REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7831297
Vinicius Costa Maia Monteiro1
Francisca Eduarda de Souza Leite2
Maria Jane Eyre Santiago Ribeiro3
Jocasta Maria Oliveira Morais4
Michelle Vanessa Pedroso de Figueiredo da Silva5
Márcia Tamires Uchoa Bezerra6
Andréa Ovando Moraes7
Maria América Filgueiras dos Santos8
Thuanny Ferrer Saraiva Rodrigues Campos9
Patricia Garcia da Silva Gondim de Vasconcelos10
Tayane Moura Martins11
Lais Souza dos Santos12
João Lucas dos Reis Cozer13
Ana Gabrielle Pinto dos Santos14
Maria Artunilda Bezerra Pinho15
Marcelo Robert Fonseca Gontijo16
Andréa Márcia Soares da Silva17
Rafael de Sousa Pereira18
RESUMO
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa, que teve como objetivo compreender o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero, no cotidiano da Atenção Primária à Saúde. Para isso, realizou-se levantamento bibliográfico nas bases da BVS, LILACS, SciELO, com artigos publicados no período de 2010 a 2017, utilizando os descritores em Saúde: câncer do colo de útero, prevenção, detecção e enfermeiro, com a amostra final constituída por 12 produções. Enquanto critérios de inclusão foram selecionados os artigos relacionados com a temática abordada nesta pesquisa, publicados na íntegra, em língua portuguesa. Como critérios de exclusão: os artigos que não apresentaram em seu título a correlação entre o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero, no cotidiano da Atenção Primária à Saúde, e os artigos que trabalhavam ou abordavam somente a evolução e os tratamentos de câncer de colo de útero. A pesquisa desenvolvida demonstrou importantes avanços, no entanto é preciso superar alguns desafios, principalmente na acessibilidade aos serviços, para propiciar a uma melhor vinculação entre enfermeiros e esta população em destaque. Nesse aspecto, o enfermeiro exerce papel importante desde a prevenção na atenção primária e a detecção da doença, bem como no decorrer de todo tratamento, com orientações e ações direcionadas para a prevenção de agravos e o autocuidado.
DESCRITORES: Câncer do colo de útero; Prevenção; Detecção; Enfermeiro.
INTRODUÇÃO
O câncer é um processo patológico que começa quando uma célula anormal é transformada por mutação genética do DNA. Essa célula anormal forma um clone e começa a se proliferar de maneira anormal, ignorando os sinais de regulação do crescimento no ambiente que circunda a célula. As células adquirem características invasivas, e as alterações têm lugares nos tecidos circunvizinhos.1
O Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2014) afirma que o câncer do colo do útero (CCU) é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. E complementa que há “duas principais categorias de carcinomas invasores do colo do útero, dependendo da origem do epitélio comprometido: o carcinoma epidermóide”, considerado o tipo mais incidente onde “acomete o epitélio escamoso” e o “adenocarcinoma, tipo mais raro e que acomete o epitélio glandular” sendo suas estimativas de 80% e 10% dos casos respectivamente.2
Mulheres com doenças sexualmente transmitidas (DST) apresentam lesões precursoras do câncer do colo do útero “cinco vezes mais frequentemente do que aquelas que procuram outros serviços médicos”, concluindo assim que, “essas mulheres têm maior risco para câncer do colo do útero, principalmente se houver infecção pelo HPV (Papiloma vírus Humano)”3. E indica ser “razoável que mulheres com DST sejam submetidas à citopatologia mais frequentemente, pelo seu maior risco de serem portadoras de câncer do colo do útero ou de seus precursores”. Uma vez que a indicação para a realização do exame é anual, em casos de resultados normais e semestralmente para mulheres cujos resultados foram detectados algum tipo de achado clínico fora dos padrões de normalidade.3
O exame preventivo ou papanicolau trata-se de um teste realizado para detectar alterações nas células do colo do útero. Este exame também pode ser chamado de esfregaço cervicovaginal e colpocitologia oncótica.2 É considerada a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico da doença podendo ser realizado em unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados, como médicos e/ou enfermeiros.2
Um olhar mais singular à mulher permite compreender melhor angústias e medos diante do tratamento e processos realizados para a cura do câncer, principalmente quando se trata de procedimento cirúrgico. O abalo psicológico é inevitável nesse sentido, pois, as mudanças físicas e psíquicas, que vão desde o papel social ao estilo de vida até a interrupção de planos futuros são considerações importantes para a paciente diagnosticada com câncer. E quando se trata de câncer de colo do útero é um motivo de grande temor nas mulheres, pelo fato da doença em si e também pela decorrência elevada à morbi-mortalidade.4
Sabe-se que a assistência prestada pelo enfermeiro é de fundamental importância desde a consulta na atenção básica até a detecção precoce da doença, bem como no decorrer de todo o tratamento com orientações e ações voltadas para o autocuidado e autoestima. Deste modo, a presente pesquisa tem como objetivo compreender o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero no cotidiano da Atenção Primária à Saúde.
