THE ROLE OF THE DENTIST IN THE HOSPITAL SETTING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505272016
Vanuza da Silva Teixeira1
Graça Maria Lopes Mattos2
Resumo
A atuação do Cirurgião-dentista em hospitais abrange diversas frentes, incluindo a avaliação e o diagnóstico de condições bucais, a realização de higiene bucal especializada, o tratamento de lesões e infecções, a capacitação da equipe multidisciplinar e a participação na elaboração de protocolos de prevenção de infecções. O presente estudo apresenta uma revisão de literatura abrangente que investigou o papel do Cirurgião-dentista no ambiente hospitalar. Foram realizadas pesquisas nas plataformas LILACS, SciELO, Google Scholar e PubMed usando os descritores: “Cirurgião-Dentista”, “Equipe Hospitalar de Odontologia” e “Equipe de Assistência ao Paciente”. Foram selecionados 18 artigos científicos publicados no período de 2014 a 2024. A pesquisa revelou que a presença do Cirurgião-dentista é indispensável para garantir a saúde integral dos pacientes, transcendendo a mera realização de higiene bucal. Também destacou a importância da interdisciplinaridade na odontologia hospitalar, pois a inclusão do Cirurgião-dentista nas equipes de UTI e unidades de internação médica, como previsto em legislações específicas, é essencial para garantir a qualidade do atendimento e a segurança do paciente. Apesar dos avanços no reconhecimento da odontologia hospitalar no Brasil, ainda existem desafios a serem superados. A conscientização dos gestores de saúde sobre a importância da presença do Cirurgião-dentista em hospitais é fundamental para garantir a integralidade do cuidado. A capacitação dos profissionais de saúde e a implementação de protocolos de higiene bucal são essenciais para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.
Palavras-chave: Odontologia Hospitalar. Cirurgião-dentista. Equipes multidisciplinares.
1. INTRODUÇÃO
O ambiente hospitalar é um local de alta complexidade, onde a atuação dos profissionais de saúde deve ser integrada para assegurar um atendimento eficaz e seguro. Dentro desse contexto percebe-se que a relação entre a saúde bucal e o bem-estar geral do paciente está cada vez mais evidente, principalmente em indivíduos imunocomprometidos ou em estado crítico (BRASIL, 2018).
A Odontologia Hospitalar (OH) é uma especialidade em ascensão que visa integrar o Cirurgião-dentista (CD) às equipes multiprofissionais para garantir essa abordagem mais abrangente na assistência ao paciente hospitalizado, pois a presença desse profissional é fundamental para a promoção da saúde bucal, prevenção e tratamento de infecções orais que podem impactar a recuperação de pacientes internados (SILVA, et al, 2017).
A presença do CD na unidade de terapia intensiva (UTI), por exemplo, reduz a incidência de complicações pulmonares relacionadas à ventilação mecânica, destacando a importância de protocolos de higiene oral no hospital (ARANEGA, et al. 2012).
Embora diversos estudos apontem os benefícios da inserção do CD no ambiente hospitalar, essa prática ainda não está amplamente consolidada. A literatura existente demonstra que a maior parte dos hospitais não conta com esse profissional em seu quadro funcional, limitando as possibilidades de prevenção e tratamento de agravos bucais em pacientes internados (SANTOS, et al., 2021). Além disso, observa-se uma lacuna na formação acadêmica em relação à OH, dificultando a expansão dessa especialidade.
Os avanços na área incluem a ampliação do reconhecimento da necessidade desse profissional nos hospitais e a implementação de programas de OH em algumas instituições de referência. No entanto, há desafios significativos, como a falta de regulamentação específica em alguns países e a necessidade de políticas públicas que incentivem a inclusão do Cirurgião-dentista nas equipes multiprofissionais (SOUZA; NASCIMENTO & YAMASHITA, 2023).
