O IMPACTO DA ESCLEROTERAPIA COM ESPUMA DE POLIDOCANOL NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA

THE IMPACT OF POLIDOCANOL FOAM SCLEROTHERAPY IN THE TREATMENT OF CHRONIC VENOUS INSUFFICIENCY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506121246


Marcos da Silva Rocha1
Geremias Araújo Pereira2
Murilo de Castro Vitoriano3
Saulo Rivera Ikeda4


Resumo

INTRODUÇÃO: O presente estudo analisa, por meio de uma revisão integrativa, os efeitos da escleroterapia com espuma de polidocanol no tratamento da insuficiência venosa crônica, com o propósito de avaliar sua eficácia, segurança e impacto clínico. METODOLOGIA: Este trabalho caracteriza-se como uma revisão integrativa, com a finalidade de reunir, analisar e discutir os principais achados científicos sobre a temática, assim foram utilizados bases de dados da área da saúde, como PubMed, Scielo e LILACS que contribuíram o embasamento da pesquisa. Para busca foram adotados os descritores “Escleroterapia com espuma”; “Polidocanol”; “Insuficiência venosa crônica”; “Varizes”; “Tratamento”; “Foam sclerotherapy”; “Chronic venous insufficiency” e “Polidocanol foam”. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os estudos analisados demonstraram que a utilização da espuma de polidocanol, especialmente na forma de microespuma guiada por ultrassom, oferece resultados significativos na oclusão de veias acometidas, incluindo veias safenas magnas e tributárias. Em diferentes concentrações e protocolos de aplicação, o polidocanol tem sido eficaz na promoção da regressão de sintomas como dor, edema e sensação de peso nos membros inferiores, além de contribuir para a cicatrização de úlceras venosas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Aespuma de polidocanol é um recurso terapêutico eficaz, seguro, versátil e custo-efetivo no manejo da insuficiência venosa crônica. Sua incorporação ampla na prática clínica pode contribuir para a melhoria dos desfechos clínicos e da qualidade de vida dos pacientes acometidos por esta condição.

Palavras-chave: Escleroterapia com espuma, Polidocanol, Insuficiência venosa crônica, Varizes.

1 INTRODUÇÃO

A escleroterapia com espuma de polidocanol tem se destacado como uma opção terapêutica promissora no tratamento de úlceras venosas, proporcionando uma alternativa pouco invasiva para o manejo dessas lesões, com resultados clínicos comprovadamente positivos. (Leocovick et al., 2023).

Pesquisas como a de Polimanti et al. (2019) evidenciam que essa técnica atua diretamente sobre as veias varicosas e insuficientes, principais responsáveis pelo surgimento das úlceras venosas. Esse método terapêutico promove a fibrose e o colapso das veias afetadas, contribuindo para a normalização do fluxo sanguíneo, diminuindo a estase venosa e, consequentemente, aliviando a pressão exercida sobre a pele lesionada.

Ademais, a escleroterapia com espuma destaca-se por ser um procedimento de baixa complexidade e boa margem de segurança, comumente realizado em regime ambulatorial e associado a uma recuperação rápida. Essas características tornam o tratamento viável e acessível para diversos perfis de pacientes, inclusive aqueles com comorbidades ou restrições de mobilidade (Miranda et al., 2021).

Em 2017, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) aprovou a escleroterapia ecoguiada com espuma como uma opção terapêutica válida para o tratamento de varizes. Essa técnica consiste na injeção de polidocanol, em formato de espuma, diretamente nas veias comprometidas, induzindo sua obliteração e, consequentemente, a melhora do quadro clínico (Brasil, 2017).

Outro ponto crucial é a eficácia demonstrada desse tratamento na cicatrização das veias tratadas, o que resulta em uma significativa redução na recorrência de úlceras venosas. Ensaios clínicos vêm apontando taxas satisfatórias de cicatrização, além de uma redução significativa na recorrência de úlceras em pacientes tratados com essa abordagem terapêutica (Santos, 2023).

