O IMPACTO DA DOR CRÔNICA NA QUALIDADE DE VIDA DAS CRIANÇAS O PAPEL DO ENFERMEIRO NO MANEJO DA DOR

 THE IMPACT OF CHRONIC PAIN ON CHILDREN’S QUALITY OF LIFE: THE ROLE OF THE NURSE IN PAIN MANAGEMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410280741


Gabriella Cristine Moura Maia Silva;
Larissa Cristina Galvão Madureira Mendonça;
Orientadora: Prof. Rosimeire Faria do Carmo


Resumo: O impacto da dor crônica na qualidade de vida das crianças e o papel do enfermeiro no manejo da dor é a abordagem central do trabalho, realizado através de uma revisão bibliográfica. O objetivo é analisar como a dor crônica afeta o desenvolvimento físico, emocional e social das crianças, além de avaliar a importância do enfermeiro na identificação e tratamento dessa patologia. A revisão tem como objetivo fortalecer a melhoria das práticas de enfermagem e aprimorar a abordagem multidisciplinar no ambiente hospitalar. Foram utilizados artigos científicos e publicações recentes sobre o tema para embasar as discussões. Os principais resultados indicam que o manejo adequado da dor crônica infantil, liderado pelo enfermeiro, é indispensável para minimizar os impactos negativos na qualidade de vida da criança, sendo necessárias intervenções de forma contínua e personalizada. A pesquisa ressalta ainda a importância da formação adequada dos profissionais e da implementação de protocolos que considerem tanto os aspectos físicos quanto emocionais da dor, reforçando a necessidade de uma abordagem holística, eficaz, interdisciplinar guiada pelo enfermeiro.

Palavras-chave: Dor crônica infantil. Manejo da dor. Qualidade de vida.

Abstract: The impact of chronic pain on children’s quality of life and the role of nurses in pain management is the central approach of this study, which was carried out through a literature review. The aim is to analyze how chronic pain affects children’s physical, emotional and social development, as well as to assess the importance of nurses in identifying and treating this pathology. The review aims to strengthen the improvement of nursing practices and enhance the multidisciplinary approach in the hospital environment. Scientific articles and recent publications on the subject were used to support the discussions. The main results indicate that the proper management of chronic pain in children, led by nurses, is indispensable for minimizing the negative impacts on the child’s quality of life, and that continuous and personalized interventions are necessary. The research also highlights the importance of adequate training for professionals and the implementation of protocols that consider both the physical and emotional aspects of pain, reinforcing the need for a holistic, effective, interdisciplinary approach guided by nurses.

Keywords: Chronic childhood pain. Pain management. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO

A dor crônica infantil é uma condição de saúde complexa que impacta de forma significativa o desenvolvimento da criança, especialmente em contextos hospitalares, onde os efeitos físicos, emocionais e sociais são intensificados. Esse tipo de dor, caracterizado por sua recorrência ou persistência por mais de três meses, é considerado um problema relevante de saúde pública, com prevalência variando entre 11% e 38% na população pediátrica. Adolescentes do sexo feminino são particularmente vulneráveis a essa condição, que pode ser classificada como idiopática ou primária (quando não há causa orgânica aparente) ou secundária, estando associada a uma doença crônica específica ou lesão física identificável (LIRA et al., 2023).

Os impactos da dor crônica infantil se estendem para além dos sintomas físicos, comprometendo o crescimento, o desenvolvimento escolar e o relacionamento familiar. A condição também interfere na capacidade da criança de participar de atividades diárias, prejudicando sua qualidade de vida e ampliando os desafios enfrentados tanto pelos profissionais de saúde quanto pelos cuidadores. No ambiente hospitalar, onde o monitoramento é mais intensivo, a abordagem da dor infantil demanda uma avaliação contínua e multidisciplinar, com a integração de áreas como pediatria, psicologia e fisioterapia (SEPÚLVEDA, 2019). Nessa dinâmica, o enfermeiro tem um papel central, uma vez que atua diretamente junto à criança e sua família, aplicando intervenções baseadas em protocolos e identificando mudanças no quadro clínico (MOURA et al., 2017).

