O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA SAÚDE MENTAL: DESAFIOS PSICOLÓGICOS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411101011


Rudi Rodriguez dos Santos


RESUMO

O isolamento social, o medo da doença e as incertezas quanto ao futuro geraram um aumento significativo de transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse. Profissionais da saúde, em especial, enfrentaram elevados níveis de sobrecarga emocional devido ao trabalho na linha de frente do combate ao vírus. Além disso, o distanciamento físico imposto pela pandemia dificultou o acesso a tratamentos tradicionais, levando à adaptação de intervenções psicológicas para o formato digital, como a psicoterapia online, que se mostrou uma solução eficaz para a continuidade do cuidado psicológico. Para lidar com as adversidades, diversas estratégias de enfrentamento foram adotadas, como a prática de atividades físicas, a meditação e a manutenção de redes de apoio social, que se tornaram essenciais para reduzir os efeitos do estresse e da ansiedade. No entanto, a pandemia também evidenciou a desigualdade no acesso a cuidados de saúde mental, destacando a necessidade urgente de políticas públicas que garantam a acessibilidade e a inclusão de todos os indivíduos nos serviços de apoio psicológico.

Palavras-chave: pandemia, COVID-19, saúde mental, ansiedade, depressão, estresse, psicoterapia online.

1. INTRODUÇÃO

Ansiedade, depressão, estresse e síndrome de burnout se tornaram mais comuns durante este período, afetando indivíduos em diferentes faixas etárias e contextos. Além disso, a pandemia trouxe à tona a vulnerabilidade de diversos grupos sociais, como profissionais da saúde, que enfrentaram desafios emocionais e psicológicos adicionais devido à pressão do trabalho no contexto da crise sanitária. A saúde mental, que por muito tempo foi um tema negligenciado em muitas sociedades, passou a receber a atenção necessária, evidenciando a importância de estratégias eficazes para o cuidado psicológico durante crises coletivas (LEITE et al., 2021).

O problema de pesquisa deste estudo centra-se em compreender os efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde mental da população em geral e, em especial, dos profissionais da saúde, que estiveram na linha de frente do combate à doença. Em um cenário global de incertezas e mudanças rápidas, é essencial investigar como esses fatores afetaram o bem-estar emocional e psicológico das pessoas, além de explorar as estratégias de enfrentamento adotadas para minimizar os impactos negativos. O estudo busca analisar a prevalência de transtornos mentais, os principais fatores de risco e as formas de enfrentamento adotadas por diferentes grupos, como trabalhadores da saúde, idosos, crianças e a população em geral. Além disso, será abordada a importância da saúde mental como um tema prioritário nas políticas públicas e no cotidiano das instituições de saúde (GÓES et al., 2023).

Os objetivos deste trabalho são, primeiramente, mapear os principais impactos da pandemia na saúde mental dos profissionais de saúde e da população geral, com ênfase nas formas de enfrentamento desenvolvidas por esses grupos. Busca-se também identificar quais intervenções foram mais eficazes para mitigar os efeitos psicológicos negativos da pandemia, bem como discutir as lições aprendidas que podem ser aplicadas em futuras crises sanitárias. Além disso, o estudo tem como objetivo propor recomendações para políticas públicas e práticas de saúde mental mais eficazes no contexto de emergências sanitárias, com foco na prevenção e promoção da saúde psicológica (CAVALCANTE et al., 2020).

A relevância deste estudo se justifica pela necessidade de uma maior compreensão sobre os efeitos psicológicos de situações de crise coletiva, como a pandemia de COVID-19. Embora os impactos físicos da doença tenham sido amplamente discutidos, os efeitos na saúde mental merecem igual atenção, pois influenciam diretamente a qualidade de vida das pessoas e a capacidade de enfrentamento diante de novos desafios. Além disso, a crise gerada pela pandemia expôs a fragilidade dos sistemas de saúde mental em muitos países, revelando a urgência de fortalecer os recursos e estratégias de cuidado psicológico, tanto para os indivíduos quanto para os profissionais que atuam na linha de frente. Estudar os efeitos da pandemia na saúde mental não apenas contribui para a compreensão dos danos psicológicos causados, mas também oferece subsídios para a construção de políticas públicas mais eficazes e para o fortalecimento das redes de apoio psicológico em tempos de crise (DE MORAES; YAMAGAMI; MUNDIM, 2023).

