O IMPACTO DO CLIMATÉRIO NA ATIVIDADE SEXUAL FEMININA

THE IMPACT OF CLIMATERIUM ON FEMALE SEXUAL ACTIVITY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10615924


Josefa Taynara Gomes dos Santos; Jennyfer Morato Alves; Sâmya Flavya Nascimento Macedo; Francis Ismaiaria Rodrigues dos Santos; Adriana dos Santos Lacerda; Valquíria Pinheiro Pereira Pires; Leila Lopes Machado; Maria Agda Bezerra Mendes; Valéria Ferreira Pereira; Pâmela Thayne Macêdo Sobreira


RESUMO

INTRODUÇÃO: O climatério representa uma fase na vida da mulher marcada por alterações hormonais fisiológicas e endócrinas. Um fenômeno frequente nesse ciclo feminino é a correlação entre depressão, sintomas de ansiedade e a redução do desejo sexual. É relevante ressaltar que esses sintomas tendem a ser mais acentuados na perimenopausa tardia e na pós-menopausa, enquanto na pré-menopausa apresentam-se de maneira mais branda. OBJETIVO: descrever de que maneira a fase do climatério pode impactar a qualidade de vida da mulher. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão de literatura utilizando as bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library on Line) e PubMed (National Library of Medicine). O operador booleano “AND” foi empregado, combinando os seguintes descritores registrados no Descritores de Ciências da Saúde (DeCS): “Climatério”, “saúde da mulher”, “qualidade de vida” e “sexualidade”. O trabalho foi fundamentado em 14 artigos selecionados durante esse processo de revisão. RESULTADOS E DISCUSSÕES: As marcantes alterações hormonais desempenham um papel fundamental durante a transição do climatério. Nessa fase, ocorre uma diminuição na produção de estrogênio pela mulher, o que pode afetar a região pélvica e a lubrificação vaginal, impactando diretamente a vida sexual. Essa condição pode desencadear uma Disfunção Sexual (DS), considerada um problema de saúde pública, muitas vezes associada a desconforto durante a atividade sexual. CONCLUSÃO: A qualidade de vida das mulheres nessa fase merece atenção especial, tornando-se essencial o acompanhamento da equipe de saúde. Definir estratégias para promover um estilo de vida mais saudável é crucial nesse contexto.

DESCRITORES: Climatério; qualidade de vida, Saúde da mulher, Sexualidade.

ABSTRATC

INTRODUCTION: The climacteric represents a phase in a woman’s life marked by physiological and endocrine hormonal changes. A frequent phenomenon in this female cycle is the correlation between depression, anxiety symptoms and reduced sexual desire. It is important to highlight that these symptoms tend to be more pronounced in late perimenopause and postmenopause, while in premenopause they are milder. OBJECTIVE: to describe how the climacteric phase can impact a woman’s quality of life. METHODOLOGY: This is a literature review using the SciELO (Scientific Electronic Library on Line) and PubMed (National Library of Medicine) databases. The Boolean operator “AND” was used, combining the following descriptors registered in the Health Sciences Descriptors (DeCS): “Climacteric”, “women’s health”, “quality of life” and “sexuality”. The work was based on 14 articles selected during this review process. RESULTS AND DISCUSSIONS: Marked hormonal changes play a fundamental role during the climacteric transition. At this stage, there is a decrease in the woman’s production of estrogen, which can affect the pelvic region and vaginal lubrication, directly impacting sexual life. This condition can trigger Sexual Dysfunction (SD), considered a public health problem, often associated with discomfort during sexual activity. CONCLUSION: The quality of life of women at this stage deserves special attention, making monitoring by the healthcare team essential. Defining strategies to promote a healthier lifestyle is crucial in this context.

DESCRIPTORS: Climacteric; quality of life, Women’s health, Sexuality.

INTRODUÇÃO

O climatério constitui uma etapa na vida da mulher caracterizada por mudanças hormonais fisiológicas e endócrinas. Enquanto algumas mulheres atravessam essa fase de forma assintomática, outras experimentam diversos sintomas, tais como irritabilidade, ansiedade, depressão, ondas de calor, indisposição, alterações no humor e na lubrificação vaginal. Diversos sintomas podem manifestar-se durante esse período nas mulheres (Peixoto et al, 2019).

