O IMPACTO DA COVID-19 NO PERFIL DAS INTERNAÇÕES PEDIÁTRICAS POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS EM HOSPITAL AMAZÔNICO: NO PERÍODO ENTRE 2019 E 2021

THE IMPACT OF COVID-19 ON THE PROFILE OF PEDIATRIC HOSPITALIZATIONS FOR RESPIRATORY DISEASES IN AN AMAZONIAN HOSPITAL: BETWEEN 2019 AND 2021.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7829045


Marcelo Dias Ferreira Junior1
Wanderson Thiago Santos Noleto2
Maria Angélica Carneiro Cunha3
Cláudia Dizioli Franco Bueno4


RESUMO

Introdução: As medidas adotadas para frear a COVID-19 impactaram consideravelmente na sazonalidade das doenças respiratórias e são responsáveis pela diminuição das hospitalizações pediátricas em 2020. Objetivo: Analisar e descrever o impacto da pandemia da COVID-19 no perfil de internações de crianças menores de cinco anos em hospital amazônico, dando ênfase na epidemiologia das doenças do aparelho respiratório. Metodologia: Estudo epidemiológico, retrospectivo, descritivo e inferencial com abordagem quantitativa. Foram analisados os prontuários de crianças com idade entre 30 dias de vida até 4 anos 11 meses e 29 dias, internadas no Hospital Municipal de Marabá, entre 2019 e 2021. Variáveis analisadas: idade, sexo, frequência absoluta e relativa das causas de internações e número de atendimentos. Foram utilizados os softwares Microsoft Office Excel versão 2019 para tabulação dos dados e o programa IBM SPSS Statistics Base 22.0 para avaliação estatística. Resultados: Foram incluídos 936 prontuários. Entre as principais causas de internações, ocorreu predominância da pneumonia com 24,1% (nº 226). Quanto à sazonalidade das doenças do aparelho respiratório, houve diminuição da incidência das internações no ano de 2020 em comparação com os mesmos períodos de 2019. Foi verificado que existe relação estatisticamente significativa entre as doenças respiratórias e faixa etária de acometimento (p valor <0,001), assim como na relação entre as variáveis sexo e faixa etária (p valor <0,015). Conclusão: A pesquisa comprova que a pandemia impactou diretamente na epidemiologia pediátrica da localidade estudada, com redução das hospitalizações em quase todos os setores, principalmente por doenças respiratórias.

PALAVRAS-CHAVE: Pediatria; Hospitalização; Saúde da Criança; Doença do Aparelho Respiratório; COVID-19.

ABSTRACT

Introduction: The measures assumed to stop COVID-19 considerably impacted the seasonality of respiratory diseases and they are responsible for the decrease in pediatric hospitalizations in 2020. Objective: To analyze and describe the impact of the COVID-19 pandemic on the profile of hospitalizations of children under the age of five years in an Amazonian hospital, with an emphasis on the epidemiology of respiratory system diseases. Methodology: This is an epidemiological, retrospective, descriptive, and inferential study with a quantitative approach. The medical records of children aged 30 days to 4 years 11 months and 29 days, hospitalized at the Municipal Hospital of Marabá, between 2019 and 2021, were analyzed. Variables analyzed: age, sex, absolute and relative frequency of causes of hospitalization, and the number of appointments. Microsoft Office Excel version 2019 software was used for data tabulation and the IBM SPSS Statistics Base 22.0 program for statistical evaluation. Results: 936 records were included. Among the main causes of hospitalizations was a predominance of pneumonia with 24.1% (n=226). As for the seasonality of respiratory system diseases, there was a decrease in the incidence of hospitalizations in 2020 compared to the same periods in 2019. It was verified that there is a statistically significant relationship between respiratory diseases and the age group of involvement (p value <0.001), as well as the relationship between gender and age group (p value <0.015). Conclusion: The research proves that the pandemic directly impacted the pediatric epidemiology of the studied area, with a reduction in hospitalizations in almost all sectors, mainly due to respiratory diseases.

KEYWORDS: Pediatrics; Hospitalization; Child Health; Respiratory Tract Diseases; COVID-19.

