REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8280574
Walmir Teixeira Neto1; Ana Clara de Lima Tenório2; Andressa Lima de Barros3; Fhelip Zenóbio Pessoa Araújo4; Gabriela Peres da Fonsêca Teixeira5; Júlia Maria Carvalho Mateus6; Letícia Alves Barbosa7; Maria Mônica Claudino da Silva8; Matheus Vieira Cabral Figueiredo9; Yasmin Fausto de Oliveira10
Resumo
Introdução: Ao longo das últimas décadas, observou-se um notável aumento na proporção da população idosa no Brasil, alterando substancialmente a configuração da pirâmide etária. Assim, esse panorama demográfico em transformação tem impulsionado um aumento expressivo na prevalência de doenças crônicas e distúrbios psicológicos, a exemplo da depressão, entre os indivíduos idosos. A depressão, uma das condições mais prevalentes entre os idosos, muitas vezes passa despercebida ou é erroneamente considerada inerente ao processo de envelhecimento. A identificação da depressão em idosos pode ser um desafio complexo, o que suscita uma realidade de subdiagnóstico. Portanto, compreender e tratar a depressão em idosos é crucial, exigindo paciência e interação para evitar o isolamento. Além do acompanhamento médico, o apoio familiar é essencial. Objetivo: contribuir para o aperfeiçoamento do manejo da depressão em pacientes idosos. Metodologia: O primeiro passo para a construção da presente revisão foi a definição da pergunta de pesquisa, feita mediante utilização do protocolo PICO. Esta revisão sistemática de literatura foi estruturada, do ponto de vista metodológico, segundo os critérios propostos pela ferramenta PRISMA. Inicialmente, foram definidas as palavras-chave depressão e idosos. Em seguida, procedeu-se à pesquisa na base de dados MEDLINE com a condição de que os artigos tivessem relação com as palavras-chave e tivessem sido publicados nos últimos 5 anos (2018 a 2023), de modo que foram encontrados 5.136 estudos. Excluiu-se artigos incompletos e estudos que não se relacionavam com as palavras-chave após análise de título e resumo. Resultados: A identificação da depressão é complexa, levando a subdiagnóstico. O tratamento abrange terapia, suporte social e medicação personalizada, com estudos evidenciando a eficácia de intervenções, incluindo telemedicina e abordagens segmentadas. Em resumo, abordagens integrativas são essenciais para gerenciar eficazmente a depressão em idosos, contribuindo para melhorar sua qualidade de vida e bem-estar emocional. Conclusão: A partir da análise dos artigos revisados, evidencia-se que o manejo da depressão em pacientes idosos deve considerar as particularidades biológicas, psicológicas e sociais que podem influenciar essa população em fase vulnerável da vida. Em suma, a abordagem multidimensional, com foco na terapia, no suporte social e, quando necessário, em medicações personalizadas, surge como uma estratégia abrangente para o manejo da depressão em pacientes idosos.
Palavras-chave: Depressão; Idosos.
1. Introdução
Ao longo das últimas décadas, observou-se um notável aumento na proporção da população idosa no Brasil, alterando substancialmente a configuração da pirâmide etária. Esse crescimento é atribuído a uma série de fatores, incluindo a queda na taxa de natalidade, a redução na mortalidade infantil, os avanços científicos e tecnológicos e as melhorias na qualidade de vida, bem como a concretização de políticas públicas nas áreas do trabalho, habitação, previdência e assistência social (DE ALMEIDA DÁTILO et al., 2015). Como resultado direto, a mudança demográfica global reverbera em múltiplos setores, ganhando destaque sobretudo no âmbito da saúde. Assim, esse panorama demográfico em transformação tem impulsionado um aumento expressivo na prevalência de doenças crônicas e distúrbios psicológicos, a exemplo da depressão, entre os indivíduos idosos.
