REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7495201
Ana Vitória Rosa1
Adrielle Andrade de Lima Mendonça1
Marislei Brasileiro1
Paula Souza Lage2,3
RESUMO
Desde o final de 2019, a pandemia do novo coronavírus infectou e provocou a morte de milhares de pessoas em todo o mundo. O COVID-19 patologia apresenta uma sintomatologia variada, desde casos assintomáticos, manifestações clínicas leves, bem como casos de pneumonia grave, insuficiência respiratória, choque e falência múltipla dos órgãos. Os enfermeiros foram os profissionais de saúde da linha de frente e, como tal, apresentaram uma grande responsabilidade na prestação de cuidados especializados. Como consequência da sobrecarga física e psicológica de trabalho, houve um esgotamento mental resultando no desenvolvimento de uma gama de transtornos de ansiedade, depressão e o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Dessa maneira o objetivo deste estudo foi avaliar a importância dos profissionais de enfermagem durante a pandemia do COVID-19 e o aumento da síndrome de Burnout nestes. Assim, foi realizada uma revisão integrativa da literatura. Os resultados encontrados foram que os enfermeiros foram peça chave na linha de frente e suas atuações foram determinantes para salvar inúmeras vidas, a enfermagem além de diagnosticar, traçar metas e intervenções, acompanhou e melhorou a qualidade do atendimento aumentando a perspectiva de vida e melhoria da qualidade de inúmeras pacientes. Entretanto, a realidade desses profissionais foi marcada pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental, o que provocou um aumento do número de enfermeiros com a Síndrome de Burnout. Diante disso, foi possível concluir que a enfermagem apresentou um papel importante e sua atuação foi fundamental para o desfecho clínico dos pacientes, todavia, eles acabaram desenvolvendo patologias ligadas ao momento vivido.
Palavras chave: Covid-19, Unidade de Terapia Intensiva, Enfermagem, Burnout
1. INTRODUÇÃO
A pandemia de COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 é iniciada com os primeiros casos observados em Wuhan (China) em dezembro de 2019, expandiu-se dramaticamente em todo o mundo (LI Q et al., 2020, GARCÍA, 2020). Essa expansão teve efeitos devastadores em muitos países devido à sua contagiosidade e ao elevado número de pacientes com infecções graves e elevado risco de morte, necessitando de atendimento médico especializado em Unidades de Terapia Intensivos (UTI). Por este motivo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou Emergência Sanitária Global em janeiro de 2020 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).
Porém, em maio de 2021, quase 6 milhões de casos de infecção por SARS-CoV-2 foram relatados em todo o mundo, com uma taxa de mortalidade de 6%. Essa porcentagem aumentou quando os pacientes foram admitidos no hospital, com taxas de mortalidade entre 23,4 e 33% no mundo. A ocupação de leitos em internação e UTI por COVID-19 foi superior a 80% do total, fazendo com que as UTIs ficassem sobrecarregadas em todo o mundo (RUBIO et al., 2020, GARNACHO-MONTERO et al., 2021). O Brasil foi um dos países com maior número de infectados, e com alto índice de casos graves, com um número significativo de pacientes que necessitam de vaga em leitos de UTI, principalmente pelo aporte ventilatório invasivo nos casos de síndrome respiratória aguda grave (MOREIRA, 2020). Estes receberam um cuidado integral realizado por uma equipe multidisciplinar e o papel da enfermagem a beira do leito demonstrou impactos positivos e relevantes auxiliando em um melhor prognóstico (JUCÁ B, 2020).
Todavia, os profissionais de saúde (PS) representaram um grupo de alto risco para infecção por SARS-CoV-2 com um índice de soroprevalência de SARS-CoV-2 maior do que o população geral (GALANIS et al., 2020). Vale ressaltar que um estudo de meta análise de 2020 observou que 25,3% das mortes por COVID-19 entre profissionais de saúde eram enfermeiros, enquanto os enfermeiros de saúde mental eram o grupo de maior risco para mortes (BANDYOPADHYAY et al., 2020). E ainda é provável que esses números sejam provavelmente uma subestimação do verdadeiro número de mortes (KAITELIDOU et al. 2021).
