O IMPACTO DAS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE IMPACT OF PSYCHOLOGICAL INTERVENTIONS IN THE TREATMENT OF PATIENTS WITH SCHIZOPHRENIA: AN INTEGRATIVE REVIEW

Graduação em Bacharelado em Medicina – Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202409241453


Ariana Cristian da Silva Carvalho1; Carlos Daniel Alves Ferreira2; Ederaldo de Paula Oliveira3; Edjane de Carvalho4; Gabriel Silva Perini5; Gabriel Victor Moreira Alves6; Gessica Thaile Menezes da Cunha7; Guilherme Ribeiro Jorge Mesquita8; Kállita Lorrayne Martins Xavier9; Karllos Fabrício Ribeiro Nassar Pires10; Luiz Gustavo Viana Silio11; Mateus Henrique de Almeida Buck12; Morgana Bezerra Bispo Caldas13; Nadjara Alcântara Franco14; Taline Pereira Carlos15.


RESUMO

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica complexa e debilitante caracterizada por sintomas como alucinações e delírios, que afetam significativamente a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes. Intervenções psicológicas, como o treinamento de habilidades sociais e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), desempenham um papel crucial no tratamento da esquizofrenia, complementando os tratamentos farmacológicos. Esta revisão integrativa explora o impacto das intervenções psicológicas no manejo da esquizofrenia, destacando a eficácia de abordagens como o treinamento de habilidades sociais, psicoterapias de reabilitação e a integração com a farmacoterapia. A análise também considera a importância da abordagem multidisciplinar e as limitações dos estudos revisados, sugerindo que futuras pesquisas devem focar em estudos longitudinais e na personalização das intervenções.

Palavras-chave: Esquizofrenia, Intervenções Psicológicas, Terapia Cognitivo-Comportamental, Treinamento de Habilidades Sociais, Psicoterapias de Reabilitação, Abordagem Multidisciplinar.

ABSTRACT

Schizophrenia is a complex and debilitating psychiatric disorder characterized by symptoms such as hallucinations and delusions, significantly impacting patients’ functionality and quality of life. Psychological interventions, such as social skills training and Cognitive Behavioral Therapy (CBT), play a crucial role in the treatment of schizophrenia, complementing pharmacological treatments. This integrative review explores the impact of psychological interventions on the management of schizophrenia, highlighting the effectiveness of approaches like social skills training, rehabilitation psychotherapies, and integration with pharmacotherapy. The analysis also considers the importance of a multidisciplinary approach and the limitations of the reviewed studies, suggesting that future research should focus on longitudinal studies and personalized interventions.

Keywords: Schizophrenia, Psychological Interventions , Cognitive Behavioral Therapy, Social Skills Training, Rehabilitation Psychotherapies, Multidisciplinary Approach.

1. INTRODUÇÃO

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica complexa e debilitante que afeta cerca de 1% da população mundial. Caracteriza-se por uma série de sintomas, incluindo alucinações, delírios, comportamento desorganizado e comprometimento cognitivo. Esses sintomas, conforme destacados por Ey, Bernard e Brisset (1985), comprometem significativamente a funcionalidade do indivíduo e sua qualidade de vida, levando a um grave isolamento social e dificuldades na manutenção de atividades cotidianas. A doença, além de afetar o paciente de forma individual, impõe uma carga substancial sobre os cuidadores e o sistema de saúde, dada a sua natureza crônica e frequentemente resistente ao tratamento.

No contexto do manejo da esquizofrenia, as intervenções psicológicas emergem como uma parte fundamental de um tratamento integral. Birchwood e Spencer (2005) discutem a relevância dessas intervenções, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a terapia familiar, enfatizando que elas não substituem os tratamentos farmacológicos, mas os complementam de maneira eficaz. As intervenções psicológicas buscam melhorar a adesão ao tratamento, promover o engajamento social e atenuar os sintomas residuais que não respondem adequadamente aos antipsicóticos. Elas são especialmente importantes na reabilitação psicossocial e no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para lidar com as manifestações crônicas da doença.

