REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7242471
David Zavaleta Villanueva
RESUMO
Neste trabalho apresentamos o método de perturbação ou método assintótico do pequeno parâmetro para
resolver equações diferenciais ordinárias. Os métodos do pequeno parâmetro se apresentam como uma ferramenta poderosa da matemática moderna aplicada que é usada na física, na mecânica e outras ciências. Eles permitem obter aproximações analíticas das soluções de equações diferenciais muito complexas, sejam lineares e/ou não lineares, tanto ordinárias como em derivadas parciais.
Baseado nestas transformações vamos obter aproximações analı́ticas das soluções das equações perturbadas de
Duffing e Mathieu.
- Introdução do Método
O método do pequeno parâmetro de Lindstedt foi introduzido para evitar a aparição de termos ressonantes (por exemplo, tsent ou tcost) nas soluções perturbadas das equações da forma
u00 + ωo2u = εf(u,u0), ε << 1.
Na base do método de Lindstedt descansa a seguinte observação: a não linearidade muda a frequência do sistema desde o valor de ωo, que corresponde ao sistema linear, até ω(ε). Para evitar a mudança de frequência, Lindstedt introduz uma nova variável τ = ωt e desenvolveu ω e u em potências de ε:
u = uo(τ) + εu1(τ) + ε2u2(τ) + …,
ω = ωo + εω1 + ε2ω2 + …,
e escolhendo os ωi, i ≥ 1 adequados para evitar os termos resonantes. Poincaré em 1892 demonstrou que esta série trigonométrica obtida é assimptótica.
- Preliminares
Os enunciados de muitos problemas matem´aticos onde se encontram func¸˜oes da forma u(t,ε), pode ser dado pela equa¸c˜ao diferencial L(u,t,ε) = 0 com condi¸c˜oes de fronteira B(u,ε) = 0, onde ε ´e um parˆametro pequeno, ε << 1. As solu¸c˜oes destes problemas podem ser procurados na forma
∞
u(x,ε) = X εnun(x) = uo(x) + εu1(x) + ε2u2(x) + …
n=0
E de grande utilidade escrever aqui os s´ımbolos ”O Grande” e ”o pequeno”, introduzidos por Landau´ 1
Simbolo O: lˆe-se O grande. Escrevemos
f(ε) = O[g(ε)], quando ε → 0
se existe um nu´mero positivo M que n˜ao depende de ε tal que
|f(ε)| ≤ M|g(ε)| ou lim .
Simbolo o: lˆe-se o pequeno. Escrevemos
f(ε) = o[g(ε)], quando ε → 0
se existe um nu´mero positivo δ que n˜ao depende de ε tal que
|f(ε)| ≤ δ|g(ε)| ou lim .
Exemplo 2.1. 1. senε = O(ε);
- cosε = O(1);
- senε2 = O(ε2);
- senε = o(1);
- senε2 = o(ε);
- e−ε−1 = o(εn), ∀n ∈ N.
Exemplo 2.2 (Equa¸c˜ao Alg´ebrica). Consideremos
u = 1 + εu3, ε << 1. (2.1)
Quando ε = 0, temos u = 1. Agora, seja ε suficientemente pequeno e diferente de zero. Procuremos a solu¸c˜ao de (2.1) na forma
u(x,ε) = 1 + εu1 + ε2u2 + ε3u3 + …
Ent˜ao (2.1) fica na seguinte forma:
εu1 + ε2u2 + ε3u3 + … = ε(1 + εu1 + ε2u2 + ε3u3 + …)3.
Ap´os agrupar os coeficientes das suas respectivas potˆencias e resolver as equa¸c˜oes obtidas, obtemos
u = 1 + ε + 3ε2 + 12ε3 + O(ε4)
- Equa¸c˜ao de Duffing
Consideremos a oscilac¸˜ao de uma massa, fixada em uma mola n˜ao linear, descrito pela equa¸c˜ao de Duffing
u00 + u + εu3 = 0, u(0) = a, u0(0) = 0, ε << 1. (3.2)
Integrando (3.2), obtemos
,
donde segue que o valor de u ´e limitado para todo t ≥ 0.