INTRODUÇÃO

Os primeiros relatos do SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) surgiram na China, mais especificamente na cidade de Wuhan, em dezembro de 2019. Pouco tempo depois, esse vírus desencadeou uma das maiores pandemias da história da humanidade. Como sua transmissão é dada por gotículas respiratórias infectadas, que facilita a contaminação, sua rápida propagação causou no mundo uma crise de saúde imensurável e uma corrida científica para decifrar o patógeno e suas repercussões no indivíduo infectado. (CAVALCANTE et al., 2020; CRODA; GARCIA, 2020; NORONHA et al., 2020).

O primeiro caso no Brasil foi relatado em fevereiro de 2020, no estado de São Paulo. Pouco tempo após o primeiro diagnóstico, o país tornou-se um dos epicentros da doença. Tal problemática obrigou as autoridades políticas nacionais a decretarem em março de 2020, estado de calamidade pública. A demanda por hospitalizações entre os pacientes de COVID-19, tornou-se centro das discussões dos especialistas em saúde e muitos estimaram o rápido colapso do sistema de saúde brasileiro, que não estava preparado para essa situação. Neste momento, foram estabelecidas medidas para prevenção da transmissão do vírus e para evitar a sobrecarga dos hospitais públicos e privados, dentre elas o isolamento social, com a interrupção das aulas e fechamento dos diversos setores do comércio, uso de máscara e a higienização frequente das mãos. (CAVALCANTE et al., 2020; NORONHA et al., 2020).

As medidas adotadas para frear a COVID-19 impactaram consideravelmente no perfil de internações no país. Grande parte dos estudos desenvolvidos sobre essa temática referem que o “lockdown” foi fator crucial para alteração da sazonalidade das doenças respiratórias e responsável pela diminuição dos atendimentos hospitalares e internações da população pediátrica em 2020. (CARVALHO; CARVALHO; MARTINS, 2022; SOUZA JR et al., 2021).

Segundo a pesquisa de Carvalho, Carvalho e Martins (2022), realizada em Minas Gerais, as mudanças trazidas pela pandemia da COVID-19 causaram expressivo impacto na epidemiologia pediátrica. O estudo evidenciou uma redução de cerca de 40% do número total de internações desse grupo em 2020, em relação aos anos anteriores. Tal redução ocorreu principalmente nas hospitalizações por doenças respiratórias, gastrointestinais, infecciosas e parasitárias, muito incidentes na primeira infância.

Diversas pesquisas apontam uma maior susceptibilidade de crianças menores de cinco anos à hospitalização por doenças respiratórias e gastrointestinais, devido à vulnerabilidade biológica e imaturidade do sistema imunológico desse grupo. Dentre as principais doenças que acometem a faixa pediátrica, as patologias respiratórias são as que mais comumente acarretam em quadros mais graves e hospitalização. A pneumonia é a principal representante desse grupo de doenças e a mais frequente causa de internação em menores de 14 anos. Sendo necessário mencionar que ela é a terceira causa de morte infantil no Brasil, permanecendo atrás apenas das afecções perinatais e das diarreias. (GONÇALVES DE SOUSA; ROSSO GIULIANI, 2020; PEDRAZA; ARAÚJO, 2017; QUEIROZ et al., 2022).

De acordo com Santos et al. 2021, os principais fatores de risco que contribuem para internação hospitalar na faixa etária pediátrica são: sexo masculino; idade inferior a 5 anos; ausência de aleitamento materno ou desmame precoce; atraso vacinal; más condições de moradia; falta de instrução familiar; pouco ou nenhum acesso a serviços de saúde básica. Outro ponto importante é o fator ambiental, já que o clima e a sazonalidade das patologias também estão associados aos números de internações e ao agravamento dos quadros de saúde dos infantes. (DURÃO; QUELUZ; FREITAS, 2021).

Os locais com os maiores índices de transmissão de doenças infecciosas e respiratórias na primeira e segunda infância são as creches e as escolas. O fechamento desses locais devido a pandemia e a ausência da convivência das crianças nesses ambientes, provavelmente foi o principal fator de impacto na diminuição dos atendimentos e internações em hospitais e enfermarias pediátricas no país. (CARVALHO; CARVALHO; MARTINS, 2022).

