O MODELO FAMILIAR NOS DIAS ATUAIS: UMA RELEITURA DO CONCEITO DE FAMÍLIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409131000


Ernesto Ribeiro de Souza;
Orientadora: Cássia Maria Tasca D. Sartori.


Resumo

Os modelos familiares ao longo da história foram se alterando por diversos motivos sócio-culturais. Perceber essas mudanças é de extrema importância para se compreender os modelos atuais de família. Inicialmente a família não se importava com seus filhos, eram apenas frutos de uma relação sexual, contudo a criança acaba marcando seu espaço e a família passa por uma reestruturação. Ao olhar para esta criança, a família se reinventa e se assenta num modelo aristocrático, onde o pai é o provedor. Logo com a industrialização a família passa por outras alterações e aí se reestrutura de forma a privilegiar a privacidade e formas sócias de convivência em massa. Com a emancipação da mulher, um novo cenário se instala, a família tenta encontrar seu modelo, pois   com a autonomia feminina o pai perde sua autoridade e o modelo tradicional de pai, mães e filhos, dão lugar a uma verdadeira desordem de estrutura, na qual a vivência dos desejos individuais é evidenciada. E frente a esse panorama o conceito de família fica frágil e generalizá- lo é impossível.

Palavras-chave: Família; História; Estrutura.

ABSTRACT

The families models to the long one of history had been if modifying for diverse reasons.membre cultural To perceive these changes is of extreme importance to understand the current models of family. Initially the family did not import itself with its children, was only fruits of a sexy relation, however the child finishes marking its space and the family passes for a reorganization. To the look for this child, the structure new the organize family if and if seats in an aristocratic model, where the father is the supplier. Soon with industrialization the family passes for other alterations and there she reorganizes yourself of form to privilege the privacy and social’s shape the mass culture. With the emancipation of the woman, a new scene if installs, the family tries to find its model, therefore with the feminine autonomy the father loses its authority and the traditional model of father, mothers and children, give place to a true clutter of structure, in which live deeply it of the desires are evidenced. E front to this the family concept is fragile and generalizes it is impossible.

Keywords: Family; History; Structure.

INTRODUÇÃO

A família é o alicerce da sociedade, ela é a mediadora entre os indivíduos e a cultura, é na família que damos nossos primeiros passos, é a referência que marcará toda nossa trajetória.

A família de antes não é a família de hoje em sua estrutura e modelo, ou seja, a família com pai, mãe e filhos, ao longo da história se alterou e continua a se modificar, hoje é comum encontrar famílias com papéis trocados, casais divorciados, mães solteiras, famílias recompostas, crianças órfãs entre outras composições. Neste contexto a família vive um processo de constantes mutações e reconstruções de seu próprio conceito, como nos diz Braga (2004) fica impossível de padronizar as relações atuais, e construir um único conceito de família, pois este possui vários sentidos, e fins.

Diante do cenário atual faz-se necessário, que os psicólogos e outros pensadores sobre o humano tenham a sensibilidade de perceber por qual via de afeto o homem transita, e, além disso, visualizar e acompanhar essas transformações ao longo do tempo, para que de alguma forma o psicólogo compreenda, ouça e auxilie o indivíduo frente os possíveis conflitos emergentes dessas alterações nas carcaças psíquicas de cada um, envolvido no campo familiar.

Ao delinearmos as mudanças do modelo familiar de uma forma histórica, social e psicológica, relacionando o conceito de família com os modelos e estruturas familiares atuais, poderemos compreender sua definição frente aos novos moldes familiares, onde os papéis apresentam-se trocados e que mãe, pai e filhos não é mais sinônimo de família.

Para Sullerot (1997) todos somos oriundos de um pai, uma mãe e que a maioria de nós teremos filhos, portanto estamos de alguma forma entrelaçados à família de antes, isto é, a família no singular, ou dos novos moldes, formas plurais de constituição da estrutura e do contexto familiar.

Frente a esse panorama, utilizo uma metodologia comparativa de pesquisa bibliográfica qualitativa sobre o conceito de família, bem como a compreensão histórica que a família de antes não é a mesma família de hoje, em sua estrutura e modelo, tendo como principais autores Elisabeth Roudinesco, Jose Roberto T. Reis, Phillippe Ariès e Evelyne Sullerot, para nortear nosso percurso.

No decorrer do primeiro capítulo será definido o conceito de família, na visão de alguns autores já citados acima, sendo entrelaçado com segundo capitulo, o qual tratará de um apanhado histórico dos modelos familiares e suas dinâmicas de funcionamento, a fim de esclarecer historicamente como esta vem se alterando, enfim no terceiro capítulo construir-se-á a relação dos conceitos existentes com os moldes contemporâneos, reconstruindo sua definição e o adaptando aos dias atuais, frente aos novos modelos familiares.

1 O CONCEITO FAMILIAR

A conceituação histórica da família coloca em discussão uma importante questão: a das relações de sua própria estrutura com o conceito e modelos que atualmente temos. Ao longo dos tempos a família foi se transformando e tomando novos rumos.

