O ENFERMEIRO E OS CUIDADOS EM SAÚDE MENTAL

THE NURSE AND MENTAL HEALTH CARE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10140191


Lucilene Dos Santos Silveira
Prof. Carlos Cesar Custòdio


RESUMO

O presente estudo se trata de uma revisão de bibliografia onde se visa dispor sobre a importância dos enfermeiros em cuidados de saúde mental. Como se sabe, é crescente e preocupante o aumento do número de casos de pacientes acometidos por patologias advindas da esfera mental. Assim, para que os cuidados realizados pelo enfermeiro possam ser eficientes é preciso que o enfermeiro tenha ciência da sua importância e de como desempenhar um papel fundamental seu papel na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação em saúde mental. Ante as pesquisas realizadas para a confecção do artigo, conclui-se que a atuação do enfermeiro é extremamente importante pois aborda uma série de aspectos que vão além da assistência clínica, pois a atuação é pautada por uma abordagem holística, que considera não apenas os sintomas psicológicos, mas também os elementos físicos, sociais e emocionais que compõem a vida do paciente.

Palavras-chave: Saúde mental. Enfermeiro. Cuidados em Saúde Mental. Bem-estar.

ABSTRACT

The present study is a bibliography review that aims to discuss the importance of nurses in mental health care. As we know, the increase in the number of cases of patients affected by pathologies arising from the mental sphere is growing and worrying. Therefore, for the care provided by nurses to be efficient, nurses must be aware of their importance and how to play a fundamental role in promoting, preventing, treating and rehabilitating mental health. In view of the research carried out to prepare the article, it is concluded that the nurse’s role is extremely important as it addresses a series of aspects that go beyond clinical care, as the role is guided by a holistic approach, which considers not only the symptoms psychological, but also the physical, social and emotional elements that make up the patient’s life.

Keywords: Mental health. Nurse. Mental Health Care. Well-being.

1. INTRODUÇÃO

A saúde mental é uma dimensão essencial do bem-estar humano, influenciando significativamente a qualidade de vida e o funcionamento geral de uma pessoa. Cada vez mais, o cuidado com a saúde mental tem recebido atenção e reconhecimento merecidos, destacando a importância de uma abordagem holística e integrada para o bem-estar psicológico. Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação em saúde mental (DE JESUS; CARDOSO, 2020)

O objetivo deste trabalho é abordar os cuidados do enfermeiro em saúde mental, explorando as principais responsabilidades e desafios enfrentados. Serão discutidos os diferentes aspectos envolvidos no cuidado em saúde mental, incluindo a avaliação, o estabelecimento de uma relação terapêutica, a administração de medicamentos psicotrópicos, a terapia individual e em grupo, o manejo de crises e a promoção de estratégias de autocuidado.

Um dos principais pilares do cuidado em saúde mental é a avaliação e o diagnóstico precisos. Os enfermeiros que tratam sobre saúde mental desempenham um papel fundamental na coleta de informações, na observação dos sintomas e no estabelecimento de uma compreensão abrangente da situação do paciente (DUARTE; BAGANTINI, 2020)

A partir da abordagem inicial, com uma estratificação criteriosa é estabelecido o vínculo mínimo entre o enfermeiro e o cliente, levando em consideração as necessidades e os objetivos terapêuticos de cada indivíduo. Além disso, a enfermeiro que atua nos cuidados em saúde mental tem um papel central na construção de uma relação terapêutica efetiva com o paciente (BORGES et al., 2020).

Essa relação baseada na confiança, no respeito e na empatia é fundamental para estabelecer um ambiente seguro e acolhedor, no qual o paciente se sinta à vontade para compartilhar suas experiências e desafios. Através dessa relação terapêutica, os enfermeiros podem fornecer apoio emocional, incentivar a expressão de sentimentos e facilitar o processo de recuperação (NUNES et al., 2020)

No contexto do tratamento em saúde mental, a administração de medicamentos psicotrópicos também é uma responsabilidade importante dos enfermeiros. Eles devem compreender as propriedades e os efeitos desses medicamentos, além de monitorar cuidadosamente seus efeitos colaterais e interações (OLIVEIRA, 2020).