Autores como Bastos, Lima e Assumpção (2009) mencionam que, além dos benefícios médicos, a escleroterapia com espuma de polidocanol também apresenta vantagens econômicas, pois é um método relativamente acessível e pode reduzir os custos associados ao tratamento de úlceras venosas crônicas, como internações hospitalares e cuidados prolongados com feridas. Em comparação à cirurgia, essa terapia é considerada menos dolorosa e apresenta tempo de recuperação e retorno à rotina significativamente menores.

Conforme Oliveira (2017) a escleroterapia com espuma de polidocanol é considerada a alternativa mais econômica, especialmente em países que buscam aumentar o quantitativo de tratamentos sem comprometer a eficácia, visto que, resulta em uma recuperação rápida para o paciente, além de contribuir na redução nos custos associados ao tratamento.

É fundamental destacar que a indicação da escleroterapia com espuma de polidocanol para o tratamento de úlceras venosas exige uma avaliação criteriosa do paciente, considerando a gravidade da insuficiência venosa, possíveis complicações e outras condições clínicas relevantes. Ademais, o acompanhamento pós-procedimento é indispensável para assegurar a eficácia a longo prazo e minimizar o risco de intercorrências (Coelho Neto, 2020).

Pacientes submetidos à escleroterapia com espuma geralmente têm tempo de recuperação significativamente menor, podendo retornar às atividades em 1–3 dias. Já os pacientes submetidos à cirurgia requerem um afastamento médio de 7–14 dias, com maiores taxas de dor pós-operatória, necessidade de analgésicos, e restrições físicas temporárias (Polimanti et al., 2019).

Essa diferença faz com que muitos pacientes com rotinas ativas ou ocupações que não permitem longas ausências prefiram a ESP, mesmo diante de resultados um pouco inferiores em desfechos objetivos. Embora a ESP possa causar hiperpigmentação cutânea transitória (em até 30% dos casos), a ausência de incisões e cicatrizes é um fator muito valorizado por pacientes com preocupações estéticas, por outro lado, a cirurgia, apesar de ter um maior controle técnico da oclusão venosa, pode deixar cicatrizes visíveis, sobretudo em regiões como virilha e panturrilha (Sakugawa et al., 2024).

A dor pós-procedimento foi um fator significativamente menor na ESP, em RCTs controlados, pacientes tratados com cirurgia relataram uso de analgésicos em 73% dos casos, comparado a 38% na ESP. Assim, a escleroterapia com espuma de polidocanol promove melhora significativa na qualidade de vida de pacientes com IVC, com vantagens claras em tempo de recuperação, estética e tolerabilidade (Polimanti et al., 2019). Por outro lado, a cirurgia convencional ainda oferece melhores resultados em parâmetros clínicos de longo prazo e maior redução da gravidade da doença (VCSS). Assim, a escolha deve ser individualizada, considerando perfil clínico, estágio da doença (CEAP), preferência do paciente e disponibilidade de recursos técnicos (Leocovick et al., 2023).

Em suma, essa abordagem terapêutica representa uma alternativa promissora e viável para pacientes com úlceras venosas, oferecendo benefícios significativos em termos de eficácia, segurança e custo-efetividade.

Diante disso, o presente estudo tem como propósito analisar, por meio de uma revisão de literatura, os efeitos da escleroterapia com espuma de polidocanol no tratamento da insuficiência venosa crônica, avaliando sua eficácia, segurança e impacto clínico.

2 METODOLOGIA 

Este trabalho caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, com a finalidade de reunir, analisar e discutir os principais achados científicos sobre o impacto da escleroterapia com espuma de polidocanol no tratamento da insuficiência venosa crônica. 

A busca pelos artigos foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicas: PubMed; Scielo (Scientific Electronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Foram incluídos artigos publicados entre 2019 e 2024, com prioridade para os estudos mais recentes a fim de garantir atualidade às informações abordadas.