O diagnóstico da dor infantil, no entanto, ainda enfrenta obstáculos, pois muitas crianças têm dificuldade em expressar a intensidade e a natureza de sua dor de forma clara. Por isso, é fundamental o uso de escalas e ferramentas específicas para avaliar a dor infantil de maneira objetiva (Direção Geral da Saúde, 2010). Apesar da necessidade de um acompanhamento contínuo e da colaboração entre diferentes especialidades para um tratamento eficaz, há lacunas na formação e prática clínica dos profissionais da área, o que limita a capacidade de oferecer uma abordagem holística à dor (CARVALHO et al., 2021)

Este trabalho tem como objetivo revisar literaturas sobre a dor crônica infantil como uma condição debilitante que afeta negativamente aspectos físicos, emocionais e sociais da vida da criança. Além disso, pretende analisar o papel do enfermeiro no manejo dessa condição, considerando seu contato direto com o paciente e a família, o que possibilita uma avaliação constante e a implementação de estratégias de alívio da dor. A abordagem de enfermagem deve ser integral e abranger tanto os aspectos físicos quanto os emocionais e sociais para proporcionar uma assistência efetiva e centrada na criança. Este estudo será desenvolvido por meio de uma revisão literária, organizada em introdução, materiais e métodos, e resultados e discussão, com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre o impacto da dor crônica infantil e o papel essencial do enfermeiro em seu manejo.

2 MATERIAiS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão de literatura com o objetivo de analisar e sintetizar informações sobre o impacto da dor crônica na qualidade de vida das crianças e o papel do enfermeiro no manejo da dor. Para a realização da revisão, foram consultadas as bases de dados  como PubMed, Scielo, Lilacs, utilizando os seguintes descritores: “dor crônica”, “qualidade de vida”, “crianças”, “manejo da dor”, combinados através dos operadores booleanos AND, OR. As buscas foram realizadas no período de julho a setembro  de 2024.

Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: Estudos publicados em idiomas,  português, inglês. Pesquisas que abordam  a dor crônica, dor crônica em crianças, intervenções de enfermagem, intervenções multidisciplinares, Artigos publicados entre (2010-2023).

Foram excluídos artigos que: não apresentavam os dados sobre o impacto da dor crônica, dor crônica infantil, manejo da dor crônica ou intervenções de enfermagem, intervenções multidisciplinares, estudos que não estavam disponíveis na íntegra, que não eram revisões por pares ou que era demasiadamente antigos. Exceto (BARBOSA, 2006) e (ROSSATO e JACOB, 2006) por conter assuntos e colocações pertinentes e de importância para o tema.

Inicialmente, foram identificados 49 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, 23 estudos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão. Os artigos restantes foram avaliados na íntegra, resultando em 26 estudos que compuseram a amostra final.

Os dados extraídos dos artigos incluídos foram analisados com base na  categorização dos resultados, identificação de lacunas na literatura e síntese dos achados. Os principais aspectos avaliados incluíram análises, como a prevalência da dor crônica em crianças, as abordagens de manejo da dor pelos enfermeiros e os impactos na qualidade de vida, manejo da dor crônica pela equipe interdisciplinar.

3 RESULTADOS/ Discussôes

3.1 Conceito de Dor Crônica

A definição revisada de dor pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) em 2020 descreve-a como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial” (SBED, 2021). Essa conceituação amplia a compreensão da dor, reconhecendo não apenas os aspectos nociceptivos, mas também os componentes emocionais e subjetivos envolvidos, reforçando sua natureza multifacetada.

A dor crônica é definida por sua duração superior a três meses e pode ocorrer mesmo sem lesão tecidual ativa, configurando-se como um problema independente e complexo que afeta a saúde física e mental do paciente, prejudicando sua qualidade de vida. Devido à sua persistência, impacto funcional e mecanismos complexos, representa um grande desafio tanto para os profissionais de saúde quanto para o paciente.(AGUIAR et al.,2021)

3.1.1 Duração Prolongada

A dor crônica é definida como aquela que persiste por mais de três meses, sendo esse o critério que a diferencia da dor aguda, a qual é uma resposta temporária a uma lesão e dura apenas o tempo necessário para a cura. Sua intensidade e frequência podem variar, podendo ser contínua ou intermitente, e frequentemente não está ligada a uma lesão tecidual atual, o que torna seu tratamento mais complexo (AGUIAR et al., 2021).

3.1.2 Impacto Funcional

O impacto funcional da dor crônica é significativo e abrange diversas áreas da vida, incluindo a limitação de atividades diárias, comprometimento do trabalho ou vida escolar, dificuldades sociais e relacionais, distúrbios psicológicos e alterações no sono. Embora o termo “qualidade de vida” tenha um significado subjetivo e complexo, no contexto da dor, ela pode ser entendida como a relação entre a capacidade funcional do indivíduo e o que ele consegue realizar ao lidar com essa condição. Dada sua complexidade, a dor crônica exige um tratamento multidisciplinar que vá além do controle dos sintomas, incluindo suporte emocional e social para uma abordagem mais integrada e eficaz (MOURA et al., 2017).