O objetivo desta revisão integrativa é identificar e discutir o impacto das diferentes intervenções psicológicas no manejo da esquizofrenia. Com base na literatura existente, será explorada a importância de uma abordagem que vá além do tratamento farmacológico, incorporando aspectos psicossociais que favorecem uma recuperação mais completa e sustentável para os pacientes. A justificativa para essa abordagem reside na crescente evidência de que o tratamento medicamentoso, embora essencial, é insuficiente para lidar com as múltiplas facetas da esquizofrenia, como a reintegração social, o funcionamento cognitivo e a qualidade de vida. Assim, esta revisão busca destacar a relevância de intervenções que considerem o indivíduo de forma holística.

A esquizofrenia, além de ser uma condição psiquiátrica, é cada vez mais compreendida como um transtorno neurodesenvolvimental. O estudo de Akil & Weinberger (2000) revela que a neuropatologia da esquizofrenia está intimamente ligada a alterações no desenvolvimento cerebral que ocorrem antes do surgimento dos sintomas clínicos. Essa perspectiva neurobiológica justifica a utilização de intervenções psicológicas que visam promover o remodelamento cognitivo e social, complementando o tratamento tradicionalmente focado em antipsicóticos. Ao considerar a esquizofrenia como um distúrbio do desenvolvimento do cérebro, as abordagens psicoterapêuticas ganham um novo escopo, contribuindo para a mitigação de déficits cognitivos e sociais causados por disfunções nas fases críticas do desenvolvimento.

Historicamente, as intervenções psicológicas no tratamento da esquizofrenia começaram a ganhar destaque com o trabalho pioneiro de Fromm-Reichmann (1948), que introduziu a psicanálise como uma abordagem potencialmente útil, embora controversa, no manejo do transtorno. Posteriormente, Beck (1952) trouxe à tona a Terapia Cognitivo-Comportamental, demonstrando sucesso no tratamento de pacientes esquizofrênicos com delírios baseados em culpa. Ambas as abordagens representam fases importantes no desenvolvimento das terapias psicológicas aplicadas à esquizofrenia e continuam a ser relevantes no tratamento contemporâneo, especialmente quando adaptadas às necessidades dos pacientes crônicos.

2. METODOLOGIA

Nesta revisão integrativa, foram definidos critérios rigorosos de inclusão e exclusão para garantir a relevância e a qualidade dos estudos selecionados. Foram incluídos estudos que investigam intervenções psicológicas aplicadas ao tratamento da esquizofrenia, com foco em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Familiar, baseando-se em abordagens como as discutidas por Bellack et al. (1990) e Goulet et al. (1992), respectivamente. A escolha dessas intervenções se justifica pela ampla aceitação dessas terapias na comunidade científica e clínica, uma vez que oferecem suporte na redução de sintomas psicóticos e na reintegração social do paciente.

Os estudos incluídos abordam diferentes faixas etárias e graus de severidade da esquizofrenia, considerando tanto pacientes recém-diagnosticados quanto aqueles com quadros crônicos. No entanto, estudos que focavam exclusivamente em intervenções farmacológicas sem componente psicoterapêutico foram excluídos, bem como aqueles que abordavam populações com comorbidades severas não relacionadas à esquizofrenia. Além disso, foram excluídos estudos que não tinham como foco principal o impacto de intervenções psicológicas ou que não apresentavam dados empíricos suficientes.

As principais fontes de dados utilizadas foram as bases de dados eletrônicas PubMed, PsycINFO e SciELO, uma vez que são amplamente reconhecidas por sua abrangência e qualidade na área de saúde mental e psicologia. Essas plataformas oferecem acesso a uma vasta quantidade de pesquisas revisadas por pares, o que garante a relevância e a atualidade dos estudos selecionados. O critério temporal para a seleção dos artigos também foi abrangente, incluindo pesquisas publicadas desde a década de 1970 até o presente. Isso permitiu analisar a evolução das intervenções psicológicas na esquizofrenia, desde os primeiros modelos de vulnerabilidade propostos por Zubin & Spring (1977) até estudos mais recentes que abordam processos neuropsicológicos e moleculares, como o de Crow (1980).