Em síntese, a pandemia de COVID-19 gerou um impacto sem precedentes na saúde mental de indivíduos ao redor do mundo, revelando a necessidade urgente de uma abordagem mais estruturada e integrada para o cuidado psicológico. O estudo da saúde mental no contexto da pandemia é crucial não apenas para entender os danos causados, mas também para buscar soluções que possam mitigar esses impactos em crises futuras. Como demonstrado por diferentes pesquisas, como as de Guinancio et al. (2020) e de Oliveira Pereira et al. (2024), é fundamental implementar estratégias de prevenção e promoção da saúde mental, que possam ser adaptadas às especificidades de cada grupo e contexto, garantindo assim um enfrentamento mais eficaz dos desafios impostos por situações de emergência sanitária.

2. METODOLOGIA

A metodologia adotada para este estudo é de revisão bibliográfica, com o objetivo de analisar e sintetizar as evidências existentes sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental. A revisão bibliográfica é uma abordagem metodológica que permite compilar e avaliar o conhecimento gerado por outros pesquisadores sobre um determinado tema, possibilitando uma visão mais ampla e fundamentada do estado da arte sobre o impacto da crise sanitária na saúde mental da população. Para isso, será realizada uma análise de artigos científicos, dissertações, teses, relatórios técnicos e outros materiais acadêmicos e científicos relevantes que abordem os efeitos psicológicos da pandemia, focando nas mudanças no comportamento, nas condições de saúde mental, nas intervenções de apoio psicológico e nas estratégias de enfrentamento desenvolvidas durante este período.

A busca pela literatura será realizada em bases de dados acadêmicas como PubMed, Scopus, Google Acadêmico, Scielo e outras fontes confiáveis que contemplem publicações na área da saúde mental e psicologia. Serão selecionados estudos publicados entre 2020 e 2024, dado o contexto emergente e recente da pandemia. A seleção dos artigos será pautada pela relevância do tema, a qualidade metodológica dos estudos e a diversidade de abordagens, permitindo uma análise crítica e abrangente dos diferentes impactos da pandemia. Serão priorizados artigos que abordem não apenas o impacto da pandemia na saúde mental de diferentes grupos da população, mas também as intervenções, estratégias de prevenção e promoção da saúde mental que foram adotadas durante a crise.

A análise será qualitativa, focada em identificar padrões e tendências nos resultados encontrados nos estudos selecionados. Será feita uma análise temática dos artigos, destacando os principais temas recorrentes, como os transtornos mentais mais prevalentes, as populações mais afetadas, as estratégias de enfrentamento mais eficazes e as políticas públicas implementadas. A partir dessa análise, será possível identificar lacunas na literatura existente e sugerir direções para futuras pesquisas na área.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1.MUDANÇAS NO COMPORTAMENTO E ESTILO DE VIDA DURANTE A PANDEMIA 

O isolamento social imposto pelas medidas de prevenção ao vírus forçou muitas pessoas a readequarem suas rotinas, incluindo a mudança para o trabalho remoto, a adaptação da educação para o formato virtual e a modificação nas interações sociais. Esse processo de adaptação não foi fácil e trouxe à tona uma série de desafios emocionais e psicológicos. A busca por maneiras de lidar com essas transformações gerou um aumento significativo de práticas de enfrentamento, tanto saudáveis quanto prejudiciais, que afetaram a saúde mental de diferentes formas. O comportamento humano, por sua vez, teve que se ajustar ao novo contexto, o que gerou tanto impactos negativos quanto algumas inovações em termos de bem-estar e saúde emocional.

O confinamento resultante das medidas de distanciamento social alterou substancialmente os hábitos diários da população. Um dos principais efeitos foi a restrição das atividades externas, como lazer, esportes, e até mesmo interações familiares e sociais. O home office tornou-se uma alternativa para muitos trabalhadores, que precisaram adaptar suas casas para a execução das tarefas profissionais. Este novo arranjo afetou profundamente o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Enquanto para alguns esse modelo se mostrou eficaz, proporcionando maior flexibilidade e uma diminuição no tempo gasto com deslocamento, para outros, ele se tornou um fator de sobrecarga e exaustão, pois as fronteiras entre os diversos papéis que se exerce no cotidiano se tornaram mais difusas. O estresse e a ansiedade aumentaram em virtude das dificuldades para estabelecer uma rotina equilibrada em um ambiente de trabalho que também passou a ser o local de descanso e convivência familiar. Esse processo foi amplificado pela falta de preparo em termos de infraestrutura e pela crescente pressão por resultados, o que levou muitas pessoas a sentirem-se sobrecarregadas, dificultando o controle do tempo e o bem-estar emocional (LAGUNA et al., 2021).