3.1.3 Mecanismos Complexos

Para entendermos os complexos mecanismos da dor devemos entender a interação entre os fatores fisiológicos, psicológicos e sociais. Segundo CAHYANI, 2018,  Alguns dos principais aspectos para experiência da dor são:

Transdução: Esta é a primeira fase do processo de dor, onde os nociptores (terminações nervosas especializadas), identificam estímulos prejudiciais de lesão ou inflamação e convertem em sinais elétricos.

Transmissão: Fase em que os sinais de dor são transmitidos através das fibras nervosas para medula espinhal e depois para cérebro.

Percepção: Uma vez que o sinais chegam ao cérebro, são processados em áreas especificas, como o córtex somatossensorial, onde são interpretadas a localização, intensidade e qualidade da dor.

Modulação: A dor pode ser modulada por fatores psicológicos, emocionais e sociais. Por exemplo, o estresse e a depressão podem intensificar a percepção de dor enquanto o relaxamento e distração podem diminuir a percepção de dor. Processo esse que envolve hormônios e neurotransmissores.

Conforme Pereira et al. (2017), a relevância da dor crônica para a saúde pública é inegável. Estudos epidemiológicos desempenham um papel fundamental na identificação dos determinantes da dor, facilitando a detecção precoce e o controle dos sintomas, o que, por sua vez, pode prevenir comorbidades e incapacidades.

4.0 O Impacto da Dor Crônica na Qualidade de Vida Infantil

 Estudos mostraram que crianças com dor crônica correm maior risco de desenvolver transtornos de saúde mental, como ansiedade e depressão, em comparação com seus pares sem dor crônica. (VINALL et al., 2016). Por ser uma experiência multifacetada, que envolve componentes sensoriais, psicológicos e sociais, contribuem para uma qualidade de vida diminuída. (STURGEON e ZAUTRA, 2010).

Pesquisas epidemiológicas demonstraram que jovens com dor crônica têm maiores chances de adquirirem transtornos mentais na idade adulta (VINALL et al., 2016).Isso está ligado diretamente ao fato de como a dor crônica afeta os processos cognitivos e emocionais, levando a estratégias de tratamento e enfrentamento não eficazes, como a catastrofização (STURGEON e ZAUTRA, 2010).O Fardo da dor crônica na infância é substancial, pois interfere na capacidade das crianças de participar de atividades diárias, manter padrões de sono saudáveis, se envolver em interações sociais. (VINALL et al., 2016).

Além disso a família tem sua rotina totalmente alterada e se envolve na doença de seu filho, sendo obrigados a desenvolver uma serie de enfrentamentos de ordem emocional e pratica (ROSSATO e JACOB, 2006). A dor crônica está associada a precariedade do funcionamento familiar, o que pode agravar ainda mais os efeitos negativos no bem estar da criança. A criança não é um pequeno adulto e as suas peculiaridades devem ser observadas, respeitadas e levadas em consideração.(BARBOSA, 2006.)

4.1 Instrumentos/Escalas para Avaliação da Dor Pediátrica

Segundo a Direção-Geral da Saúde (2010), as crianças respondem de forma variável à dor, influenciadas por fatores individuais e contextuais, o que exige uma avaliação multifacetada. Conforme o Decreto Regulamentar nº 66/2007, alterado pelo nº 21/2008, a Direção-Geral recomenda seguir orientações técnicas específicas para avaliar a dor em crianças de 0 a 18 anos.

4.1.1 Orientações Gerais

De acordo com a Direção Geral da Saúde (2010,p.1),

Como norma de boa prática na avaliação da dor, recomenda-se: acreditar na criança que relata dor; priorizar a autoavaliação a partir dos 3 anos; dar tempo para a expressão da dor; considerar o comportamento habitual da criança ou de outras da mesma idade; dialogar com a criança, pais ou cuidadores e utilizar instrumentos de avaliação; registrar a história da dor na admissão hospitalar ou primeira consulta; manter o mesmo instrumento de avaliação, salvo necessidade clínica; seguir rigorosamente as instruções dos instrumentos; e, em casos de dor intensa, priorizar o tratamento sobre a avaliação.

4.1.2 Orientações Especificas

De acordo com a Direção Geral da Saúde (2010,p.1,2),

A história da dor envolve a coleta de informações para orientar sua avaliação e controle, utilizando fontes documentais, observação e entrevista com os pais/cuidadores e a criança a partir dos 3 anos. Deve considerar: características da dor (localização, intensidade, qualidade, duração e sintomas associados), fatores de alívio e agravamento, uso e efeito de medidas terapêuticas, formas de expressar a dor, experiências traumáticas, estratégias de enfrentamento, comportamento da criança, ambiente familiar, impacto na vida diária e efeitos emocionais e socioeconômicos.