Diante desse cenário, este estudo se justifica pela necessidade de consolidar a importância da OH e contribuir para o debate sobre sua regulamentação e expansão, isto porque a falta de atendimento odontológico principalmente nas UTIs associada às condições dos pacientes internados em leitos colaboram para a proliferação de fungos e bactérias na cavidade oral desses pacientes e consequentemente o surgimento de infecções hospitalares, principalmente respiratórias (LOPES & BARCELOS, 2022).
Assim, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre o papel do CD no ambiente hospitalar, analisando sua importância, os desafios de sua inserção e os impactos positivos de sua atuação. A partir dessa análise, busca-se fornecer subsídios para a ampliação do debate sobre a necessidade de sua presença nos hospitais, contribuindo para o aprimoramento dos serviços de saúde e para a promoção de uma assistência mais integral aos pacientes.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Saúde Bucal e Saúde Geral
A saúde bucal está diretamente relacionada ao bem-estar e à qualidade de vida dos indivíduos. No entanto, sua importância muitas vezes é negligenciada, especialmente em pacientes hospitalizados, que podem apresentar dificuldades na manutenção da higiene oral. Segundo Lima et al. (2017), o cuidado odontológico com protocolos adequados deve ser integrado ao tratamento hospitalar, visto que uma cavidade oral saudável contribui para a recuperação geral do paciente. Além disso, diversas condições sistêmicas podem ser agravadas por problemas bucais, o que justifica a necessidade de uma atenção especial a esse aspecto da saúde. Brasil (2018).
A microbiota bucal desempenha um papel fundamental na manutenção da homeostase do organismo, sendo composta por uma diversidade de microrganismos que podem atuar tanto de maneira benéfica quanto patogênica. Kim et al. (2018). Quando há um desequilíbrio nesse ambiente, podem ocorrer complicações que afetam não apenas a cavidade oral, mas também outros sistemas do corpo humano. Estudos apontam que a presença de biofilme descontrolado pode levar a processos infecciosos graves, incluindo pneumonias e infecções hospitalares. Costalonga & Herzberg (2014).
A quebra do equilíbrio da microbiota bucal pode resultar na proliferação de microrganismos patogênicos, tornando-se um fator de risco para o desenvolvimento de infecções oportunistas. Terai et al. (2015). Assim, a manutenção da higiene bucal é essencial para prevenir complicações sistêmicas, principalmente em pacientes imunocomprometidos ou em internação prolongada. Silva et al. (2017).
2.2. Desafios da Odontologia Hospitalar no Brasil
A Odontologia Hospitalar no Brasil enfrenta desafios multifacetados que impactam diretamente a qualidade da assistência prestada aos pacientes. A falta de reconhecimento da importância da saúde bucal no contexto hospitalar, a escassez de profissionais especializados e a ausência de protocolos padronizados de atendimento são alguns dos obstáculos que dificultam a implementação efetiva dessa área da Odontologia. Gomes & Castelo (2019).
A necessidade de investimentos em infraestrutura e equipamentos específicos para a Odontologia Hospitalar também se destaca como um desafio significativo. A adaptação dos ambientes hospitalares para a realização de procedimentos odontológicos, a aquisição de materiais e instrumentos adequados e a garantia da biossegurança são aspectos que demandam recursos financeiros e planejamento estratégico. Mauri et al. (2021). Além disso, a formação de profissionais capacitados para atuar nesse contexto exige a criação de programas de residência e especialização que abordam as particularidades do atendimento odontológico em pacientes hospitalizados.
A superação desses desafios requer um esforço conjunto de profissionais, gestores e órgãos reguladores. A conscientização sobre a importância da Odontologia Hospitalar, a elaboração de diretrizes e protocolos de atendimento, a criação de programas de formação e a alocação de recursos adequados são medidas essenciais para garantir a qualidade e a segurança da assistência odontológica em ambiente hospitalar no Brasil. Aranega, et al. (2012).
2.3 Odontologia Hospitalar e a Atuação do Cirurgião-Dentista
A inserção da Odontologia no ambiente hospitalar é relativamente recente, mas tem se mostrado essencial para a promoção da saúde integral dos pacientes. A prática odontológica hospitalar teve suas primeiras iniciativas documentadas no início do século XX, nos Estados Unidos, com a criação de departamentos odontológicos em hospitais gerais. Miranda, et al. (2016).