Vamos buscar a soluc¸˜ao aproximada de (3.2) na forma de uma s´erie assint´otica de Poincar´e:
. (3.3)
Pondo (3.3) em (3.2) e igualando os coeficientes das mesmas potˆencias εk, obtemos os seguintes problemas para
calcular uo e u1: | |
, | (3.4) |
. Resolvendo (3.4), obtemos | (3.5) |
uo = acost. | (3.6) |
Pondo o valor de uo de (3.6) em (3.5) e usando a identidade trigonom´etrica cos3t = 4cos3 t − 3cost, obtemos
. (3.7)
Resolvendo (3.7) com a condic¸˜ao inicial (3.5), obtemos a soluc¸˜ao
. (3.8)
Desta forma
. (3.9)
Por causa do termo tsent temos u1/uo → ∞ quando t → ∞, por isto a s´erie com dois termos (3.9) n˜ao se aproxima da soluc¸˜ao quando t → ∞. O termo tsent chama-se resonante e tende ao infinito quando t → ∞, ao mesmo tempo que foi colocado acima que u deveria ser limitado ∀t ≥ 0. A apari¸c˜ao dos termos resonantes ´e caracter´ıstico nos problemas de oscila¸c˜ao n˜ao linear; nestes casos n˜ao podemos esperar que s´eries de Poincar´e sejam uniformemente adequadas.
- M´etodo das Coordenadas Estendidas de Lindstedt
O m´etodo do pequeno parˆametro de Lindstedt foi introduzido para evitar a aparic¸˜ao de termos resonantes (por exemplo, tsent ou tcost) nas soluc¸˜oes perturbadas das equa¸c˜oes da forma
.
Na base do m´etodo de Lindstedt descansa a seguinte observac¸˜ao: a n˜ao linearidade muda a frequˆencia do sistema desde o valor de ωo, que corresponde ao sistema linear, at´e ω(ε). Para evitar a mudan¸ca de frequˆencia, Lindstedt introduz uma nova vari´avel s = ωt e desenvolveu ω e u em s´erie de potˆencias de ε:
u = uo(s) + εu1(s) + ε2u2(s) + …, ω = ωo + εω1 + ε2ω2 + …,
e escolhendo os ωi, i ≥ 1 adequados para evitar o aparecimento dos termos resonantes. Poincar´e em 1892 demonstrou que esta s´erie trigonom´etrica obtida ´e assint´otica.
- Resultados Principais. M´etodo de Lindstedt-Poincar´e
Como j´a foi apontado acima, procurar a soluc¸˜ao em s´erie de potˆencias de ε da equa¸c˜ao
u00 + ωo2u = εf(u,u0) (5.10)
´e muito u´til somente para um intervalo pequeno do tempo, devido ao aparecimento de termos resonantes. A essencia do m´etodo de Lindstedt-Poincar´e consiste em evitar a aparic¸˜ao destes termos resonantes introduzindo uma nova vari´avel
t = s(1 + εω1 + ε2ω2 + …). (5.11)
Assim, (5.10) obt´em a forma
( 5.12)
.
Procurando a solu¸c˜ao de (5.10), em s´erie de potˆencias
, (5.13)
e igualando os coeficientes das mesmas potˆencias de ε, obtemos equa¸c˜oes para encontrar os um. As solu¸c˜oes dos um n˜ao cont´em termos resonantes somente para determinados valores de ωm.
Proposi¸c˜ao 5.1. Os dois primeiros termos da s´erie assint´otica da equa¸c˜ao de Duffing
, (5.14)
s˜ao dados por
,
onde A e θ s˜ao constantes de integra¸c˜ao, e
Prova. Usando a transformac¸˜ao (5.11), obtemos
. (5.15)
Pondo a s´erie de poincar´e (5.13) em (5.15) e igualando os coeficientes das respectivas potˆencias εn, obtemos
, (5.16)
(5.17)
. (5.18)
A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao (5.16) tem a forma | |
uo = Acos(s + ϕ), | (5.19) |
em que A e ϕ s˜ao constantes de integrac¸˜ao. Ent˜ao (5.17) e levando em considera¸c˜ao (5.19) tem a forma
. (5.20)
Para evitar a apari¸c˜ao de termos resonantes, escolhemos ω1 no coeficiente de cos(s + ϕ) da parte direita de (5.20) como
. (5.21)
Ent˜ao a soluc¸˜ao de (5.20) ser´a
. (5.22)
Pondo as express˜oes para uo,u1 e ω1 em (5.18), obtemos
(5.23)
onde TNR indicam express˜oes que n˜ao cont´em termos resonantes. Os termos resonantes desaparecem se
.