Diversas revisões sistemáticas e meta-análises já mostraram que os enfermeiros apresentam níveis moderados a altos de Síndrome de Burnout (ADRIAENSSENS et al., 2015; PRADAS-HERNÁNDEZ et al., 2018; DE LA FUENTE-SOLANA et al., 2019; LÓPEZ-LÓPEZ et al., 2019; WOO et al., 2020) e houve uma prevalência maior em enfermeiros da pediatria, oncologia e emergência. E este é um problema de saúde grave e frequente, com sérias implicações negativas não apenas para os enfermeiros, mas também para os pacientes, colegas e organizações de saúde (KAITELIDOU et al. 2021). Neste contexto, o objetivo deste artigo é avaliar a importância dos profissionais de enfermagem no enfrentamento da pandemia principalmente nos casos mais graves e o aumento da síndrome de Burnout destes após este período.
2. METODOLOGIA
Para a construção deste artigo, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, no qual foram selecionados artigos publicados de revistas indexadas nas bases de dados Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-BIREME), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine/NLM (MEDLINE) e National Library of Medicine/NLM (PUBMED) e sites oficiais como o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Mundial de Saúde.
Quanto ao delineamento do estudo, houve duas etapas que foram divididas em: busca por artigos nacionais e internacionais que foram avaliados por meio de seus títulos e resumos, tendo como base os critérios de inclusão e exclusão anteriormente estabelecidos. Os artigos que mostravam relação ao tema, obedecendo aos critérios, foram adicionados ao estudo. A busca pelos artigos foi realizada nos idiomas português, inglês e espanhol, utilizando os Descritores em Ciências de Saúde (DeCS) utilizados na busca na LILACS foram: COVID-19 AND Cuidados de Enfermagem AND Cuidados Críticos AND Burnout. Para a busca na base Pubmed foram utilizados os seguintes termos do Medical Subject Heading (MeSH): COVID-19 AND Nursing Care AND Critical Care AND Nurses’ burnout.
E na segunda etapa, os textos selecionados para a revisão foram lidos na íntegra, interpretados e elaborou-se uma síntese das informações. Os artigos utilizados foram todos de livre acesso.
Foram definidos como critérios para a inclusão para o estudo artigos publicados de 2012 a 2022, que apresentaram um ou mais descritores contemplados e nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram considerados como critério de exclusão trabalhos com mais de 10 anos de publicação, após análise foram selecionados 44 artigos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1-O Covid-19, papel da enfermagem e efeitos como a Síndrome de Burnout após pandemia
3.1.1- A pandemia do novo coronavírus
O século XXI presenciou várias epidemias que puderam ser contidas em algum nível temporal ou geográfico, como as duas epidemias de coronavírus (pelo SARS-CoV e a síndrome respiratória do Oriente Médio – MERS), as epidemias de Ebola na África e a epidemia de gripe aviária (H5N1). Em conjunto elas provocaram menos mortes do que a COVID-19. A pandemia de influenza H1N1 de 2009, para a qual uma vacina estava disponível, foi devastadora, estimando-se que entre 150 mil a 575 mil pessoas morreram de causas associadas à infecção (DAWOOD et al., 2012).
A pandemia da COVID-19 apresentou-se como um dos maiores desafios sanitários em escala global deste século. Na metade do mês de abril, poucos meses depois do início da epidemia na China em fins de 2019, já haviam ocorrido mais de 2 milhões de casos e 120 mil mortes no mundo pela doença, e estão previstos ainda muitos casos e óbitos nos próximos meses (WERNECK & CARVALHO, 2020).
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde de novembro 2020, o número de infectados foi de 5.590.025, com uma incidência de aproximadamente 2660 a cada 100 mil habitantes e foram a óbitos 161.106 pessoas (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2020). Contudo, este panorama é incerto e as estimativas válidas e confiáveis do número de casos e óbitos por COVID-19 esbarram na ausência de dados confiáveis, seja dos casos ou da implantação efetiva das medidas de supressão, frente às recomendações contraditórias das autoridades em cada nível de governo (WERNECK & CARVALHO, 2020).
Atualmente, segundo a WHO, em outubro de 2022, mais de 624 milhões de casos já foram confirmados e mais de 6,5 milhões de mortes foram relatados mundialmente. Em relação ao Brasil foram 34.815.258 casos confirmados, com 687.962 óbitos e uma Incidência/100mil habitantes de 16567,1 (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2022).
Com relação à evolução clínica, esta apresentou um espectro clínico muito amplo, podendo variar de casos assintomáticos, manifestações clínicas leves como um resfriado, bem como casos de pneumonia grave, insuficiência respiratória, choque e disfunção de múltiplos órgãos (VASCONCELOS et al., 2022).