Esse intervalo ocorre entre os 40 anos e compartilha uma extensão temporal com o período reprodutivo. Esta fase representa o término da vida reprodutiva feminina, marcada pela falência ovariana. Esse processo de transição se conclui por volta dos 65 anos, marcando a próxima fase, na qual a mulher não produz mais os hormônios estrogênio. Durante esse estágio, a mulher enfrenta diversas mudanças e enfrenta desafios significativos na adaptação física e psicológica. Todo esse processo impacta a qualidade de vida da mulher, e além disso, são relevantes as condições financeiras e o trabalho, por vezes exigente ou acumulativo, gerando estresse e fadiga intensa (Albuquerque et al)

Diante desse conjunto de transformações fisiológicas, a mulher vivencia uma modificação na qualidade de vida, integrando-se ao processo natural de envelhecimento. Adicionalmente, o estresse acentuado, a ausência de autoestima e a ansiedade descontrolada podem desencadear a depressão, contribuindo para a diminuição do desejo sexual. Esses aspectos afetam o bem-estar psicológico e podem desencadear outros problemas de saúde, incluindo distúrbios do sono (Mercado; Monterrosa-Castr; Duran-Mendez, 2020)

Uma ocorrência bastante comum nesse ciclo de vida feminino é a associação entre depressão e sintomas de ansiedade. Importante destacar que tais sintomas se manifestam com maior intensidade na perimenopausa tardia e na pós-menopausa, enquanto na pré-menopausa apresentam-se de forma mais suave. Essa inter-relação entre sintomas está intrinsecamente ligada à história de vida dessas mulheres, evidenciando a complexidade e interconexão desses aspectos (El Khoudary, et al 2019).

A prevalência da depressão associada a sintomas de ansiedade é uma ocorrência frequente no ciclo de vida das mulheres. É importante destacar que esses sintomas tendem a ser mais acentuados na perimenopausa tardia e na pós-menopausa, enquanto na pré-menopausa manifestam-se de maneira mais branda. Essa interconexão está profundamente relacionada à história de vida das mulheres, evidenciando a influência mútua entre esses aspectos (THOMAS HN, Neal-Perry GS, Hess R. Female, 2018).

Durante a transição do período reprodutor para o não reprodutor, surgem desafios na função sexual das mulheres, afetando cerca de 45% delas, uma preocupação considerável. Muitas mulheres aspiram a manter uma vida sexual normal nesse estágio, mas enfrentam dificuldades nesse processo de transição (El Khoudary, et al 2019).

Atualmente, os tratamentos mais empregados incluem a terapia hormonal e a Medicina Complementar e Alternativa (CAM). Embora a terapia hormonal seja eficaz, algumas mulheres optam por evitá-la devido aos potenciais riscos para a saúde. Por outro lado, a CAM é uma abordagem mais natural, focando na prática da mente e do corpo. Essa modalidade de tratamento incorpora métodos como aromaterapia, relaxamento, hipnose, ervas, meditação, e diversas outras abordagens naturais (Johnson et al, 2019).

O objetivo geral consistiu em descrever de que maneira a fase do climatério pode impactar a qualidade de vida da mulher.

METODOLOGIA

A pesquisa foi conduzida no período de 2024, focalizando artigos publicados entre 2016 e 2022. Utilizou-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) para realizar a busca nos bancos de dados eletrônicos PubMed e Scielo. A seleção restringiu-se a artigos com essas palavras-chave em seus títulos e/ou resumos, sendo que apenas os escritos em inglês foram revisados integralmente para verificar a elegibilidade.

Este é um estudo de revisão de literatura, com abordagem descritiva, explorando a influência do climatério na vida sexual da mulher. O processo foi delineado em seis etapas: escolha do tema, consulta aos descritores no DeCS, definição de critérios de inclusão e exclusão, seleção com base na leitura de títulos e resumos, análise dos estudos selecionados, interpretação dos resultados, e apresentação da revisão/síntese do conhecimento.

A coleta de dados ocorreu no mês de janeiro de 2024, utilizando as bases de dados SciELO e PubMed, combinando os descritores “Climatério”, “saúde da mulher”, “qualidade de vida” e “sexualidade” com o operador booleano “AND”. Os critérios de inclusão foram publicação nos últimos dez anos, nos idiomas português, inglês ou espanhol, disponibilidade na íntegra e relevância para a temática. Os critérios de exclusão foram publicação há mais de cinco anos e abordagem de tema não relacionado.

Inicialmente, 203 publicações foram identificadas, das quais 120 foram excluídas por não atenderem à linha temporal. Dentre os 63 artigos restantes, 31 foram encontrados na base de dados SciELO e 32 na PubMed. A leitura de títulos e resumos levou à exclusão de 49 artigos, resultando na revisão integral de 14 para a composição desta revisão integrativa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O climatério é um processo fisiológico que faz parte da vida de toda mulher, marcado pela redução dos folículos ovarianos e da produção de estradiol. Cerca de 80% das mulheres experimentam uma sintomatologia que inclui vertigem, cólica menstrual, irregularidade no ciclo menstrual, palpitações, cansaço, cefaleia, ansiedade, insônia, depressão, ondas de calor, secura vaginal, urgência na micção, encurtamento de memória, além de falta de energia, tristeza frequente e diminuição do desejo sexual (Weissheimer, 2020).

