O ENVELHECIMENTO HUMANO E A FORMAÇÃO MÉDICA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO DO EXTREMO SUL DA BAHIA, BRASIL.

HUMAN AGING AND MEDICAL EDUCATION IN EDUCATIONAL INSTITUTIONS IN THE FAR SOUTH OF BAHIA, BRAZIL.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410171156


Saraiva, B.T.¹; Oliveira, C.G.²; Souza, L.D.P.²; Guimarães, M.S.4; Orientador: Batista, G.A.S.5.


RESUMO

Diante das mudanças na composição demográfica do Brasil, com o aumento da proporção de idosos, novos desafios e oportunidades estão surgindo. A chamada inversão da pirâmide etária demanda adaptações em várias áreas, como saúde e previdência. O objetivo deste é analisar como o envelhecimento humano é incorporado nas instituições de ensino de graduação em medicina do Extremo Sul da Bahia. Trata-se de uma pesquisa documental de carater exploratório, do tipo descritivo, e de natureza qualitativa, que tem como sujeitos de estudo Instituições de Ensino Superior (IES) do Extremo Sul da Bahia que ofertam o curso de Medicina. Os dados foram coletados a partir dos Projetos Pedagógicos do Curso (PPC) e das matrizes disponíveis nos sites das instituições. Houve uma comparação entre os PPCs, as matrizes curriculares e os requisitos mínimos estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) para uma formação médica adequada em saúde do idoso. A presença de disciplinas relacionadas ao envelhecimento ao longo dos seis anos do curso de Medicina também foi investigada. Os documentos analisados demostraram que apenas uma (33,3%) das instituições ofertava disciplinas específicas à saúde do idoso de modo autônomo. Outras duas IES (66,6%) apresentavam conteúdo relacionado ao idoso inserido dentro de outra disciplina. Além disso, foi evidenciado que nenhuma das IES estudadas atenderam a todos os requisitos básicos solicitados pela SBGG. Para satisfazer as necessidades de uma sociedade em envelhecimento é importante que as Instituições de Ensino Superior adaptem de forma contínua os seus currículos, a fim de incluir conteúdos relevantes aos idosos. Isto irá garantir que os futuros médicos estejam preparados para prestar cuidados adequados aos desafios clínicos da terceira idade.

Palavras-chave: Saúde do Idoso. Instituições de Ensino Superior. Avaliação curricular das escolas médicas. Envelhecimento. Educação de graduação em Medicina.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Vasconcelos & Gomes (2012), a população brasileira iniciou seu processo de modificação na estrutura etária por volta de 1970. As quedas consecutivas da natalidade e da mortalidade resultaram em uma estrutura da pirâmide populacional mais próxima de um perfil retangular a partir de 2010, com um aumento significativo da população em idade ativa e idosos. A mudança na estrutura etária de uma população é um fenômeno demográfico que acomete diversos países e regiões independentemente de suas peculiaridades sociais e econômicas (Lebrão, 2007). Essas modificações representam o fenômeno conhecido como transição demográfica, que é a mudança de um estado populacional no qual há altas taxas de fecundidade e mortalidade para uma fase de níveis mais baixos em ambas as variáveis (Rigotti, 2012).

Nesse contexto, surgem também as mudanças epidemiológicas, as quais vêm ocasionando um aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, que se apresentam em maior número e frequência a partir dos 60 anos de idade, sendo as principais: doenças osteoarticulares e cardiovasculares (Pereira, Alves-Souza & Vale, 2015).

Outro dado que demonstra esse aumento da longevidade é que, no Brasil, a expectativa de vida em 2021, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 77 anos de idade, não levando em conta os dados da pandemia da covid-19. Além disso, em 2040, o IBGE faz uma projeção de que a esperança de vida nas mulheres aumente para 81,76 anos e os homens para 73,09 anos, o que evidencia o acelerado crescimento da massa de idosos na população geral.

Essa transformação na demografia evidencia um progressivo envelhecimento da população, fato que tem como principais causas as melhorias sanitárias, os avanços nas áreas de pesquisa científica e medicina, a evolução nas terapêuticas e medicamentos e melhorias nas condições de nutrição (UNFPA  BRASIL, 2020).

Por conta das diversas modificações expostas e o aumento da demanda por cuidados na terceira idade, no Brasil, ao longo dos anos, uma série de políticas e regulamentações foram propostas para cuidar da assistência à saúde do idoso, as quais tiveram início em 1994 com a promulgação da Política Nacional do Idoso, que foi regulamentada em 1996, a qual assegura diversos direitos à pessoa idosa (Brasil, 2006). Além disso, o documento já citado, em conjunto com o Estatuto do Idoso, também define a inserção de abordagens relacionadas ao envelhecimento em todos os níveis de educação (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA, 2010). Porém, como destacam Brasil & Batista (2015), esse envelhecimento é vislumbrado de duas maneiras no Brasil: por um lado representa um fator de progresso e avanço na sociedade e economia, e por outro é tido como mais um “problema” a ser priorizado e solucionado, principalmente no âmbito da saúde. Segundo Renato Veras (2009), uma população mais idosa tem necessidades e problemas de saúde que diferem das demais idades, e, portanto, precisa de um sistema de saúde que esteja preparado para acolher suas disposições e dificuldades particulares.

Apesar de todas as implementações expostas, ainda hoje, no Brasil, a assistência à saúde do idoso não se encontra totalmente assegurada, uma vez que há, ainda, no período da graduação universitária, uma divulgação escassa do conhecimento geriátrico pelos profissionais de saúde, já que o ensino da Geriatria e a Gerontologia está presente em menos da metade dos currículos pedagógicos de graduação médica das escolas brasileiras, o que acaba contribuindo ainda mais para as dificuldades no atendimento desses pacientes (Brasil & Batista, 2015).

Ademais, o Brasil viu um aumento significativo na população idosa, a qual dobrou em números absolutos. Esse crescimento trouxe consigo uma série de desafios que demandam uma reavaliação profunda de conceitos, parâmetros e modelos de serviços e programas destinados a atender melhor essa parcela da sociedade. Novas questões emergiram, junto com demandas específicas, tornando essencial uma abordagem mais eficaz para atender às necessidades da população idosa (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA,  2023).

Somado a isso, tem-se a ausência de conformidade da maioria das instituições de ensino brasileiras com o atual processo de transição demográfica, o que gera como consequência a falta de conteúdos geriátricos nos currículos (Diogo, 2024).

Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) (2014) dos cursos de graduação em Medicina destacam a importância de ser abordada a promoção da saúde em todas as fases do ciclo de vida, ressaltando, de forma indireta, a saúde do idoso. Nesse viés, as DCN´s desempenham um papel fundamental ao definir os princípios e objetivos da graduação em Medicina, buscando formar médicos generalistas completos, que devem ser capazes de atuar em diferentes contextos de saúde e de oferecer cuidados individualizados, respeitando a diversidade da população. Corroborando isso, a Lei nº 12.871, de 2013, do Programa Mais Médicos, representou um importante passo no ensino médico brasileiro, pois tornou obrigatório que as graduações em Medicina sigam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) (BRASIL, 2014).

Desse modo, é imprescindível que, desde o meio acadêmico, a formação médica contemple temas e disciplinas voltadas à saúde do idoso, a fim de que esse profissional saia preparado para atender essa parcela da população que cada vez mais constitui um número crescente de usuários do sistema de saúde. Portanto, é importante saber: de que maneira o envelhecimento humano é incorporado nas instituições de ensino de graduação em medicina? A partir disso, esse estudo tem como objetivo principal: analisar como o envelhecimento humano é incorporado nas instituições de ensino de graduação em medicina do Extremo Sul da Bahia.

2 METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa documental de carater exploratório, do tipo descritivo e de natureza qualitativa, que tem como objetivo analisar como o envelhecimento humano é incorporado no currículo das instituições de ensino de graduação em medicina do Extremo Sul da Bahia. 

A pesquisa documental é um conhecimento comum em diversas disciplinas das ciências sociais, que se apoia em uma ampla gama de documentos produzidos com diferentes finalidades (GIL, 2017).

O estudo foi desenvolvido a partir de três etapas: (1) pré-análise, (2) exploração dos dados e (3) tratamento dos dados. Na primeira parte, denominada pré-análise, foram incluídas todas as

Instituições de ensino superior (IES) do Extremo Sul da Bahia devidamente cadastradas no Ministério da Educação (MEC), totalizando um grupo de 11 instituições. Em seguida, foram excluídas apenas as IES que não possuem graduação em medicina em seu conjunto de cursos, totalizando no final de 04 (quatro) para serem analisadas, porém uma das IES não foi identificada o PPC e as matrizes curriculares, no site institucional (intitulada IES 4). Nesse sentido, procedeu-se as buscas pelos documentos que constituíram o material de análise.

Na segunda parte, os documentos foram minuciosamente analisados com a finalidade de levantar as informações necessárias deste estudo. Para esta etapa, foram analisados os PPCs objetivando extrair informações referente ao envelhecimento humano na formação médica. Assim, palavras-chave foram estabelecidas para sistematizar a coleta de dados nos documentos pedagógicos institucionais: velhice, envelhecimento, senilidade, idoso, geriatria, gerontologia, envelhecer, pessoa idosa e senescência.

Além disso, também foram utilizados como parâmetro os conteúdos mínimos em envelhecimento humano, descritos nas Diretrizes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia sobre conteúdo de disciplinas/módulos relacionados ao envelhecimento (Geriatria e Gerontologia) nos cursos de medicina.

A partir da categorização das informações levantadas, os resultados obtidos passaram por diversas fases de tratamento, até chegar a terceira e última etapa do estudo, associado com o cotejamento do referencial teórico.

3 RESULTADOS 

3.1 Análise dos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Medicina do Extremo Sul da Bahia

Tabela 1 – Oferta de disciplinas curriculares que abordam o envelhecimento humano nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Ensino Superior (IES) do Extremo Sul da Bahia.

IESAno de criação do cursoPresença de disciplinas específicas para  saúde do idosoAtividades extracurriculares sobre saúde do idoso (estágios)Tipo de instituição
IES 12014NãoNãoPúblico
IES 22018SimNãoPrivado
IES 32020NãoNãoPrivado
IES 42022Sem dadosSem dadosPrivado
Fonte: Elaborada pelos autores, 2024.

Após a busca e análise dos PPCs das 03 IES de medicina reconhecidas pelo Ministério da Educação e que possuíam o plano curricular disponível na íntegra, inferiu-se que apenas uma (33,3%) das faculdades ofertavam disciplinas especificas à saúde do idoso de modo autônomo. Outras IES (66,6%) apresentavam conteúdo relacionado ao idoso inserido dentro da disciplina, em uma dessas IES a disciplina era denominada Práticas Médicas l (clínica/pediatria) e a outra era denominada Propedêutica dos Problemas de Saúde.

Nesse ínterim, é necessário salientar que não foi possível a verificação minuciosa dos assuntos abordados dentro de cada módulo descrito no PPC de uma instituição (33,3%), visto que, havia apenas informações referente ao título de cada disciplina estudada durante a graduação. Nas outras duas IES (66,6%) foram possíveis identificar cada subtópico abordado no módulo de saúde do idoso.

De modo geral, pode-se afirmar que cerca de 66,6% das instituições de ensino superior (IES) não oferecem uma disciplina que aborde detalhadamente as particularidades associadas ao processo de envelhecimento.

A IES 2, que abordava de forma autônoma em sua grade curricular a disciplina de saúde do idoso, a nomeou de “processo do envelhecimento”, tinha carga horária total de 160 horas e estava inclusa para estudo no quarto semestre da graduação. Não havia informações disponíveis na íntegra sobre os módulos estudados na disciplina “processo do envelhecimento”.

Após isso, foi realizada uma análise do conteúdo das matrizes curriculares através de palavraschave predefinidas, as quais indicaram a presença ou ausência de termos relacionados à saúde do idoso nos documentos analisados. As seguintes palavras-chave foram escolhidas: transição demográfica, transição epidemiológica, pessoa idosa, envelhecimento, senilidade, idoso, geriatria, gerontologia, envelhecer e senescência.

Ademais, a Instituição de Ensino Superior 4 (IES 4) não foi incluída na análise devido à indisponibilidade de seu plano pedagógico em acesso público, o que impossibilitou uma avaliação detalhada de suas práticas pedagógicas nessa área e, consequentemente, a inclusão de seus dados nos resultados gerais da pesquisa.

Acerca da busca das palavras-chave mencionadas acima foram encontrados no PPC da IES 1 os seguintes termos: pessoa idosa, envelhecimento e idoso. Já na IES 2 houve a menção dos seguintes termos: pessoa idosa, envelhecimento, idoso, geriatria e senescência. Por fim, na IES 3 foram localizadas as seguintes palavras: idoso, geriatria e gerontologia.  

Dessa forma, evidencia-se que a IES 2 apresenta um maior acervo de conteúdos relacionados ao processo de envelhecer em sua matriz curricular, o que parece mostrar, em uma primeira análise, um maior preparo acadêmico relacionado ao atendimento dessa parcela da população para os seus discentes.

3.2 Conteúdos mínimos em envelhecimento humano, descritos nas Diretrizes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, encontrados nos projetos pedagógicos e matrizes curriculares dos cursos de medicina das IES do Extremo Sul da Bahia

Para se chegar em uma relação entre as matrizes curriculares estudadas e o os conteúdos mínimos requeridos pela SBGG foi preciso analisar os dados de todos os documentos coletados.

Tabela 2 – Conteúdos mínimos em envelhecimento humano descritos nas Diretrizes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, encontrados nos projetos pedagógicos e matrizes curriculares dos cursos de medicina das IES do Extremo Sul da Bahia, 1° ao 12° período.

REQUISITOS MÍNIMOS (SBGG)IES 1IES 2IES 3
Unidade I — Introdução Estudo da velhice✔️✔️X
Unidade II — Biologia do envelhecimentoSEM DADOS✔️X
Unidade III — Síndromes geriátricasSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade IV — Semiologia e atendimento ao idoso✔️✔️✔️
Unidade V — Políticas de atenção ao idosoSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade VI — Ética, bioética e espiritualidade no envelhecimentoSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade VII — Avaliação do idoso✔️✔️✔️
Unidade VIII — Farmacoterapia no envelhecimentoSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade IX — Apresentação atípica das doençasSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade X — Distúrbios da marcha do equilíbrio e quedasSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade XI — Distúrbios cognitivosSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade XII — Promoção de saúde e prevenção de doenças✔️✔️X
Unidade XIII — Cuidados paliativosSEM DADOSSEM DADOSX
Unidade XIV — Cuidados na hospitalização de idososSEM DADOSSEM DADOSX
X: ausência de requisitos / ✔️: presença dos requisitos / Fonte: Elaborada pelos autores, 2024.

De acordo com as informações apresentadas na tabela 2, nenhuma das faculdades estudadas atenderam a todos os requisitos básicos solicitados pela SBGG. Além disso, a IES 4 não participou da análise, devido a indisponibilidade de localização do seu PPC em domínio público. 

Em apenas uma das grades curriculares das faculdades de medicina (IES 2), analisada e comparada com o conteúdo mínimo exigido pela SBGG, havia a inclusão de disciplina específica para o envelhecimento humano. Nas IES 1 e 3, as disciplinas voltadas ao processo de senilidade estavam inseridas dentro de outras matérias não específicas para o tema da saúde do idoso.

4 DISCUSSÃO

Uma primeira análise da pesquisa aponta que apenas 33,3% das IES do Extremo Sul da Bahia ofereciam conteúdos de geriatria como uma disciplina isolada aos alunos da graduação médica, já outros 66,6% incluíam conteúdos relacionados ao envelhecimento de forma mesclada em outras denominações de disciplinas, o que evidencia uma lacuna na formação dos futuros médicos para lidar com a crescente demanda de uma população que está em processo de envelhecimento. Segundo Diogo MJD’E (2024), a escassez de conhecimento gerontogeriátrico dos profissionais da saúde é uma questão preocupante. Essa lacuna no conhecimento é agravada pela ausência de sintonia da maioria das IES brasileiras com o atual processo de transição demográfica e suas consequências médico-sociais.

De modo geral, pode-se afirmar que aproximadamente 66,6% das IES não abordam diretamente uma disciplina que contemple de forma minuciosa as particularidades associadas ao processo de senilidade. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) a Bahia enfrenta um cenário preocupante em relação à saúde dos idosos devido a um número crescente da população e apenas 2.670 geriatras titulados, no ano de 2023.

Um segundo resultado da pesquisa de análise das grades curriculares das IES destacou um significativo vácuo na formação médica voltada para a saúde do idoso. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) preveem a integração entre teoria e prática, pesquisa e ensino, e entre os conteúdos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais da saúde e doença. Isso inclui a atenção ao idoso, já que o envelhecimento é parte do ciclo de vida. No entanto, a análise dos currículos de medicina da IESs do Extremo Sul da Bahia indica que a inclusão de geriatria ainda é insuficiente.

As diretrizes mencionadas já contemplam os conhecimentos e habilidades necessárias para a atenção ao idoso, mas cabe às instituições implementá-las de forma eficaz. É necessário revisar e adaptar os currículos para incluir conteúdos específicos sobre o envelhecimento humano, preparando os futuros graduandos para os desafios da prática clínica com a terceira idade (BRASIL, 2014).

Em última análise, segundo resultado da pesquisa dos planos pedagógicos das IES e baseado nos conteúdos mínimos exigidos pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), destacou-se uma significativa lacuna formação médica voltada para a saúde do idoso.

Esse resultado é congruente com as ideias de Xavier e Koifman (2011), que apontam a escassez de conteúdos sobre o envelhecimento nos cursos de graduação em saúde.

Nesse sentido, a institucionalização de disciplinas voltadas para saúde do idoso ainda não é um pilar educacional efetuado nos projetos pedagógicos curriculares das faculdades de medicina, conforme institui as DCNs, as quais destacam como habilidade necessária para o médico a capacidade de fazer o diagnóstico e o tratamento das doenças em todas as etapas e ciclos biológicos do ser humano. Diante desse cenário, seria imprescindível a exigência de disciplina com carga horária curricular mínima reconhecida pelo MEC e voltada ao estudo do processo de envelhecimento, além do correto cumprimento das diretrizes.  

Conclui-se que há um desequilíbrio entre a demanda por cuidados geriátricos e a oferta de especialistas. Esse descompasso pode ser agravado pela falta de conteúdos introdutórios à Geriatria na graduação médica. Essa lacuna na formação dos futuros médicos pode gerar desinteresse pela área, perpetuando o ciclo de escassez de ensino.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido ao processo contínuo de transição demográfica e epidemiológica, as quais têm como consequência o envelhecimento populacional e aumento de doenças crônicas não transmissíveis, houve uma significativa expansão da complexidade do cuidado, uma vez que esse contexto causa grandes modificações no perfil dos pacientes e nas doenças mais prevalentes, já que os idosos irão passar a representar um número cada vez maior de usuários do sistema de saúde e trazer consigo morbidades particulares de seu processo de senescência.

Nesse estudo, algumas limitações consideráveis foram encontradas. Primeiramente, a investigação e análise dos dados foi realizada com uma pequena amostra, a qual ficou restrita às faculdades do Extremo Sul da Bahia, fator que pode prejudicar a generalização dos resultados. Essa restrição chama a atenção para a necessidade de que sejam realizadas pesquisas mais abrangentes incluindo instituições de ensino de diferentes regiões do país, no intuito de fornecer resultados mais vastos sobre o tema. Além disso, outro desafio encontrado foi a não disponibilidade do projeto pedagógico curricular de uma das instituições da região estudada para acesso livre na internet, o que dificultou um exame mais completo das condutas educacionais do Extremo Sul da Bahia. Essas questões apontam a necessidade de incentivo à pesquisas futuras sobre o tema.

Dessa forma, torna-se essencial que, ainda na formação médica, sejam oferecidos aos profissionais meios para adquirir uma boa competência no enfrentamento desse novo perfil epidemiológico.

Sendo assim, fica em destaque a urgente necessidade de que haja uma reavaliação e incorporação de conteúdos específicos sobre o envelhecimento nos currículos médicos, a fim de garantir que os graduandos estejam devidamente capacitados para enfrentar os desafios da prática clínica com a população idosa e pratiquem seu exercício médico conforme os princípios propostos na Política Nacional do Idoso, sancionada em 1994, a qual prevê direitos, autonomia e integração social da pessoa idosa.

Os resultados desse estudo mostraram que ainda há um descompasso entre essa realidade de uma população cada vez mais idosa com a oferta de matérias voltadas ao processo de envelhecimento nas graduações de Medicina da região estudada, cenário que justifica a necessidade de mudanças e reavaliações nessas grades curriculares, a fim de abranger o cuidado global dos pacientes em todas as fases de sua vida.

Uma vez que as diretrizes curriculares têm o objetivo de orientar toda a graduação em Medicina e os conteúdos e matérias a serem abordados durante os anos de estudo, se os temas referentes à saúde do idoso não forem contemplados de forma integral e apenas abordados superficialmente, cria-se uma lacuna na enfatização das peculiaridades do processo de envelhecer, o que leva a um cuidado defasado e negligenciado a essa parcela da população.

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¹Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: brendasaraivat@hotmail.com
²Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: claragama09@gmail.com
³Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: leyladayane18@gmail.com
4Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: medmonise2021@hotmail.com
5Docente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: gleison16@hotmail.com