A estratégia de busca utilizou os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), isoladamente e em combinações com operadores booleanos (AND, OR): “Escleroterapia com espuma”; “Polidocanol”; “Insuficiência venosa crônica”; “Varizes”; “Tratamento”; “Foam sclerotherapy”; “Chronic venous insufficiency” e “Polidocanol foam”.

Foram incluídos na revisão: Artigos publicados em português, inglês ou espanhol; estudos clínicos, revisões sistemáticas, revisões narrativas e ensaios controlados randomizados e publicações que abordassem diretamente o uso do polidocanol em escleroterapia com espuma no contexto da insuficiência venosa crônica.

Os critérios de exclusão foram: trabalhos duplicados nas bases; estudos com foco em outras formas de escleroterapia que não utilizem polidocanol e artigos que não estivessem disponíveis na íntegra.

Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, e os dados extraídos incluíram: autor, ano, objetivo, método e resultados. As informações foram organizadas em um quadro para facilitar a análise crítica e discussão dos achados.

3 RESULTADOS

Após  busca  nas  bases  de  dados,  foram  localizados  1.962  artigos.  Destes  foram  excluídos  824 artigos após a aplicação dos critérios de exclusão. Foram  selecionados  138  artigos  para  leitura  na íntegra, sendo 44 artigos selecionados para elegibilidade e com amostra final de 10 artigos, esquematizados no fluxograma da Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos para revisão integrativa.

Fonte: Elaborado pelos autores (2025).

A fim de contribuir para a melhor compreensão do leitor, os artigos selecionados foram inseridos no Quadro 1, contendo: autor/ano; objetivo; método e resultados.

Quadro 1 – Artigos selecionados para esta revisão integrativa.

