THE IMPACT OF PROTEIN SUPPLEMENTATION ON HEALTH AND PHYSICAL PERFORMANCE
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/pa10202408111142
João Victor Pires Pereira1
Matheus Henrique Maglio2
Daniel Martins Borges3
Resumo
O presente artigo aborda diversos aspectos referentes ao uso de whey protein, suplemento proteico
derivado do soro do leite, o qual é capaz de fornecer aminoácidos essenciais que auxiliam na reparação e no crescimento muscular. Assim, tem-se que o whey protein é consumido de forma bastante popular, especialmente entre os praticantes de atividade física, devido a praticidade do seu uso, além de rápida absorção e digestão. Aqui são apresentados uma gama de tópicos, incluindo os benefícios do whey protein, a digestão e absorção de proteínas, os mecanismos de síntese e degradação proteica, e o impacto hormonal no metabolismo proteico. Além disso, o artigo menciona preocupações sobre o uso indiscriminado e os possíveis efeitos adversos do whey protein na saúde, como impacto na função renal, hepática e microbiota intestinal. Como parte da discussão, aborda-se o fato de que muitos consumidores de suplementos proteicos fazem uso desses produtos sem orientação adequada, frequentemente baseando-se em recomendações de treinadores ou informações da internet, sem plena compreensão dos riscos associados ao consumo excessivo. Portanto, é preciso ressaltar a
importância de uma orientação profissional adequada para o uso de suplementos e a necessidade de
mais estudos sobre os efeitos a longo prazo da suplementação com whey protein. Além disso, seria relevante sugerir possíveis direções para futuras pesquisas no campo da suplementação alimentar e seus impactos na saúde e no desempenho físico.
Palavras-chave: Suplementação proteica. Proteína do soro do leite. Whey protein. Hipertrofia muscular.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a prática de atividades físicas conquistou um espaço significativo na sociedade, oferecendo aos indivíduos diversos benefícios relacionados à saúde, lazer e estética.
Da mesma forma, uma alimentação adequada é crucial para a saúde das pessoas, contribuindo para um bom desempenho físico ao reduzir a fadiga, minimizar o risco de lesões, otimizar as reservas de energia e promover uma vida saudável. No entanto, a vida moderna tem tornado essa prática mais desafiadora, enquanto a indústria de alimentos e suplementos alimentares continua a crescer (BORGES et al, 2021).
Nesse contexto, os suplementos alimentares são definidos como substâncias incorporadas à dieta com o propósito de complementar, preencher lacunas nutricionais ou melhorar o desempenho físico (SILVA et al, 2022).
A demanda por suplementos alimentares tem aumentado significativamente, especialmente entre os frequentadores de academias que buscam melhorar o desempenho, aumentar a força e ganhar massa muscular (BORGES et al, 2021).
Entre os suplementos mais populares, destaca-se o whey protein, um suplemento proteico geralmente produzido a partir da proteína extraída do soro do leite, gerado durante o processo de fabricação do queijo, que contribui para o aumento da massa muscular (CARDOSO & LEONHARDT, 2017).
As proteínas do soro do leite, ou whey protein, fornecem aminoácidos essenciais de alto valor biológico, que atuam como substrato e auxiliam na reparação muscular, corrigindo as microlesões sofridas durante a prática de exercícios (BORGES et al, 2021). Além disso, possuem rápida digestão e absorção intestinal, elevando a concentração de aminoácidos no plasma, o que, por sua vez, estimula a síntese proteica nos tecidos. Outro fator que contribui para a hipertrofia muscular é a ação dessas proteínas na liberação de hormônios anabólicos, como a insulina, que facilita a captação de aminoácidos pelas células musculares, otimizando a síntese proteica (TERADA et al, 2009).
Estudos indicam que uma parcela significativa da população não possui conhecimento suficiente sobre os efeitos dessa suplementação no metabolismo muscular (BORGES et al, 2021). Esse fator é preocupante, visto que algumas pesquisas já mostraram que o uso excessivo de whey protein pode ser prejudicial à saúde a longo prazo, principalmente devido a lesões hepáticas e renais (VASCONCELOS et al, 2020).
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi revisar, através de bases de dados eletrônicas, os efeitos do uso da suplementação de whey protein por praticantes de atividades físicas visando a hipertrofia muscular. Deve-se fazer uma contextualização/apresentação breve do tema a ser estudado ou do tema que será abordado em seu projeto de pesquisa. A introdução é a parte do artigo onde são apresentados o tema de pesquisa, o problema, a justificativa e os objetivos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
CAPÍTULO 1: METABOLISMO PROTEICO
No corpo humano, existem diversos tipos de proteínas, cuja unidade estrutural são os aminoácidos, responsáveis por realizar atividades essenciais e específicas. São vinte os aminoácidos principais, presentes no corpo em grande quantidade e, que apresentam em comum, a presença de ácido carboxílico e um grupo amina ligado a essa molécula (HALL & HALL, 2021).
