O IMPACTO DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS NO TRABALHO DE MULHERES PROFISSIONAIS DA SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504201821


Ane Karine Rasia Bueno1


RESUMO

Os transtornos ansiosos em mulheres profissionais da saúde representam um desafio significativo para o sistema de saúde, impactando tanto o bem-estar das trabalhadoras quanto a qualidade do atendimento prestado. Esta pesquisa objetivou analisar os impactos dos transtornos ansiosos no trabalho de mulheres profissionais da saúde e identificar estratégias de intervenção para modificar e melhorar as condições laborais. Metodologicamente, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, resultando em uma amostra final de 12 artigos. Os resultados evidenciaram uma prevalência significativamente maior de transtornos ansiosos em mulheres profissionais da saúde em comparação aos homens, manifestando-se principalmente como ansiedade generalizada, estresse e burnout. Os impactos incluem prejuízos no desempenho profissional, aumento do absenteísmo e comprometimento da qualidade do serviço prestado. A discussão revelou que as intervenções mais eficazes combinam ações preventivas e corretivas, desde mudanças organizacionais e treinamento especializado até programas de apoio psicológico. Conclui-se que é importante implementar medidas preventivas e políticas integradas para promover ambientes de trabalho mais saudáveis e equitativos.

Palavras-chave: Ansiedade. Mulheres Trabalhadoras. Pessoal de Saúde.

ABSTRACT

Anxiety disorders in female healthcare professionals represent a significant challenge for the healthcare system, affecting both the well-being of the workers and the quality of care provided. This research aimed to analyze the impacts of anxiety disorders on the work of female healthcare professionals and identify intervention strategies to modify and improve working conditions. Methodologically, a systematic literature review was conducted, resulting in a final sample of 12 articles. The results revealed a significantly higher prevalence of anxiety disorders in female healthcare professionals compared to men, primarily manifesting as generalized anxiety, stress, and burnout. The impacts include reduced professional performance, increased absenteeism, and compromised service quality. The discussion revealed that the most effective interventions combine preventive and corrective actions, ranging from organizational changes and specialized training to psychological support programs. It is concluded that implementing preventive measures and integrated policies is essential to promote healthier and more equitable work environments.

Keywords: Anxiety. Women, Working. Health Personnel.

1 INTRODUÇÃO

Os transtornos ansiosos englobam um conjunto de condições psicológicas caracterizadas por preocupação excessiva, medo intenso ou apreensão que interferem na funcionalidade diária. Estes transtornos vão além da ansiedade comum e incluem sintomas persistentes como inquietação, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e tensões musculares. Os transtornos ansiosos podem impactar o bem-estar e a capacidade de desempenhar atividades cotidianas, tornando o diagnóstico e tratamento fundamentais para a melhoria da qualidade de vida (Serrano-Ripoll et al., 2020).

Os principais tipos de transtornos ansiosos incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno de pânico, fobias específicas, transtorno de ansiedade social e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Cada tipo apresenta particularidades: o TAG, por exemplo, envolve preocupações constantes e excessivas, enquanto o transtorno de pânico inclui crises de ansiedade súbitas. As fobias específicas limitam a vida ao desencadear medos desproporcionais a situações particulares (Pajuelo; Ramos; Lazo-Porras, 2022).

No caso das mulheres trabalhadoras da saúde, os transtornos ansiosos têm implicações agravadas por fatores como carga horária extensa, pressão constante por decisões assertivas e exposição a situações emocionalmente desafiadoras. Essa combinação de estressores diários aumenta a suscetibilidade à ansiedade crônica, impactando tanto a saúde mental quanto o desempenho profissional. Além disso, a dupla jornada, comum nessa área, pode intensificar esses efeitos negativos (Serrano-Ripoll et al., 2020).

As implicações dos transtornos ansiosos vão além do aspecto pessoal, afetando também a qualidade do atendimento prestado. Profissionais ansiosos podem apresentar dificuldades em manter a concentração e tomar decisões rápidas, fundamentais no ambiente clínico. Isso pode resultar em maior risco de erros e comprometimento no relacionamento com pacientes e colegas (Pajuelo; Ramos; Lazo-Porras (2022). Portanto, estratégias de intervenção são essenciais para mitigar esses efeitos e promover um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado.