O conceito de família enquanto abstração indeterminada quer significar que, em todas as épocas, existiram características comuns a todas as diferentes formas históricas da família. (CANEVACCI, 1981, p.46).

O conceito de família se torna cada vez mais amplo e polimorfo, abrangendo os mais diversos contextos e grupos sociais.

Bateson (1971 apud CORDIOLI 1998) conceitua família como sendo mais que uma soma dos membros que a compõe, possuindo regras internas de funcionamento, e sendo que essas leis promovem uma certa homeostase, contudo são de extrema flexibilidade, atualizando-se com o passar dos tempos.

Já o conceito de família em sua forma literal, como encontramos em Bueno (2005, p.287), refere-se ao amplo sentido que se utiliza o termo família.

Conjunto de pai, mãe e filhos, pessoas do mesmo sangue; descendência; linhagem, (Hist Nat) agrupamento de gêneros ou tribos vegetais ou animais, ligados por caracteres comuns, cujos nomes nos vegetais se escrevem com a terminação “áceas” e são femininos, e nos animais com a terminação “idas” e são masculinos; (Gram) conjunto de vocábulos que têm a mesma raiz.(BUENO, 2005, p.287).

Carter (1995 apud CORDIOLI 1998) define a família como sendo a união de dois indivíduos, ou seja, uma forma de casamento, tornando-se um ambiente de relações mais complexas com o surgimento dos filhos, o que para este autor seria o ápice da relação.

Segundo Cordioli (1998) as famílias que possuem filhos ainda pequenos são muito diferentes das famílias cujos filhos já cresceram, e quando estes resolvem saírem de casa, o casal retoma a situação inicial de convivência, a de estar só, apenas os dois. Isso acontece por que a dinâmica familiar se altera quando ocorre a entrada ou saída de algum membro do grupo, este passará por uma reestrutura a fim de buscar novamente um equilíbrio dentre as relações existentes.

Outra definição literal de família, encontrada em Houaiss, corrobora com Bueno (2005), a família é definida,

[…] como um grupo social básico, formação por pai, mãe e filho(s), pessoas ligadas entre si pelo casamento ou qualquer parentesco, grupo de seres ou coisas com características comuns, na classificação dos seres vivos, categoria que agrupa um ou mais gêneros ou tribos, relacionados segundo a história da evolução e distinguíveis dos outros por características marcantes. (HOUAISS, 2001, p.196).

Na era romana, lembra Engels, “Famulus quer dizer escravo doméstico e família é o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem”, o termo família era empregado para demonstrar a relação dos escravos com seus senhores, ou seja, não era com intuito de definir uma relação conjugal e sim uma relação entre empregados e senhores. Com o tempo, família, foi conceituada como um grupo social cujo membro pai, representava e desempenhava a liderança, a autoridade, tendo sob seu poder a mulher, os filhos e certo número de escravos, com direito de vida e morte sobre eles. (XAVIER, 1998).

Roudinesco (2003), cita que para Aristóteles, a família se define como uma comunidade servindo de base para a cidade. Sem constituir um grupo, é organizada em uma estrutura hierarquizada, tendo seu eixo na dominação patriarcal. Portanto, aparecem algumas relações constitutivas desse pensamento: a relação entre o senhor e o escravo, a associação entre o marido e a esposa, o vínculo entre o pai e os filhos. Esse pensamento é indispensável à vida em sociedade, uma vez que para ele toda cidade se compõe de famílias.

Anjos (2000), traça um conceito englobando um sentido além da relação conjugal, a define como instituição natural, construída sobre os alicerces de aliança, consangüinidade e descendência. Também defende a idéia de que essa construção é cultural, e como existem culturas diferentes, há diversos modelos familiares. Tanto quanto os diversos conceitos sobre família encontrados na literatura.

Roudinesco (2003), tece definições a cerca da família que desencadeia uma reflexão sobre o que realmente seria família. Ela defende a idéia de que é insuficiente ter apenas uma simples visão antropológica, e que somente situar historicamente as alterações das estruturas familiares não auxilia numa construção do modelo familiar. É preciso reconhecer sua história e compreender as mudanças ocorridas ao longo dos tempos que caracterizam a desordem desse modelo atualmente. Família por si só possui diversas dimensões, portanto nos revela várias realidades por estar inserida em contextos sociais distintos e complexos. De modo geral, a família sempre foi definida como um conjunto de pessoas ligadas pelo casamento e filiação, sempre embasada pela consangüinidade.

A família é retratada, por Sullerot (1997), como sendo um grupo constituído de indivíduos que somados geram uma sociedade, e de acordo com suas idéias as famílias formam um conjunto complexo, envolvendo o casal, os filhos, para os quais é necessário percebê-la por uma semântica sistemática, ou seja, reconstruir sua história por diferentes vias, observando sob variados ângulos e abordagens múltiplas as alterações dos modelos familiares para se refletir e confeccionar um novo conceito familiar.

O que diferencia realmente o homem do animal é que, na humanidade, uma família não seria capaz de existir sem sociedade, isto é, sem uma pluralidade de famílias prontas a reconhecer que existem outros laços afora os da consangüinidade, e que o processo natural da filiação somente pode prosseguir através do processo social da aliança. (STRAUSS, 1981 apud ROUDINESCO, 2003, p. 15).