Esses aminoácidos são agregados em longas cadeias por meio de ligações peptídicas, sendo que a distribuição precisa de cada um depende dos tipos de proteínas ingeridas, e é a ordem e a frequência com que esses aminoácidos se apresentam na estrutura que determina a diversidade funcional de cada proteína (COSTA & PELUZIO, 2007).
Sabe-se que dez aminoácidos essenciais não podem ser sintetizados em quantidades suficientes no corpo, devendo ser obtidos a partir de alimento, sendo eles: Valina, Leucina, Isoleucina, Fenilalanina, Triptofano, Treonina, Metionina, Lisina, Histidina e Arginina (COSTA & PELUZIO, 2007), (HALL & HALL, 2021).
O produto da digestão e absorção de proteínas no trato gastrointestinal é formado, na maior parte das vezes, por aminoácidos. Raramente tem-se moléculas de proteínas inteiras absorvidas. Assim, logo após uma refeição, a concentração de aminoácidos no sangue aumenta. Esse aumento, por sua vez, não é tão significante, devido a digestão e absorção de proteínas ocorrer de forma lenta e as células de todo o organismo absorverem rapidamente esses aminoácidos, de modo que não haja acúmulo de grandes quantidades no sangue. (COSTA & PELUZIO, 2007), (HALL & HALL, 2021).
Como os aminoácidos são grandes demais para se difundirem através dos poros das membranas celulares, é necessário que esse transporte do sangue para as células ocorra por difusão facilitada ou transporte ativo (HALL & HALL, 2021).
Nos rins, os aminoácidos filtrados pelos capilares glomerulares são reabsorvidos pelo epitélio tubular proximal por transporte ativo secundário, retornando ao sangue. Contudo, há um limite para a taxa na qual cada tipo de aminoácido pode ser transportado e quando a concentração do mesmo se torna muito alta no sangue e no filtrado glomerular, o excesso que não pode ser reabsorvido é perdido na urina (HALL & HALL, 2021).
Após a entrada dos aminoácidos nas células, os mesmos se combinam entre si por ligações peptídicas, sob o comando de RNA mensageiro e do sistema ribossômico, para formar proteínas celulares. Assim, a concentração de aminoácidos livres nas células é pequena, sendo eles armazenados em forma de proteínas. Essas proteínas intracelulares podem ser decompostas de volta em aminoácidos por meio de enzimas lisossômicas e, assim, transportadas da célula para o sangue. Exceções a esse processo de reversão incluem proteínas como o colágeno e proteínas contráteis musculares (HALL & HALL, 2021).
Há um mecanismo de compensação entre o sangue e as células, de modo que quando a concentração de aminoácidos no plasma cai abaixo do normal, ocorre a saída dos mesmos de dentro das células para repor seu suprimento no plasma (HALL & HALL, 2021).
Os principais tipos de proteínas presentes no plasma são albumina, globulina e brinogênio. A principal função da albumina é produzir pressão colodoismótica no plasma, o que impede a perda de plasma nos capilares. Já as globulinas, além do transporte de substâncias, desempenham papel na imunidade do organismo. Os brinogênios, por sua vez, auxiliam no reparo de sangramentos. Todas elas são formadas no fígado e nos tecidos linfoides (HALL & HALL, 2021).
Quando a célula armazena proteína até o seu limite, o excesso é degradado e usado como energia ou é armazenado em forma de gordura ou glicogênio. Essa degradação ocorre quase que inteiramente no fígado e por meio da remoção do grupo amino dos aminoácidos, processo conhecido como desaminação. Esses aminoácidos desaminados podem ser oxidados para gerar energia para novos metabólicos. Alguns deles são semelhantes aos substratos utilizados pelo fígado para sintetizar glicose ou ácidos graxos. A conversão de aminoácidos em glicose ou glicogênio é chamada de gliconeogênese e a conversão de aminoácidos em ácidos graxos ou cetoácidos é chamada de cetogênese (HALL & HALL, 2021).
No indivíduo que não consome proteínas, uma certa proporção de proteínas do corpo é degradada em aminoácidos e então desaminada e oxidada. Esse processo envolve 20 a 30 gramas de proteína por dia, sendo a chamada quebra necessária de proteínas. Assim, para evitar essa degradação, uma pessoa média deve consumir de 20 a 30 gramas de proteína por dia, sendo esses valores dependentes de massa muscular, nível de atividade e idade. Desse modo recomenda-se, como medida de segurança, o consumo de 60 a 75 gramas de proteínas por dia (HALL & HALL, 2021).