Os enfermeiros são responsáveis por cuidar os pacientes sobre a medicação prescrita, incentivando a adesão ao tratamento e ajudando a gerenciar quaisquer preocupações ou dúvidas. Além dos aspectos clínicos, os enfermeiros em saúde mental desempenham um papel essencial na promoção de estratégias de autocuidado, vez que trabalham em colaboração com os pacientes, fornecendo orientações sobre a importância do sono adequado, da alimentação balanceada, do exercício físico regular e da busca de atividades de lazer e relaxamento. Essas medidas promovem a resiliência, a capacidade de lidar com o estresse e o fortalecimento do bem-estar emocional (BORGES et al., 2020)

Este trabalho busca evidenciar a importância dos cuidados do enfermeiro em saúde mental, destacando a relevância do papel desempenhado por esses profissionais na promoção do bem-estar psicológico e na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Ao compreender as diferentes dimensões do cuidado em saúde mental, será possível valorizar ainda mais a atuação da enfermagem nessa área e fomentar o aprimoramento contínuo dos cuidados oferecidos aos pacientes.

2. SAÚDE MENTAL

A saúde mental é um conceito complexo e multifacetado que tem sido abordado de várias maneiras em diferentes estudos e perspectivas. Em sua essência, a saúde mental refere-se ao estado de equilíbrio emocional, psicológico e social no qual um indivíduo é capaz de lidar com o estresse normal da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir para sua comunidade (SOUZA, 2021)

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) define saúde mental como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de contribuir para sua comunidade”.

Já a Perspectiva Psicodinâmica dispõe que a saúde mental é caracterizada por um equilíbrio entre as partes conscientes e inconscientes da mente. Ela enfatiza a resolução de conflitos internos, a compreensão dos padrões comportamentais e a integração saudável de desejos e necessidades (VILELLA, 2020).

Furegato e Osinaga (2020) menciona que na Abordagem Cognitivo-Comportamental, a saúde mental está relacionada à maneira como os pensamentos, crenças e padrões de comportamento influenciam o bem-estar. Uma pessoa mentalmente saudável é capaz de lidar com desafios de forma adaptativa, reestruturando pensamentos negativos e adotando estratégias de enfrentamento positivas.

O psicólogo Martin Seligman propôs um modelo de bem-estar que inclui cinco elementos: emoções positivas, engajamento, relacionamentos, significado e realização. Uma boa saúde mental envolve a presença e o equilíbrio desses componentes (BORGES, 2020).

Duarte, Silva e Bagatini (2020) mencionam que a Abordagem Socioecológica considera a influência do ambiente social e cultural na saúde mental. A saúde mental é vista como uma interação entre o indivíduo e seu contexto, onde fatores como relacionamentos, apoio social, estabilidade econômica e oportunidades desempenham um papel significativo.

Por outro lado, na Perspectiva de Resiliência a saúde mental é frequentemente associada à resiliência, que é a capacidade de enfrentar adversidades, superar desafios e se recuperar de experiências traumáticas. Uma pessoa mentalmente saudável é capaz de se adaptar positivamente às mudanças e estresses da vida (FEREIRA, BOCCHI, 2015)

De acordo com Souza (2021) o modelo BioPsicoSocial considera a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais na determinação da saúde mental. Ele reconhece que a genética, a química cerebral, as experiências de vida e o ambiente social contribuem para a saúde mental de uma pessoa.

De tal modo, percebe-se que a saúde mental é um estado de bem-estar emocional, psicológico e social, onde a capacidade de lidar com os desafios da vida, manter relacionamentos saudáveis, encontrar significado e propósito, e contribuir para a comunidade é enfatizada. Diversas abordagens e perspectivas se combinam para construir uma compreensão holística desse conceito crucial (SOUZA, 2021).

2.1. Atuação do enfermeiro em saúde mental.

De acordo com o estudo de Ferreira (2019), deve-se realizar a conceituação de alguns dos principais aspectos relacionados à assistência do enfermeiro em saúde mental, incluindo estratégias de promoção da saúde mental, prevenção de transtornos mentais, tratamento e reabilitação dos indivíduos com transtornos mentais.

O mesmo autor dispõe:

Entende-se por assistência de enfermagem em saúde mental a realização de ações voltadas para a promoção da saúde mental, prevenção de transtornos mentais, tratamento e reabilitação dos indivíduos com transtornos mentais. Essas ações incluem o acompanhamento do paciente, o fornecimento de informações sobre a doença e os tratamentos disponíveis, o suporte emocional, entre outros.