Caminhando um pouco mais no tempo, temos a cada dia, mês, ano, décadas e conseqüentemente a cada século, conceituar família fica melindrosamente mais frágil, embora seja uma instituição inacabável, essa definição liga-se mais e mais perto do campo afetivo, não se restringindo ao campo econômico e genético.

Na visão de Braga (2004), por família entende-se um conjunto de afinidades que envolvem os indivíduos, que os una por algo que comum a eles torna-se um vínculo, independentemente de laços consanguíneos e matrimônios legalizados e sacramentados. Para ele, todo ser humano só se constitui como tal, através das relações, ou seja, mesmo os que vivem sozinhos tem a necessidade de constituir essas relações, portanto família é oriunda da natureza humana, e não mera invenção do social, é inata a convivência em grupo, mesmo com toda diversidade é impossível viver sem essas relações, sem família.

As recentes descobertas da genética permitiram concluir, simultaneamente, que cada ser é único e que existem laços inegáveis, inalteráveis e infalsificáveis entre pai e filho, mãe e filho, irmãos e irmãs. Estes laços são independentes de todas as formas institucionais como o casamento ou a adoção, perduram uma vida inteira. Mas a cultura envolveu os laços biológicos em relações fortes de amor, de ternura, fidelidade, de proteção, de responsabilidade, de transmissão, de educação que dão à família humana a sua incompatível riqueza. Ela não é meramente o cenário da reprodução da espécie. É um espaço de cultura e um veículo da civilização. (SULLEROT, 1997, p. 8).

De encontro com essas definições, far-se-á a necessidade de se construir um novo conceito de família, que englobe através de uma nova percepção desses modelos atuais, toda as alterações considerando que família é uma instituição, e que por isso é mutável.

2 PANORAMA HISTÓRICO FAMILIAR

Sabe-se que ao longo da história a tendência é a evolução, a família, portanto, passou por diversas modificações até chegar nos modelos familiares, que vivemos hoje.

O panorama histórico familiar para Ariès (1981), tem suas raízes em nossa velha sociedade tradicional, onde a duração da infância era diminuta a seu próprio período mais frágil, ou seja, a criança que ainda não tinha todo seu processo neural, bem como seu esquema corporal definido, já era inserido no meio de outros adultos, compartilhando de todas as atividades desse novo universo. Não havia nenhum ritual que marcasse a transmissão desses mundos, era transposta de criança ao jovem adulto, burlando as etapas da juventude, que de alguma forma talvez tenha sido incorporado na Idade Média, e que foram essenciais para as sociedades evoluídas de hoje.

A família não tinha o poder de transmissão de valores e de conhecimentos para seus filhos, esta educação era adquirida pela convivência com os mais velhos.

Segundo Reis (1985) a criação dos filhos não era atribuição das mães. Os bebês eram amamentados por senhoras denominadas, amas-de-leite e os próprios empregados da casa os criavam, dessa maneira os filhos não possuíam as relações de um maior contato com seus pais. Não havia hábitos de higiene constantes, eram raros. A educação era feita pelos diversos habitantes do castelo.

O seu aprendizado era dirigido para a obediência à hierarquia social e nesse sentido o castigo físico era o instrumento comumente utilizado.[…] o sentimento ligado às transgressões era a vergonha e não a culpa. (REIS, 1985, p. 20).

Ariès (1981) retrata a passagem da criança como sendo muita curta no seio familiar, portanto esse curto espaço de tempo não deixava gerar vínculos maiores de afeto ou sensibilidade em relação a esta criança.

Essa família antiga tinha por missão, sentida por todos, a conservação dos bens, a prática comum de um ofício, a ajuda mútua cotidiana num mundo em que um homem, e mais ainda uma mulher isolados não podiam sobreviver, […]. Ela não tinha função afetiva. […] é isso que importava, o sentimento entre os cônjuges, entre pais e filhos, não era necessário […]. (ARIÈS, 1981, p. 10).

Segundo Ariès (1981) as trocas afetivas só aconteciam fora do seio familiar, dentre os vizinhos, os amigos, criados, crianças e velhos, homens e mulheres, e com isso toda noção conjugal era diluída nesse meio.

ARIÈS (1975 apud CARVALHO, 2005), até o século XV a família era

[…] uma realidade moral e social, mais do que sentimental. […] A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e, quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem. (ARIÈS, 1975 apud CARVALHO, 2005).

Foi a partir do final do século XVII que ocorreu uma radical mudança, que segundo Ariès (1981), a escola veio como meio de educação a substituir a aprendizagem que as crianças tinham através da convivência com os mais velhos. A criança foi separada dos adultos e colocada à distância por um certo período de

tempo, antes de voltar ao contato com o mundo dos adultos. A este episódio deu-se o nome de Escolarização.

“[…] são apresentadas como locais em que os estímulos sensoriais são mais estudados e mais propícios ao desenvolvimento da criança”. (SULLEROT, 1997, p. 51).