O despertar do desejo sexual feminino pode ser influenciado por diversas ações, como masturbação, pensamentos eróticos, carinho, fantasias e o uso de produtos de sexshop. O corpo feminino responde fisiologicamente a essas estímulos, mas durante a fase do climatério, essa resposta pode ser falha ou ocorrer de maneira mais lenta. Conforme evidenciado na pesquisa realizada pelo autor, aproximadamente 22% das mulheres apresentaram um desempenho sexual regular, enquanto 58% demonstraram pouca lubrificação fisiológica. Esses dados referem-se a mulheres entre 45 e 65 anos de idade (Fonseca et al, 2021).

As significativas alterações hormonais desempenham um papel crucial durante a transição do climatério. Nesse período, há uma redução na produção de estrogênio pela mulher, o que pode impactar a região pélvica e a lubrificação vaginal, afetando diretamente a vida sexual. Esse cenário pode desencadear uma Disfunção Sexual (DS), considerada um problema de saúde pública, frequentemente associada a dores durante o ato sexual. É fundamental, nesse contexto, o apoio e a atenção especial do parceiro, visando evitar que as mulheres se auto cobrem em relação à prontidão para proporcionar e receber prazer (Vaz et al, 2020).

A alteração no estilo de vida desempenha um papel fundamental nesse processo, e a adaptação a essa mudança não é fácil. Vários fatores podem ser considerados especiais, e um apoio crucial nesse contexto é o acompanhamento pelos sistemas de saúde. A passagem por profissionais como enfermeiros, médicos, psicólogos, nutricionistas e outros especialistas é de extrema importância para proporcionar suporte abrangente e personalizado durante essa fase (Bravo et al, 2019).

De acordo com Nguyen et al. (2020), a prática de exercícios físicos demonstra melhorias positivas na saúde e bem-estar das mulheres durante o período da perimenopausa. Os sintomas mais frequentemente mencionados em pesquisas são os sintomas vasomotores, como suores noturnos e ondas de calor, além de insônia, dispareunia, alterações de humor, secura vaginal e, em muitos casos, depressão.

Segundo Fraile et al. (2020), o exercício e a atividade física representam uma intervenção não farmacológica na saúde da mulher, proporcionando melhorias tanto físicas quanto na função sexual. Essa abordagem, quando combinada com outros tratamentos, pode contribuir para uma evolução positiva. É importante destacar que as alterações na função sexual durante o climatério são influenciadas não apenas por desequilíbrios hormonais, mas também por aspectos relacionados à função social, como dinâmicas de relacionamento e fatores psicossociais. A baixa autoestima causada por essa fase na vida das mulheres climatéricas pode impactar significativamente a esfera sexual (THOMAS HN, Neal-Perry GS, Hess R. Female, 2018).

Weissheimer (2020) destaca em sua pesquisa que algumas mulheres na fase climatérica experimentam carência de informação sobre o assunto, resultando em maior sofrimento. Por outro lado, aquelas com maior entendimento têm a oportunidade de desfrutar de uma vida com mais qualidade, sendo uma das ações adotadas a reposição hormonal. A pesquisa também ressalta a satisfação experimentada por essas mulheres com o término da fase sintomática, contribuindo para um maior bem-estar no dia a dia.

É evidente que a maioria da sociedade carece de conhecimento adequado sobre o climatério, o que ressalta a necessidade de profissionais de saúde sempre bem qualificados para atender esse público. A atenção primária, como o setor inicial no sistema de saúde pública, desempenha um papel crucial nesse contexto. Um atendimento humanizado e esclarecedor nesse estágio torna-se essencial, auxiliando as mulheres a desenvolverem um autoconhecimento sobre as modificações que ocorrem durante o climatério (Pereira, Cardenas 2019).

Na atenção primária, o papel do enfermeiro é fundamental durante a fase climatérica, desempenhando um papel crucial no acolhimento e nos cuidados iniciais realizados pela equipe de enfermagem. Além disso, a forma como os enfermeiros lidam com essas pacientes, ouvindo-as e esclarecendo todas as dúvidas relacionadas a essa fase, contribui significativamente para o bem-estar em um período que é motivo de questionamento para muitas mulheres (Silva et al, 2021).