MÉTODO
Estudo de revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa, para a identificação de produções sobre o tema o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero, no cotidiano da Atenção Primária à Saúde. Adotou-se a revisão integrativa de literatura, uma vez que ela tem como propósito geral numa pesquisa “reunir conhecimentos sobre um tópico, já que é conduzida de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos independentes sobre o mesmo assunto”.5
Foram adotadas as seis etapas indicadas para a constituição da revisão integrativa da literatura: 1) seleção da pergunta de pesquisa; 2) definição dos critérios de inclusão de estudos e seleção da amostra; 3) representação dos estudos selecionados em formato de tabelas, considerando todas as características em comum; 4) análise crítica dos achados, identificando diferenças e conflitos; 5) interpretação dos resultados e 6) reportar, de forma clara, a evidência encontrada.5
A estratégia de identificação e seleção dos estudos foi a busca de publicações de artigos indexados nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).
A formulação da questão norteadora deste estudo foi definida a partir do seguinte questionamento: qual o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero?
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos relacionados com a temática abordada nesta pesquisa, publicados na íntegra, em língua portuguesa, no período de 2010 a 2017. Como critérios de exclusão: os artigos que não apresentaram em seu título a correlação entre o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero, no cotidiano da Atenção Primária à Saúde, e os artigos que trabalhavam ou abordavam somente a evolução e os tratamentos de câncer de colo de útero. O recurso utilizado na pesquisa foi a expressão “termo exato”, associada aos descritores específicos: Câncer do colo de útero; Prevenção; Detecção; Enfermeiro.
Após essa etapa, foi realizada uma avaliação crítica dos estudos, realizando uma síntese dos mesmos para melhor compreensão sobre o conteúdo abordado, assim como foi articulada uma discussão dos resultados. Do material selecionado, 18 artigos, procedeu-se à leitura minuciosa de cada resumo/artigo, destacando aqueles que responderam ao objetivo proposto por esta pesquisa, a fim de organizar e tabular os dados. Para a organização e tabulação dos dados, as pesquisadoras elaboraram instrumento de coleta de dados composto por: referência, base de indexação, ano de publicação, país do estudo, natureza do estudo, referencial teórico, método de análise, assistência de enfermagem, enfermagem e câncer de colo do útero, detecção precoce ao câncer de colo do útero e o papel do enfermeiro no combate ao câncer de colo do útero. Seguindo os critérios de inclusão, 12 estudos foram selecionados para análise, os quais estão referenciados na presente pesquisa.
Os trabalhos foram comparados e agrupados por similaridade de conteúdo, sob a forma de categorias empíricas, sendo construídas 4 (quatro) categorias para análise, assim especificadas: Políticas públicas em saúde e práticas para a prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero no cotidiano da Atenção Primária à Saúde; Atribuições do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero; Fatores que dificultam na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero; Fatores que contribuem na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero.
Os aspectos éticos foram respeitados, na medida em que os autores dos artigos selecionados foram referenciados ao longo do trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, encontram-se expostos no quadro (Quadro 1) os artigos analisados neste estudo. Os artigos estão identificados (ID) como A1 até A12, seguidos da referência, base de indexação e o ano de publicação. Deste modo, após a apresentação do quadro será apresentada a discussão dos resultados.