Em relação a esse consumo, é importante que a ingesta de aminoácidos seja proporcional à quantidade presente nos tecidos do corpo, de modo que toda a proteína da dieta seja utilizada para formar novas proteínas teciduais. Assim, caso um tipo específico de aminoácido essencial esteja em baixa concentração, os outros se tornam inúteis devido as células somente sintetizarem proteínas inteiras ou nenhuma. Se houver um excesso de aminoácidos que não sejam utilizados, os mesmos são desaminados e oxidados (HALL & HALL, 2021).
Exceto pela degradação proteica obrigatória diária, o corpo utilizado quase que inteiramente, para geração de energia, carboidratos e gordura. Porém, após um período longo de jejum, quando essa quantidade de gordura e carboidratos começa a se esgotar, os aminoácidos do sangue são desaminados e oxidados para gerar energia. A partir daí, as proteínas dos tecidos degradam-se rapidamente em até 125 gramas por dia, de modo a deteriorar as funções celulares (HALL & HALL, 2021).
Sabe-se que hormônios secretados pelas glândulas endócrinas alteram o equilíbrio entre as proteínas do tecido e os aminoácidos circulantes. O GH, por exemplo, aumenta a formação de proteínas no tecido, através do aumento do transporte de aminoácidos nas membranas celulares, da aceleração da transcrição do DNA e RNA e da diminuição da oxidação das proteínas. Já a testosterona, hormônio sexual masculino, provoca aumento da deposição de proteínas nos tecidos, especialmente nas proteínas contráteis dos músculos. Esse aumento, por sua vez, difere do GH no sentido de ser limitado por alguns meses, sendo que quando os músculos e outros tecidos proteicos atingem o seu máximo, esse crescimento cessa, mesmo com a administração continuada do hormônio. O estrogênio, principal hormônio sexual feminino, também estimula o depósito de proteína, porém em quantidades muitos menores que a testosterona. Em relação ao hormônio tiroxina (T4), sabe-se que o mesmo afeta indiretamente o balanço das proteínas, degradando-as se os carboidratos e as gorduras estiverem insuficientemente disponíveis para a produção de energia. Por outro lado, se quantidades adequadas de carboidratos e gorduras estiverem disponíveis e o excesso de aminoácidos também estiver disponível, a tiroxina pode realmente aumentar a taxa de síntese proteica. Outro hormônio, a insulina, também é essencial no transporte de alguns aminoácidos para as células, além de reduzir a degradação de proteínas e aumentar a oferta de glicose à célula, de modo que a necessidade de aminoácidos para gerar energia seja reduzida. Já os glicocorticoides, como o cortisol, diminuem a quantidade de proteínas no tecido e aumentam a de aminoácidos no plasma (HALL & HALL, 2021).
CAPÍTULO 2: SÍNTESE MUSCULAR
Sabe-se que cerca de 40% da massa corporal total é formada por músculo esquelético. Esse, por sua vez, possui em sua composição várias camadas estruturais, com as fibras musculares sendo a unidade básica. Essas fibras são classificadas em dois tipos principais: tipo 1 (aeróbicas) e tipo 2 (anaeróbicas). Cada fibra muscular contém miofibrilas, que são formadas por sarcômeros, as menores unidades funcionais do músculo (GUEDES et al, 2018).
O músculo esquelético é predominantemente constituído por proteínas e água. Diariamente, ele passa por um ciclo contínuo de perda e reposição de proteínas, mantendo um equilíbrio dinâmico entre catabolismo e anabolismo, processo essencial para a manutenção e adaptação da estrutura muscular, conhecido como plasticidade muscular (QUARESMA & OLIVEIRA, 2017).
A síntese de novas proteínas ocorre através de dois processos celulares coordenados: transcrição do DNA e tradução do RNA. A transcrição ocorre no núcleo da célula, onde o DNA fornece as instruções necessárias para a síntese de proteínas. O RNA, por sua vez, transcreve essas instruções e transporta-as para os ribossomos, que sintetizam as proteínas conforme as necessidades celulares (FLECK & KRAEMER, 2017).
Assim, entende-se que a síntese proteica é crucial para reparar proteínas danificadas e promover o crescimento muscular. Todavia, diversos estímulos modulam esse processo de síntese e, consequentemente, o crescimento muscular. Dentre eles, treinamento resistido e uma dieta equilibrada são fatores que favorecem a síntese proteica, enquanto condições como a senescência podem inibi-la.
A prática de musculação, especialmente com foco em volume de treino, pode aumentar a quantidade de RNA e ribossomos nas células musculares. Esse aumento resulta em uma maior capacidade de transcrição e tradução, promovendo a síntese de novas proteínas e, portanto, o crescimento muscular (FLECK & KRAEMER, 2017).
