O HORÁRIO DE ALIMENTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE DIABETES MELLITUS, HIPERTENSÃO ARTERIAL, OBESIDADE E DOENÇAS CARDIOVASCULARES: UMA REVISÃO DE ESCOPO

MEAL TIMING AND THE DEVELOPMENT OF DIABETES MELLITUS, ARTERIAL HYPERTENSION, OBESITY AND CARDIOVASCULAR DISEASES: A SCOPING REVIEW

EL TIEMPO DE COMER Y EL DESARROLLO DE LA DIABETES MELLITUS, HIPERTENSIÓN ARTERIAL, OBESIDAD Y ENFERMEDADES CARDIOVASCULARES: UNA REVISIÓN DE ESCOPO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10890108


Larissa Falcão Silveira Barros1;
 Klinsmann Leopoldo Alcantara Oliveira1;
Waléria Dantas Pereira Gusmão2


RESUMO

A presente revisão de escopo aborda a influência do horário de alimentação em algumas doenças crônicas não transmissíveis, sendo elas: hipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. Com base em 17 estudos selecionados, a análise revela que a alimentação noturna pode estar associada a um maior risco dessas condições metabólicas. A revisão destaca que a distribuição adequada de macronutrientes ao longo do dia pode ser benéfica para o controle glicêmico e a prevenção dessas doenças. Estudos mostraram que a alimentação restrita de tempo precoce, pode promover a perda de peso e melhorar marcadores metabólicos, como resistência à insulina, glicemia e pressão arterial. Além disso, a alimentação noturna foi associada a uma menor sensibilidade à insulina, aumento do risco de hiperglicemia e pior controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. A presente revisão ressalta a importância de considerar os ritmos circadianos na regulação do metabolismo e sugere que a sincronização dos horários de ingestão de alimentos com esses ritmos pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde cardiometabólica e prevenir doenças metabólicas. No entanto, são necessárias mais pesquisas para entender completamente o impacto do horário de alimentação nessas condições e para desenvolver estratégias alimentares específicas para a prevenção e tratamento das doenças crônicas não transmissíveis.

Palavras-chave: Crononutrição. Diabetes mellitus. Hipertensão arterial. Obesidade. Doenças cardiovasculares.

ABSTRACT

This scoping review addresses the influence of meal timing on some chronic non-communicable diseases, namely: hypertension, diabetes, obesity, and cardiovascular diseases. Based on 17 selected studies, the analysis reveals that night-time eating may be associated with a higher risk of these metabolic conditions. The review highlights that proper distribution of macronutrients throughout the day may be beneficial for glycemic control and prevention of these diseases. Studies have shown that early time-restricted feeding may promote weight loss and improve metabolic markers, such as insulin resistance, blood glucose, and blood pressure. Additionally, night-time eating has been associated with lower insulin sensitivity, increased risk of hyperglycemia, and poorer glycemic control in patients with type 2 diabetes. The present review highlights the importance of considering circadian rhythms in the regulation of metabolism and suggests that synchronizing meal times with these rhythms may be an effective strategy to improve cardiometabolic health and prevent metabolic diseases. However, further research is needed to fully understand the impact of meal timing on these conditions and to develop specific dietary strategies for the prevention and treatment of chronic non-communicable diseases.

Keywords: Chrononutrition. Diabetes mellitus. Hypertension. Obesity. Cardiovascular diseases.

RESUMEN

La presente revisión de alcance aborda la influencia del horario de alimentación en algunas enfermedades crónicas no transmisibles, como la hipertensión, la diabetes, la obesidad y las enfermedades cardiovasculares. Basándose en 17 estudios seleccionados, el análisis revela que la alimentación nocturna puede estar asociada a un mayor riesgo de estas condiciones metabólicas. La revisión destaca que la distribución adecuada de macronutrientes a lo largo del día puede ser beneficiosa para el control glucémico y la prevención de estas enfermedades. Estudios han demostrado que la alimentación restringida en tiempo temprano puede promover la pérdida de peso y mejorar los marcadores metabólicos, como la resistencia a la insulina, la glucemia y la presión arterial. Además, la alimentación nocturna se ha asociado con una menor sensibilidad a la insulina, un mayor riesgo de hiperglucemia y un peor control glucémico en pacientes con diabetes tipo 2. La presente revisión resalta la importancia de considerar los ritmos circadianos en la regulación del metabolismo y sugiere que la sincronización de los horarios de ingesta de alimentos con estos ritmos puede ser una estrategia eficaz para mejorar la salud cardiometabólica y prevenir enfermedades metabólicas. Sin embargo, se requiere más investigación para comprender completamente el impacto del horario de alimentación en estas condiciones y para desarrollar estrategias alimentarias específicas para la prevención y tratamiento de enfermedades crónicas no transmisibles.