Por isto,
, (5.24)
onde a e θ s˜ao constantes de integrac¸˜ao, e
Figura 1: Soluc¸˜ao exata e solu¸c˜ao num´erica.
- Equa¸c˜ao de Duffing n˜ao Amortecida e com For¸ca Motriz
Proposi¸c˜ao 6.1. Os dois primeiros termos da s´erie assint´otica da equa¸c˜ao de Duffing n˜ao amortecida com for¸ca motriz
, (6.25)
s˜ao dados por
Proposi¸c˜ao 6.2.
,
em que ,
,
e
β2 + εη = 1, εη << 1.
Figura 2: Comparac¸˜ao da Soluc¸˜ao exata e soluc¸˜ao num´erica.
- Equa¸c˜ao de Mathieu
Em qualidade do segundo exemplo consideremos a equa¸c˜ao de Mathieu
u00 + (δ + εcos2t)u = 0. (7.26)
Esta equa¸c˜ao foi estudada suficientemente at´e exaust˜ao. Ela ´e um caso particular da equa¸c˜ao de Hille, u00+K(t)u = 0, que ´e uma equa¸c˜ao diferencial linear com coeficientes peri´odicos. Escrevemos
δ = n2 + εδ1 + ε2δ2 + …, (7.27)
e
u(t) = uo + εu1 + ε2u2 + …, (7.28)
em que n ´e um nu´mero inteiro, a raz˜ao um/uo ´e limitada para todo m. A u´ltima exigˆencia ´e necess´ario para que (7.28) seja um desenvolvimento assint´otico uniformemente adequado.
Pondo as express˜oes (7.27) e (7.28) em (7.26) e igualando os coeficientes das correspondentes potˆencias εn, obtemos
, (7.29)
u001 + n2u1 = −(δ1 + cos2t)uo, (7.30) u002 + n2u2 = −(δ1 + cos2t)u1 − δ2uo. (7.31)
A solu¸c˜ao de (7.29) ´e da forma
(
cosnt,
uo = n = 0,1,2,… (7.32)
sennt.
Encontremos as aproxima¸c˜oes para os casos n = 0,1 e 2.
Caso n = 0
Neste caso uo = 1 e (7.30) tem a forma
(7.33)
Para que (7.28) seja um desenvolvimento assint´otico uniformemente adequado, δ1 deve ser zero, por isto
(7.34)
onde c ´e uma constante. J´a conhecidos uo e u1, a equac¸˜ao (7.31) tem a forma
Para que a raz˜ao u2/uo seja limitada, ´e necess´ario que .
Portanto, .
Caso n = 1
Neste caso uo = cost ou sent. Suponhamos uo = cost, ent˜ao e (7.30) tem a forma
(7.35)
Para a limitac¸˜ao da raz˜ao u1/uo, devemos escolher , e por isto
(7.36)
Ent˜ao, a equac¸˜ao (7.31) tem a forma
Para que a raz˜ao u2/uo seja limitada, ´e necess´ario que . Portanto
.
Se teriamos usado uo = sent, teriamos obtido
.
Caso n = 2
Neste caso uo = cos2t ou sen2t. Suponhamos uo = cost, ent˜ao e (7.30) tem a forma
(7.37)
Para a limitac¸˜ao da raz˜ao u1/uo, devemos escolher δ1 = 0, e por isto
(7.38)
Ent˜ao, a equac¸˜ao (7.31) tem a forma
Para que a raz˜ao u2/uo seja limitada, ´e necess´ario que . Portanto
.
Se teriamos usado uo = sen2t, teriamos obtido
.
Figura 3: Autofunc¸˜oes da equac¸˜aode Mathieu com n = 2 e ε = 10−2.
Referˆencias
- Nayfeh, A.H. – Peturbation Methods., John Wiley and Sons, 1976, New York.
- Poincare, H.´ – New Methods of celestialmechanics, Vol. I-III,NASA TTF-450,1967.
- Bauer,H.F. – Nonlinear Response of elastic Plates to Pulse Excitations, J. Appl.Mech., 35, 47-52, 1968.