Em relação ao crescimento muscular, entende-se como hipertrofia o aumento do volume das células musculares, por meio de três componentes fundamentais: estímulos, matéria-prima (aminoácidos) e energia (glicose).
Há um processo, chamado mecanotransdução, no qual as células musculares convertem estímulos mecânicos em respostas químicas, impactando a liberação de fosfolipídios na membrana do músculo esquelético (sarcolema). Estes fosfolipídios são convertidos por enzimas, como a fosfolipase A2 e a fosfolipase C, em ácido araquidônico. O ácido araquidônico é então transformado em prostaglandinas pela enzima ciclo-oxigenase. As prostaglandinas causam inflamação e dor, atraindo neutrófilos e macrófagos para o local. Estes realizam a fagocitose dos resíduos celulares e liberam interleucina-6, que ativa as células satélites. As células satélites são células mononucleadas localizadas na periferia das fibras musculares, entre o sarcolema e a lâmina basal. Normalmente quiescentes, essas células se tornam altamente ativas e proliferativas quando estimuladas, sendo essenciais para a regeneração das fibras musculares danificadas e a manutenção do músculo esquelético. Esses processos resultam na fusão mioblástica e formação de novos mionúcleos, que são cruciais para a síntese de novas proteínas contráteis, como actina e miosina, contribuindo para a hipertrofia muscular (SOUZA et al, 2015).
O mTOR (alvo da rapamicina em mamíferos) é uma quinase central na regulação da síntese proteica e do crescimento celular. Ele atua através da fosforilação do complexo p70S6K, aumentando a atividade dos ribossomos, e da inibição da autofagia, reduzindo a degradação de componentes celulares. A regulação do mTOR é crucial para a adaptação do músculo aos estímulos anabólicos e nutricionais (GUEDES et al, 2018).
CAPÍTULO 3: SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA
O leite possui duas principais fontes de proteínas, sendo elas a caseína e as proteínas do soro. Desse soro, pode-se extrair aminoácidos de cadeia ramificada, como a leucina, isoleucina e a valina, constituintes do popular Whey Protein, suplemento proteico amplamente utilizado para auxiliar no ganho de massa muscular (BORGES et al, 2021).
O perfil de aminoácidos das proteínas do leite é excepcional, contendo componentes bioativos e aminoácidos essenciais que promovem o anabolismo e reduzem o catabolismo proteico, essenciais para o ganho de massa muscular. A alta concentração de cálcio melhora o desempenho muscular, possui ação antioxidante e também influencia o metabolismo da gordura corporal por meio de um mecanismo associado ao hormônio 1,25 (OH)2D (SILVA et al, 2022).
As recomendações diárias de ingestão de proteínas para atletas variam entre 1,2-1,7 g por quilograma de peso corporal ou 12%-15% do consumo energético total. Um estudo recente concluiu que atletas de endurance (resistência) envolvidos em treinamento de intensidade moderada necessitam de 1,1 g de proteína por quilograma de peso corporal por dia, enquanto atletas de endurance de elite podem precisar de até 1,6 g/kg/dia. Por outro lado, atletas de força podem precisar de 1,6-1,7 g de proteína por quilograma de peso corporal por dia (TERADA et al, 2009).
Maestá e colaboradores (2008) compararam dietas contendo 1,5 g de proteínas por quilograma de peso corporal com dietas contendo 2,5 g de proteínas por quilograma de peso e concluíram que o aumento da ingestão de proteínas não resultou em uma síntese proteica significativamente maior. Consequentemente, não houve alterações relevantes no peso, na massa magra e na massa adiposa dos indivíduos analisados. Um aumento de 0,5 g de proteínas por quilograma de peso, em relação à recomendação para adultos sedentários, foi suficiente para elevar a disponibilidade de aminoácidos no sangue e estimular a insulina, um hormônio anabólico (TERADA et al, 2009).
De forma semelhante, outro estudo teve como objetivo verificar se uma dieta hiperproteica (4 g de proteínas por quilograma de peso), associada ao treinamento, provoca um aumento maior de massa muscular e força em comparação a uma dieta normoproteica para a modalidade praticada (1,8 g/kg de peso). Os autores observaram que a dieta normoproteica teve correlação positiva com as variáveis antropométricas e, proporcionalmente, oferecia mais carboidratos. Acredita-se que o alto consumo de proteínas possa desequilibrar o Ciclo de Krebs para a produção de energia e, com a redução do consumo de carboidratos, houve maior produção de corpos cetônicos e aumento das concentrações de cortisol, comprometendo a síntese proteica (TERADA et al, 2009), (BORGES et al, 2021).