Palabras clave: Crononutrición. Diabetes mellitus. Hipertensión arterial. Obesidad. Enfermedades cardiovasculares.

1. INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis pela morte de cerca de 38 milhões de pessoas a cada ano, correspondendo a 70% dos óbitos em todo o mundo. Entre as DCNT, estão as doenças cardiovasculares (DCV), diabetes mellitus (DM) e doença respiratória crônica (OMS, 2016). No Brasil, em 2019, as DCNT foram responsáveis por 54,7% do total de mortes registradas (BRASIL, 2023).

De acordo com a pesquisa mais recente da OMS, uma em cada oito pessoas está vivendo com obesidade. Isso significa que mais de um bilhão de pessoas estão obesas no mundo (OMS, 2024). A prevalência de hipertensão arterial (HA) e DM, entre os brasileiros adultos foi de 27,9% e 10,2%, respectivamente, em 2023. No Brasil, em 2006, a prevalência de HA era de 22,6% e de DM era 5,3%, havendo um aumento de 5,3% e 4,9%, respectivamente, nas prevalências nos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. (BRASIL, 2007; BRASIL, 2023).

Além dos aspectos genéticos, diversos fatores contribuem para o desenvolvimento das DCNT, tais como: tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, inatividade física e alimentação inadequada (BRASIL, 2011). Apesar de bem conhecidos, esses fatores não explicam totalmente o aumento contínuo na incidência dessas doenças, a alta taxa de mortalidade associada e os custos significativos com tratamentos médicos. Por essa razão, estão sendo investigados outros aspectos, como a regulação do ritmo circadiano e os padrões de alimentação na gênese e agravamento das DCNT.

Os ritmos circadianos são ciclos biológicos que ocorrem aproximadamente a cada 24 horas e desempenham papéis fundamentais em eventos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais essenciais para a sobrevivência. Esses ritmos são regulados por sincronizadores externos, como a luz, alimentação, atividade física, entre outros (PEREIRA, TUFIK & PEDRAZZOLI, 2009).

Como a alimentação é um sincronizador de ritmos biológicos, o estudo da sua relação com as atividades biológicas vem sendo amplamente pesquisado e deu origem a área da crononutrição. A crononutrição é a ciência, relativamente nova, que busca compreender como os ritmos circadianos são influenciados pelo horário de alimentação e como a combinação de alimentos em diferentes horários do dia podem atuar nos processos metabólicos dos seres vivos (AHLUWALIA, 2022). 

Evidências sobre os comportamentos alimentares relacionados com a crononutrição e sua influência na ocorrência de obesidade, HA, DM e DCV vêm sendo construídas nas últimas décadas. Barrea et al. (2022) mostraram a associação do horário de alimentação com alteração da glicemia em jejum, pressão arterial, insulina, HoMA-IR (Homeostasis Model Assessment- Insulin Resistance) e triglicerídeos. 

Pesquisas como as de Kessler & Pivovarova (2019) e Leung et al. (2019) ressaltaram que consumir refeições em horários “errados” pode aumentar o risco de desenvolver obesidade, DM tipo 2 e DCV, destacando a importância da sincronização da ingestão de alimentos com os ritmos circadianos para a saúde metabólica. Entretanto, também há efeitos benéficos relacionando o horário da alimentação com efeitos metabólicos. Os estudos de Gupta et al. (2022) e Kessler & Pivovarova (2019) demonstraram que o horário da alimentação estava associado com a maior perda de peso e redução da circunferência abdominal.

Há alguns mecanismos já mencionados como envolvidos em alterações metabólicas que podem potencializar o surgimento de DCNT, dentre os quais: aumento da RI e ganho de peso ao comer tarde da noite (GUPTA et al., 2022) e aumento dos níveis de HoMA-IR e maior glicose pós-prandial (HENRY, KAUR & QUEK, 2020).

