O IMPACTO DA ATIVIDADE FÍSICA NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202510131656


Stella Figueiredo Almeida1
Camila Duarte Lage Santos2
Isadora Maria Timóteo Rodrigues3
Caroline Guidotti Santa Rosa4
Livia vaz Menicucci5


Resumo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação, interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, representando uma condição neurobiológica complexa. Crianças com TEA, frequentemente, apresentam um estilo de vida sedentário, atrasos no desenvolvimento motor, dificuldades de coordenação e maior predisposição a condições de saúde como obesidade e doenças crônicas. Nesse contexto, a atividade física (AF) tem se mostrado uma estratégia fundamental para promover benefícios físicos, cognitivos e sociais, além de melhorar a qualidade de vida geral.

Este artigo tem como objetivo revisar as evidências científicas sobre os efeitos da AF em crianças e adolescentes com TEA. Para isso, realizou-se uma revisão integrativa de literatura, com buscas nas bases de dados PubMed Central, Google Acadêmico e Wiley Online Library. Foram utilizados descritores em português e inglês como “atividade física AND transtorno do espectro autista” e “physical activity AND Autism Spectrum Disorder”. Foram selecionados nove artigos originais e de revisão, publicados entre 2016 e 2021.

Os achados indicaram que programas estruturados de AF, como natação, yoga, artes marciais e jogos cooperativos, promovem ganhos motores significativos, melhoram a qualidade e a latência do sono, reduzem comportamentos estereotipados e de auto-agressão, e favorecem a inclusão social e a interação com pares. Conclui-se que a prática regular de AF representa um recurso terapêutico relevante e complementar no manejo do TEA, demandando maior incentivo em ambientes escolares e clínicos, com a criação de programas individualizados e adaptados às necessidades específicas de cada criança.

Palavras-chave: Atividade Física; Transtorno do Espectro Autista; Habilidades Motoras; Interação Social; Sono.

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento neurobiológico com prevalência crescente, afetando aproximadamente 1 em cada 36 crianças, segundo dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention). A condição se manifesta por meio de déficits na comunicação social, padrões de comportamento restritos e repetitivos, e, muitas vezes, sensibilidades sensoriais atípicas.

Crianças no espectro tendem a apresentar menor participação em atividades físicas e habilidades motoras reduzidas em comparação com seus pares neurotípicos. Essas dificuldades podem incluir problemas de coordenação, equilíbrio e planejamento motor. A consequência direta é um estilo de vida predominantemente sedentário, que aumenta o risco de condições de saúde como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares (FERREIRA et al., 2018; YU et al., 2018).

Além das repercussões fisiológicas, o TEA afeta o bem-estar psicossocial e cognitivo. A dificuldade de interação social e os comportamentos repetitivos podem levar ao isolamento e à exclusão. No entanto, estudos recentes apontam que a atividade física (AF) exerce um papel fundamental e multi-dimensional. A prática regular de exercícios não atua apenas na prevenção de doenças crônicas, mas também promove o desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo dessas crianças (JONES et al., 2017; HEALY et al., 2018). Compreender os efeitos abrangentes da AF nessa população é essencial para fundamentar intervenções terapêuticas eficazes e integrá-las aos planos de tratamento já existentes.

Metodologia

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, um método que permite a síntese de resultados de estudos heterogêneos para aprofundar o conhecimento sobre um determinado tema. As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed Central (PMC), Google Acadêmico e Wiley Online Library, plataformas reconhecidas por abrigar publicações científicas de alta relevância.

Os descritores (palavras-chave) foram estrategicamente selecionados em português e inglês para maximizar a abrangência da busca: “atividade física AND transtorno do espectro autista”, “physical activity AND Autism Spectrum Disorder”, “exercise AND Autistic Disorder” e “physical activity AND autism”. A combinação desses termos permitiu a identificação de um amplo espectro de estudos relacionados.

