O IMPACTO DA MENOPAUSA NO APARELHO CARDIOVASCULAR

THE IMPACT OF MENOPAUSE IN THE CARDIOVASCULAR SYSTEM 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12213258


Sarah A. de Oliveira1
B. Mayumi Sediyama1
Bianca M. Zakhour1
Julia Feliz1
Maria Fernanda H. de Paiva1
Rafael R. Gomes1
João Sousa Pinheiro2


Resumo

O processo que ocorre no corpo feminino após a menopausa traz consigo mudanças significativas para a fisiologia do organismo, tornando-o mais suscetível a um número considerável de patologias, sendo o sistema cardiovascular um dos principais sistemas influenciados no processo. É imprescindível o estudo acerca do corpo feminino e suas mudanças estruturais influenciadas por processos hormonais, a fim de melhor educar, prevenir e tratar a população feminina. O presente estudo tem o objetivo geral principal de destacar as mudanças no sistema cardiovascular feminino influenciadas pelo processo pós menopausa, possíveis patologias advindas de tais mudanças, como Síndrome Metabólica, Hipertensão e Aterosclerose, além de intervenções não medicamentosas com desfechos positivos para o tratamento das possíveis cardiopatias, como o treinamento funcional e a ingestão de chocolate rico em cacau. O seguinte estudo foi realizado por  meio de análise criteriosa de artigos disponíveis na íntegra tais como PubMed, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Web of Science.

Palavras-chave: Menopausa. Cardiovascular. Cardiopatias. Mudanças. Intervenções.   

1. INTRODUÇÃO

Diferentemente dos homens, as mulheres nascem com um número pré-determinado de óvulos que serão produzidos, maturados e, posteriormente, eliminados na menstruação. Em detrimento disso, entre os quarenta e cinquenta anos, a mulher entra na menopausa, ou seja, tem a sua última menstruação. A menopausa é induzida pelo decaimento de hormônios produzidos nos ovários, os quais são responsáveis pela maturação dos óvulos. Por ausência destes, o ovário entra em falência, levando à queda de hormônios como progesterona e estrogênio de maneira irreversível. O coração é um órgão vital para o funcionamento do corpo, mantendo um adequado fluxo sanguíneo e a oxigenação de todo o sistema. Quaisquer eventos que, eventualmente, comprometam tais funções serão considerados nocivos e, portanto, darão origem a uma série de doenças cardiovasculares. Apesar de as irregularidades cardíacas serem normalmente associadas a uma deficiência estrutural, como, por exemplo, quando ocorre uma insuficiência valvar, de acordo com o American Heart Association, os riscos cardiovasculares aumentam com a idade. No entanto, as mulheres, em razão dos efeitos da menopausa, ficam ainda mais vulneráveis. Segundo dados do Hospital do Coração de São Paulo (Hcor), há um aumento de 30% de casos de infarto em mulheres nesse período da vida. Quando avaliado o quadro hormonal, constatou-se que o estrogênio tem relação direta com a qualidade da saúde cardíaca, além de estar relacionado a outros fatores de risco como o colesterol e a pressão arterial. Por isso, iniciativas podem ser adotadas no intuito de prevenir qualquer risco à saúde cardíaca, como a busca por acompanhamento profissional e a adoção de práticas saudáveis. Com isso, o objetivo desse trabalho é analisar o impacto da menopausa no aparelho cardiovascular. 

2. METODOLOGIA 

Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica integrativa. Para Sousa et al., 2023, a “revisão integrativa” surgiu como alternativa para revisar rigorosamente e combinar estudos com diversas metodologias, por exemplo, delineamento experimental e não experimental, e integrar os resultados. Tem o potencial de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo o rigor metodológico das revisões sistemáticas. O método de revisão integrativa permite a combinação de dados da literatura empírica e teórica que podem ser direcionados à definição de conceitos, identificação de lacunas nas áreas de estudos, revisão de teorias e análise metodológica dos estudos sobre um determinado tópico. A combinação de pesquisas com diferentes métodos combinados na revisão integrativa amplia as possibilidades de análise da literatura. A revisão integrativa é um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. 

A revisão terá uma abordagem qualitativa, na qual foi utilizado um corte temporal de cinco anos, de 2020 a 2024

O desenho do estudo, uma pesquisa não clínica, conforme descrito por Brun, foi integrado aplicando-se a estratégia PICO (acrônimo para P: população/pacientes; I: intervenção; C: comparação/controle; O: desfecho/outcome) para nortear a coleta de dados. A estratégia PICO é uma mnemônica que auxilia a identificar os tópicos-chave onde o P: Mulheres em menopausa ; I: Não se aplica ; C: Alterações cardiovasculares pós menopausa O: Impactos da menopausa no aparelho cardiovascular.