Para que ocorra a promoção da saúde mental, Nunes (2020) menciona sobre a necessidade de realização de ações que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas, promovendo a saúde e o bem-estar mental. Algumas das estratégias de promoção da saúde mental incluem a realização de atividades físicas, a adoção de uma alimentação saudável, o desenvolvimento de habilidades sociais, entre outras.

Ainda, é de suma importância que haja a prevenção dos transtornos mentais, a qual pode ser desenvolvida por meio de projetos voltados para a redução da incidência de transtornos mentais na população. Café (2020) trata em seu estudo sobre algumas das estratégias de prevenção de transtornos mentais, que incluem: a identificação precoce de fatores de risco, a realização de campanhas de conscientização sobre a importância da saúde mental, o acesso a serviços de apoio psicológico, entre outras.

Assim, o enfermeiro atua, principalmente, no tratamento e reabilitação dos indivíduos com transtornos, pois envolvem a realização de ações que visam reduzir os sintomas da doença e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Algumas das estratégias de tratamento e reabilitação incluem o uso de medicamentos, a terapia cognitivo-comportamental, a terapia ocupacional, entre outras (VIEIRA, 2019).

Embora a assistência do enfermeiro em saúde mental seja fundamental para a promoção da saúde mental e o tratamento de transtornos mentais, os profissionais de enfermagem enfrentam muitos desafios em seu trabalho. Sobre os percalços enfrentados pela enfermagem Nunes (2020, p. 20) disserta:

Alguns desses desafios incluem a falta de recursos, o estigma em relação aos transtornos mentais e a falta de capacitação adequada para o trabalho em saúde mental, como equipamentos, medicamentos e pessoal. Isso pode afetar a qualidade da assistência prestada aos pacientes e dificultar o tratamento adequado dos transtornos mentais. No entanto, há também perspectivas positivas para a atuação dos profissionais de enfermagem em saúde mental, que serão discutidas a seguir.

O estigma em relação aos transtornos mentais é outro desafio enfrentado pelos profissionais de enfermagem em saúde mental. Muitas pessoas ainda têm preconceitos e estereótipos em relação a quem sofre de transtornos mentais, o que pode dificultar a identificação precoce da doença e o acesso ao tratamento adequado. A falta de capacitação adequada para o trabalho em saúde mental é outro desafio enfrentado pelos profissionais de enfermagem (VILELA, 2020).

Para Café (2020) é essencial que os enfermeiros estejam preparados para lidar com os transtornos mentais, identificar os sinais e sintomas, realizar o diagnóstico e proporcionar o tratamento adequado.

Cumpre mencionar que os avanços na tecnologia têm trazido novas perspectivas para a atuação dos enfermeiros em saúde mental. Softwares, aplicativos e outras ferramentas digitais podem ser utilizados para auxiliar na identificação e tratamento dos transtornos mentais, além de facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes (OLIVEIRA, 2019)

No mesmo sentido, Furegato (2020) alega que é possível perceber que a conscientização sobre a importância da saúde mental vem aumentando nos últimos anos, o que pode contribuir para a redução do estigma em relação aos transtornos mentais e para a melhoria do acesso ao tratamento adequado. Isso pode ajudar a fortalecer a atuação dos profissionais de enfermagem em saúde mental e ampliar o alcance das ações de promoção da saúde mental.

Nunes (2020), Café (2020) e Oliveira (2018) são unânimes ao dispor sobre a necessidade de valorização dos profissionais de enfermagem que atuam na área da saúde mental, pois é fundamental que esses profissionais sejam reconhecidos por sua importância na promoção da saúde mental e no tratamento dos transtornos mentais, além de serem valorizados e remunerados de forma adequada pelo trabalho que realizam.

No que toca as atividades clínicas desenvolvidas pelo enfermeiro Villela (2020, p. 738) menciona:

Os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental na implementação dessas intervenções, trabalhando em conjunto com outros profissionais de saúde para proporcionar o melhor cuidado possível aos pacientes.

O acolhimento e a escuta ativa são intervenções fundamentais, pois o enfermeiro deve estar preparado para acolher o paciente de forma empática e oferecer uma escuta ativa, compreendendo as suas queixas, medos e necessidades. Essa intervenção pode ser utilizada tanto na admissão do paciente quanto durante todo o processo de tratamento (ALBUQUERQUE; DOS REIS, 2020).