Além disso, a educação remota, que passou a ser a norma para estudantes de todos os níveis, também teve um impacto significativo sobre os comportamentos e a saúde mental de alunos, pais e educadores. A transição abrupta do ensino presencial para o ensino a distância trouxe desafios para todos os envolvidos. As crianças e adolescentes tiveram dificuldades em manter o foco e a motivação, enquanto os pais, que muitas vezes assumiram o papel de professores, enfrentaram uma série de dificuldades, incluindo a falta de tempo, a sobrecarga emocional e a dificuldade de adaptação às novas ferramentas tecnológicas. Para muitos, a pressão para desempenhar simultaneamente papéis de educadores, trabalhadores e cuidadores levou a níveis elevados de estresse, ansiedade e, em alguns casos, a uma sensação de inadequação e frustração. A qualidade do aprendizado também foi comprometida, gerando frustração tanto nos alunos quanto nos professores, que precisaram lidar com a insegurança do momento e a ausência de interação física, crucial para a construção do vínculo pedagógico (ZWIELEWSKI et al., 2020).

O impacto nas relações sociais foi outro aspecto relevante da pandemia. Com o distanciamento social, as interações face a face se reduziram consideravelmente, fazendo com que as pessoas passassem a depender mais das tecnologias para manter contato com amigos e familiares. Esse fenômeno resultou em uma comunicação mais superficial e em uma sensação de isolamento crescente. Para alguns, as redes sociais tornaram-se uma válvula de escape, mas para outros, esse tipo de interação apenas intensificou a sensação de solidão e desconexão. As dificuldades para manter laços afetivos duradouros e as mudanças nas dinâmicas familiares e de amizade também geraram uma sensação de perda, que teve impacto direto na saúde mental. Em muitos casos, o isolamento levou ao aumento de quadros de depressão, ansiedades sociais e outros transtornos psicológicos (DAL’BOSCO et al., 2020).

Ademais, a adaptação das estratégias de enfrentamento também refletiu a mudança de comportamento gerada pela pandemia. O aumento do uso de substâncias, como álcool e drogas, foi observado em diversos estudos, refletindo a tentativa de lidar com os altos níveis de estresse e ansiedade proporcionados pela situação de crise. Por outro lado, algumas pessoas passaram a adotar práticas mais voltadas para o cuidado da saúde mental, como meditação, yoga e atividades físicas, buscando mitigar os efeitos psicológicos adversos. No entanto, para muitos, o aumento de comportamentos compulsivos, como o uso excessivo de mídias sociais e a prática de compras online, também se tornaram uma forma de enfrentar a situação, mas com consequências negativas para a saúde mental. A dificuldade de encontrar formas saudáveis e eficazes de lidar com a situação gerou uma polarização nos comportamentos de enfrentamento, refletindo a complexidade das reações psicológicas diante de uma crise global sem precedentes (NASCIMENTO et al., 2021).

A sobrecarga psicológica foi particularmente intensa entre os profissionais de saúde, que estavam na linha de frente do enfrentamento da COVID-19. Além da pressão para lidar com o aumento do número de casos, muitos desses trabalhadores experimentaram o medo do contágio, o estresse pós-traumático e, em alguns casos, o burnout. A intensa carga de trabalho, o contato constante com a doença e a perda de pacientes, aliada à incerteza e ao desgaste emocional, geraram um impacto psicológico significativo. A pressão para manter um desempenho elevado, ao mesmo tempo que se enfrentava o estresse emocional e físico, resultou em altos índices de ansiedade, depressão e outras condições psicológicas entre os profissionais de saúde (LEITE et al., 2021). Esses fatores geraram uma busca por novas estratégias de enfrentamento, como o apoio psicológico, mas também evidenciaram a falta de suporte adequado em muitas instituições, o que contribuiu para o agravamento dos quadros de saúde mental entre esses profissionais.