Para a fundamentação teórica foi estabelecido a seguinte pergunta norteadora da pesquisa: O impacto da menopausa no aparelho cardiovascular.

A pesquisa será realizada através Descritores em Saúde (DeCS)/ Medical Subject Headings (MeSH): combinado com o operador booleano AND e OR: das palavras chaves que foram definidas usando os “Menopause”, “Cardiovascular”, “Cardiovascular System”,“Estrogen”.  Nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Web of Science.

Para inclusão os seguintes critérios foram utilizados: artigos publicados entre os anos de 2020 até 2024, artigos escritos em língua portuguesa, artigos escritos em inglês, artigos escritos em língua espanhola, artigos publicados em revistas, artigos originais, artigos se enquadra nessa pesquisa, artigos que fala sobre simulação realística aplicada na formação de profissionais de saúde.

Com os critérios para exclusão: artigos de revisão, artigos publicados fora da temporalidade estabelecido, tese de doutorado, dissertação de mestrado, trabalho de conclusão de curso, artigos escritos em outras línguas sem ser a portuguesa, espanhol e inglês, artigos que não fossem originais, artigos que não abordasse sobre o tema da pesquisa.

Para análises dos artigos serão através de leitura dos resumos e títulos foi importante para excluir os estudos que não atendem objetivo do estudo levando em consideração os critérios de inclusão e exclusão do trabalho.

Para elaboração dos resultados serão avaliadas as seguintes variáveis dos estudos selecionados: Local, Base de dados/Periódico, Autor(es) do artigo/ Ano, objetivo, Nível de Evidência. Para classificação da qualidade metodológica das pesquisas selecionadas foi conforme os seis níveis de categorias da Oxford Centre for Evidence-based Medicine.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

FIGURA 1 – Fluxograma da revisão sistemática da literatura.

Tabela 1. Lista de artigos selecionados para revisão integrativa com abordagem no tema O Impacto da Menopausa no aparelho Cardiovascular.

Autor(es)/ AnoPeriódicoObjetivoDelineamentoResultadoConclusão
Kamińska et al., 2023Diário de Medicina Clínica Avaliar a associação da menopausa com fatores de risco para DCV e marcadores subclínicos de doença cardiometabólica.Estudo transversal baseado em amostragem de conveniência não aleatória.A idade da menopausa  e a gravidade dos sintomas da menopausa não foram fatores de risco para DCV. Mulheres com síndrome metabólica (SM) apresentavam um risco significativamente maior de DCV.A menopausa predispõe as mulheres a um risco aumentado e a SM a um risco significativamente maior de DCV.
Pal et al., 2022MaturitasA relação entre índices cardiometabólicos e cognição foi examinada em mulheres recentemente na menopausa.Ensaio randomizado controladoNas análises ajustadas, os índices de adiposidade central foram preditores independentes de escores de 3MS significativamente mais baixos (p<0,05).
Pode explicar as implicações negativas observadas da adiposidade central para a função cognitiva.
Roa-Díaz et al., 2023The Journal of The North American Menopause SocietyO objetivo do estudo é avaliar a associação transversal e longitudinal da menopausa natural precoce com alterações nos fatores de risco cardiovascular (FRCV).estudo transversal e longitudinalMulheres com ANM com menos de 45 anos apresentaram pressão arterial diastólica mais baixa em comparação com mulheres cujo ANM foi de 45 anos ou mais.A ANM precoce pode estar associada a alterações adversas na insulina e no HOMA-IR pós-menopausa.
Rodriguez et al., 2020Medisur Determinar a resposta cardiovascular e a frequência cardíaca máxima após uma tentativa de esforço em mulheres com menopausa.Estudo descritivoOs fatores de risco mais representativos foram o estilo de vida sedentário, a hipertensão e o excesso de peso. A frequência cardíaca máxima após a prova aumentou significativamente.A resposta cardiovascular e o tempo de recuperação foram bons, mas muito inferiores a mulheres sem menopausa.
Barbosa et al., 2019Sociedade Japonesa de GeriatriaAvaliar a influência do treinamento funcional nos parâmetros cardiorrespiratórios e na modulação autonômica cardíaca em mulheres na pós-menopausa.Ensaio randomizadoOs resultados obtidos com o treinamento mostraram melhora dos seguintes parâmetros cardíacos no GTF: pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, frequência cardíaca.O treinamento promoveu efeitos benéficos na modulação autonômica cardíaca e nos parâmetros cardiorrespiratórios.
Khoudary et al., 2020Sociedade Norte-Americana de MenopausaAvaliar os efeitos de diferentes agentes de TH, orais e transdérmicos, nas associações entre o acúmulo de gordura no coração e a progressão da aterosclerose.
Estudo randomizado e controlado por placeboTratamento atribuído modificousignificativamente a associação entre alterações no PAT, mas não no EAT, e progressão da EMIC em modelos não ajustados e totalmente ajustados.O o-CEE pode retardar os impactos adversos do acúmulo de gordura cardíaca fora do saco pericárdico na EMIC em mulheres na menopausa recente.
Banack et al., 2022  ELSEVIERIdentificar trajetórias longitudinais de mudança no IMC após a menopausa e investigar sua associação ao  risco de diabetes e doenças cardiovasculares (DCV) entre mulheres na pós-menopausa.