Outro fato importante, que está atrelado a diminuição das internações em enfermarias pediátricas durante o ápice da COVID-19, é a mudança no comportamento e mentalidade dos pais e cuidadores, que devido ao risco e o medo de exposição ao vírus, lidaram com a maiorias dos sintomas das crianças em ambiente domiciliar, evitando a ida em hospitais. (ALVES et al., 2020; SOUZA JR et al., 2021).

A cidade de Marabá está localizada na região Norte do Brasil, especificamente no sudeste do estado do Pará. Segundo o IBGE (2023), possui uma população estimada de 290 mil habitantes, sendo uma das principais metrópoles paraenses. Na questão saúde pública, é referência para mais de 21 municípios circunvizinhos, atendendo cerca de 20% da população do estado. O Hospital Municipal de Marabá (HMM), um dos mais importantes hospitais da região do Carajás, durante a pandemia, tornou-se base para diagnóstico e tratamento da COVID-19, além de porta de entrada do SUS para os mais diversos atendimentos em urgência e emergência. (CAMPOS, 2020; MARABÁ, 2018).

Os diversos estudos epidemiológicos pediátricos, mostram a necessidade de se traçar o perfil de morbidade em crianças menores de cinco anos, principalmente por ser um parâmetro básico e ajudar a desenhar as necessidades de saúde desse grupo. Esta pesquisa, tem como objetivo analisar e descrever o impacto da pandemia da COVID-19 no perfil de internações de crianças menores de cinco anos, em hospital amazônico, dando ênfase na epidemiologia das doenças do aparelho respiratório.

2 METODOLOGIA

Estudo epidemiológico, retrospectivo, descritivo e inferencial com abordagem quantitativa.  Foi realizada a coleta de dados secundários de prontuários de pacientes internados no Hospital Municipal de Marabá, disponíveis nos arquivos do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) desta instituição. Os diagnósticos foram agrupados de acordo com os capítulos da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).    

Foram incluídos na pesquisa os prontuários de crianças com idade entre 30 dias de vida até 4 anos 11 meses e 29 dias, internadas no Hospital Municipal de Marabá, entre janeiro de 2019 a dezembro de 2021. Na presente pesquisa, os critérios de exclusão foram prontuários de crianças internadas com menos de 30 dias de vida e maiores de 5 anos, internados anteriormente ao ano de 2019, posteriormente ao ano 2021 e pacientes com prontuários ilegíveis ou incompletos.

Avaliaram-se as variáveis: idade, sexo, frequência absoluta e relativa das causas de internações e número de atendimentos. Foram utilizados os softwares Microsoft Office Excel versão 2019 para tabulação dos dados e a avaliação estatística foi realizada através do programa IBM SPSS Statistics Base 22.0.

A análise estatística pelo IBM SPSS Statistics Base 22.0 foi realizada através do teste qui-quadrado. O nível de significância para os testes que foram empregados é de p < 0,05. Os dados encontrados no presente estudo foram comparados com os dados da literatura.

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Perfil de internações de crianças no Hospital Municipal de Marabá, Pará”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Pará, Campus VIII/Marabá, sob o CAE 47531821.3.0000.8607. A presente pesquisa foi realizada respeitando o direito a sigilo de todos participantes e tem como base a Declaração de Helsinque, Código de Nuremberg e as determinações das instituições participantes.

3 RESULTADOS

No presente estudo, foram incluídos 936 prontuários de crianças internadas no Hospital Municipal de Marabá entre 2019 e 2021. Na análise anual, identifica-se a diminuição das internações de 44,7% no ano de 2020 (n=248) e de 46,7% no ano de 2021 (n=239) em relação ao ano de 2019 (n=449).

Quanto à variável gênero, observou-se predomínio do sexo masculino com 58,7% (n= 549) em relação ao sexo feminino com 41,3% (n=387) (FIGURA 1). Sobre a comparação entre as faixas etárias, identifica-se 61,8% (n=578) das hospitalizações entre os menores de 2 anos e 38,2% (n=358) entre 2 anos a 5 anos incompletos (FIGURA 2).

Figura 1: Distribuição das internações de acordo com o gênero, nos anos de 2019, 2020 e 2021 (n=936).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

FIGURA 2 – Distribuição das internações de acordo com as faixas etárias (n=936).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

Apresenta-se na Tabela 1, a classificação das principais causas de internação hospitalar por grupos de acordo com os capítulos da CID – 10. Foi possível observar que, no ano de 2019, as doenças respiratórias representaram 37,2% (n=167) das internações, 19,8% (n=49) em 2020 e 27,2% (n=65) em 2021 (TABELA 1).

