THE IMPACT OF MENTAL HEALTH ON THE QUALITY OF WORK OF THE MILITARY POLICE OF THE STATE OF PARÁ: CHALLENGES AND ACHIEVEMENTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412090953
André da Silva Araújo1
Samara Nascimento de Sousa2
Edenilson Moraes Silva3
Dheymyson de Maria4
Julieli Santos Del Castilho5
Ianajara Reis de Oliveira6
Aline Soares da Silva7
Resumo
A saúde mental dos policiais é um aspecto crítico que influencia diretamente a qualidade do trabalho realizado por esses profissionais. Assim, o trabalho possui como objetivo o desenvolvimento de um estudo sobre o impacto da saúde mental na qualidade do trabalho da Polícia Militar do Estado do Pará. A metodologia aplicada foi uma revisão de literatura, no qual foram realizadas buscas sistemáticas em bases de dados acadêmicas, como, PubMed, Scopus, Web of Science, sendo selecionados artigos de 2020 a 2024. Como resultados observou-se profissionais que enfrentam constantemente situações de estresse, violência e pressão emocional estão suscetíveis a uma variedade de transtornos mentais, que podem comprometer não apenas seu bem-estar, mas também a segurança pública e a eficácia das ações policiais. Como conclusão ressalta-se que ao investir na saúde mental dos policiais, não apenas melhora a qualidade de vida dos profissionais, mas também fortalece a própria corporação, visto que, esses trabalhadores mentalmente saudáveis são mais resilientes, mais aptos a lidar com crises e capazes de oferecer um serviço mais eficaz e humano à sociedade.
Palavras–chave: Saúde Mental. Estresse. Qualidade do trabalho. Polícia Militar do Estado do Pará.
INTRODUÇÃO
A saúde mental dos policiais é um aspecto crítico que influencia diretamente a qualidade do trabalho realizado por esses profissionais. A natureza do trabalho policial é intrinsecamente estressante, com os agentes frequentemente expostos a situações de risco, violência e traumas (Silva; Fagiolo, 2024).
Esses fatores podem levar a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que, por sua vez, afetam o desempenho e a efi- cácia nas atividades diárias (Stuqui, 2024).
O estresse ocupacional é um dos principais desafios enfrentados pelos policiais, nos quais, as demandas constantes do trabalho, que incluem o atendimento a emergências, a pressão para tomar decisões rápidas e a necessidade de interagir com a comunidade em situações tensas, podem resultar em exaustão emocional e burnout (Back, 2021).
Nesse contexto, policiais que não recebem suporte adequado podem ter dificuldade em manter a concentração, levando a erros de julgamento e à diminuição da capacidade de resposta em situações críticas (Back, 2021).
Sobre o assunto, destaca-se que a saúde mental impacta diretamente a habilidade dos policiais em tomar decisões informadas e racionais. Problemas de saúde mental podem com- prometer o raciocínio lógico e a capacidade de avaliação de risco, aumentando a probabilidade de ações impulsivas ou inadequadas, além disso, policiais que enfrentam dificuldades emocio- nais podem ter dificuldades em se relacionar com colegas e com a comunidade, resultando em conflitos e em uma diminuição da confiança pública nas forças de segurança (Stuqui, 2024).
Nessa conjuntura, nota-se que a qualidade do trabalho policial não afeta apenas os pró- prios policiais, mas também tem implicações diretas para a segurança pública. Policiais men- talmente saudáveis são mais eficazes em suas funções, o que se traduz em melhor desempenho em investigações, intervenções e na manutenção da ordem (Reis et al., 2024).
Por outro lado, é valido salientar que um corpo policial que lida com problemas de saúde mental pode ter um desempenho abaixo do ideal, o que pode resultar em um aumento da crimi- nalidade e em uma percepção negativa da segurança na comunidade (Penkal; Rodrigues, 2024).