Esse movimento é incentivado cada vez mais pelos católicos ligados à Igreja. Porém, com esse novo panorama as famílias tornaram-se um lugar de afeição necessária entre pais e filhos e entre os cônjuges, situação que antes não ocorria. Essa mudança só foi possível graças à importância que passou a ser focada na educação, como refere Ariès (1981), assim não se tratava apenas de ter filhos apenas por honra ou bens, havia algo a mais para com eles, começou a ter implicação por parte dos pais.

Segundo DIAS (2000) o modelo que imperava era patriarcal, ou seja, em torno do pai, os filhos homens tinham total liberdade, e transitavam por todos os lados, em oposto as mulheres, que eram preparadas para serem mães, donas de casa e esposas, cuidadoras do lar, sendo a escolha de seus maridos restrita ao pai.

Nesse período, do século XVI a XVII encontramos os modelos familiares aristocráticos e camponeses, os quais compõe a chamada família tradicional.

Reis (1985) esclarece que ao longo da história, a família aristocrática foi marcada por suas riquezas oriundas de favores do monarca e no controle da terra que era patrimônio a ser conservado, isto é, a pretensão era aumentar as terras e fazer manutenção destas através dos casamentos.

De acordo com Roudinesco (2003) a família dita tradicional, serve acima de tudo para assegurar a transmissão de um patrimônio. Os casamentos eram providenciados pelos pais sem que as vontades de seus filho(a)s, precoces por sinal, fossem respeitadas, o que nos revela o foco patriarcal, no qual a família repousava.

Segundo as pesquisas de Reis (1985) a moradia desse grupo era estabelecida em castelos, que abrigava, além da família, parentes, dependentes, criados e outros. A via de comunicação determinava as relações parentais, tanto quanto sua preservação.

No aspecto social e emocional, a aristocracia não tinha privacidade nenhuma, uma vez que, em suas dependências havia poucas divisórias e com isso facilitava o trânsito de pessoas por todos os lados, além de não terem sanitários, aumentando o índice de mortes infantis paralelos ao alto índice de natalidade. As relações entre eles eram marcadas pela hierarquia e estabelecidas pela tradição. O lazer era algo sagrado contra pondo com o trabalho, algo repudiado, desvalorizado, como esclarece Reis (1985)

A família camponesa, ainda segundo o autor se diferencia da Aristocrática no âmbito das relações mãe-filho, que naquela não existia, e agora, a mãe se responsabiliza pela criação do filho tendo como obrigação, inseri-lo no contexto social. A amamentação era realizada sem maiores implicações emocionais ou quase nenhuma, o afeto era posto à margem das relações entre pais e filhos.

Ariès (1981) também evidencia que os filhos naquela época eram criados pelos empregados, ou seja, a educação e todo o cuidado com os filhos mais novos ficavam sob responsabilidade de todos do povoado, e não somente dos pais, quase sempre mais responsabilidades da comunidade, do que efetivamente dos pais.

As crianças eram condicionadas a depender da comunidade e não dos pais, para que desta maneira não criassem vínculos, portanto participavam de toda rotina da aldeia, auxiliando nos trabalhos adultos e também se agregando nas conversas da vida dos mais velhos. Já na infância aprendiam a obedecer às normas sociais, inclusive, com muita frequência, eram expostos às punições físicas, para se fazer cumprir essa obediência, relata Reis (1985)

Segundo Ariès (1981) foi a partir do momento, em que a família começou a valorizar a educação de seus filhos, que se iniciou uma certa organização em torno da criança, esta saiu do anonimato para se tornar um eixo da família, tornando-se impossível perdê-la ou substituí-la, gerando uma limitação na reprodução, pois ficaria difícil cuidar de muitos filhos nesse novo molde.

Uma grande mudança interveio nessa sociedade, […] Essa mudança afetou a educação, ou seja, a transmissão do saber e dos valores. Daí em diante, ou seja, a partir da Idade Média, a educação passou a ser assegurada pela aprendizagem. […] a aprendizagem é incompatível com o sistema de classes de idade […] parece-me ter sido um dos traços dominantes de nossa sociedade de meados da Idade Média até o século XVIII. (ARIÈS, 1981, p.14).

Sullerot (1997) retoma o aspecto educacional pelo viés em que a mãe necessita de sair para trabalhar, neste tempo onde a relação conjugal ainda era mais importante que os próprios filhos.

Reis (1985) também aborda este tema de forma direta, explicitando que as crianças não ocupavam o eixo da relação conjugal, e que o trabalho no campo exigia a presença desta mãe, deixando de lado os filhos a cargo dos habitantes das aldeias.

Portanto, para Ariès (1981) a criança foi reconhecida como também pertencente de uma alma, após começar a ser vista e ser tida como responsabilidade dos pais, assim ela começa uma carreira popular de heroína, na qual todos começam a voltar seus olhares para seus cuidados, para sua educação.

O cuidado dispensado às crianças passou a inspirar sentimentos novos, uma afetividade nova que a iconografia do século XVII exprimiu com insistência e gosto […]. Ficou convencionado que essa preparação fosse assegurada pela escola. (ARIÈS, 1981, p. 194).