A legislação brasileira também foi considerada como parte dos critérios de seleção para garantir que as diretrizes seguidas na busca estivessem em conformidade com as políticas de saúde mental do país. Especificamente, foram consultados documentos do Ministério da Saúde (Brasil, 2002; 2004) que orientam as práticas de tratamento da esquizofrenia, reforçando a importância de intervenções psicológicas integradas ao tratamento medicamentoso e à reabilitação psicossocial.

O processo de seleção dos estudos foi conduzido de maneira rigorosa, com o objetivo de garantir que a revisão incluísse apenas pesquisas de alta qualidade e relevantes para o tema. A transparência na definição dos critérios de inclusão e exclusão é fundamental para assegurar a credibilidade da revisão. Ao explicar as escolhas metodológicas, enfatiza-se que a diversidade de intervenções psicológicas e o amplo intervalo temporal adotado permitem uma análise mais rica e aprofundada das mudanças nas abordagens terapêuticas da esquizofrenia ao longo dos anos.

3. RESULTADOS

Ao revisar a literatura sobre intervenções psicológicas no tratamento da esquizofrenia, foram identificadas várias abordagens significativas que demonstraram eficácia na melhoria de sintomas e no bem-estar dos pacientes. As intervenções psicológicas analisadas podem ser organizadas em diferentes categorias, conforme descrito abaixo.

3.1. Treinamento de Habilidades Sociais

O treinamento de habilidades sociais (THS), amplamente estudado por Bellack et al. (1990) e Caballo (1995), foi uma das intervenções mais eficazes encontradas na revisão. Essa abordagem visa melhorar a capacidade de interação social dos pacientes com esquizofrenia, que frequentemente apresentam déficits significativos nessa área. Através de sessões estruturadas, os pacientes são expostos a situações sociais simuladas, onde praticam respostas apropriadas a diferentes cenários do dia a dia. Os estudos mostram que o THS contribui para a melhoria das interações interpessoais, aumentando a autoconfiança e a capacidade de formar e manter relações sociais, o que impacta positivamente sua qualidade de vida.

3.2. Psicoterapias de Reabilitação

As psicoterapias de reabilitação, como discutido por Wallace et al. (1992) e Del Prette e Del Prette (1999), têm como foco o desenvolvimento das habilidades instrumentais e funcionais dos pacientes. Essas intervenções trabalham com a reabilitação cognitiva e a readaptação social, visando preparar o indivíduo para reintegrar-se à sociedade de maneira mais independente. Os resultados indicam que essas terapias são eficazes para melhorar as habilidades práticas do paciente, como a capacidade de gerir tarefas diárias e encontrar emprego, além de reduzir o impacto dos déficits cognitivos associados à esquizofrenia.

3.3. Integração com Tratamento Farmacológico

Diversos estudos, como os de Grebb, Kaplan e Sadock (1997) e Gama et al. (2004), ressaltam a importância da integração entre intervenções psicológicas e farmacoterapia no tratamento da esquizofrenia. O uso de antipsicóticos, como estabilizadores dos sintomas, permite que os pacientes tenham uma resposta mais eficaz às terapias psicológicas. A combinação de tratamento farmacológico e psicológico mostrou-se particularmente eficaz no controle de sintomas como alucinações e delírios, possibilitando ao paciente uma maior receptividade às intervenções psicossociais. A revisão sugere que a interação entre esses dois componentes terapêuticos é essencial para uma recuperação mais abrangente.

3.4. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das abordagens mais discutidas na literatura, com o estudo seminal de Beck (1952) mostrando sua eficácia inicial no tratamento de um paciente esquizofrênico com delírios de culpa. Estudos subsequentes confirmaram que a TCC ajuda a reduzir sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, ao ensinar o paciente a questionar suas crenças distorcidas e a desenvolver formas alternativas de interpretar suas experiências. A TCC também demonstrou eficácia na melhoria do insight e da aderência ao tratamento.

3.5. Impacto das Relações Familiares

O estudo clássico de Brown et al. (1972) sobre a influência do ambiente familiar no curso da esquizofrenia sublinha a importância de intervenções que envolvem a família no processo terapêutico. A terapia familiar, como demonstrado por estudos posteriores, ajuda a reduzir as recaídas e a melhorar o suporte social disponível para o paciente, uma vez que a dinâmica familiar pode influenciar significativamente o prognóstico da esquizofrenia. O envolvimento dos familiares no tratamento psicossocial permite uma abordagem mais integrada, onde todos os envolvidos compreendem melhor a doença e os métodos para lidar com ela.