A temática investigada nesta pesquisa é o impacto dos transtornos ansiosos no trabalho de mulheres profissionais da saúde. Pesquisas anteriores focaram principalmente na identificação e prevalência dos transtornos ansiosos, com limitada atenção às intervenções específicas para mulheres na saúde. Este estudo avança ao analisar sistematicamente as estratégias de intervenção existentes e propor melhorias baseadas em evidências, preenchendo uma lacuna importante na literatura sobre saúde mental ocupacional feminina.

A relevância social desta pesquisa fundamenta-se no expressivo contingente de mulheres na área da saúde e no impacto de sua saúde mental na qualidade do cuidado oferecido à população. Academicamente, contribui para o desenvolvimento de conhecimento específico sobre intervenções efetivas, enquanto profissionalmente oferece subsídios para políticas institucionais de proteção à saúde mental.

A justificativa profissional baseia-se nos dados alarmantes que indicam alta prevalência de burnout e transtornos mentais em mulheres profissionais de saúde (Sousa et al., 2021). Estas estatísticas evidenciam a urgência de intervenções específicas para proteger a saúde mental dessas trabalhadoras e garantir a qualidade dos serviços de saúde.

O ambiente de trabalho na área da saúde apresenta múltiplos estressores que afetam desproporcionalmente as mulheres, incluindo sobrecarga de trabalho, baixa remuneração e violência no ambiente laboral (Fernandes et al., 2018). Diante deste cenário, emerge a questão: como os impactos dos transtornos ansiosos no trabalho de mulheres profissionais da saúde podem ser modificados e melhorados por meio de intervenções específicas?

Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar os impactos dos transtornos ansiosos no ambiente de trabalho de mulheres profissionais da saúde, identificando estratégias de intervenção que possam modificar e melhorar as condições de trabalho e saúde mental dessas profissionais. Os objetivos específicos são: identificar os principais tipos e características dos transtornos ansiosos; examinar sua prevalência e impactos; e avaliar intervenções existentes.

Metodologicamente, realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas bases LILACS, MEDLINE e SciELO. A análise seguiu o protocolo PRISMA, com critérios de inclusão e exclusão predefinidos, resultando em uma amostra final de 12 artigos publicados entre 2016 e 2024.

2 METODOLOGIA

Este trabalho consistiu em uma Revisão Sistemática da Literatura, metodologia que permite identificar, avaliar e sintetizar rigorosamente as evidências científicas disponíveis sobre um tema específico. Esse tipo de revisão segue um protocolo estruturado e criterioso para garantir a objetividade e minimizar vieses na seleção e análise dos estudos incluídos, proporcionando uma visão abrangente e confiável da área estudada. O objetivo da revisão sistemática é facilitar o acesso ao conhecimento científico de alta qualidade e fornecer suporte para decisões profissionais fundamentadas em evidências robustas (Varano et al., 2021).

A revisão sistemática teve início com a formulação da pergunta de pesquisa, baseada no modelo PICO, que envolve os elementos “população”, “intervenção”, “comparação” e “desfecho”, conforme demonstrado no Quadro 1. Assim, a questão de pesquisa definida foi: “Como os impactos dos transtornos ansiosos no trabalho de mulheres profissionais da saúde podem ser modificados e melhorados por meio de intervenções específicas?”.

Quadro 1 – Componentes da pergunta norteadora conforme estratégia PICO

Fonte: Elaborado pelo autor (2024)

O foco da análise foi a produção científica publicada em periódicos indexados nos bancos de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (National Library of Medicine) e SciELO (Scientific Electronic Library Online), acessíveis pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) (http://www.bireme.br).

Os descritores empregados foram indexados nos Descritores em Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), sendo eles “Ansiedade” (Anxiety, Ansiedad), “Mulheres Trabalhadoras” (Women, Working, Mujeres Trabajadoras) e “Pessoal de Saúde” (Health Personnel, Personal de Salud), com auxílio dos operadores booleanos “AND” e “OR” para refinar a busca. Adicionalmente, foi aplicado um filtro temporal de dez anos.

Após a busca, iniciou-se uma triagem preliminar dos artigos com base na análise de títulos e resumos, buscando identificar publicações potencialmente relevantes. Em seguida, os textos selecionados foram lidos integralmente, e os que não atendiam aos critérios de inclusão foram descartados, resultando na amostra final de estudos.