Mediante o exposto, o objetivo deste artigo foi realizar uma revisão de escopo investigando se o horário de alimentação pode promover alterações metabólicas, que estão envolvidas em maior risco de desenvolvimento de obesidade, HA, DM, e DCV.

2. MÉTODOS

O artigo trata-se de uma revisão de escopo que envolveu uma análise crítica de artigos da literatura e foi conduzida de acordo com a metodologia delineada por Arksey & O’Malley (2005). O relatório de pesquisa foi adaptado dos Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-análises (PRISMA). A aprovação do Comitê de Ética não foi necessária, pois o presente estudo é uma revisão de escopo.

2.1 Estratégia de pesquisa

A estratégia PECO (população, exposição, controle e resultados) foi usada para guiar o questionamento da pesquisa (Tabela 1). A pergunta central para esta revisão de escopo foi: “Qual é a associação entre o horário de alimentação e o desenvolvimento de hipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares?”. Para execução da busca nas bases de dados, inicialmente foram realizadas pesquisas para determinar as palavras-chaves ou termos MeSH (Medical Subject Headings) e os critérios de inclusão e exclusão, permitindo uma busca minuciosa e posterior análise dos artigos, aumentando a confiabilidade do estudo.

Tabela 1. Questão de pesquisa elaborada utilizando a estratégia PECO.

ItemDefinição
PopulaçãoAdultos >18 anos
ExposiçãoHorário de Alimentação
ControleAlimentação ad libido
DesfechoHipertensão, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares

2.2 Elegibilidade

A busca foi realizada nas bases de dados Cochrane, PubMed e Scielo, utilizando os termos: chrono-nutrition, chrononutrition, chrono nutrition, hypertension, diabetes, obesity e cardiovascular disease; articulados pelos operadores booleanos OR e AND. As strings de busca e os critérios de inclusão e exclusão utilizados na busca e extração dos artigos estão descritos na Tabela 2. As referências listadas nos artigos incluídos na revisão também foram analisadas para identificar estudos adicionais abordando a pergunta da pesquisa.

Tabela 2. Bases de dados, palavras-chave e critérios de busca.

Bases de dados utilizadasPalavras-chave ou termos MeSH
Cochrane(chrono-nutrition OR chrononutrition OR chrono nutrition) AND (hypertension OR diabetes OR obesity OR cardiovascular disease).
Pubmed“chrono-nutrition OR chrononutrition OR chrono nutrition” AND “hypertension OR diabetes OR obesity OR cardiovascular disease”.
Scielo((“chrono-nutrition” OR “chrononutrition” OR “chrono nutrition”) AND (“hypertension” OR “diabetes” OR “obesity” OR “cardiovascular disease”)).
Critérios de seleção para inclusão com base no título, resumo e estágio de elegibilidade
Inclusão:Exclusão:
Estudos que associem horário de alimentação com diabetes ou hipertensão ou obesidade ou doenças cardiovasculares.Estudos com crianças, adolescentes e idosos.
Estudos de revisão.Estudos experimentais (animais).
Tabela 2. Bases de dados, palavras-chave e critérios de busca (continuação).
Critérios de seleção para inclusão com base no título, resumo e estágio de elegibilidade
Inclusão:Exclusão:
Estudos que tenham sido realizados nos últimos 10 anos.Estudos com dados originais.
Disponível online com acesso gratuito e como texto completo. 

A busca foi realizada por dois revisores de forma independente, que leram atentamente o título e o resumo dos estudos para identificar artigos potencialmente relevantes que atendessem aos critérios de inclusão estabelecidos. Discordâncias quanto à elegibilidade dos artigos foram resolvidas mediante consulta a um terceiro pesquisador. Após a identificação final de todos os artigos a serem incluídos, os mesmos foram lidos, de forma cuidadosa, na íntegra.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificados 64 artigos pela estratégia de busca, sendo 15 na Cochrane, 48 na PubMed e um na Scielo. Quatro duplicatas foram detectadas e excluídas manualmente. Foram selecionados 34 artigos pela triagem quanto ao título e resumo. Posteriormente, dois artigos foram excluídos por estarem em andamento e três por não terem seus resultados divulgados até o momento da elaboração deste artigo.

Dos 29 artigos restantes, 12 foram posteriormente excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão. Os 17 artigos restantes atenderam aos critérios de inclusão e foram selecionados. Portanto, após consenso entre os dois revisores independentes, 17 estudos foram incluídos nesta revisão de escopo. Um fluxograma do processo de seleção dos estudos baseado nos critérios PRISMA está representado na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma do processo de busca e seleção dos estudos conforme o critério PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematics and Meta-Analyses).