Diante disso, é essencial que as instituições policiais reconheçam a importância da saúde mental e implementem programas de suporte psicológico, o que inclui a disponibilização de
serviços de saúde mental, como terapia e aconselhamento, além de treinamento em gestão do estresse e resiliência, por isso é importante criar um ambiente em que os policiais se sintam à vontade para buscar ajuda é fundamental para reduzir o estigma associado à saúde mental (Reis et al., 2024).
A formação contínua sobre saúde mental e suas implicações também devem ser uma parte integrante da formação policial, já que educar os mesmos sobre os sinais de estresse e os recursos disponíveis para apoio pode ajudar a criar uma cultura de cuidado e prevenção. Além disso, políticas que incentivem a prática de atividades físicas e o equilíbrio entre vida profissi- onal e pessoal podem contribuir para a manutenção da saúde mental (Plasse, 2024).
Assim, o trabalho tem como a seguinte problemática: de que forma a saúde mental pode impactar negativamente na qualidade do trabalho na polícia militar do estado do Pará.
No que diz respeito ao objetivo do trabalho está pautado no desenvolvimento de um estudo sobre o impacto da saúde mental na qualidade do trabalho da polícia militar do estado do Pará.
Portanto, o impacto da saúde mental na qualidade do trabalho da polícia militar é um tema de extrema relevância, que deve ser abordado com seriedade e atenção. A promoção da saúde mental entre os policiais não apenas melhora a qualidade de vida dos profissionais, mas também é essencial para garantir a segurança e a eficácia nas operações policiais.
METODOLOGIA
O trabalho foi uma revisão de literatura, que segundo Gil (2017) pode ser realizada como parte de diferentes tipos de estudos acadêmicos, como trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, artigos científicos e projetos de pesquisa. Ela é fundamental para contextualizar a pesquisa, embasar teoricamente os argumentos e fornecer uma visão abrangente do estado atual do conhecimento sobre o tema em questão.
Assim, foram realizadas buscas sistemáticas em bases de dados acadêmicas, sendo elas: PubMed, Scopus, Web of Science, no qual foram selecionados artigos de 2020 a 2024. Foram utilizados descritores por meio de operadores booleanos relacionados ao tema, como: “Polícia Militar”, “Saúde mental”, “Estresse”, Burnout”, e “Qualidade de vida” tanto em português como em inglês.
Assim foram selecionados os resultados com base em critérios de inclusão e exclusão, considerando a relevância para o tema, o idioma e o tipo de publicação. Dessa forma, selecionou-se estudos empíricos, revisões sistemáticas, relatórios governamentais, diretrizes e documentos oficiais que abordem sobre o impacto da saúde mental na qualidade do trabalho da polícia militar do estado do Pará. Após esse procedimento foi realizado uma leitura crítica dos estudos selecionados.
Portanto, tal metodologia é de suma importância em discutir o impacto da saúde mental na qualidade do trabalho da polícia militar do estado do Pará no qual foi possível destacar quais estratégias e medidas para enfrentar sobre os desafios identificados e mitigar seus principais impactos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com Barreto et al. (2021) a partir de um estudo transversal, avaliou uma amostra de 329 policiais militares homens em patrulhamento nas ruas de Salvador, Brasil. O objetivo da pesquisa foi identificar os fatores que influenciam a qualidade de vida relacionada à saúde dos policiais.
Nos resultados foi possível constatar que o impacto social era especialmente baixo entre os policiais de Salvador, além disso, as oito escalas do SF-36 foram aplicadas, com pesos diferentes, para as instruções do Componente Físico e do Resumo do Componente Mental (Barreto et al., 2021).
Em outro estudo Barreto; Carvalho; Lins-Kusterer (2021) realizaram uma relação com os componentes físicos e mentais da qualidade de vida relacionados à saúde da população de policiais, fornecendo uma associação forte com a baixa capacidade para o trabalho. Assim, a análise de regressão múltipla revelou uma relação positiva e estatisticamente significativa entre a idade e o componente mental da qualidade de vida relacionada à saúde (MCS) (Barreto; Carvalho; Lins-Kusterer, 2021).