Apesar de frequentemente associada à sabedoria e à tranquilidade, a fase idosa da vida pode trazer desafios emocionais significativos. A depressão, uma das condições mais prevalentes entre os idosos, muitas vezes passa despercebida ou é erroneamente considerada inerente ao processo de envelhecimento. Diversos fatores de risco, como perda de entes queridos, isolamento social, doenças crônicas, limitações físicas e aposentadoria, podem predispor o desenvolvimento da depressão nessa população. Além disso, as mudanças biológicas no cérebro e no sistema hormonal tornam os idosos mais suscetíveis à condição. (SOLOMONOV, 2023)
A identificação da depressão em idosos pode ser um desafio complexo, o que suscita uma realidade de subdiagnóstico. Estima-se que cerca de 50% dos idosos depressivos não são corretamente diagnosticados por profissionais de saúde da atenção primária, principalmente devido à semelhança dos sintomas com o processo natural de envelhecimento. Muitas vezes queixas físicas, fadiga, distúrbios do sono, falta de apetite e indisposição são confundidos com desafios adaptativos associados à idade avançada (SOUZA et al., 2017).
Portanto, compreender e tratar a depressão em idosos é crucial, exigindo paciência e interação para evitar o isolamento. Além do acompanhamento médico, o apoio familiar também é essencial (LIMA et al., 2016). O tratamento requer abordagem abrangente, com terapia, suporte social e, às vezes, medicação personalizada conforme necessidades individuais e condições médicas. A prevenção inclui estímulo ao envolvimento social, atividades físicas e educação sobre os sintomas, visando diagnóstico precoce e tratamento adequado. Logo, este estudo visa oferecer insights valiosos sobre o manejo da depressão em pacientes idosos, direcionando benefícios tangíveis não somente para os profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas, mas também contribuindo de modo substancial para aprimorar a gestão dessa relevante condição de saúde pública em âmbito global.
2. Metodologia
2.1 Definição da pergunta de pesquisa
O primeiro passo para a construção da presente revisão foi a definição da pergunta de pesquisa, feita mediante utilização do protocolo PICO, segundo o qual deve-se estabelecer a população a ser estudada (p), a intervenção a ser avaliada (i), os critérios de comparação (c) e os efeitos observados (o). A partir disso, esses itens foram definidos da seguinte forma: pacientes acima de 60 anos com depressão (p); avaliação dos sintomas de depressão (i); sem critérios de comparação (c) e efeitos na qualidade de vida (o).
2.2 Identificação
Esta revisão sistemática de literatura foi estruturada, do ponto de vista metodológico, segundo os critérios propostos pela ferramenta PRISMA. Inicialmente, foram definidas as palavras-chave depressão e idosos. Em seguida, procedeu-se à pesquisa na base de dados MEDLINE com a condição de que os artigos tivessem relação com as palavras-chave e tivessem sido publicados nos últimos 5 anos (2018 a 2023), de modo que foram encontrados 5.136 estudos.
2.3 Triagem
No que se refere ao processo de triagem, em primeiro lugar excluiu-se artigos incompletos e estudos que não se relacionavam com as palavras-chave após análise de título e resumo. Posteriormente, os artigos restantes foram avaliados pelo seu texto completo, de modo que cada estudo foi escrutinado por pelo menos dois autores e relatado para os demais autores. Nesse ponto, foram excluídos artigos considerados de alto risco de viés após análise pela escala Risk of Bias (RoB 1) da plataforma Cochrane.
2.4 Inclusão
Por fim, os artigos que seguiram elegíveis após esse processo foram incluídos no presente estudo e foi feito um relato detalhado dos mesmos com foco na metodologia, discussão e resultados. Posteriormente, foi constituída uma tabela contendo: título do artigo, ano de publicação, tipo de estudo e resultados.