Quadro 1: Artigos selecionados e analisados nesta pesquisa.
Políticas públicas em saúde e práticas para a prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero no cotidiano da Atenção Primária à Saúde
Em 1984, o governo elaborou o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) onde teve por objetivo promover a assistência integral à saúde da mulher, com vistas à redução da morbimortalidade deste grupo populacional, pois nesse contexto, apresentava relevância o câncer do colo uterino e da mama, caracterizados pelos elevados índices de incidência e mortalidade que justificavam o direcionamento das ações de rastreamento e diagnóstico precoce, por meio da coleta do exame citopatológico, do exame clínico de mama e da mamografia.6
Os elevados índices de incidência e mortalidade por câncer do colo do útero e da mama no Brasil justificam a implantação de estratégias efetivas de controle dessas doenças que incluam ações de promoção à saúde, prevenção e detecção precoce, tratamento e de cuidados paliativos, quando esses se fizerem necessários.3 Foi preocupado com esse cenário, que o Ministério da Saúde lançou um Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis, para o período 2011-2022, no qual o controle dessa neoplasia é uma de suas prioridades. Entretanto, seu adequado controle requer a utilização de recursos diagnósticos, terapêuticos e de informação cada vez mais complexos.7
A Portaria n° 2.048, de três de setembro de 2009, incorporou a Política Nacional de Atenção Oncológica definindo como componentes fundamentais ao controle do câncer, as seguintes estratégias de promoção e vigilância em saúde: “estímulo à alimentação saudável e à prática da atividade física; redução e controle de fatores de risco; melhor qualidade de vida; superação da fragmentação das ações de saúde, articulando diversos setores em busca de maior efetividade e eficiência; e preservação do meio ambiente”.3 E complementa que as “ações de prevenção da saúde são uma estratégia fundamental, não só para aumentar a frequência e adesão das mulheres aos exames, como para reforçar sinais e sintomas de alerta, que devem ser observados pelas usuárias”.3
Conforme afirma A1 (p. 390)8, as Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) são consideradas porta de entrada do usuário no sistema de saúde, e é o espaço em que o enfermeiro é considerado como profissional importante na equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família (ESF). A10(p. 99)9 também enfatiza a importância do Programa de Saúde da Família com o importante papel na identificação de grupos de mulheres com perfil de risco para desenvolver o câncer cérvico-uterino e, com base nas necessidades levantadas, cabe ao PSF implementar ações de intervenção no meio ambiente e em seus fatores de risco.
Atingir alta cobertura da população definida como alvo é o componente mais importante no âmbito da atenção primária para que se obtenha significativa redução da incidência e da mortalidade por câncer do colo do útero. Nesse aspecto INCA (2014) afirma que o êxito das ações de rastreamento depende dos seguintes pilares: Informar e mobilizar a população e a sociedade civil organizada; Alcançar a meta de cobertura da população-alvo; Garantir acesso a diagnóstico e tratamento; Garantir a qualidade das ações; Monitorar e gerenciar continuamente as ações.3
A5 (p.63)10 afirma que é necessária a criação do vínculo entre o profissional enfermeiro com o usuário para que se estabeleça uma relação de confiança, para que com isso o objetivo da prevenção e promoção da saúde seja alcançado, fato comprovado em seu estudo foi que a alta rotatividade dos profissionais compromete a operacionalização do trabalho e diminui a efetividade das ações. A1 (p.391)8 complementa que a consulta de enfermagem como uma prática importante para facilitar a realização do exame papanicolau, além de ser uma oportunidade propícia para fortalecer o vínculo entre a mulher e o profissional.
A8(p. 38)6 ressalta o contexto histórico, quando, no Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX, sendo restritas, durante esse período, as demandas relativas à gravidez e ao parto pelos programas materno-infantis, desenvolvidos entre as décadas de 30 e 70. Destaca ainda que a criação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984 propiciou uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo.6
Para A109, o CCU pode ser detectado nos estágios iniciais, por meio da adoção de programas de rastreamento. Tal preocupação com o rastreamento precoce é fundamentada nas estatísticas, pois, este é o segundo tumor mais frequente na população feminina brasileira e também a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Por ano, segundo o INCA, a doença faz aproximadamente 5.000 vítimas e apresenta 17.540 novos casos, conforme as estimativas de câncer válidas para os anos 2012 e 2013. A9(p.05)11 conclui que a não realização do exame de Papanicolau é um dos mais importantes fatores de riscos para o CCU, já que ao realizá-lo, a mulher tem a oportunidade de identificar lesões pré-cancerígenas e, uma vez tratando-as, diminuir a progressão para o câncer invasor.