Esta revisão de escopo, incluindo apenas revisões, revelou que existem poucos estudos investigando como o horário de alimentação interfere em alterações metabólicas, causando um maior risco de HA, DM, obesidade e DCV. Os estudos incluídos nesta revisão destacam que a alimentação predominantemente noturna pode ocasionar um maior ganho de peso e alterações nas taxas metabólicas nos indivíduos (referenciar os que foram).

A presente revisão de escopo incluiu apenas estudos envolvendo humanos, uma vez que não é adequado comparar alterações metabólicas entre seres humanos e outras espécies. O primeiro artigo investigando o horário de alimentação associado às DCNT estudadas no presente artigo foi publicado em 2015 (LAERMANS & DEPOORTERE, 2015), possivelmente devido ao grande aumento de casos de DCNT na população mundial nos últimos anos, motivando os pesquisadores a buscarem formas para elucidar a maior prevalência e maneiras de tratá-las, para além das medidas farmacológicas (Figura 2).

Figura 2. Linha do tempo de publicações e tipos de estudos incluídos nesta revisão de escopo. (LAERMANS & DEPOORTERE, 2015; POT, ALMOOSAWI & STEPHEN, 2016; ALMOOSAWI et al. 2016; POT, 2018; KESSLER & PIVOVAROVA, 2019; LEUNG et al., 2019; AHLUWALIA, 2022; CHAMBERS, SEIDLER & BARROW, 2022; GUPTA et al., 2022; PAPAKONSTANTINOU et al., 2022; TSITSOU et al., 2022; YONG, HENRY & HALDAR, 2022; YOUNG et al., 2023).

As características dos artigos selecionados são apresentadas na Tabela 3. Nela, dados foram tabulados identificando-se as seguintes variáveis: autor e ano de publicação, país, desenho do estudo, número de estudos, objetivo da revisão, principais resultados e conclusão.

Dos 17 artigos selecionados para esta revisão de escopo, nove eram revisões narrativas, cinco eram revisões de literatura, dois eram revisões sistemáticas e/ou meta-análises e um era revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados. 10 dos estudos foram realizados no continente europeu, quatro no continente oceânico, dois no continente asiático e um no continente americano.

Com base nos dados fornecidos sobre diferentes estudos relacionados ao impacto dos padrões alimentares, cronotipo e jejum intermitente na saúde metabólica, é possível realizar uma discussão abrangente sobre as descobertas e implicações dessas pesquisas.

O estudo realizado por Ahluwalia (2022) destacou os benefícios do jejum intermitente, especialmente o Tempo Restrito de Alimentação (TRF), na perda de peso e melhoria de marcadores metabólicos, incluindo resistência à insulina (RI), glicemia e pressão arterial Segundo Patterson & Sears (2017), durante o TRF, os níveis de insulina diminuem, facilitando a oxidação de gordura para obter energia. Além disso, esse padrão alimentar pode aumentar a sensibilidade à insulina, melhorando a eficiência do organismo na utilização da glicose e melhora de outros perfis metabólicos.

Na mesma linha teórica, Chambers, Seidler & Barrow (2022) observaram que o TRF mostrou benefícios significativos em comparação com a alimentação ad libitum, especialmente em condições de dieta rica em gordura, sugerindo que os mecanismos circadianos desempenham um papel importante nesses efeitos. Uma das possibilidades biológicas para a perda de peso consistem na ativação de vias metabólicas que promovem a produção de corpos cetônicos, pois durante o TRF, o organismo está em cetogênese, utilizando principalmente gordura como fonte de energia (PATTERSON & SEARS, 2017). 

Estudos como o de Almoosawi et al. (2016) e Henry, Kaur & Quek (2020) destacaram que indivíduos com cronotipo noturno tendem a ter hábitos alimentares menos saudáveis, consumindo mais energia e macronutrientes durante a noite, o que pode contribuir para problemas metabólicos e obesidade, isso pode ser explicado a partir de evidências que sugerem que vários genes envolvidos no metabolismo de substratos, como os lipídios da dieta, estão sob controle direto do ritmo circadiano, ditando seu destino metabólico para oxidação ou armazenamento.