A avaliação da saúde mental é outra intervenção essencial realizada pelos enfermeiros, essa avaliação pode incluir a identificação dos sinais e sintomas de transtornos mentais, a análise do histórico do paciente, a realização de exames físicos e neurológicos, além de outras técnicas que permitam compreender o quadro do paciente e direcionar o tratamento adequado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).

Souza (2021) trata, também, sobre a administração de medicamentos, vez que é outra intervenção realizada pelos profissionais de enfermagem em saúde mental, para a qual o profissional de enfermagem deve estar capacitado para administrar os medicamentos prescritos pelo médico, seguindo as orientações do profissional responsável pelo tratamento do paciente.

Em sua obra, Oliveira e Alessi (2021) dispõem sobre as terapias individuais e em grupo como outras intervenções importantes realizadas pelos profissionais de enfermagem em saúde mental. Sustentado que:

As terapias individuais podem incluir a psicoterapia, a terapia cognitivo-comportamental, a terapia ocupacional, entre outras. Já as terapias em grupo podem ser utilizadas para promover a socialização, a troca de experiências e a melhoria da autoestima dos pacientes.

A orientação e o aconselhamento são atuações inerentes da profissão do enfermeiro, que se dão visando oferecer informações, esclarecer dúvidas e orientar os pacientes sobre as melhores formas de cuidar da sua saúde mental. Essa intervenção pode ser realizada tanto individualmente quanto em grupo, e deve ser adaptada às necessidades específicas de cada paciente (BORGES, 2020).

2.2. Estratificação de risco em saúde mental

A estratificação de risco em saúde mental é uma abordagem muito importante e possui diretrizes emitidas pelo Ministério da Saúde, vez que visa identificar e priorizar pacientes que demandam intervenções mais específicas e intensivas no sistema de saúde (BRASIL, 2013)

Segundo Passos (2022) esta abordagem está alinhada com os esforços do Ministério da Saúde para aprimorar a acessibilidade e qualidade dos serviços de saúde mental em todo o país. Documentos como o “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Transtornos Mentais na Atenção Básica” e o “Guia de Práticas Clínicas em Saúde Mental no SUS” fornecem orientações específicas sobre como realizar a estratificação de risco em saúde mental.

Eles destacam a importância de avaliar e classificar pacientes com base na gravidade dos sintomas, na presença de fatores de risco adicionais (como o abuso de substâncias ou histórico de tentativas de suicídio), no impacto dos transtornos mentais na qualidade de vida do paciente e em sua capacidade geral de funcionamento.

Com base nesses critérios, os pacientes são agrupados em diferentes níveis de risco, o que orienta o planejamento de seus cuidados e tratamentos. O propósito da estratificação de risco é garantir uma alocação eficiente dos recursos disponíveis, priorizando aqueles que apresentam maiores necessidades (BORGES, 2020).

Assim, Mendes (2019) menciona que os pacientes identificados como de alto risco podem receber intervenções mais intensivas, como acompanhamento frequente, encaminhamento para serviços especializados em saúde mental e tratamentos específicos, incluindo terapia cognitivo-comportamental ou uso de medicamentos.

Ademais, a estratificação de risco em saúde mental desempenha um papel crucial na prevenção do suicídio, uma questão de saúde pública crítica no Brasil. Identificar indivíduos com alto risco de suicídio possibilita a implementação de estratégias de intervenção precoce, como a oferta de apoio psicossocial intensivo e a monitorização frequente (BRASIL, 2013)

Nos termos de Rocha (2021) a estratificação de risco em saúde mental geralmente é realizada da seguinte forma:

1. Coleta de Informações: O processo começa com a coleta de informações detalhadas sobre o paciente, que inclui uma avaliação abrangente de sua história médica, história psiquiátrica, histórico familiar, sintomas atuais, uso de substâncias, história de tratamento anterior e outros fatores relevantes.

2. Avaliação Clínica: Profissionais de saúde mental, como psiquiatras, psicólogos, enfermeiros especializados e assistentes sociais, conduzem avaliações clínicas, para isso utilizam entrevistas estruturadas e questionários validados para avaliar a gravidade dos sintomas, o funcionamento psicossocial e emocional do paciente, e outros fatores de risco.

3. Identificação de Fatores de Risco: Durante a avaliação, são identificados fatores de risco que podem incluir a gravidade dos sintomas, a presença de ideação suicida, abuso de substâncias, história de tentativas de suicídio, histórico familiar de transtornos mentais graves, entre outros.

