O MEDO E A ANSIEDADE DO ESTUDANTE DE ODONTOLOGIA NOS PRIMEIROS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS DURANTE A GRADUAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7290273


Osvaldo Augusto de Oliveirai
Carlos Alexandre Freire do Nascimento1
Lunaine Messias de Oliveira Souza1
Diogo Batista da Silva1
Chimene Kuhn Nobreii
Daniele Simone Dantas da Silva2
Maria Fernanda Borro Bijella2


RESUMO

O medo é uma emoção básica, fundamental, discreta e presente em todas as idades, culturas, raças ou espécies. A ansiedade é uma mistura de emoções onde predomina o medo e pode ser caracterizada como preocupação intensa, excessiva e persistente. O medo de situações cotidianas pode variar de indivíduo para indivíduo. Neste relato de experiência, o texto descreve a prática dos acadêmicos do curso de odontologia de uma Faculdade de Rondônia, frente às primeiras clínicas cirúrgicas. O relato demonstra que os estudantes de odontologia apresentam episódios de medo e ansiedade perante às primeiras clínicas cirúrgicas. Portanto, é importante a autopercepção do acadêmico em relação ao medo e a ansiedade frente à primeiras experiências cirúrgicas afim de buscar ajuda capacitada para auxiliá-lo no bom desenvolvimento profissional e no seu controle emocional.

Palavras-chave: Medo. Ansiedade. Estudante de odontologia.

ABSTRACT

Fear is a basic, fundamental, discrete emotion present in all ages, cultures, races or species. Anxiety is a mixture of emotions where fear predominates and can be characterized as intense, excessive and persistent worry. Fear of everyday situations can vary from individual to individual. In this experience report, the text describes the experience of students from the dentistry course at a Faculty in Rondônia, facing the first surgical clinics. The report demonstrates that dental students have episodes of fear and anxiety before the first surgical clinics. Therefore, the student’s self-perception regarding fear and anxiety in the face of the first surgical experiences is important in order to seek professional help to assist him in good professional development and in his emotional control.

Keywords: Fear. Anxiety. Dentistry student.

INTRODUÇÃO

Na odontologia, o comportamento do profissional e do paciente que estão relacionados à avaliação clínica e ao tratamento bucal se entrelaçam com aspectos ligados ao medo e a ansiedade. Nas últimas décadas, os procedimentos sofreram avanços no aspecto curativo e preventivo para proporcionar um melhor atendimento odontológico aos pacientes. No entanto, esses avanços não foram capazes de erradicar ou diminuir acentuadamente o medo e a ansiedade entre o dentista e o paciente. A ansiedade odontológica pode afetar a relação dentista paciente, o que pode resultar e influenciar no diagnóstico e no tratamento dos problemas bucais, no atraso do tratamento e, consequentemente, na deterioração da saúde bucal.

A ansiedade e o medo, relacionados ao tratamento odontológico, não são respostas fisiológicas ou comportamentais exclusivas dos pacientes. São também preocupações para os dentistas. A forma de tratamento dos indivíduos com medo e com ansiedade pode fazer a diferença no resultado do seu trabalho. No intuito de sugerir um caminho reflexivo sobre este tema, inclui-se um grupo importante nesta ação, que são os estudantes universitários. Eles são futuros profissionais de saúde. Portanto, é necessário que esses alunos se apropriem de técnicas propícias da atuação e aprendam sobre as técnicas que podem ajudá-los a superar sua própria ansiedade e seu próprio medo com relação aos procedimentos ligados à saúde bucal. O aprendizado faz parte da diminuição dos seus níveis de ansiedade e de medo para torná-los clínicos confiantes, que por sua vez podem resultar no tratamento eficiente dos pacientes.