As necessidades de proteínas variam entre praticantes de atividades físicas e indivíduos sedentários. O exercício intenso aumenta a excreção de nitrogênio e, quando a ingestão de proteínas e energia é insuficiente, o balanço nitrogenado torna-se negativo, o que é indesejável para os atletas (TERADA et al, 2009).
Recentemente, tem havido uma maior preocupação com o timing da ingestão de proteínas, devido à queda nas concentrações de aminoácidos intracelulares nos músculos após exercícios.
A síntese de proteínas musculares após o exercício de força é fortemente influenciada pela disponibilidade de aminoácidos, pelo timing da ingestão de proteínas e pelas concentrações de insulina. Além desses fatores, hormônios como GH, testosterona, IGF-I e MGF, estresse mecânico e estado de hidratação da célula também influenciam esse processo. Quando as concentrações de insulina estão elevadas após exercícios de força, seja por ingestão de glicose ou infusão direta de insulina, a aceleração da degradação proteica induzida pelo exercício é reduzida, e as taxas de síntese proteica aumentam significativamente (FLECK & KRAEMER, 2017).
Após um exercício de força, a ingestão de aminoácidos pode dobrar a taxa de síntese proteica quando há um aumento concomitante no fluxo sanguíneo muscular. Esse efeito pode ser mais pronunciado se os aminoácidos forem consumidos antes do treino, pois isso otimiza a disponibilidade e o transporte dos aminoácidos durante a sessão, devido ao aumento do fluxo sanguíneo. Esses resultados sugerem que a ingestão de glicose e aminoácidos antes ou imediatamente após exercícios de força pode ter um efeito ergogênico, potencializando a síntese de proteínas e promovendo uma recuperação mais eficaz (FLECK & KRAEMER, 2017).
De acordo com Haraguchi, Abreu e De Paula (2006), um menor intervalo entre o término da atividade física e a ingestão de proteínas resulta em uma melhor resposta anabólica ao exercício. Esse achado foi corroborado pelo estudo de Miller e colaboradores, conforme citado por Maestá e colaboradores (2008). Os autores demonstraram que o consumo de proteínas, combinado com carboidratos após o treino, promoveu um aumento na síntese proteica muscular durante os períodos de 1 a 2 horas após o exercício, que coincidem com os picos de síntese e degradação proteica muscular em repouso pós-treino (TERADA et al, 2009).
Tipton e Wolfe (1998) propuseram um modelo de metabolismo proteico durante o exercício de força, que inclui as seguintes etapas: (VASCONCELOS et al, 2020) o exercício de força estimula a síntese de proteínas; (HARTMAN et al, 2007) as concentrações de aminoácidos intramusculares diminuem; (ESMARCK et al, 2001) a redução dos aminoácidos intramusculares provoca aumento na degradação proteica e no transporte de aminoácidos para a célula muscular (TERADA et al, 2009); a maior disponibilidade de aminoácidos promove um aumento adicional na síntese proteica; e (SILVA et al, 2022) ocorre uma remodelagem tecidual (FLECK & KRAEMER, 2017).
Portanto, a ingestão de proteínas ou aminoácidos imediatamente após o exercício promove uma maior síntese de proteínas nos músculos. Nesse sentido, o whey protein se destaca como uma excelente estratégia para a recuperação pós-esforço devido à sua rápida absorção e boa digestibilidade (BORGES et al, 2021).
Atrelado a isso, temos que o ajuste adequado do consumo de proteínas está intrinsecamente ligado à ingestão energética, pois, se esta for insuficiente, os aminoácidos provenientes da dieta e do catabolismo proteico serão utilizados na produção de ATP. Dessa forma, não haveria sentido aumentar a ingestão de proteínas sem garantir uma ingestão energética adequada (TERADA et al, 2009).
Por outro lado, apesar dos benefícios da suplementação proteica quando bem implantada, é preciso destacar que muitas pessoas utilizam esse suplemento de forma indiscriminada, sem conhecer todos os efeitos oriundos da utilização crônica e excessiva do WP e de seus possíveis riscos à saúde.
Para esse fim, ainda não existem muitos estudos que apontem quais são os efeitos adversos de uma dieta a qual utiliza de forma indiscriminada o whey protein. Todavia, a principal informação obtida a partir dos poucos estudos é que os riscos existem e devem ser apresentados à população. Como exemplo, temos o aumento da presença de acne, modificações do metabolismo renal e hepático e disfunção da microbiota (VASCONCELOS et al, 2020).