Nesse contexto, os sinais e sintomas mais comuns atribuídos à síndrome clínica consistiram em febre, mialgia ou fadiga, tosse seca e dispneia, que poderiam estar acompanhadas de linfopenia, anormalidades na coagulação sanguínea ou opacidades pulmonares bilaterais em vidro fosco na tomografia computadorizada de tórax, responsáveis por um rápido incremento no número de hospitalizações em UTI para o suporte artificial das funções orgânicas daqueles pacientes mais graves com síndrome respiratória aguda grave (SARS) (LIPPI, PLEBANI, HENRY, 2019; CRODA et al., 2020).
O insuficiente conhecimento científico sobre o novo coronavírus, sua alta velocidade de disseminação e capacidade de provocar mortes em populações vulneráveis, geram incertezas sobre quais seriam as melhores estratégias a serem utilizadas para o enfrentamento da epidemia em diferentes partes do mundo. No Brasil, os desafios são ainda maiores, pois pouco se sabe sobre as características de transmissão da COVID-19 num contexto de grande desigualdade social, com populações vivendo em condições precárias de habitação e saneamento, sem acesso sistemático à água e em situação de aglomeração (WERNECK & CARVALHO, 2020).
Um estudo de meta-análise de 2022 demonstrou que o número de casos graves de COVID-19 diminuiu significantemente em todo o mundo após a vacinação da população. Os resultados sugeriram que as vacinas atualmente aprovadas para uso têm um bom efeito protetor contra os principais desfechos relacionados à patologia, especialmente para desfechos críticos (ZHENG et al., 2022).
3.1.2- Enfermagem e o atendimento aos pacientes em UTI com COVID-19
O enfermeiro é o profissional capaz de agir com presteza e eficiência, de prestar os primeiros socorros e o primeiro atendimento aos pacientes, de planejar, supervisionar, orientar e comandar grupos de enfermagem e de otimizar o atendimento, pois realiza tanto protocolos básicos como a triagem quanto procedimentos mais complexos, como uma intubação, desfibrilação, etc. Outrossim, quanto mais capacitado for o profissional, melhores são as chances de sucesso nos atendimentos prestados, pois o enfermeiro salva vidas (ARAÚJO, 2022).
À medida que o novo coronavírus avançou mundialmente, e com o crescimento exponencial do número de novos casos de COVID-19, cresceu também a demanda por assistência à saúde, sobrecarregando os serviços e exigindo dos profissionais melhores respostas às necessidades da população. Entre os profissionais que se encontram na linha de frente de combate à COVID-19 estava a enfermagem, que representa a maior força de trabalho presente nas instituições que prestam assistência à saúde, e é considerada atividade essencial na estrutura das profissões de saúde, tendo por essência de sua atividade o cuidar embasado no conhecimento científico (MIRANDA et al., 2020). A atuação profissional da enfermagem fundamenta-se no cuidado e o modo como ela se dá no cotidiano deve ser estudado. A preocupação da enfermagem em uma constante busca pela expansão e concretização do corpo de um conhecimento específico, bem como pelo aprimoramento de saberes técnico-científicos, objetiva oferecer um cuidado respaldado nos princípios éticos e legais, embasado em fortes evidências científicas. O foco de interesse da enfermagem na saúde das pessoas é o que a diferencia, dentre outras coisas, das demais profissões da área da saúde (BARROS et al, 2015). Existem diversos modos de sistematizar a assistência de enfermagem, incluindo os planos de cuidados, os protocolos, a padronização de procedimentos e o processo de enfermagem. E estes constituem diferentes formas de se desenvolver o cuidado, compreendendo diversos métodos que podem ser utilizados para que a enfermagem possa solucionar uma situação real em um determinado tempo, a fim de alcançar resultados positivos para a saúde dos pacientes. Essas modalidades de agir não são excludentes e têm naturezas diferentes (SOARES et al., 2015).
No Brasil, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução No. 358/2009, regulamentou a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem (PE) em ambientes públicos ou privados regularizou as atividades. A SAE consiste em atividade profissional privativa do enfermeiro, e se refere ao método pelo qual o profissional organiza o pessoal e os instrumentos necessários à operacionalização do PE (COFEN, 2022; SOARES et al., 2015).