3.6. Modelos Experimentais e Intervenções Comportamentais

Estudos experimentais, como o de Rosa et al. (2005), que investigou a manipulação pós-desmame em modelos animais, fornecem insights valiosos sobre os mecanismos neurobiológicos que podem ser modulados por intervenções comportamentais. Esses achados sugerem que intervenções psicológicas podem influenciar sistemas neuropsicológicos subjacentes à esquizofrenia, melhorando o processamento cognitivo e emocional dos pacientes. Além disso, o estudo de Salgado et al. (2006) fornece uma revisão de modelos experimentais que indicam como essas abordagens podem ajudar na modulação de respostas comportamentais associadas à esquizofrenia.

3.7. Abordagens Psicofarmacológicas Complementares

Estudos como o de Fleischhacker (2005) abordam a importância de uma estratégia terapêutica combinada, onde intervenções farmacológicas e psicológicas atuam de forma complementar. Ao estabilizar os sintomas positivos e negativos da esquizofrenia com antipsicóticos, as intervenções psicoterapêuticas tornam-se mais eficazes, permitindo ao paciente trabalhar questões emocionais, cognitivas e sociais de maneira mais produtiva. A literatura revisada indica que essa abordagem integrada oferece resultados mais robustos, tanto no controle dos sintomas quanto na melhoria da funcionalidade global do paciente.

Os estudos revisados revelam que as diferentes intervenções psicológicas impactam uma variedade de sintomas da esquizofrenia. O treinamento de habilidades sociais e a TCC mostraram-se especialmente eficazes na redução de déficits sociais e no controle de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. Por outro lado, a terapia familiar e as psicoterapias de reabilitação demonstraram um impacto significativo na melhoria da funcionalidade e na redução de recaídas, particularmente quando combinadas com o tratamento farmacológico.

Os dados indicam que intervenções psicológicas desempenham um papel fundamental no tratamento da esquizofrenia, complementando as abordagens farmacológicas tradicionais. A integração de tratamentos psicossociais, como a TCC, o treinamento de habilidades sociais e a terapia familiar, resulta em uma abordagem mais holística, capaz de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a recorrência de episódios psicóticos.

4. DISCUSSÃO

A revisão das diferentes intervenções psicológicas aplicadas ao tratamento da esquizofrenia revelou uma variação significativa em termos de eficácia no manejo dos sintomas positivos e negativos. O Treinamento de Habilidades Sociais (Bellack et al., 1990) se destacou pela sua eficácia em melhorar o funcionamento social dos pacientes, ajudando a reduzir o isolamento social e a desenvolver habilidades necessárias para interações cotidianas. Este tipo de intervenção tem demonstrado maior impacto nos déficits sociais que frequentemente acompanham a esquizofrenia, proporcionando aos pacientes uma melhor integração social e uma maior qualidade de vida.

Por outro lado, a Terapia Familiar (Goulet et al., 1992) mostrou um impacto mais profundo na adesão ao tratamento e na redução de recaídas, especialmente quando o ambiente familiar contribui para o suporte emocional e a compreensão da doença. As famílias que recebem orientação e apoio tendem a reduzir comportamentos negativos que podem agravar o quadro clínico, tornando o tratamento mais eficaz e o ambiente mais favorável à recuperação.

As terapias cognitivas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) (Beck, 1952), apresentaram resultados promissores no manejo de sintomas positivos da esquizofrenia, como delírios e alucinações. A capacidade da TCC de ajudar os pacientes a reformularem seus pensamentos distorcidos e a questionar as crenças disfuncionais mostrou-se uma ferramenta crucial para a redução desses sintomas.

Por fim, as Psicoterapias de Reabilitação (Wallace et al., 1992; Del Prette & Del Prette, 1999) se mostraram eficazes em aumentar a funcionalidade global dos pacientes, promovendo habilidades instrumentais e facilitando a reintegração social e ocupacional. Embora essa abordagem tenha um impacto direto nas habilidades funcionais, a sua eficácia depende do grau de comprometimento cognitivo do paciente, o que sugere a necessidade de combinar essa intervenção com abordagens que tratam os déficits cognitivos.