Corroborando com o achado anterior, o estudo de Papakonstantinou et al. (2022) destacou que um jantar tardio pode levar a efeitos adversos nos perfis de glicose pós-prandial na manhã seguinte, reforçando a importância do momento das refeições na regulação da glicose e do metabolismo.

Flanagan et al. (2021) discutiram a contribuição do sistema circadiano para o controle normal da ingestão alimentar e balanço energético, destacando que a crononutrição pode fornecer uma abordagem acessível para melhorar a saúde da população, especialmente em relação a doenças metabólicas como o DM tipo 2.

De acordo com Al Abdi et al. (2020), o cerne da crononutrição abrange 3 aspectos: 1) irregularidade da ingestão energética nas refeições, 2) frequência e 3) horários da ingestão alimentar, e que todos estes aspectos devem ser observados e controlados para melhor ajuste do metabolismo de acordo com as características de atividade e repouso de cada indivíduo. 

Os estudos de Ahluwalia (2022), Chambers, Seidler & Barrow (2022) e Gupta et al. (2022) enfatizam que a TRE pode levar a melhorias nos resultados cardiovasculares, com redução da glicose em jejum, da pressão arterial e do peso corporal, fornecendo uma estratégia eficaz para melhorar a saúde cardiometabólica ao otimizar os padrões alimentares e reduzir a disrupção circadiana.

Em suma, os estudos revisados fornecem evidências da relação entre o horário e o tipo de alimentação poder influenciar o perfil metabólico de forma desfavorável, de acordo com a adequação com os ritmos circadianos, podendo ocasionar o desenvolvimento de obesidade, HA, DM e DCV. Assim, é importante considerar que a regulação do metabolismo vai além do padrão alimentar, mas também envolve a sincronização dos horários de ingestão de alimentos com os ritmos circadianos dos indivíduos, podendo ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde metabólica e prevenir DCNT.

Tabela 3. Características, tipo de estudo, objetivos, principais resultados e conclusão dos artigos incluídos na revisão.

Legenda: RI = resistência à insulina, GM = glicemia, PA = pressão arterial, CompC = composição corporal, PC = peso corporal, IMC = índice de massa corporal, EOx = estresse oxidativo, %G = gordura corporal, CC = circunferência da cintura, SI = sensibilidade à insulina, FCog = função cognitiva, SDM = saúde metabólica, IC = ingestão calórica, CT = cronotipo, PAli = padrões alimentares, MN = macronutrientes, NI = não informado, RC = ritmo circadiano, CHO = carboidratos, LIP = lipídios, DM 2 = diabetes mellitus tipo 2, PTN = proteínas, SM = síndrome metabólica, AadL = alimentação ad libitum, CN = crononutrição, eTRF = Alimentação Restrita de Tempo precoce, ♂ = homem, HP = hiperglicemia pós-prandial, CM = cardiometabólicos, RDCV = risco de doenças cardiovasculares, IA = ingestão alimentar, CAJ = ciclo alimentação-jejum, ♀ = mulher, RN = Refeições noturnas, RM = Refeições matinais, DCV = doenças cardiovasculares, TT = trabalhadores por turnos.

4. CONCLUSÃO

Os estudos revisados permitem inferir que existe relação entre o horário e tipo de alimentação e o desenvolvimento de obesidade, HA, DM e DCV. A sincronização da ingestão de alimentos com o relógio biológico emerge como uma estratégia promissora para melhorar a saúde metabólica e prevenir DCNT. No entanto, a heterogeneidade dos artigos incluídos nesta revisão, a falta de consenso em alguns aspectos e os poucos estudos encontrados ressaltam a necessidade premente de mais pesquisas. Somente com uma base de evidências mais sólida poderemos entender plenamente o impacto desses fatores na saúde metabólica e desenvolver abordagens eficazes para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

REFERÊNCIAS

AHLUWALIA, Maninder Kaur. Chrononutrition—When We Eat Is of the Essence in Tackling Obesity. Nutrients, vol. 14, n. 23, p. 5080.  Nov 29, 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9739590/. Acesso em: 22 dez. 2023.

AL ABDI, Tamara; ANDREOU, Eleni; PAPAGEORGIOU, Alexia et al. Personality, Chrono-nutrition and Cardiometabolic Health: A Narrative Review of the Evidence. Adv Nutr. vol. 11, n. 5, p. 1201-1210,  Sep 1, 2020. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7490156/>. Acesso em: 05 mar. 2024.