4.1.3 Avaliação da Intensidade da Dor

De acordo com a Direção Geral da Saúde (2010,p.2),

A avaliação da dor em crianças requer o uso de instrumentos válidos, seguros e sensíveis, considerando o tipo de dor, a situação clínica e a idade. Embora haja ferramentas específicas para diferentes faixas etárias e contextos clínicos, não há um método universalmente aceito.

4.1.4 Escalas de Avaliação de Dor Infantil

Recém Nascidos: NIPS (Neonatal Infant Pain Scale). Mais apropriada para prematuros e recém-nascidos de termo.

FIGURA 1 -ESCALA NIPS

Lawrence J, Alcock D, Mcgrath P, Kay J, Macmurray SB, Dulberg C. The development of a tool to assess neonatalpain. Neonatal Network 1993; 12: 59-66.
Batalha L, Santos LA, Guimarães H. Avaliação da dor no período neonatal. Acta Pediat Port 2005; 36(4): 201-7.

Crianças a partir dos 3 anos de idade: Escala de faces de Wong-Baker.

FIGURA 2- Escala de faces de Wong-Baker

Orientação da Direcção Geral da Saúde, 2010.

De acordo com a Direção Geral da Saúde (2010)

Instruções:

Cada face representa como a pessoa se sente em relação à dor.

-Face O: Muito feliz, sem dor. 

-Face 1: Apenas um pouco de dor. 

-Face 2: Um pouco mais de dor. 

-Face 3: Mais dor ainda. 

-Face 4: Muita dor. 

-Face 5: Dor máxima, que nem sempre provoca choro.

Peça à criança que escolha a face que melhor representa como ela se sente..

Crianças com Multideficiência: FLACC-R (Face, Legs, Activity, Cry, Consolability – Revised).

FIGURA 3- FLACC-R

© The Regents of the University of Michigan Malviya S,Yopel-lewis T, Burke C; Merkel S, Tait A. The revised FLACC observational pain tool: improved reliability and validity for pain assessment in children with cognitive impairment. Pediatric Anesthesia 2006;16(3):258-265.

5.0 O papel do Enfermeiro no Manejo da Dor Pediátrica

 A interação entre enfermeiro e paciente é essencial para compreender a dor e o sofrimento, permitindo um diálogo aberto que ajuda o enfermeiro a entender a perspectiva do paciente e abordar suas queixas de forma adequada. É importante que o enfermeiro considere o nível de cognição do paciente e utilize recursos que facilitem a comunicação, pois isso melhora a qualidade de vida e fortalece a confiança na relação terapêutica. No gerenciamento da assistência, o enfermeiro desempenha um papel central por meio do processo de enfermagem, que deve ser individualizado e holístico. A competência técnica e científica é crucial, mas deve ser aplicada corretamente, pois falhas na avaliação e registros insuficientes podem comprometer o tratamento. Além disso, a equipe de enfermagem é fundamental na identificação e mensuração da dor, assim como na aplicação de terapias farmacológicas e não-farmacológicas, promovendo uma abordagem integrada que garante a analgesia e uma assistência de qualidade (SILVA et al., 2019).

Barros e Albuquerque, 2014, ressaltam que a equipe de enfermagem é a que mais mantém contato direto com o paciente durante o tratamento hospitalar, ocupando uma posição estratégica. Por atuar junto ao paciente de forma contínua, 24 horas por dia, a enfermagem participa das rotinas e procedimentos, vivenciando a dor e o sofrimento ao lado do paciente e de seus familiares, e contribuindo para proporcionar conforto e alívio nessas situações.

Os profissionais de saúde em pediatria têm a responsabilidade de eliminar ou minimizar a dor e o sofrimento da criança, além de estender o atendimento ao cuidado da família. Essa abordagem deve ser multiprofissional, com constante troca de informações, o que permite intervenções mais rápidas e eficazes no alívio da dor. Por fim, o enfermeiro trabalha de forma integrada com outros profissionais de saúde para assegurar um atendimento holístico, humanizado e eficaz (BARBOSA, 2006)

De acordo com Moura et al., 2017,

O processo de enfermagem acontece por meio da identificação e classificação de diagnósticos de enfermagem detalhados e pela especificação e verificação de resultados alcançados pelo paciente, que sejam sensíveis às intervenções de enfermagem implementadas. É considerado uma ferramenta tecnológica e metodológica para a assistência de enfermagem. Possui cinco etapas: a coleta de dados ou histórico de enfermagem; o diagnóstico de enfermagem; o planejamento; a implementação das intervenções; e a avaliação (27). Esse processo pode ocorrer pela utilização de sistemas de linguagens padronizados, como a nanda-i®, a Nursing Intervention Classification (nic) e a Nursing Outcomes Classification (noc).