No Brasil, essa especialidade começou a ganhar mais reconhecimento nos últimos anos, com o CD sendo integrado às equipes multiprofissionais para atuar tanto na prevenção quanto no tratamento de afecções bucais que podem comprometer a saúde geral do paciente. Souza; Nascimento & Yamashita (2023).
Os profissionais da odontologia hospitalar desempenham um papel crucial na avaliação, prevenção e controle de infecções bucais que podem agravar condições clínicas pré-existentes. De acordo com Queiroz Silva, et al. (2021), a presença do CD nos hospitais pode reduzir significativamente o risco de complicações sistêmicas, além de otimizar a recuperação do paciente ao minimizar focos de infecção.
Dessa forma, a atuação integrada entre odontologia e demais especialidades médicas se torna essencial para um atendimento mais completo e eficaz de pacientes internados, bem como uma resposta qualitativa para parentes que anseiam pela melhora do quadro clínico de seus entes queridos. Soares, et al. (2023).
Entretanto, a odontologia hospitalar ainda enfrenta desafios, como a falta de infraestrutura adequada e a ausência de um número suficiente de profissionais especializados na área (Varjão et al., 2021). A capacitação é um ponto importante a ser observado. Além disso, muitas instituições hospitalares ainda não possuem protocolos estabelecidos para a atuação do CD, dificultando sua efetiva participação na equipe multiprofissional.
2.4. O Papel do Cirurgião-Dentista no Ambiente Hospitalar
O Código de Ética Odontológico prevê que o CD pode atuar em hospitais tanto como consultor de saúde bucal quanto como prestador de serviços diretos aos pacientes internados. Rocha; Travassos & Da Rocha (2021). Sua presença se justifica pelo impacto positivo que sua atuação tem na redução de infecções e na melhora do quadro clínico geral dos pacientes, especialmente aqueles em estado crítico.
A inclusão do CD na equipe hospitalar visa não apenas a prevenção de doenças, mas também o suporte em tratamentos de emergência e a orientação de outros profissionais de saúde sobre a importância da higiene bucal (Gomes; Castelo, 2019). Dessa forma, sua atuação se estende desde a avaliação e o tratamento de infecções orais até o acompanhamento pós-operatório de pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos.
No entanto, mesmo com a inserção do CD no ambiente hospitalar e com a incorporação desse profissional na equipe multidisciplinar e com a Resolução CFO-262/2024 que reconhece a Odontologia Hospitalar como Especialidade Odontológica (Brasil, 2024), ainda sim, estudos reforçam a necessidade de uma abordagem integrada da saúde, na qual a odontologia desempenha um papel crucial na manutenção do equilíbrio sistêmico do paciente.
2.5. A Odontologia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
A presença do CD na UTI é fundamental para garantir melhores prognósticos e reduzir o risco de infecções respiratórias, como a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). Estudos apontam que a falta de higiene oral adequada em pacientes entubados contribui significativamente para a colonização da cavidade oral por patógenos respiratórios, favorecendo complicações pulmonares. Blum et al. (2018).
Indivíduos internados em UTIs geralmente apresentam um nível reduzido de consciência e mobilidade limitada, o que impede a realização de uma higiene bucal eficaz. Lima et al. (2017) ressaltam que a aspiração de secreções contaminadas pode ser um dos principais fatores para o desenvolvimento de infecções nosocomiais nesses pacientes. Portanto, estratégias como a introdução de protocolos específicos para a higiene oral na UTI são indispensáveis para minimizar esses riscos.
Além da prevenção de infecções, a atuação do cirurgião-dentista nesse ambiente hospitalar contribui para o conforto e o bem-estar dos pacientes, reduzindo a incidência de lesões orais decorrentes da ventilação mecânica, como úlceras e candidíase oral. Sestario, et al. (2024). Dessa forma, a inclusão desse profissional na equipe multiprofissional é essencial para garantir um atendimento mais humanizado e eficaz dentro da UTI.
3. METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma análise exploratória não-sistemática da literatura científica. A coleta de dados foi realizada em bases de dados eletrônicas, principalmente LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO, Google Scholar e PubMed, reconhecidas por seu amplo repositório de publicações científicas em saúde. Utilizou-se Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) pertinentes ao tema para a pesquisa nas bases de dados, incluindo: “Cirurgião-Dentista”, “Equipe Hospitalar de Odontologia” e “Equipe de Assistência ao Paciente”.
Os critérios de elegibilidade para a seleção dos artigos incluíram publicações indexadas nas bases selecionadas, em português e inglês, publicadas entre 2014 e 2024, e que abordassem especificamente o papel do Cirurgião-dentista no contexto hospitalar, incluindo a atuação em equipes multidisciplinares e multiprofissionais e as contribuições para a saúde geral do paciente. Foram excluídos estudos que não tratavam da atuação hospitalar do cirurgião-dentista, artigos com foco em especialidades odontológicas não vinculadas ao contexto hospitalar e estudos com amostras exclusivamente pediátricas ou geriátricas que não abordassem o impacto no ambiente hospitalar.
Por fim, dos 72.236 artigos encontrados foram selecionados 18 para compor o presente estudo. Esse procedimento metodológico permitiu uma visão ampla e atualizada das práticas e implicações da atuação do Cirurgião-dentista em hospitais, oferecendo subsídios para compreender melhor sua importância na promoção da saúde bucal e geral dos pacientes.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A presença do Cirurgião-dentista (CD) em hospitais transcende a mera atuação clínica; ela se traduz em benefícios tangíveis para os pacientes e para o sistema de saúde como um todo. Rocha, Travassos e Da Rocha (2021) destacam que, a melhoria da higiene bucal em pacientes hospitalizados resulta em uma redução significativa dos custos hospitalares e do tempo de internação.
A Associação Brasileira de Odontologia Hospitalar foi criada em 2004, marcando o reconhecimento oficial da especialidade no Brasil, entretanto foi somente em 2015 que o Conselho Federal de Odontologia estabeleceu a habilitação em Odontologia Hospitalar (Souza; Nascimento & Yamashita, 2023) e, há pouco mais de um ano, publicou a Resolução CFO-262/2024 que reconhece a Odontologia Hospitalar como Especialidade Odontológica. Brasil (2024). Essa disparidade temporal revela um percurso de reconhecimento gradual, mas que ainda enfrenta obstáculos.
Estudos que tratam sobre a interdisciplinaridade das equipes hospitalares dizem que esta é essencial para garantir um atendimento integral aos pacientes hospitalizados. A colaboração entre o CD e outros profissionais de saúde permite avaliar e tratar problemas bucais que podem afetar a saúde geral do paciente. Mauri et al. (2021); Varjão et al. (2021). Assim, a inclusão do CD nas equipes de UTI e unidades de internação médica, como previsto no Projeto de Lei 2.776/2008 (Barbosa & Silva, 2020), é fundamental para garantir a qualidade do atendimento e a segurança do paciente.
Entretanto, um dos principais desafios da Odontologia Hospitalar reside na relutância de gestores de saúde em assegurar a presença adequada de CD em hospitais. Essa negligência compromete a integralidade do cuidado, especialmente em ambientes como as UTIs, onde a saúde bucal exerce um papel crucial na recuperação do paciente Silva et al. (2017).
Outros estudos sobre a presença do CD em UTI’s apontam que a inclusão desse profissional da saúde na equipe multidisciplinar visa um atendimento abrangente, controlando a disseminação de infecções orais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes Soares, et al. (2023); Santos et al. (2021). Um Estudo semelhante evidencia que a intervenção odontológica regular em UTIs pode reduzir a mortalidade e o tempo de internação Bandeira; Ribeiro & Knaak (2022).