3.2. TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS ASSOCIADOS À PANDEMIA

A combinação desses fatores, junto com a sobrecarga de informações e o medo de uma crise sanitária global, intensificaram o sofrimento psicológico, afetando diferentes grupos da população de maneira variada. Além disso, a sobrecarga emocional causada pela pandemia revelou a fragilidade dos sistemas de saúde mental, tanto no Brasil quanto em outros países, tornando evidente a necessidade de um foco maior no cuidado psicológico em tempos de crise (GÓES et al., 2023).

A ansiedade foi uma das condições mais prevalentes durante a pandemia. O isolamento social, a preocupação com a saúde própria e de familiares, o medo do contágio e o impacto das notícias sobre o aumento de casos e mortes contribuíram para o aumento dos quadros ansiosos. A sensação de incerteza sobre o futuro e o controle da pandemia alimentaram sentimentos de insegurança e pânico, características típicas dos transtornos de ansiedade. A exposição constante a informações sobre a COVID-19, muitas vezes contraditórias ou alarmistas, gerou um estresse contínuo que afetou a saúde mental de muitas pessoas. Além disso, o confinamento e o distanciamento social, que eram essenciais para o controle da pandemia, também causaram sentimentos de solidão, um fator que pode agravar quadros ansiosos, especialmente em pessoas que já apresentam predisposição para essas condições. O impacto da ansiedade foi evidente em todos os grupos da sociedade, mas especialmente entre os profissionais de saúde, que estavam na linha de frente do combate ao vírus e enfrentavam, além do medo do contágio, o desgaste físico e emocional de lidar com a crise sanitária (CAVALCANTE et al., 2020).

A depressão também se tornou um dos transtornos mais comuns durante a pandemia. O impacto psicológico do isolamento social, da perda de interações presenciais e da interrupção de atividades cotidianas levou muitas pessoas a se sentirem desconectadas e sem propósito. O distanciamento de amigos e familiares, especialmente durante os períodos mais restritivos de quarentena, agravou o sentimento de tristeza profunda, falta de motivação e desesperança, características da depressão. Além disso, a pandemia trouxe consigo a perda de entes queridos, o que teve um impacto direto no aumento dos quadros depressivos, principalmente entre as pessoas que sofreram a perda de familiares ou amigos para a doença. O medo da morte e a incerteza sobre o futuro econômico e social também contribuíram para o agravamento de sintomas depressivos. Estudos mostraram que o risco de depressão foi mais alto entre grupos vulneráveis, como idosos, pessoas com comorbidades, e profissionais da saúde, que enfrentaram uma sobrecarga emocional e física em suas atividades diárias (DE MORAES; YAMAGAMI; MUNDIM, 2023).

Outro transtorno relevante, que ganhou visibilidade durante a pandemia, foi o estresse pós-traumático (TEPT). As situações de crise, como a vivência de uma pandemia global, podem gerar traumas profundos, especialmente para aqueles que vivenciaram situações extremas, como a perda de familiares, o enfrentamento direto com a doença ou o trabalho em condições adversas. Profissionais da saúde, que enfrentaram jornadas exaustivas e situações de morte em massa, tiveram uma incidência elevada de sintomas de TEPT. O estresse relacionado ao risco constante de contágio e à sensação de impotência diante da pandemia também contribuiu para o surgimento de quadros de estresse pós-traumático, que se caracterizam por flashbacks, pesadelos, e sintomas de hiperexcitação, como insônia e irritabilidade. As pessoas que viveram o trauma de perder um ente querido para a COVID-19 ou que sofreram com a doença de forma grave também demonstraram sinais de TEPT, com grande frequência, após o período agudo da infecção. O estresse relacionado à sobrevivência e à reclusão forçada durante os piores momentos da pandemia gerou, de forma generalizada, um estigma associado à doença, o que também contribuiu para o agravamento de quadros de saúde mental (GUINANCIO et al., 2020).

A síndrome de burnout, por sua vez, afetou principalmente os profissionais da saúde, que estavam sobrecarregados de trabalho e expostos a situações de risco e sofrimento humano intensos. A combinação de horas extenuantes de trabalho, a pressão emocional e física, a escassez de recursos e o medo constante de contágio levou ao esgotamento profissional e emocional. Os profissionais de saúde, que lidaram diretamente com pacientes graves e morreram durante o período mais crítico da pandemia, estavam particularmente vulneráveis a esse transtorno, caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e uma sensação de ineficácia. Estudos indicam que o burnout entre médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde aumentou substancialmente durante a pandemia, afetando sua capacidade de oferecer cuidados adequados, além de gerar consequências para sua própria saúde mental e bem-estar. Esses profissionais, que frequentemente estavam distantes de suas famílias e com altos níveis de estresse, também precisaram lidar com o medo constante de ser portadores do vírus e transmiti-lo aos seus entes queridos (DE OLIVEIRA PEREIRA et al., 2024).