Autor/AnoObjetivoMétodoResultados
Vieira (2023)Avaliação das alterações microcirculatórias dos membros inferiores de portadores de doença venosa crônica trata- dos por escleroterapia com espuma, associada ou não a fração de flavonóide purificada e micronizada Estudo randomizado, duplo-cego, controlado, sendo avaliadas 50 mulheres, classificação de doença venosa CEAP (clínica, etiologia, anatomia e fisiopatologia) C2 e C3, índice de massa corporal (IMC) <30 Kg/m2, sem outras comorbidades asso- ciadas e com veias safenas incompetentes O tratamento com escleroterapia com espuma das veias tronculares mostrou-se um método seguro e ao reduzir a hipertensão venosa distal, causou melhora da microcirculação em todas as pacientes avaliadas, auxiliando no controle da doença.
Poschinger- Figueiredo et al. (2022)Avalia o impacto da escleroterapia com espuma guiada por ultrassom (EGFS) para a VSM e controle dos sintomas, acessado pela escala visual analógica (EVA)Pacientes com DCV submetidos à EEGFS-VSM foram incluídos nesta coorte retrospectiva (417 membros)A VSM-UGFS foi eficaz para o controle da dor. No entanto, essa melhora não parece estar relacionada ao padrão de oclusão, indicando que, em curto prazo, os resultados da oclusão total e parcial sugerem um manejo bem-sucedido dos sintomas.
Polimanti et al. (2019)Influência da escleroterapia ecoguiada com espuma de polidocanol na qualidade de vida na insuficiência venosa crônica de membros inferiores  Estudo prospectivo longitudinal não controlado.Os resultados preliminares mostram que a escleroterapia ecoguiada com espuma reduz significativamente a clínica na primeira semana, bem como traz um incremento à qualidade de vida nos primeiros 3 meses em portadores de IVC CEAP C4 a C6.
Miranda et al. (2021)Avaliar os riscos e benefícios da esclero- terapia com espuma em pacientes sub- metidos ao tratamento bilateral das veias safenas magnas em procedimento único, em casos selecionados de insuficiência venosa avançada.Estudo retrospectivo com 55 pacientes 55 pacientes (110 membros) com insuficiência bilateral das veias safenas magnas que foram submetidos a tratamento de escleroterapia com es- puma bilateralmente, utilizando dose máxima de 20 ml de espuma por paciente e compressão inelástica.A escleroterapia bilateral com espuma em procedi- mento sincronizado é uma opção a ser considerada para tratamento de varizes de membros inferiores.
 Marston (2023)Avaliar prospectivamente os resultados de uma estratégia empregando 1% de microespuma de polidocanol para tratar a fonte de insuficiência venosa em pacientes com úlceras crônicas de perna que não cicatrizam Estudo prospectivoA hipertensão venosa crônica, desencadeada por refluxo venoso e/ou obstrução, leva a alterações na pele e úlceras venosas de perna. A terapia de com- pressão é o padrão de tratamento, mas muitas feridas permanecem sem cicatrização.
Kim et al. (2021)Avaliar a eficácia da tecnologia microespuma endovenosa (PEM) na prática clínica de rotina, especificamente em relação às taxas de fechamento após o tratamento.Estudo observacional durante o qual os dados foram coletados prospectivamente de 2 centros de veias usando um banco de dados eletrônico.PEM é seguro e eficaz para o tratamento de refluxo safeno e varicosidades. As taxas de fechamento precoce usando PEM foram mantidas em 6 meses e são comparáveis aos resultados relatados com tecnologias não térmicas, não tumescentes e tecnologias tumescentes térmicas.
Hoss et al. (2020)Avaliar o uso de duas proporções diferentes de polidocanol (POL) para ar para o trata- mento de veias reticulares dos membros inferiores.Pacientes com veias reticulares de membros inferi- ores foram randomizados para escleroterapia com espuma com POL misturado com 4 mL de ar ambiente para um membro inferior ou 2 mL para o outro membro inferior.Duas proporções diferentes de POL para ar, 1:2 versus 1:4, foram igualmente seguras e eficazes para o tratamento de veias reticulares das extremidades inferiores.
Duarte (2024)Avaliar o tratamento da veia safena magna com laser endovenoso exclusivo ou combinado com escleroterapia com espuma  Métodos: ensaio clínico, randomizado e controlado, em centro único, alocou aleatoriamente 60 pacientes com insuficiência da veia safena magna (VSM) e insuficiência venosa crônica (IVC) em dois grupos.Houve maior necessidade de escleroterapia complementar para o tratamento do refluxo residual na VSM no grupo Laser + Espuma. 
Deak (2022)Avaliar os resultados entre pacientes sintomáticos com insuficiência venosa crônica superficial tratados com microespuma endovenosa de polidocanol 1% (PEM) guiada por ultrassom retrógrado ou ablação endovenosa a laser (EVLA).Revisão retrospectiva de prontuários de um centro de veia única entre outubro de 2013 e junho de 2019.PEM é comparável em segurança e eficácia com EVLA para o tratamento de refluxo safeno e sintomas associados. PEM foi uma intervenção eficaz para a maioria dos pacientes com doença C6. As taxas de fechamento em ambos os grupos foram mantidas 36 meses após o tratamento.
Coelho Neto   (2020)Avaliar o impacto da escleroterapia com espuma na Qualidade de vida e nos achados fotopletismográficos na Insuficiência venosa crônicaDesfechos clínicos, ultrassonográficos e de fotopletismografia após um ano de monitoramento da escleroterapia com espuma guiada por ultrassom (UGFS) para o tratamento do IVCIndicaram melhoras significativas estatisticamente na qualidade de vida, nos escores de sintomas do VEINES-QOL/Sym, medido por fotopletismografia, além de uma diminuição no diâmetro da veia safena magna em 45, 180 e 360 dias após o tratamento com UGFS.
Fonte: Elaborado pelos autores (2025).

4 DISCUSSÃO

Ao realizar a investigação dos artigos, relatos como de Kharl et al. (2019) explicam que o polidocanol é usado como um esclerosante tanto na forma líquida quanto na forma de espuma, sendo que a última demonstrou ter maior eficácia.