No que se refere à abordagem ao paciente, A4 (p.176)12 defende que qualquer ação deve considerar valores, atitudes e crenças dos grupos sociais a quem a ação se dirige, ou seja, considerar seus aspectos culturais e, a partir daí, os enfermeiros, provavelmente, consigam criar uma atmosfera de adesão das mulheres às práticas de prevenção. Nesse pensamento, A12(p. 214)13 ressalta a atuação dos enfermeiros e afirma que estes estão engajados em todas as ações relacionadas à prevenção do câncer, e é por intermédio de ações educativas com a participação da comunidade, que o conhecimento sobre a doença é transmitido, dúvidas são esclarecidas e as usuárias descobrem o quão significativa é a realização desta prevenção.
Nesta dimensão do cuidado, os profissionais de saúde, precisam ser dotados de atitudes proativas estimulando a adesão pela mulher desde as ações preventivas, como a realização do exame Papanicolau, até o tratamento da doença.3 E que estes devem aproveitar as oportunidades da “presença da mulher nas unidades básicas de saúde em todos os atendimentos, inclusive enquanto a equipe de saúde dialoga sobre outras intervenções, potencializando dessa forma o seu papel de agente mobilizador”.3
O INCA reitera que o intervalo entre os exames deve ser de três anos, após dois exames negativos, com intervalo anual. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual. Os exames devem seguir até os 64 anos e serem interrompidos quando, após essa idade, as mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos. Para mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais.2
Atribuições do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero
No tocante à prevenção e detecção precoce do câncer, o Ministério da Saúde define como atribuições do enfermeiro: Atender as usuárias de maneira integral; Realizar consulta de enfermagem e a coleta do exame citopatológico, de acordo com a faixa etária e quadro clínico da usuária; Realizar consulta de enfermagem e o exame clínico das mamas, de acordo com a faixa etária e quadro clínico da usuária; Examinar e avaliar pacientes com sinais e sintomas relacionados aos cânceres do colo do útero e de mama; Avaliar resultados dos exames solicitados ou coletados, e, de acordo com os protocolos e diretrizes clínicas, realizar o encaminhamento para os serviços de referência em diagnóstico e/ou tratamento dos cânceres de mama e do colo do útero; Contribuir, realizar e participar das atividades de educação permanentes de todos os membros da equipe, entre outras.3
Para A12(p. 216)13, o enfermeiro é um dos profissionais responsáveis pelo processo educativo da comunidade, sendo de sua competência divulgar informações a respeito dos fatores de riscos, desenvolver ações de prevenção e detecção precoce, orientar modelos de comportamentos e hábitos saudáveis para a saúde da mulher. A8(p. 45)6 ainda complementa que o profissional deve manter-se atualizado de maneira que possa trazer para sua conduta a população alvo por meio de educação em saúde, divulgação e realizando a busca ativa.
Sobre a importância do enfermeiro na atenção básica, A12(p. 216)13 enfatiza que ele é quem irá organizar a assistência desenvolvendo métodos estratégicos e criativos para a realização do rastreamento das usuárias do Centro de Saúde e as incentiva a realizarem o exame periodicamente, considerando este o fator primordial para o sucesso do programa relacionado ao câncer cérvico-uterino. O A8(p. 45)6 fala que as atividades do enfermeiro são desenvolvidas em múltiplas dimensões, entre elas destaca-se a realização das consultas de enfermagem e do exame de Papanicolau, ações educativas diversas junto à equipe de saúde e comunidade, gerenciamento e contatos para o provimento de recursos materiais e técnicos, controle da qualidade dos exames, verificação, comunicação dos resultados e encaminhamentos para os devidos procedimentos quando necessário.