Para compor a amostra, foram considerados artigos de pesquisa primária e secundária sobre o tema em questão, publicados nos últimos dez anos, e disponíveis em português, inglês ou espanhol. Excluíram-se da análise teses, dissertações, trabalhos de conferências e duplicatas de artigos.

A extração dos dados foi conduzida de forma independente. Os artigos escolhidos foram avaliados e documentados em um protocolo desenvolvido pelo autor, estruturado em seis seções, sendo elas: autor/ano, objetivos, participantes/delineamento, procedimentos/intervenção, instrumentos de coleta e resultados.

A análise dos estudos ocorreu em novembro de 2024, empregando o checklistPreferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses” (PRISMA), que consiste em uma lista de verificação com 27 itens. A Declaração PRISMA visa orientar a elaboração de relatórios de revisões sistemáticas e metanálises, sem ser uma ferramenta de avaliação de qualidade, conforme descrito por Page et al. (2021).

A busca inicial nas bases de dados utilizando os descritores resultou em 79 artigos. Na sequência, foi aplicado o filtro de idioma, considerando apenas artigos em português, inglês e espanhol, o que reduziu o número para 77 artigos. Em seguida, a aplicação do filtro de área temática resultou em 61 artigos. O próximo passo foi a aplicação do filtro temporal de dez anos, que reduziu o número de artigos para 19.

Após esta etapa, realizou-se uma análise qualitativa dos títulos e resumos dos artigos remanescentes, buscando identificar aqueles que efetivamente abordavam o tema dos transtornos ansiosos em mulheres profissionais da saúde. Esta análise resultou em 16 artigos. Por fim, após uma avaliação mais detalhada da qualidade e pertinência dos estudos, 12 artigos foram qualificados para compor a amostra final da revisão sistemática. Este processo é apresentado na Figura 1:

Figura1 – Critérios de inclusão e exclusão utilizados para a pesquisa

Fonte: Elaborado pelo Autor (2024).

Como este estudo consiste em uma revisão de literatura que utiliza fontes previamente publicadas, a submissão ao comitê de ética em pesquisa não foi exigida. Mesmo assim, foram rigorosamente seguidos os princípios éticos da pesquisa científica. Isso inclui a devida citação e atribuição de crédito aos autores consultados, de acordo com as diretrizes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Assim, assegura-se a conformidade com as normas de padronização e a excelência na apresentação do trabalho.

3 RESULTADOS

Os 12 artigos escolhidos foram analisados de forma integral, e as principais informações foram sistematizadas na Tabela 1, contendo as seguintes seções: número do artigo, autor/ano, objetivos e participantes/delineamento:

Tabela 1 – Características dos artigos selecionados – Parte 1

Fonte: Elaborado pelo Autor (2024)

As informações também foram segmentadas em: número do artigo, procedimentos/intervenção, instrumentos de coleta e resultados:

Tabela 2 – Características dos estudos incluídos – Parte 2

Fonte: Elaborado pelo Autor (2024)

Dentre os artigos selecionados para comporem esta revisão sistemática, cinco são de língua inglesa e sete são em português, sendo oito artigos originais e quatro revisões de literatura. Dois artigos foram publicados em 2016, três artigos foram publicados em 2018, um artigo foi publicado em 2019, um artigo foi publicado em 2020, um artigo foi publicado em 2021, dois artigos foram publicados em 2022, um artigo foi publicado em 2023 e um artigo foi publicado em 2024.

4 DISCUSSÃO

4.1 TRANSTORNOS ANSIOSOS EM MULHERES DA SAÚDE

Fernandes et al. (2018) destacam que a ansiedade, o estresse e a depressão são comuns entre as profissionais da saúde, manifestando-se por meio de irritabilidade, insônia, fadiga e dificuldades de concentração. Essa visão se alinha com os achados de Pereira, Eberhardt e Carvalho (2024), que ressaltam sintomas similares associados ao estresse ocupacional, como alterações de humor e insônia, confirmando uma sobreposição significativa de manifestações clínicas.