No que diz respeito à utilização do esclerosante em formato de microespuma, este, ao deslocar o sangue dentro do vaso, reduz sua diluição e facilita a identificação da concentração intravenosa, algo que não acontece com a forma líquida, estando associado a reações alérgicas em 3 a cada 1.000 aplicações (Bastos; Lima; Assumpção, 2009.

Sobre o assunto, Polimanti et al. (2019) descrevem que a terapia de escleroterapia tem sido empregada por mais de um século no tratamento de varizes nas pernas, com o progresso da tecnologia e da ciência, foram desenvolvidos fármacos esclerosantes mais eficazes e protocolos que asseguram a segurança dos indivíduos.

Miranda et al. (2021) em estudo sobre a temática, identificaram que o paciente passou por uma sessão de escleroterapia utilizando espuma de polidocanol a 3% nas veias safenas magnas e a 1% nas tributárias varicosas, de ambos os lados, em um único procedimento, com um volume total de 20 mL. Foram feitas também sessões de punção e drenagem de coágulos retidos. 

Na pesquisa conduzida por Kim et al. (2021), 60 pacientes receberam tratamento para refluxo superficial usando microespuma de polidocanol intravenosa (PEM). Conforme a classificação Clínico-Etiológico-Anatômico-Patológico (CEAP), 32 pacientes foram categorizados como C2, 14 como C3, 10 como C4 e 4 como C5. A pontuação média do VCSS antes do tratamento foi de 7,3. O diâmetro da veia safena mediu 6,5 mm, enquanto seu comprimento médio foi registrado em 31 cm. O volume médio de PEM usado no tratamento de veias safenas foi de 9,3 mL. 

Houve uma melhora notável no Venous Clinical Severity Score (VCSS), diminuindo de 7,3 para 1,4, sendo que as complicações incluíram um caso de trombose venosa profunda (1,7%), cinco casos de tromboflebite (8,3%) e quatro casos de pigmentação da pele (Kim et al., 2021).

O uso da microespuma endovenosa de polidocanol 1% (PEM), demonstrou segurança e funcionalidade para pacientes acometidos com refluxo de veia safena e varicosidades. As taxas de cicatrização precoce obtidas com a PEM se mantiveram em até 6 meses, apresentando resultados comparáveis aos alcançados com tecnologias não térmicas e não tumescentes, assim como com tecnologias térmicas tumescentes (Kim et al., 2021).  

A pesquisa conduzida por Poschinger-Figueiredo et al. (2022) investigou os efeitos da escleroterapia com espuma guiada por ultrassom (UGFS) no alívio da dor de indivíduos diagnosticados com doença venosa crônica associada ao refluxo na veia safena magna. Os resultados confirmaram a eficácia da UGFS no alívio da dor desses pacientes, independentemente do estágio de insuficiência venosa crônica (CVD) ou refluxo da veia safena magna (GSV), o que torna a técnica uma alternativa valiosa, sobretudo nos casos em que a ablação endotérmica não é viável. 

Observou-se que a melhora não está necessariamente vinculada aos padrões de oclusão, completos ou parciais, na veia axial. Ademais, fatores como gênero, idade, intensidade da dor antes do tratamento e classes CEAP parecem influenciar significativamente os resultados (Poschinger-Figueiredo et al., 2022). Esses elementos devem ser considerados ao elaborar um plano de terapia personalizado e ao alinhar as expectativas com o paciente.

Vieira (2023), ao analisar as alterações na microcirculação dos membros inferiores de pacientes com doença venosa crônica submetidos à escleroterapia com espuma — com ou sem o uso de fração flavonoídica purificada e micronizada (FFPM) — observou diferenças na intensidade da dor 30 dias após o tratamento. Os resultados mostraram que os pacientes que utilizaram FFPM relataram dor menos intensa em comparação com aqueles que receberam placebo.

A escleroterapia com espuma aplicada às veias tronculares demonstrou ser um método seguro e eficaz. Ao diminuir a hipertensão venosa distal, promoveu melhora da microcirculação em todas as pacientes avaliadas, contribuindo para o controle da doença. Também foi observada uma redução dos sintomas venosos e do edema. A utilização conjunta de um medicamento venotônico potencializou os benefícios, resultando em menor intensidade de dor no pósprocedimento e em uma melhora mais significativa dos parâmetros microcirculatórios (Vieira, 2023).

Deak (2022) analisou os resultados de indivíduos sintomáticos com insuficiência venosa crônica superficial, tratados com microespuma endovenosa de polidocanol a 1% (PEM), guiada por ultrassom retrógrado, ou com ablação endovenosa a laser (EVLA). No acompanhamento, observou-se que 18% dos pacientes submetidos à EVLA necessitaram de retratamento devido à persistência de sintomas na perna afetada. Entre os pacientes classificados como C6 e tratados com PEM, 69% das úlceras (11 de 16) cicatrizaram em menos de um mês, enquanto no grupo tratado com EVLA, apenas 5% (1 de 21) apresentaram cicatrização no mesmo período.

Nos pacientes C4 com lesões, a resolução do sangramento espontâneo atingiu 100% em ambos os grupos, no qual não foram registrados eventos adversos neurológicos ou cardíacos no grupo PEM. As complicações menores incluíram TVP (0,5%), extensão de trombo na veia femoral comum e trombose venosa superficial (4%) no grupo PEM (Deak, 2022).

No grupo EVLA, ocorreram casos de TVP (0,8%) e duas tromboses induzidas por calor endovenoso. Esses achados indicam que a segurança e eficácia do PEM são comparáveis às do EVLA no tratamento do refluxo safeno e dos sintomas associados. O PEM mostrou-se também uma intervenção particularmente eficiente para grande parte dos indivíduos com a doença C6 (Deak, 2022).

Marston (2023), ao investigarem o uso de polidocanol na escleroterapia para o tratamento da insuficiência venosa em pessoas com úlceras de perna de difícil cicatrização, ressaltam a vantagem da forma espumosa dos esclerosantes, bem como sua capacidade de ser combinada com outras abordagens intervencionistas. Essa flexibilidade permite a aplicação de tratamentos integrados que atuam em diferentes níveis da insuficiência venosa, o que contribui para uma redução mais eficaz da hipertensão venosa e, consequentemente, favorece a cicatrização das úlceras venosas de perna (UVL).

Dessa forma, o profissional vascular que utiliza diversas abordagens, como técnicas de ablação, escleroterapia e, se necessário, até mesmo o uso de stents venosos, tem uma grande possibilidade de obter melhores resultados, favorecendo a cicatrização mais rápida das úlceras (Marston, 2023).

Miranda et al. (2021) avaliaram os riscos e benefícios da escleroterapia com espuma em pacientes com insuficiência venosa avançada, no qual foi indicado um tratamento de modo bilateral das veias safenas magnas em casos criteriosamente selecionados. Os dados revelaram que, das 110 veias analisadas, 81 (73,6%) foram ocluídas já na primeira sessão. Após a segunda aplicação, esse número subiu para 106 (96,3%), e a oclusão completa das 110 veias (100%) foi alcançada após três sessões. Em relação à oclusão bilateral, ela foi obtida em 27 pacientes (50%) logo na primeira sessão, em 34 pacientes (62%) até a segunda, e em todos os 55 pacientes (100%) ao final da terceira sessão.

Aos 42 dias pós-escleroterapia, observou-se cicatrização completa das úlceras em 7 (63%) dos 11 pacientes com úlceras e cicatrização parcial em 3 (27%) desses pacientes. Um paciente (1,8%) apresentou lipotimia autolimitada e escotomas visuais, 3 pacientes (5,45%) tiveram manchas na pele e 19 pacientes (34,5%) desenvolveram coágulos intravasculares retidos (Miranda et al., 2021). Assim, pode-se dizer que a escleroterapia bilateral com espuma em procedimento sincronizado é um meio eficiente para pacientes que buscam uma intervenção eficaz para varizes dos membros inferiores.

Hoss et al. (2020) investigaram a eficácia de duas diferentes proporções de polidocanol (POL) na escleroterapia de veias reticulares dos membros inferiores. Os pacientes foram randomizados para receber espuma de POL misturada com 4 mL de ar ambiente em uma perna e com 2 mL na outra. Após o tratamento das veias reticulares, todas as telangiectasias foram tratadas com glicerina. Os resultados indicaram que ambas as proporções de POL e ar — 1:2 e 1:4 — mostraram-se igualmente seguras e eficazes no tratamento das veias reticulares nas extremidades inferiores (Hoss et al., 2020).

Coelho Neto (2020) avaliaram os desfechos clínicos, ultrassonográficos e de fotopletismografia após um ano de monitoramento da escleroterapia com espuma guiada por ultrassom (UGFS) para o tratamento do IVC. Os achados indicaram melhoras estatisticamente significativas na qualidade de vida, nos escores de sintomas Venous Insufficiency Epidemiological and Economic Study – Quality of life/Symptom (VEINES-QOL/Sym), medido por fotopletismografia, além de uma diminuição no diâmetro da veia safena magna em 45, 180 e 360 dias após o tratamento com UGFS.

A terapia de espuma conduzida por ultrassom mostrou-se eficaz e gerou elevados níveis de satisfação, evidenciados pelo aumento nas pontuações do questionário, no tempo de recarga venosa e nos resultados do ultrassom (Coelho Neto, 2020).

Duarte (2024) observou o tratamento da veia safena magna com laser endovenoso exclusivo ou combinado com escleroterapia com espuma, sendo possível identificar que o tratamento combinado da VSM com ablação endovenosa por laser e escleroterapia com espuma resultou em taxas de oclusão da VSM após 1 ano semelhantes às da AEL isolada. Contudo, observou-se a necessidade de escleroterapia complementar para tratar o refluxo residual na VSM no grupo Laser + Espuma. A abordagem combinada apresentou poucas complicações e índices referentes à lesão do nervo safeno e escores de qualidade de vida similares após 1 ano (Duarte, 2024).

Portanto, os riscos reduzidos e os custos financeiros menores constituem aspectos positivos, beneficiando pacientes em contextos socioeconômicos vulneráveis e aqueles com contraindicações a procedimentos cirúrgicos.

5 CONSIDERÇAÕES FINAIS

A IVC representa um desafio clínico relevante devido à sua alta prevalência, evolução progressiva e impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, especialmente nos casos avançados, como úlceras venosas de perna. Diante da necessidade de tratamentos eficazes, seguros e acessíveis, esta revisão de literatura permitiu verificar que a escleroterapia com espuma de polidocanol configura-se como uma abordagem terapêutica altamente promissora. Portanto, à luz das evidências encontradas, conclui-se que a escleroterapia com espuma de polidocanol é um recurso terapêutico eficaz, seguro, versátil e custo-efetivo no manejo da insuficiência venosa crônica. A ampla incorporação na prática clínica pode contribuir para a melhoria dos desfechos clínicos e da qualidade de vida dos pacientes acometidos por esta condição, desde que aplicada com critérios adequados de indicação, técnica precisa e acompanhamento especializado. Recomenda-se, contudo, a continuidade de estudos longitudinais e comparativos para aprofundar o conhecimento sobre seus efeitos a longo prazo e otimizar os protocolos de aplicação.

REFERÊNCIAS

BASTOS, F. R; LIMA, A. E; ASSUMPÇÃO, A. C. Ecoescleroterapia de varizes com espuma: revisão de literatura. Rev Med Minas Gerais 2009; 19(1): 38-43.

BRASIL. Ministério da Saúde. Técnica inovadora para tratar varizes pode ser ofertada no SUS. https://www.gov.br/saude/ptbr/assuntos/noticias/2016/dezembro/tecnicainovadoraparatratarvarizespodeserofertadanosus. Acesso em: 03 jun. 2025.

COELHO NETO, F. Impacto da escleroterapia com espuma na qualidade de vida e nos achados fotopletismográficos na insuficiência venosa crônica: seguimento de 1 ano. Tese (Doutorado em Ciências Mèdicas) – Universidade de Brasília, Brasília, 2019.

DEAK, S. Treatment of superficial venous insufficiency in a large patient cohort with retrograde administration of ultrasound-guided polidocanol endovenous microfoam versus endovenous laser ablation. J Vasc Surg Venous Lymphat Disord, 2022;10(5):999-1006.e2.

DUARTE, F. Tratamento da veia safena magna com laser endovenoso exclusivo ou combinado com escleroterapia com espuma: um ensaio clínico randomizado. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2024.

HOSS, E. et al. Comparação da segurança e eficácia da escleroterapia com espuma com proporção de polidocanol para ar de 1:2 versus proporção de 1:4 para o tratamento de veias reticulares das extremidades inferiores. Cirurgia Dermatológica, 2020; 46(12): 1715-1720.

KHARL, R.A.K. et al. Foam sclerotherapy: an emerging, minimally invasive and safe modality of treatment for varicose veins. Journal of Ayub Medical College Abbottabad, 2019;31(4):41-55.

KIM, P.S. et al. Results of polidocanol endovenous microfoam in clinical practice. J Vasc Surg Venous Lymphat Disord, 2021;9(1):122-127. 

LEOCOVICK, L. et al. Avaliação da qualidade de vida de pacientes submetidos à escleroterapia com espuma de polidocanol na região oeste de Santa Catarina. Research, Society and Development, 2023; 12(9): 5-10.

MARSTON, W. A. Polidocanol sclerotherapy for venous insufficiency in patients with recalcitrant leg ulcers: More treatment is better. Journal of Vascular Surgery: Venous.

MIRANDA, L. A. et al. Bilateral foam polidocanol sclerotherapy of great saphenous veins and their tributaries in synchronous procedure. J Vasc Bras, 2021;16(3):4-15. 

OLIVEIRA, T. H. F, et al. A eficácia do tratamento por escleroterapia com espuma em comparação à cirurgia convencional e à ablação endovenosa a laser em pacientes com varizes e insuficiência venosa crônica. Anais do II Congresso Brasileiro de Ciências em Saúde. São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/28942. Acesso em: 03 jun. 2025.

POLIMANTI, A. C. et al. Influência da escleroterapia ecoguiada com espuma de polidocanol na qualidade de vida na insuficiência venosa crônica de membros inferiores: resultados iniciais. Jornal Vascular Brasileiro, 2019; 18 (3): 10-17.

POSCHINGER-FIGUEIREDO, D. et al. Impact of Ultrasound-Guided Foam Sclerotherapy for Pain Control in Patients with Chronic Venous Disease and Great Saphenous Vein Reflux. Int J Angiol, 2022;32(3):172-178. 

SAKUGAWA, L.S. et al. Polidocanol-foam treatment of varicose veins: Quality-of-life impact compared to conventional surgery. Clinics, 2024; 3(4):79-86. 

SANTOS, J. B. Ecoescleroterapia com espuma de polidocanol em veia safena magna com cateter curto versus cateter longo com tumescência: ensaio clínico randomizado. Tese (Doutorado em Clínica Cirúrgica). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

VIEIRA, J. M. Avaliação das alterações microcirculatórias dos membros inferiores de portadores de doença venosa crônica tratados por escleroterapia com espuma, associada ou não a fração de flavonóide purificada e micronizada: estudo randomizado, duplo-cego, controlado. (Doutorado em Fisiopatologia Clínica e Experimental) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.


1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Marabá – PA. E-mail: marcospremiiado@gmail.com 

2Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Marabá – PA. E-mail: geremiasapereira@hotmail.com 

3Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Marabá – PA. E-mail: murilolico@gmail.com

4Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (FACIMPA), Marabá – PA. E-mail: saulo.ikeda@facimpa.edu.br