O A1(p. 391)8 diz que no tocante às estratégias que poderiam ser eficazes para alcançar um maior número de mulheres na prevenção e detecção precoce do câncer seria necessário abolir a marcação prévia dos exames e disponibilizar horários alternativos e realizar uma busca ativa das mulheres na faixa etária preconizada. Outra sugestão defendida por A6(p. 86) 14 para melhorar a cobertura seria aproveitar a oportunidade de realizar coletas nas situações em que a mulher comparecesse à unidade mesmo que fosse à busca por outro serviço. Porém, é certo que essas afirmações, apesar da visão estratégica desses profissionais, essas sugestões não condizem com a realidade das UBS onde a quantidade de profissionais é desproporcional à demanda de usuários existente.
Fatores que dificultam na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero
No tocante aos fatores que possam impedir a procura ou a realização do exame, A6(p.84)14 refere às dificuldades na adesão das mulheres ao exame Papanicolau, sendo que essa falta de adesão está relacionada, principalmente, ao medo e ao pudor. Acredita-se que possivelmente essa realidade seria menor se existisse uma relação pré-estabelecida de confiança, pois assim, poderiam esclarecer suas dúvidas e seus anseios, tendo maior liberdade de expressar seus sentimentos. A11(p. 384)15 afirma que é conhecimento consolidado que o principal fator que limita a detecção do câncer do colo do útero é a baixa cobertura, em geral devida à falta de regularidade na coleta do exame de Papanicolau.
Nesse aspecto, no A4(p.179)12 podemos perceber duas realidades, a primeira é que algumas das mulheres entrevistadas demonstraram a preferência da realização do exame pela enfermeira, devido a fatores como maior disponibilidade, status e idade. E a segunda é que se opondo ao anterior, outras mulheres relatam preferir a figura do médico para a realização do exame, relacionando a preferência a fatores tais como: maior competência, autonomia e resolutividade e postura mais adequada.
Como dificuldades, A1(p.395)8 aponta justificativa como a falta de materiais para a realização do exame; o excesso de trabalho e a resistência de algumas mulheres, esse fato remete implicitamente a certa insatisfação com os resultados obtidos a partir de suas ações.
A4(p.177)12, é necessário que o enfermeiro conheça a comunidade em que está atuando na prevenção do câncer, e, todavia os enfermeiros parecem não estar preparados para essa prática. A formação dos enfermeiros, dentro dos parâmetros da prevenção, parece encontrar-se numa situação ambígua, ou seja, os formadores reconhecem a necessidade de atuarem na prevenção, mas continuam formando profissionais para serem absorvidos no mercado de trabalho curativo. E ainda, os profissionais que atuam na saúde pública parecem continuar atuando sem entrosamento com os profissionais da área curativa (hospitalar) e vice-versa, deixando de atender às necessidades da população.
Ainda no A2(p.391)16, outro obstáculo referido foi à dificuldade das mulheres de procurar o serviço de saúde nos horários e dias por ele disponibilizados, pois a população feminina está cada vez mais inserida no mercado de trabalho e suas ocupações são justamente no horário de funcionamento dos serviços de saúde.
Esta falta de disponibilidade também foi relatada no A3 (p. 86)17, no qual afirma que todas as coletas eram realizadas em dias e horários iguais, o que ocorre na maioria das unidades espalhadas pelo país, caracterizando assim um empecilho para mulheres que trabalhavam no período de funcionamento da unidade.
A2(p. 06)16 afirma que muitos indivíduos não adotam os comportamentos preventivos orientados pelos profissionais, mesmo quando estão bem informados, ou seja, ainda que as clientes sejam esclarecidas quanto aos fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de CCU, algumas mudanças independem de seus anseios, já que circunstâncias culturais, ambientais e normas sociais têm impacto nas escolhas cotidianas destas.