Prado (2016) também sugere que o estresse ocupacional contribui para condições mais graves, como a síndrome de burnout, que afeta a saúde mental de profissionais que lidam com cuidado intensivo, uma característica central das mulheres na área de saúde. Comparando com Fernandes et al. (2018), observa-se uma convergência na ideia de que a exposição prolongada ao estresse pode evoluir para sintomas ansiosos mais intensos.

No estudo de Oliveira et al. (2022), a síndrome de burnout em médicas se destaca com sentimentos de esgotamento e falta de energia, sintomas que podem se correlacionar com transtornos de ansiedade. A relação entre burnout e transtornos mentais sugere uma conexão que merece atenção. Isso complementa as ideias de Prado (2016) e Fernandes et al. (2018) sobre o impacto do esgotamento.

Serrano-Ripoll et al. (2020) oferecem dados relevantes ao mencionar uma prevalência maior de TEPT e ansiedade em mulheres profissionais da saúde em comparação com os homens. Essa diferença, associada a fatores ocupacionais e sociodemográficos, expande a análise ao incluir o impacto de pandemias e eventos críticos.

Liu et al. (2021) também reforçam as diferenças de gênero, apontando que mulheres profissionais da saúde apresentam maiores escores de sintomas de ansiedade, estresse e insônia em relação aos homens. Essa observação traz uma perspectiva de vulnerabilidade feminina que se conecta com os achados de Serrano-Ripoll et al. (2020), que atribuem essa predisposição a fatores biológicos e sociais.

Kim et al. (2018) identificam os transtornos de ansiedade, destacando a preocupação excessiva e o estresse como características comuns. Esses achados corroboram com Fernandes et al. (2018) e Prado (2016), que reconhecem sintomas de preocupação e desgaste emocional como centrais nos transtornos ansiosos.

Pajuelo, Ramos e Lazo-Porras (2022) trazem à tona o impacto da pandemia de COVID-19, identificando ansiedade generalizada, depressão e TEPT como transtornos predominantes entre mulheres. Esses resultados evidenciam sintomas como pensamentos traumáticos e medo de contaminação, complementando as observações de Serrano-Ripoll et al. (2020) sobre o impacto de crises de saúde em profissionais.

Mcmagh, Fadahun e Francis (2023) abordam a alta prevalência de ansiedade generalizada (50,8%) e depressão (16,5%) em mulheres profissionais da saúde, relacionando essas condições a riscos de suicídio. Por fim, Sousa et al. (2021) mencionam os transtornos mentais comuns que incluem sintomas ansiosos, como irritabilidade e dificuldades de concentração, alinhando-se com Fernandes et al. (2018) e Pereira, Eberhardt e Carvalho (2024). Esses sintomas comprometem a saúde mental e indicam que a ansiedade, mesmo em formas menos severas, é um problema contínuo para mulheres na saúde.

Dessa forma, a discussão evidencia que os transtornos ansiosos em mulheres profissionais da saúde se manifestam principalmente como ansiedade, estresse, depressão e, em situações extremas, como TEPT. A comparação entre os autores revela que fatores ocupacionais, sociais e eventos críticos, como pandemias, exacerbam esses transtornos.

4.2 IMPACTOS DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS NO TRABALHO

A prevalência de transtornos ansiosos entre mulheres na área da saúde é notavelmente elevada. Fernandes et al. (2018) destacam que esses transtornos, atingindo até 20%, prejudicam diretamente a saúde mental, o desempenho e a qualidade de vida dessas profissionais, causando absenteísmo e redução da capacidade laboral. Esses dados se correlacionam com os achados de Sousa et al. (2021), que apontam uma prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) em 23% entre mulheres na saúde, superando a dos homens e impactando diretamente o trabalho.

Prado (2016) observa que o reconhecimento da síndrome de burnout como risco ocupacional reforça a suscetibilidade das mulheres na saúde a transtornos mentais, sugerindo uma conexão entre o estresse laboral e impactos negativos no desempenho e na satisfação profissional. Complementando isso, Pereira, Eberhardt e Carvalho (2024) indicam que enfermeiras enfrentam um aumento significativo de adoecimento mental, evidenciado por estresse e desmotivação, que deterioram o rendimento e a qualidade de vida no trabalho.