Estudo observacional e três ensaios clínicos sobrepostosSem evidências de mudanças substanciaisno IMC ao longo do tempo. Risco de diabetes e DCV aumentado pela trajetória do IMC.Esses resultados destacam a importância de uma pesquisa de maior longevidade focada nos efeitos adversos do IMC para a saúde em mulheres idosas.
Clayton et al., 2022Medicina BMCExaminar associações da idadereprodutiva e fatores de risco cardiovascular e determinar o papel da idade cronológica e reprodutiva.Estudo de coorteNão havia fortes evidências de que a idade reprodutiva estivesse associada à EMIC, enquanto houve uma forte associação positiva de idade cronológica.Nossos resultados sugerem que passar pela transição da menopausa não aumenta ainda mais o risco de aterosclerose nas mulheres além dos efeitos do envelhecimento.
M. Martorell et al., 2020Revista Médica de Chile Determinar a associação entre menopausa e fatores de risco cardiovascular em mulheres adultas chilenas.Estudo randomizado e controlado por placeboA menopausa foi significativamente associada à hipertensão e diabetes. No entanto, nenhuma associação foi observada com obesidade, obesidade abdominal ou SM.Nessas mulheres, foi identificada uma associação positiva entre menopausa e hipertensão, bem como diabetes.
Garcia-Yu et al., 2020NutrientsAvaliar os efeitos da ingestão de 10 g de chocolate rico em cacau na pressão arterial, outros fatores de risco cardiovascular e na estrutura e função vascular em mulheres na pós-menopausa.Ensaio clínico paralelo randomizado e controlado.Não houve diferenças significativas para a pressão arterial sistólica ou baPWV entre grupos. Observou-se diminuição da PP no GI em comparação ao GC.A ingestão diária de 10 g de chocolate rico em cacau pareceproporcionar pouca melhora à saúde cardiovascular.
Dehghan et al., 2021The North American Menopause Society.Examinar a hipótese de que as alterações da menopausa na composição corporal e nos depósitosregionais de gordura estão relacionadas com a alteração nos fatores de risco de DCV.Estudo prospectivo de recordaçãoUtilizando análises de regressão multilinear, as alterações na ApoB e na PA diastólica foram associadas à alteração da massa gorda visceral, mas esta associação foi perdida quando ajustada para a alteração da massa gorda total.O aumento da carga de fatores de risco de DCV durante a menopausa pode não ser impulsionado por alterações na composição corporal.
Wild et al., 2022Acesso Público HHSAvaliar a utilidade dos escores de risco de doenças cardiovasculares (DCV) em comparação com a idade ou anos desde a menopausa para a predição de eventos de DCV nos ensaios clínicos do WHI.Ensaio clínico randomizadoEmbora a idade avançada e os anos desde a menopausa no início do estudo também tenham sido associados a taxas mais elevadas de eventos cardiovasculares, uma melhor previsão do risco foi conseguida através da utilização de pontuações de risco cardiovasculares.As pontuações de risco de DCV podem ajudar a identificar mulheres na pós-menopausa com maior risco de DCV além da idade ou do tempo desde a menopausa.
Hyvärinen et al., 2023MaturitasEstudar associações de sintomas da menopausa com fatores de risco cardiometabólicos.Estudo transversal e longitudinalTodas as medidas de colesterol e massa gorda tiveram associações positivas modestas com os sintomas da menopausa. O número de sintomas não foi associado à pressão arterial, glicose, triglicerídeos e atividade física.Os sintomas da menopausa podem não estar independentemente associados ao risco cardiometabólico e não parecem prever as mudanças nos fatores de risco durante a transição da menopausa.
Ellis et al., 2020ELSEVIER Avaliar os efeitos do suco de melancia 100% nas medidas da função vascular em mulheres na pós-menopausa.Estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, cruzado
Não foram observadas alterações nas medidas vasculares. Embora a intervenção com suco tenha resultado em um aumento leve, mas significativo, na glicemia de jejum, as alterações na homeostase da glicose não foram clinicamente significativas.Medidas da função vascular nesta coorte de mulheres pós-menopáusicas saudáveis não foram afetadas pela suplementação de suco de melancia.
Yan Li et al. ,2021BMC Cardiovascular DisordersAvaliar a associação da menopausa com morte e DCV e se essa associação é modificada por fatores de risco cardiovascular.Estudo de coorteEm comparação com mulheres que tiveram menopausa aos 50-51 anos de idade, o risco de morte foi maior em mulheres com menopausa aos 45-49 anos deidade, e o risco de doença isquêmica o AVC foi maior em mulheres com menopausa com idade <45 anos e entre 45–49 anos.A menopausa precoce pode predizer morte e acidente vascular cerebral isquêmico. Além disso, há um efeito combinado da menopausa precoce e de fatores de risco elevados na morte e nas DCV.
Chen et al., 2023MedicineIdentificar precocemente o risco de DCV e contribuir para a sua prevenção e intervençãoEstudo observacionalPulso braquial-tornozelo a velocidade das ondas e os níveis de espessura médio-intimal da carótida foram semelhantes entre os grupos de pré-menopausa e menopausa precoce e tardia.A menopausa em si é um fator de risco mais importante para DCV em comparação com a menopausa que começa precoce ou tardiamente.