Fatores que contribuem na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero
Nesse aspecto, A9(p.10)11 diz que é de competência das equipes da ESF criar formas de atender com equidade, de modo que as mulheres mais pobres e menos escolarizadas tenham o direito de conhecer e exercer comportamentos conducentes à prevenção do CCU. Para que haja o controle do câncer do colo do útero, são consideradas questões centrais à melhora do acesso aos serviços de saúde e à informação. Mas, isso demanda mudanças nos serviços de saúde, como a ampliação da cobertura e também mudanças dos processos de trabalho.3
Nesse aspecto, o A7(p.58)18 diz que o aparecimento do câncer na vida da mulher se caracteriza como um acontecimento marcante, provocando uma série de modificações que interferem na forma como se sentem em relação a si mesmas e no modo como veem a vida. e reforça que é enfática a importância dos aspectos psicossociais na abordagem clínica da paciente portadora de câncer. Para finalizar, afirma que esses aspectos representam um grande desafio dentro da área da saúde, pois o câncer e o seu tratamento envolve questões delicadas, como ética, preconceito, reabilitação, luto, vida e morte.
É importante destacar que a priorização de uma faixa etária não significa a impossibilidade da oferta do exame para as mulheres mais jovens ou mais velhas. Na prática assistencial, a anamnese bem realizada e a escuta atenta para reconhecimento dos fatores de risco envolvidos e do histórico assistencial da mulher são fundamentais para a indicação do exame de rastreamento.19
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desse trabalho, ficou evidente que o tratamento para o câncer provoca no indivíduo uma ruptura com seu ambiente habitual, podendo acarretar, ainda, reações de incertezas e com isso gerar angústia diante do desconhecido. É por esse motivo que a prevenção e a detecção precoce dessa doença se tornam tão importantes, pois não se pode mensurar a gravidade da sua descoberta. Assim, neste estudo foi possível compreender melhor acerca do câncer de colo do útero, os meios de prevenção, detecção precoce, rastreamento e controle e o papel do enfermeiro na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero no cotidiano da Atenção Primária à Saúde.
Durante todo esse processo, que vai desde a descoberta até o tratamento, é possível atribuir papel de destaque para o enfermeiro, pois ele está presente, atuando de forma direta junto ao paciente, sua família e à comunidade. Por esta razão, é certo dizer que o grande diferencial do profissional de enfermagem, além de utilizar sua competência técnica e seu conhecimento científico, tem uma peculiaridade para compreender o ser humano e atribuir a este indivíduo um olhar diferenciado, considerando toda a sua subjetividade.
O presente estudo relata a importância da realização do exame Papanicolau como diagnóstico precoce no combate ao câncer de colo do útero, destacando a necessidade da prevenção e o rastreamento de mulheres em relação aos fatores de risco. Ressaltou-se ainda que sejam imprescindíveis ações educativas que possibilitem a abordagem dessa mulher, e a importância da melhoria do ambiente de trabalho, para que os profissionais tenham condições dignas de trabalho bem como equipamentos e material necessário disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde.
Mostrou também que o desenvolvimento de estratégias de rastreamento do câncer de colo de útero, dá resultados positivos no que diz respeito à diminuição da mortalidade, pois quanto mais cedo for diagnosticado, maiores serão as chances de cura da doença. Por esta razão, consideramos relevante a educação permanente em saúde, e válidas as parcerias entre os serviços de saúde, as universidades e a comunidade.
Os artigos utilizados nesta revisão integrativa foram objetos de estudo de profissionais engajados, sejam profissionais ou ainda acadêmicos, mas todos defensores da promoção da saúde que utilizaram seu tempo para realizar tais pesquisas com o intuito de mostrar a realidade da saúde pública no Brasil, mas acima de tudo, detectar os problemas mais evidentes e buscar soluções alternativas ou práticas para cada problema detectado. Por último, reafirma-se a importância dos profissionais enfermeiros na assistência à saúde da mulher, em particular, na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero na Atenção Primária à Saúde. A pesquisa desenvolvida demonstrou importantes avanços, no entanto é preciso superar alguns desafios, principalmente na acessibilidade aos serviços, para propiciar uma melhor vinculação entre os profissionais enfermeiros e esta população em destaque.
REFERENCIAS
- SMELTZER, S. C.; BRUNNER, LILIAN; SUDDARTH, DORIS. Tratado de Enfermagem médico- cirúrgica. Tradução de Fernando Diniz Mundim, José Eduardo Ferreira de Figueiredo, v.4. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
- BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e Programa Nacional de Controle do Câncer de Mama. Elaborado pela Divisão de Apoio à Rede de Atenção Oncológica. 2011.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2013.
