir a prioridade no atendimento em unidades de emergência. A categorização é realizada por meio de uma escala de núcleos, que representa o nível de urgência do paciente. Esse método foi desenvolvido por um grupo de médicos e enfermeiros pertencentes a hospitais da cidade de Manchester, com o objetivo de tornar o processo de triagem mais eficiente e garantir um atendimento mais justo e organizado para todos os tipos de demanda (MACKWAY-JONES, MARSDEN; WINDLE, 2006).

Segundo Silva e Santos (2024) a triagem e a classificação de risco são fundamentais para estruturar e definir a prioridade no atendimento em unidades de urgência e emergência. O enfermeiro, ao exercer essas funções, têm um papel essencial, realizando uma avaliação ágil e precisa do estado clínico dos pacientes. Esse processo é necessário para a distribuição eficiente dos recursos hospitalares e para garantir um atendimento adequado.

Dentre as urgências e emergências atendidas no serviço hospitalar, a demanda por emergências obstétricas em atendimentos de pronto socorro é um aspecto crítico do sistema de saúde, visto que muitas dessas condições bloqueiam uma resposta rápida e eficaz para prevenir complicações graves ou até mesmo a morte da mãe ou do bebê. No contexto de unidades de emergência, a demanda por emergências obstétricas é influenciada por diversos fatores, incluindo o número de gestantes, as condições pré-existentes das pacientes e as complicações inesperadas durante o trabalho de parto.

A classificação de risco de emergência obstétrica é uma ferramenta essencial para organizar o atendimento de gestantes em unidades de urgência e emergência. Ela tem como objetivo priorizar os casos de acordo com a gravidade da situação, garantindo que as gestantes com condições de risco sejam atendidas de maneira rápida e eficaz, o que é crucial para a saúde da mãe e do bebê. A classificação de risco é vital para uma gestão eficaz do atendimento, pois garante que os recursos médicos e de enfermagem sejam alocados de acordo com a gravidade das condições. Além disso, ajuda a reduzir o tempo de espera para aqueles que serão convocados para intervenção imediata e organizar o fluxo de pacientes dentro das unidades de emergência (BRASIL, 2017).

Com o propósito de ampliar as discussões acerca da atuação do enfermeiro nos sistemas de classificação de risco do Protocolo de Manchester, foi realizado este estudo com o objetivo de analisar as evidências disponíveis na literatura sobre as atividades do enfermeiro na classificação de risco nos serviços de urgência obstétrica e seu impacto na natalidade materno infantil.

Ampliar os estudos sobre a classificação de risco na emergência obstétrica é de extrema importância, pois permite aprimorar o manejo das complicações que podem surgir durante a gestação, o parto e o pós-parto, melhorando significativamente os desenvolvimentos maternos e neonatais. Com a crescente demanda por serviços de saúde, especialmente em contextos com alta taxa de mortalidade materna e infantil, entender o papel do enfermeiro na priorização correta dos casos de emergência obstétrica influencia a eficácia do atendimento, garantindo que as gestantes com risco elevado recebam cuidados imediatos, seguros e igualitários.

O Brasil registrou um aumento significativo na mortalidade materna e infantil nos últimos anos, com variações regionais acentuadas e desafios persistentes na assistência obstétrica, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes para a redução desses índices (OLIVEIRA et al., 2024).

Ademais, esse estudo pode ajudar a identificar lacunas nos processos de atendimento, como falhas na alocação de recursos e na capacitação de profissionais. A pesquisa sobre esse tema poderá auxiliar também na base para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias de saúde voltadas à redução das taxas de mortalidade, promovendo avanços no sistema de saúde e na segurança obstétrica.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Urgência e Emergência     

O atendimento a situações de urgência e emergência representa um dos serviços fundamentais do sistema de saúde, garantindo assistência rápida e eficaz a pacientes em estado crítico. No Brasil, a demanda por esses serviços tem crescido significativamente nas últimas décadas, impulsionada por fatores como o aumento da população, a urbanização acelerada, o envelhecimento populacional e o crescimento da violência urbana e dos acidentes de trânsito (SANTOS; LIMA, 2023). Esse cenário impõe desafios para a gestão dos serviços de urgência, exigindo a otimização dos fluxos de atendimento e a adoção de estratégias para garantir uma assistência equitativa e resolutiva.

Diante dessa realidade, foram rompidas políticas públicas e iniciativas como a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), a estruturação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e a adoção de protocolos de rastreamento para classificação de risco, que permitem priorizar o atendimento de acordo com a gravidade clínica do paciente (BRASIL, 2009). No entanto, a sobrecarga dos serviços, a insuficiência de recursos humanos e estruturais e a fragmentação do cuidado ainda são desafios persistentes (SANTOS; LIMA, 2023).

Diante do aumento da demanda por serviços de urgência e emergência no Brasil, impulsionado por fatores sociodemográficos e estruturais, fica evidente a necessidade de aprimoramento contínuo do sistema de saúde. Embora políticas públicas como o SAMU e as UPAs tenham representado avanços na organização do atendimento, a persistência de desafios como a sobrecarga dos serviços, a escassez de recursos e a fragmentação do cuidado apontam para a urgência de novas estratégias. Investimentos em infraestrutura, capacitação profissional e integração entre os níveis de atenção são fundamentais para garantir um atendimento mais ágil, equitativo e resolutivo, contribuindo para a melhoria dos indicadores de saúde e para a redução da morbimortalidade em situações de emergência.

2.2 Urgência e Emergência Obstétrica

Souza, Silva e Andrade (2021) destacam em seu estudo que as urgências e emergências obstétricas representam um grande desafio para os sistemas de saúde, uma vez que envolvem riscos significativos para a vida da gestante e do bebê. Complicações como hemorragia pós-parto, eclâmpsia, ruptura uterina e sofrimento fetal exigem procedimentos rápidos e eficazes para reduzir a morbimortalidade materna e neonatal.

No Brasil, apesar dos avanços nas políticas públicas externas à atenção materno-infantil, a mortalidade materna ainda é um problema preocupante, muitas vezes associado à demora no reconhecimento dos sinais de gravidade e ao acesso tardio aos serviços especializados (BRASIL, 2020).

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), para garantir um atendimento adequado nessas situações, é fundamental a capacitação contínua dos profissionais de saúde e a implementação de protocolos baseados em evidências científicas. O aprimoramento das redes de atenção obstétrica e a estruturação de unidades de referência para casos graves são estratégias essenciais para minimizar os riscos e garantir a segurança da mãe e do recém-nascido.

A redução da morbimortalidade materna e neonatal no Brasil exige um compromisso contínuo com a qualificação da assistência. A implementação de protocolos baseados em evidências, a capacitação dos profissionais de saúde e o fortalecimento das redes de atenção obstétrica são estratégias fundamentais para garantir um atendimento ágil e eficaz. Além disso, a melhoria no acesso a serviços especializados pode minimizar os riscos associados ao reconhecimento tardio das complicações. Assim, para avançar na segurança materno-infantil, é essencial que políticas públicas sejam continuamente aprimoradas, assegurando um cuidado integral e de qualidade para gestantes e recém-nascidos.

2.3 Classificação de Risco

A crescente demanda por serviços de urgência e emergência tem exigido estratégias que garantam um atendimento mais eficiente e seguro para os pacientes. Nesse contexto, a classificação de risco surge como um processo fundamental para priorizar o atendimento com base na gravidade clínica e na necessidade imediata de intervenção, e não apenas na ordem de chegada (BRASIL, 2009).

Segundo o Ministério da saúde (BRASIL, 2009) o processo de classificação de risco permite que os profissionais de saúde identifiquem rapidamente os pacientes que apresentam risco iminente de vida, separando-os de casos por gravidade. No Brasil, a classificação de risco é amplamente utilizada, permitindo que os pacientes sejam classificados em diferentes níveis de prioridade, desde urgência extrema até situações não urgentes.

A implementação eficaz da classificação de risco contribui para a redução da mortalidade e morbidade, além de melhorar a qualidade da assistência prestada. A sistematização desse processo é fundamental para otimizar o fluxo de atendimento e proporcionar um atendimento mais seguro e eficiente para todos os pacientes, especialmente em cenários de alta demanda (SOUZA; ALMEIDA, 2019).