Segundo Kamińska et al. (2023), “A menopausa predispõe as mulheres a um risco aumentado de DCV devido à obesidade visceral, dislipidemia, comprometimento da homeostase da glicose e hipertensão. Além disso, as mulheres com SM têm um risco significativamente maior de DCV”. Não só isso, mas o aumento do IMC na pós-menopausa também aumenta o risco de DCV e Diabetes (Banack et al., 2022). A elevação no risco possivelmente se dá devido a um modesto aumento da adiposidade e dos níveis de glicose nesse período(Clayton et al., 2022). A relação entre risco cardiovascular e a menopausa é também abordada por M. Martorell et al. (2020), pois segundo seu estudo, “Sessenta e sete por cento das mulheres pesquisadas estavam na menopausa e tinham pressão arterial sistólica mais elevada do que as participantes não menopáusicas”.

A menopausa foi significativamente associada à hipertensão e diabetes, mas diferentemente de outros estudos, não observou relação com a obesidade e SM. O que é esperado, visto que diferentes estudos têm resultados contraditórios sobre como a menopausa interfere no IMC e como este interfere no risco de doenças cardiovasculares. Hyvärinen et al. (2023) diz que “Os sintomas da menopausa não foram associados com pressão arterial, glicemia, triglicerídeos e atividade física”. Kamińska et al. (2023) argumenta que as alterações no IMC desencadeiam mecanismos subjacentes às doenças cardiovasculares relacionadas à menopausa. Dehghan et al. (2021) diz que as alterações do IMC são pouco perceptíveis devido a uma diminuição da massa magra e ocorre junto ao aumento da massa gorda após a menopausa, mas que tais alterações levam ao aumento de LDL, o que eleva o risco de doenças cardiovasculares. Ainda de acordo com Dehghan et al. (2021), “Isto pode aumentar o risco de DCV além da medição de lipoproteínas convencionais”. Khoudary et al. (2020) sugere que a terapia hormonal tem o potencial de retardar efeitos adversos do acúmulo de gordura.

Segundo Rodriguez et al. (2020), “A resposta cardiovascular após o teste de esforço e o tempo de recuperação após um, três e cinco minutos foram bons, mas muito inferiores em comparação com estudos com mulheres sem menopausa”, o que sugere uma diminuição na aptidão física de mulheres após a menopausa. No entanto, Barbosa et al. (2019), que verificou os efeitos de treinamento funcional em mulheres pós menopausa, concluiu que “O treinamento funcional promoveu efeitos benéficos na modulação autonômica cardíaca e nos parâmetros cardiorrespiratórios em mulheres na pós-menopausa”.