ALMOOSAWI, S.; VINGELIENE, S.; KARAGOUNIS, L.G. et al. Chrono-nutrition: a review of current evidence from observational studies on global trends in time-of-day of energy intake and its association with obesity. Proceedings of Nutrition Society, vol 75, n. 4, p. 487-500. Jun 22,  2016. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/proceedings-of-the-nutrition-society/article/chrononutrition-a-review-of-current-evidence-from-observational-studies-on-global-trends-in-timeofday-of-energy-intake-and-its-association-with-obesity/BBE3272849F542FE3FEC45458E061D75>. Acesso em: 05 jan. 2024.

ARKSEY, Hilary; O’MALLEY, Lisa. Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, vol. 8, n. 1, p. 19-32, 2005. DOI: 10.1080/1364557032000119616. Acesso em: 15 dez. 2023.

BARREA, Luigi; FRIAS, Evelyn; APRANO, Sara et al. The clock diet: a practical nutritional guide to manage obesity through chrononutrition. Journal of Nutritional Science, vol. 10, n. 4, p. 345-359. April 29, 2021. Disponível em:  <https://www.minervamedica.it/en/journals/minerva-medica/article.php?cod=R10Y2022N01A0172>. Acesso em: 23 dez. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2023. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2023. Brasília: MS; 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigitel/vigitel-brasil-2023-vigilancia-de-fatores-de-risco-e-protecao-para-doencas-cronicas-por-inquerito-telefonico>. Acesso em: 15 mar. 2024.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Vigitel Brasil 2006. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sócio-demográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2006. Brasília: MS; 2007. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2006.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2024.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/doencas-cronicas-nao-transmissiveis-dcnt/09-plano-de-dant-2022_2030.pdf>. Acesso em: 04 jan. 2024.

CHAMBERS, Lydia; SEIDLER, Karin; BARROW, Michelle. Nutritional entrainment of circadian rhythms under alignment and misalignment: A mechanistic review. Clinical Nutrition ESPEN. vol. 51, p. 50-71, Oct, 2022. Disponível em: <https://pdf.sciencedirectassets.com/312252/1-s2.0-S2405457722X00065/1-s2.0-S2405457722003035/main.pdf>. Acesso em: 05 jan. 2024.

FLANAGAN, Alan; BECHTOLD, David; POT, Gerda. et al. Chrono-nutrition: From molecular and neuronal mechanisms to human epidemiology and timed feeding patterns. J Neurochem. vol. 157, n. 1, p. 53-72. Apr, 2021 Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jnc.15246>. Acesso em: 06 jan. 2024.

GUPTA, Charlotte; VINCENT, Grace; COATES, Alison et al. A Time to Rest, a Time to Dine: Sleep, Time-Restricted Eating, and Cardiometabolic Health. Journal of Clinical Medicine, vol. 14, n. 3, p.420, Jan 18, 2022.  Disponível em:  <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8840563/>.  Acesso em: 27 dez. 2023.

HAWLEY, John; SASSONE-CORSI, Paolo; ZIERATH, Juleen. Chrono-nutrition for the prevention and treatment of obesity and type 2 diabetes: from mice to men. Diabetologia, vol. 63, n. 11, p.2253-2259. Aug 6, 2020.  Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007/s00125-020-05238-w>.  Acesso em: 08 jan. 2024.

HENRY, Christiani Jeyakumar; KAUR Bhupinder; QUEK, Rina Yu Chin. Chrononutrition in the management of diabetes. Nutrition and Diabetes. vol. 10, n. 1, p. 6, Feb 19, 2020. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7031264/>. Acesso em: 09 jan. 2024.

KESSLER, Katharina; PIVOVAROVA, Olga. Meal Timing, Aging, and Metabolic Health. Journal of Aging Research, vol. 20, n. 8, p.1911. April 18, 2019. Disponível em:  <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6514931/>.  Acesso em: 28 dez. 2023.

LAERMANS, J.; DEPOORTERE, I. Chronobesity: role of the circadian system in the obesity epidemic. Obesity Reviews. vol. 17, n. 2, p. 108-25, Dec 23, 2015.  Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/obr.12351>. Acesso em: 10 jan. 2024.