3. Resultados
Quadro 1: Resultados
Título do Artigo | Ano de Publicação | Tipo de estudo | Resultados |
Efficacy of telemedicine interventions for depression and anxiety in older people: A systematic review and meta-analysis. | 2023 | Revisão sistemática | A literatura revisada indicou que as intervenções de telemedicina foram eficientes na redução dos sintomas de depressão e ansiedade. Quatro estudos avaliaram a eficácia da telemedicina utilizando terapia cognitivo-comportamental (TCC) para depressão e ansiedade em adultos mais velhos, comparados a um grupo controle, e encontraram tamanhos de efeito combinados de -1,20 (IC 95% -1,60 a -0,81) e -1,14 (IC 95% -1,56 a -0,72), respectivamente, com baixa heterogeneidade. |
Course of Subtypes of Late-Life Depression Identified by Bipartite Network Analysis During Psychosocial Interventions. | 2023 | Ensaio clínico | Identificou-se entre 535 idosos depressão em 3 subtipos clínicos: (1) indivíduos com depressão grave e uma grande rede social; (2) idosos instruídos que experimentam um forte suporte social e interações sociais; e (3) indivíduos com incapacidades. Houve uma diferença significativa nas trajetórias de depressão (P < 0,001) e na taxa de remissão (P < 0,001) entre os subtipos clínicos. O Subtipo 2 teve a trajetória de depressão mais acentuada e maior probabilidade de remissão independentemente da intervenção, enquanto o Subtipo 1 teve a pior trajetória de depressão. |
Effectiveness of vortioxetine in patients with major depressive disorder and early-stage dementia: The MEMORY study. | 2023 | Ensaio clínico | Uma melhoria significativa na gravidade dos sintomas depressivos foi observada a partir da primeira semana (P < 0,0001). Na semana 12, a mudança na média do escore total da escala MADRS em relação ao valor inicial foi de -12,4 (0,78). Melhorias significativas no desempenho cognitivo foram observadas. Os pacientes também experimentaram melhorias significativas no funcionamento diário e global, além da qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL). A partir da quarta semana, mais de 50% dos pacientes estavam recebendo 20 mg/dia. |
Effects of a Multiple-Intervention Program on the Depressive Tendencies, Social Support, and Life Satisfaction of Older Adults in Taiwan. | 2023 | Ensaio clínico | A pontuação média dos participantes na escala GDS-SF15 (escala de depressão geriátrica) diminuiu consideravelmente após 8 semanas de intervenção (em 35,3%). A pontuação média no ISSB (escala de apoio social) aumentou de 61,9% para 80,9%, e a pontuação média no LSS (escala de qualidade de vida) aumentou de 48% para 64%. |
Fonte: autores
4. Discussão
A gestão da depressão em pacientes idosos é um desafio complexo, considerando a diversidade de fatores envolvidos, como as particularidades biológicas, psicológicas e sociais que podem influenciar essa população vulnerável. Nesse contexto, a presente discussão explora achados relevantes provenientes de diversas intervenções que demonstraram eficácia na redução dos sintomas depressivos em idosos.
4.1 O uso da telemedicina
A telemedicina apresenta-se como abordagem promissora na promoção de saúde para a população idosa, na medida em que permite transpor a barreira física de acesso à saúde, o que facilita a adesão ao tratamento. Esta revisão da literatura aponta que as intervenções de telemedicina, especialmente aquelas envolvendo terapia cognitivo-comportamental (TCC), mostraram-se eficazes na redução tanto dos sintomas de depressão quanto de ansiedade em idosos. Os resultados desses estudos demonstraram tamanhos de efeito consideráveis, com valores de -1,20 e -1,14 para depressão e ansiedade, respectivamente, indicando que a intervenção com telemedicina teve grande impacto no tratamento desses pacientes.
4.2 Segmentação de subtipos clínicos
A segmentação de subtipos clínicos dentro da população idosa com depressão é uma abordagem que tem o potencial de personalizar o cuidado, de modo a identificar as necessidades especiais de cada paciente. A identificação de três subtipos distintos — aqueles com depressão grave e grande rede social (subtipo 1); idosos instruídos com forte suporte social e interações sociais (subtipo 2); e indivíduos com incapacidades (subtipo 3) — revela nuances importantes que devem ser consideradas no manejo terapêutico. A diferença nas trajetórias de depressão e nas taxas de remissão entre esses subtipos enfatiza a necessidade de estratégias individualizadas para otimizar resultados.
Especificamente, a literatura revisada indica que idosos identificados com o subtipo 2 têm maior probabilidade de remissão, presumivelmente em virtude do forte suporte social e das redes de interação social nas quais estão inseridos. Além disso, observou-se que o subtipo 1 (idosos com depressão grave e grande rede social) tem evolução rápida e menor chance de remissão, o que constitui um desafio em que o sucesso depende, de início, da identificação do paciente nessas condições. Nesse sentido, entende-se que o manejo de pacientes idosos com depressão transcende a escolha da melhor opção farmacológica e abordagem psicoterapêutica, envolvendo especialmente a análise minuciosa da rede de relações do indivíduo com a família e com a comunidade.