O estudo de Lima, Farah e Bustamante-Teixeira (2018) revela uma prevalência de burnout de 51% em profissionais de saúde primária, com destaque para a enfermagem, evidenciando que a sobrecarga emocional contribui para sintomas de ansiedade e prejuízos físicos e psicológicos. Esses achados são alinhados com os de Oliveira et al. (2022), que identificaram 61,6% de burnout em médicas durante a pandemia de COVID-19, com impactos significativos como falta de energia, desmotivação e comprometimento da eficiência.

Os impactos desses transtornos, como ressaltado por Serrano-Ripoll et al. (2020), vão além do desgaste pessoal, incluindo aumento de erros, diminuição da motivação e conflitos no ambiente de trabalho. Esse ponto é corroborado por Pajuelo, Ramos e Lazo-Porras (2022), que encontraram uma prevalência de ansiedade de 43,13% entre mulheres durante a pandemia, evidenciando que o estresse pode levar a um desempenho instável e afetar relações profissionais.

Liu et al. (2021) reforçam que mulheres na saúde apresentam maior risco de problemas de saúde mental em comparação aos homens, com odds ratios2 de 1,55 a 1,97. Esses dados destacam o impacto na prestação de cuidados, uma vez que o desempenho prejudicado compromete tanto a qualidade do serviço quanto a própria saúde das trabalhadoras, ampliando a carga de trabalho e os desafios institucionais.

Kim et al. (2018) identificam uma prevalência de transtornos de ansiedade de 2,53% entre mulheres na saúde, associando esses transtornos ao aumento de erros e menor desempenho, o que resulta em custos maiores para as instituições de saúde. Mcmagh, Fadahun e Francis (2023) adicionam que as mulheres profissionais têm uma probabilidade significativamente maior de enfrentar ansiedade e depressão em comparação aos homens, destacando a necessidade de suporte psicológico e intervenções direcionadas.

Portanto, os estudos reforçam que a prevalência de transtornos ansiosos entre mulheres na saúde é alta e impacta consideravelmente seu desempenho e qualidade de vida, concordando quanto aos efeitos adversos e à necessidade de melhores medidas de apoio e prevenção.

4.3 INTERVENÇÕES PARA TRANSTORNOS ANSIOSOS

Estudos indicam que intervenções para reduzir o impacto dos transtornos ansiosos entre mulheres profissionais de saúde devem focar em mudanças estruturais no ambiente de trabalho. Fernandes et al. (2018) destacam a importância de medidas organizacionais, como a redução da carga de trabalho e o aumento do controle sobre as tarefas, que podem minimizar o estresse e melhorar a saúde mental. Intervenções que promovem programas de gerenciamento de estresse e apoio psicológico também têm eficácia comprovada na promoção do bem-estar.

Prado (2016) reforça a necessidade de abordagens preventivas que vão além das intervenções individuais, incluindo mudanças organizacionais e gestão de riscos ambientais. Essas estratégias podem melhorar a saúde das trabalhadoras ao transformar o ambiente de trabalho em um espaço mais saudável. A relevância de tais intervenções é destacada pela complementaridade com as medidas de Fernandes et al. (2018), que ressaltam tanto o monitoramento quanto a implementação de políticas públicas.

Oliveira et al. (2022) mencionam que fatores como espiritualidade e crenças pessoais são importantes para proporcionar conforto psicológico. Isso sugere que estratégias de bem-estar devem considerar abordagens holísticas, incluindo suporte emocional e autocuidado. Tais ideias complementam as de Pereira, Eberhardt e Carvalho (2024), que evidenciam o papel de redes de apoio profissional e familiar como meios para lidar com o estresse ocupacional.

Lima, Farah e Bustamante-Teixeira (2018) identificam que a valorização dos profissionais e a promoção de relações interpessoais são fundamentais para proteger contra o burnout e, por extensão, transtornos ansiosos. Tais práticas podem ser combinadas com as estratégias mencionadas por Sousa et al. (2021), que defendem a implementação de condições de trabalho salubres e lideranças participativas, elementos que elevam a satisfação e reduzem os níveis de ansiedade.

Estratégias como a avaliação periódica da saúde mental são defendidas por Pajuelo, Ramos e Lazo-Porras (2022), que apontam o acompanhamento psicológico e programas de apoio como eficazes para reduzir o impacto de transtornos mentais. Serrano-Ripoll et al. (2020) corroboram essa abordagem ao destacar a importância do treinamento especializado e do apoio organizacional, fundamentais para o fortalecimento da resiliência e da resposta ao estresse.