Os resultados revelaram que a qualidade de vida dos policiais militares de Salvador no aspecto de saúde é considerada baixa, com o consumo excessivo de álcool e a redução da capacidade para o trabalho como fatores de grande impacto, tal cenário inclusive pode dificultar o desempenho adequado (Barreto; Carvalho; Lins-Kusterer, 2021).
Barreto et al. (2021) identificou uma associação identificada entre a menor idade e um componente mental limitado na qualidade de vida relacionada à saúde (MCS) provavelmente deve ter efeito de sobrevivência do trabalhador saudável. Essas instruções são de grande importância para o planejamento das atividades de um programa de saúde voltado para atender às necessidades específicas desse grupo ocupacional vulnerável.
Em outras exemplos, no estudo conduzido por Tavares et al. (2021), os pesquisadores evidenciaram como características individuais, incluindo problemas de saúde, uso de medicamentos, duração do sono, consumo de tabaco, parâmetros da cintura e variáveis relacionadas ao trabalho (como ter outro emprego e satisfação com salários e turno de trabalho), influenciando a qualidade de vida dos policiais militares.
Ainda conforme os resultados de Tavares et al. (2021) mostraram que o estresse psicossocial e a resiliência têm impacto na qualidade de vida dos policiais civis, pois as dimensões de esforço, recompensa e super comprometimento do modelo Desequilíbrio Esforço-Recompensa, junto com a resiliência, estão associadas a todos os domínios do WHOQOL.
Entende-se que a maior atenção deveria ser dada àqueles que desempenham funções de segurança pública, como a Polícia Militar, já que a natureza do seu trabalho acarreta custos elevados e rendimentos mínimos, o que pode com o passar do tempo comprometer as suas capacidades profissionais e a qualidade dos serviços que conseguem prestar (Tavares et al., 2021).
Em uma análise internacional, Jetelina et al. (2020) desenvolveram um estudo com policiais de um grande departamento de polícia em Dallas-Fort Worth, Texas, mostrando que um grande número de policiais já havia sido diagnosticado com depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático e atualmente enfrentava determinados problemas de saúde.
A saúde mental dos agentes também foi avaliada através de um rastreador validado para depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e ideação suicida ou automutilação. Entre os agentes pesquisados, (17%) buscaram atendimento em serviços de saúde mental nos últimos 12 meses. Um total de 54 agentes (12%) relataram já ter recebido um diagnóstico de saúde mental ao longo da vida, enquanto (26%) apresentaram resultados positivos em triagens para sintomas atuais de doença mental (Jetelina et al., 2020).
O estudo constitui quatro principais barreiras ao acesso aos serviços de saúde mental, no qual a primeira foi a dificuldade em considerar a presença de uma condição mental, a segunda barreira estava relacionada com questões de confidencialidade. Em terceiro lugar, havia a percepção de que os psicólogos não conseguiam compreender as experiências e os desafios da profissão dos agentes. Finalmente, o estigma associado aos agentes que buscavam apoio de saúde mental fazia ser vistos como inaptos para o trabalho a ser desenvolvido (Jetelina et al., 2020).
Em outra pesquisa, Angehrn et al. (2020) realizou um estudo internacional para estimar a prevalência de distúrbios do sono entre profissionais de segurança pública e examinar a relação entre a qualidade do sono e o estado de saúde mental. Os resultados mostraram que quase metade dos participantes apresentaram sintomas consistentes com insônia clínica, segundas medidas de autorrelato.
Os distúrbios mais frequentes foram observados entre funcionários de comunicações, trabalhadores correcionais, paramédicos e policiais montados. O estudo revelou também uma associação significativa entre distúrbios do sono e diversos sintomas de transtornos mentais, indicando que a qualidade do sono é um fator crucial para a saúde mental desses profissionais (Angehrn et al., 2020).
Para Angehrn et al. (2020) é recomendado que os funcionários considerem uma implementação de iniciativas no local de trabalho, incluindo psicoeducação básica sobre higiene do sono para quem trabalha em turnos. Essa abordagem pode trazer benefícios para a melhoria da quantidade e qualidade do sono, além de reduzir o risco de distúrbios mentais nessas situações, como indicaram as instruções.