- MARTINS, Célia Soares; et al. Assistência de Enfermagem a cliente portadora de câncer de mama. Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hfb/Dissertacao_MARTINS.pdf>
- SAMPRIERI, R. H. COLLADO, C. F. LUCIO, P. B. Metodologia de pesquisa. 5 ed. São Paulo: McGrawHill, 2010.
- SIQUEIRA GS;OLIVEIRA, VMF. BARRETO, SMMF; MENEZES, MO. Citopatologia como prevenção do câncer do colo uterino. Cadernos de Graduação – Ciências biológicas e da saúde Unit | Aracaju | v. 2 | n.1 | p. 37-49 | Março. 2014
- THULER LCS, Bergmann A, CASADO L. Perfil das Pacientes com Câncer do Colo do Útero no Brasil, 2000-2009: Estudo de Base Secundária Revista Brasileira de Cancerologia 2012; 58(3): 351-357
- MELO MCSC, VILELA F, SALIMENA AMO, SOUZA IEO. O Enfermeiro na Prevenção do Câncer do Colo do Útero: o Cotidiano da Atenção Primária. Revista Brasileira de Cancerologia, 2012.
- ROCHA et. al. câncer do colo uterino: fatores de risco, enfrentamento e o papel do enfermeiro na prevenção: uma revisão bibliográfica. Ciências Biológicas e da Saúde | Aracaju | v. 2 | n.2 | p. 93-101 | out 2014.
- RODRIGUES et. al. O papel do enfermeiro na prevenção do câncer de mama em um município do sertão pernambucano: uma abordagem da prática profissional. Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 73-86, dez. 2012.
- EDUARDO AV et. al. Conhecimento e mudanças de comportamento de mulheres junto a fatores de risco para câncer de colo uterino. Rev Rene. 2012; 13(5):1045-55.
- CESTARI MEW, Zago MMF. A atuação da enfermagem na prevenção do câncer na mulher: questões culturais e de gênero. Cienc Cuid Saude 2012;
- PAULA et. al. Atuação do enfermeiro da atenção básica frente ao controle do câncer uterino: revisão de literatura. Pós em uma revista do centro universitário Newton Paiva 1/2012 – ed. 5.
- RAMOS et. al. A atuação do enfermeiro na estratégia de saúde da família na prevenção do câncer de colo de útero. S A N A R E, Sobral, V.13, n.1, p.84-91, jan./jun. – 2014
- Vale DBAP et al. Avaliação do rastreamento do câncer do colo do útero na Estratégia Saúde da Família no Município de Amparo, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(2):383-390, fev, 2010.
- SANTOS. Raíla de Souza.,Enirtes Caetano Prates MELO, Keitt Martins SANTOS. Análise espacial dos indicadores pactuados para o rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil. Texto contexto enferm, Florianópolis, 2012 out-dez; 21(4): 800-10.
- SILVA DSM et al.Rastreamento do câncer do colo do útero no Estado do Maranhão, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 19(4):1163-1170, 2014
- Oliveira et al. Câncer e imagem corporal: perda da identidade feminina. Rev. Rene, vol. 11, Número Especial, 2010. p. 53-60.
- BRASIL. Exame preventivo do câncer de colo uterino (Papanicolau). CARTILHA EXPLICATIVA 2011. Disponível em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/237_papanicolau.html
1Faculdade do Complexo Educacional Santo André
2Universidade do Estadual do Rio Grande do Norte
3Universidade do Estadual do Rio Grande do Norte
4Universidade do Estadual do Ceará
5Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – SIAPE 2214591
6Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
7Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
8Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
9Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
10Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
11Universidade Estadual do Pará
12Universidade Cruzeiro do Sul
13Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
14Maternidade Escola Assis Chateaubriand-UFC/EBSERH
15Maternidade Escola Assis Chateaubriand-UFC/EBSERH
16Universidade do Estado de Minas Gerais
17Estácio de Teresina
18Centro Universitário Uninovafapi