4. Classificação em Níveis de Risco: Com base nas informações coletadas e na identificação dos fatores de risco, os pacientes são classificados em diferentes níveis de risco. Esses níveis geralmente incluem baixo risco, risco moderado, alto risco e risco muito alto.

5. Planejamento de Intervenção: Com a classificação de risco em mãos, os profissionais de saúde mental podem desenvolver planos de intervenção personalizados. Pacientes classificados como de alto risco ou risco muito alto podem ser priorizados para intervenções imediatas, incluindo internações hospitalares se necessário, enquanto aqueles de baixo risco podem receber cuidados ambulatoriais mais simples.

6. Monitoramento Contínuo: A estratificação de risco não é um processo único; é contínuo. Os pacientes são monitorados ao longo do tempo para avaliar a eficácia das intervenções, fazer ajustes quando necessário e reclassificá-los conforme sua condição muda.

7. Trabalho em Equipe: A estratificação de risco em saúde mental geralmente envolve uma equipe multidisciplinar que colabora para tomar decisões informadas sobre o cuidado do paciente. Isso pode incluir psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais de saúde mental.

É importante ressaltar que a estratificação de risco em saúde mental é um processo clínico complexo que requer julgamento clínico e experiência por parte dos profissionais de saúde mental. Além disso, deve ser conduzido de forma ética, respeitando a autonomia e os direitos dos pacientes, garantindo que o tratamento seja personalizado e centrado no paciente.

Desde a promulgação da Lei 10.216 de 2001, que versa sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e redefine o paradigma de cuidados em saúde mental, alinhando-se com os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira e as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), os municípios têm se mobilizado em busca de uma transformação no modelo de assistência em saúde mental. Este esforço tem como objetivo a implementação de serviços e a organização de ações em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde, decorrentes desta legislação (BRASIL, 2001).

Em 2011, em âmbito nacional, surgiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que trouxe novas diretrizes para a implementação de serviços que não haviam sido contemplados previamente. Essa iniciativa propôs a integração da abordagem de atenção psicossocial em diversos níveis de cuidado, indo além dos tradicionais serviços de saúde mental (BRASIL, 2011)

A RAPS engloba a atenção primária à saúde, a atenção psicossocial especializada, a atenção às situações de urgência e emergência, o acolhimento residencial de caráter transitório, a assistência hospitalar, bem como estratégias de desospitalização e reabilitação psicossocial. A implementação da Rede de Atenção Psicossocial representa uma ferramenta eficaz para efetivamente redirecionar o modelo de assistência em saúde mental, concretizando, assim, os princípios fundamentais da Reforma Psiquiátrica Brasileira (SOUZA, 2021).

Para Mendes (2019) a prestação de atenção à saúde por meio de uma rede de diferentes pontos de assistência apresenta uma série de desafios contínuos. Um deles é a necessidade de estabelecer uma articulação eficaz entre todos os serviços de saúde, em diferentes níveis de complexidade, a fim de garantir um cuidado abrangente, de alta qualidade e resolutivo. Esse cuidado deve proporcionar o acesso adequado aos serviços de saúde e promover os direitos das pessoas, além de respeitar sua convivência em seu próprio território.

Outro desafio significativo é a execução da atenção psicossocial, que se baseia na abordagem centrada nas necessidades das pessoas em vez de focar apenas na doença. Seu objetivo principal é contribuir para o processo de saúde-doença, melhorando a qualidade de vida dos usuários e seus familiares, além de restaurar os aspectos emocionais e sociais que podem ter sido prejudicados ao longo do processo de adoecimento (PASSOS, 2021).

Neste contexto, torna-se necessário fortalecer a Atenção Primária em Saúde. Ela deve estar apta a fornecer cuidados em saúde mental, tanto na prevenção do sofrimento mental quanto na prevenção da cronificação dos transtornos mentais. A cronificação ocorre quando a atenção inicial a esses usuários não é prontamente oferecida, o que pode levar a uma deterioração da saúde mental e a um agravamento dos transtornos (BRASIL, 2013).

Portanto, a efetivação de uma rede de atenção à saúde, que aborda esses desafios, requer uma colaboração contínua entre diferentes níveis de cuidados e uma forte ênfase no cuidado centrado no paciente. Isso não apenas contribui para a promoção da saúde mental, mas também assegura uma abordagem mais eficaz e humanizada no cuidado de saúde como um todo.