Considerando os pontos discutidos e o impacto potencial na saúde mental dos policiais, o tema do suicídio entre esses profissionais e sua relação com o ambiente de trabalho também deve ser pauta de cuidado e prevenção entre os trabalhadores.
Inclusive sobre o tema, Pereira; Madruga; Kawahala (2020) desenvolveram um estudo de todos os casos de suicídio entre policiais militares ocorridos entre 2012 e 2016. Todos os policiais militares que cometeram suicídio eram homens, e a maioria tinha filhos (85,71%) e aproximadamente 85,71% dos casos ocorreram entre policiais da carreira alistada, com destaque para o primeiro escalonamento da corrida militar (soldados).
Em todos os casos analisados, uma parte do salário foi destinada a empréstimos ou outras obrigações financeiras, o que de certa forma, influencia também a saúde mental (Pereira; Madruga; Kawahala, 2020).
Os documentos fornecidos pela Direção de Saúde e Promoção Social revelaram diversas situações relevantes, incluindo policiais em processos de separação conjugal ou enfrentar medidas disciplinares que poderiam resultar em sua demissão da corporação. Além disso, os documentos destacaram casos de tratamento para depressão e dependência química, bem como transferências involuntárias de trabalho local sem o consentimento dos policiais (Pereira; Madruga; Kawahala, 2020).
Nesse contexto, é importante enfatizar conseguir reservar tempo suficiente para a recuperação física e mental dos militares, ligada à resolução dos fatores que originaram o problema de saúde. Ressalta-se também o papel dos serviços de saúde da polícia militar em contribuir para a resolução dessas questões que envolvem a saúde mental (Pereira; Madruga; Kawahala, 2020).
Em uma pesquisa internacional quantificou os estressores ocupacionais entre todas as categorias de profissionais de segurança pública (PSPs) em uma cidade dos EUA e avaliou a relação entre esses estressores e doenças pós-traumáticas e transtornos de saúde mental, como ansiedade e depressão (Carleton et al., 2020). Assim, categorias, como “Fatores de Risco e Experiências Traumáticas”, exploraram os comportamentos policiais, além de examinar seu impacto direto como estressores e fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais.
Os participantes do estudo foram 4.820 profissionais de segurança pública (31,7% mulheres) que completaram medidas estabelecidas de autorrelato de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), estressores ocupacionais e transtornos mentais. Os resultados mostraram associações significativas entre eventos traumáticos e estressores ocupacionais e sintomas de transtornos mentais (Carleton et al., 2020).
Os dados coletados por Carleton et al. (2020) evidenciaram que os policias militares relataram diversas dificuldades referentes estressores ocupacionais e sua relação com o surgimento de sintomas de transtornos mentais, mesmo quando são levadas em consideração múltiplas exposições a eventos traumáticos.
Outro estudo teve como objetivo determinar quais estratégias de enfrentamento e traços de personalidade servem como fatores de proteção ou de risco para TEPT e esgotamento entre profissionais de segurança pública franceses (Anders et al., 2022).
A análise identificou três características principais dos policiais. O primeiro grupo não corre risco de desenvolver a doença porque não está exposto ou não é sensível a esses estressores. Um segundo grupo estava em risco de desenvolver TEPT ou burnout, e um terceiro grupo estava em risco de desenvolver TEPT, mas não de burnout. A personalidade e as estratégias de enfrentamento determinam o risco deste grupo de desenvolver TEPT ou esgotamento (Anders et al., 2022).
Os autores concluíram o quanto é importante a realização de palestras e/ou debates para abordar questões de saúde mental para os policias militares, no intuito de ajudar pessoas que apresentam traços de personalidade relacionados com o risco e, em seguida, fornecer programas de formação psicológica para desenvolver competências funcionais de enfrentamento (Anders et al., 2022).