O diagnóstico de enfermagem, como parte integrante da SAE, consiste na interpretação dos dados coletados na primeira etapa do PE, e constitui a base para a tomada de decisões e seleção das ações ou intervenções a serem implementadas. Esse diagnóstico representa uma resposta da pessoa, família ou coletividade em um dado momento do processo saúde doença (VASCONCELOS et al., 2022).
Outra etapa essencial do PE consiste no planejamento de enfermagem. É nesta fase que se determina os resultados que se espera alcançar, bem com as ações ou intervenções de enfermagem que serão implementadas de acordo com as respostas do indivíduo, família ou comunidade, identificadas na etapa de diagnóstico de enfermagem (BARROS et al., 2015).
Com relação à COVID-19 estudo de Ramalho Neto e colaboradores em 2020 observaram o papel importante e fundamental da equipe de enfermagem frente assistência já que os pacientes necessitaram de monitorização e avaliação contínua em ambiente apropriado, com o objetivo de identificar alterações orgânicas precoces, bem como de cuidado de alta complexidade técnica. Uma vez que pacientes infectados e com sintomas típicos de uma síndrome gripal podem, ainda, desenvolver um quadro clínico de sepse, que sabidamente é marcada por uma complicada teia fisiopatogênica e definida pela presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida decorrente de resposta imune desregulada do organismo à infecção. No entanto, quando há uma progressão para choque séptico, acentuadas anormalidades circulatórias, celulares e metabólicas refletem uma inadequada utilização de oxigênio pelas células, capazes de aumentar substancialmente a mortalidade (SINGER et al., 2020; MACHADO et al., 2020).
Pelo fato da sepse se manifestar em distintos espectros de gravidade com o decorrer do tempo, o enfermeiro intensivista é instigado a planejar, coordenar e implementar ações para uma avaliação mais criteriosa à beira do leito no sentido de não somente assistir casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus, mas também de rastrear infecções relacionadas à assistência à saúde e provável sepse pelo reconhecimento precoce de disfunções orgânicas (clínica ou laboratorial) ou durante as discussões clínicas com a equipe multiprofissional de plantão. Para tanto, tais esforços devem propiciar um tratamento ágil e adequado com base nas diretrizes internacionais da Campanha Sobrevivendo à Sepse (CSS) e em uma terminologia clínica de enfermagem (RAMALHO NETO et al., 2019; ALHAZZANI et al., 2020).
Salienta-se que a enfermagem foi responsável pelo monitoramento ininterrupto dos pacientes em ambiente hospitalar, e é a primeira a detectar sinais e sintomas de agravamento ou de melhora no quadro clínico do paciente, e levando em conta que é a única profissão de saúde que está 24 horas ao lado do paciente, conhecer que diagnósticos e intervenções de enfermagem se aplicam aos pacientes com COVID-19 e isso contribuiu para que a assistência prestada a estes se desse de forma mais eficaz e com qualidade (VASCONCELOS et al., 2022).
Barros et al (2020), observou que a COVID-19 representou um grande desafio aos profissionais de enfermagem, à medida que provocou um aumento significativo de demandas por assistência à saúde, exigindo uma mudança nas estruturas dos serviços de saúde. Essa nova realidade também foi descrita por Parreira et al. (2020), que descreveu este momento como o de uma profunda metamorfose, tanto na estrutura quanto na organização das equipes, alterando o funcionamento de vários serviços e da prestação de cuidados de enfermagem.
Um dos grandes desafios para os profissionais de enfermagem neste momento é de oferecer um cuidado de qualidade, pautado em evidências científicas, e isto se consubstancia na utilização de um instrumento capaz de organizar seu trabalho profissional. Dessa forma o uso da SAE operacionaliza o PE, que consiste em uma ferramenta intelectual que serve de orientação ao processo de raciocínio clínico do enfermeiro, subsidiando a tomada de decisão diagnóstica, de resultados e de intervenções (BARROS et al., 2015).
Trabalho de Vasconcelos e colaboradores em 2022 descreveu, considerando a Taxionomia NANDA-I, os diagnósticos de enfermagem mais prevalentes aplicadas aos pacientes com COVID-19 foram: Padrão respiratório ineficaz, Risco de choque, Risco de contaminação, Risco de infecção, Débito cardíaco diminuído, Troca de gases prejudicada, Ventilação espontânea prejudicada, Desobstrução ineficaz das vias aéreas, Ansiedade relacionada à morte, Diarreia e hipertermia.