O presente texto expõe os níveis de ansiedade entre estudantes de graduação em odontologia a partir do relato de experiência. Mais especificamente, o relato está ligado à primeira cirurgia odontológica na graduação, neste caso a exodontia, que pode ser o momento mais esperado para a maioria dos acadêmicos. Mas, para outros, pode ser o momento mais estressante e mais temido de todos. Ainda mais, quando envolve sentimentos como medo, insegurança, angústia, preocupação excessiva, nervosismo e vários outros sentimentos que podem estar intimamente ligados à ansiedade. O relato propõe expor experiências cirúrgicas vivenciadas por acadêmicos do sexto período de odontologia da Faculdade UNIRON, que ocorreram na clínica odontológica da Associação Brasileira de Odontologia, no período de setembro a novembro de 2021, em PortoVelho -RO.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, um relato de experiência referente às atividades em clínica cirúrgica, desenvolvidas com os acadêmicos do sexto período do curso de odontologia da UNIRON de Porto Velho – RO, no segundo semestre do ano de 2021.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A ansiedade e o medo são condições que podem ser analisadas ao longo de toda história, conhecidos por outros adjetivos e que, com o passar dos séculos, foram estudadas condições que faziam as pessoas se sentirem melancólicas, histéricas e paranóicas. Somente no início do século XVII, foi usado o termo ansiedade nos estudos médicos sobre doenças mentais¹.

Desde então, a ansiedade é caracterizada como preocupação intensa, excessiva, persistente e medo de situações cotidianas, com sintomas como frequência cardíaca elevada, respiração rápida, sudorese, sensação de cansaço e outros, podendo assim variar de indivíduo para indivíduo e causar desequilíbrios químicos do cérebro, pela falta de suporte familiar ou por traumas².

O assunto continua sendo discutido por autores que acreditam que, tanto a família, quanto os amigos, lugares que costumam frequentar, bem como, as experiências de vida podem sim, de maneira significativa, contribuir para o surgimento ou à prevenção da ansiedade³.

O medo é uma emoção básica, fundamental, discreta e presente em todas as idades, culturas, raças ou espécies, sendo que a ansiedade é uma mistura de emoções onde predomina o medo. Alguns autores defendem que a ansiedade é mais variável que o medo e pode variar ao longo do tempo. Entretanto, a ansiedade pode incluir a tristeza, a vergonha, a culpa, bem como ser constituída por cólera, curiosidade, interesse ou excitação².

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 264 milhões de pessoas no mundo vivem com transtornos de ansiedade4.

Do ponto de vista da psicologia, o medo é um estado efetivo e emocional, necessário para a adaptação do organismo ao meio, ou seja, o medo é uma sensação desagradável desencadeada pela percepção de perigo, real ou imaginário, podendo ser caracterizado como uma sensação de insegurança relacionada a qualquer momento futuro, inquietação, ansiedade, temor e apreensão5.

O medo surge quando há o aparecimento de um estímulo que cause no individuo ansiedade e insegurança, mas em algumas situações, o medo pode ser desencadeado apenas e a partir de uma ideia em relação a algo que seja desagradável ou por razões sem qualquer lógica, quando, por exemplo, estão baseados em crenças populares ou lendas de fantasmas. O cérebro é capaz de ativar estímulos químicos que proporcionam uma sequência de desempenhos como aumento da frequência cardíaca, aceleração da respiração, contração muscular e outros5.

A primeira cirurgia odontológica na graduação pode ser o momento mais esperado para a maioria dos acadêmicos, mas, para outros pode ser o momento mais estressante e mais temido de todos, ainda mais quando envolve sentimentos como medo, insegurança, angústia, preocupação excessiva, nervosismo e vários outros sentimentos que podem estar intimamente ligados à ansiedade caracterizada a um distúrbio psíquico.

A ansiedade e o medo são sentimentos presentes em todas as pessoas, principalmente em estudantes da área da saúde que estão iniciando suas primeiras experiências clínicas6. Pois se trata de um momento muito esperado pela maioria deles, já para outros, pode ser o momento mais difícil ou até mesmo, motivo de desistência da graduação.

No dia 21 de setembro de 2021, foi realizada a primeira experiência prática de cirurgia, na clínica odontológica da Associação Brasileira de Odontologia de Porto Velho-RO onde a ansiedade tornou-se presente tanto nos professores quanto nos alunos, porém de maneira diferente. Nos docentes, manifestou-se como expectativa em ver seus acadêmicos colocando em prática o que aprenderam durante as aulas teóricas. Já nos discentes, a ansiedade surgiu de várias formas como, por exemplo, medo e ansiedade acompanhados de alguns sintomas como, frequência cardíaca alterada, respiração rápida, sensação de cansaço, mãos trêmulas e suadas, até mesmo a vontade de correr ou desaparecer daquele lugar, ou seja, vários sentimentos capazes de impedi-los de exercer a atividade proposta no momento7.