Tabela 1 : Distribuição das principais causas agrupadas segundo os capítulos da CID-10 nos anos de 2019, 2020 e 2021.

Fonte: Protocolo da pesquisa.

FIGURA 3-Distribuição das internações no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2021 (n=936).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

Na análise das principais causas de internações, no Hospital Municipal de Marabá, identifica-se predominância da pneumonia com 24,1% (n=226), seguida por dermatose purpúrica pigmentada com 8,1 % (n=76), diarreia e gastroenterite com 5,9 % (n=55), fratura da extremidade com 5,4% (n=51), traumatismo intracraniano com 4,4% (n=41) e infecção do trato urinário com 3,7% (n=35) (TABELA 2).

Tabela 2: Distribuição das principais causas de internação hospitalar, no Hospital Municipal de Marabá, entre os anos de 2019 e 2021 (n=936).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

Figura 4 : Distribuição das internações por doenças do aparelho respiratório por ano (n=281).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

De acordo com os dados observados na pesquisa, logo após a pneumonia, com expressivos 24,1% (n=226) do total de internações, entre as doenças do aparelho respiratório, destacam-se a bronquiolite com 2,9% (n=27), asma com 0,9% (n=8) e a insuficiência respiratória aguda (IRpA) com 0,6% (n=6) do total de casos. A relação entre as doenças do aparelho respiratório e a faixa etária acometida, mostrou-se com nível de significância menor que 0,001 (TABELA 2; TABELA 3).

Tabela 3: Distribuição das doenças do aparelho respiratório por faixa etária (n=281)

Tabela 4: Distribuição das doenças respiratórias por sexo e faixa etária (n=281)

A tabela 4, que correlaciona os sexos com as faixas etárias acometidas pelas doenças respiratórias, demostrou que grande parte dos pacientes internados são lactentes (n=201), com predominância do sexo masculino (n=132) em relação ao feminino (n=69). Tais dados mostraram considerável nível de significância sendo seu p valor menor que 0,05.

Quanto à sazonalidade das doenças do aparelho respiratório, identifica-se o aumento da frequência das internações por pneumonia e bronquiolite nos meses de março, abril, maio e junho no ano de 2019. Nos anos sucessivos, observou-se queda das internações no primeiro semestre de 2020 e 2021 em relação ao ano de 2019 (FIGURA 5).  

Figura 5 : Sazonalidade das doenças do aparelho respiratório entre 2019 e 2020 (n=281).

Fonte: Protocolo da pesquisa.

4 DISCUSSÃO

O presente estudo permitiu avaliar e delimitar as principais causas de internações em enfermaria pediátrica do Hospital Municipal de Marabá (HMM), entre 2019 e 2021. Elencou a possibilidade de avaliar o impacto da pandemia da COVID-19 na epidemiologia das internações na primeira e segunda infância, identificando-se alteração na prevalência e na sazonalidade das doenças do aparelho respiratório e redução do número de internações no período pandêmico.

Quanto à variável sexo, observou-se predomínio do masculino com 58,7% das hospitalizações (n=549) em relação ao sexo feminino com 41,3% (n=397) (FIGURA 1). Estes resultados refletem os achados da pesquisa de Gonçalves de Sousa e Rosso Giuliani de 2020, realizada na enfermaria de um hospital universitário de Campo Grande – MS, na qual se identificou a predominância do sexo masculino com 52% das internações. Os estudos disponíveis na literatura concordam com a maior prevalência de internações por pacientes do sexo masculino, mas não encontraram justificativa conclusiva para tal dado.

Na comparação anual, identificou-se redução das internações de 44,7% no ano de 2020 e de 46,8% no ano de 2021, em relação ao ano de 2019 (n=449). Estes dados corroboram com a pesquisa realizada por Di Sarno e colaboradores em 2022, em um pronto socorro pediátrico de um hospital italiano terciário de Roma, que identificou diminuição de 42% (n=7.873) das internações no ano de 2020 em relação à média anual (n=13.488) dos últimos cinco anos anteriores. Segundo estudos de Santos e colaboradores (2021), o fechamento das escolas e creches causados pelos decretos de isolamento, distanciamento social e o medo de exposição ao vírus, foram fatores que impactaram na diminuição da procura por atendimento médico nos hospitais pediátricos. 