Vários estudos revisados apresentaram limitações metodológicas que dificultam a replicabilidade e a generalização de seus resultados. Por exemplo, os achados de Wallace et al. (1992) sobre a eficácia das psicoterapias de reabilitação podem não ser replicáveis em diferentes contextos culturais, visto que os fatores sociais e econômicos que afetam a esquizofrenia variam significativamente entre regiões. Além disso, muitos estudos possuem tamanhos amostrais reduzidos e períodos curtos de acompanhamento, o que compromete a avaliação a longo prazo dos benefícios dessas intervenções.

Outro desafio metodológico é a heterogeneidade dos critérios de inclusão nas pesquisas, especialmente em relação ao estágio da doença e à severidade dos sintomas. A ausência de padronização dificulta a comparação direta entre os resultados das diferentes intervenções, uma vez que alguns estudos focam em pacientes com sintomas agudos, enquanto outros analisam aqueles em estágios mais estáveis. A falta de consenso sobre as métricas de sucesso também limita a interpretação dos resultados, especialmente em terapias que têm como objetivo a melhoria de aspectos subjetivos, como qualidade de vida e bem-estar emocional.

Os estudos revisados reforçam a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento da esquizofrenia, combinando intervenções psicossociais com farmacoterapia e suporte familiar. Como sugerido por Lacaz et al. (2005), a integração da psicoterapia interpessoal com o manejo clínico possibilita um tratamento mais abrangente, onde os diferentes aspectos da doença – neurobiológicos, psicológicos e sociais – são abordados de maneira integrada. Essa abordagem não apenas melhora a adesão ao tratamento, mas também promove um melhor controle dos sintomas e uma recuperação mais sustentável.

A literatura revisada também destaca a interação entre intervenções psicológicas e neurobiológicas no tratamento da esquizofrenia. Estudos como os de Crow (1980) e Lieberman et al. (1998) sugerem que as terapias cognitivas podem ter um impacto direto na neuroplasticidade, ajudando a remodelar circuitos cerebrais comprometidos. A TCC, por exemplo, pode auxiliar na reorganização de padrões de pensamento disfuncionais, enquanto as terapias comportamentais podem facilitar o processo de reabilitação cognitiva em áreas como memória e atenção, que são frequentemente prejudicadas pela esquizofrenia.

Além disso, o trabalho de Brandão et al. (1997) e Lubow et al. (1982) sobre a latência de estímulos e déficits cognitivos ressalta a importância de intervenções que foquem na melhora do processamento cognitivo, especialmente em termos de atenção e controle de impulsos. Essas intervenções não apenas melhoram os sintomas cognitivos, mas também facilitam uma melhor adaptação social dos pacientes.

A psicoterapia psicanalítica, embora amplamente criticada por sua eficácia limitada no tratamento da esquizofrenia, tem valor histórico e teórico, como destacado por Fromm-Reichmann (1948). No entanto, a evolução das psicoterapias para tratamentos baseados em evidências, como discutido por McGlashan (1994), trouxe um foco maior em abordagens cognitivo-comportamentais e comportamentais, que demonstraram maior eficácia no manejo dos sintomas psicóticos e na melhora do funcionamento diário dos pacientes.

O modelo de vulnerabilidade ao estresse proposto por Zubin & Spring (1977) fornece uma base teórica importante para a justificativa das intervenções revisadas. Segundo esse modelo, a esquizofrenia resulta de uma interação entre vulnerabilidades biológicas e estressores ambientais, o que sugere que intervenções que abordam tanto os fatores biológicos quanto psicossociais são essenciais para mitigar os efeitos da doença. Terapias que tratam diretamente os fatores de estresse e ajudam o paciente a desenvolver resiliência emocional podem reduzir significativamente o risco de recaídas e melhorar a resposta geral ao tratamento.

Para que as intervenções psicológicas no tratamento da esquizofrenia sejam mais eficazes e amplamente aplicáveis, são necessárias pesquisas com maior rigor metodológico e amostras mais amplas. Estudos longitudinais, que acompanhem os pacientes por períodos mais longos, são essenciais para avaliar o impacto das intervenções a longo prazo. Além disso, pesquisas futuras devem focar na personalização das intervenções, levando em consideração as necessidades individuais dos pacientes, como seu estágio da doença, suporte social disponível e predisposições genéticas.