CONCLUSÃO

Portanto, Considerando que todas as mulheres a partir dos 40 anos podem iniciar o ciclo do climatério e que há uma falta de informações precisas para a população em relação a esse período, torna-se evidente a necessidade de utilizar meios de divulgação para publicar informativos abordando diversas estratégias para enfrentar esse momento. Além disso, é crucial destacar a importância da atenção básica concentrar mais esforços na saúde da mulher durante esse período, implementando diversas formas de alcançar esse público e promovendo um estilo de vida mais saudável.

REFERENCIAS

ALBUQUERQUE, Geyslane Pereira Melo de et al. Qualidade de vida no climatério de enfermeiros atuantes na atenção primária. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 72, supl. 3, p. 154-161, dez. De 2019.

ALVES, Estela Rodrigues Paiva et al. Climatério: a intensidade dos sintomas e o desempenho sexual. Texto & Contexto – Enfermagem [online]. 2015, v. 24, n. 1, pp. 64-71.  

BRAVO POLANCO, Eneida et al. Fatores biológicos e sociais que influenciam a saúde da mulher durante o climatério e a menopausa. Medisur , Cienfuegos, v. 17, n. 5 p. 719-727, outubro 2019. 

CURTA, Julia Costa; WEISSHEIMER, Anne Marie. Percepções e sentimentos sobre as mudanças corporais de mulheres climatéricas. Revista Gaúcha de Enfermagem , v. 41, 2020.

DA SILVA, Glauciane Rego Rodrigues et al. ASPECTOS QUE INFLUENCIAM A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE PELA MULHER CLIMATÉRICA. Revista Rede de Cuidados em Saúde, v. 15, n. 2, 2021.

DA SILVA FONSECA, Gabriele Malaquias et al. Prevalência das disfunções sexuais no período do climatério em uma clínica especializada na saúde da mulher em Caruaru/PE. Fisioterapia Brasil, v. 22, n. 1, p. 72-85, 2021.

EL KHOUDARY SR, Greendale G, Crawford SL, Avis NE, Brooks MM, Thurston RC, Karvonen-Gutierrez C, Waetjen LE, Matthews K. The menopause transition and women’s health at midlife: a progress report from the Study of Women’s Health Across the Nation (SWAN). Menopause. 2019 Oct;26(10):1213-1227.

FRAILE – Carcelén- MDC, Aibar-Almazán A, Martínez-Amat A, Cruz-Díaz D, Díaz-Mohedo E, Redecillas-Peiró MT, Hita-Contreras F. Effects of Physical Exercise on Sexual Function and Quality of Sexual Life Related to Menopausal Symptoms in Peri- and Postmenopausal Women: A Systematic Review. Int J Environ Res Public Health. 2020 Apr 14;17(8):2680.

JOHNSON A, Roberts L, Elkins G. Complementary and Alternative Medicine for Menopause. J Evid Based Integr Med. 2019

MERCADO-LARA, Maria Fernanda; MONTERROSA-CASTRO, Álvaro; DURAN-MENDEZ, Leidy Carolina. Avaliação da qualidade de vida em climatério com a Escala de Cervantes: Influência da etnia. Rev. Peru. ginecol. obstet. Lima, v. 64, n. 1 p. 13 a 25 de janeiro de 2018. 

NGUYEN TM, Do TTT, Tran TN, Kim JH. Exercise and Quality of Life in Women with Menopausal Symptoms: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Int J Environ Res Public Health. 2020 Sep 26;17(19):7049.

OLIVEIRA, Zulmerinda Meira et al. Cuidado de enfermagem no climatério: perspectiva desmedicalizadora na atenção primária de saúde. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 11, n. 2, p. 1032-1043, 2017.

PEREIRA, Magaly del Carmen; CARDENAS, María Hilda. Visão filosófica do cuidado humano na mulher no climatério. Enfermagem (Montevidéu) , Montevidéu, v. 8, n. 1 p. 22 a 34 de junho 2019. 

PEIXOTO, Clayton et al. Relação entre hormônios sexuais, qualidade de vida e função sexual pós-menopáusica. Tendências Psychiatry Psychother. Porto Alegre, v. 41, n. 2, p. 136-143, junho de 2019

THOMAS HN, Neal-Perry GS, Hess R. Female Sexual Function at Midlife and Beyond. Obstet Gynecol Clin North Am. 2018 Dec;45(4):709-722.

VAZ, Maricelle Tavares; BARREIROS, Bianca Regina; DE OLIVEIRA, Neyanny Ryzy. Função sexual em mulheres no climatério: estudo transversal. Revista Pesquisa em Fisioterapia, v. 10, n. 1, p. 50-57, 2020.