Alguns estudos demonstraram que, em relação a função renal, o uso da suplementação proteica com WP provocou aumento da ureia plasmática e da excreção urinária de cálcio, enquanto diminuiu o pH e o citrato urinário. Esses dois últimos, quando associados à hipercalcemia, podem aumentar o risco de nefrolitíase. Ainda assim, a principal questão é uma possível sobrecarga dos rins por aumento de taxa de filtração glomerular de uma dieta hiperproteica, devido a ureia – principal produto do metabolismo das proteínas – ser excretado por esse órgão. Porém, estudos mostram que esse é um mecanismo adaptativo que não causa danos em indivíduos saudáveis (VASCONCELOS et al, 2020).
Em relação a função hepática, trabalhos com modelos animais de Deminice et al. (2015) e Gurgen et al. (2014), mostraram que o uso excessivo de WP sem exercício físico foi associado a problemas hepáticos, de modo a elevar enzimas como alanina aminotransferase (ALA) e aspartato aminotransferase (AST), relacionadas a lesão hepática (Kaneko et al. 2008), (VASCONCELOS et al, 2020).
Sobre a microbiota intestinal, é importante ressaltar que a mesma tem influência direta com a dieta e a atividade física também (Bressa et al. 2017). O estudo de Moreno-Perez et al. (2018), avaliou o microbiota de atletas suplementados com WP e constatou que houve diminuição de bactérias benéficas e aumento de bactérias maléficas. É importante mencionar que outros estudos na literatura associaram o consumo de whey protein a benefícios na microbiota intestinal, com aumento das populações de Bifidobacteria e Lactobacillus (Meddah et al., 2001; Swiatecka et al., 2011), (VASCONCELOS et al, 2020).
3 METODOLOGIA
A presente investigação inscreve-se na linha de pesquisa descritiva de caráter qualitativo. Dada a natureza do objeto, optou-se por desenvolver um estudo de caso aplicado e exploratório.
Trata-se de uma revisão de literatura, cujo método permite a síntese de vários estudos já publicados, pautados nos achados apresentados pelas pesquisas, resultando em uma análise ampliada e visualização de lacunas existentes. Apresenta perspectivas bibliográfica e histórica (MARCONI; LAKATOS,1996). Com base na literatura existente buscou-se investigar os impactos da suplementação proteica no desempenho físico e no ganho de massa muscular de, majoritariamente, praticantes de atividades físicas. Este estudo permite uma observação crítica em relação aos achados sobre o tema apresentado.
O enfoque qualitativo deste trabalho, o pesquisador é o instrumento-chave, o ambiente é a fonte direta dos dados, não requer o uso de técnicas e métodos estatísticos, têm caráter descritivo, o resultado não é o foco da abordagem, mas sim o processo e seu significado, ou seja, o principal objetivo é a interpretação do fenômeno objeto de estudo (CHIZZOTTI, 2011). Com enfoque holístico, examina-se apenas a natureza global da suplementação de proteínas em pessoas praticantes de atividades físicas.
A busca dos estudos foi realizada nas bases de dados PubMed, Science Direct, além de literatura específica relacionada à fisiologia médica, fisiologia do exercício e nutrição esportiva. Os termos de busca utilizados foram “suplementação proteica”, “proteína do soro do leite”, “whey protein”, “hipertrofia muscular” e “síntese proteica”.
Os critérios de inclusão dos artigos foram a publicação entre os anos de 2001 e 2022, disponíveis nos idiomas inglês e português, que abordam o impacto da suplementação proteica na saúde e/ou no desempenho físico. Foram excluídos estudos que não abordam diretamente a suplementação proteica, artigos publicados antes de 2001, estudos em idiomas diferentes de inglês e português e relatos de casos, cartas ao editor ou opiniões pessoais. No processo de identificação, utilizando os descritores nas plataformas de busca, e após extrair informações como autor(es) e ano de publicação, tipo de estudo, população estudada, tipo de suplementação proteica utilizada, resultados principais e conclusões dos autores, foram inicialmente selecionados 21 artigos. Após a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, 11 artigos foram considerados diretamente relacionados ao tema e atenderam a todos os critérios de inclusão.
A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, e os resultados foram sintetizados para responder à pergunta de pesquisa sobre o impacto da suplementação proteica na saúde e desempenho físico.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Considerando o crescente número de praticantes de atividades física no Brasil ao longo dos últimos anos, há um aumento proporcional no consumo de suplementos proteicos, especialmente entre indivíduos jovens que buscam atender a um padrão estético imposto pela sociedade.