3.5 Intervenções não Farmacológicas no Manejo da Dor Pediátrica

O tratamento da dor crônica é um mecanismo complexo que exige uma abordagem holística, indo além do uso de medicamentos e integrando estratégias não farmacológicas, como técnicas de relaxamento, terapias cognitivas e comportamentais, atividades físicas supervisionadas e intervenções psicossociais. O envolvimento ativo da criança e de sua família é essencial para promover o entendimento e o enfrentamento da dor de forma conjunta ( FORGERON e STINSON, 2014). Além disso, a atuação da equipe multiprofissional assegura que as necessidades físicas, emocionais e sociais da criança sejam atendidas, resultando em uma melhoria na qualidade de vida e na autonomia (CRUZ, 2023).

 A NIC recomenda que o enfermeiro ensine ao paciente a utilização de técnicas não farmacológicas antes, durante e após atividades dolorosas, sempre que possível. Entre essas técnicas estão o biofeedback, a estimulação elétrica transcutânea (TENS), a hipnose, o relaxamento, a imaginação orientada, a musicoterapia, a distração, o jogo terapêutico, a terapia ocupacional, a acupressão, a aplicação de calor ou frio e a massagem. (MOURA et al., 2017).

Segundo Linhares et al. 2010, as intervenções não farmacológicas proporcionam benefícios consideráveis, pois sua eficácia é bem documentada. Além disso, apresentam baixo risco para as crianças e são uma alternativa com custos operacionais reduzidos, especialmente em ambientes de tratamento intensivo.

3.6 Participação da Equipe Interdisciplinar no Manejo da Dor Crônica Infantil

 O tratamento da dor deve ser realizado de forma multiprofissional, envolvendo a colaboração de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e educadores físicos. Essa abordagem abrangente é essencial para entender as diferentes dimensões biopsicossociais que impactam o paciente e melhorar o controle da dor. Nos últimos 25 anos, as pesquisas sobre o efeito da atividade física em pacientes com dor crônica cresceram significativamente, indicando que a combinação de terapia física e terapia cognitivo-comportamental (TCC), adaptada às necessidades individuais, que inclui exercícios físicos, intervenções farmacológicas e psicoeducação, pode ser uma estratégia mais eficaz para o manejo da dor crônica e para a melhoria da qualidade de vida. (MAEMURA et al., 2021)

Os profissionais de saúde frequentemente enfrentam desafios na implementação de rotinas para equipes multiprofissionais, incluindo dificuldades na interação, interdisciplinaridade e comunicação, além da sobrecarga de trabalho, que limita o tempo disponível para uma assistência eficaz a cuidadores, crianças e adolescentes. A burocratização dos serviços de saúde também impacta negativamente na qualidade da assistência. Para superar esses obstáculos, os autores sugerem a adoção de um modelo de atenção mais contínuo e eficaz, que substitua a abordagem tradicional centrada na doença por uma orientada por acolhimento, integralidade e responsabilização. Essa transformação requer uma nova conscientização sobre as práticas profissionais, promovendo um atendimento mais humanizado e centrado nas necessidades dos pacientes (CARVALHO et al., 2021).

6 CONCLUSÃO

Com base na revisão realizada, conclui-se que a dor crônica tem um impacto significativo na qualidade de vida das crianças, afetando seu desenvolvimento físico, emocional e social. O papel do enfermeiro é central nesse contexto, uma vez que sua proximidade com o paciente e sua família permite uma abordagem contínua e individualizada para o manejo da dor. No entanto, foi identificado que a formação limitada dos profissionais e a dificuldade na implementação de rotinas multiprofissionais comprometem a eficácia do tratamento.

Entre as principais contribuições do estudo, destaca-se a necessidade de protocolos de cuidado que integrem aspectos físicos e emocionais, além da importância de estratégias não farmacológicas e do trabalho colaborativo entre diferentes especialidades. As limitações encontradas incluem a carência de dados específicos sobre a implementação de intervenções em diferentes contextos e a subjetividade inerente à dor, que dificulta sua avaliação.

 Estudos futuros poderiam explorar com mais profundidade a aplicação de escalas adaptadas e investigar a eficácia de novas abordagens terapêuticas personalizadas. Assim, a pesquisa contribui para o fortalecimento de práticas de enfermagem e para o aprimoramento da assistência integral e humanizada à criança com dor crônica.

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