Dentro desse contexto, em seus estudos Silva et al. (2017) afirmam que a presença do CD promove ações preventivas e curativas, resultando em menos óbitos e menor tempo de internação. A atuação deste profissional abrange a avaliação da cavidade oral, a higiene bucal especializada, o tratamento de lesões e infecções, e a participação em protocolos de prevenção de infecções. A condição bucal tem um impacto direto na saúde sistêmica, com a má higiene e agravos orais presentes na maioria dos pacientes de UTI, aumentando o risco de infecções graves Lopes & Barcelos (2022).
Estudos sobre a higiene bucal em pacientes hospitalizados mostram que a negligência na higiene bucal adequada representa um risco significativo, especialmente no contexto de infecções hospitalares Amado et al. (2020); Soares, et al. (2023). Outros estudos têm demonstrado uma prevalência maior de periodontite e carga bacteriana elevada em pacientes de UTI, reforçando a ligação entre saúde bucal e condições sistêmicas Steinle et al. (2023).
A internação em UTI, por si só, já representa um fator de risco para o desenvolvimento de infecções bucais. Um estudo aponta que o estado patológico, o rebaixamento do sistema imune, os problemas ventilatórios e a dificuldade de ingestão de líquidos criam um ambiente propício para a proliferação de microrganismos Junior; Ditto & Almeida (2024). A presença de condições bucais preexistentes, como cárie e doença periodontal, agrava ainda mais a situação, levando ao surgimento de halitose, úlceras e candidíase.
Lopes e Barcelos (2022) afirmam que a imobilidade, o uso de tubos endotraqueais e cateteres intravenosos, e a redução do autocuidado contribuem para a contaminação da cavidade oral, a diminuição da produção de saliva e a alteração do pH bucal, desregulando a microbiota oral. Segundo os autores, essa combinação de fatores aumenta o risco de infecções bucais, que podem comprometer a recuperação do paciente e prolongar o tempo de internação.
Um estudo sobre patologias orais mostra que as manifestações bucais mais comuns em pacientes de UTI incluem saburra lingual, biofilme dentário, candidíase e ressecamento labial Souza, Costa & Prado (2023). O ressecamento labial, em particular, está associado ao aumento do tempo de internação e ao desenvolvimento de complicações sistêmicas, como pneumonia hospitalar. Desse modo, o CD desempenha um papel fundamental, pois realiza procedimentos odontológicos específicos para tratar o ambiente oral, prevenir a colonização por patógenos e eliminar focos infecciosos, conforme afirmam Marinho, Francelino & Canuto (2021).
Ainda nesse contexto, estudos apontam que as intervenções podem incluir raspagem periodontal, exodontias, tratamento de infecções virais e fúngicas, selamento de cavidades de cárie, tratamento de lesões traumáticas e outras alterações bucais Queiroz Silva, et al. (2021). A laserterapia é uma ferramenta útil no tratamento de úlceras e mucosites, estimulando a regeneração tecidual Sestario et al. (2024).
De acordo com Chaparin (2022), a avaliação oral prévia a tratamentos médicos é essencial para prevenir complicações bucais, especialmente em pacientes com doenças sistêmicas. O autor afirma ainda que, em pacientes que utilizam bifosfonatos, a avaliação do CD é crucial para evitar osteonecrose dos ossos maxilares.
Estudos apontam que a xerostomia e a hipossalivação, decorrentes do uso de medicamentos e do ambiente hospitalar, favorecem o crescimento de microrganismos e a desmineralização dentária Lopes & Barcelos (2022). A intubação promove a proliferação de bactérias gram-negativas e fungos, aumentando o risco de pneumonia nosocomial.
Sobre esse assunto outros estudos mostram que infecções bucais não tratadas podem levar a complicações graves, como angina de Ludwig, mediastinite necrosante, fasceíte necrosante, endocardite bacteriana e osteomielite Marinho; Francelino & Canuto (2021). A aspiração de bactérias da cavidade oral pode causar pneumonia em pacientes sob ventilação mecânica, e infecções bucais podem agravar doenças como diabetes mellitus e doenças cardiovasculares Souza, Nascimento & Yamashita (2023).