Bell; Hopkin; Forrester (2019) realizaram estudo com profissionais de saúde mental e agentes penitenciários de uma prisão na Inglaterra, utilizando uma série de questionários para avaliar suas características demográficas e ocupacionais, exposição a eventos traumáticos, apoio e nível de Burnout. Observou-se que a maioria dos funcionários corre alto risco de desenvolver sintomas de esgotamento ou falta de satisfação compassiva no trabalho.
No entanto, descobriu-se que níveis mais elevados de esgotamento, níveis elevados de fadiga por compaixão e satisfação reduzida por compaixão estão relacionados com as características dos funcionários, a exposição a eventos traumáticos e o ambiente de trabalho (Bell; Hopkin; Forrester, 2019).
Da mesma forma, outro estudo examinou o impacto do stress ocupacional na saúde mental dos agentes da polícia ucranianos. O estudo envolveu dois grupos de policiais: o primeiro grupo era composto por policiais com idades entre 25 e 40 anos e no máximo sete anos de serviço, e o segundo grupo era composto por policiais com idades entre 8 e 15 anos (Okhrimenko et al., 2023).
Com idades compreendidas entre os 8 e os 15 anos, ambos os grupos de agentes identificaram vários fatores que contribuíram para o stress ocupacional, no qual incluem indicadores de elevada carga de trabalho profissional, falta de pausas adequadas e a natureza da comunicação com os participantes nas relações profissionais.
Os autores ressaltam que a saúde mental dos policiais é afetada negativamente pelo estresse associado às suas atividades profissionais. Pessoas com 8-15 anos de experiência de serviço apresentaram indicadores significativamente mais fracos de ansiedade, agressão, motivação, distanciamento pessoal, impulsividade e produtividade (Okhrimenko et al., 2023). Ainda de acordo com os resultados, foram observados que a aplicação da lei decorre de desequilíbrios dentro do indivíduo, capacidades e demandas externas, o que se reflete na singularidade de suas funções, assim, é notável que quanto mais tempo uma pessoa permanece nesta ocupação, maior é o risco de desenvolver problemas de saúde mental (Okhrimenko et al.,2023).
Em pesquisa realizada com a polícia militar espanhola mostrou que 36,2% dos participantes responderam que tinham sinais de burnout, além de pontuar com a exaustão emocional. As mulheres demonstraram pontuações notavelmente elevadas em várias variáveis, incluindo tempo de serviço, carga de trabalho, demandas psicológicas e relacionamentos e apoio social. Isso sugere que, à medida que o cinismo e a exaustão emocional aumentam entre os policiais, há um aumento relacionado na conexão entre os fatores de risco psicossocial no local de trabalho (Ruiz-Ruano et al., 2023).
De acordo com Ruiz-Ruano et al. (2023), três fatores-chave contribuem significativamente para o surgimento da exaustão emocional: autonomia, desempenho de função e a natureza dos relacionamentos, juntamente com o apoio social. Os resultados desta pesquisa sugerem possíveis estratégias com o setor psicossocial para aliviar o esgotamento entre policiais militares
Inclusive, os autores recomendam como resultado, as divisões de recursos humanos ou equipes de gestão de pessoal dentro dos departamentos de polícia podem utilizar esses insights para desenvolver estratégias de trabalho mais eficazes para seus policiais (Ruiz-Ruano et al., 2023).
Em pesquisa que teve objetivo de avaliar a ocorrência de estresse, ansiedade e depressão, bem como fatores relacionados e mecanismos de enfrentamento, entre policiais de trânsito em Kathmandu, Nepal, os resultados mostraram que um total de 41,3% dos policiais de trânsito apresentou sinais de depressão, 47% apresentaram sinais de ansiedade e 44% exibiram sinais de estresse (Yadavet et al., 2022).
Outros dados indicaram uma correlação significativa entre fumar e uma maior probabilidade de apresentar sintomas depressivos. Na mesma linha, foi identificada uma associação entre jornadas de trabalho estendidas e uma maior probabilidade de encontrar sintomas relacionados à depressão, ansiedade e estresse, e no caso a falta de atividade física foi associada para uma maior probabilidade de apresentar sintomas depressivos (Yadavet et al., 2022).