Quanto às principais causas de hospitalização agrupadas segundo os capítulos da CID-10, as mais prevalentes foram as doenças do aparelho respiratório, seguidas pelas doenças infecciosas e parasitárias (TABELA 1). Resultado que é corroborado pelas pesquisas de Oliveira, Costa e Mathias (2012), Durão, Queluz e Freitas (2021) e Santos et al (2021).

Os dados da pesquisa mostram uma redução de 70,6% das hospitalizações por doenças respiratórias e 15,5% por patologias infecciosas e parasitárias, comparando o ano de 2020 em relação a 2019. O estudo de Carvalho, Carvalho e Martins, realizado em 2022 com dados do DATASUS do estado de Minas Gerais, mostrou uma diminuição das internações pediátricas por doenças infecciosas de 45,2% e do aparelho respiratório de 71,1%, principalmente em crianças menores de 5 anos. Essa diminuição é explicada com base na restrição do convívio social, fechamento das escolas e creches e menor exposição a ambientes externos devido às medidas de contenção da COVID-19 no ano de 2020.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2022), a pneumonia é uma das principais doenças respiratórias na infância e causa mais comum de morbimortalidade em menores de cinco anos no mundo. Em relação às principais causas de internações evidenciadas durante a pesquisa, identificou-se a pneumonia em primeira posição com 28,3% (n=127) das internações em 2019, 16,5% (n=41) em 2020 e 24,3% (n=58) em 2021. Esses dados demonstram que em 2020, houve diminuição de aproximadamente 67,7% dos casos em relação a 2019. (TABELA 2; FIGURA 4).  De acordo com a pesquisa de Queiroz e colaboradores, realizada em 2022 com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, houve uma importante redução nos casos de pneumonia em pacientes de 1 a 9 anos após a irrupção da COVID-19 no país, confirmando o impacto dessa pandemia nas internações e óbitos por doenças infectocontagiosas.

Segundo Peixoto et al (2013), as crianças são mais vulneráveis a patologias e agravos nos primeiros anos de vida, e tal suscetibilidade biológica tem a tendência de diminuir no decorrer do crescimento, desenvolvimento e com o contato direto com os diversos patógenos. Sendo esse fato demonstrado nesta pesquisa, na qual as internações de menores de 2 anos atingiram uma maior porcentagem (61,7%) em relação aos maiores de 2 anos.

Quando se observa apenas as hospitalizações por doenças respiratórias distribuídas por faixa etária (TABELA 3), fica evidente nesse estudo que essas patologias têm relação direta com a idade da criança (p valor <0,001), na qual a pneumonia e a bronquiolite levam a busca por atendimento médico emergencial e internação por agravamento dos sintomas, principalmente nos lactentes e a asma e amigdalite na fase pré-escolar. Tal fato está concernente à fisiopatologia, aos patógenos causadores de cada uma dessas doenças e aos fatores de risco apresentados por cada grupo etário estudado. (PEDREIRA, 2013).

A análise estatística da relação idade e sexo com internações por doenças respiratórias nesta pesquisa (TABELA 4), torna compreensível a relação de dependência entre tais fatores e a suscetibilidade a hospitalizações por essas patologias em menores de cinco anos, com ênfase nos lactentes do sexo masculino (p Valor <0,015). As pesquisas de Anjos, Lima e Lima (2021) e Góis Costa e colaboradores (2022), evidenciam que meninos na primeira infância tem chances maiores de internação por pneumonia e outras doenças respiratórias, enfatizando que diversos são os fatores envolvidos, como menor complacência pulmonar e calibre das vias áreas, além da função imunológica imatura dos infantes.

Na vigente pesquisa, a bronquiolite foi a sétima mais incidente dentre as causas de hospitalizações no quadro geral, correspondendo a 4,7% (n=21) em 2019, a 0,8% (n=2) em 2020 e a cerca de 1,7% (n=4) em 2021. É a segunda doença respiratória mais prevalente, ficando apenas atrás da pneumonia. É uma das patologias que apresentou maior impacto causado pela pandemia com redução de 90% número de internações em 2020 e de 81% em 2021, em relação ao ano de 2019 (n=21) (TABELA 2; FIGURA 4). Esses resultados, corroboram com a pesquisa de Friedrich et al. (2021), que observou redução maior que 70% das hospitalizações por bronquiolite viral aguda em menores de 1 ano no Brasil, no período da pandemia.