A integração de novas tecnologias, como a utilização de terapias digitais ou realidade virtual para o treinamento de habilidades sociais e cognitivas, também é uma área promissora que pode ser explorada em futuros estudos.

A revisão das intervenções psicológicas no tratamento da esquizofrenia indica que uma abordagem multidisciplinar, que integre psicoterapia, farmacoterapia e suporte familiar, é a mais eficaz para tratar os múltiplos aspectos da doença. Embora diferentes intervenções tenham demonstrado eficácia em áreas específicas, como funcionamento social ou manejo de sintomas positivos, a personalização e o acompanhamento a longo prazo são essenciais para maximizar os benefícios dessas terapias.

5. CONCLUSÃO

A revisão integrativa sobre as intervenções psicológicas no tratamento da esquizofrenia revelou que abordagens como o treinamento de habilidades sociais e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) têm um impacto significativo na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. O treinamento de habilidades sociais demonstrou ser eficaz na redução do isolamento e no aprimoramento das interações sociais, enquanto a TCC ajudou a lidar com sintomas positivos, como alucinações e delírios, através da reformulação de padrões de pensamento disfuncionais. Estas intervenções não apenas melhoraram o funcionamento social e a adesão ao tratamento, mas também contribuíram para uma melhor adaptação ao ambiente cotidiano e à manutenção do tratamento a longo prazo.

Para profissionais de saúde mental, os resultados desta revisão têm importantes implicações práticas. Psicólogos e psiquiatras devem considerar a integração dessas intervenções psicológicas nos planos de tratamento diários para pacientes com esquizofrenia. O treinamento de habilidades sociais pode ser incorporado em programas de reabilitação e terapia de grupo, proporcionando aos pacientes ferramentas práticas para melhorar sua funcionalidade social e reduzir o isolamento. A TCC pode ser empregada para abordar e modificar crenças e pensamentos disfuncionais, auxiliando na redução dos sintomas psicóticos e na melhoria do bem-estar geral.

Além disso, a importância do suporte familiar deve ser destacada, considerando as evidências de que intervenções que envolvem a família têm um impacto positivo na adesão ao tratamento e na redução de recaídas. A integração dessas abordagens com a farmacoterapia oferece uma abordagem holística que aborda tanto os aspectos psicossociais quanto os neurobiológicos da doença, promovendo uma recuperação mais efetiva e sustentável.

Para aprimorar o entendimento e a eficácia das intervenções psicológicas na esquizofrenia, são necessárias mais pesquisas longitudinais que avaliem o impacto dessas terapias ao longo do tempo. Estudos futuros devem focar na personalização das intervenções, levando em consideração as características individuais dos pacientes, como estágio da doença, suporte social e predisposições genéticas.

Além disso, é fundamental investigar a eficácia de novas abordagens terapêuticas e tecnológicas, como a terapia digital e a realidade virtual, que podem oferecer novas formas de tratamento e reabilitação. A expansão da pesquisa para incluir amostras diversificadas e contextos culturais variados também pode fornecer insights valiosos sobre como otimizar as intervenções psicológicas para diferentes populações e ambientes.

A revisão evidencia que uma abordagem integrada, que combine intervenções psicológicas com farmacoterapia e suporte familiar, é essencial para o manejo eficaz da esquizofrenia. A inclusão de terapias psicossociais no tratamento permite uma abordagem mais abrangente e adaptada às necessidades individuais dos pacientes, contribuindo para a melhoria significativa da qualidade de vida. A continuidade da pesquisa e o aprimoramento das intervenções são cruciais para avançar no tratamento da esquizofrenia e oferecer suporte mais eficaz e personalizado aos pacientes.

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1 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 2 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil |3 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 4 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 5 Graduando em Medicina pela faculdades integradas do extremo sul da Bahia – Unesulbahia | 6 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 7 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 8 Graduando em Medicina pela Universidade Vila Velha | 9 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 10 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 11 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 12 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 13 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 14 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 15 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil