O FUTURO E A ENERGIA RENOVÁVEL NO BRASIL

THE FUTURE AND RENEWABLE ENERGY IN BRAZIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os102411281106


Giulia de Souza Oliveira, estudante do IF Sudeste MG, Campus Juiz de Fora


Resumo

Como um dos maiores países do mundo em extensão territorial e com uma grande diversidade de recursos naturais, o Brasil possui um grande potencial para o desenvolvimento e uso de fontes de energia renovável. Apesar da matriz energética brasileira ter sido historicamente dominada pela energia hidrelétrica, o país tem passado por um processo de diversificação, especialmente com a maior utilização de energias solar, eólica e da biomassa. Portanto, o presente trabalho discute o cenário atual de energias renováveis no Brasil, apontando os principais recursos disponíveis, os obstáculos à sua expansão, a importância das políticas públicas e as perspectivas para um futuro mais sustentável. Por meio de pesquisas e análises de dados recentes, espera-se contribuir com o entendimento das oportunidades e limitações do setor, sendo possível assim, fornecer subsídios para a elaboração de políticas energéticas mais efetivas.

Palavras-chave: sustentabilidade, energia renovável, Brasil, futuro.

  • Introdução

O Brasil vem apresentando uma adoção significativa das fontes de energia renovável para a geração de eletricidade. As usinas hidrelétricas continuam sendo a principal fonte de geração de energia elétrica, respondendo por mais de 60% da produção total. Apesar de sua relevância para a matriz energética do país, esses empreendimentos têm impacto ambiental significativo, como a alteração de ecossistemas aquáticos e o deslocamento de comunidades ribeirinhas (Jornal da USP, 2024).

Possuindo um território vasto e diverso, a ampliação das fontes energéticas se torna ainda mais possível para o Brasil, segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, a região Nordeste apresenta o maior potencial solar, com valor médio do total diário da irradiação global horizontal de 5,49 kWh/m² (Pereira et al., 2017), o que o torna, como já pontuado, um território muito rentável para a geração de energia solar. O Brasil se tornou o maior produtor de energia eólica da América Latina (EPE, 2023) com uma capacidade instalada superior a 20GW e a biomassa tem se tornado cada vez mais importante, especialmente na forma de produção do etanol a partir do bagaço de cana-de-açúcar. As energias solar, eólica e biomassa em 2023 correspondiam a aproximadamente 10%, 13% e 9% respectivamente de suas capacidades instaladas (ANEEL, 2023). Números que indicam um avanço significativo, contudo ainda há um grande potencial a ser explorado, especialmente no que se refere ao aproveitamento das energias solar e eólica.

Manter a energia elétrica brasileira majoritariamente dependente das hidrelétricas, se torna especialmente perigoso em épocas de escassez de água, quando os reservatórios apresentam uma queda exponencial em seu volume hídrico. Portanto, a implementação de outras fontes de produção de energia trazem uma maior segurança energética para o Brasil.

O interesse em tornar a produção de energia do país cada vez mais sustentável vem também de um movimento mundial para a diminuição da emissão de gases poluentes e do impacto ambiental. A preocupação com as gerações futuras já modificou de forma drástica as ações de diversas empresas, tanto públicas como privadas.

No entanto, o Brasil ainda apresenta um déficit de políticas públicas para a regulamentação dessas práticas mais sustentáveis, o que se torna um entrave para que pequenas empresas tenham confiança de adentrar no mercado. Os subsídios e isenção de impostos ainda também não são uma realidade para o mercado energético sustentável brasileiro.

  • Fundamentação teórica

O Brasil figura entre os principais países com maior potencial de desenvolvimento sustentável no setor energético, sendo que tem recursos naturais e condições climáticas em que a transição forneça-se tanto. Além dos desafios e tendências mundiais para a descarbonização, a transição para uma matriz mais renovável foi concretizada com os acordos internacionais assumidos pelo país, como o Acordo de Paris.

1. Potencial Técnico e Natural

O Brasil apresenta condições únicas para o desenvolvimento de energias renováveis:

  • Energia hidrelétrica: A energia hidrelétrica é a principal fonte de energia elétrica do país, respondendo por aproximadamente 60% da matriz elétrica nacional. Embora consolidado, enfrenta desafios relacionados às mudanças climáticas e aos impactos ambientais.
  • Energia solar: O Brasil é um dos países com maior intensidade de radiação solar do mundo, o que possibilita o rápido desenvolvimento da energia fotovoltaica. Essa fonte de alimentação já representa 10% da matriz elétrica e cresce rapidamente devido à queda nos custos da tecnologia.
  • Energia eólica: O Brasil ocupa posição de destaque mundial na geração de energia eólica, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, onde os ventos são fortes e persistentes. A energia eólica representará cerca de 13% da matriz elétrica até 2023, com enorme potencial de expansão.
  • Biomassa: A extensa produção agrícola e florestal torna a biomassa e os biocombustíveis (como o etanol e o biodiesel) estratégicos para os setores de geração de energia e transporte.

2. Importância Socioeconômica

O setor de energias renováveis desempenha um papel crucial no desenvolvimento econômico e social do Brasil, destacando-se em:

  • Descentralização Energética: A expansão da energia solar distribuída tem promovido maior inclusão energética, beneficiando comunidades rurais e periféricas.
  • Redução da Dependência de Combustíveis Fósseis: O avanço das renováveis diminui a vulnerabilidade do Brasil em relação à volatilidade dos preços do petróleo e do gás natural.
  • Geração de Empregos: A indústria de renováveis é intensiva em mão de obra, especialmente nas fases de instalação e operação de usinas eólicas, solares e de biomassa.

3. Desafios e Perspectivas

Apesar do potencial, a transição para uma matriz energética 100% renovável enfrenta desafios:

  • Infraestrutura e planejamento: A expansão das energias renováveis exige a modernização dos sistemas de transmissão e a integração eficiente entre as fontes de energia.
  • Políticas públicas e financiamento: A continuidade dos incentivos fiscais e o reforço dos quadros regulamentares são fundamentais para atrair investimento.
  • Proteção ambiental: Equilibrar a expansão energética com a necessidade de proteger os ecossistemas, especialmente na Amazônia, requer políticas sustentáveis.
  • Armazenamento de energia: Soluções de armazenamento, como baterias de longa duração, são essenciais para lidar com a intermitência de fontes de energia como a solar e a eólica.
  • Metodologia

A metodologia baseou-se na coleta e a análise de dados secundários, a partir das pesquisas bibliográfica (livros, dissertações, teses, revistas especializadas, buscas na Internet e artigos científicos) e documental (dados fornecidos por instituições vinculadas ao Ministério de Minas e Energia (MME), tal como a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de legislações e informativos publicados pelo governo federal e associações de classe.

  • Resultados e Discussão

Como é possível observar no gráfico “Matriz elétrica renovável brasileira 2022” essa matriz já é em sua maior parte sustentável, contando com mais de 70% da produção de energia elétrica vinda das hidrelétricas, justamente pela abundância hídrica do país As energias solar, eólica e biomassa ainda apresentam uma pequena porcentagem desta produção, possuindo grande potencial para a ampliação dessas fontes.

O sistema fotovoltaico vem ganhando mais atenção nos últimos anos, mais estudos têm sido realizados e os custos para a instalação tiveram uma diminuição considerável. As usinas eólicas também demonstram um crescimento significativo, essa fonte de energia oferece vantagens como a geração de energia em períodos de baixa produção hidrelétrica, o que contribui para a estabilidade do sistema elétrico brasileiro. No entanto, os parques eólicos enfrentam desafios para seu desenvolvimento, problemas relacionados à infraestrutura de transmissão e a falta de investimentos. A utilização da biomassa também têm se destacado, por ser uma fonte que utiliza matéria-prima barata ela tem se tornado cada vez mais viável, o reaproveitamento de materiais que seriam descartados traz ainda mais sustentabilidade para a produção de energia. No quesito eletricidade pode-se considerar que o Brasil já apresenta ótimos números, tendo 84,8% da produção total sustentável, porém como já pontuado, o país possui um grande potencial para que no futuro toda a sua demanda elétrica seja suprida por fontes renováveis.

No gráfico “Matriz energética renovável brasileira 2022”, pode-se notar a existência de uma distribuição mais igualitária na produção das energias sustentáveis, porém ao se observar o gráfico “Total da matriz brasileira 2022”, que compara as fontes renováveis e não renováveis em sua totalidade, nota-se que a produção de energia limpa ainda é menor que a produção não renovável, representando apenas 44,8% da totalidade produzida. O petróleo e seus derivados ainda são as fontes energéticas mais utilizadas no Brasil, contudo como é sabido, o petróleo não será a solução para sempre e é uma forma de produzir energia muito prejudicial para o planeta. Portanto, o Brasil ainda se encontra em meio a um processo lento e gradual de transição energética, que deve ser trabalhado com cuidado pelo governo,

Apesar do avanço na utilização das energias renováveis, o Brasil ainda tem um grande potencial a ser explorado, para que isso aconteça diversos fatores são determinantes. As políticas públicas de incentivo, os subsídios, as isenções de impostos, o investimento em estudos para o melhoramento da produção das usinas e a regulamentação das normas de funcionamento são expressamente importantes para que o país siga uma jornada cada vez mais sustentável.

É importante enfatizar que a geração energética sustentável traz diversos benefícios para o país e para o mundo, como por exemplo, a descarbonização do planeta, a geração de empregos e mais segurança energética para o Brasil.

Matriz elétrica renovável brasileira 2022 (adaptado de BEN, 2023; total em 2022: 624,20TWh)

Matriz energética renovável brasileira 2022

(adaptado de BEN, 2023; total em 2022: 303 milhões de tep)

Total da matriz brasileira 2022

  • Conclusão.

O Brasil tem capacidade para que no futuro sua produção energética seja 100% renovável, fazendo com que o país não dependa mais do petróleo e de seus derivados, o que o elevaria ao patamar de um dos países com a energia mais limpa e sustentável do mundo.

Para que o Brasil possa continuar seguindo uma jornada cada vez mais sustentável é de extrema importância que políticas públicas regulatórias sejam criadas, benefícios e isenções de impostos também são muito válidos.

Os estudos e o aprimoramento das técnicas de produção para que haja um maior aproveitamento das fontes sustentáveis e para que os valores de instalação, manutenção e distribuição se tornem cada vez mais competitivos frente a outras formas de produção não renováveis, também são decisivos.

  • Referências

ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Atlas da Energia Elétrica do Brasil, 1 ºedição, 2002.

ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Energia no Brasil e no Mundo, parte I. 2007.

ANEEL, Agência Nacional De Energia Elétrica, (SIGA), Capacidade de Geração do Brasil. Disponível em: https://bit.ly/2IGf4Q0. Acesso em: 24 de junho de 2024.

APN, Agência Nacional do Petróleo, 2022. Disponível em http://www.anp.gov.br. Acesso em: 25 de março de 2024.

ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Relatório de avaliação estratégica, 2023.

BEN, Balanço Energético Nacional. Relatório síntese: ano base 2019, 2020 https://www.epe.gov.br. Acesso em; 9 de junho de 2024.

BEN, Balanço Energético Nacional. Relatório de síntese: ano base 2022 Disponível em: https://www.epe.gov.br. Acesso em: 19 de junho de 2024.

BEN, Balanço Energético Nacional. Relatório Final: ano base 2022. 2023. Disponível em: https://www.epe.gov.br. Aceso em: 15 agosto de 2024.

EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Plano Nacional de Energia 2030.

Caderno 11: eficiência energética. Brasília, 2007d. Disponível em: http:

www.epe.gov.br. Acesso em: 12 de outubro de 2024.

EPE, Empresa de pesquisa energética, Balanço energético nacional, 2023. Disponível em: http: www.epe.gov.br. Acesso em: 22 de julho de 2024.

EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Atlas da eficiência energética, 2022 Disponível em :https://www.epe.gov.br. Acesso em: 10 de janeiro de 2024.

Jornal da USP, Hidrelétricas são responsáveis por mais de 60% da geração de energia elétrica brasileira, 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br . Acesso em: 26 de novembro de 2024.

MME, Ministério de Minas e Energias. Analise energética e dados agregados, 2009. Disponível em:

https://ben.epe.gov.br/BENSeriesCompletas.aspx. Acesso em: 17 de junho de 2024.

PEREIRA, E.B., et al, Atlas Brasileiro de Energia Solar, 2ª Edição, 2017.