Um estudo feito por Liao et al. (2022) teve como objetivo na validação levou ao desenvolvimento de uma ferramenta destinada a avaliar as capacidades mentais dos policiais em uma província da China. Este instrumento, conhecido como Police Mental Health Capability Scale (PMHAS), foi criado para servir como uma diretriz para a seleção e treinamento de pessoal policial.
Os resultados oferecem descobertas sobre o desenvolvimento de ferramentas para avaliar as capacidades mentais dos policiais, juntamente com potenciais intervenções relevantes para esse grupo demográfico.
A análise fatorial exploratória também identificou cinco fatores para o PMHAS, que incluem inteligência cognitiva, catarse emocional, determinação rápida, impulso comportamental e busca de recompensa, os quais juntos explicaram 58,904% da variância entre os policias. A análise fatorial confirmatória revelou que o modelo apresenta um bom ajuste (Liao et al., 2022).
Para lidar de forma eficaz com diversos conflitos de funções e situações estressantes, além de promover o avanço na carreira, é fundamental que os policiais desenvolvam flexibilidade cognitiva, permitindo-lhes tomar decisões informadas e agir de acordo com princípios.
Colaborando com o assunto, Guimarães et al. (2020) em sua pesquisa, mostrou que as ações implementadas impactaram significativamente os indicadores institucionais relacionados à saúde e ao bem-estar dos colaboradores. Isso ressalta a importância de um apoio psicológico direto aos policiais, essencial para a preservação de sua saúde, especialmente no que diz respeito a transtornos mentais.
Assim, torna-se fundamental a triagem de saúde mental no ambiente de trabalho para a identificação precoce de problemas mentais e para intervenções antecipadas desses colaboradores.
No que se refere as ações voltadas a Polícia Militar do Estado do Pará, é valido citar sobre o Centro Integrado de Atenção Psicossocial (CIAP), no qual atua de forma ininterrupta na promoção da saúde biopsicossocial da tropa, no qual os serviços disponibilizados atendem às demandas institucionais no território paraense, intervindo, de forma acolhedora e humanizada, os policiais militares e dependentes. Os atendimentos, de cunho psicológico e social, são ofertados aos militares por meio de acolhimentos, orientações, acompanhamentos e encaminhamentos pertinentes (PMPA, 2024).
É valido frisar que o Comando de Missões Especiais (CME) do Estado do Pará, tem como fundamento a especificidade do serviço executado, uma vez que as unidades que o integram lidam com ocorrências de alto risco, onde a saúde mental é primordial para o cumprimento das operações. Diante disso, o CME visa discutir, em conjunto com a tropa, sobre formas de proteger o policial, já que um agente com a mente saudável, além de trazer segurança para a Corporação, viabiliza um serviço mais eficaz à sociedade (PMPA, 2024).
Enquanto em 2021, O Programa Multidisciplinar Itinerante de Atenção à Saúde do Policial Militar (PASPM) realizou o ciclo de ações voltadas aos policiais militares e seus dependentes no município de Soure, no Arquipélago do Marajó, ultrapassando a marca de 750 atendimentos. Assim, o Programa visa promover a saúde biopsicossocial dos agentes da Polícia Militar do Pará e prevenir os aspectos físico, espiritual, psicológico, social e mental desses profissionais (AGENCIA PARÁ, 2021).
Em 2021, o PASPM já passou pelos municípios de Rondon do Pará, Marabá, Parauapebas, Xinguara, Redenção, Conceição do Araguaia, Bragança, Capanema e Salinópolis, Barcarena, Paragominas, São Miguel do Guamá, Abaetetuba, Moju, Tucuruí e Tailândia.
Depois de passarem pelo acolhimento, os usuários foram encaminhados para a triagem de enfermagem e avaliação por um clínico-geral e profissionais de educação física. A maioria dos usuários também optou pelos serviços de odontologia e fisioterapia. Alguns militares solicitaram atendimento espiritual e psicológico (AGENCIA PARÁ, 2021).