A família se torna mais afetiva a partir do século XVIII e meados do século XX, é o que defende Roudinesco (2003), denominando-se família moderna. Esta é a verdadeira representação do amor romântico, priorizando a reciprocidade dos sentimentos e as vontades carnais por intermédio do casamento, definindo a divisão do trabalho entre o casal, bem como a educação dos filhos tomou outros rumos.

As transformações na estrutura familiar seguiram as grandes mudanças sociais que ocorreram a partir da Segunda Guerra Mundial, principalmente por duas razoes: a crescente urbanização das sociedades e a gradativa emancipação da mulher (MAZZONETTO apud DIAS, 2000, p.17).

Sullerot (1997), escreve que o exemplo mais surpreendente desta vontade de criar laços familiares nesta fase histórica da família, era para afirmar a liberdade dos homens oprimidos e separados pela guerra, eles se casavam por procuração, e apostavam no amor recíproco, na liberdade, mesmo que fisicamente não pudessem estar juntos, nem mesmo certeza se um dia estariam, apenas este amor romântico e a necessidade, visto que as famílias mais pobres, obtinham pensão concedida às viúvas de prisioneiros de guerra, oriundas do casamento por procuração.

O que para Roudinesco (2003) refere-se à família moderna, para Reis (1985) engloba a família proletariada e burguesa, que através da história se observa à constituição da família proletariada numa primeira fase, ocorreu no início do século XIX, ou seja, com a industrialização, onde as condições sociais e econômicas eram de extrema carência. Todos os membros da família trabalhavam, em jornadas de 14 a 17 horas em média, sendo que as crianças iniciavam sua jornada laborativa por volta dos dez anos de idade. As condições sanitárias não eram tão diferentes dos modelos familiares anteriores, isto é, precários. Diante tamanho sofrimento e opressão capitalista a família proletariada manteve alguns costumes do modelo anterior, ou seja, preservando os laços comunitários.

Reis (1985) afirma que numa segunda fase do desenvolvimento deste modelo familiar dar-se na segunda metade do século XIX com setores mais qualificados da classe operária, ocorrendo uma melhoria das condições de vida das pessoas, associadas à diferenciação dos papéis sexuais, a mulher passou a tomar conta de seus filhos e a permanecer mais em casa, enquanto o homem se inseria cada vez mais no âmbito industrial.

É esse momento, que Reis (1985) retrata como sendo uma terceira fase de reestruturação deste modelo familiar, em que as mulheres se afastam de seus grupos femininos, compostos por mães, filhas e outras, e se isolam no lar, passando a serem “do lar”, e seu sexo oposto, no campo de trabalho. Também nesse período, as famílias se mudam para os subúrbios passando a valorizar a domesticidade e a privacidade, observa-se concomitantemente a estas alterações um reforço da autoridade paterna.

Ariès (1981) situa essas transformações dos modelos familiares no fim do século XVII e início do século XVIII em que a família passa por um recolhimento longe das ruas, da praça, da vida coletiva, e sua retratação dentro de uma casa mais organizada e definida por cômodos o que possibilitou uma maior intimidade e um lar defendido dos intrusos. Neste contexto surge outro modelo familiar o burguês, que se caracterizava pelo fechamento da família em si mesma, valorizando o seio familiar e o privilegiando com as emoções, colocando no recinto de trabalho a razão.

Não se pode falar absolutamente da família. A burguesia empresta historicamente à família o caráter da família burguesa, cujo vínculo é formado pelo tédio e pelo dinheiro, e da qual faz parte também a dissolução burguesa da família, apesar da qual a família continua sempre a existir. (ENGELS, 1973 apud CANEVACCI, 1981, p. 71).

Para Reis (1985) neste modelo burguês definiu-se padrão de higiene, os papéis entre homem e mulher ficaram mais definidos, o homem o provedor e mulher “do lar”, a divisão dos direitos e responsabilidades sobre os filhos e os relacionamentos, a terem um norte maior na busca de prazer e afinidades, além de reestruturar uma nova visão para um convívio social amplo, considerando a privacidade e a individualidade dos sujeitos.

“A partir do século XVIII, as pessoas começaram a se defender contra uma sociedade cujo convívio constante até então havia sido a fonte da educação, da reputação e da fortuna”. (ARIÈS, 1981, p. 191).

Foi nesta fase que a psicanálise mais se desenvolveu, segundo Roudinesco (2003) e Reis (1985), em que as teorias em torno do Pai foram elaboradas e evidenciadas devida essa autoridade marcante que o homem passou a ter, além das teorias sexuais infantis, devido o isolamento em que a família vivenciava, diversos padrões sexuais foram definidos, bem como para as fezes das crianças tiveram outro olhar, isto é, um horror a elas, o aleitamento passou a ser valorizado, enfim a família passou a ter uma configuração afetiva.

Desde então se inicia frente a este modelo burguês uma revolução em que as mulheres começam a delimitar mais seus espaços, financeiramente a mulher se torna mais independente, a autoridade masculina passa a ser questionada, os filhos tomam outro lugar, além de apenas obedientes; e a partir daí o modelo familiar se torna contemporâneo, por volta de 1960, como nos mostra Roudinesco (2003).