Quanto à idade em que ocorre a menopausa, seja precoce ou tardia, foi considerada menos importante como fator de risco de DCV do que a própria menopausa (Chen et al., 2023). Tal hipótese é corroborada por Roa-Díaz et al. (2023), que em uma análise transversal, comprovou que há relação entre o início da menopausa e a diminuição da pressão diastólica, porém, em análise longitudinal referente, não encontrou relação entre a idade em que se entra na menopausa e a intensidade das alterações. Paralelamente, foi concluído que a menopausa precoce associa-se a um aumento na resistência à insulina, o que eleva os níveis de glicose no sangue, aumentando o risco de diabetes mellitus tipo 2. Isso pode estar associado a uma diminuição da atividade dos receptores α de estrogênio e alterações no metabolismo do ferro provenientes da menopausa. Já Wild et al. (2022) mostrou em seu estudo que “Avaliação da pontuação de risco de DCV para quantificar os fatores de risco melhor informou o risco de uma pessoa para o evento real de DCV”, o que revela que a idade em que se teve a menopausa e os anos desde da menopausa não são os melhores medidores de risco de DCV. Porém, um estudo realizado por Yan Li et al. (2021) sugere que a menopausa precoce pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral isquêmico quando associado quando já possuem algum outro fator de risco cardiovascular. 

O estudo de Pal et al. (2022) ainda levanta a possibilidade de haver relação entre a menopausa (principalmente precoce), e alteração na cognição do indivíduo. Isso se justificaria pelas alterações do IMC, mas as incertezas sobre como a menopausa interfere no IMC e as limitações de um estudo transversal enfraquecem essa hipótese.

Foram realizados alguns estudos para verificar se o consumo de certos alimentos podem ser benéficos para a saúde cardiovascular em mulheres na pós-menopausa. Um estudo verificou os efeitos do consumo de 10g de chocolate rico em cacau. Porém, “A ingestão diária de 10g de chocolate rico em cacau parece proporcionar pouca melhoria para saúde cardiovascular, mas também não causa efeitos adversos nos parâmetros avaliados em mulheres na pós-menopausa a longo prazo” (Garcia-Yu et al., 2020). Também foi realizado um estudo para verificar os efeitos do consumo de suco de melancia. No entanto, “medidas da função vascular nesta coorte de mulheres pós-menopáusicas saudáveis não foram afetadas pela suplementação de suco de melancia” (Ellis et al., 2020). Esses achados revelam dificuldade em encontrar dietas efetivas para a saúde cardiovascular de mulheres na pós-menopausa.

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

É passível de conclusão, portanto, tomando como base os resultados encontrados neste estudo, que a correlação entre menopausa e DCV, apresenta importantes indícios de ser decorrente das mudanças que o organismo feminino passa neste período. Dentre estas mudanças, as quais aumentariam a predisposição de DCV em mulheres na menopausa, podemos citar alterações no IMC, como diminuição da massa magra, e aumento da massa gorda; que teriam como consequência um aumento nos níveis de LDL, levando assim à um risco aumentado de DCV. Não apenas isto, como alguns estudos também indicaram o aumento nos níveis de glicose na menopausa como um possível indicador para desenvolvimento de DCV nestas pacientes. 

Não obstante, alguns estudos mostraram efeitos benéficos na prática de treinamento funcional para mulheres passando pela menopausa, tendo em vista a possibilidade de melhora na modulação autonômica cardíaca e nos parâmetros cardiorrespiratórios. Assim como a terapia hormonal, que tem o potencial de retardar efeitos adversos do acúmulo de gordura, oferecendo assim uma possível prevenção ao desenvolvimento de DCV. Não foram encontrados vínculos significativos entre alterações na dieta, e melhora na saúde cardiovascular de mulheres na pós-menopausa. 

Por fim, conclui-se que diversos aspectos, no decorrer dos trabalhos, foram associados a alterações no organismo feminino no pós-menopausa, que poderiam ter relação com a predisposição destes mulheres à desenvolver DCV. Contudo, é ainda notável a falta de concordância entre os autores sobre os aspectos que seriam os responsáveis por causar esta associação, demonstrando a necessidade de realização de mais estudos para a obtenção de respostas conclusivas. 

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UniCeub Campus Asa Norte e-mail: central.atendimento@uniceub.br
2Docente do Curso Superior de Medicina do UniCeub Asa Norte. e-mail: joao.barbosa@ceub.edu.br