Após uma abordagem inicial dos professores de como procederia aos atendimentos, foi feita a divisão em grupos de três acadêmicos por box e foram distribuídos os prontuários, a fim de realizar o levantamento das condições de saúde bucal de cada paciente ali presente.

Dado início à atividade, grande parte dos acadêmicos mostraram-se ansiosos, porém, seguros de si e foram logo chamando os pacientes para fazerem a anamnese, o exame extraoral e intraoral e diagnosticá-los a fim de realizar a tão esperada cirurgia. Porém, alguns estudantes perderam o controle emocional com o simples fato de estarem ali presentes e com o prontuário em mãos.

Diante da responsabilidade dado ao diagnóstico de cirurgia, foi feito o planejamento cirúrgico e mediante aprovação dos professores, deu-se início a paramentação dos acadêmicos e dos pacientes para os procedimentos. Neste momento, a maioria dos alunos demonstraram-se animados e eufóricos com a situação, já outros, sentiam-se angustiados ao ver a mesa cirúrgica montada com os instrumentais odontológicos.

Saber lidar com os instrumentais no procedimento cirúrgico pode ser algo impossível, pois, são eles os causadores da presença de sangue durante a cirurgia, motivo pelo qual pode transmitir a sensação de estar machucando o paciente.

Para iniciar a cirurgia, além de elaborar o planejamento cirúrgico, é imprescindível que o trio de alunos esteja preparado para assumir a posição de operador, auxiliar e circulante, de maneira que, cada um saiba o seu papel, antes, durante e depois da cirurgia. Neste momento, o apoio do trio é fundamental, pois, além de auxiliar, eles devem estar atentos quando o operador se sente inseguro, nervoso e ansioso. A partir daí, ao perceber que há algo estranho no operador, deve-se tentar acalmá-lo, transmitindo segurança para que ele consiga finalizar o procedimento sem maiores intercorrências. Mas, caso essa situação fuja do controle, o auxiliar é capaz de assumir o papel de operador, além de poder contar com o auxílio dos professores ali presentes que estão dispostos a ajudar no que for necessário, assegurando a saúde do paciente.

Nota-se que, ao término dos procedimentos, há um mix de emoções nos acadêmicos. Sendo que em alguns, estes sentimentos vêm acompanhados de fracasso por não conseguir fazer a cirurgia. Os estudantes pensam logo em desistir da graduação, mas, com o apoio dos professores e colegas, é possível encontrar forças para continuar e até mesmo buscar ajuda psicológica para conseguir alcançar o equilíbrio emocional perante a cirurgia.

Para tanto, o papel dos professores e colegas, durante as práticas cirúrgicas, é essencial para proporcionar, segurança, aconchego e encorajar os acadêmicos com algum desequilíbrio emocional ao encarar o desafio de tentar quantas vezes fossem necessárias para passar logo pela experiência e acabar de vez com o medo da cirurgia.

Mas, em alguns casos é necessário o apoio psicológico de profissional habilitado para o controle do medo e da ansiedade que podem estar relacionados a algum trauma vivido em uma determinada época de sua vida. As terapias podem atuar resgatando memórias de vida do estudante que podem estar intimamente relacionadas aos sintomas como, medo e ansiedade, além de ajudá-los a entender seus sentimentos antes, durante e depois das primeiras experiências cirúrgicas em busca do equilíbrio emocional7.

As terapias podem ajudar a entender todos esses sentimentos que estariam relacionados à dor do próprio acadêmico, ou seja, de experiências passadas que podem estar causando esse desequilíbrio emocional.

Ao final do período das práticas cirúrgicas, aproximadamente três meses, foi possível perceber a evolução de cada acadêmico, principalmente aqueles que se sentiram angustiados8. O maior desafio dessa experiência foi desenvolver a autopercepção em relação à ansiedade e ao medo do procedimento cirúrgico. Buscar meios para serem preparados a perceber, reconhecer e entender cada sentimento presente em si, a fim de encontrar o equilíbrio emocional para que possam ter segurança e confiança, reduzindo assim a ansiedade e o medo frente ao processo cirúrgico8.