LEUNG, Gloria; HUGGINS, Catherine; WARE, Robert et al. Time of day difference in postprandial glucose and insulin responses: Systematic review and meta-analysis of acute postprandial studies. Chronobiology International. vol. 37, n. 3, p. 311-326,  Nov 29, 2019. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/07420528.2019.1683856>. Acesso em: 10 jan. 2024.

OMS. Organização Mundial da Saúde. Global Burden of Disease Estimates. Disponível em: http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/estimates/en/index1.html. Acesso em: 17 mar. 2024.

OMS. Organização Mundial da Saúde. One in eight people are now living with obesity. The Lancet, [S.l.], 01 mar. 2024. Disponível em:  <https://www.who.int/news/item/01-03-2024-one-in-eight-people-are-now-living-with-obesity>. Acesso em: 18 de mar. 2024.

PAPAKONSTANTINOU, Emilia; OIKONOMOU, Christina; NYCHAS, George et al. Effects of Diet, Lifestyle, Chrononutrition and Alternative Dietary Interventions on Postprandial Glycemia and Insulin Resistance. Nutrients. vol. 14, n. 4, p. 823, Feb 16, 2022. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8878449/>. Acesso em: 10 jan. 2024.

PATTERSON, R. E.; SEARS, D. D. Metabolic effects of intermittent fasting. Annual Review of Nutrition, v. 37, p. 371-393, July 17, 2017. Disponível em: <https://www.annualreviews.org/docserver/fulltext/nutr/37/1/annurev-nutr-071816-064634.pdf?expires=1711392095&id=id&accname=guest&checksum=6894A211DA2D476A36EC137391FE9201>. Acesso em: 25 mar. 2024.

PEREIRA, D. S.; TUFIK, S.; PEDRAZZOLI, M.. Moléculas que marcam o tempo: implicações para os fenótipos circadianos. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 31, n. 1, p. 63–71, mar. 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbp/a/wRRhFjGx8cCbgrDgwQ5sZQF/>. Acesso em: 24 mar. 2024.

POT, Gerda. Sleep and dietary habits in the urban environment: the role of chrono-nutrition. Proceedings of Nutrition Society. vol. 77, n. 3, p. 189-198,  Aug, 2018. Disponível em:<https://www.cambridge.org/core/journals/proceedings-of-the-nutrition-society/article/sleep-and-dietary-habits-in-the-urban-environment-the-role-of-chrononutrition/AC71726D1015598DE195BFCFF7A1B582>. Acesso em: 12 jan. 2024.

POT, Gerda; ALMOOSAWI, Suzana; STEPHEN, Alison. Meal irregularity and cardiometabolic consequences: results from observational and intervention studies. Proceedings of Nutrition Society. vol. 75, n. 4, p. 475-486, Nov, 2016. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/proceedings-of-the-nutrition-society/article/meal-irregularity-and-cardiometabolic-consequences-results-from-observational-and-intervention-studies/1969DB83C64B09E221A4B8929B7D8A8C>. Acesso em: 11 jan. 2024.

TSITSOU, Sofia; ZACHARODIMOS, Nikolaos; POULIA, Kalliopi et al. Effects of Time-Restricted Feeding and Ramadan Fasting on Body Weight, Body Composition, Glucose Responses, and Insulin Resistance: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials. Nutrients. vol. 14, n. 22, p. 4778, Nov 11, 2022. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9696013/>. Acesso em: 12 jan. 2024.

YONG, Yi Ning; HENRY, Christiani Jeyakumar; HALDAR, Sumato. Is There a Utility of Chrono-Specific Diets in Improving Cardiometabolic Health? Molecular Nutrition Food Research. vol. 66, n. 17, p.e2200043, Jul 20, 2022. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/mnfr.202200043>. Acesso em: 19 jan. 2024.

YOUNG, Isabel; POOBALAN, Amudha; STEINBECK, Katharine et al. Distribution of energy intake across the day and weight loss: A systematic review and meta-analysis. Obesity Reviews. vol. 24, n. 3, p.:e13537. Mar, 2023. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10078448/>. Acesso em: 20 jan. 2024.


 1Discentes do Curso de Graduação em Nutrição do Centro Universitário CESMAC Campus I, Maceió-AL. E-mail: larissafalcaosb@gmail.com; klinsmanna2000@gmail.com;
 2Docente do Centro Universitário CESMAC Campus I, Maceió-AL. Doutora em Ciências (USP). Mestre em Nutrição Humana (UFAL). E-mail: waleriadantasnut@gmail.com