A presença do CD em equipes de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é crucial para assegurar a excelência na higiene bucal, um fator determinante na saúde de pacientes críticos. Em um ambiente complexo como a UTI, onde normas e práticas rigorosas visam o cuidado máximo Barros; Queiroz & Monteiro (2019), a saúde bucal, muitas vezes relegada a um papel secundário, demanda atenção especializada. A complexidade do ambiente de uma UTI, com a constante necessidade de intervenções e a fragilidade dos pacientes, torna a presença do CD ainda mais vital.
A cavidade oral, com sua microbiota complexa, pode se tornar um foco de infecção em pacientes debilitados. O desequilíbrio microbiano contribui para distúrbios orais e pneumonias nosocomiais, reforçando a necessidade do CD na equipe. Terai et al. (2015). A presença desse profissional garante a manutenção do equilíbrio da microbiota oral, prevenindo a proliferação de patógenos e a ocorrência de infecções. A higiene bucal adequada é fundamental para prevenir infecções. Em pacientes que utilizam próteses, a equipe de enfermagem deve realizar a higiene da prótese e da mucosa oral. Luca et al. (2017).
Um estudo sobre Protocolos de higiene bucal para pacientes intubados, demonstra que tais protocolos, como o uso de clorexidina, mostram-se eficazes na redução da pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM), tempo de hospitalização e custos Franco et al., (2014). Outro estudo diz que a higiene bucal deficiente e a doença periodontal são fatores de risco para pneumonias nosocomiais, com periodontopatógenos agravando infecções Carvalho et al. (2017).
No entanto, um outros estudos mostram que a atuação do CD em hospitais vai além do cuidado direto, abrangendo o treinamento de outros profissionais e a implementação de protocolos institucionais Silveira et al. (2020); Neves; Lima & Maranhão (2021). Essa capacitação é essencial, visto que muitos profissionais de saúde carecem de conhecimento sobre a relevância da odontologia no ambiente hospitalar Filho et al. (2021). Diante disso, o CD atua como um educador, transmitindo conhecimentos e habilidades para a equipe multidisciplinar, garantindo a continuidade dos cuidados e a padronização dos procedimentos.
Apesar das limitações de estudos não sistemáticos, a literatura evidencia a importância do CD no ambiente hospitalar, reduzindo custos com infecções e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. A integração da saúde bucal à saúde geral é fundamental, e o CD desempenha um papel crucial nesse cuidado integral de Barbosa et al. (2010). A presença do CD em UTIs é um investimento na saúde dos pacientes, com impacto positivo nos resultados clínicos e na qualidade do atendimento.
5. CONCLUSÃO
Esta revisão de literatura demonstra que o Cirurgião-dentista, no ambiente hospitalar desempenha um papel indispensável para garantir a saúde integral dos pacientes. Os estudos aqui analisados, em sua totalidade, mostram que a atuação desse profissional transcende a simples higiene bucal, abrangendo a prevenção e o tratamento de complicações que podem impactar diretamente a saúde sistêmica. Há também, unanimidade no pensamento dos autores em relação à importância da saúde bucal em pacientes hospitalizados, e pontuam que a negligência desta pode levar a infecções graves, aumentar o tempo de internação e elevar os custos hospitalares.
Os estudos também apontam que, a conscientização dos gestores de saúde sobre a importância da presença do CD em hospitais, a capacitação dos profissionais de saúde e a implementação de protocolos de higiene bucal são essenciais para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.
A Odontologia Hospitalar, portanto, representa um campo em constante evolução e a inclusão do CD na equipe multidisciplinar é um investimento que contribui positivamente na qualidade do atendimento e na segurança dos pacientes.
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1Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade EDUFOR Campus São Luís – MA email: vanuzateixeira1807@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade EDUFOR Campus São Luís – MA. Mestra em Odontologia Integrada (PPGPE/CEUMA) email: graca.mattos@edufor.edu.br