A classificação de risco é um processo fundamental para avaliar e priorizar a gravidade clínica de um paciente, auxiliando na tomada de decisões e na disponibilização de recursos. No setor da saúde, por exemplo, a triagem de pacientes em serviços de urgência utiliza escalas de risco para determinar a ordem de atendimento com base na gravidade do quadro clínico, contribuindo para uma gestão mais eficiente e um atendimento mais seguro.

2.4 Protocolo Manchester

O Protocolo de Manchester é uma ferramenta fundamental utilizada para o rastreamento de pacientes nos serviços de urgência e emergência, com o objetivo de priorizar os atendimentos conforme a gravidade dos quadros clínicos. Esse sistema foi desenvolvido no Reino Unido e é amplamente adotado em diversos países, incluindo o Brasil, para organizar o fluxo de atendimento e reduzir o tempo de espera, principalmente em situações de alta demanda. O protocolo classifica os pacientes em cinco níveis de risco, com núcleos que representam a urgência, variando de Vermelho: Emergência, atendimento imediato, Laranja: Muito urgente, atendimento em até 10 minutos, Amarelo: Urgente, atendimento em até 60 minutos, Verde: Pouco urgente, atendimento em até 120 minutos e Azul: Não urgente, atendimento em até 240 minutos (MACKWAY-JONES, MARSDEN; WINDLE, 2014).

O Protocolo de Manchester foi desenvolvido pelo Manchester Triage Group e começou a ser utilizado nos serviços de emergência do Reino Unido a partir de 1996 e no Brasil em 2008.

Em Minas Gerais, o Sistema de Triagem de Manchester foi implementado como política pública em 2008, sendo um dos pioneiros no Brasil. Esse sistema se destaca por não depender de suposições diagnósticas, mas sim pela reclamação apresentada pelo paciente, já que a urgência do atendimento nem sempre está relacionada a um diagnóstico específico.

O Grupo Brasileiro de Acolhimento com Classificação de Risco, criado em 2006, é o responsável oficial pela implementação do protocolo no Brasil, com autorização do Manchester Triage Group e do British Medical Journal, que detém os direitos autorais do protocolo. Além disso, o Grupo Português de Triagem recebeu a devida licença para realizar a tradução do protocolo para o português.

O Sistema de Classificação de Manchester é composto por 55 fluxogramas, que abordam diferentes problemas de saúde: dentre eles existem exclusivos para crianças, específicos para situações de catástrofe e gestante. A versão original, lançada em 1997, passou por modificações, e uma nova edição foi publicada em 2016 (MACKWAY-JONES, MARSDEN; WINDLE, 2014) 

Conforme apresentado por Mackway-Jones, Marsden e Windle (2014) os fluxogramas do Sistema de Classificação de Manchester incluem discriminadores gerais e específicos. Discriminadores são sinais e sintomas utilizados para determinar as prioridades de atendimento. Os discriminadores gerais são aplicáveis ​​a todos os pacientes, independentemente das condições que apresentem, e são características comuns nos fluxogramas. Entre esses, destacam-se: risco de morte, dor, hemorragia, nível de consciência, temperatura e agravamento do quadro. Já os discriminadores específicos são direcionados a casos individuais ou grupos restritos de apresentações, geralmente relacionados a características específicas de condições particulares.

De acordo com Mackway-Jones, Marsden e Windle (2014) a definição da prioridade clínica envolve a coleta de informações suficientes para classificar o paciente em uma das cinco categorias, além de estabelecer o tempo máximo para a avaliação médica. A categoria final – azul, que indica “não urgente” – pode exigir mais detalhes sobre as necessidades do paciente e ser influenciada por fatores externos, como o horário de chegada ao serviço de emergência, bem como a disponibilidade da equipe e de leitos.