O impacto psicológico da pandemia não se limitou apenas a ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e burnout. Também se observou um aumento nos comportamentos compulsivos, como o aumento do consumo de substâncias, como álcool e drogas, e o agravamento de quadros de transtornos alimentares. O isolamento e a restrição das atividades sociais podem ter levado algumas pessoas a buscar formas de escape, e o aumento da ansiedade e da depressão foi um fator desencadeante para o uso excessivo de substâncias. Os transtornos alimentares também se agravaram, especialmente entre jovens e adolescentes, que lidaram com a mudança brusca nas suas rotinas escolares, com a perda de interação social e com o aumento do estresse e da ansiedade. O isolamento social e a pressão psicológica de enfrentar uma pandemia de grandes proporções também contribuiu para que essas condições se manifestassem de forma mais intensa em muitas pessoas, refletindo a fragilidade da saúde mental em tempos de crise (GÓES et al., 2023).

3.3.ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E RECURSOS PSICOLÓGICOS DURANTE A PANDEMIA

Em resposta a esse cenário de crise, diversas estratégias de enfrentamento e recursos psicológicos foram desenvolvidos, tanto por indivíduos quanto por instituições, para lidar com as consequências emocionais e psicológicas da pandemia. Essas estratégias buscaram aliviar os sintomas de ansiedade, depressão e estresse, proporcionando meios para que as pessoas pudessem lidar com o novo “normal” imposto pelo distanciamento social, pelas quarentenas e pelas medidas sanitárias rigorosas. É fundamental compreender como esses recursos foram aplicados e qual a sua eficácia na promoção da saúde mental durante este período turbulento (DE MELO PEREIRA FILHO et al., 2023).

Nesse contexto, uma das principais estratégias de enfrentamento adotadas foi a adaptação das terapias presenciais para o formato online. A telepsicologia, que antes da pandemia já ganhava espaço em algumas partes do mundo, tornou-se uma alternativa necessária para continuar o atendimento psicológico à distância, garantindo que as pessoas mantivessem acesso ao suporte emocional mesmo durante o confinamento. A prática da psicoterapia online mostrou-se eficaz na manutenção da continuidade do cuidado psicológico, além de se revelar uma opção prática e acessível para aqueles que, devido ao distanciamento, não poderiam comparecer fisicamente aos consultórios (PEREIRA, 2020).

A prática regular de exercícios tem um efeito comprovado na redução de sintomas de ansiedade e depressão, além de melhorar o humor, aumentar a autoestima e proporcionar uma sensação de controle sobre a situação, aspectos essenciais para o enfrentamento do estresse psicológico causado pela pandemia (PEREIRA CALDAS; PEREIRA DA SILVA; ANDRADE SANTOS, 2022). Muitas pessoas, ao não poderem realizar suas atividades cotidianas de forma habitual, se voltaram para o autocuidado, buscando alternativas como a meditação, o mindfulness e outras técnicas de relaxamento. Essas práticas ajudaram a controlar a resposta fisiológica ao estresse, além de promoverem uma sensação de tranquilidade e maior controle emocional em tempos de incerteza (PEREIRA, 2020).

O uso de videochamadas, redes sociais e aplicativos de mensagens ajudou a diminuir a sensação de solidão e a proporcionar um espaço de troca emocional e suporte entre os indivíduos. Em grupos como os profissionais da saúde, que estavam na linha de frente do combate à pandemia, a criação de redes de apoio entre colegas também foi uma estratégia fundamental. Essas redes de apoio psicossocial, tanto virtuais quanto presenciais, facilitaram a troca de experiências e ofereciam um espaço para que os profissionais compartilhassem suas angústias, reduzindo o impacto da sobrecarga emocional e do estresse intenso enfrentado durante a pandemia (DANTAS, 2021).