Foram incluídos artigos originais (ensaios clínicos, estudos piloto, estudos de caso e protocolos de pesquisa) e de revisão (revisões sistemáticas e meta-análises) publicados entre 2016 e 2021. A escolha desse recorte temporal foi feita para assegurar a inclusão de evidências mais recentes e relevantes. Excluíram-se publicações anteriores a 2016, bem como artigos que não focavam em intervenções de AF em crianças ou adolescentes com TEA. Após uma análise criteriosa de títulos, resumos e textos completos, foram selecionados sete artigos originais e dois artigos de revisão, totalizando nove estudos para a análise final.

Resultados e Discussão

Os estudos analisados demonstraram que a atividade física (AF) promove benefícios multifacetados em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), atuando em diversas áreas de desenvolvimento. No âmbito motor, verificou-se uma melhora significativa na coordenação motora ampla, no equilíbrio estático e dinâmico, e no desenvolvimento de habilidades de locomoção, como correr, saltar e galopar. Rüger et al. (2018) mostraram que programas de exercícios baseados em jogos melhoraram a performance motora de crianças com TEA, permitindo-lhes participar de atividades recreativas com mais confiança e competência. A melhoria das habilidades motoras não só contribui para a saúde física, mas também para a autoestima e a sensação de competência.

No campo social, programas de exercícios estruturados – como a natação e as artes marciais – foram particularmente eficazes. Eles não apenas aumentaram a cooperação, a empatia e o autocontrole, mas também reduziram comportamentos problemáticos como hiperatividade, agressividade e auto-agressão. Zhao e Chen (2018) utilizaram o Social Skills Improvement System para demonstrar que crianças em programas de AF tiveram um aumento nas interações sociais positivas e uma diminuição nas disruptivas. Além disso, a prática de esportes coletivos e jogos cooperativos em grupo oferece oportunidades de aprendizado social que são difíceis de replicar em ambientes de terapia tradicionais.

Outro aspecto relevante e clinicamente significativo foi a melhora da qualidade do sono. O TEA está frequentemente associado a distúrbios do sono, que afetam o bem-estar da criança e da família. Tse et al. (2019) demonstraram que crianças submetidas à intervenção com AF reduziram a latência para o início do sono em mais de 10 minutos, o que é um resultado clinicamente relevante. Uma boa noite de sono está diretamente ligada à regulação emocional, melhoria da atenção e redução de comportamentos problemáticos durante o dia. Por fim, a prática regular de AF foi associada à redução de comportamentos estereotipados e repetitivos, como agitar as mãos e balançar o corpo. Pan et al. (2016) e Ketcheson et al. (2021) apontaram que a AF pode servir como uma ferramenta de regulação sensorial, ajudando a canalizar a energia de forma construtiva. A participação em esportes e atividades de grupo favoreceu o aumento da autoestima, a sensação de pertencimento e uma maior inclusão escolar e social, combatendo o isolamento frequentemente vivenciado por crianças com TEA.

Considerações Finais

A revisão integrativa evidenciou que a atividade física constitui uma ferramenta de intervenção eficaz, segura e complementar para crianças com TEA. Sua prática regular impacta positivamente o desenvolvimento motor, social, emocional e a qualidade do sono, oferecendo uma abordagem holística para o manejo da condição.

Os programas estruturados e contínuos, quando aplicados de forma adaptada e com o devido acompanhamento profissional (como educadores físicos e terapeutas), contribuem para reduzir o isolamento, estimular habilidades sociais, e prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas. A evidência científica atual aponta para o valor inestimável da AF como parte de um plano de tratamento integrado.

No entanto, ressalta-se a necessidade de mais estudos que avaliem diferentes metodologias de intervenção, focando na aplicabilidade em contextos escolares e clínicos reais. É crucial desenvolver e validar protocolos individualizados que considerem as especificidades sensoriais e comportamentais de cada criança no espectro. A implementação de políticas públicas e programas nas escolas pode assegurar a inclusão e a promoção da saúde dessa população, garantindo que o direito de brincar e se mover seja uma ferramenta terapêutica acessível a todos.


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