Barros et al. (2020), classificou a sintomatologia apresentada pelos pacientes com COVID-19 e os resultados da equipe de enfermagem em quatro grupos: leve, moderado, grave e crítico. O instrumento desenvolvido pelos autores agrupa os resultados a ser alcançados pela assistência de enfermagem levando em conta essa classificação. Dessa forma, para pacientes com quadro leve e moderado, os resultados de enfermagem dizem respeito ao estado respiratório do paciente, garantindo a ventilação adequada, a troca gasosa e a permeabilidade das vias aéreas, através de cuidados que envolvem o controle das vias aéreas, oxigenioterapia e controle ácido-básico. O controle do processo infeccioso, manutenção da termorregulação, equilíbrio eletrolítico, controle da dor, manutenção do estado de conforto, controle hídrico e de eletrólitos, administração de medicamentos, redução da ansiedade, apoio emocional e promoção da esperança, também são resultados desejados na assistência a estes pacientes.
Em relação a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) com a piora da situação clínica do paciente o foco da enfermagem reside na manutenção da ventilação e da troca de gases. O suporte ventilatório invasivo e as manobras de recrutamento alveolar com o posicionamento em prona são medidas terapêuticas necessárias, mas que podem desencadear problemas de enfermagem que trazem a necessidade de traçar novas metas a serem alcançadas com a assistência. O foco do resultado de enfermagem nestes pacientes envolve a manutenção da integridade tissular de pele e mucosas, gravidade do olho seco, autocuidado com higiene, manutenção do estado nutricional, reclamando a implementação de intervenções que incluam cuidados que dão suporte ao funcionamento físico e regulação homeostática do indivíduo. Dada a frequente necessidade de utilização de drogas sedativas, analgésicas e vasoativas, é necessário que a enfermagem providencie acesso venoso de bom calibre, e esteja atenta ao risco de extravasamento. As intervenções relacionadas com a administração de mediação incluem os cuidados básicos de limpeza e higiene do local de preparo, e do registro adequado (VASCONCELOS et al., 2022).
Além dos resultados e intervenções apresentadas, Barros et al (2020) chamam atenção para a necessidade de manutenção dos processos familiares, considerando que o paciente com COVID-19 que se encontra hospitalizado experimenta grande uma mudança abrupta nos seus relacionamentos, em virtude da necessidade de isolamento. A enfermagem deve estar atenta para proporcionar apoio emocional e familiar, além da facilitação do contato com membros da família, com a intermediação de suporte tecnológico, considerando a não indicação de visitas pelo alto risco de contágio.
É notório que os profissionais da enfermagem foram fundamentais na prevenção e controle da COVID-19 no sistema público e privado de saúde. Seja em procedimentos técnicos ou examinando, eles tiveram contato direto com muitos dos pacientes infectados, enfrentaram longos plantões para suprir a alta demanda de casos, muitas vezes, sem acesso aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários (GOMES et al., 2021).
É relevante ressaltar ainda que desde o início da pandemia a taxa de mortalidade de enfermeiros foi maior em profissionais do sexo feminino, com faixa etária de 41 a 50 anos, no contexto atual com a descoberta da vacinação, o número de óbitos e profissionais da área caiu cerca de 71% (GANDRA et al., 2021).
Por fim, estudos revelaram que enfermeiros que trabalham em cuidados intensivos durante a pandemia de COVID-19 descreveram uma carga de trabalho aumentada, levando ao comprometimento da segurança do paciente e da qualidade do atendimento (BERGMAN et al., 2021; VOGELSANG et al., 2022).
3.1.3- Síndrome de Burnout em enfermeiros
Não obstante a extrema relevância do exercício dessa obstinada e abnegada profissão, os enfermeiros enfrentam condições precárias de trabalho – desvalorização da Enfermagem, risco de adoecimento, funcionamento inadequado dos serviços assistenciais e a dificuldade na proteção dos pacientes, porquanto o enfermeiro precisou administrar o laboral, o psicológico e o emocional no atendimento aos enfermos e seus familiares (OLIVIEIRA et al., 2021). Durante a pandemia associou-se, além dos estressores citados, a preocupação acerca da escassez de EPIs que são uma medida indispensável de prevenção e controle de infecção, juntamente ao isolamento social, que impossibilitou a busca ao lazer em meios externos, o medo por conta da rotina hospitalar e a exposição involuntária de familiares e a instabilidade empregatícia que vem se dando por contaminação, além da morte ou afastamento de colegas de profissão (SOUZA et al., 2021).