A autora esclarece que a partir de 1960 a família é vista como contemporânea, pós-moderna, que une dois indivíduos em busca de realizações sexuais e íntimas. A autoridade paterna, ou seja, a figura da lei paterna, torna-se problemática e frágil, é questionada frente aos mais diversos acontecimentos na sociedade, dando lugar aos divórcios, separações e recomposições conjugais, e outras formas de união afetiva.

Segundo Sullerot (1997) por volta dos anos 70 com o fortalecimento da psicanálise e da psicologia, o conceito e a construção de família torna-se mais forte, é claro que considerando também o avanço da ciência.

E então se inicia uma grande revolução nos modelos familiares.

Pela primeira vez desde que o mundo é mundo, cada homem e, sobretudo, cada mulher antevê a possibilidade de construir a sua família com base nos seus desejos e nas suas opções. Opta-se pelo outro, opta-se por viver, ou não, em conjunto, opta-se por casar, ou não, opta-se pelo momento de ter filho, opta-se pelo número de filhos que se deseja, opta-se por adotar uma criança caso o desejo de ter um filho seja contrariado. É durante esta década memorável que as leis se adaptam a esta combinação de liberdade, de desejo e de amor que promete a cada indivíduo uma família de acordo com sua vontade, uma família por opção. (SULLEROT, 1997, p.83).

A família segundo Reis (1985), compartilhando com a idéia de Roudinesco (2003) aborda que a partir do século XX ela toma rumos diversos, fica entrelaçada com os mais infinitos desejos de constituição de família. Neste período a mulher se torna cada vez mais autônoma, e a família já não mais tem como base o econômico e sim o emocional.

Segundo Canevacci (1981) a família de hoje remete a uma relação com a natureza, com a espontaneidade, um verdadeiro veículo social, no qual seus membros encontram refúgio e acolhimento. E a grande crise que ocorreu no modelo familiar anterior além de outros fatores, é devido à maciça emancipação da mulher.

Szymanski (2005) coloca que cada família possui uma dinâmica própria, num modo único e particular de emocionar-se, criando uma pequena sociedade de regras e deveres familiares, com seus códigos, com uma maneira peculiar de comunicarem entre si, junta-se a esta atmosfera, o olhar individual e as atribuições de cada membro com suas emoções e significados pessoais próprios.

Szymanski (2005) fala que a mudança da base de construção familiar possibilitou que as pessoas convivessem numa ligação afetiva, podendo ser um homem uma mulher e filhos biológicos, ou uma mulher, sua afilhada e um filho adotivo, ou qualquer outro arranjo que seja entrelaçado pelo afeto, lembrando que este afeto pode acabar, ou ser reconstruído de outras formas. Sem dúvida por esta ótica, ocorre uma maior aceitação das mudanças de personagens do contexto familiar, gerando mudanças e reestruturações de seus componentes.

Um grupo de pessoas, vivendo numa estrutura hierarquizada, que convive com a proposta de uma ligação afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre adultos e deles para com as crianças e idosos que aparecem nesse contexto. (GOMES, 1988 apud CARVALHO, 2005, p. 26).

Dias (2000), trás em seu artigo um dado de estudos realizados pela ONU (Organização das Nações Unidas, 2000), existem atualmente em média de 12 formas de famílias, as quais se distribuem em três dimensões: a nuclear ou reduzida, que é composta de pais, ou apenas um deles e filho(s) sejam estes biológicos, adotivos ou por geração artificial, a estendida que engloba as relações de parentesco até a terceira geração, nela está também as famílias tribais e poligâmicas, e a reorganizada pelo seu próprio nome pode-se concluir que se trata de um grupo específico no qual estão: os recasados, pessoas do mesmo gênero (homossexuais) ou agrupamentos comunitários

A família do século XXI, como afirma Roudinesco (2003), é de família composta pela diversidade, onde homossexuais toma as rédias, e decidem sobre filiação, os padrões de pai mãe e filhos, entram em desconstrução, há uma revolução do modelo familiar onde os antigos padrões que compunham o cenário da família não acompanham as solicitações e demandas emocionais dos membros que constituem as famílias atuais.

Para Szymanski (2005), a diversidade existente das e nas famílias de hoje, acontece por causa de suas crenças, organizações, liberdade sexual, valores e atos próprios, as quais possibilitam a força de expressão de cada indivíduo, e só dessa maneira é possível regar a individualidade e fazer valer a psicologia, a singularidade do humano.

O próprio Código Civil, em vigor desde 11 de novembro de 2003, já reconhece como entidade familiar mães solteiras (ou separadas) que vivem com os filhos, pais divorciados que moram com seus descendentes e até avós que criam os netos. A proteção legal hoje está mais voltada para o conjunto familiar do que única e exclusivamente para o vínculo conjugal, abrindo precedente até para as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. (JANUZZI, 2004, p. 1).