3. METODOLOGIA

A pesquisa foi feita a fim se obter dados relevantes e confiáveis, para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica abrangente, buscando identificar e analisar as principais publicações científicas, livros, artigos e outras fontes relevantes relacionadas ao tema.

Em primeira pesquisa junto ao Google acadêmico chegou-se a 169 resultados, sendo que 15 artigos que atuaram como base para o estudo, e 5 documentos oficias do Ministério da Saúde. Esses foram selecionados após os seguintes filtros: data de publicação; publicação em português; dispor sobre a realidade do enfermeiro que atua com saúde mental; não ser resumo expandido; tratar sobre a área da enfermagem; o título remeter ao estudo a ser realizado.

Assim, fora realizada a leitura do título do material, após passar nesse filtro, foi realizada a leitura do resumo do artigo para que fosse analisado sobre a profundidade daquele material. Assim, houve a exclusão de 154 dos materiais encontrados em primeira busca.

Com a revisão foi possível criar o referencial teórico do trabalho e fornecer um panorama abrangente sobre os cuidados da enfermagem em saúde mental. Sendo, então, definidos os objetivos específicos da pesquisa, estabelecendo claramente quais aspectos dos cuidados em saúde mental serão abordados. 

Foi realizada a busca de material junto a biblioteca virtual da Faccrei, bem como junto ao Google Acadêmico e Google, com as seguintes palavras-chave: enfermeiro; cuidados em saúde mental; o papel do enfermeiro nos cuidados com saúde mental. Buscou-se limitar o estudo em materiais publicados nos últimos 5 anos.

O estudo tem metodologia qualitativa, pois deseja compreender e explorar as experiências e percepções dos enfermeiros em relação aos cuidados em saúde mental. 

Após a análise dos dados, foi criado o artigo, dispondo sobre o que outros autores já dispuseram sobre o tema em pesquisas teóricas ou de campo. Assim, buscou-se identificadas as principais tendências, desafios e perspectivas relacionados aos cuidados do enfermeiro que trabalha na área da saúde mental.

Por meio desses procedimentos metodológicos, espera-se obter uma compreensão mais aprofundada dos cuidados da enfermagem em saúde mental, oferecendo insights significativos sobre a experiência e perspectivas dos enfermeiros nessa área. Esses dados podem contribuir para aprimorar as práticas de enfermagem em saúde mental, fornecendo subsídios para a formação contínua, a melhoria dos serviços e a promoção do bem-estar psicológico dos pacientes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultados, a presente pesquisa demonstra que existem diversos artigos que tratam sobre o tema, todavia, conforme acima mencionado, passaram no crivo da metodologia 19 artigos, sendo que desses se ressalta a importância do estudo de Albuquerque e Dos Reis (2020), Café et al. (2020) e Silva (2020).

Como discussão se denota que o papel do enfermeiro no cuidado em saúde mental é de extrema relevância, pois aborda uma série de aspectos que vão além da assistência clínica, pois a atuação é pautada por uma abordagem holística, que considera não apenas os sintomas psicológicos, mas também os elementos físicos, sociais e emocionais que compõem a vida do paciente.

No contexto da saúde mental, a colaboração da equipe multidisciplinar é uma peça-chave. Os enfermeiros trabalham em estreita sintonia com psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e outros membros da equipe de saúde, garantindo assim um tratamento integrado e centrado no paciente.

Além disso, os enfermeiros desempenham um importante papel na promoção da educação em saúde mental, visto que fornecem informações importantes tanto aos pacientes quanto às suas famílias, ajudando a desmistificar questões em torno das doenças mentais e capacitando as pessoas a procurar ajuda quando necessário.

A estratificação de risco em saúde mental, quando integrada ao cuidado do enfermeiro, possibilita uma abordagem mais precisa e personalizada, priorizando os pacientes que mais necessitam de intervenções específicas. Isso contribui para a eficácia do tratamento, a promoção da saúde mental e a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos afetados por transtornos mentais.

5. CONCLUSÃO

Apesar de desafios, como a falta de recursos e sobrecarga de trabalho, o campo da saúde mental tem experimentado avanços significativos, impulsionados pela pesquisa e práticas baseadas em evidências. A conscientização crescente sobre a importância da saúde mental também está contribuindo para uma abordagem mais compreensiva e compassiva em relação aos pacientes.