Santos et al. (2021) em seu estudo, realizou um questionário aplicado a uma amostra de 100 fisiculturistas com idades entre 18 e 30 anos revelou que 75% desses indivíduos utilizavam suplementos nutricionais, sendo 29% whey protein, ou seja proteína extraída do soro do leite. Os mesmos autores, destacaram a preocupação com o fato de que a maioria dos praticantes de fisiculturismo fizeram uso de suplementação sem acompanhamento médico ou nutricional adequado. Aproximadamente 30% dos entrevistados receberam recomendações de personal trainers, 28% de amigos e 24% pesquisaram na internet para escolher os suplementos. Além disso, 88% dos participantes desconheciam os riscos associados ao consumo excessivo de suplementos alimentares (SILVA et al, 2022).
Outro estudo, conduzido por Neves et al. (2017), analisando o perfil de 300 usuários de suplementos alimentares, revelou que o whey protein é o suplemento mais popular entre eles. A maioria dos usuários foi incentivada a consumir esses produtos por instrutores de academia e amigos, com menor frequência por nutricionistas (SILVA et al, 2022).
Neste sentido, diante dos estudos analisados, pode-se inferir que a grande porcentagem da população consumidora de suplementos proteicos não compreende completamente o metabolismo das proteínas e suas implicações no processo de síntese muscular, bem como seus benefícios e malefícios para os diversos sistemas do organismo.
Ainda em análise, evidencia-se que o whey protein possui um perfil de alto valor biológico, essencial para a síntese proteica muscular. Sua rápida digestão e absorção aumentam a disponibilidade de aminoácidos no plasma, servindo como substrato para a síntese proteica nos tecidos e contribuindo para a hipertrofia muscular. Além disso, a suplementação com whey protein se mostrou muito importante ao promover a liberação de hormônios anabólicos, como a insulina, que facilita a captação de aminoácidos pelas células musculares, otimizando a síntese proteica. Essa maior disponibilidade de aminoácidos promove um aumento adicional na síntese proteica.
Especialistas argumentam que as proteínas provenientes de uma dieta equilibrada são tão eficazes quanto os suplementos proteicos para o aumento da massa muscular. O fator mais importante para o crescimento muscular parece ser o timing da ingestão de proteínas, ou seja, está associada ao momento da ingestão (MARANGON et al, 2017).
Neste sentido, reforça-se a ideia que o consumo deve ser feito no momento anterior ao treino, ou se após, o mais próximo possível para obtenção de resultados. A literatura revisada destaca a importância do timing da ingestão de proteínas para maximizar a síntese proteica muscular. A ingestão de aminoácidos ou proteínas imediatamente após o exercício de força pode dobrar a taxa de síntese proteica, promovendo uma recuperação mais eficaz. Isso ocorre porque a atividade física, especialmente os exercícios de força resistida, reduz as concentrações de aminoácidos intramusculares. Como resultado, ocorre um feedback que aumenta o transporte de aminoácidos para dentro das células musculares (ESMARCK et al, 2001).
Um estudo de Esmarck et al. observou que a administração imediata de um suplemento proteico após um treino de resistência whey protein é importante ao promover a liberação de hormônios anabólicos induziu um maior crescimento de massa muscular (ESMARCK et al, 2001). Em contrapartida, esse aumento não ocorreu quando a ingestão foi realizada duas horas após o término do treinamento. Resultado semelhante foi encontrado por Hartman et al., que demonstrou que postergar a ingestão de proteínas após a prática de exercícios resultou em um menor ganho de massa muscular quando comparado com a ingestão imediata (HARTMAN et al, 2007).
De acordo com diretrizes internacionais, a recomendação de ingestão de proteínas para adultos saudáveis é de 0,8 g/kg de peso corporal por dia. No entanto, para indivíduos que se dedicam a atividades físicas, especialmente exercícios de resistência, as necessidades proteicas podem variar de 1,2 a 2 g/kg de peso corporal (BORGES et al, 2021). Essas necessidades variam de acordo com cada indivíduo e com o tipo de atividade física realizada.
Estudos sugerem que a ingestão de 20 a 25 g de whey protein por dia é adequada para a maioria dos praticantes de atividades físicas, enquanto doses superiores a 40 g/dia podem estar associadas a efeitos adversos.
Assim, como já citado acima, embora a suplementação proteica seja geralmente segura para indivíduos saudáveis, o uso indiscriminado e excessivo de whey protein pode sobrecarregar a função renal, podendo aumentar a pressão e a taxa de filtração glomerular. Em relação à função hepática, pode haver aumento das enzimas hepáticas, como exemplificados no estudo de Nunes et al. (2013) o qual mostrou que, enquanto o grupo sedentário que consumiu whey protein apresentou resultados semelhantes ao grupo controle, o grupo que praticou exercícios e utilizou whey protein teve uma redução na expressão dos marcadores de lesão hepática. Isso sugere que uma ingestão elevada de proteínas, especialmente na ausência de necessidade corporal ou com um estilo de vida sedentário, pode prejudicar a função hepática. Além disso, a suplementação com whey protein pode alterar a microbiota intestinal.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados analisados e discutidos, a presente investigação que traz como objetivo central, compreender o uso da suplementação proteica na saúde evidenciando o desempenho físico, pode concluir que a suplementação com whey protein pode ser uma ferramenta eficaz para auxiliar no ganho de massa muscular e no desempenho físico, desde que utilizada de forma consciente e sob orientação profissional.