Em outro exemplo sobre saúde mental dos Policiais Militares do Estado do Pará, cita- se que a partir de 2024, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Pará (ACSPMBMPA), implantou um serviço de psicologia dedicado exclusivamente aos militares paraenses, esta iniciativa visa fornecer suporte psicológico especializado, ajudar na gestão do estresse e prevenir crises que possam levar ao suicídio. A saúde mental dos nossos policiais é uma prioridade, por isso é preciso garantir que esses trabalhadores recebam o suporte necessário para lidar com os desafios emocionais e psicológicos de suas funções (ACSPMBMPA, 2024).
A implantação deste serviço de psicologia é um passo importante no reconhecimento e luta para proteger a vida dos policiais e melhorar a qualidade de vida daqueles que servem e protegem a comunidade paraense.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A saúde mental dos policiais militares do Estado do Pará desempenha um papel crucial na qualidade do trabalho e na eficiência das operações policiais. Profissionais que enfrentam constantemente situações de estresse, violência e pressão emocional estão suscetíveis a uma variedade de transtornos mentais, que podem comprometer não apenas seu bem-estar, mas tam- bém a segurança pública e a eficácia das ações policiais.
A análise da saúde mental nesse contexto revela que a falta de suporte psicológico e a ausência de programas de intervenção podem levar a um aumento nos índices de absenteísmo, conflitos internos e uma diminuição na capacidade de tomada de decisões. Policiais com saúde mental comprometida podem apresentar dificuldades em manter o foco, gerir emoções e inte- ragir de maneira eficaz com a comunidade, resultando em um impacto negativo na confiança da população nas forças de segurança.
Ressalta-se que o estigma associado à busca de ajuda para problemas de saúde mental ainda persiste, criando barreiras que dificultam a identificação e o tratamento adequados. É fundamental que as instituições policiais adotem uma abordagem proativa, implementando pro- gramas de prevenção e suporte psicológico que promovam a saúde mental entre os seus inte- grantes.
Diante disso, ao investir na saúde mental dos policiais, não apenas se melhora a quali- dade de vida dos profissionais, mas também se fortalece a própria corporação, visto que, esses trabalhadores mentalmente saudáveis são mais resilientes, mais aptos a lidar com crises e capa- zes de oferecer um serviço mais eficaz e humano à sociedade.
Portanto, a implementação de políticas de saúde mental não é apenas uma responsabili- dade ética, mas uma necessidade estratégica para garantir a segurança e a promoção dos direitos humanos e a qualidade do trabalho da Polícia Militar no Estado do Pará.
REFERÊNCIAS
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3 3º Sargento da Polícia Militar do Estado do Pará. Graduado Licenciatura Plena em Letras Língua Portuguesa – UFPA. Pós-graduado Gestão do Trabalho Pedagógico: Supervisão, Orientação, Inspeção e Administração Escolar – FACUMINAS. e-mail: edenilsomoraes81@hotmail.com
4 3º Sargento da Polícia Militar do Estado do Pará. Graduado em Tecnologia em Gestão Financeira, Pós-graduado em Gestão Fiscal e Tributária, Gran Centro Universitário. e-mail: dheymysondemaria@gmail.com
5 3º Sargento da Polícia Militar do Estado do Pará. Graduada em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Estado do Pará – UEPA. Pós-Graduada em Saúde na Educação Física Escolar pela UEPA. E-mail: julielidelcastilho@gmail.com
6 3º Sargento da Polícia Militar do Estado do Pará. Graduada em Educação Física. Pós-graduada em Educação Física Ludicidade, recreação e lazer, Faculdade Metropolitana. e-mail: iana.marajo18@gmail.com
7 3º Sargento da Polícia Militar do Estado do Pará. Graduada em Ciências Biológicas. Pós-graduada em Direito Administrativo e Gestão Pública, Centro Universitário União das Américas Descomplica. e-mail: alinepm52@hotmail.com