O desenvolvimento de campanhas de conscientização sobre a importância do cuidado psicológico foi uma das estratégias adotadas em diversos países. Organizações de saúde, universidades e empresas passaram a divulgar informações sobre os sinais de transtornos emocionais e a importância de buscar ajuda quando necessário. Algumas empresas também implementaram programas de apoio psicológico para seus funcionários, oferecendo atendimentos de psicólogos e outros profissionais de saúde mental de forma gratuita ou subsidiada. Essas iniciativas demonstraram a crescente compreensão de que a saúde mental deve ser uma prioridade em tempos de crise e que o apoio psicológico é fundamental para a superação do impacto emocional causado pela pandemia (PEREIRA CALDAS; PEREIRA DA SILVA; ANDRADE SANTOS, 2022).

Em muitos casos, a falta de acesso a serviços de saúde mental, especialmente em áreas remotas ou em países com sistemas de saúde sobrecarregados, agravou a situação de vulnerabilidade emocional de uma parte da população. A desigualdade no acesso aos cuidados psicológicos evidenciou a necessidade de uma infraestrutura de saúde mental mais robusta, que seja capaz de responder rapidamente em situações de crise, garantindo que todas as pessoas, independentemente de sua localização ou condição social, possam receber o suporte necessário. Além disso, a adoção generalizada de intervenções digitais trouxe à tona discussões sobre a qualidade e a segurança dos serviços de saúde mental oferecidos online, que exigem regulamentação e padrões para garantir que os pacientes recebam cuidados adequados e de qualidade (PEREIRA, 2020).

O futuro da saúde mental pós-pandemia exige a implementação de modelos híbridos de cuidado, que combinam atendimentos presenciais e virtuais, garantindo que todos os indivíduos, independentemente de sua condição, possam acessar o suporte necessário de forma prática e eficaz. Além disso, as intervenções devem ser personalizadas para atender às necessidades específicas de diferentes grupos, considerando as particularidades de cada população, como crianças, idosos, profissionais da saúde e pessoas em situação de vulnerabilidade (DE MELO PEREIRA FILHO et al., 2023).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O impacto emocional causado pelo distanciamento social, pela incerteza sobre o futuro e pelas mortes relacionadas ao vírus gerou um cenário de tensão, ansiedade e estresse em diversas populações. As estratégias de enfrentamento e os recursos psicológicos adotados para lidar com esse cenário, como a adaptação das terapias para o formato online, a prática de atividades físicas e o fortalecimento das redes de apoio, mostraram-se cruciais para minimizar os danos psicológicos e garantir que as pessoas encontrassem maneiras de lidar com as dificuldades emocionais. No entanto, a pandemia também expôs as fragilidades e lacunas nos sistemas de saúde mental, revelando a necessidade urgente de uma infraestrutura mais robusta e acessível, capaz de atender à demanda crescente por cuidados psicológicos em tempos de crise.

A experiência vivida durante a pandemia reforçou a importância de se priorizar a saúde mental como um componente essencial da saúde pública, pois os efeitos da crise sanitária não se limitaram à infecção pelo vírus, mas se estenderam para aspectos emocionais e psicológicos que impactaram o bem-estar geral da população. A adaptação das intervenções, como o uso de plataformas digitais para terapia, mostrou-se uma alternativa viável e eficaz, principalmente em momentos em que o acesso aos cuidados presenciais se tornou limitado. Além disso, a promoção do autocuidado, com ênfase na prática de atividades físicas, meditação e outras formas de relaxamento, contribuiu significativamente para reduzir os efeitos do estresse e da ansiedade, oferecendo uma sensação de controle e bem-estar. Porém, mesmo com todas as estratégias implementadas, o cenário revelou a desigualdade no acesso a serviços de saúde mental, uma realidade que precisa ser enfrentada com políticas públicas que assegurem o cuidado psicológico a todos os indivíduos, independentemente de sua localização ou condição social.

Neste sentido, a pandemia serviu como um alerta para a necessidade de integrar a saúde mental nas políticas de saúde de maneira contínua e estruturada, garantindo que intervenções e recursos estejam acessíveis a todas as pessoas, especialmente em tempos de crise. As lições aprendidas durante esse período, tanto no que diz respeito ao fortalecimento dos serviços de saúde mental quanto ao uso de tecnologias para promover o cuidado psicológico à distância, devem ser utilizadas para criar um sistema de saúde mental mais inclusivo e eficaz. É necessário que haja uma preparação contínua para emergências futuras, em que o cuidado psicológico seja visto como uma prioridade desde o início de uma crise, com recursos adequados e acesso universal a serviços especializados.

REFERÊNCIAS  

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