Assim, por meio do estudo realizado para a confecção do estudo, pode-se perceber que o enfermeiro desempenha um papel crucial no cuidado em saúde mental, sendo um agente de transformação na busca por tratamentos mais eficazes e pela melhoria da qualidade de vida daqueles que enfrentam desafios nessa área. Reconhecer e valorizar a importância desses profissionais é fundamental para promover uma sociedade mais saudável e acolhedora.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE RIBEIRO, Alessandra Buarque; DOS REIS, Rosane Pereira. Assistência de enfermagem na emergência psiquiátrica. Revista Saúde e Desenvolvimento, v. 14, n. 17, 2020.

BORGES, Liliane Taveira Damasceno et al. Processo de enfermagem na saúde mental. BrazilianJournalof Health Review, v. 3, n. 1, p. 396-405, 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. 3. ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília: Presidência da República, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica n. 34).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: cuidado em liberdade. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

CAFÉ, Luany Abade et al. A atuação do enfermeiro na saúde mental. Revista Artigos. Com, v. 21, p. e5016-e5016, 2020.

Curso Nacional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial na covid-19: Reconstrução pós desastres e emergências em saúde pública. CoordenaçãoGeral de Maria Fabiana Damásio Passos. Brasília: [Curso na modalidade a distância]. Escola de Governo Fiocruz Brasília, 2022.

DE JESUS CARDOSO, Adinea Oliveira; DE CARVALHO, Gilseane Torres; DE

MATOS, Tainara Santos. A prática de enfermagem frente aos pacientes portadores de esquizofrenia. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem, v. 5, p. e5118-e5118, 2020.

DUARTE, Maria de Lourdes Custódio; SILVA, Daniela Giotti da; BAGATINI, Mariana Mattia Correa. Enfermagem e saúde mental: uma reflexão em meio à pandemia de coronavírus. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 42, 2020.

FERREIRA, Adriana Cristina; BOCCHI, Silvia Cristina Mangini. Assistência de enfermagem em saúde mental. In: ______. Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica. Barueri: Manole, 2015. p. 83-101.

FUREGATO, Antonia Regina Ferreira; OSINAGA, Vera Lúcia Mendiondo. Opinião de estudantes de enfermagem sobre doença mental e assistência na área. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, p. 143-146, 2020.

MENDES, Cacilda Fernandes. Estratificação de risco em saúde mental: Desafios e perspectivas. Revista de Psiquiatria, 32(2), 145-159, 2019.

NUNES, Vanessa Veloso et al. Saúde mental na atenção básica: atuação do enfermeiro na rede de atenção psicossocial. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, 2020.

OLIVEIRA, Alice G.; ALESSI, Neiry Primo. O trabalho de enfermagem em saúde mental: contradições e potencialidades atuais. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 11, p. 333-340, 2020.

OLIVEIRA, Francisca Bezerra de; FORTUNATO, Maria Lucinete. Saúde mental: reconstruindo saberes em enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, p. 67-70, 2019.

ROCHA, S. A. A equipe multiprofissional no acolhimento com classificação de risco e vulnerabilidades. In: UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Acolhimento com Classificação de Risco na Atenção Primária à Saúde: Classificação de risco e vulnerabilidades na Atenção Primária à Saúde. São Luís: UNA-SUS; UFMA, 2021.

SOUZA, Norma Valéria Dantas de Oliveira et al. Trabalho de enfermagem na pandemia da covid-19 e repercussões para a saúde mental dos trabalhadores. Revista gaucha de enfermagem, v. 42, 2021.

SILVA, Ana Borges. Estratificação de Risco em Saúde Mental. São Paulo: Editora Saúde Mental, 2020.

VIEIRA, Ana Lúcia; CASTRO, Eliane de Fátima Almeida Lima; GUIMARÃES, Cátia Maria Gonçalves. Ações de enfermagem na assistência ao paciente psiquiátrico em unidades hospitalares. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 62, n. 2, p. 234-240, mar./abr. 2019.

VILLELA, Sueli de Carvalho; SCATENA, Maria Cecília Moraes. A enfermagem e o cuidar na área de saúde mental. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 57, p. 738-741, 2020.

YAMAMOTO, Mariana Miyuki; SILVA, Marta Angélica Iossi. Intervenções de enfermagem no cuidado ao paciente com transtorno bipolar: revisão integrativa. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 16, n. 4, p. 773-782, 2014.