4.3 Abordagem farmacológica
Na literatura revisada, encontrou-se relato dos efeitos do uso da vortioxetina como opção farmacológica no tratamento da depressão em idosos. A melhora na gravidade dos sintomas depressivos, bem como o aumento do desempenho cognitivo, funcionamento diário e qualidade de vida, evidenciam a eficácia dessa intervenção. A diminuição na pontuação média da escala de depressão geriátrica (GDS-SF15), o aumento na pontuação média da escala de apoio social (ISSB) e da escala de qualidade de vida (LSS) após intervenção multidimensional sublinha a importância de tratar a depressão de maneira holística, considerando tanto os aspectos emocionais quanto os sociais e de qualidade de vida. A combinação dessas melhorias indica que intervenções que visam múltiplos domínios podem resultar em ganhos abrangentes no bem-estar dos idosos.
5. Conclusão
A partir da análise dos artigos revisados, evidencia-se que o manejo da depressão em pacientes idosos deve considerar as particularidades biológicas, psicológicas e sociais que podem influenciar essa população em fase vulnerável da vida.
A literatura revisada observou abordagens inovadoras que mostraram eficácia no manejo da depressão em idosos. A utilização da terapia cognitivo-comportamental (TCC) via telemedicina provou ser uma opção viável para a redução dos sintomas de depressão e ansiedade, o que é fundamental para essa população na medida em que supera as barreiras físicas de acesso aos cuidados de saúde.
Ademais, a observação de evoluções diferentes a depender do subtipo clínico ressalta a importância da identificação desses subtipos e da personalização do tratamento, reconhecendo que diferentes grupos de idosos podem responder de maneira distinta às intervenções. As intervenções farmacológicas demonstraram resultados notáveis em um curto período de tempo, melhorando a gravidade dos sintomas depressivos, o desempenho cognitivo, o funcionamento diário e a qualidade de vida.
Em suma, a abordagem multidimensional, com foco na terapia, no suporte social e, quando necessário, em medicações personalizadas, surge como uma estratégia abrangente para o manejo da depressão em pacientes idosos.
6. Referências
DE ALMEIDA DÁTILO, Gilsenir Maria Prevelato et al. S ENVELHECIMENTO E ER: REPRESENTAÇÕES DE IDOSOS QUE FREQUENTAM A UNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADE UNATI-MARÍLIA. Envelhecimento humano: diferentes olhares, p. 45, 2015.
SOUSA KA, et al. Prevalência de sintomas de depressão em idosos assistidos pela estratégia de saúde da família. REME rev. min. enferm, 2017;21(2):.82-93
LIMA AMP, et al. Depressão em idosos: uma revisão sistemática da literatura. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, 2016; 6(2): 96-103
CHENG, Wan-Chun; WANG, Shou-Yu; LEE, Pei-Yu. Effects of a Multiple-Intervention Program on the Depressive Tendencies, Social Support, and Life Satisfaction of Older Adults in Taiwan. Journal of Community Health Nursing, p. 1-13, 2023.
CHRISTENSEN, Michael Cronquist; SCHMIDT, Simon Nitschky; GRANDE, Iria. Effectiveness of vortioxetine in patients with major depressive disorder and early-stage dementia: The MEMORY study. Journal of Affective Disorders, 2023.
SOLOMONOV, Nili et al. Course of Subtypes of Late-Life Depression Identified by Bipartite Network Analysis During Psychosocial Interventions. JAMA psychiatry, 2023.
DE OLIVEIRA, Paola Bell Felix et al. Efficacy of telemedicine interventions for depression and anxiety in older people: A systematic review and meta‐analysis. International Journal of Geriatric Psychiatry, v. 38, n. 5, p. e5920, 2023.
1Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). walmirneto555@gmail.com
2Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). clarinhaa007@hotmail.com
3Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). ac.andressalima@outlook.com
4Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). fhelip@icloud.com
5Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). gabrielapfonseca@hotmail.com
6Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). juliamocm@icloud.com
7Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). barbosa.leticia1@hotmail.com
8Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). moonica_claudino@hotmail.com
9Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). matheusvcfigueredo@hotmail.com
10Graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Olinda (FMO). yasmin_fausto@hotmail.com