Quanto às doenças do aparelho respiratório superior, identificou-se queda de internações de crianças por influenza e amigdalite no período pandêmico, quando comparado com o ano de 2019 (FIGURA 4). Essas patologias são transmitidas pelo contato de gotículas ou secreções nasais contaminadas por seus agentes etiológicos através tosse, espirros e secreções nasais. Ambientes como escolas e creches favorecem a infecção e a disseminação entre as crianças (TOSS; ZENI; MARQUES, 2022).

No município de Marabá, no ano de 2019, os surtos por doenças do aparelho respiratório ocorreram com maior frequência no “inverno amazônico”, correspondendo no hemisfério sul ao outono e verão, período no qual há intensificação das chuvas, que favorecem o aumento da disseminação de vírus e bactérias. No ano sucessivo, com o início da pandemia da COVID-19, ocorreu alteração na sazonalidade das doenças do aparelho respiratório, representada pela diminuição do número de internações nos meses de março, abril, maio e junho (FIGURA 5). Esses dados estão em consonância com a pesquisa de Alves et al. (2020), na qual identificou a diminuição das internações devido a instauração das medidas para frear a transmissão do SARS-CoV-2.

Diante do período pandêmico, pode-se sugerir que as medidas de contenção do coronavírus, iniciadas no mês de março de 2020, como o fechamento das escolas, creches e proibição de aglomeração de pessoas, além de conter a disseminação do coronavírus, colaboraram com a diminuição da exposição das crianças aos agentes etiológicos de influenza, amigdalite, bronquiolite e pneumonia. Conclui-se que as medidas não farmacológicas governamentais, resultaram na alteração da sazonalidade das infecções de vias aéreas superiores (IVAS) e inferiores (IVAI) no ano de 2020 (ALVES et al., 2020; SOUZA JR. et al., 2021).

Esperava-se um aumento considerável nas internações por acidentes domésticos e traumas, mas os resultados encontrados não demonstraram tal fato. Em contraponto com a pesquisa de Freitas e colaboradores (2021), que enfatizou um aumento considerável de atendimentos médicos e hospitalizações de pacientes pediátricos por queimaduras, fraturas e intoxicações por produtos de higiene e limpeza.

A pesquisa possui algumas limitações que foram visualizadas no decorrer de sua elaboração. Em primeiro lugar, sua realização em apenas um hospital, que mesmo atendendo a demanda principal do município e de vários distritos próximos, impossibilita a generalização dos dados e resultados. Outro ponto importante, foi a dificuldade em organizar e tabular os dados, principalmente em decorrência da organização, distribuição e preenchimento dos arquivos do hospital em questão.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados da pesquisa em questão comprovam que a pandemia da COVID-19 impactou diretamente na epidemiologia pediátrica. Devido a permanência domiciliar aumentada em 2020, se esperava um aumento nos números de internações por acidentes domésticos, com animais e traumas por quedas, mas isso não ocorreu. O que realmente aconteceu foi uma redução das hospitalizações em quase todos os setores, principalmente por doenças respiratórias. Sugerimos outros estudos epidemiológicos, para ajudar a traçar de forma mais ideal o perfil de hospitalização em enfermarias pediátricas de cada região do país, a fim de conhecer as doenças que se destacam em cada localidade, para melhor distribuir os recursos financeiros e de saúde pública brasileiros.

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Endereço: Av. Hiléia, s/n, Amapá, Marabá – PA, CEP: 68502-100.
2Graduando em Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Endereço: Av. Hiléia, s/n, Amapá, Marabá – PA, CEP: 68502-100.
3Pediatra. Mestra em Cirurgia e Pesquisa Experimental pelo CIPE UEPA. Docente do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Endereço: Av. Hiléia, s/n, Amapá, Marabá – PA, CEP: 68502-100.
4Pediatra. Docente do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Endereço: Av. Hiléia, s/n, Amapá, Marabá – PA, CEP: 68502-100.