Os profissionais da enfermagem, por agirem contínua e diretamente, aumentam a exposição às enfermidades, ainda mais quando são altamente transmissíveis como a COVID-19. Portanto, além do reconhecimento, melhores salários e condições laborais, os enfermeiros urgem por cuidados da saúde em todos os âmbitos (ARAÚJO, 2022).
A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é definida como uma doença crônica de caráter ocupacional, sendo citada como Transtorno Mental e Comportamento Relacionado com o trabalho no Regulamento da Previdência Social (SOUZA et al., 2021), e atinge indivíduos que atuam constantemente com o público, lidam com fortes emoções e possuindo frustrações acerca do ambiente e rotina de trabalho. Observa-se a participação de três variáveis multidimensionais que caracterizam o processo de adoecimento e desenvolvimento dessa síndrome, sendo elas: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição da realização pessoal (LEÃO; GOMEZ, 2014).
Quanto aos profissionais de saúde, suas condições de trabalho desde a assistência na atenção primária ao nível mais especializado de saúde são desafiadoras e suas ações impactam diretamente na vida das pessoas. Sendo assim, observar os sinais de Burnout em profissionais da saúde requer atenção redobrada, pois a queda da qualidade da assistência prestada é um dos primeiros sinais de alerta (FREITAS et al., 2019). Trabalho de Kaitelidou1 et al., 2020, avaliou um total de dezesseis estudos, incluindo 18.935 enfermeiros durante a pandemia e demonstrou que a prevalência geral de exaustão emocional foi de 34,1%, de despersonalização foi de 12,6% e de falta de realização pessoal foi de 15,2%. Os principais fatores de risco que aumentam o Burnout dos enfermeiros foram: idade mais jovem, diminuição do apoio social, falta de preparo da família e dos colegas para lidar com o surto de COVID-19, aumento da exposição, maior tempo de trabalho em áreas de quarentena, trabalho em ambiente de alto risco, trabalho em hospitais com material inadequado e insuficiente e recursos humanos, aumento da carga de trabalho e menor nível de treinamento especializado em COVID-19. Estudos realizados com profissionais de saúde revelaram que a saúde mental se fragilizou com o surgimento do COVID-19, em que passaram a atuar na linha de frente, lidando com o “novo”, sem conhecimento técnico e científico. Vivenciando em um ambiente com elevados números de morte, adoecimento de colegas, medo de morrer e transmitir para entes familiares. Portanto, os profissionais da linha de frente mostraram maior frequência de sinais de exaustão e Burnout em diferentes momentos da evolução da pandemia. (HORTA et al., 2021).
Outro trabalho de 2021 comprovou que a taxa de letalidade entre os profissionais da enfermagem pela COVID-19 foi predominante por decorrência da alta exposição do contato direto com pacientes infectados. E que este está envolto em uma atmosfera de tensão permanente, mesmo mantendo todos os cuidados preconizados de segurança, eles estavam cientes que suas chances de contaminação pelo vírus eram altas, e quando somada a questões da vida pessoal, acabaram por não permitir nenhum momento de descanso despreocupação mental a esses indivíduos (CAMPOS, LEITÃO, 2021).
Recente estudo realizado com profissionais da saúde que prestaram assistência a pacientes com coronavírus revelou que 50% dos profissionais apresentam sintomas depressivos, 45% revelam sofrer de ansiedade, 34% apresentam alterações no sono e 72% revelam sentir angústia no período da pandemia (ALMEIDA et al., 2021).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados expostos é possível concluir que a enfermagem teve um papel crucial na pandemia do covid-19, sendo responsável pelo diagnóstico, resultados e intervenções
que mudaram os prognósticos de muitos pacientes. É possível observar ainda que por situações muitas vezes desfavoráveis de trabalho ocorreu uma exaustão dos profissionais tanto física quanto psicológica levando a um aumento do número de pessoas com Síndrome de Burnout nestes profissionais.
Tendo em vista o papel da enfermagem é aconselhável que as organizações devam criar formas de auxiliar esses profissionais a identificar e lidar com os sinais da Síndrome oferecendo todo suporte necessário para preservar a saúde, a qualidade de vida e a assistência prestada por esses.
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1Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
2Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
3Faculdade de Medicina/Universidade Federal de Minas Gerais.