Ainda relacionado aos objetivos é fundamental que os indivíduos estejam informados sobre os potenciais riscos do uso excessivo de whey protein e que a suplementação seja ajustada às necessidades individuais, considerando a composição corporal, o nível de atividade física e a ingestão energética total.
Além disso, é essencial que futuras pesquisas explorem mais profundamente os efeitos a longo prazo da suplementação proteica, especialmente em diferentes populações e contextos de uso. Estudos adicionais podem ajudar a refinar as diretrizes de dosagem e timing, garantindo que os benefícios da suplementação proteica sejam maximizados enquanto os riscos potenciais sejam minimizados.
REFERÊNCIAS
BORGES, Giovanna et al. SUPLEMENTAÇÃO DE WHEY PROTEIN NA HIPERTROFIA MUSCULAR: UMA BREVE REVISÃO. Revista Multidisciplinar da Faculdade de Presidente Prudente, [S. l.], p. 60-69, julho/dezembro. 2021.
CARDOSO, Klecia; LEONHARDT, Valéria. AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE SUPLEMENTOS PROTEICOS POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO EM UMA ACADEMIA DE PLANALTINA-DF. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, [S. l.], p. 1083-1091, 1 dez. 2017.
COSTA, Neusa; PELUZIO, Maria. Nutrição básica e metabolismo. [S. l.: s. n.], 2007.
ESMARCK, B et al. Timing of postexercise protein intake is important for muscle hypertrophy with resistance training in elderly humans. The Journal of Physiology, [S. l.], p. 301-311, 15 ago. 2001.
FLECK, Steven; KRAEMER, William. Fundamentos do treinamento de força muscular. [S. l.: s. n.], 2017.
GUEDES, Dilmar et al. HIPERTROFIA MUSCULAR A ciência na prática em academias. [S. l.: s. n.], 2018.
HALL, John; HALL, Michael. Tratado de fisiologia médica. 14. ed. [S. l.: s. n.], 2021.
HARTMAN, Joseph et al. Consumption of fat-free fluid milk after resistance exercise promotes greater lean mass accretion than does consumption of soy or carbohydrate in young, novice, male weightlifters. The American Journal of Clinical Nutrition, [S. l.], p. 373-381, 3 ago. 2007.
MARANGON, Antônio et al. Consumo de proteínas e ganho de massa muscular. Universitas: Ciências da Saúde, [S. l.], p. 297-306, julho/dezembro. 2017.
QUARESMA, Marcus; OLIVEIRA, Erick. Proteína para síntese proteica e hipertrofia muscular de adultos: quanto, quando e como consumir? Arquivos de Ciências do Esporte, [S. l.], p. 24-27, 11 jun. 2017.
SILVA, Paulo et al. Consequências da suplementação alimentar com whey protein para praticantes de exercícios físicos: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, [S. l.], p. 1-9, 16 jun. 2022.
SOUZA, Daniela et al. Regulação e ativação das células satélites durante a regeneração muscular. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, [S. l.], p. 170-180, 27 jun. 2015.
TERADA, Lilian et al. EFEITOS METABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇÃO DO WHEY PROTEIN EM PRATICANTES DE EXERCÍCIOS COM PESOS. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, [S. l.], p. 295-304, 16 jul. 2009.
VASCONCELOS, Quezia et al. Whey protein supplementation and its potentially adverse effects on health: a systematic review. Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism, [S. l.], p. 1-26, 24 jun. 2020.
ZAMBÃO, Jéssica et al. RELAÇÃO ENTRE A SUPLEMENTAÇÃO DE PROTEÍNA DO SORO DO LEITE E HIPERTROFIA MUSCULAR: UMA REVISÃO. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, [S. l.], p. 179-192, mar/abril 2015.o
1Discente do Curso Superior de Medicina no Centro Universitário Municipal de Franca – Uni-FACEF, e-mail: jjoaopiress@outlook.com
2Discente do Curso Superior de Medicina no Centro Universitário Municipal de Franca – Uni-FACEF, e-mail: mtmaglio@hotmail.com
3 Doscente do Curso Superior de Medicina no Centro Universitário Municipal de Franca – Uni-FACEF, e-mail: dani.martinsborges@gmail.com