2.5 Protocolo Manchester na Obstetrícia

A classificação de risco na emergência obstétrica é essencial para garantir que gestantes em situações críticas recebam atendimento imediato e adequado, o que contribui diretamente para a redução da mortalidade materna e infantil. A triagem eficiente prioritária para pacientes com complicações graves, como hemorragias, eclâmpsia e parto prematuro, possibilitando uma intervenção rápida e a alocação correta de recursos. Esse processo diminui o tempo de espera e melhora o manejo das condições obstétricas. Além disso, a classificação permite monitoramento contínuo de gestantes com fatores de risco, promovendo melhores avanços clínicos. Ao melhorar os cuidados, o rastreamento é uma ferramenta vital para a segurança tanto da mãe quanto do bebê (CUNNINGHAM et al., 2014).

A obstetrícia, para lidar com situações de risco elevado, exige um rastreamento eficiente que permite identificar, com precisão, as mulheres grávidas que precisam de atendimento imediato, no Brasil o sistema de triagem para gestantes funciona de acordo com a realidade de cada unidade hospitalar, podendo encontrar sistemas de classificações específicas criadas pela unidade hospitalar, o Manual de Acolhimento e Classificação de Risco em Obstetrícia do Ministério da Saúde e o Protocolo de Manchester.

A implementação do Protocolo de Manchester tem se mostrado eficaz na categorização da gravidade das condições obstétricas, auxiliando os profissionais da saúde a priorizar os casos mais críticos e, assim, reduzir o tempo de espera para as gestantes que necessitam de intervenção rápida (MACKWAY-JONES, MARSDEN; WINDLE, 2014).

Conforme apresentado por Mackway-Jones, Marsden e Windle (2014) o Protocolo de Manchester disponibiliza, dentro dos seus 55 fluxogramas, 1 específico para gravidez com 36 discriminadores que percorrem dentro das prioridades clínicas (vermelho, laranja, amarelo, verde e azul). Alguns fluxogramas têm em seus discriminadores a “gestação possível” pertencendo a prioridade clínica amarela (atendimento em 60 minutos), garantindo o atendimento adequado e a segurança no atendimento.

2.6 O Papel do Enfermeiro na Aplicabilidade da Classificação de Risco

No contexto atual, marcado pela crescente demanda por atendimentos emergenciais e pela complexidade dos casos apresentados, a correta implementação dos protocolos de triagem revela-se indispensável. Estudos indicam que a adoção sistemática desses instrumentos, aliada a uma formação contínua dos profissionais de saúde, pode reduzir os tempos de espera e melhorar os desfechos clínicos. Assim, compreender o papel da classificação de risco torna-se fundamental para o aprimoramento dos processos assistenciais, permitindo intervenções mais ágeis e eficazes.

A classificação de risco é um elemento crucial na organização do atendimento em serviços de urgência e emergência, pois permite identificar rapidamente pacientes que necessitam de intervenção imediata e direcionar os recursos de forma eficiente. Essa prática requer habilidades de avaliação clínica, interpretação de sinais vitais e tomada de decisão rápida, competências que fazem parte da formação e da prática diária do enfermeiro (SILVA; PANCERA; CIVIDINI, 2021).

O enfermeiro, devido à sua ampla formação em cuidados clínicos e à experiência adquirida em ambientes de alta complexidade, está especialmente capacitado para realizar a triagem utilizando protocolos padronizados, como o Protocolo de Manchester. Segundo Carmo e Souza (2018), a atuação do enfermeiro na triagem permite uma identificação precoce de sinais de gravidade, contribuindo para a redução dos tempos de espera e melhorando os desfechos clínicos dos pacientes. Da mesma forma, Silva e Santos (2024) destacam que a realização da classificação de risco por enfermeiros especializados é fundamental para assegurar que o atendimento emergencial seja realizado de forma adequada, pois esses profissionais são treinados para avaliar de maneira criteriosa e dinâmica o estado dos pacientes.

Portanto, a responsabilidade do enfermeiro na classificação de risco justifica-se por sua capacidade de integrar conhecimentos teóricos e práticos, assegurando uma triagem eficaz e o encaminhamento correto dos pacientes, o que, por sua vez, melhora a eficiência do serviço e a segurança do paciente.