Dessa maneira, o apoio psicológico torna-se uma forma de terapia onde o acadêmico pode demonstrar todos seus sentimentos, com a intenção de dar fim a um sofrimento e sentir-se livre para encontrar maneiras de resolver seus problemas e prepará-los para lidar com situações complicadas, além de auxiliá-los no bom desenvolvimento profissional e controle emocional6.

CONCLUSÃO

A autopercepção do acadêmico de odontologia em relação ao medo e ansiedade frente à primeiras experiências cirúrgicas, tem como objetivo encontrar meios de se preparar para momentos inesperados e encontrar o equilíbrio emocional. Neste processo, o apoio dos professores e colegas apresenta-se de maneira essencial. Os acadêmicos podem se sentir mais seguros, acolhidos e confiantes. Sendo que, em alguns casos, o acompanhamento psicológico pode ser uma das formas de terapia cujo objetivo é dar ao indivíduo a liberdade para encontrar meios de resolver seus problemas, capacitando-o para que possa lidar com situações complicadas e ajudá-lo a render bons resultados no desenvolvimento profissional e manter o controle emocional do futuro cirurgião dentista.

Portanto, este relato de experiência sobre o medo e ansiedade entre acadêmicos de odontologia, perante as primeiras experiências cirúrgicas, pode ajudar os professores a lidar melhor com seus alunos e entender como as condições psicológicas refletem no desempenho de seus discentes durante o curso.

REFERÊNCIAS

1NARDI, A. E.; QUEVEDO, J.; SILVA, A. G. (Organizadores). Transtorno de pânico: teoria e clínica – Porto Alegre: Editora: Artmed, p. 17, 2013. Disponível em: https://www.larpsi.com.br/media/mconnect_uploadfiles/c/x/cxe.pdf Acesso em: 29 de outubro de 2021.

2BAPTISTA, A.; CARVALHO, M.; LORY, F. O medo, A ansiedade e as suas perturbações. PSICOLOGIA, Vol. XIX (1-2), 2005, Edições Colibri, Lisboa, p. 267-277. Disponível em: https://revista.appsicologia.org/index.php/rpsicologia/article/view/407/167 Acesso em: 01 de novembro de 2021.

3VASCONCELLOS, M. Diferença entre o transtorno de ansiedade e a ansiedade comum. Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/ansiedade-o-que-e/. Acesso em: 05 de novembro de 2021.

4Organização Mundial de Saúde. Depressionand Other Common Mental Disorders. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/depression-global-health-estimates. Acesso em: 03 de novembro de 2021.

5STEFANELLI. A. De que você tem medo? Blog Psicologia Viva. 2020. Disponível em: https://blog.psicologiaviva.com.br/de-que-voce-tem-medo/. Acesso em: 28 de outubro de 2021.

6SOUZA, N. R. et al. Avaliação da autopercepção da necessidade de apoio psicológico e prevalência de sintomas de ansiedade e depressão nos estudantes do curso de graduação em odontologia da universidade metropolitana de Santos–SP. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/38096. Acesso em: 27 de outubro de 2021.

7DE ALMEIDA, R. Z. et al. Medo e ansiedade de estudantes de Odontologia diante da pandemia do novo coronavírus: um estudo transversal: Medo e ansiedade frente ao COVID-19. Archives of Health Investigation, v. 9, n. 6, p. 623-628, 2020. Disponível em: https://archhealthinvestigation.emnuvens.com.br/ArcHI/article/view/5243. Acesso em: 27 de outubro de 2021.

8Costa, K. M. V. et AL. Ansiedade em universitários na área da saúde. In II Congresso Brasileiro de Ciências da Saúde. 2017. (pp. 14-16). Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conbracis/2017/TRABALHO_EV071_MD1_SA13_ID592_14052017235618.pdf. Acesso em: 26 de outubro de 2021.


i Acadêmico (a) do curso de Odontologia da UNIRON, Porto Velho – RO, Brasil.
ii Docente do curso de Odontologia da UNIRON, Porto Velho – RO, Brasil.