Lorenzatto (apud DIAS, 2000) elucida que família atual, não tem possibilidades de atender às exigências dos padrões que antes existiam, pois é impossível destituir da família de hoje toda a efervescência do nosso cotidiano, é preciso deixar que as famílias contemporâneas tomem suas próprias escolhas e façam suas regras internas de funcionamento. A tarefa fundamental da família continua sendo a mesma, a de apoiar seus integrantes, uma vez que ela é o alicerce de toda estrutura do humano.

Apesar do contexto atual em que vivemos, no qual as famílias estão em total reconstrução de sua estrutura, Roudinesco (2003) afirma que a família humana se reinventará sempre, num contínuo adaptar-se sociocultural, e que continuará a ser deseja como um valor seguro que toda sociedade almeja, ela afirma que a estrutura mudou, pai, mãe e filhos não é sinônimo de família, mas não corre o risco de desaparecer, mesmo que esteja em desordem.

3 A RELAÇÃO DE CONCEITO FAMILIAR COM AS ESTRUTURAS FAMILIARES ATUAIS

A família vem se reinventando a cada dia, e ao longo da história passou por processos imensuráveis tanto no campo social quanto no emocional.

Segundo Canevacci (1981) a crise que a família passa é da ordem social, e não é possível negá-la ou apenas caracterizar como um sintoma de decadência, é necessário vivenciá-la.

Encontramos em Bueno (2005) o conceito literal de família atual:

Conjunto de pai, mãe e filhos, pessoas do mesmo sangue; descendência; linhagem, (Hist Nat) agrupamento de gêneros ou tribos vegetais ou animais, ligados por caracteres comuns, cujos nomes nos vegetais se escrevem com a terminação “áceas” e são femininos, e nos animais com a terminação “idas” e são masculinos; (Gram) conjunto de vocábulos que têm a mesma raiz. (BUENO, 2005, p.287).

Porém este conceito não é suficiente para definir a estrutura familiar, dos dias de hoje, a qual está mais liga pela via do afeto do que pela consangüinidade. Contudo ao longo da história pode-se perceber que os conceitos também foram acompanhando a sua evolução.

Em uma era muito primitiva, a família que não tinha sua estrutura definida, possuía um conceito, que lembra Engels “Famulus quer dizer escravo doméstico e família é o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem”, a família não possuía uma estrutura. (XAVIER, 1998)

Carter (1995 apud CORDIOLI, 1998) define a família como sendo a união de dois indivíduos, ou seja, uma forma de casamento, tornando-se um ambiente de relações mais complexas, com o surgimento dos filhos, o que para este autor seria o ápice da relação. Esse conceito faz referência aos tempos em que a família não via a criança, como lembra Ariès (1981), como responsabilidade dos pais, elas eram do coletivo.

Hoje, o conceito que mais se aproxima dos modelos atuais é o que Bateson (1971 apud CORDIOLI, 1998) defende, ele conceitua família como sendo mais que uma soma dos membros que a compõe, possuindo regras internas de funcionamento, e sendo que essas leis promovem uma certa homeostase, contudo são de extrema flexibilidade, atualizando-se com o passar dos tempos.

Roudinesco (2003), diz que a família do século XXI é composta pela diversidade, pelas diferentes formas de organizações e regras que possuem entre seus membros, onde homossexuais adotam filhos, pai, mãe e filhos deixam de definir a família. Houve uma revolução do modelo em que os antigos padrões não conseguem acompanhar as demandas emocionais que hoje encontramos em nossa sociedade.

Januzzi (2004) traça a relação entre conceito familiar e as estruturas familiares atuais pelo viés em que a sociedade contemporânea caminha para a democratização das relações, permitindo maior liberdade de escolhas   e espaço para todos se tornarem sexualmente realizados, com isso o conceito de família se reinventa e é preciso um olhar diferente para esta relação do conceito e estrutura atual dos modelos familiares.

Segundo Lorenzatto (2000), o ideal de família continua sendo o mesmo: a reprodução, a continuidade, ou seja, a procriação, a socialização, um lugar capaz de nutrir o indivíduo e torná-lo apto para o meio social. A função da família é dar condições e orientar seus membros, seus descendentes, para que se tornem indivíduos sociais.

As expectativas em relação à família estão, no imaginário coletivo, ainda impregnadas de idealizações, das quais a chamada família nucelar é um dos símbolos. A maior expectativa é de que ela produza cuidados, proteção, aprendizado dos afetos, construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclusão social na comunidade e sociedade em que vivem. No entanto , estas expectativas são possibilidades, e não garantias. A família vive num contexto que pode ser fortalecedor ou esfalecedor de suas possibilidades e potencialidades. (CARVALHO, 2005, p. 15).

Ao longo da história a família tomou rumos em que sua estrutura se modificou e hoje precisamos de conceitos que englobem e acompanhem suas evoluções, como esclarece Bilac (apud CARVALHO, 2005) que o termo família fora ao longo da história a fim de designar grupos sociais, e que era necessário criar critérios para este agrupamento, daí surgiram as mais diversas teorias que definiriam o grupo social denominado família.