3 METODOLOGIA

A revisão bibliográfica baseia-se na consulta e análise de materiais científicos já publicados, como livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos, sem a necessidade de investigação direta sobre assuntos empíricos. Dessa forma, esse tipo de pesquisa utiliza fontes secundárias, ou seja, estudos e reflexões de outros autores sobre o tema em questão. Isso se distingue da pesquisa documental, que se apoia em fontes primárias, ainda não submetidas a um tratamento científico sistemático (GIL, 2008; LAKATOS; MARCONI, 2017). 

O estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, revisão bibliográfica, onde foram consultadas as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), US National Library of Medicine (PubMed) e o portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), no período de janeiro a março de 2025.

As estratégias de busca foram customizadas conforme as especificidades de cada base de dados. Para a base SciELO e portal BVS, foram utilizados descritores oriundos dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), enquanto para o PubMed foram empregados os termos equivalentes do Medical Subject Heading (MeSH). Para o portal BVS foi incluído, especificamente, o filtro relativo à triagem de artigos. 

Foram utilizadas as palavras chave: Classificação de risco, mortalidade materno infantil, Manchester, emergência obstétrica, urgência e emergência, triagem na urgência e emergência, classificação de risco na obstetrícia.

Quanto aos critérios de inclusão das publicações, consideramos; tipo de estudo, artigos que apresentaram estudos empíricos, revisões sistemáticas ou meta-análises sobre triagem em serviços de urgência, especialmente relacionados ao Protocolo de Manchester; população, Estudos que incluam pacientes em unidades de emergência, com foco especial em emergências obstétricas e a atuação de enfermeiros; ano de publicação, publicados a partir de 2008, ano em que o Protocolo de Manchester foi implementado no Brasil, para garantir a relevância temporal; o idioma, publicações em português ou inglês, para facilitar a compreensão e análise dos dados; o foco no atendimento, pesquisas que abordam a importância da triagem e classificação de risco na melhoria do atendimento e na redução de complicações em emergências obstétricas.  

Em nossa busca foi possível identificar mais de 53 artigos relacionados ao objeto de estudo, porém foi necessário fazer uma triagem entre eles pois muitos não traziam as bases relevantes para desenvolver este estudo, sendo assim foram excluídos. A partir da triagem foi possível selecionar 22 artigos que vinham de encontro ao objetivo desta pesquisa, e a partir desses referenciais foi possível compor a construção e desenvolvimento deste estudo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A classificação de risco tem se consolidado como uma estratégia essencial para a organização dos serviços de urgência e emergência, permitindo identificar e priorizar pacientes conforme a gravidade de seus quadros clínicos. Baseada em protocolos padronizados, como o Protocolo Manchester, essa ferramenta não apenas organiza o fluxo assistencial, mas também contribui significativamente para a segurança do paciente, a otimização dos recursos disponíveis e a redução de eventos adversos (ALBINO; GROSSEMAN; RIGGENBACH, 2007).

Segundo Salazar e Avellaneda (2024), entre os profissionais envolvidos na aplicabilidade da Classificação de Risco, o enfermeiro desempenha um papel central, atuando na avaliação inicial, identificação de sinais de agravamento e na decisão de encaminhamento, o que contribui significativamente para a segurança do paciente e a eficiência do atendimento.

A atuação do enfermeiro vai além da simples aplicação técnica do protocolo; envolve a capacidade de integrar conhecimentos clínicos, habilidades de comunicação e tomada de decisão rápida, essenciais para a dinâmica dos serviços de emergência, bem como a organização do atendimento e o acolhimento humanizado dos pacientes (FEITOSA et al., 2024). 

Estudos apontam que a implementação correta do Protocolo de Manchester, aliada a um treinamento contínuo dos profissionais, pode reduzir os tempos de espera e otimizar os recursos disponíveis, promovendo melhorias na qualidade do atendimento e na organização dos fluxos assistenciais.

Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo discutir a aplicabilidade do Protocolo Manchester, enfatizando a importância da atuação do enfermeiro nesse processo e propondo reflexões acerca das estratégias de formação e integração interprofissional necessárias para aprimorar a prática clínica em ambientes de urgência 

A aplicabilidade do Protocolo Manchester na obstetrícia evidencia a importância da atuação do enfermeiro na identificação precoce de complicações e na otimização do atendimento emergencial para gestantes. 