Liu et al. (2021) enfatizam que tanto medidas individuais quanto sistêmicas são necessárias, incluindo orientação cognitiva e estratégias de enfrentamento. Essa visão é apoiada por Mcmagh, Fadahun e Francis (2023), que ressaltam a conscientização sobre serviços de apoio e a implementação de programas de bem-estar como formas de intervenção eficazes. A participação ativa dos profissionais nesses programas é essencial para seu sucesso.

Kim et al. (2018) sugerem que intervenções governamentais são necessárias para abordar os estressores ocupacionais, destacando a relevância de políticas públicas como parte da solução. Essas intervenções complementam as ações institucionais mencionadas por Fernandes et al. (2018) e Prado (2016), que defendem uma abordagem mais abrangente para melhorar a saúde mental no ambiente de trabalho.

Araújo et al. (2016) apontam que modelos combinados de avaliação do estresse, como o modelo demanda-controle, podem contribuir para a análise dos fatores psicossociais relacionados à saúde mental. Essa abordagem integrada pode orientar a implementação de intervenções mais eficazes e personalizadas, alinhando-se com as estratégias defendidas por Sousa et al. (2021) para promover um ambiente laboral mais saudável.

Compreende-se, desta maneira, que a literatura sugere que as intervenções mais eficazes combinam ações preventivas e corretivas, desde mudanças organizacionais e treinamento especializado até programas de apoio psicológico e conscientização. Essas estratégias devem ser adaptadas às necessidades específicas das mulheres na área da saúde, promovendo tanto suporte coletivo quanto recursos individuais para lidar com os transtornos ansiosos.

5 CONCLUSÃO

O objetivo desta pesquisa foi analisar os impactos dos transtornos ansiosos no trabalho de mulheres profissionais da saúde e identificar estratégias de intervenção. Os estudos selecionados forneceram evidências importantes sobre a prevalência desses transtornos, seus impactos no desempenho profissional e as possíveis intervenções para melhorar as condições de trabalho e saúde mental dessas profissionais.

A pesquisa abordou três aspectos principais: a caracterização dos transtornos ansiosos em mulheres da saúde, evidenciando maior prevalência em comparação aos homens; os impactos no trabalho, incluindo prejuízos no desempenho, absenteísmo e comprometimento da qualidade do serviço; e as estratégias de intervenção, que englobam desde mudanças organizacionais até programas de apoio psicológico e medidas preventivas institucionais.

As principais limitações identificadas incluem a escassez de estudos longitudinais que avaliem a eficácia das intervenções a longo prazo. Sugere-se que pesquisas futuras investiguem a efetividade das intervenções propostas, realizem estudos comparativos entre diferentes contextos culturais e explorem a interseccionalidade entre gênero e outros fatores sociodemográficos no desenvolvimento de transtornos ansiosos.

Esta pesquisa contribui significativamente para o campo ao sistematizar o conhecimento sobre transtornos ansiosos em mulheres profissionais da saúde, oferecendo uma visão abrangente do problema e suas possíveis soluções. O trabalho também destaca a necessidade de uma abordagem integrada que considere tanto aspectos individuais quanto organizacionais no enfrentamento desses transtornos.

As implicações práticas desta pesquisa são relevantes para gestores e outros profissionais da saúde. Os resultados sugerem a necessidade de implementação de programas de prevenção e suporte psicológico, adequação das condições de trabalho e desenvolvimento de políticas institucionais que promovam um ambiente laboral mais saudável e equitativo para as mulheres profissionais da saúde.

Conclui-se que os transtornos ansiosos representam um desafio significativo para mulheres profissionais da saúde, demandando atenção e ações em múltiplos níveis. O sucesso no enfrentamento dessa questão depende da implementação de intervenções abrangentes e do compromisso institucional com a saúde mental dessas profissionais, aspectos fundamentais para garantir tanto o bem-estar das trabalhadoras quanto a qualidade do cuidado em saúde.


2 Medida estatística que indica a chance relativa de um evento ocorrer em um grupo em comparação a outro grupo (Liu et al., 2021).

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1 Discente do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho. Email: anekrb@gmail.com