Bilac (apud CARVALHO, 2005) coloca que as alterações constantes das estruturas familiares ao longo da história fizeram que a instituição família desafiasse qualquer conceito geral que se possa ter hoje em relação ao termo família. Ao mesmo tempo, sua generalização, para designar instituições e grupos historicamente tão variados, tenderia a ocultar as diferenças nas relações, ou seja, congelar ou moldar as variáveis formas de existir de cada um dentro do grupo e entre a reprodução e as demais esferas da vida social.

É preciso olhar a família no seu movimento. […] Este movimento de organização- reorganização torna visível à conversão de arranjos familiares entre si, bem como reforça a necessidade de se acabar com qualquer estigma sobre as formas familiares diferenciada. Evitando a naturalização da família precisamos compreendê-lo como grupo social cujos movimentos de reoganização- desorganização-reorganização mantêm estreita relação com o contexto sociocultural. […] É preciso enxergar na diversidade não apenas os pontos de fragilidade, mas também a riqueza das respostas possíveis encontradas pelos grupos familiares, dentro de sua cultura, para as suas necessidades e projetos. (AFONSO E FIGUEIRAS, 1995 apud CARVALHO, 2005, p. 15).

Em tempos modernos é fundamental que se tenha um conceito definidor de família englobando os vínculos afetivos e não privilegiando a estrutura, segundo Roudinesco (2003) a família está desconstruída, recomposta, monoparental, homoparental, clonada, isto é, mergulhada numa grande desordem de sua estrutura, porém é necessário enxergar além da desordem, é preciso perceber e examinar as transformações dos modelos ao longo da história e atualizá-los num contexto social dos dias modernos.

Finalmente, para os pessimistas que pensam que a civilização corre o risco de ser engolida por clones, bárbaros bissexuais ou delinquentes da periferia, concebidos por pais desvairados e mães errantes, observamos que essas desordens não são novas, mesmo que se manifestem de forma inédita, e, sobretudo que não impedem que a família seja atualmente reivindicada como o único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar. Ela é amada, sonhada e desejada por homens, mulheres e crianças de todas as idades, de todas as orientações sexuais e de todas as condições. (ROUDINESCO, 2003, p. 198).

Szymanski (2005) aborda que a mudança da base de construção familiar, saindo do econômico para o afetivo, possibilitou que as pessoas convivessem numa ligação afetiva, podendo ser composta pela mais diversas combinações, ou qualquer outro arranjo, que seja entrelaçado pelo afeto. Sem dúvida por esta ótica, ocorre uma maior aceitação das mudanças de personagens do contexto familiar, gerando mudanças e reestruturações de seus componentes, e conceitos.

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada nesta monografia possibilita uma releitura do conceito de família, a qual ao longo da história sofreu diversas modificações.

Hoje não podemos mais caracterizar como família um conjunto de pai, mãe e filhos, ligados por consanguinidade, ou descendência, é preciso ir além, além do concreto, usando do abstrato, do subjetivo para falar das relações.

O afeto é a constituição do modelo familiar dos dias atuais, como Szymanski (2005) afirma que a mudança da base de construção familiar saindo do econômico para o afetivo, possibilitou que as pessoas convivessem numa ligação afetiva, podendo ser composta pelas mais diversas combinações, ou qualquer outro arranjo que seja entrelaçado por este sentimento. Sem dúvida por esta ótica, ocorre uma maior aceitação das mudanças de personagens do contexto familiar, gerando mudanças e reestruturações de seus componentes, e conceitos.

É importante perceber que a família de antes não é a família de hoje, em sua estrutura e modelo. Portanto a relevância deste estudo está em delimitar as mudanças do modelo familiar de uma forma histórica, social e psicológica, a fim de ofertar aos estudiosos da área uma abordagem diferenciada, atual e coerente.

É valido ressaltar que a atual pesquisa, até o presente momento é apenas uma revisão bibliográfica, e que uma contribuição quantitativa, de pesquisa de campo acrescentaria ainda mais em nossas construções.

Para Roudinesco (2003) a família está longe de acabar, ela irá continuar a se reinventar, a autora nos faz pensar que uma releitura é fundamental, e que essa instituição tão falada é responsável em grande parte pelo que somos. Entender a família da criança, do adolescente, do adulto e do idoso é de suma importância em qualquer tratamento psicoterápico, pois nela ele projetará suas emoções e dela irá se referenciar por a toda vida, ao ampliarmos o conceito de família numa via de afeto criaremos uma gama maior de possibilidades em entender o sujeito num todo, num social.

Proponho, frente às mudanças observadas pelo processo histórico familiar, e me respaldando nos novos conceitos abordados por alguns autores como Szymanski, Bilac, Roudinesco, Braga, entre outros, um novo conceito de família: Conjunto de pessoas que ligadas por algum tipo de afetividade, ou laços comuns sejam por parte de consanguinidade; descendência; linhagem ou qualquer outro vinculo biológico ou de afeto, ou seja, compaixão, amizade, afeição. Onde tiver o afeto, haverá família. Portanto, uso Roudinesco (2003) para elucidar e assegurar que a família não está morta e nem perto disso, ela está se reestruturando, se reformulando e ao se reinventar, proporciona uma desordem, porém uma desordem necessária ao sujeito que continua a desejar a família como o único lugar de uma possível garantia de afeto.

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