A triagem por meio do Protocolo Manchester é uma estratégia padronizada que tem como objetivo classificar a gravidade dos casos e priorizar o atendimento de acordo com a condição clínica apresentada. Na obstetrícia, a aplicação do protocolo demanda uma abordagem diferenciada, pois os sinais e sintomas avaliados podem indicar complicações específicas, ou até mesmo a investigação de sintomas comuns no estado gravídico, por exemplo, cefaleia, náuseas, vômitos e visão turva, que podem camuflar situações clínicas demandando ação rápida, implicando na intrínseca necessidade de escuta qualificada e capacidade de julgamento clínico preciso e rápido, para prevenção de parto prematuro e outras condições de risco que ameaçam tanto a mãe quanto o feto (FIGUEIROA et al., 2017). 

Nesse cenário, o enfermeiro assume um papel central. Devido à sua formação abrangente e à experiência prática em ambientes de alta complexidade, o enfermeiro deve ser capacitado para realizar uma avaliação clínica detalhada na classificação de risco obstétrica, que vai além da simples aplicação mecânica do protocolo. Ele deve receber aprimoramento profissional continuamente para avaliação adequada dos sinais vitais e dos sintomas específicos da obstetrícia, e assim estar apto a identificar rapidamente situações críticas (NARDI et al., 2024). Essa atuação possibilita a mobilização imediata de uma equipe multidisciplinar, contribuindo para a implementação de medidas que podem evitar desfechos adversos.

Além disso, a complexidade dos quadros obstétricos exige que os profissionais de saúde se mantenham atualizados e capacitados para adaptar os critérios do Protocolo Manchester às particularidades da gestação e do pós-parto. Estudos apontam que a capacitação contínua e o treinamento direcionado para a triagem em obstetrícia são fundamentais para reduzir os tempos de espera e melhorar os desfechos clínicos, especialmente em serviços de emergência (COSTA et al., 2018). Assim, a expertise do enfermeiro em identificar alterações sutis e em reagir de forma rápida e assertiva torna-se indispensável para a eficácia do protocolo e para a segurança da mãe e do feto.

A análise da aplicabilidade do Protocolo Manchester na obstetrícia evidencia que o papel do enfermeiro vai além da mera classificação de risco. Sua capacidade de integrar conhecimentos teóricos e práticos, aliada à habilidade de tomar decisões rápidas e precisas, é crucial para a identificação precoce de complicações obstétricas e para a melhoria dos fluxos assistenciais em ambientes de urgência. Dessa forma, investir na formação e no treinamento especializado desses profissionais é uma estratégia essencial para a promoção da saúde materno-infantil e para a redução da morbimortalidade.

5 CONCLUSÃO

Em conclusão, o papel do enfermeiro na aplicabilidade do Protocolo Manchester na obstetrícia é fundamental para a identificação precoce de complicações e para a priorização adequada do atendimento emergencial, contribuindo significativamente para a segurança da mãe e do feto. A capacidade do enfermeiro de integrar conhecimentos clínicos com uma avaliação criteriosa permite uma intervenção rápida e eficaz, reduzindo potenciais riscos e melhorando os desfechos clínicos.

Entretanto, a complexidade dos quadros obstétricos e a dinâmica dos serviços de urgência ressaltam a necessidade de mais estudos que aprofundem essa temática, investigando tanto os desafios quanto às estratégias para a capacitação contínua desses profissionais. Investigações futuras serão essenciais para embasar práticas mais assertivas e para orientar políticas públicas que promovam a excelência na assistência emergencial obstétrica.

REFERÊNCIAS

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1Mestre em Ciências da Saúde, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil, E-mail: abmvp5@gmail.com;
2Especialista em Qualidade e Segurança do Paciente, Fundação Oswaldo Cruz, São Paulo, SP – Brasil, E-mail: andreia2509pacheco@gmail.com;
3Especialista em Obstetrícia, Centro de Ensino Superior de Ilhéus, Ipiaú, BA – Brasil, E-mail: nursegabyusa@gmail.com;
4Especialista Centro Cirúrgico e Central de Material Esterilizado, Unyleya Educacional, Rio de Janeiro, RJ –  Brasil, E-mail: leticiasg18@gmail.com